Rodrigo Constantino's Blog, page 319

July 5, 2013

Cheiro de fraude na OGX

Rodrigo Constantino

A tese predominante, até aqui, é a de que Eike Batista acreditou em seus próprios discursos, seus sonhos ousados, arrogantes, fantasiosos. Eu mesmo sou dessa opinião, pois parece que ele se comprometeu até na pessoa física com algumas garantias aos empréstimos. Mas essa notícia na Folha é da maior gravidade! Acende uma luz amarela, solta no ar um forte cheiro de fraude, ao menos depois que "a vaca foi pro brejo". Ela diz:

Executivos da petroleira OGX, de Eike Batista, tinham fortes indícios havia ao menos seis meses de que teriam que desistir da exploração de quatro campos de petróleo da empresa, apurou a Folha no alto escalão do grupo X.A decisão foi anunciada na última segunda-feira e fez as ações da empresa desabarem.
Dados apurados pelo corpo técnico da petroleira indicavam à diretoria já no início do ano que o custo de extração de petróleo nos campos Tubarão Tigre, Tubarão Gato, Tubarão Areia e Tubarão Azul, na bacia de Campos (RJ), seriam maiores do que o esperado, tornando assim desvantajoso desenvolvê-los.
O comunicado oficial ao mercado, no entanto, foi sucessivamente adiado enquanto os executivos tentavam outras soluções para engordar o portfólio da companhia e dirimir os prejuízos do anúncio aos investidores.
O livre mercado depende de boas instituições para funcionar bem. Entre elas, instrumentos de proteção aos acionistas minoritários contra fraudes. Onde estavam a CVM, a ANP e demais órgãos fiscalizadores do governo? Qual será a reação a esta notícia, caso comprovada? Esse tipo de comportamento mancha nossas instituições, prejudica a imagem do próprio mercado.
Eike Batista, em linhas gerais, representa o anti-mercado. Desde o começo tenho apontado sua simbiose nefasta com o governo. Um empresário que vem publicamente tecer elogios patéticos ao BNDES, pois recebeu bilhões subsidiados do banco, ou que enaltece a importância de um modelo misto, com forte presença estatal na economia, pois dela se aproveita, não pode ser visto como um ícone do capitalismo de livre mercado. 
E agora mais essa. O mercado de capitais americano funciona bem, conta com mais de 14 mil empresas com capital aberto, milhões de acionistas do mundo todo, justamente porque há  credibilidade, confiança, ainda que casos de fraude ocorram, como no episódio Madoff (duramente punido, porém, e atrás das grades até hoje). 
O Brasil precisa aprender a respeitar mais as instituições que preservam o funcionamento do mercado. Queremos mais investigações! E queremos punições severas caso fiquem comprovadas eventuais fraudes, ou abuso de poder sobre os acionistas minoritários. O país precisa deixar no passado a mentalidade que justifica o apelido de "menorotário" para os acionistas minoritários das companhias com ações na Bolsa. 
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Published on July 05, 2013 09:46

Cotas raciais no Maracanã?

Fonte: FolhaRodrigo Constantino

Deu na Folha: Em uma entrevista coletiva que tinha como objetivo divulgar o lançamento de sua biografia, "Gilberto Bem Perto", mas que acabou enveredando para assuntos variados, o cantor Gilberto Gil criticou, na tarde desta quinta-feira, em Paraty (RJ), a falta de acesso da população negra e pobre às partidas da Copa das Confederações e da Copa-2014, no Brasil, por conta do alto preço dos ingressos.
"Tem de haver uma mobilização autopromovida pelas favelas, pelas periferias, para suprir a carência que esses grandes eventos globais acabam impondo ao Brasil, que é a filtragem pelo preço dos ingressos", disse o ex-ministro da Cultura, que afirmou ter ido ao Maracanã no último domingo, para a final entre Brasil e Espanha."Fiquei na tribuna de honra, ao lado do [Joseph] Blatter [presidente da Fifa], do Zagallo, Ivete Sangalo, Jorge Ben Jor. Quando cheguei em casa, vi pela TV que o lugar onde os jogadores correram para abraçar a torcida não tinha o matiz racial brasileiro, era esbranquiçado. Isso no Maracanã, onde as pessoas da Mangueira costumavam descer para ver os jogos."
Comento: Era só o que faltava! Cotas raciais para jogos! Gilberto Gil está fazendo coro a Frei David Santos, da Educafro, que, segundo Ancelmo Gois, tem demandado a mesma coisa da Fifa. Essa gente não vai descansar enquanto não criar um Brasil totalmente segregado, com "negros" (lembrem-se sempre de que 40% da população é parda, mestiça, recusa o rótulo purista de "raça") de um lado, e brancos do outro. 
O que o país precisa é oferecer melhores condições para todos, independente da cor da pele. E isso não será por meio de mais intervenção estatal, com criação de privilégios na canetada, e sim por reformas liberais que permitam mais prosperidade econômica. 
Por fim, Gilberto Gil deveria convencer seu camarada Chico Buarque a reduzir os preços dos ingressos para seus shows, pois nesse momento, os artistas de esquerda parecem esquecer o discurso bonitinho para a platéia, e mergulhar nessa coisa "terrível" chamada lucro. Será que Gil vai reclamar do show do colega ter muito "branco de elite", e ninguém das favelas e periferias?
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Published on July 05, 2013 07:53

Cancele o trem-bala, Dilma!

[image error] Rodrigo Constantino

A presidente Dilma tem repetido incansavelmente que tem escutado a "voz rouca das ruas". Alguns mais otimistas têm acreditado. Tudo mentira, claro. Se ela realmente tivesse escutando as vozes dos protestos, uma das primeiras coisas que seu governo teria feito, que não precisa de Constituinte, plebiscito ou referendo, bastando tomar a decisão unilateralmente e comunicá-la, seria desistir do absurdo projeto do trem-bala.

Aqui eu tentei apresentar alguns pontos contra essa loucura, esse descaso com o nosso dinheiro. Hoje, em artigo no GLOBO, Antonio Dias Leite traz dados que provam essa prioridade altamente estranha do governo:

Causa espécie que nesse quadro tumultuado ainda esteja de pé o projeto iniciado em 2007, a ser brevemente licitado, do trem-bala, de 511 quilômetros entre Campinas e Rio de Janeiro, que atravessaria 32 municípios densamente povoados, cujo prazo de construção é imprevisível. O seu orçamento, três vezes revisto, está no nível de dezenas de bilhões de reais, a ser coberto, na sua maior parte, com recursos públicos, da mesma ordem de grandeza dos que poderiam propiciar duplicação da rede de metrô ou outros sistemas de atendimento à mobilidade urbana, como o BRT.

Para caracterizar com alguma aritmética a insensatez da ideia do trem-bala, basta indicar que, se viesse a ser concluído, atenderia a uma demanda de 20 mil usuários por dia, enquanto a população que se beneficia dos 269 quilômetros dos metrôs de oito cidades é de 4,5 milhões por dia, em parte mal servida, e com outros milhões excluídos.

Como um sinal para a sociedade de nova atitude efetiva do governo, seriam de grande impacto o cancelamento desse fantasioso projeto de trem-bala e o fechamento da empresa que para esse fim foi constituída.


Como não dá para lutar contra os fatos, a insistência do governo Dilma nesse projeto só levanta suspeitas. Qual o real interesse nisso? Será que teria alguma ligação com essa montanha de gastos públicos que só cresce a cada nova revisão, e que poderia ser mais facilmente desviada para bolsos particulares? Fica difícil acreditar que tanta paixão pelo projeto tenha causas nobres e justificativas racionais...
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Published on July 05, 2013 06:50

Administrando a desgraça econômica

Rodrigo Constantino

A análise feita por Rogério Werneck no GLOBO hoje está perfeita, em minha opinião. Meu ex-professor da PUC argumenta que, mesmo com muitos no governo já tendo se dado conta de que o modelo macroeconômico adotado pela equipe econômica de Dilma seja uma desgraça (conforme muitos alertavam faz tempo, inclusive este que escreve), não é interessante para o PT revertê-la. Eis os motivos:

Tudo indica que os segmentos mais lúcidos do governo já notaram que o que foi pretensiosamente rotulado de “nova matriz macroeconômica” redundou em retumbante fracasso. Mas a avaliação da cúpula do governo é que já não há mais tempo para uma “guinada” na política econômica. De um lado, porque, a esta altura, a admissão do fracasso seria muito custosa. De outro, porque os benefícios da “guinada” custariam muito tempo para se fazer sentir.

O governo estaria, portanto, refém de seu próprio discurso ao longo de todo esse tempo no poder. Note-se que nem mesmo a cabeça de Guido Mantega rolou ainda! Ou seja, não há, por parte da presidente Dilma, sequer a preocupação em sinalizar ao mercado que compreende os erros de trajetória. Mantega ainda finge que está tudo bem, que não há crise, o que espanta até gente do próprio governo. 
O caminho escolhido, portanto, será o de insistir nos erros, torcendo para que dê tempo de atravessar as eleições e permanecer no poder. Se a crise não se agravar muito, impactando negativamente o emprego, a noção do governo é de que será viável superar o problema econômico e atingir seu único objetivo: continuar no poder. Para tanto, o governo já deixou claro que fará de tudo, o "diabo", como disse a própria presidente. Isso inclui mais malandragem, conforme explica Werneck:
Nesta semana, o Planalto deixou mais do que claro o quão longe está disposto a ir para “administrar no braço” a situação. Já sem qualquer preocupação com dissimulação, publicou decreto que amplia, de forma escancarada, as possibilidades de manipulação das contas fiscais, para geração de superávit primário fictício por meio da simples movimentação circular de recursos entre o Tesouro e o BNDES.

Claro que isso não vai acabar bem. A crise econômica tende a se agravar. Alguns petistas, chocados com a queda de aprovação da presidente Dilma, repetem que Lula passou pelo mesmo problema após o mensalão, mas conseguiu se recuperar e se reeleger. Como lembra Werneck, eles ignoram que foi justamente a forte economia que ajudou Lula na época. Dilma terá um quadro muito pior. Resta saber se isso vai resultar na retirada do PT do poder, e se o preço a ser pago pela população será alto demais até lá. Conclui com um alerta o professor:
É bom não ter ilusões. O que vem aí são 15 meses de mais do mesmo. Ou pior, de muito mais do mesmo. Apertem os cintos.
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Published on July 05, 2013 06:33

Inverno árabe

Rodrigo Constantino

A ficha caiu para muitos agora: a comemoração com a "Primavera Árabe" foi muito precipitada. Esqueceram que a democracia não é criada em um passe de mágica, e que sem os devidos pilares institucionais, ela pode desandar facilmente. O editorial do GLOBO constata: 

Pode-se dizer que a experiência, no Egito, não foi bem-sucedida. A Irmandade Muçulmana, organização islamista, preencheu espaços quando o Exército foi forçado a sair de cena. Um representante dela, Mohamed Mursi, elegeu-se presidente. A democratização é uma das grandes aspirações de boa parte do povo egípcio, mas Mursi não esteve à altura. Mostrou-se mais preocupado em seguir a cartilha da Irmandade rumo à islamização do que em buscar apoio político para governar e lidar com a crise econômica. Quando as multidões voltaram à Praça Tahrir, agora para pedir a saída de Mursi, o Exército se inquietou.

O que muitos "especialistas" ignoravam durante aqueles dias de fúria nas ruas árabes, é que a maioria islâmica pode desejar impor, via voto que seja, a sharia, uma "ditadura da maioria" calcada em sua religião. O mesmo risco e a mesma tendência ocorreu na Tunísia, como mostra o editorial:
Na Tunísia, onde se iniciou a Primavera Árabe, o partido islâmico local, Ennahda, ganhou as eleições após a derrubada do ditador Ben Ali. E, como no Egito, começou a desagradar a população quando começou a impor a agenda islamizante: foi acusado de tentar dominar o Estado e limitar liberdades já conquistadas pela sociedade. Sob pressão da oposição e protestos nas ruas, ele concordou em dividir o governo com dois partidos seculares. Bom começo.

A pergunta que pouca gente se fez à época da euforia das manifestações populares: quem armou com fuzis aqueles rebeldes? Fuzis não brotam pelo Facebook. Foi essa a mensagem mais cética que tentei levar para reflexão naquele momento, como nessa palestra no Fórum da Liberdade em Porto Alegre, quando tive que substituir Reinaldo Azevedo de última hora:

Acho que são reflexões válidas para os dias de hoje em nosso país também...
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Published on July 05, 2013 06:07

Transporte: problema de gestão

Fonte: O GLOBORodrigo Constantino

O editorial do GLOBO hoje argumenta que o problema no transporte público é de má gestão dos municípios. Para sustentar a tese, são apresentados dados que impressionam, como estes:

Um dado é suficiente para dar a medida do descaso do administrador público com o setor: apenas 44,7% das 38 maiores cidades do país têm um plano de transporte, com diretrizes, ações a serem executadas etc. É muito pouco, se considerarmos que quase de 85% dos 190 milhões de brasileiros vivem em cidades. Há, portanto, enormes demandas não atendidas. Se forem considerados todos os mais de 5.500 municípios, não há planejamento na atividade em 98% deles. Mesmo no Rio de Janeiro, estado relativamente rico, em apenas nove das 92 cidades há plano de transporte.
Entre os motivadores desse desleixo, estaria o desejo do político de optar por obras aparentes:
Especialista no ramo, o professor Joaquim Aragão, da Universidade de Brasília, explica o descaso municipal: “Governante quer obra. O plano é um investimento, tem que contratar gente para desenvolvê-lo. Demora até que ele esteja pronto. Planejamento também limita arbitrariedades do governo”. A interpretação equivale a uma outra, mais folclórica, de que político gosta de obra à flor da terra, e não subterrânea, longe dos olhos do eleitor. Daí, conclui-se com alguma maldade, haver sérios problemas no saneamento básico.
Em vez de priorizar essa gestão e os investimentos subterrâneos, os governantes preferem também contratar gente, por motivos óbvios:
O contingente de funcionários públicos passou de 3,3 milhões, em 99, para 6 milhões no ano passado. Um salto desastroso do ponto de vista das carências de investimento no transporte de massa. Representantes dos prefeitos alegam que o empreguismo se deve às atribuições assumidas pelos municípios na Educação e Saúde. Infelizmente, a qualidade dos serviços prestados nas duas atividades não condiz com o inchaço das folhas de pagamento.Também chama a atenção que haja meio milhão de servidores contratados sem concurso, em cargos comissionados, de confiança, geralmente preenchidos por meio de apadrinhamento pessoal e/ou político-ideológico.
O problema do transporte é complexo. Várias capitais em países desenvolvidos também vivem certo caos, mas nada comparado ao nosso. Em parte, a explicação para a diferença está, sim, na melhor gestão. Redes de metrô costumam se espalhar pelo subsolo dessas capitais com grande capilaridade, ao contrário do que ocorre por aqui. Há excessivo controle estatal também em nosso país, o que engessa o setor e ajuda na formação de cartéis poderosos. 
Não há soluções fáceis. É preciso mudar muita coisa. Mas não resta dúvida de que uma gestão mais eficiente poderia contribuir muito para o avanço. Essa é, inclusive, uma das bandeiras que o Partido NOVO tem levantado: buscar uma gestão mais profissional e eficiente em prefeituras, deixando o populismo de lado e focando na solução de problemas práticos. Que isso se torne realidade logo. 
Porque se depender desses políticos e desses partidos atuais, fica complicado ter a mesma esperança que o próprio jornal demonstra ao concluir o editorial: "Que o barulho das ruas possa despertar prefeitos para esta realidade". Pouco provável...
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Published on July 05, 2013 05:41

Monstro adolescente

Fonte: O GLOBORodrigo Constantino

Prepare o Engov. Deu no GLOBO:

Um adolescente de 14 anos apreendido nesta quinta-feira por policiais da 119ª DP (Rio Bonito) confessou ter torturado, estrangulado e matado com golpes de uma pedra um garoto de apenas 9 anos no bairro Rato Molhado, em Rio Bonito, Região Metropolitana do Rio. Depois de matá-lo, o menor ainda estuprou o menino. Após o crime, o corpo de Pedro Lucas Barreto da Conceição foi jogado de um barranco de cerca de 15 metros de altura. Ele foi encontrado por colegas do menino, que, horas antes do crime, soltavam pipa com ele.

O crime aconteceu na noite de quarta-feira e chocou a cidade. O delegado titular da 119ª DP, Paulo Henrique da Silva Pinto, disse que o adolescente será encaminhado para uma instituição para menores infratores na cidade. O Ministério Público decidirá para qual delas ele irá.

— Foi um crime bárbaro, com requintes de crueldade. Em nenhum momento o adolescente aparentou arrependimento. Apesar de ele ser menor de idade, terá que responder pelo que fez — disse o delegado, que não quis entrar em detalhes sobre a motivação do crime.
[...]
Comento: O que fazer com um monstro desses? Digo mais: o que fazer com monstros que pedem "medidas socioeducativas" no afã de recuperar monstros como esse? Como lidar com gente que culpa a "sociedade" por atos bárbaros como este? Como aturar pessoas que aplaudem o Estatuto da Criança e do Adolescente, que protege psicopatas assim, só porque é jovem? Até quando a sociedade vai suportar viver em um ambiente onde os crimes mais bárbaros acabam impunes?
O ocorrido choca qualquer pessoa com um mínimo de sensibilidade. As pessoas de bem clamam por severas punições aos delinqüentes que praticam atos abjetos como este! A maioridade penal precisa ser drasticamente reduzida, a mentalidade vigente precisa parar de tirar a responsabilidade dos indivíduos e jogá-la para a difusa e abstrata "sociedade", ou o vago e amorfo "sistema". 
O fato é que indivíduos se mostram capazes de atos extremamente bárbaros, e algumas vezes em idades bastante precoces. Eles devem encontrar o rigor da punição, pois a prioridade de qualquer sociedade que se preza deve ser com os inocentes, as vítimas! 
Infelizmente, há uma turma dos "direitos humanos" que sempre coloca sua prioridade nos algozes, nos bandidos, nos criminosos, e nunca pensa nas vítimas inocentes e em seus familiares. Essa gente, verdade seja dita, é tão monstruosa quanto este frio assassino jovem, pois lhe falta justamente a empatia necessária para defender a justiça. 
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Published on July 05, 2013 04:30

July 4, 2013

Aprendiz de feiticeira

Rodrigo Constantino

O editorial do Estadão vai no ponto hoje, quando diz que a presidente Dilma, como aprendiz de feiticeira, não antecipou que a feitiçaria poderia desandar. O jornal diz:

Tendo embarcado na aventura da convocação, também por plebiscito, de uma ilegal Constituinte exclusiva para fazer a reforma, a presidente entendeu de adotar um plano B, soberbamente alheia aos seus perigos. O que ela queria, a todo custo, era desviar as atenções das queixas predominantes na escalada de protestos no País. As multidões foram às ruas contra o aumento das passagens de ônibus, a má qualidade dos serviços públicos essenciais, a começar do transporte coletivo, os gastos com a Copa e a corrupção. Apenas uma minúscula parcela dos manifestantes incluía a reforma política entre as suas prioridades. Ciente disso, Dilma agiu de má-fé.

E acaba de repetir a dose com a jogada do plebiscito (e seus efeitos) para já. A menos que, à maneira do pai de família do conto O plebiscito, de Machado de Assis, ela ignorasse não o termo, como o personagem, mas os desdobramentos políticos da consulta a toque de caixa. O fato é que ela jogou a bomba do plebiscito no colo do Congresso para poder dizer, caso estoure, que fez a sua parte para mudar os costumes políticos brasileiros. É um equívoco comum. A corrupção não resulta dessas ou daquelas normas eleitorais e partidárias, mas da falta de escrúpulos dos beneficiários dos malfeitos. Afinal, são as pessoas que fazem as funções que exercem e não o contrário.


O plebiscito é um antigo sonho petista, assim como a reforma política proposta nele, para concentrar ainda mais poder no PT e seus caciques. Dilma tentou unir o útil ao agradável: ao propor o plebiscito, depois da fracassada tentativa de uma nova Constituinte, ela realizaria os planos antigos do PT, caso a idéia pegasse, ou então teria desviado o foco das críticas para o Congresso, lavado as mãos e se escondido atrás da cortina de fumaça criada. Mas não se brinca com o PMDB impunemente...
O editorial finaliza:
Já não bastassem, pois, os prazos irrealistas para a aprovação, pelo Legislativo, dos temas e alternativas do plebiscito, e para o "suficiente esclarecimento" do eleitorado, como exige o TSE, só se pode ser pessimista acerca do seu desfecho. Isso, se sair o plebiscito à Dilma - ou qualquer outro. O clima é de revolta generalizada entre os aliados do governo. Com razão, denunciam que o modelo oferecido privilegia os interesses da presidente e, por extensão, do PT, ignorando o Congresso em geral e a base em particular. O PMDB já arrola as modalidades de retaliação a seu alcance - desde comandar a derrubada de vetos presidenciais até reavaliar o apoio à reeleição de Dilma.
Aprendiz de feiticeira, ela não previu que a feitiçaria poderia desandar.


A presidente Dilma tentou jogar a batata quente para o colo do Congresso e se livrar do problema. Agora, a batata quente acabou em seu próprio colo. Não sabe brincar, não desce para o play...
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Published on July 04, 2013 14:47

Manifestações na era digital


Rodrigo Constantino
As manifestações que tomaram as ruas do Brasil representam um fenômeno complexo, que pegou quase todos de surpresa, e que demanda explicações variadas. Um dos nomes muito citados, como especialista no assunto, foi o de Manuel Castells, sociólogo catalão. Gosto de ir na fonte, e li Networks of Outrage and Hope: Social Movements in the Internet Age , a fim de conhecer melhor seus pontos. Confesso que fiquei decepcionado.
Há pontos importantes levantados pelo autor, sem dúvida. Mas, em linhas gerais, fiquei com a impressão de estar diante de um Sartre em Maio de 68. Castells não esconde seu profundo entusiasmo com essa “nova” forma de se fazer política, de substituir uma democracia representativa repleta de falhas por uma democracia mais “direta”. A inclinação do autor à esquerda é evidente o tempo todo.
O diagnóstico dos movimentos, que eclodiram em diferentes países sob diferentes contextos, parece-me correto. Um senso de humilhação provocado pelo cinismo e arrogância dos governantes, somados a problemas econômicos, políticos ou culturais, tudo isso em uma era de hiperconectividade pelas redes sociais, criou um mecanismo que transforma medo e revolta em esperança. O indivíduo não está mais sozinho; ele participa de uma rede gigantesca que lhe dá força para lutar por um “mundo melhor”.
Apesar das diferenças entre todos os movimentos espalhados pelo mundo, há denominadores comuns, tais como: descrédito de todos os partidos políticos; descrença na grande imprensa; ausência de uma liderança reconhecida; e rejeição a um modelo formal de organização. Eles são filhos da era digital, e o clima mais anárquico e caótico das redes sociais acaba transportado para as ruas.
Em nível individual, os movimentos sociais são emocionais. O indivíduo se insurge não por uma estratégia política ou partidária, segundo Castells, mas por seus sentimentos de revolta generalizada. Por isso esses movimentos acabam com uma cacofonia de demandas e reclamações, com um clima de revolta difusa, “contra tudo isso que está aí”. Depois pode vir a organização política, a liderança partidária ou pessoal, para tentar canalizar as reclamações e dar mais foco ao movimento.
Em linhas gerais, os movimentos modernos necessitam de elevada conexão via redes sociais, são predominantemente compostos pelos mais jovens e de classe média, que alimentam sua indignação diante dos problemas políticos, econômicos e culturais de seus países, e encontram na coletividade uma sensação de poder que justifica sua esperança para mudar “isso tudo” e construir um “mundo novo”. Normalmente algum pretexto qualquer representa a gota fora d’água, a fagulha que lança as chamas espontâneas nas ruas. Os movimentos ficam “virais”, tais como os “memes” das redes sociais.
Castells, que não trata muito bem das origens dos problemas econômicos desses países, ou quando o faz aponta para os culpados errados (modelo capitalista financeiro em vez de estado de bem-estar social), não consegue esconder sua empolgação com tudo isso. Ele inclusive coloca sob um olhar positivo os slogans românticos desses movimentos. São mensagens como: “Uma nova política é possível”; “Pessoas unem funções sem partidos”; “A revolução que estava em nossos corações agora invadiu as ruas”; “Nós carregamos um novo mundo em nossos corações”; “As barricadas fecham as estradas mas abrem o caminho”; “Desculpe o transtorno, mas estamos construindo um mundo melhor”; e “Somos os 99%”.
Mas será que isso difere tanto assim das décadas de 1960 e 70? “Paz e amor”, “Faça amor, não guerra”, ou coisas do tipo? Uma das características das redes sociais é encurtar as mensagens. O Twitter só aceita 140 caracteres. A Geração Y pode estar aprendendo a “pensar” com slogans bonitos, em vez de mergulhar em reflexões mais profundas. Além disso, essa hiperconectividade cria um ambiente de demandas instantâneas: repostas imediatas o tempo todo, a fim de saciar nossos apetites. Mas pode a política funcionar assim?
Na prática, vários problemas começaram a surgir. Como manter as ocupações? Como organizar as demandas, rejeitando as formas tradicionais das instituições “arcaicas” que eles condenam? Como decidir sem lideranças? Com o tempo, muitos movimentos foram se esvaziando, e apenas ativistas radicais permaneceram, retirando a credibilidade de porta-voz da população. Foi o caso do Occupy Wall Street e dos Indignadosna Espanha. Os resultados concretos foram animadores como sugeria o clima de esperança e fervor utópico das ruas?
O que dizer da “Primavera Árabe” então? Castells foi um entusiasta, como tantos outros. A democracia finalmente estava chegando na região. Não seria um movimento islâmico, mas sim secular, como nos moldes ocidentais. Como está o Egito hoje? Acaba de sofrer um golpe militar sob enorme apoio popular para retirar do poder justamente um governante islâmico eleito um ano antes. Como está a Síria? A Líbia? Há motivos reais para muita comemoração?
Castells pensa que a principal função desses movimentos será o despertar das consciências, a noção de que os indivíduos agora desfrutam de um mecanismo poderoso de influência política. Ele conclui com uma mensagem extremamente otimista: “O legado dos movimentos sociais em rede terá sido levantar a possibilidade de reaprendermos a viver juntos. Na democracia real”. Será?
Não vou negar que é importante sacudir o status quo, ainda mais quando nem democracia representativa há de fato. Mas eu teria mais cautela no prognóstico. As redes sociais são um instrumento; a matéria-prima ainda é a mesma: o ser humano. E nisso eu tendo a concordar com muitos filósofos conservadores, ou com a metáfora do “pecado original” do Cristianismo: a natureza humana é complicada.
Pensar que um meio – a rede social – será capaz de transformações tão incríveis assim, soa mais como sonho utópico. Penso logo em Sartre, babando de euforia com a revolução que iria mudar o mundo para sempre. O que mudou ali foi para pior. Para evitarmos o mesmo destino dessa vez, considero fundamental uma abordagem mais cética diante do fenômeno “novo”. Boas mudanças podem nascer disso tudo sim; mas nunca é demais lembrar que mudanças negativas também podem. Bem negativas.
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Published on July 04, 2013 12:19

Vale-educação: uma saída liberal

Rodrigo Constantino

Uma grande reportagem especial no Valor de hoje mostra em números aquilo que muitos já sabem: nosso governo gasta no setor montantes relativos ao PIB similares aos da média da OCDE. Nosso governo desembolsa quase 6% do PIB para o programa de educação pública, exatamente em linha com os países da OCDE.

O problema é que gastamos mal. Em primeiro lugar, há enorme desproporção em relação ao ensino superior. O ensino básico recebe muito menos do que deveria. Isso é muito grave, pois preparamos mal os alunos no ciclo básico, que depois chegam nas universidades com enormes deficiências. Em vez de sanar o problema na raiz, o governo cria cotas, arrombando as portas das faculdades para abrigar aqueles alunos menos preparados.

Mansueto Almeida, do Ipea, argumenta: "A melhoria do serviço não é uma questão de curto prazo e depende de reformas institucionais, com investimento em treinamento e qualidade dos professores, políticas de bônus para os funcionários e escolas com melhor desempenho". Em outras palavras: precisamos de meritocracia entre os profissionais, que deveriam ser mais preparados. O corporativismo do setor, tomado pelas máfias sindicais, representa enorme obstáculo nesse sentido.

Naércio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, aponta para a má distribuição de recursos. "Hoje, um aluno do ensino superior recebe seis vezes mais recursos do Estado do que um aluno da educação infantil." A necessidade de priorizar o ciclo básico de educação, em detrimento do superior, é um dos pontos consensuais entre os especialistas ouvidos pelo Valor.

O Brasil definitivamente não vai resolver o fundamental problema da educação simplesmente jogando mais recursos públicos no setor, com este modelo atual, repleto de falhas. Celebrar o destino de 75% dos royalties do pré-sal para a educação é se precipitar muito e ignorar a verdadeira profundeza do desafio. Temos péssimos professores, protegidos por sindicatos poderosos, um peso excessivo para a influência das áreas de humanas das faculdades, e alunos do ensino básico que mal sabem ler, muito menos fazer contas. Pode dar certo?

Claro que não! E qual a solução liberal? Aquela defendida por Milton Friedman e resumida em meu livro Privatize Já: vouchers! O vale-educação delega diretamente aos pais humildes o poder de decisão de qual escola privada colocar seu filho. Isso gera concorrência do lado da oferta, com empresas privadas tentando mostrar melhor serviço para atrair os alunos; e deixa com o maior interessado na boa educação das crianças o poder de escolha, que são seus pais.

Como um pobre pode ser contra isso? Será que ele prefere o modelo atual, com escolas públicas de péssima qualidade administradas pelo governo? Em educação, como em tudo, não há panaceia. Mas os vouchers seriam um grande passo na direção correta. Um passo que os liberais endossam, em favor dos mais pobres.
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Published on July 04, 2013 10:47

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Rodrigo Constantino
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