Rodrigo Constantino's Blog, page 324

June 22, 2013

Qual é a pauta?

Rodrigo Constantino

Qual é a pauta? Qual é a demanda? Gritar contra "corrupção" ou contra "tudo isso que está aí" vai produzir exatamente o que, na cabeça dos manifestantes? Quais as exigências concretas, objetivas? É para retirar a Copa do país? Sim ou não? É pelo impeachment da presidente? Por incompetência? Ou por algo mais específico? É para antecipar as eleições e realizar mudanças democráticas? É por mais transparência nos gastos públicos? Ótimo, mas como exatamente? Há propostas? É para o governo vender as arenas e construir alguns hospitais? É para fazer um metrô novo?

Notem que ou isso tudo ganha uma direção mais clara, ou vira (já virou?) anomia, clima de anarquia, de revolução. E isso, meus caros, só interessa aos golpistas de plantão! Isso pode resultar até em mais estado e menos liberdade, transparência. O tiro pode sair pela culatra. Os protestos são apartidários e sem liderança? E quem vai canalizar isso para propostas concretas dentro do sistema democrático? Qual liderança, qual partido? Ou será que vocês pensam que é desejável abolir esse modelo (imperfeito) e partir para uma espécie de "democracia" direta das ruas? Sério? Onde foi que isso funcionou? Pois é...

Sem objetivos claros e bem definidos, que resultem em pressão legítima para mudanças específicas dentro da democracia representativa, sinto muito lhes dizer, mas o que será colhido dessas manifestações todas, que invariavelmente têm acabado em vandalismo e baderna, não será algo positivo como tantos esperam. Não será um "novo país" sem corrupção e mais próspero. De nada adiantará acordar o gigante se ele permanecer atordoado, confuso, errático, sem saber o que exatamente ele deseja. Pensem nisso...

Meu chute: 90% dos que protestam contra a PEC 37 não sabem o que é isso, e 99,9% não leram o projeto. Mas o gigante acordou! É só que ele é meio preguiçoso para estudar, preferindo partir logo de uma vez para a ação nas ruas. Depois ele entende melhor pelo que lutava...

Se você é um dos que está encantado com esse despertar do gigante e endossa as manifestações com a paixão de um adolescente sonhador, reflita diante do espelho sobre isso e faça uma análise crítica da situação. Qual é a pauta?
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Published on June 22, 2013 05:21

June 21, 2013

Alertas republicanos do sábio Tocqueville

Rodrigo Constantino

"A multidão sempre me incomodou e me emudeceu." (Alexis de Tocqueville)

Em clima crescente de anomia, caos, desordem e anarquia, com vândalos "revolucionários" atuando impunemente pelo país todo, tudo isso sob a blindagem de manifestações legítimas, porém difusas e contra "tudo isso que está aí", nada melhor do que manter a serenidade e buscar sabedoria nos antepassados. Eles já passaram por situações semelhantes, por revoluções, por convulsão social, quando a política em si passa a ser vista como o grande inimigo. 

Resolvi reler vários trechos de Edmund Burke, e publiquei alguns no meu artigo "Brincando de Revolução". Agora foi a vez de revisitar outro gigante, Alexis de Tocqueville. Com percepção extremamente acurada de quem viveu tensões revolucionárias de perto e de dentro do poder, Tocqueville fez o possível para preservar o bom senso e as liberdades básicas do povo.  Seu relato consta no imperdível livro Lembranças de 1848. Abaixo, alguns trechos que merecem destaque:

Falo aqui sem amargura; falo-vos, creio eu, até sem espírito de partido; ataco homens contra os quais não tenho cólera, mas, enfim, sou obrigado a dizer a meu país qual é minha convicção profunda e meditada. Pois bem: minha convicção profunda e meditada é que os costumes públicos estão se degradando; é que a degradação dos costumes públicos vos levará, em curto espaço de tempo, brevemente talvez, a novas revoluções. [...] Sim, o perigo é grande! Conjurai-o enquanto ainda é tempo; corrigi o mal por meios eficazes, não atacando seus sintomas mas o próprio mal.
Assim, os principais líderes do partido radical, que acreditavam que uma revolução seria prematura e que ainda não a desejavam em absoluto, sentiram-se obrigados a pronunciar nos banquetes discursos muito revolucionários e a insuflar o fogo das paixões insurrecionais, para se diferenciarem dos seus aliados da oposição dinástica. Por sua vez, a oposição dinástica, que não queria mais banquetes, viu-se forçada a perseverar no mau caminho, para não dar a idéia de que retrocedia diante dos desafios do poder; por fim, a massa dos conservadores, que acreditava na necessidade de grandes concessões e desejava fazê-las, foi forçada, pela violência de seus adversários e pelas paixões de alguns de seus líderes, a negar o direito de reunião em banquetes privados e a recusar ao país mesmo a esperança de uma reforma qualquer. É preciso ter vivido muito tempo em meio aos partidos e no turbilhão mesmo em que se movem para compreender até que ponto os homens impelem-se mutualmente para fora de seus próprios desígnios e como o destino do mundo caminha pelo efeito, mas com freqüência a contrapelo, dos desejos de todos que o produzem, tal como a pipa que se eleva pela ação do vento e da linha.
São os moleques de Paris que costumam empreender insurreições, e em geral alegremente, como escolares que saem em férias.
A verdade, deplorável verdade, é que o gosto pelas funções públicas e o desejo de viver à custa dos impostos não são, entre nós, uma doença particular de um partido; é a grande e permanente enfermidade democrática de nossa sociedade civil e da centralização excessiva de nosso governo; é esse mal secreto que corroeu todos os antigos poderes e corroerá todos os novos.
Se Paris for entregue à anarquia, e todo o reino à confusão, pensam que só o rei sofrerá com isso? Nada consegui e outra coisa não obtive, além desta surpreendente tolice: o governo era o culpado, ele que arcasse com o perigo; não queriam ser mortos defendendo pessoas que haviam conduzido tão mal as coisas. No entanto, lá estava a classe média, cujas cobiças havia dezoito anos eram acariciadas: a corrente da opinião pública tinha acabado por arrastá-la e lançava-a contra os que a haviam lisonjeado até corrompê-la.
[...] é sobretudo em tempos de revoluções que as menores instituições do direito - e mais: os próprios objetos exteriores - adquirem a máxima importância, ao recordar ao espírito do povo a idéia da lei; pois é principalmente em meio à anarquia e ao abalo universais que se sente a necessidade de apego, por um momento, ao menor simulacro de tradição ou aos laivos de autoridade, para salvar o que resta de uma Constituição semidestruída ou para acabar de fazê-la desaparecer completamente.
Embora percebesse que o desenlace da peça seria terrível, nunca pude levar os atores muito a sério; tudo me parecia uma desprezível tragédia representada por histriões de província.
A inquietude natural do espírito do povo, a agitação inevitável de seus desejos e pensamentos, as necessidades, os instintos da multidão formaram, de alguma maneira, o tecido sobre o qual os inovadores desenharam tantas figuras monstruosas e grotescas.
[...] mesmo nos mais sangrentos de nossos motins encontra-se sempre uma multidão de gente meio velhaca e meio basbaque, que se leva a sério no espetáculo.
Como sempre acontece nos motins, o ridículo e o terrível misturavam-se.
Opus-me ao parágrafo que declarara Paris em estado de sírio - mais por instinto que por reflexão. Sinto, por natureza, um tal desprezo e um horror tão grande pela tirania militar que, ao ouvir falar do estado de sítio, esses sentimentos sublevaram-se tumultuosamente em meu coração, e dominaram inclusive os sentimentos que o perigo fazia nascer. Com isso, cometi um erro que, afortunadamente, teve bem poucos imitadores.
[...] as grandes massas humanas movem-se em virtude de causas quase tão desconhecidas à humanidade quanto as que regem os movimentos do mar; nos dois casos, as razões do fenômeno ocultam-se e perdem-se, de alguma maneira, em sua imensidão.
São alertas importantes no momento atual. Precisamos de muita calma nessa hora, não de paixões revolucionárias atiçadas por agitadores. Vejamos o que diz nossa Constituição:
Art. 137 da CF de 1988: "O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, solicitar ao Congresso Nacional autorização para decretar o estado de sítio nos casos de: I - comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa". 
Estão criando, com boas intenções na maioria dos casos, um ambiente que pode justificar uma ditadura militar sob um governo de esquerda! E o pior: vai contar com o apoio de muita gente da classe média, cansada da baderna toda, da insegurança, da impossibilidade de ir e vir. Não queremos isso! Escutemos as palavras de Tocqueville, e reflitamos com calma sobre tudo isso.
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Published on June 21, 2013 16:20

Como Transformar um Movimento Apartidário em Mudança

  Rodrigo Adão *
Nos últimos dias tem ganhado força entre os cientistas políticos de Esquerda uma tese de que o movimento popular se aproxima do Fascismo simplesmente por se mostrar apartidário. Não permitir que partidos políticos e seus braços em movimentos sociais participem das manifestações não é Fascismo! Falar isso é perder o principal ponto das manifestações: quem saiu à rua mostrou sua indignação com a incapacidade do Estado em exercer seus diversos papéis constitucionais e esse Estado se encontra personificado nos partidos políticos que o geriram nos últimos 25 anos. Parece-me que todos são bem-vindos para compartilhar esta indignação nas manifestações, seja qual for a sua orientação política. Entretanto, a própria natureza da manifestação não permite que se tente mostrar apoio aos partidos que controlam o Estado – justamente o principal alvo de indignação. Apartidarismo era sim uma característica do Fascismo, mas está longe de ser uma condição suficiente.
Dito isso, compartilho de algumas das opiniões divulgadas por diversos cientistas políticos. Acho que sou tradicional nesse ponto, mas considero que a indignação com o Estado só vai se tornar mudança efetiva caso uma liderança seja capaz de transformar as reivindicações em uma agenda de reformas do Estado. Mais, esta agenda de reformas tem que considerar os custos e benefícios de cada medida. Não adianta clamar por educação, saúde e redução da corrupção sem propor medidas específicas. Por exemplo, mais recursos para educação básica poderiam ser obtidos com uma redução dos gastos em universidades federais, atingindo, em cheio, um benefício da classe média urbana. Ou ainda, poderiam ser obtidos com uma redução dos incentivos ao cinema e à música nacionais, atingindo a classe artística nacional que adora um lobby. Outro exemplo, melhor saúde passaria por reformar o sistema médico que permite que profissionais faltem plantões e suspendam consultas sem sofrer nenhuma punição efetiva. Só para completar, acabar com os benefícios esdrúxulos de diversas carreiras do judiciário não só ajudaria a tornar a justiça mais ágil (reduzindo corrupção), como liberaria recursos pra gastos sociais. Quero ver algum concurseiro de plantão concordar com essa última medida. A multidão nas ruas mostra sua insatisfação, uma liderança de qualidade concretiza suas demandas.
Para terminar me permito mandar dois recados. Aos manifestantes, eu digo: não existe almoço grátis. Qualquer mudança efetiva vai afetar benefícios de grupos específicos, sendo que alguns destes grupos estavam na rua nos últimos dias. Aos partidos atuais, eu digo: entendam a manifestação nas ruas e se conformem que não existe espaço para políticos tradicionais capturarem a sua liderança. Caso alguma liderança política seja capaz de emergir desde movimento, ela não vai sair dos partidos que estão no poder desde a democratização. Apesar disso, uma liderança que atue dentro do sistema politico atual será necessária para que o movimento não se perca no ar.
* Mestre em Economia pela PUC-Rio e estudante de PhD em Economia no MIT. As opiniões são do autor, não dessas instituições.
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Published on June 21, 2013 08:22

A volta de Meirelles

Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
Circulam rumores de que Henrique Meirelles seria chamado de volta para o governo, dessa vez para o lugar de Guido Mantega. O Ibovespa chegou a cair 4% nesta quinta-feira, e depois reverteu a forte queda e terminou em território positivo, basicamente por conta desses boatos. Faz sentido? Muda alguma coisa?
Em primeiro lugar, deve-se ter em mente que nossos problemas são estruturais. O modelo desenvolvimentista, que a própria presidente Dilma defende, esgotou-se. Como sempre acontece, aliás, pois ele é insustentável. O governo foi negligente com a inflação, o crédito, principalmente dos bancos públicos, cresceu demais, as contas públicas se deterioraram muito, e a fatura desses erros todos chegou.
Demitir Mantega e colocar alguém como Meirelles em seu lugar, que goza de credibilidade nos mercados, sem dúvida seria uma importante sinalização de que, ao menos, a presidente acordou para a realidade. Só mesmo no setor público tanta incompetência, como a dessa equipe econômica, pode continuar impune. Mas a pergunta relevante é: Meirelles poderia agir de forma independente?
Afinal, entre as medidas necessárias no curto prazo, estão um choque na taxa de juros, para conter a inflação e ancorar novamente as expectativas, e fechar os cofres públicos, realizando um forte aperto fiscal. Alta de juros e corte de gastos, em véspera (antecipada) de eleições? A presidente banca o risco? Com milhares nas ruas protestando contra “tudo que está aí”, sentindo os efeitos dos erros do governo?

Complicado. O mais provável, pelo visto, é o governo tentar ganhar tempo até as eleições, administrando seu fracasso. Resta saber se ele chega até lá...
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Published on June 21, 2013 06:14

June 20, 2013

Poder de mobilização

Por Dr. Milton Pires
Prefeitos e governadores cancelaram o aumento das passagens. A PEC 37 está com sua votação adiada..ninguém mais ignora o que está acontecendo..já “deu” no New York Times..já aconteceu, já faz “parte da história”..E agora, Brasil do B?Alguém pode me dizer o que vai acontecer agora? Qual é o objetivo agora? Cancelar a Copa do Mundo? Algum terrorista de smartphone e tênis Nike pode me dizer?O que vocês, manifestantes, não tem coragem para dizer é que amanhã de manhã vão se reunir em silencio palaciano com pessoas que vão dizer aquilo que devem fazer! Vocês vão ouvir o PSOL, vocês vão procurar essa imundície chamada UNE, vocês vão escutar intermediários do Gilberto Carvalho, para saber o que fazer...graças a vocês ninguém fala mais na Rose, né? Graças a vocês esqueceram-se os mortos de Santa Maria...graças a vocês passou batida a questão dos médicos cubanos, não passou?..Graças a vocês, seus corruptores da juventude, seus traficantes de esperança, seus revolucionários do Johnnie Walker Blue Label -  o José Dirceu tem mais um dia de liberdade! Vocês, seus profetas do óbvio e apóstolos do lugar comum, são aqueles que fazem o Brasil sair do sono eterno e entrar em coma por traumatismo cranioencefálico! Dia após dia a Petrobras sangra e agoniza aparelhada pela canalhada que vocês colocaram lá, né? Graças a vocês o CNPQ do B financia esses bobalhões que agora vemos apoiando, lá no exterior, esses vândalos aqui no país, não financia? Graças a vocês a única coisa que se ensina na Universidade Pública é que “todos tem direito a entrar nela”, não é??  São vocês que tiraram dinheiro dos hospitais, das delegacias e das escolas brasileiras para perdoar a dívida da Bolívia e reformar o porto da Havana, seus canalhas!    Por que, me expliquem, por que..não vi nenhum de vocês com cartaz “Fora Dilma” na mão, hein? Foi ordem do Lula? Quantos de vocês carregavam alguma faixa escrita “Onde está Rose”, hein? Expliquem! Onde está a vontade de vocês mudarem o país? Vocês pensam que patriotismo é aquilo que existe entre cantar o hino nacional e queimar ônibus? Vocês pensam que a Rede Globo é a CNN, petralhas?Que tristeza tenho eu de ser brasileiro como vocês..vocês não tem, mesmo reunidos aos milhões um décimo da coragem do povo do Oriente Médio..O pai filosófico de vocês é o relativismo e a mãe é o lugar comum..Sabem, por que esse movimento não vai terminar em nada de bom? Por que vocês não tem um líder de verdade, vocês não tem uma causa e vocês não tem coragem..Uma revolução de verdade, bobalhões, se faz com fé, não com o Facebook. Vocês não tem fé, por que  ela começou a morrer com Waldomiro Diniz e foi sepultada com Marcos Valério. “Apesar de vocês, amanhã há de ser outro dia”..O sol vai raiar, petralhas, e vocês não vão saber o que fazer com a luz..Ainda vai levar uma década, talvez leve um século, para surgir algo em que acreditar e em nome disso mudar o país..Até lá, são vocês, só vocês..não interessa se num acampamento do MST ou escondendo dólares em algum hotel de Brasília,  que  vão dar as cartas..O que vocês tem agora nas mãos seus bandidos,  e óbvio que vocês sabem mas quem está me lendo não tem obrigação de saber, chama-se poder de mobilização...vamos ver quais são as ordens de Lula sobre o que devem fazer com ele..
Comento: O desabafo do Dr. Milton Pires tem sentido, principalmente quando pensamos nos idiotas do Movimento Passe Livre e demais radicais de esquerda que tentam se apropriar das manifestações. Mas penso que elas saíram um pouco do controle deles, tanto que o PT tenta, hoje mesmo, convocar seus discípulos amestrados (e pagos) para as ruas. Há de tudo ali, e a mobilização não é mais monopólio do PT. Ainda que eu continue achando que, nesta seara, os esquerdistas sempre levarão vantagem sobre os liberais...
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Published on June 20, 2013 11:44

Geração 0800

Rodrigo Constantino

Vivemos na era da Geração 0800, do "tudo grátis". Após tanto tempo de welfare state, quase todos passaram a crer que os bens e serviços caem dos céus, que "alguém" deve bancar isso tudo em nome do bem-geral, e esse alguém é sempre o governo, como se seus recursos não viessem de cada um de nós.

Por isso esse discurso insistente de "direitos", como se, ao nascermos, já tivéssemos "direito" a inúmeros bens e serviços que dependem do esforço alheio. O nosso "direito" a um transporte público "gratuito" significa o dever de outros trabalharem e pagarem por isso. Normalmente, essa forma de ofertar esse importante serviço é cara (nada tão caro quanto serviços gratuitos do governo) e ineficiente.

O Movimento Passe Livre representa essa visão boba e ignorante sobre o funcionamento da economia, com seu viés socialista. O socialismo não funciona! Ele dura até acabar o dinheiro dos outros, como dizia Thatcher. A Geração 0800 precisa acordar para essa realidade, e demandar menos estado, não mais. Trabalhar dá trabalho. Mas viver à custa de benesses estatais é muito pior!

Segue um artigo meu de 2006 sobre o assunto, para elucidar melhor meus pontos.

Dos Direitos
Os direitos constituem um conceito moral aplicável aos indivíduos num contexto social. Não faz sentido falar em direito no caso de um ser isolado numa ilha. Direitos estão ligados ao relacionamento entre indivíduos, protegendo a liberdade de cada pessoa dentro do grupo. É fundamental atentar para o fato de que não há algo como um direito da sociedade, dado que esta nada mais é que o somatório de indivíduos. Será, portanto, o guia moral determinante dos direitos, a liberdade individual, permitindo que cada ser humano seja dono de si, livre para pensar e agir, e protegido da coerção física externa.
Essa visão é bastante recente, e praticamente inexistente na história da humanidade. Desde os direitos divinos dos reis, a teocracia do Egito, o ilimitado poder da maioria em Atenas, o poder arbitrário dos imperadores romanos, a monarquia francesa, o welfare state de Bismark na Prússia, as câmaras de gás dos nazistas na Alemanha e os gulags dos comunistas russos, algum tipo de “ética” altruísta-coletivista dominava os sistemas políticos. O “bem público” ofuscava a liberdade individual. Foi apenas na criação dos Estados Unidos que tivemos a primeira sociedade moral da história, eliminando a idéia de que o homem é algo sacrificável para algum fim maior. A Declaração da Independência Americana iria introduzir a idéia de que cada indivíduo deve ser livre, e o governo deve existir apenas para garantir essa liberdade.
O direito para cada indivíduo deve ser de natureza positiva, garantindo sua liberdade para agir de acordo com seu próprio julgamento, seus objetivos particulares, sua escolha voluntária e sem coerção. Para seus vizinhos, os seus direitos não impõem nenhuma obrigação exceto de caráter negativo: a proibição de violarem os seus direitos. Existe basicamente um método para se violar o direito individual, que é via força física. E são dois os potenciais agentes para isso: os criminosos e o governo. A grande conquista americana foi justamente separar ambos, proibindo o segundo de se tornar uma versão legalizada do primeiro. O Bill of Rights não foi escrito para proteger os indivíduos dos demais indivíduos, mas sim do governo. Em qualquer civilização existente, os criminosos sempre foram uma minoria. É o governo que pode causar um mal incalculável, e por isso precisa ter seu poder limitado. O próprio guardião dos direitos individuais pode se transformar na maior ameaça ao indivíduo.
Mas com o tempo, até nos Estados Unidos esse conceito de direito foi sendo deturpado. Os políticos foram conquistando mais poder, e através do populismo, foram garantindo “direitos” que ferem diretamente a liberdade individual, pois demandam necessariamente a escravidão de alguma contraparte. A plataforma política do Partido Democrata em 1960, por exemplo, explicitava uma lista de “direitos” como emprego bem remunerado, salário adequado para prover comida e roupas decentes, preço justo para os produtos agrícolas, casa decente para as famílias, saúde adequada, boa educação e seguro desemprego. Enfim, uma nobre lista, mas ignorando uma simples pergunta: às custas de quem? Empregos, comida, roupas, casas, medicamentos e educação não nascem do nada na natureza, são bens e serviços produzidos por homens. Quem deve então assumir o dever de produzi-los gratuitamente para que outros tenham tal “direito”? Milton Friedman já dizia que “não existe almoço grátis”, e para o governo prometer “direitos” desse tipo, precisa arbitrariamente escravizar uma parcela da população, coisa claramente rejeitada pelos “pais fundadores” da nação americana. O “direito” de um homem que exige a violação dos direitos de outro não pode ser considerado um direito.
Outros exemplos tornam essa distinção mais clara. O direito a liberdade de expressão diz que cada homem tem o direito de expressar suas idéias sem o risco de repressão ou punição, mas não significa que outros são obrigados a oferecer uma estação de rádio, um palco ou um jornal para que o indivíduo expresse suas idéias. O direito a vida significa que cada um pode se sustentar pelo seu esforço pessoal, mas não diz que outros devem provê-lo com suas necessidades básicas. Qualquer ato que envolva mais de uma pessoa necessita de consentimento voluntário de cada participante. Cada indivíduo tem a liberdade de fazer sua própria decisão, mas nenhum tem a liberdade de forçar sua decisão aos demais. Não há algo como “direito” a emprego, mas sim à troca livre, ou seja, o direito de alguém aceitar um emprego se outro decidir lhe oferecer tal emprego. Não pode existir um “direito” a um salário ou preço justo, apenas o direito de cada cidadão escolher quanto pretende pagar pelo trabalho ou produto do outro.
As duas grandes vantagens de se viver em sociedade são o conhecimento e a troca. O homem é o único animal que transmite e expande seu estoque de conhecimento de geração para geração. Todo indivíduo desfruta de um benefício incalculável pelo conhecimento descoberto por outros. E o outro enorme ganho é a divisão de trabalho, que permite que um homem devote seu esforço a um campo particular de trabalho e troque com os demais que se especializaram em outras áreas. Essas são, basicamente, as vantagens da sociedade, e é condição necessária para o desenvolvimento delas a presença da liberdade individual. Não foi por acaso que os americanos avançaram em dois séculos o que outras nações não conseguiram em milênios.
A função precípua do governo deve ser somente a de garantir os direitos individuais. Saindo da teoria para a prática, isso significa dizer que o governo deve ter o monopólio da força para impor as leis, que serão impessoais e objetivas. Uma sociedade não pode viver direito com leis subjetivas, que dependem da arbitrariedade do burocrata, que seja aplicável ex post facto. O indivíduo pode fazer qualquer coisa que não esteja legalmente proibido, enquanto o oficial do governo não deve fazer nada que não esteja legalmente permitido. O povo deve ser governado por leis, não por homens. Fora isso, o governo será o árbitro em disputas entre indivíduos de acordo com as leis objetivas, forçando o cumprimento dos contratos. Em resumo, se o homem possui o direito moral de ser livre, deverá caber ao governo o papel de polícia, para proteger os indivíduos dos criminosos, de forças armadas, para proteger os cidadãos de invasores estrangeiros, e de juiz, para arbitrar disputas entre indivíduos baseadas nas leis objetivas. E nada mais!

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Published on June 20, 2013 11:03

O mercado é soberano

Rodrigo Constantino

"Não há como escapar das inexoráveis leis do mercado." (Mises)

A presidente Dilma tem postura arrogante, de quem sabe tudo de economia e pode impor seus desejos ao "mercado". Foi assim que ela abraçou a bandeira de combatente dos juros altos. Ela iria reduzi-los na marra, pois é "corajosa". Faltou apenas ela combinar com a lei econômica.

Assim como um louco pode desejar muito voar, mas se ele pular do alto de um prédio seu destino será a queda pela lei da gravidade, quando o governo resolve reduzir a taxa de juros ignorando os fundamentos econômicos, o resultado será juros maiores à frente. Não dá para brincar impunemente com o mercado.

A ignorância acerca desses fatos fez com que muitos celebrassem as medidas do governo lá atrás. Dilma tinha dobrado os bancos e colocado o mercado financeiro de joelhos! Alguns poucos economistas, entre eles Alexandre Schwartsman e este que vos escreve, alertaram que o tiro sairia pela culatra. Juro menor imposto pelo governo hoje, significa juro maior imposto pelo mercado amanhã.

Não deu outra. A taxa de DI dos contratos futuros sobe sem parar. A leniência do Banco Central, politizado e acovardado na hora de combater a inflação, fez com que o pânico se instalasse, agora que todos os agentes financeiros desconfiam de sua credibilidade e capacidade de reagir ao dragão inflacionário. O resultado pode ser estampado em uma imagem, como esta abaixo:


Esse é o contrato de DI para 2021. Em apenas um mês de tensão e descontrole, o "mercado" esfregou na cara da presidente que ela é impotente diante dos fatos e das leis econômicas. Podemos observar o longo esforço de marretar a taxa de juros para baixo desde o começo de sua gestão. Muitos fundos de pensão, que precisam investir em "long duration", ou seja, títulos longos, tiveram que engolir a aventura do governo e colocar em suas carteiras títulos com retornos irrealistas. Mas o império sempre contra-ataca! 

Resta saber se dessa vez a presidente e sua medíocre equipe econômica vão compreender o que se passa, ou se vão insistir nos mesmos erros, acreditando, com muita petulância, que são capazes de ditar os preços de mercado. Não são! Conseguem no máximo distorcê-los por algum tempo, mas eles retornam aos fundamentos, mais cedo ou mais tarde. É o que está  acontecendo agora.

Apertem os cintos! O governo petista plantou sementes nefastas, e a fatura está chegando. Estamos apenas começando a pagá-la. O PT vai custar muito caro ao Brasil.

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Published on June 20, 2013 06:08

June 19, 2013

O dia em que saí do armário... conservador


Rodrigo Constantino

"Sou reacionário: reajo contra tudo que não presta." (Nelson Rodrigues)

Se ser conservador é ter mantido uma postura cética de cautela ou mesmo aversão a essas badernas tomando conta das ruas com ímpeto revolucionário, como muitos me "acusaram", então a minha conversão está completa: eu posso me assumir um conservador. Acho que não é o caso, pois há muitos liberais com bom senso.

Mas uma coisa ficou mais clara para mim nesses dias: os meus amigos conservadores tiveram a postura mais madura e adequada nessa situação, enquanto os libertários - muitos deles - estavam brincando de revolucionários ao lado de socialistas, achando o máximo isso tudo, celebrando porque colocaram umas cem pessoas nas ruas (sério?).

Infelizmente, nossos colegas libertários ainda precisam amadurecer muito, deixar de ter sonhos infantis com grupos anônimos (covardes, portanto) que usam máscaras do Guy Fawkes e flertam com revoluções e radicalismo, ou que invadem a privacidade alheia em nome da liberdade e depois buscam refúgio na embaixada boliviana.

Não sabe brincar, não desce para o play! Agitar as massas é algo que a esquerda sabe fazer muito melhor, pois só faz isso, desde sempre, e porque as massas clamam por populismo, simplismo. Fazer coro a eles é ser massa de manobra de oportunistas de plantão. Quem aderiu a essa eufórica idéia de que um novo Brasil estava se formando nas ruas, deve estar pensando melhor agora (espero eu!).

Um pouco menos de Rothbard, e um pouco mais de Burke, Scruton, Sowell, Berlin, Kirk, Dalrymple, Jonah Goldberg, Ben Shapiro e, por que não?, Hayek e Mises! Fica a dica...  
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Published on June 19, 2013 17:06

June 18, 2013

A parcela de culpa do Fed

Rodrigo Constantino
Sei que uns 90% dos manifestantes brasileiros sequer devem saber o que é Federal Reserve, mas cabe perguntar: até que ponto o banco central americano liderado por Ben Bernanke tem parcela de culpa no que está acontecendo?
Alguns podem achar que eu enlouqueci, mas peço calma. Vou explicar a teoria de forma bem sucinta e leiga. Após a crise de 2008, o Fed inundou o mundo com dólares, no afã de evitar uma recessão que poderia se transformar em depressão. Mas dinheiro não tem carimbo. O governo não controla seu destino final.
Ao tentar inflar o piscinão do mercado americano, essa liquidez abundante acaba transbordando para outros mercados, para outras piscininhas mundo afora. Esses mercados são tão menores que basta um punhado desses dólares para fazer a festa. Ou seja, a ação do Fed para estimular o enorme PIB americano pode produzir bolhas na América Latina. Uma borboleta que bate as asas num continente pode produzir um furacão em outro. Imagina um elefante enorme balançando suas gigantescas orelhas!
Outra metáfora: o Fed é o dono do ponche na festa, e anunciou que iria servir rodadas de bebida grátis ilimitadas. Quando o relógio marca duas da madrugada, e os presentes estão se fartando de liquidez etílica desde às oito horas, parece natural que comecem a chamar urubu de "meu louro". As mocreias se transformam em lindas modelos. O critério de julgamento desaparece.
É por isso que o Haiti consegue emitir títulos de dívida do governo com prazo de dez anos pagando cerca de 7% ao ano em dólares (quem seria louco para comprá-los em condições normais?). É por isso também que empresários que possuem uma bonita apresentação de Powerpoint e um X no nome da empresa conseguem levantar dezenas de bilhões no mercado (com uma incrível ajuda do BNDES, é verdade). 
Com a farta liquidez induzida pelo Fed (e pelo BCE, BOJ etc), o preço das commodities tende a subir. Isso ajuda a explicar o poder todo que um lunático bufão como Hugo Chávez acumulou, com seus petrodólares jorrando pelos poços da incompetente PDVSA. A revolução bolivariana pode não saber, mas tinha em Bernanke um grande aliado!
São as tais consequências não-intencionais dos governos e bancos centrais. Vejam o gráfico abaixo. É o índice do dólar contra uma cesta de moedas do resto do mundo. Quando ele está se valorizando, é porque a liquidez está sendo enxugada ou os agentes do mercado estão receosos de que chegou a hora do ajuste, e correm para o piscinão maior. Quando isso ocorre, a farra dos que brincavam nas piscininhas fica em xeque. A água secou!

A "Primavera Árabe" começou no final de 2010. Será coincidência? Vejam o que aconteceu com o dólar índex meses antes. Ele foi para a Lua, de forma bastante rápida. E agora estamos vendo algo similar, não na mesma magnitude ou velocidade, mas na mesma direção. O dólar tem se valorizado contra as outras moedas, pois os investidores temem que as rodadas de bebida "grátis" estejam chegando ao fim, uma vez que a economia americana dá sinais de melhora. 
Isso não quer dizer, em hipótese alguma, que o nosso destino está fora de nosso controle. O impacto do "tsunami monetário" vai variar caso a caso, dependendo dos pilares da economia. O Eixo do Pacífico, com Peru, México, Colômbia e Chile, passa por um cenário bem mais favorável. O falido Mercosul, com cores avermelhadas e inspirado pelo "desenvolvimentismo" bolivariano, enfrenta condições bem mais adversas. 
Afinal, eram as mais feias da festa, verdadeiras "barangas", mas o entorpecimento estimulado pelo Fed fez com que muitos enxergassem apenas beleza. Sabe aquele poste, que jamais havia vencido uma eleição, que tinha no histórico de gestão apenas a falência de uma loja de produtos a R$ 1,99, que ostentava no currículo o passado de guerrilheira comunista com viés autoritário, e que se cercou de gente medíocre na economia? Pois é, ela virou símbolo de gestora eficiente e faxineira da ética. Pode?
Pode, quando o povo está imerso na ignorância e curtindo a festa bancada pela fartura de dólares no mundo. A festa acabou. O verão terminou. É chegado o inverno. Quem nadava nu vai expor tal nudez quando a maré baixar de vez. A maquiagem derreteu, a sobriedade vem voltando, deixando aquele gosto de ressaca nos bêbados. Não existe almoço grátis - nem ponche ou cerveja. 
Você realmente pensou que um país poderia passar imune a uma década de desgoverno petista? Doce ilusão. Só foi possível adiar o encontro com a realidade, em boa parte, graças à ajuda do Fed e do senhor Bernanke. Agora é hora de esfregar os olhos e olhar bem para o lado: você não dormiu com uma top model, mas sim com um tremendo jaburu. Acorda, Brasil.
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Published on June 18, 2013 10:36

Brincando de Revolução

Rodrigo Constantino
“A raiva e o delírio destroem em uma hora mais coisas do que a prudência, o conselho, a previsão não poderiam construir em um século.” (Edmund Burke)
Não vou sucumbir à pressão das massas. É claro que eu posso estar enganado em minha análise cética sobre as manifestações, mas se eu mudar de idéia – o que não só não ocorreu ainda, como parece mais improvável agora – será por reflexões serenas na calma de minha mente, e não pelo “linchamento” das redes sociais.
Ao contrário de muitos, eu não vejo nada de “lindo” em cem mil pessoas se aglomerando nas ruas. Tal imagem me remete aos delicados anos 60, que foram resumidos por Roberto Campos da seguinte forma: “É sumamente melancólico - porém não irrealista - admitir-se que no albor dos anos 60 este grande país não tinha senão duas miseráveis opções: ‘anos de chumbo’ ou ‘rios de sangue’...”
Eu confesso aos leitores: tenho medo da turba! Eu tenho medo de qualquer movimento de massas, pois massas perdem facilmente o controle. Em clima de revolta difusa, sem demandas específicas (ao contrário de “Fora Collor” ou “Diretas Já”), o ambiente é fértil para aventureiros de plantão. Um Mussolini – ou um juiz de toga preta salvador da Pátria – pode surgir para ser coroado imperador pelas massas.
Alguns celebram a ausência de liderança, se é mesmo esse o caso. Cuidado com aquilo que desejam: sem lideranças, há um vácuo que logo será preenchido. As massas vão como bóias à deriva. E sem rumo definido, não chegaremos a lugar algum desejado. Disse Gustave Le Bon sobre a psicologia das massas:
Uma massa é como um selvagem; não está preparada para admitir que algo possa ficar entre seu desejo e a realização deste desejo. Ela forma um único ser e fica sujeita à lei de unidade mental das massas. No caso de tudo pertencer ao campo dos sentimentos, o mais eminente dos homens dificilmente supera o padrão dos indivíduos mais ordinários. Eles não podem nunca realizar atos que demandem elevado grau de inteligência. Em massas, é a estupidez, não a inteligência, que é acumulada. O sentimento de responsabilidade que sempre controla os indivíduos desaparece completamente. Todo sentimento e ato são contagiosos. O homem desce diversos degraus na escada da civilização. Isoladamente, ele pode ser um indivíduo; na massa, ele é um bárbaro, isto é, uma criatura agindo por instinto.
Muito me comove a esperança de alguns liberais que pensam que o povo despertou e que será possível guiá-lo na direção do liberalismo. Não vejo isso nos protestos, nas declarações, nos gritos de revolta. Vejo uma gente indignada – e cheia de razão para tanto – mas sem compreender as causas disso, sem saber os remédios para nossos males. Que tipo de proposta decente e viável pode resultar disso?
Estamos lidando aqui com a especialidade número um das esquerdas radicais, que é incitar as massas. Assim como a década de 60 no Brasil, tivemos o famoso e lamentável Maio de 68 na França, quando apenas Raymond Aron e mais meia dúzia de seres pensantes temiam os efeitos daquela febre juvenil. A Revolução Francesa, a Revolução Bolchevique, é muito raro sair algo bom desse tipo de movimento de massas. Os instintos mais primitivos tomam conta da festa. Por isso acho importante resgatar alguns alertas de Edmund Burke em suas Reflexões sobre a Revolução em França, a precursora desses movimentos descontrolados.
Não ignoro nem os erros, nem os defeitos do governo que foi deposto na França e nem a minha natureza nem a política me levam a fazer um inventário daquilo que é um objeto natural e justo de censura. [...] Será verdadeiro, entretanto, que o governo da França estava em uma situação que não era possível fazer-se nenhuma reforma, a tal ponto que se tornou necessário destruir imediatamente todo o edifício e fazer tábua rasa do passado, pondo no seu lugar uma construção teórica nunca antes experimentada?
Não se curaria o mal se fosse decidido que não haveria mais nem monarcas, nem ministros de Estado, nem sacerdotes, nem intérpretes da lei, nem oficiais-generais, nem assembléias gerais. Os nomes podem ser mudados, mas a essência ficará sob uma forma ou outra. Não importa em que mãos ela esteja ou sob qual forma ela é denominada, mas haverá sempre na sociedade uma certa proporção de autoridade. Os homens sábios aplicarão seus remédios aos vícios e não aos nomes, às causas permanentes do mal e não aos organismos efêmeros por meios dos quais elas agem ou às formas passageiras que adotam.
Se chegam à conclusão de que os velhos governos estão falidos, usados e sem recursos e que não têm mais vigor para desempenhar seus desígnios, eles procuram aqueles que têm mais energia, e essa energia não virá de recursos novos, mas do desprezo pela justiça. As revoluções são favoráveis aos confiscos, e é impossível saber sob que nomes odiosos os próximos confiscos serão autorizados.
A sabedoria não é o censor mais severo da loucura. São as loucuras rivais que fazem as mais terríveis guerras e retiram das suas vantagens as conseqüências mais cruéis todas as vezes que elas conseguem levar o vulgar sem moderação a tomar partido nas suas brigas.
São importantes alertas feitos pelo “pai” do conservadorismo. Ele estava certo quanto aos rumos daquela revolução, que foi alimentada pela revolta difusa, pela inveja, pelo ódio. Oportunistas ou fanáticos messiânicos se apropriaram do movimento e começaram a degolar todo mundo em volta. Se a revolução é contra “tudo que está aí”, então quem é contra ela é a favor de “tudo que está aí”. Cria-se um clima de vingança, revanchismo, que é sempre muito perigoso. As partes íntimas da rainha morta foram espalhadas pelos locais públicos, eis a imagem que fica de uma turba ensandecida.
O PT tem alimentado há décadas um racha na sociedade brasileira. Desde os tempos de oposição, e depois enquanto governo (mas sempre no palanque dos demagogos e agitadores das massas), a esquerda soube apenas espalhar ódio entre diferentes grupos, segregar indivíduos com base em abstrações coletivistas, jogar uns contra os outros. Temos agora uma sociedade indignada, mas sem saber direito para onde apontar suas armas. Cansada da política, dos partidos, do Congresso, dos abusos do poder, as pessoas saem às ruas com a sensação de que é preciso “fazer algo”, mas não sabe ao certo o que ou como fazer.
E isso porque o cenário econômico começou a piorar. Imagina quando a bolha de crédito fomentada pelo governo estourar, ou se a China embicar de vez. Imagina se nossa taxa de desemprego começar a subir aceleradamente. É um cenário assustador. Alguns pensam que nada pode ser pior do que o PT, e eu quase concordo. Mas pode sim! Pode ter um PSOL messiânico, um personalismo de algum salvador da Pátria, uma junta militar tendo que reagir e assumir o poder para controlar a situação. Não desejamos nada disso! Temos que retirar o PT do poder pelas vias legais, pelas urnas, respeitando-se a ordem social e o estado de direito.
O desafio homérico de todos que não deixaram as emoções tomarem conta da razão é justamente canalizar essa revolta para algo construtivo. Mas como? Como dialogar com argumentos quando cem mil tomam as ruas e sofrem o contágio da psicologia das massas? Alguém já tentou conversar com uma torcida revoltada em um estádio de futebol? Boa sorte!
Por ser cético quanto a essa possibilidade, eu tenho mantido minha cautela e afastamento dessas manifestações. Muita gente acha que o Brasil, terra do pacato cidadão que só quer saber de carnaval, novela e futebol, precisa até mesmo de uma guerra civil para acordar. Temo que não gostem nada do gigante que vai despertar. Ele pode fazer com que essa gente morra de saudades do "homem cordial". Não se brinca impunemente de revolução. Pensem nisso, enquanto há tempo.
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Published on June 18, 2013 06:33

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