David Soares's Blog, page 77
April 13, 2011
"Batalha": pré-apresentação na 81ª Feira do Livro de Lisboa

No próximo dia 7 de Maio, às 17H00, estarei na 81ª Feira do Livro de Lisboa para apresentar e assinar exemplares do meu novo romance Batalha (Saída de Emergência).
Ao meu lado estará o artista Daniel Silvestre da Silva, cujos desenhos ilustram a narrativa.
Batalha é um romance de literatura fantástica, que observa o fenómeno religioso do ponto de vista dos animais. É, também, um romance hermético e alegórico.
Published on April 13, 2011 09:25
Bode expiatório

Lido o excelente Hadrian The Seventh, de Barão Corvo (crítica para breve), começa-se Giles Goat-Boy, de John Barth. A minha edição é esta, com uma ilustração do famoso Stephen Alcorn.
Published on April 13, 2011 06:07
April 9, 2011
Crítica de leitor a "Lisboa Triunfante"

Um excelente comentário de leitor ao meu romance Lisboa Triunfante (Edições Saída de Emergência):
«(...) uma odisseia da imaginação (até de investigação etnográfica) (...) (e)leva-nos (...) a observar Lisboa de cima como se a tivéssemos colocado entre uma lâmina e uma lamela (...) sinto-me na obrigação de evangelizar mais leitores para este fantástico escritor português que se chama David Soares».

Published on April 09, 2011 17:00
April 7, 2011
"BATALHA" - pré-venda na 81ª Feira do Livro de Lisboa

«A primeira vez que Batalha viu uma caveira, pensou que fosse um desvairamento, estimulado pela febre que sentia; pois que frenesi da Natureza, ou até dos próprios Pais do Mundo, teria gerado algo tão invulgar?Um excerto do meu novo romance Batalha (Saída de Emergência).
(...) durante esse caminho tortuoso, ao longo de túneis apertados, (...) viu as relíquias da corrupção humana que, entre a terra, observavam como sentinelas os roedores peregrinos. Sem nenhum conhecimento das hierarquias que regiam a sociedade dos homens, Batalha não sabia que os ossos que encontrava, alguns interpostos em esqueletos mais ou menos intactos, outros desbaratados pelos ínfimos movimentos da terra, mas todos tapados por trapos, tinham servido de sustentáculo às carnes mais afortunadas, em oposição aos ossos dos pobres, inumados numa vala vizinha.
A caveira que o impressionou, desdentada e pintalgada de pretidão, retinha uma imperturbável atitude altiva — era um génio subterrâneo, que guardava a passagem com um sinal de sobranceria, de displicência. Teias de linho, miscigenadas com filigranas fungongóricas, amarravam-na à terra humedecida e, no seu interior, observável através das órbitas ocas, encontravam-se excedentes cefalóides: um forro feito de antigualhas, agora fossilformes.
Acometido de febre (...) Batalha perdeu a consciência enquanto passava à frente dessa caveira, esse ex-homem; e, num derradeiro instante de lucidez, antes de descair para as profundezas piréticas (...) pensou que, com efeito, todos os homens — e todos os bichos — eram feitos de pedra, por dentro.
Vive-se para sonhar, para ver as maravilhas do mundo, para amar, e é para isso que a carne serve, mas, no final, quando a carne se estraga, volta-se a ser a pedra que se foi no início — a pedra honesta que, apesar da carne e dos anos, subsiste. Nada era mais rudimentar que essa pedra. Nada era mais tosco.
Mas também nada era mais verdadeiro.
Mais ético.»
Daqui a um mês, no dia 7 de Maio, estarei presente no stand das edições Saída de Emergência, na 81ª Feira do Livro de Lisboa, para assinar exemplares deste título numa pré-venda exclusiva, antes do livro ser distribuído pelas livrarias. Uma oportunidade única para quem quiser estar entre os primeiros a lerem o meu novo romance.
Mais pormenores, em breve.
(Nesta ligação podem consultar o horário de funcionamento e localização dos stands da Saída de Emergência.)
Published on April 07, 2011 06:12
April 6, 2011
Parafilia Gore

A banda já anunciou e é tempo de eu também desvendar: o próximo álbum de Holocausto Canibal, intitulado Gorefilia, irá contar com duas letras de minha autoria, que versam sobre parafilias muito, muito extremas e extravagantes.
Para mim é um prazer enorme colaborar com os Holocausto Canibal, num género musical e temática que adoro. Grind on!
Published on April 06, 2011 08:24
April 5, 2011
Comer e morrer sozinho em Veneza

Depois do excelente Moby Duck, de Donovan Hohn (ler crítica abaixo), vou, finalmente, ler Hadrian the Seventh, de Barão Corvo (Frederick Rolfe).
Nesta altura, em que qualquer cão ou gato que escreva meia-dúzia de parágrafos à solta num weblog já é considerado um autor de primeira água, só pode fazer bem à cabeça ler um livro de um verdadeiro Génio; que, qual é o espanto?, morreu sozinho na miséria, em Veneza...
Seja em Veneza ou em outro lado qualquer, os génios, de maneira geral, comem e morrem sozinhos - só os parasitas comem e morrem acompanhados. Não é de espantar que essa palavra venha da grega parásitos, que significa aquele que come junto de.
Published on April 05, 2011 06:09
April 4, 2011
A Amarelidade do Amarelo

O título do meu comentário sobre o livro Moby-Duck, de Donovan Hohn (Viking Press, 2011) refere-se ao capítulo quarenta e dois do romance Moby Dick, de Herman Melville, intitulado The Whiteness of the Whale - uma das minhas peças literárias preferidas, na qual Melville ensaia com mestria sobre as qualidades mais sinistras da cor branca, num rol de referências mitotémicas muito bem feito. Se a brancalidade da cor branca do cachalote perseguido por Ahab encerra, na mente do desesperado, mas temerário Ismael, uma série de ideias funestas que se apresentam como notas hariólicas sobre o destino da viagem amaldiçoada do baleeiro Pequod, então a amarelidade da cor amarela dos patos de plástico perseguidos por Hohn, também emite uma qualidade quasi-mítica, mas que comunica com um conjunto de valores positivos. É o próprio Hohn que, a dada altura, na página 224 do quinto capítulo de Moby-Duck discorre com propriedade sobre o porquê dessa amarelidade - e, também, sobre a origem do pato de borracha (ou plástico) enquanto brinquedo e enquanto símbolo cultural. A exposição destas ideias fecha com elegância uma parte importante da investigação (mas não a provação final) do jornalista: a visita à fábrica chinesa onde os patos foram produzidos. Patos que, em 1992, na companhia de castores vermelhos, rãs verdes e tartarugas azuis, compondo um total de 28 800 bicharocos de plástico, caíram de um cargueiro no Oceano Pacífico quando a embarcação navegava em direcção aos Estados Unidos. Durante mais de uma década, os Friendly Floaties, como a imprensa lhes chamou, circularam pelas águas agitadas do Pacífico, dando à costa nos locais mais inesperados, como as praias do Havaí, a costa do Alasca e a do estado norte-americano do Maine, o que significa que as quatro variedades de amiguinhos flutuantes foram capazes de contornar as passagens tempestuosas do Ártico até chegarem ao Oceano Atlântico. A viagem dos brinquedos pelos oceanos capturou as imaginações do público e dos oceanógrafos da altura e, passados pouco mais de dez anos, a de Hohn, que se despediu do emprego como professor para se tornar o cronista destes peregrinos acidentais: Ahab e Ismael, em simultâneo.
Moby-Duck é um triunfo.
É um genuíno e belíssimo trabalho de jornalismo de investigação, sem pretensões a ser lido como um romance ou coisa análoga, escrito com muita inteligência e coração. Com efeito, não há nada, mas mesmo nada, em Moby-Duck que seja mau, pedante, tíbio, afectado, preguiçoso, mal-intencionado ou cínico. Consiste num livro rigoroso, no que diz respeito ao discurso científico - sem alegorias ou facilitismos baratos que tornem simplório o fascinante conteúdo técnico - sobre a manufactura das criaturinhas plásticas, sobre a odisseia oceanográfica através dos tempos e sobre a análise da poluição dos mares; e, ao mesmo tempo, no modo autêntico, liberto de tiques de vedetismo, como Hohn expõe a sua trajectória pessoal e a dos seus comparsas honorários na busca pela verdadeira história dos Friendly Floaties, invocando autores como Melville e Conrad, entre outros, é capaz de oferecer um cunho poético à investigação, ancorada em incursões históricas por clássicos mitos teriomórficos, pelo contemporâneo glamour da publicidade comercial e, sobretudo, por uma prosa cuidada, assinalada em apontamentos de grande delicadeza.
Merecendo todos os elogios que eu lhe posso dar, Moby-Duck é, já nesta altura do ano, uma das minhas melhores leituras de 2011 - e o facto de vir a ser, sem dúvida, uma das melhores prosas de 2011, ainda por cima escrita não pelas mãos de um romancista, mas pelas de um jornalista, só reforça o carácter exótico que o livro inegavelmente possui.
De quando em quando há livros assim: que aparecem do nada, que nem um pato de plástico trazido pelas ondas. Ou, como escreve Hohn sobre uma gaivota boiando no breu, «Out beyond the edge of light, a glaucous gull floated contentedly on a swell, a white dot of sentience in the icy dark».
Moby-Duck é uma luz que boia brilhante no meio da mediania parda que é publicada todos os dias: mas uma luz amarela. E essa amarelidade, acreditem, é linda.
Published on April 04, 2011 17:04
April 2, 2011
As heterodoxias do cristianismo

O cineasta e escritor António de Macedo acaba de publicar pela Ésquilo a sua magnífica tese de doutoramento em Sociologia da Cultura, intitulada Cristianismo Iniciático: um magistral volume, com mais de 650 páginas, que versa sobre o carácter iniciático e esotérico das diversas tradições crísticas heterodoxas que, repudiadas pela visão institucional sobre esse fenómeno, acabaram por, de uma forma ou de outra, se conservarem na marginalidade e no obscurantismo dos seus cultores. É, pois, uma obra nada ortodoxa, que interroga, esclarece e ilumina. De um ponto de vista sociológico e histórico é absolutamente fascinante.
Tive o privilégio de assistir à defesa da tese (distinguida com a nota máxima), na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa, em 2010, e é com uma satisfação enorme que vejo a sua publicação em livro: satisfação por saber que um trabalho deste altíssimo nível e rigor intelectual está, finalmente, disponível ao público; dupla satisfação por saber que esta edição consiste em mais uma luminosa obra com a qual António de Macedo enriquece uma longa carreira feita de títulos importantes, relevantes e desafiantes, sempre contrariando os obstáculos da ortodoxia. Parabéns!
Published on April 02, 2011 11:48
April 1, 2011
March 31, 2011
Poema

O Macaco (Valsa Lisboeta)
Nunca se sabe até que ponto um macaco
pode chegar na ânsia de nos imitar
Dizem alguns autores ser o macaco
difícil de apanhar - mas não
Em qualquer mundana reunião
num ombro numa frase num olhar
no jeito «humanista» de falar
aí temos o macaco a trabalhar
procurando aproveitar a confusão
Pessoalmente sou de opinião
que o macaco é fácil de caçar
até à mão.
Alexandre O'Neill (in Poemas Com Endereço, 1962)
Published on March 31, 2011 09:16