Marcelo Rubens Paiva's Blog, page 38
April 24, 2017
Oswald e Mário de Andrade juntos no CCSP
A síntese da dupla Oswald e Mário de Andrade será dissecada na alma cultural de São Paulo, o Centro Cultural na Rua Vergueiro.
A amizade dos Andrades (que começou há cem anos) volta na exposição MARIOSWALD que pretende se se debruçar sobre uma das mais célebres e produtivas histórias de amizade da literatura brasileira.
Com palestras, filmes, teatro, dança e música.
Terá de Ronaldo Fraga, Tom Zé a José Wisnik.
Amizade que propôs a antropofagia da cultura europeia.
Propôs um novo Brasil, relido por Darcy Ribeiro.
A história dos dois, que não eram parentes e foram o combustível da Semana de Arte Moderna de 1922, numa São Paulo provinciana, rica, que se industrializava, mudou a cultura brasileira para sempre e influenciou o cinema novo, Teatro Oficina, tropicalistas e concretistas, enfim, o biscoito-fina da nossa cultura.
Eram Apolo e Dionísio reinventando o Brasil.
Eram Danton e Robespierre revolucionando a cultura brasileira.
Eram os opostos e se completavam.
Quando o escritor-jornalista-roqueiro-bossa-nova Cadão Volpato assumiu o comando do centro há meses, viu um espaço democrático, vibrante, músico-teatral.
Mas viu uma biblioteca deslumbrante subvalorizada.
Escreveu sobre o evento:
“De um lado, um Mário quase institucional, musicista de formação, uma promessa do piano que perdera a confiança nas próprias habilidades depois da morte de um irmão, em consequência dos ferimentos sofridos numa provavelmente selvagem partida de futebol. Um homem de enormes conhecimentos, poeta relutante no começo, romancista de talento e modernista de primeira hora, ainda que tivesse um caráter mais reservado. Do outro, um Oswald mais afeito às vanguardas internacionais, com um senso de humor próximo dos dadaístas, um espírito viajante e uma curiosidade sem fim”.
E fez as comparações:
Mário, alto e calvo, óculos redondos, nascido na classe média.
Oswald, mais atarracado e gorducho, olhos azuis com grande poder de fogo, família de posses, dona de quase todo o bairro Cerqueira César, em São Paulo.
A dupla brigou por volta de 1929.
Na verdade, briga não apenas pessoal, mas foi um racha do movimento.
Nunca mais fizeram as pazes.
Segundo o crítico Antonio CANDIDO, no artigo Digressão Sentimental sobre Oswald de Andrade, de 2011:
“Por que motivo brigaram, nunca perguntei nem eles me disseram. Sei que houve uma ruptura maior, ficando de um lado Mário, Paulo Prado, Antônio de Alcântara Machado; de outro, Oswald, Raul Bopp. Sendo desprovido de rancor e esquecendo facilmente as birras, é natural que Oswald tivesse vontade de se reconciliar com o antigo amigo, o que esboçou mais de uma vez por intermédio de terceiros.”
CANDIDO de lembra que os encontrou em 1943, quando escritores se organizavam na luta contra Vargas, para a Associação Brasileira de Escritores.
Uma reunião ocorreu no escritório do Plínio Mello. Presentes Mário de Andrade, Sérgio Milliet, Mário Neme, Abguar Bastos. Entrou Oswald, todo de branco, e, ao ver quem estava ali, deu um vago bom-dia geral, enquanto Mário ficava impassível.
“A certa altura Oswald soltou uma daquelas suas extraordinárias piadas e nós nos pusemos a rir. Mário tentou manter seriedade e ficar de fora; retesou o corpo, tremeu a boca, não aguentou e desandou também num riso amarrado, mas sacudido e intenso. Oswald, que ao fazer a piada olhara para ele como quem observa o efeito de um golpe calculado, manifestou o maior prazer, rindo com extraordinária jovialidade.”
A convivência dos dois foi íntima no decênio de 1920.
Tinham ideias comuns, pensavam as mesmas coisas ao mesmo tempo, como se pode ler nas cartas de Mário a Manuel Bandeira.
Oswald teria dito, numa roda, que Villa-Lobos, segundo Mário, era um ignorante.
Mário, entusiasta do compositor, negou e foi tomar satisfações.
“Mas, além das afinidades notórias e das coincidências, é provável que a influência inicial de Oswald (mais ousado, mais viajado, mais aberto) haja sido decisiva para levar Mário, tímido e provinciano, ao mergulho no Modernismo.”
A birra continuou.
Oswald, gozador, inventava mentiras sobre Mário, que não gostava.
Politicamente, racharam quando Oswald, já sob influência do PCB , criticou a sociedade paulistana no Theatro Municipal em 1945, sob vaias.
Mário discordara dele.
Candido escreveu que Oswald chorou muito com a morte de Mário em 1945.
Anos depois, em 1954, meses antes de morrer, o chamou para conversar e confessar a admiração por Macunaíma.
Ainda disse: “Sem Mário, não teria havido o Modernisno.”
Ambos estão enterrados no mesmo Cemitério da Consolação, na mesma rua 17.
A PROGRAMAÇÃO é extensa.
25/04 – TERÇA.
18h Mário Cinéfilo: Esposas ingênuas
Sala Lima Barreto
19h MáriOswald abertura
Sala Tarsila do Amaral
20h Mário Cinéfilo: Frame Circus e os filmes de Mário de Andrade
Sala Lima Barreto
20h Conferência de abertura: Mário e Oswald – amor e inimizade, com José Miguel Wisnik
Sala Adoniran Barbosa
26/04 – QUARTA
10h às 20h MáriOswald
Sala Tarsila do Amaral
14h30 Missão de Pesquisas no CCSP (visita com agendamento:
visitasccsp@prefeitura.sp.gov.br)
18h Mário Cinéfilo: O homem mosca
Sala Lima Barreto
19h Esbarro – O encontro de Oswald e Mário de Andrade
Espaço Mário Chamie
(Praça das Bibliotecas)
19h30 Mesa Legado
Espaço Mário Chamie
(Praça das Bibliotecas)
20h Mário Cinéfilo: O homem do pau-brasil
Sala Lima Barreto
20h Manuela
Sala Jardel Filho
21h Conferência: Ronaldo Fraga (estilista) fala sobre Mário de Andrade, seu mentor
intelectual
Sala Adoniran Barbosa
27/04 – QUINTA
10h às 20h MáriOswald
Sala Tarsila do Amaral
15h Mário Cinéfilo: O garoto
Sala Lima Barreto
17h Mário Cinéfilo: Macunaíma
Sala Lima Barreto
19h Mário Cinéfilo: Esposas ingênuas
Sala Lima Barreto
19h Esbarro – O encontro de Oswald e Mário de Andrade
Espaço Mário Chamie
(Praça das Bibliotecas)
19h30 Mesa Amizade e Ruptura
Espaço Mário Chamie
(Praça das Bibliotecas)
21h Show: Iara Rennó disseca sua versão de Macunaíma
Sala Adoniran Barbosa
28/04 – SEXTA
10h às 20h MáriOswald
Sala Tarsila do Amaral
10h às 20h Antropofagia
Piso Flávio de Carvalho
16h Mário Cinéfilo: O garoto
Sala Lima Barreto
18h Mário Cinéfilo: O homem do pau-brasil
Sala Lima Barreto
19h30 Mesa Repercussões Expandidas
Espaço Mário Chamie
(Praça das Bibliotecas)
20h Mário Cinéfilo: Lírio partido
Sala Lima Barreto
29/4 – SÁBADO
10h às 20h MáriOswald
Sala Tarsila do Amaral
10h às 20h Antropofagia
Piso Flávio de Carvalho
14h Crenças, mitos, símbolos e… Mário!
Sala Jardel Filho
14h30 Agrupamento Teatral
Sala de Leitura Infantojuvenil
15h Mário Cinéfilo: Macunaíma –
Após a exibição do filme haverá aulapalestra com Carlos Augusto Calil
Sala Lima Barreto
19h Mário Cinéfilo: O homem mosca
Sala Lima Barreto
19h Show: Elo da Corrente embarca na viagem das Missões
Sala Adoniran Barbosa
21h Curta-documentário Marília de Andrade e Resultado cênico do Estudo coreográfico
de pesquisa prática-teórica (Curso de Dança da Universidade Anhembi Morumbi)
Espaço Missão
30/04 – DOMINGO
10h às 20h MáriOswald
Sala Tarsila do Amaral
10h às 20h Antropofagia
Piso Flávio de Carvalho
14h30 Agrupamento Teatral
Sala de Leitura Infantojuvenil
15h Giro pela dança – com: São Paulo Companhia de Dança
Áreas de Convivência
15h30 Mário Cinéfilo: O Rei da vela
Sala Lima Barreto
18h Conferência: Tom Zé traça a conexão entre o modernismo, a tropicália e hoje
Sala Adoniran Barbosa
April 20, 2017
Ciclovias ameaçadas, ‘bicicletada’ agendada
A administração Doria pretende alterar algumas ciclovias de São Paulo: adotar a rota sem divisão entre carros e bicicletas.
Cita duas em particular, as da Vila Prudente e Rua da Consolação, perigosa, segundo secretário de Transporte, Sérgio Avellada.
Seriam trocadas por ciclorrotas, já tentadas por Kassab, sem a demarcação da bicicleta no asfalto, mas com sinalização e lombadas.
Ativistas protestam: Doria quer apagar ciclovias.
Mudar ou apagar?
Ciclistas já marcaram uma noite de protesto na Paulista, #CicloviaSimRetrocesoNão, na próxima sexta, dia 28/04 (das 19h às 22h).
A “bicicletada” já tem página do Facebook e manifesto:
PREFEITO JOÃO DORIA: CICLOVIA SIM, RETROCESSO NÃO
A gestão João Doria, em atitude totalmente em desacordo com a Política Nacional de Mobilidade Urbana e com as tendências executadas em grandes cidades mundiais, anuncia que irá apagar ciclovias da cidade e, no lugar, apenas fazer indicações de ciclorrotas.
Sabemos que a ciclorrota no mundo ideal, em que motoristas respeitam as leis de trânsito e a fiscalização funciona, são soluções excelentes. Porém basta pedalar pelas atuais ciclorrotas de São Paulo, como a da R. Comendador Elias Zarzur em Santo Amaro ou a Alameda Jaú, na região da Paulista, pra saber que em São Paulo elas não representam segurança alguma ao ciclista, principalmente aos mais frágeis, iniciantes ou que necessitam de maior segurança, como mães e pais com crianças e idosos.
A falta de fiscalização no trânsito de São Paulo é um problema grave,pois, como é sabido há anos, há uma baixa quantidade de agentes da CET nas ruas: cerca de 2 mil agentes que tem de dar conta da cidade inteira (http://www.destakjornal.com.br/notici...). Como acreditar que as novas ciclorrotas propostas pela gestão Joâo Doria, que contarão apenas com plaquinhas e marcas no solo, vão ser seguras?
Em entrevista à Folha de S. Paulo, o secretário de Transportes e “Mobilidade” Sérgio Avelleda propõe substituir a ciclovia da Consolação (sentido centro) diz: “Na descida, é muito arriscado, gera velocidade e tem entrada para hotel, lojas, ruas, concessionária”. Ou seja, o secretário, ao invés de exigir que os motoristas respeitem o ciclista na ciclovia e tomem cuidado nas conversões, como diz a lei, considera que o problema é a ciclovia. Qual o sentido de achar que retirando a ciclovia o ciclista ali será mais respeitado? Como dizer para pessoas como mães e pais com crianças, idosos e iniciantes que poderão pedalar tranquilamente na Av. da Consolação sem ciclovia?
E, para defender a ideia das ciclorrotas, o secretário afirma que “Tudo que é novo tem resistência”. Acontece que a ideia proposta não é nova, é uma solução velha e ineficaz, que obviamente não está considerando prioritária a segurança do ciclista.
Nenhum centímetro de ciclovia a menos. Por uma gestão pública que incentive de verdade a mobilidade ativa e a humanização das cidades.
João Doria: ciclovia sim, retrocesso não!
April 18, 2017
A desilusão de Chomsky com o PT
A maior expressão da nova esquerda mundial, o professor do MIT, Noam Chomsky, revela seu desencanto com o comportamento das esquerdas na América Latina.
E cita, em especial, o PT.
Sobre economia, diz que não se aproveitou a oportunidade de criar uma economia sustentável, independente da exportação de commodities.
Sobre a corrupção, lamentou.
Em entrevista a Juan Gonzáles, para o site de jornalismo independente Democracy Now!, perguntado sobre os inegáveis avanços sociais, disse:
“É doloroso ver o Partido dos Trabalhadores no Brasil, que realizou significantes melhoras, simplesmente não conseguir manter as mãos fora do dinheiro público. Eles se juntaram a uma elite extremamente corrupta, que tem roubado por muito tempo, participando da corrupção, desacreditando todo o partido.”
“As pessoas reagiram. Não acho que, de qualquer forma, é o fim da linha. Houve verdadeiros avanços, e acho que muitos deles vão se manter. Mas tem uma regressão. Eles terão que retomar as esperanças com setores mais honestos, reconhecer a necessidade de desenvolver a economia de uma forma sólida, não apenas baseada em exportação de matérias-primas, honestos o suficiente para levar a cabo programas decentes, sem roubar o dinheiro público ao mesmo tempo.”
Antes, sobre a crise na esquerda da América Latina (Brasil, Argentina, Paraguai e, especialmente, Venezuela), destacou:
“Os governos de esquerda faliram quando tentaram criar economias sustentáveis e viáveis. Quase todos, Venezuela, Brasil, outros, Argentina, se basearam no aumento dos preços das commodities, que é um fenômeno temporário. Os preços das commodities subiram, principalmente por causa do crescimento da China. Houve um aumento no preço do petróleo, soja, e assim por diante.”
“Ao invés de tentarem desenvolver uma economia sustentável com manufatura, não o fizeram, simplesmente confiaram nas commodities, matérias-primas que poderiam exportar. Isso é muito prejudicial, não só não é bem-sucedido como é um modelo de desenvolvimento prejudicial, porque enquanto você exporta grãos para a China, eles exportam bens de manufatura para você, o que prejudica suas indústrias de manufatura. É o que está acontecendo principalmente no Brasil.”
Assista na íntegra:
https://www.democracynow.org/2017/4/5...
April 17, 2017
Dia Mundial do Livro com troca de livros
O dia 23 de abril, domingo, será o Dia Mundial do Livro; oficializado pela UNESCO em 1995, para reforçar o incentivo à leitura.
A Amazon decidiu celebrar a data incentivando pessoas a trocarem livros em 12 países, incluindo o Brasil.
Promove troca de livros em São Paulo, na entrada do Parque Villa-Lobos.
Também haverá mediação de histórias para crianças e presença de autores, como Gisele Mibarai, vencedora do Prêmio Kindle.
Farão leituras de trechos de seus livros no parque.
Vai até 16h.
Fica a dica.
Vida em Vênus

rainha dos incas venusianos e seus servos
As agências espaciais, numa primeira fase, focaram seus investimentos na viagem especial em si.
Numa segunda fase, em como sobreviver no ambiente de gravidade zero, sem oxigênio e atacado por radiações
Agora, partem para o ataque: buscam sem disfarce ou dilemas religiosos vida extraterrestre.
Ela pode estar em fundos de oceanos congelados, em planetas anões ou nos vizinhos, em luas de outros planetas, em planetas em outros sistemas solares, em meteoros, no formato de micróbios, polvos, com inteligência ou sem.
Marte se tornou o destino prioritário da conquista espacial.
Mas é em Ecélado, lua de Saturno, e Vênus, apesar da sua média de 400 graus celsius, que se pode encontrar vida.
Se Marte está sendo preparada para ser nossa segunda casa, Vênus pode abrigar ETs em sua atmosfera densa,
A revelação é da astrofísica Ludmila Zasova, da Academia de Ciências da Rússia, para a agência TASS.
O solo de Vênus não tem muitos segredos. É formado basicamente por basalto.
A atmosfera é sui generis, move-se na velocidade do mais veloz dos furacões (360 km/h).
Suas nuvens podem absorver luz ultravioleta, o que aumentam as chances de conter bactérias. Venusianas.
Apesar de hoje estarem às turras, Rússia e EUA pretendem se unir para a missão Venera-D.
O primeiro país forneceria seus foguetes mais evoluídos e confiáveis. O segundo, módulos de coleta de dados, pouso e exploração do terreno.
Para Zasova, Vênus é o cenário ideal para se estudar efeito estufa, uma ameaça que literalmente paira sobre nós.
Esqueça os Incas Venusianos, vilões do mítico seriado Nacional Kid.
Eles podem ser micróbios.
April 11, 2017
Quando a emissora faz do crime um show
A resolução do caso de um assédio físico e moral no BBB foi, absurdamente, encaixada nas regras do show real, no horário propício e, mais surpreendente ainda, transmitida ao vivo.
Depois que forças externas, uma delegacia da mulher, interveio, de forma a exibir as mazelas de um personagem, sob a “ética” da transparência, para milhões de pessoas.
O resultado foi uma felicidade geral: o público aplaudiu, os críticos apoiaram e o programa bateu recorde de audiência [foi sintonizado por 49,3% dos televisores ligados, arrastando toda programação para cima].
A emissora, de vilã, afetada por demorar a atuar numa denúncia de assédio do galã da novela noturna semana antes, passa uma boa imagem de si.
Diz que foi justa, que existem regras, que a lei está acima de tudo.
Parece sinopse de um longa sobre produtores ambiciosos nos bastidores de uma empresa interessada apenas na audiência [lucro].
Mas o BBB sempre foi um caso de programa que humilha pessoas comuns em busca da fama&grana.
É preciso ter estômago para assistir.
Algumas provas lembram técnicas de tortura, como ficar horas em pé atrás de uma compensação, um presente, um prêmio, ou apertados dentro de um carro, sufocados.
O físico e o emocional são testados, num isolamento forçado que, dizem quem participa, leva à loucura.
Uma ex-participante me contou que não conseguia dormir por causa da movimentação por trás das paredes da “casa”, em que câmeras se movem, zoons fazem ruídos, profissionais conversam, riem.
Privar do sono é outra técnica de tortura conhecida.
O programa acabou, ela ficou ainda dois anos com dificuldades para dormir.
A resposta aos críticos é fácil: vai quem quer; disputam para estar lá; sai quem quer; assiste quem quer; os incomodados que mudem de canal; ficam famosos depois, até saem na Playboy…
O infeliz do “personagem-real”, um médico, extrapolou, assediou de uma forma criminosa, não foi impedido na hora, e achou que cumpria as intenções do show.
A emissora exibiu as imagens, e só com o protesto nas redes sociais e a ação da polícia, se deu conta do absurdo.
Tentou resolver o ilícito pelo “confessionário”, um cenário do show, ao vivo, como parte da programação.
O apresentador ainda veio com essa: “A nossa casa está inserida em um contexto maior, que é o contexto da lei.”
Ah, vá…
“A gente ficou aguardando um parecer técnico sobre o assunto. Quando há, por exemplo, abuso psicológico, a vítima precisa ir ao confessionário ou precisa ir a uma delegacia para reclamar.”
A trama está perfeita.
A moral do show está em paralelo com a lei.
Uma personagem, a vítima, sabe o que está ou não no roteiro?
Uma atriz que leva um tapa de um ator, numa cena em que personagens se batem, sabe se naquele tapa há atuação ou verdade, se faz parte da cena?
Não me espanta a vítima demorar para reconhecer o assédio.
Me espanta o quanto este tipo de programa mobiliza, e a noção do real é deturpada.
April 10, 2017
Doria agrada esquerda ao vetar nome de Tuma
Considerado como o candidato preferido da direita à presidência ou governo, a nova estrela em ascensão do tucanato, o prefeito de São Paulo, dessa vez deve receber aplausos da esquerda.
Vetou o nome de Romeu Tuma à ponte das Bandeiras [ícone arquitetônico que levou o desenvolvimento para a zona norte, reinaugurada nos anos 1940 por Getúlio Vargas].
Segundo informações da Folha de S. Paulo [Mônica Bergamo], por motivos políticos.
O ex-senador foi também o controvertido diretor do DOPS [de 1977 a 1982], responsável pela repressão a estudantes do Movimento Estudantil [interrogou três das minhas quatro irmãs, depois da invasão da PUC].
Trabalhava no mesmo prédio, acima da sala, do mais temido delegado e acusado de tortura, Sérgio Fleury.
Em 1982, tornou-se superintendente da Polícia Federal, responsável pela censura de roqueiros como Blitz, Leo Jaime, Lobão, Inocentes, Capital Inicial, nos tempos da redemocratização.
Não consta que tenha torturado alguém.
Segundo o ghost-writer de Romeu Tuma Jr., filho de Tuma, Claudio Tognolli, do site Yahoo [escreveram juntos o livro Assassinato de Reputações], a notícia “abriu uma guerra” entre a família Tuma e o prefeito João Doria.
“Tuma Junior nunca foi adulado pelos tucanos. Quando investigava a máfia dos fiscais, sob a prefeitura de Celso Pitta, Tuma Jr. chegou no nome de um tucano de alta plumagem, como acusado. O tucano ocupava um alto cargo no Banespa, que virou Santander. Depois de ter investigado o tucano, Tuma Jr. foi removido para uma delegacia em Taboão da Serra, na periferia de São Paulo. Deu sorte: foi ali perto a desova do cadáver do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel. Foi Tuma Jr. a primeira autoridade a chegar na cena da desova.”
No governo petista, Tuma foi acusado de participar ativamente na ocultação de cadáveres de assassinados sob tortura.
A descoberta e identificação da ossada do médico nazista Joseph Mengele tornou-o popular.
Foi eleito senador por SP em 1994.
A bolha
Ninguém mais conversa no metrô. Ninguém mais paquera. Ninguém mais olha o vazio, o mapa das linhas, os anúncios, as luzes passando em sentido contrário, a própria imagem refletida nas janelas, quem entra, quem sai, quem veste o que, quem está bem, quem está feliz, quem chora, quem dorme, quem está por um fio, quem se dirige a uma manifestação de protesto, ou de apoio, quem defende o que, gosta de qual banda, quem parte para um encontro secreto, ou acaba de ser beijada, por alguém que sempre quis, e que nunca tomou a iniciativa, quem acaba de se apaixonar, ou descobre que o amor acabou, quem espera gêmeos, está exultante e nem consegue mais dormir, quem acaba de conseguir um emprego, quem não desce em nenhuma estação, e quer apenas um ar condicionado no talo no verão impiedoso, ou fugir da chuva, ou dar um tempo, viver sem sentir a vida, percorrer túneis subterrâneos de uma grande metrópole, em que, apesar da multidão, se sente sozinho.
Ninguém troca ideias, opiniões divergentes, ninguém debate, é convencido de algo, muda de opinião. A bolha que nos cerca nos protege. É como um escudo contra o que nos agride. A cidade nos agride. O ódio nos agride. Todos nela nos agridem. Suas vozes incomodam.
Preferimos a música preferida da lista previamente selecionada que sai dos meus fones de ouvido conectados por um cabo ao meu universo pessoal, em que sou Deus, em que decido o que ler e ouvir, o que ver e curtir, o que assistir e ignorar, graças à opção “bloqueio”, à opção “excluir”, à opção “apagar perfil”, “colocar em modo avião”, “não receber notificações”.
Há uns anos, não pegava celular no metrô. Os passageiros conversavam, paqueravam, miravam o vazio, redescobriam estações no mapa das linhas, checavam os cabelos na imagem refletida, quem entrava, saía, vestia o que, era fã de Ramones, Pink Floyd, Metallica, Batman, Jack Daniel’s, quem estava bem, feliz, chorava, dormia, quem, pelo perfume, banho tomado, roupa bonita, estava a caminho de um encontro secreto, fora beijada, por alguém surpreendente, inexplicável, paixão que nasceu do fundo da alma, quem descobriu que não ama mais, descobriu que estava grávida e não consegue mais dormir, tensa, quem acabou de perder um emprego, a estação, o sentido de viver, porque se sente sozinho, apesar da multidão nas estações.
Trocavam-se ideias, opiniões, debatia-se, mudavam as convicções de alguém, apresentavam outros pontos de vista, experiências e erros da história que se repetem. A bolha é nosso mundo agora. E o que tem de tão urgente nos celulares, que não era na década anterior? O que é inadiável?
A bolha em si, e nela que se quer estar: protegido e isolado. O mundo é muito louco, tem muito louco por aí. E boa parte, quando chega à sua estação, continua nela, caminha olhando ou falando para seu universo pessoal. Haverá um dia em que as pessoas voltarão a interagir? O mundo corre perigo.
A revista de tecnologia Wired fez um alerta aos leitores: os filtros da sua bolha estão destruindo a democracia.
Pelos grandes pilares da rede social (Facebook, Instagram, Twitter e WhatsApp), você recebe notícias de quem quer que lhe dê notícias, não de quem lhe desagrada, discorda, coloca em dúvida, incomoda, atrapalha a lógica da ética de vida que você demorou para adquirir.
A bolha foi criada por você e pela matemática. As redes registram o que você gosta. Deixa aquilo que você não gosta em segundo plano e o bombardeia de informações apenas de quem ou o que você gosta. São os misteriosos algoritmos, a lógica da rede.
Pesquisadores, entusiastas e defensores da tecnologia da informação, como Amanda Hess, do New York Times, dão dicas para a bolha não enriquecer.
Uma extensão do Chrome chamada PolitEcho faz você surfar pelo seu Face e checar seus preconceitos, através dos “likes” dos amigos.
Um plug-in do Twitter, o FlipFeed, colocará em seu feed pessoas aleatórias, anônimas, com opiniões amplas.
O BuzzFeed testa uma nova plataforma, Fora da Bolha (Outside Your Bubble), e o Face, Saia da Bolha (Escape Your Bubble), que para de filtrar posts por afinidade ideológica.
Os podcasts políticos liberais Right Richter, Slate e o Crooked Media, tocado por gente do staff de Obama, abriram abas para notícias e opiniões de grupos conservadores divergentes.
Pesquisas confirmam que apoiadores de Trump vivem num mundo paralelo de informações-desinformações nascidas nas redes sociais, que não fazem sentido com a realidade. Confundem o discurso hipotético da propaganda com realidade.
O prefeito que faz, o governador de que precisamos, o presidente que melhorará a vida de todos, colocará o país em primeiro lugar… Mentira. O prefeito que não faz nada, basta alastrar que faz, o governador não é do que precisamos, e o presidente sozinho não melhorará a vida de ninguém (a não ser a dos amigos), muito menos colocará o país em primeiro lugar, criará conflitos danosos e desnecessários, vai impor barreiras, construirá muros, dividirá o país.
April 7, 2017
A série da diversidade

13 REASONS WHY
13 Reasons Why é a nova sensação do Netflix [com a Paramount].
E existem muitas razões para.
Trata-se de uma história com a qual muitos se identificam, bullying sofrido no colegial, quando a vida sexual de adolescentes desabrocha e as humilhações inconsequentes podem até levar ao suicídio.
Mas um detalhe da série chama a atenção.
A diversidade é tratada nas entrelinhas sem nenhuma dramatização nem interferência nos conflitos. As pessoas são e pronto. Debruçar sobre o tema é passado.
Parte dos alunos é homossexual assumida, na boa, não se fala nisso e ninguém sofre preconceito por ser.
Um deles, Tony Padilla [Christian Navarro], o latino da turma, tem um namorado fixo, quebrando o rótulo de latino-machão.
Uma oriental é filha adotiva de um casal gay homem. Fato tratado com naturalidade, que nem entra no conflito.
Aliás, a menina também é gay, assim como outros dois personagens.
Garotos brancos namoram garotas negras.
Garotos bissexuais trocam de namorado.
Casais inter-raciais vivem numa boa e não despertam atenção.
E a protagonista, Hanna Baker [Katherine Langford], tem um corpo fora do padrão atrizes jovens preferido por Hollywood.
Não se fala em racismo, homofobia, misoginia, xenofobia.
O tema é outro: a solidão humana, a sensação de não se encaixar, de ser incompreendido, de não conseguir expor o que sente.
A série é feita malandramente para viciar.
No piloto, e isso não é spoiler, porque está no primeiro bloco, sabemos que Hanna cometeu suicídio e deixou fitas para serem entregues a determinados amigos, explicando as razões do suicídio.
Cada fita é dedicada e um personagem.
A melhor, sempre dizem, vem no final.
Truque “baixo” para nos prender.
A décima-terceira razão não é uma fita, torna-se: a razão definitiva
Que inspire à teledramaturgia brasileira, engessada pelo conservadorismo do seu cliente.
E que o ‘beijo gay’ deixe de ser a estrela de uma trama.
Detalhe: o CVV (Centro de Valorização da Vida), cujo contato aparece no site oficial da série, anunciou que dobrou o número de consultas por e-mail; em metade deles, a série é citada.
April 5, 2017
Nasce uma nova revista
Vem aí a Quatro cinco um, nova revista literária de economia, política, cultura, para quem lê sem parar.
Elas andavam em falta.
Pareciam fadadas aos sebos, junto com tantas outras revistas e livros, ao lado de fitas cassetes, ultrapassadas pela tecnologia da informação e crise no jornalismo impresso.
Suplementos literários e revistas foram aos poucos se extinguindo.
“O leitor sumiu”, costuma dizer Pedro Hertz [Livraria Cultura].
Como o brasileiro vai perdendo o interesse por livros e livrarias?
Antes de buscar explicações, que tal recomeçar a debatê-los.
Montados pela filósofa Fernanda Diamant e pelo jornalista e curados de três FLIPs, Paulo Werneck, será lançada em maio já em promoção com a bem-sucedida piauí.
O título, acredito, é inspirado no livro de ficção científica de Ray Bradbury, filmado por Truffaut, em que livros eram proibidos e destruídos por um regime autoritário, FAHRENHEIT 451.
451 é a temperatura em que o papel entra em combustão [233 graus Celsius].
Vou assinar a minha.
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