Rodrigo Constantino's Blog, page 323

June 27, 2013

O alvo é o PMDB... e o PT adora isso!

Fonte: EstadãoRodrigo Constantino

Quando há uma revolta generalizada "contra tudo isso que está aí", contra a política em si, o "sistema", pode estar certo de que o PMDB será o grande alvo. Não sem boa dose de razão!

Afinal, o PMDB representa justamente essa forma corrupta, fisiológica, clientelista de exercer o poder político no Brasil. Falou em patrimonialismo, pensa-se logo em Sarney e companhia.

O professor de filosofia Marcos Nobre acaba de lançar um curto livro sobre as revoltas nas ruas, defendendo exatamente a tese de que ela é uma revolta contra o PMDB. A Folha fez uma matéria sobre o livro. Ela diz:

As "revoltas de junho" representariam, para ele, um "aprendizado democrático fundamental" de como se manifestar. "Espero que delas surja uma frente 'antipemedebismo'", manifesta-se.
Tudo muito bem, não fosse um pequeno detalhe: o PMDB, se representa um enorme obstáculo aos avanços do país, também representa um entrave aos anseios bolivarianos do PT. Com seu enorme poder, pulverizado nos grotões desse imenso país, o PMDB cobra, e cobra caro, pela "governabilidade". 
O lado ruim disso nós todos já conhecemos; mas não podemos negar a utilidade de forma pragmática, ainda que o façamos baixinho e envergonhados: o partido também impede golpes autoritários lá da esquerda, como adorariam os petistas. 
Quando falam em "democracia direta", em "voz das ruas", em "plebiscito" ou "nova Constituinte", os petistas sonham com a possibilidade de não mais dependerem do PMDB. Hugo Chávez, na Venezuela, não dependia de nenhum PMDB por lá...
Sou totalmente a favor da ideia de que o PMDB precisa ser superado. Mas quero fazer isso dentro da própria democracia representativa. Vai ser mais lento, mais demorado, vai demandar mais concessões, mas é o único jeito de obter resultados sustentáveis e preservar a democracia. 
São os principais valores tortos que o Brasil abraçou que precisam ser mudados, pois deles depende o PMDB. O clientelismo e o patrimonialismo bebem de um estado inchado, intervencionista, locomotiva do progresso, paternalista, instrumento da "justiça social", dono do carimbo que seleciona os "campeões nacionais". Ou seja: mais estado = felicidade "pemedebista".
Devemos atacar o estado agigantado, interventor, messiânico. E isso não se faz detonando o sintoma, que é o PMDB, mas sim suas causas, direto nas raízes. Destruir o PMDB na marra, hoje, significa deixar o caminho livre para os petistas bolivarianos. Quem vocês acham que ganha poder se o Renan Calheiros for derrubado? Quem vai soltar fogos de artifício se Sérgio Cabral for destruído? Pois é...
Sinto muito, especialmente para a garotada mais eufórica nas ruas, mas política não é para amadores, tampouco para românticos. O PMDB é uma porcaria, não resta dúvida; mas o PT consegue ser muito pior!  
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Published on June 27, 2013 10:22

Corrupção: entrevista para o MCC

Com o tema da corrupção em alta, após medida do Senado que a transforma em crime hediondo, segue uma rápida entrevista que concedi ao Movimento Contra Corrupção sobre o assunto.
Entrevistamos Rodrigo Constantino, economista e intelectual brasileiro. Neste diálogo, comentamos algumas perspectivas e propostas no que tange ao tema "corrupção", com ênfase na situação brasileira.Não se trata de um "bate-papo", isto é, não pretendemos apenas interligar algumas temáticas. Ainda que de modo superficial, tencionamos aventar a opinião de intelectuais sobre diversos problemas advindos, de modo isento, imparcial e apartidário.
Prezado Rodrigo, como você define “corrupção”?
Corrupção, em sentido mais abrangente, seria tudo aquilo que envolve fraude, desvio de conduta ética, roubo. Mas, em um sentido mais específico, corrupção precisa envolver o setor público, ou seja, é o desvio de recursos públicos. Para haver corrupção, nesse sentido, é preciso ter o governo envolvido no processo. Se uma empresa privada engana seus acionistas minoritários e desvia recursos, isso é roubo, fraude, mas não seria corrupção sob esse ponto de vista.

Sempre que o estado concentra poder e recursos em demasia, temos um convite à corrupção. O motivo é evidente: como o dinheiro é da "viúva", falta o olhar atento do dono para fazer valer o seu dinheiro. Dessa forma, acabamos com um mecanismo de incentivos perversos, onde burocratas e políticos decidem sobre bilhões de outras pessoas, sem a devida prestação de conta, sem o devido escrutínio. É tentador demais cobrar um "pedágio" para a alocação desses vastos recursos, desviá-los para fins eleitoreiros, políticos, partidários ou mesmo pessoais. Como o dinheiro não é de "ninguém", pois é de todos, o político toma decisões sem critério econômico racional, privilegiando seus próprios interesses. É da natureza humana, e quando temos impunidade, essa tendência é exponencial.Qual a diferença entre corrupção pública e privada? Qual causa mais danos à sociedade? Como evitá-las?
Conforme dito acima, prefiro chamar de corrupção aquilo que envolve o setor público, adotando outro nome para roubos no setor privado. Sem dúvida a corrupção é mais nefasta, pois envolve grandes somas e o desvio do nosso dinheiro. Quando uma empresa é fraudulenta, isso prejudica aqueles que voluntariamente negociaram com ela, e terão que buscar na justiça reparação. Quando temos corrupção, cada um dos "contribuintes" (pagadores de impostos) perde, sem que tenha voluntariamente participado de qualquer transação com a empresa ou entidade. Se há corrupção envolvendo a Petrobras, todos pagam o preço, pois todos somos, teoricamente, proprietários dela. A melhor forma de evitar a corrupção é reduzindo e descentralizando o poder estatal e a quantidade de recursos que passa pelo setor público, assim como adotando severa punição para quem foi condenado por corrupção.A corrupção ocorrente no Brasil é mais agravada que em outros países? Por que?
Temos bastante corrupção sim, em termos relativos, como a Transparência Internacional mostra em suas pesquisas. É subjetivo muitas vezes, pois fala de "corrupção percebida". Mas sabemos que a magnitude é assombrosa, e qualquer empresário tem plena consciência do problema. Os motivos ficam claros após as respostas acima: temos muito poder concentrado no estado, e um poder arbitrário. Como a burocracia cria dificuldades legais para vender facilidades ilegais depois, ou seja, corrupção, claro que esta vai explodir em um país como o nosso, onde é proibitivo ter grandes negócios ou mesmo pequenos com tudo regularizado. Fora isso, o peso do estado na economia faz com que muitos queiram mamar em suas tetas, e optam pela via ilegal, ou seja, "investem" mais em lobby e corrupção do que em seus próprios negócios. Claro, quando uma canetada estatal sela o destino de todo um setor, isso passa a fazer sentido econômico. Por fim, temos um problema grave e conhecido de impunidade. Isso é um convite ao crime. Os corruptos não são punidos, logo, têm pouco a perder e a temer.Como a privatização pode auxiliar no combate à corrupção? Ela pode auxiliar a corrupção?
Justamente reduzindo a concentração de poder e recursos no estado. A privatização, ao colocar em sócios privados o controle das empresas, aumenta muito o grau de preocupação desses com o caixa da empresa. Logo, haverá bem menos desvios, na média. E, quando houver desvio, não será do nosso dinheiro, mas do dinheiro desses proprietários particulares.A corrupção no governo atual é maior que em tempos passados? Por que?
Difícil responder com dados objetivos, mas eu diria que a sensação é maior sim. Até porque tivemos o mensalão, que foi o auge em termos de corrupção com fins políticos: um partido desviando recursos públicos para se perpetuar no poder. Como o maior beneficiado pelo esquema acabou sendo reeleito, isso deu uma espécie de "salvo-conduto" para os corruptos, e criou a sensação de que o crime compensa. Espera-se que com o julgamento pelo STF e com as punições, ainda aguardando pela execução penal, ajude a melhorar o quadro. O corrupto tem que saber que, se for pego, vai pagar por isso. E caro!
O que cada um, como cidadão, pode fazer para ajudar no combate à corrupção?

Em primeiro lugar, procurar agir sempre de acordo com as leis, mesmo que discorde de algumas delas. Para mudá-las, devemos usar os mecanismos legais e democráticos. A desobediência civil me parece defensável apenas em casos extremos. Isso implica em não subornar policiais, não dar propina para burocratas etc. Claro que, na prática, muitas vezes isso será impossível. É que as regras são tão absurdas que tornam a viabilidade de alguns negócios, especialmente das pequenas empresas, impossível. O burocrata e o fiscal gozam de tantas regras arbitrárias que podem transformar a vida do pequeno empresário em um inferno, e a propina pode ser um grito de desespero pela sobrevivência. Entendo isso. Mas sempre que for possível, o ideal é jogar dentro das regras do jogo, respeitando as leis. O império das leis é fundamental para o avanço da sociedade. Por fim, os cidadãos devem fazer sua parte no campo das ideias, explicando para pessoas menos instruídas as causas da corrupção, dando sua cota de contribuição para a divulgação desses valores liberais que poderiam combater essa praga que é a corrupção.
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Published on June 27, 2013 06:46

Reação populista

Deu no GLOBO: Governo quer vetar reajuste de pedágio na Dutra e na Ponte

Em resposta aos protestos contra o alto custo dos serviços de transporte, o governo federal quer suspender o reajuste da tarifa do pedágio que ocorreria em agosto para as rodovias Presidente Dutra e Rio-Juiz de Fora, além da Ponte Rio-Niterói, como já fez o governo de São Paulo com os pedágios cobrados nas rodovias estaduais.

O Ministério dos Transportes negocia para preservar os usuários de estradas, porém, sem desrespeitar os contratos das empresas concessionárias. Por isso, está discutindo meios de ressarcir as empresas pelo aumento menor em suas receitas.

Segundo o cronograma dos contratos, tanto a Dutra quanto a Ponte Rio-Niterói, concedidas à CCR, poderiam corrigir seus pedágios no início de agosto e, no fim do mesmo mês, a Concer teria direito a elevar sua tarifa na Rio-Juiz de Fora. Nos últimos 12 meses, a inflação acumulada pelo IGP-M foi de 6,22%, o que tenderia a balizar os reajustes.

As concessionárias, segundo fontes, estão sensíveis ao apelo do governo federal e o anúncio do não reajuste depende apenas da definição sobre a forma de como serão compensadas.

[...]

Comento: Essa é uma reação previsível às manifestações, mas populista e perigosa. O governo está congelando tarifas, caminho que a Argentina seguiu de forma catastrófica. Para não quebrar contratos, o governo tenta dar um jeito de compensar a perda de receita das concessionárias. Isso significa abrir mão de receita tributária. Como o cobertor é curto, e o governo não vai reduzir suas despesas, ainda mais em véspera de eleição, isso quer dizer que o governo está sacrificando o último importante pilar da era FHC: a responsabilidade fiscal, com o superávit primário. Além disso, a medida faz com que todos os pagadores de impostos paguem pelo populismo de forma disfarçada, em vez de pagar quem efetivamente usa o serviço. Injusto e ineficiente. 
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Published on June 27, 2013 06:14

O lado bom das manifestações

















Rodrigo Constantino
Tenho adotado uma postura bastante cética e critica em relação a essas manifestações no país. Isso se deve a vários motivos, entre eles:
1.     Não aprecio o clima revolucionário de que vamos mudar o mundo rapidamente, saindo às ruas contra o “sistema”, contra “tudo isso que está aí”, pretexto muitas vezes para anarquia e depois golpe autoritário;2.     As manifestações partiram de movimentos organizados de esquerda com interesses obscuros, e por mais que agora essa turma seja minoria, a grande imprensa ainda dá espaço desproporcional a eles como interlocutores das ruas, ou seja, muitos servem como inocentes úteis para engrossar o quórum das demandas da esquerda, sempre mais tarimbada no assunto de manipulação das massas;3.     Falta foco, a revolta é geral, as demandas são difusas, e não se governa um país sem líderes e partidos organizados, apenas escutando as “vozes das ruas” que repetem slogans simplistas;4.     Justamente por isso, a reação do governo pode ser (e tem sido) oferecer como resposta a essa pressão toda mais governo, mais intervenção estatal;5.     Não compro a tese de que o “gigante” acordou, e que agora todos estão conscientes da política e não vão mais tolerar coisas como o “mensalão”, deixando de lado o velho “Pão & Circo”;6.     Receio que o tiro saia pela culatra, e que o maior prejudicado no curto prazo seja o fisiológico PMDB, que mal ou bem segura as pretensões bolivarianas do PT, abrindo espaço para um avanço ainda maior dos petiscas;7.     Temo também que o clima de insatisfação geral criado pelas passeatas seja propício para aventureiros de plantão, para um messias salvador da Pátria que prometa ignorar as falhas instituições democráticas para resolver nossos males em uma “democracia direta”;8.     Pelo mesmo motivo, desconfio de toda proposta que procura passar por cima do Congresso, apesar de este ser um balcão de negociatas, pois não acredito em saídas milagrosas fora da democracia representativa;9.     O clima de baderna gerado pelas manifestações acaba dando guarida aos vândalos que, embora em minoria, conseguem fazer um estrago no tecido social da nação, estimulando a anomia, a sensação de terra sem lei, protegidos da policia justamente porque há uma maioria pacífica nas ruas e uma forte opinião pública contra as ações da força policial;10.  Não acredito que seja possível sustentar por muito tempo essa forma de protesto, pois as pessoas precisam retornar ao trabalho, às suas vidas, com seu direito de ir e vir restabelecido, e nossos fins nobres não podem justificar meios condenáveis que prejudicam os inocentes ainda mais;
Essas são, basicamente, as razões pelas quais tenho feito ataques às manifestações, tentado trazer um pouco mais de serenidade e luz em meio a tanto calor difuso, jogado baldes de água fria em muita gente eufórica com essa situação nova no país.
Dito isso, é claro que não tenho apenas sentimentos negativos diante do quadro geral. Tenho sido o advogado do diabo, demandando mais cautela e cuidado, mostrando os enormes riscos disso tudo. Mas me parece inegável que há alguns pontos interessantes no que se passa. Para não ignorá-los e ficar parecendo que eu condeno tudo, vou listar algumas vantagens desse momento atual em que vive o Brasil:
1.     De fato, a letargia até então era algo irritante, e até chocava a postura de pacato cidadão do brasileiro, que apanha o ano inteiro do governo, com sua incrível incompetência, seu descaso total, sem nada fazer, e agora, ao menos, demonstra sua revolta, ainda que de forma desorientada;2.     Ao obter alguma reação dos governos, essas pessoas descobrem o poder do grito, o que pode ser um perigo à frente, mas que também representa uma nova forma de evitar abusos, colocando os políticos contra a parede, temerosos até de sua integridade física daqui por diante (nunca é ruim o governante ter um pouco de medo da população);3.     O fato de tudo isso ocorrer durante a gestão petista pode, naturalmente, fortalecer a idéia de que o governo do PT não tem absolutamente nada de fantástico como seus marqueteiros dizem e algumas pesquisas “comprovam”, deixando evidente que há um grau de insatisfação generalizada no país;4.     Isso tudo, ainda muito caótico, pode servir para que alguns jovens, hoje encantados com soluções utópicas, descubram a importância de mergulhar mais a fundo nos problemas políticos e econômicos, de forma mais racional, o que os levará, sem dúvida, rumo ao liberalismo;5.     Nosso patriotismo pode sair fortalecido, a sensação de que a Pátria tem salvação e de que cabe a nós, brasileiros, moldarmos nosso destino, sem termos de aceitar de forma resignada que sempre seremos uma porcaria, um país jogado às traças, aos bandidos que usam e abusam de nossos impostos sem a menor preocupação com a reação dos “bovinos” obedientes;
Portanto, como fica claro, nem tudo é desgraça. Para mim, o ideal seria que boa parte do povo tivesse realmente acordado, se dado conta de que precisamos pressionar por mudanças, e que isso resultasse em movimentos organizados dentro da democracia representativa, cujo foco no curto prazo fosse retirar o PT do governo.
Não é esse o caso, não há esse mesmo diagnóstico, os métodos adotados me incomodam e geram apreensão, pois receio que o resultado não seja do nosso agrado. Mas também não quero passar a impressão de que o melhor seria simplesmente voltar ao que era antes, colocando o “gigante” para dormir novamente, passivo diante de tantos abusos do governo.
Será possível canalizar tanta energia despertada para algo mais construtivo, respeitando-se as vias da democracia representativa? Espero que sim. E é esse o desafio homérico dos liberais.
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Published on June 27, 2013 03:58

June 26, 2013

Em defesa da privatização da Infraero

Rodrigo Constantino

No dia 24 desse mês, uma matéria do jornal Valor Econômico trouxe a reclamação do presidente da Infraero de que as privatizações ocorridas no setor causaram um rombo nas constas da estatal. Abaixo, farei um ping-pong colorido (eu em azul), rebatendo os pontos da reportagem e explicando as vantagens da privatização.

A privatização do Galeão e de Confins deverá abrir um rombo nos cofres da Infraero. O alerta é do próprio presidente da estatal, Gustavo do Vale, que definiu um arsenal de medidas para contornar os efeitos da perda de receitas provenientes dos dois aeroportos. Contratos com prestadores de serviços vão ser renegociados e um programa de demissões voluntárias tem a previsão de alcançar até 2,9 mil empregados.

Ao repassar o controle de alguns aeroportos importantes para a iniciativa privada, parece natural que a receita da estatal sofra um baque. A coisa mais normal do mundo seria justamente um ajuste no tamanho da empresa, e as demissões fazem parte desse processo. Até porque a estatal, como de praxe, tinha um quadro bastante inchado, apesar do serviço prestado ser muito aquém do desejado.

Vale ilustra a nova era de "vacas magras" da Infraero, como ele mesmo diz, com os últimos dados financeiros da estatal. Até abril de 2012, quando nenhum grande aeroporto da rede havia sido transferido à iniciativa privada, ela teve lucro operacional de R$ 375 milhões no ano. Já no primeiro quadrimestre de 2013, com três aeroportos - Guarulhos, Viracopos e Brasília - concedidos, o lucro caiu para R$ 65 milhões. Ele chama atenção para o número realmente impressionante: sem Galeão e Confins, o resultado teria se revertido em um prejuízo de R$ 60 milhões.

O que esses dados sugerem, logo de cara, é que a lucratividade da estatal, bastante reduzida para padrões internacionais inclusive, dependia absurdamente de poucos aeroportos. Traduzindo ainda mais a mensagem, a operação de apenas três aeroportos acabava subsidiando todo o restante das operações da estatal. Não faz sentido a empresa ter prejuízo em quase todos os aeroportos e compensar essa ineficiência apenas com cinco capitais. A privatização vai justamente impor uma mudança nesse sentido, fazendo com que cada aeroporto tenha que se sustentar por conta própria e, para tanto, operar de forma mais enxuta e eficiente.

O momento mais crítico, para as contas da Infraero, ocorrerá a partir do fim de 2014 ou do início de 2015. É que o leilão dos dois aeroportos está previsto para outubro, mas levam-se vários meses até a assinatura do contrato de concessão e a efetiva transferência total das operações para os grupos privados. Somente depois disso as receitas do Galeão e de Confins deixarão de ir para o caixa da estatal. Por outro lado, os três primeiros aeroportos privatizados ainda vão demorar mais algum tempo até render dividendos aos acionistas, incluindo a própria Infraero - que preserva uma fatia de 49% nas concessões.

Um dos motivos para a privatização foi justamente a falta de capacidade da estatal de investir nas melhorias dos serviços. Claro que os dividendos vão demorar, pois essa é a fase dos investimentos para ajeitar a casa. O governo, controlador da Infraero, apropriou-se do valor da fatia vendida por meio do leilão. O que sobrou na estatal deve ser recalibrado para a nova realidade da empresa. O que a privatização até aqui fez, repito, foi expor a real situação da estatal, que tem vários aeroportos deficitários. É isso que deve mudar.

Guarulhos, Viracopos e Brasília correspondiam a 36% das receitas da Infraero. Agora, o Galeão e Confins significam 23% de toda a arrecadação que restou.

Sim, havia uma alta concentração em poucos aeroportos, uma dependência das grandes capitais. Mas ainda assim estamos falando de mais de 40% da receita original que deverão continuar sob os cuidados da Infraero. Será que não é possível ter lucro com isso? Óbvio que a dimensão da estatal deverá se ajustar para esse novo tamanho. O que o presidente queria? Vender o controle de aeroportos responsáveis por quase 60% do faturamento e manter o quadro de gastos atual?

"Sabíamos que viria um período de vacas magras pela frente", reconhece Vale. Segundo ele, é "possível" que a Infraero tenha prejuízo operacional já em 2013, mas lucros acumulados nos exercícios anteriores "dão sustentação" ao custeio da estatal nos próximos anos. A tendência da estatal é ficar mais dependente de aportes do Tesouro. O último aporte, no valor de R$ 300 milhões, saiu no dia 11 deste mês. Todo o dinheiro vai para a integralização do capital das sociedades de propósito específico (SPEs) que detêm as concessões dos aeroportos.

Um dos grandes problemas das estatais é justamente essa mordomia de contar sempre com o dinheiro da "viúva", ou seja, quando ela é incapaz de operar no azul, ela pede ajuda ao governo, que aporta mais capital nela. É por isso mesmo que as estatais tendem a ser ineficientes. Elas não sofrem a pressão do mercado, não necessitam lucrar para sobreviver. Esse argumento, de que será preciso mais injeção de capital do Tesouro, apenas reforça a ideia de que toda a Infraero deveria ser logo privatizada!

O Fundo Nacional de Aviação Civil (FNAC), de acordo com ele, financiará os investimentos nas instalações mantidas pela Infraero. Vale diz ter a garantia do Palácio do Planalto de que as obras nos aeroportos mantidos com a empresa ficarão livres de contingenciamento. "Não está faltando absolutamente nada. Não teremos mais recursos próprios para fazer investimentos, mas os recursos virão do FNAC."

Não seria melhor transferir tais operações para a iniciativa privada e deixar que grupos interessados no lucro invistam nas melhorias desses aeroportos? Além de não contar com as amarras da Lei 8.666, das licitações, o setor privado tem um escrutínio muito maior do dinheiro investido, pois sai do bolso dos próprios acionistas que dependem de uma boa alocação para ter retorno. No mais, o empresário foca mais na qualidade dos serviços prestados, exatamente porque disso seu lucro depende.

Até o primeiro semestre de 2014, a Infraero promete concluir obras de reforma e ampliação em dez aeroportos: Confins, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Florianópolis, Foz do Iguaçu, Galeão, Manaus, Porto Alegre e Salvador. Algumas intervenções só ficarão parcialmente prontas.Para enfrentar o novo cenário, a Infraero já tem em mãos um trabalho da Falconi Consultoria, que identificou ações para aperfeiçoar a gestão da estatal. "A realização de investimentos só dependerá da nossa própria capacidade de executá-los", diz Vale.

A consultoria de Falconi é reconhecida como altamente capaz por todos, e não resta dúvida de que sua ajuda apresentará resultados. Porém, e isso é importante ressaltar sempre, ela não faz milagres. E isso se deve ao mecanismo de incentivos da estatal. Por mais que uma consultoria faça diversas recomendações importantes, e que o presidente da estatal tenha as melhores intenções, o fato incomodo de que falta às estatais essa pressão do mercado, que pune a incompetência e premia a excelência, segue inalterado. Há um limite até onde é possível melhorar uma gestão estatal.

Dos 31 mil funcionários que atuam nos aeroportos da Infraero, 13 mil são empregados diretos - o restante é terceirizado. A abertura de um programa de demissões voluntárias, em agosto de 2012, recebeu a adesão de 1.120 servidores até o dia 14 de junho. O número de referência do programa - a diretoria da estatal evita o uso do termo "meta" - é de 2,9 mil empregados.

Mais de 30 mil funcionários! Na era FHC, essa quantidade, se não me engano, era na faixa de 5 mil. Claro que o tráfego aéreo aumentou bastante desde então. Mas alguém realmente acredita que era necessário sextuplicar o quadro de pessoal? Alguém notou incrível melhora nos serviços dos aeroportos? Pelo contrário: o que ficou claro é que há enorme gargalo nesse setor, e os aeroportos parecem cada vez mais rodoviárias. 

Nos três primeiros aeroportos privatizados, um suculento pacote de benefícios foi oferecido para quem quisesse sair dos quadros da estatal para migrar às novas concessionárias, mas o volume de adesão foi baixo. O pacote incluía um bônus por ano trabalhado na Infraero e cinco anos de estabilidade nas empresas que assumiram a administração dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília. No entanto, apenas 695 saíram da estatal, o que corresponde a 27% dos funcionários aptos a fazer essa escolha.

Isso demonstra uma falha sistêmica em nosso país: o setor público oferece vantagens desproporcionais ao setor privado para os trabalhadores. Há regalias, estabilidade, salários muitas vezes mais altos e, talvez acima de tudo, uma falta de pressão de chefes preocupados com o lucro e a própria sobrevivência da empresa. Em suma, sabemos que nas estatais pululam funcionários acomodados, preguiçosos, com honrosas exceções. Ficar encostado em uma estatal é tarefa bem mais fácil do que fazer o mesmo em uma empresa privada.

Para aumentar receitas, outra iniciativa da Infraero é negociar com a Secretaria de Aviação Civil uma espécie de ressarcimento que cubra suas despesas com navegação aérea. O controle de tráfego aéreo é exercido principalmente pelo Comando da Aeronáutica, mas a estatal tem atuação complementar. Ela dispõe de 81 unidades de apoio de navegação, 13 centros de controle de aproximação e gerencia 22 torres de controle nos aeroportos. Essas são atividades deficitárias, segundo Vale, e não havia grande dificuldade em mantê-las enquanto a Infraero tinha mais receitas. Agora, convém negociar um repasse para remunerar esses serviços e reverter uma fonte de prejuízos, diz o executivo.
Nada como a privatização parcial para já colocar um pouco mais de pressão na estatal. Criar novas fontes de receita é uma preocupação constante de todos os empresários do setor privado. O aeroporto de Cancun, por exemplo, virou praticamente um shopping center, de olho no lucro. Explorar alternativas de receita é algo crucial no setor privado, parte do cotidiano de toda empresa. Como fica claro, a estatal pode dormir em potes de ouro e nunca perceber isso. Afinal, ela não precisa lucrar para sobreviver, e tampouco sua maior lucratividade se traduz em maiores benefícios para seus funcionários. Faltam os incentivos adequados...
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Published on June 26, 2013 13:03

June 25, 2013

Indignai-vos nas urnas!

Meu artigo de hoje no GLOBO: De nada adianta rugir feito um leão nas ruas, e depois votar como um burro nas urnas.
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Published on June 25, 2013 05:00

June 24, 2013

O "gigante" precisa de foco

Minha nova coluna-vídeo no GLOBO, sobre as manifestações que tomaram as ruas brasileiras.
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Published on June 24, 2013 13:38

June 23, 2013

June 22, 2013

A voz das ruas e os toucas-ninja

Percival Puggina

Se as pessoas que estão saindo às ruas nestes dias, em todo o país, votaram na Dilma e há uma década estufam o próprio peito com as fanfarronadas de Lula, o Brasil está salvo. Se são outras pessoas, estamos perdidos. Se as pessoas que estão saindo às ruas são as mesmas que chamavam golpistas quem se dispusesse a escrutinar a péssima biografia dos governos petistas, estamos salvos. Se forem outras, estamos perdidos. Ou seja, se o petismo não estiver perdendo força como religião hegemônica no país, por conversão de antigos fiéis ao até agora minoritário reduto da sensatez, então nada está acontecendo. Os sensatos abriram as portas do clube e saíram à rua, apenas isso. O placar do jogo político permanecerá o mesmo. E Deus se apiede do Brasil. Dilma continuará percorrendo o país para operar prodigiosa multiplicação de inexistentes bilhões, em meio a muita festa e louvação.

Faço estas considerações com absoluto senso prático. A alma brasileira foi envenenada pela propaganda do governo. Milhares de comunicadores, diariamente, compram essa propaganda como coisa boa e reproduzem o ufanismo oficial. É de se ver e eu vi, é de se ouvir e eu ouvi, nestes últimos dias, eminentes formadores de opinião embasbacados ante as mobilizações populares, como que exclamando: "Mas estava tudo tão bem! O Brasil é uma de satisfações cercada pelo oceano das inconformidades! O próprio Lula disse, não disse?". Disse. E quanto e-mail desaforado recebemos, ao longo destes últimos anos, eu e alguns outros, enquanto brandíamos a verdade em nossas passeatas lítero-panfletárias de protesto! Faziam para conosco como os empedernidos cardeais fizeram com Galileu. Recusavam-se a esquadrinhar a realidade através da luneta da verdade: "Noi non vogliamo guardare perché se lo facciamo potremmo cambiare". Não olham porque mudar de opinião pode custar caro. A mentira paga melhor.

Todos os indicadores confirmavam o que dizíamos e os olhos viam: a educação pública é um desastre, vive-se ao completo desabrigo dos aparelhos de segurança pública, temos poltronas nos estádios de futebol e pacientes deitados sobre colchões no chão dos hospitais, a infraestrutura brasileira dá sinais de haver trombado contra um PAC acelerador da destruição, o Erário é rapinado em moto-contínuo pelo arrastão dos corruptos. Mas, como vai o Brasil? Ah, o Brasil é outra coisa. O Brasil vai às mil maravilhas. Foi bafejado pela fortuna. Saiu das mãos de um gênio prodigioso para as de uma testada e competente gestora. Meu Deus!

***
Por fim, três observações. Primeira: passe livre é marotagem; é querer andar de graça com os outros pagando a conta. A segunda é para lembrar que, em Porto Alegre, a mobilização inicial contra o preço das passagens foi empreendida por militantes de partidos de esquerda, notadamente do PSOL. Eles foram para a frente da Prefeitura armados de paus, pedras, latas de tinta, toucas ninja (bem como se tem visto, agora, em toda parte), enfrentaram a polícia e vandalizaram o prédio e seu entorno. Naquele ato não houve "infiltração" alguma! Os malfeitores eram alinhados com partidos que não rejeitam o emprego da violência para fins políticos. Terceira: não parece prudente adotar como coisa certa que os malfeitores "são uns poucos". Não, não são uns poucos, são muitos, muitíssimos, como as próprias imagens mostram à exaustão. "Se a maior violência neste país tiver que vir desses movimentos, que venha", disse num debate na TVCOM certo defensor desse vandalismo. Tampouco parece prudente, então, desconsiderar o risco de que a esplêndida massa de cidadãos retamente intencionados venha a ser apropriada pelo que de pior existe em todos esses movimentos. Saiba, no conjunto do espectro político há quem, com o mesmo e justo discurso que enfeita as ruas e nos traz júbilo ao coração, vista toucas ninja.
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Published on June 22, 2013 17:19

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Rodrigo Constantino
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