António Bizarro's Blog, page 21

December 1, 2016

Songbook


Letras escritas por Julian Kronenburg para a sua demo, Kill Me Twice, lançada depois do fim dos Arctic Warfare e antes de ingressar como vocalista nos Brides of Christ.

Kill Me Twice
Shivering handsreach for my throatAnd I don´t mindit’s all my fault
My whole existenceis made of thisEverything’s wrongand pain is bliss

Slave Mode
In a established ordermind no longer functionsThere is no thoughtonly implanted notions
Can’t say, if I’m asleep or awakeMy voice, is just a background noise 
Thought controlbecomes standard procedureNo emotions allowedfeelings don’t figure

Before the fall
You walked the skiesfrom time to timeThe skies are goneand with them the light
Now I see you, embracing shadowsin the heart of darkness 
You wondered whydreams of lifeAfter crumbling downwere doomed to die
Now I see you, fading quicklyin the land of sickness
Stars were shiningin the desert skyIn spite of grey shadowsclouding your eyes 
Now I see you, chasing demonsin the domains of madness
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Published on December 01, 2016 08:03

November 29, 2016

A Colónia


    Eu sou Siatoteilith, filho da Grande Mãe Athaysthcuea, mas o nome pelo qual os Thishmapudark se dirigem a mim é N-3303-5531. Thishmapudark, na minha língua materna, quer dizer “colosso”. A estrela brihante que alumia o meu mundo, Tshasbia, chama-se Ichmae-i, e quando Ichmae-i se completa a sua passagem pelo céu e o céu fica escuro, as nossas noites são iluminadas pelas luas-gémeas Allahsimva e Mirenmo. Quando os Thishmapudark desceram até nós, Ichamae-i desapareceu durante vários ciclos, obscurecido pelas tocas enormes que andam no céu e albergam os Thishmapudark, tanto no ar como na terra. Sou velho, já não me restam muitos ciclos de vida. Vi Ichmae-i circular Tshasbia 5475 vezes. Antes de mim, apenas Thadroapayxo, filho da Grande Mãe Zatlgardbeornname, ultrapassou as cinco mil visões. Tive a sorte de um dos Thishmapudark se ter afeiçoado a mim e me ter levado para a sua toca, uma das poucas que surgiu do chão e que permanece imóvel, livrando-me do destino de muitos dos meus semelhantes, o de trabalhar nas galerias subterrâneas de onde se extraem os cristais que fazem as tocas dos Thismapudark voarem. A maioria não chega a ver Ichmae-i a circular mais do que 2500 vezes. O meu amo é bom para mim. Alimenta-me, acaricia-me e quando Ichmae-i se esconde, leva-me para a sua cama e faz comigo o que os pais fazem às Grandes Mães antes de adormecer. As Grandes Mães vivem numa toca à parte com os pais mais fortes, onde são obrigadas a fazer o que sempre fizeram naturalmente, desde a primeira passagem de Ichmae-i pelos céus de Tshasbia. Nunca fomos tantos como antes da chegada dos Thishmapudark, apesar de os nossos amos celestes apenas deixarem viver os que de nós nascem maiores e sem defeitos. Tendo aprendido a língua do meu amo, julguei ser meu dever ensiná-la aos meus semelhantes, tal como julguei ser meu dever inteirar-me do funcionamento das tocas voadoras e dos bastões que cospem luz, e de lhes transmitir esse conhecimento. Já somos capazes de manobrar as tocas dos Thismapudark e iremos fugir para Mirenmo, a maior das nossas luas e onde, segundo as nossas lendas, se pode respirar como se estivéssemos em Tshasbia. Basta uma das suas tocas para albergar o meu povo, tão pequenos somos perto dos Thismapudark. Antes de partirmos, iremos certificar-nos de que os Thismapudark que nos subjugam não nos podem seguir até Mirenmo. Usaremos os bastões cuspidores de luz para inutilizar as outras tocas voadoras e fazer os Thismapudark ficarem parados no mesmo sítio para sempre. Não sei se estarei a andar em Mirenmo ou parado no mesmo sítio em Tshasbia quando esta mensagem for encontrada, mas escrevo-a, e escrevo-a na vossa língua, gravando-a no material brilhante de que são feitas as vossas tocas voadoras, na esperança de que os próximos Thishmapudark que assentarem em Tshasbia não queiram fazer os que os seus antecessores fizeram ao nosso povo. Voltem para trás, de onde vieram, para o vosso mundo. Não venham a Mirenmo. Em poucas gerações, teremos sido capazes de replicar as vossas tocas voadoras e bastões de luz. Os cristais que o meu povo foi forçado a arrancar das entranhas de Tshasbia é ainda mais abundante em Mirenmo e em Allahsimva. Derrotaremos os Thismapudark, a Grande Mãe dos sonhos vivos viu-o antes de a primeira das vossas tocas ter tocado o solo de Tshasbia. Se necessário for, e quanto a isto a Grande Mãe vê sonhos vivos ambíguos, embarcaremos em nossas tocas voadoras e rumaremos ao vosso mundo. Eu sei onde se localiza o vosso mundo, a vossa Tshasbia. Há poucos ciclos, o meu amo mostrou-me, numa parede brilhante da sua toca, o mundo dos Thismapudark: entre nove esferas de cores e tamanhos diferentes dispostas em volta de uma estrela igual a Ichmae-i, destacou a terceira esfera azul a contar do centro.
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Published on November 29, 2016 06:35

November 27, 2016

Aforismos - Tony Dornbusch


Um mundo com gente sem casa e casas sem gente é um mundo doente.
Quem morre de gula, mata quem morre de fome.
O que é meu não me pertence, tal como o que é de todos não pertence a ninguém.
A preguiça é facilmente confundida com cansaço.
O supérfluo é cada vez mais indispensável; o essencial tornou-se descartável.
A ignorância e o medo nunca saem de moda.
Para quem sempre julgou ser anormal ou estranho, ouvir alguém dizer-nos que somos um ordinário como todos os outros homens é até bastante elogioso.
Por vezes, o orgulho não nos permite admitirmos que temos razão.
Os cães são fiéis ao Homem, os gatos são fiéis à Natureza.
«Família» é o nome que se dá a uma ocorrência genética perfeitamente aleatória e irreversível.
A pressa de cada um é proporcionalmente inversa à sua utilidade social.
Há pessoas que são usadas pelas roupas que vestem.
Quando a realidade é absurda, loucos são os que não a rejeitam.
Um dia será provado, por A+B, que JFK cometeu suicídio; e ninguém achará isso estranho.
Os piores monstros são aqueles que apenas existem na nossa cabeça. 
Um homem não vive sem sonhos, mas também não vive apenas deles.
Sou o que sou, e ninguém é melhor do que eu a sê-lo.
O meu corpo é o tempo de uma religião que já não existe; sou um rei exilado no meu próprio reino.
A beleza não está no olho do observador; está no seu cortéx pré-frontal.
Grato, sempre. Satisfeito, nunca.
Os homens e as mulheres querem as mesmas coisas, raramente ao mesmo tempo.
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Published on November 27, 2016 12:59

November 24, 2016

O Que a Água me Deu


“Time it took usTo where the water wasThat’s what the water gave me”
Florence Leontine Mary Welch

«Quem és tu?», perguntaste-me naquele dia em que fomos passear à beira do Arion, depois de me teres tirado o fôlego com o teu charme, os teus olhos cravados em mim, como se me estivesses a ver, a ver mesmo e não a olhar através de mim, como todos os outros, como se eu fosse invisível, como se eu fosse um fantasma… «Uma bibliotecária virgem, um cliché em vias de extinção, já ninguém lê, já ninguém se guarda». Não respondi nada disso, apenas corei e desviei o olhar. «E tu?», quis saber. «Franz». Apenas Franz? Apenas e só. Como o Praguense. Sim. Mais tarde percebi que não eras apenas o Franz, eras o Franz MacLaren, o mais próximo de um princípe que Saint Paul tinha. Eras casado, tinhas filhos, dinheiro, prestígio, ambições políticas… E eu que era tão poucochinha… Deves ter agarrado o primeiro livro que te apareceu à frente. To The Lighthouse. Disseste que era a tua escritora favorita. A sério? Sou sua homónima. «Chamas-te Virginia?» Não… Então? Se ela fosse a tua escritora favorita, saberias que o seu primeiro nome era Adeline… Fiz-te corar, mas conseguiste manter a compostura. Confessaste de imediato que estavas interessado em mim e não no livro. E logo em mim! Em Adeline, filha de Katherine, neta de Adeline, bisneta de Katherine, por aí afora até à data da fundação da nossa bela cidade, uma mera funcionária pública, uma prisioneira… Querias levar-me a passear quando eu saísse do trabalho, querias saber tudo acerca de mim. E eu disse que sim, sem dizer nada, sem saber o que dizer, tremendo de medo e de excitação… A minha mãe sempre me ensinou que os homens eram criaturas a temer. Só queriam uma coisa das mulheres, tal como o meu pai, tal como o meu avô e o meu bisavô. Descendo de uma longa linha de mães solteiras. Não podia sair à noite, não podia namorar, não podia ir à rua sem a mãezinha pelo braço, a mesma que agora vive acamada e que se queixa às enfermeiras que eu não consigo arranjar marido. Está demente e decrépita, e há-de viver mais do que eu, que pouco vivi… O pouco que vivi, vivi-o intensamente, graças a ti, Franz, meu querido monstro, o meu primeiro, único e último homem, anjo ou demónio… A escuridão e o frio rodeiam-me, mas tu brilhas, e eu não consigo desviar os olhos do teu brilho prateado enquanto o ar foge dos meus pulmões como da primeira vez em que falaste comigo. Ia ter contigo às traseiras da biblioteca e tu levavas-me para aquele motel que havia a meio caminho entre Saint Paul e Saint Andrew, e eu não via nada de errado ou sórdido nisso, era a nossa hora mágica. Até te ver na televisão, rodeado pela tua família, a anunciar a tua candidatura a um importante cargo público, e perceber que não tínhamos um futuro juntos. Seríamos só nós as duas, a Katherine e eu, pois estava convencida de que o fruto do nosso amor que me fazia inchar o ventre seria uma menina que levaria o nome da minha mãe. Dei-te a novidade pelo telefone. «Tens a certeza de que é meu?» Odiei-te com a mesma força com que te amava, tu que eras o único homem que alguma vez me tinha tocado, o homem que me revelou aquela doce agonia de que falava Santa Teresa de Ávila. Seria complicado criar uma criança sozinha com o ordenado de uma bibliotecária. Havia uma alternativa. Era complicado, mas não era impossível, as mulheres da minha família faziam-no há séculos… «Porquê, Franz, porquê?» é a pergunta que me oprime o peito e a qual não podes escutar… Tudo isto porque me recusei a matar o nosso amor feito carne? Quiseste encontrar-te comigo à beira do Arion, como naquele primeiro dia em que me convidaste para passear, e eu senti uma pequena réstia de esperança de que ainda pudesses provar à minha mãe que ela estava enganada, que não havia nenhuma maldição sobre as mulheres do nosso clã e que, a haver mesmo uma maldição, ela seria quebrada por ti, o príncipe de Saint Paul e do meu coração… Ela irá morrer na sua cama, decrépita e demente, sem saber que no mundo há homens bem piores do que o meu pai e o meu avô e o meu bisavô, que apenas desapareceram sem deixar rasto, e eu irei morrer neste leito, sem pedras nos bolsos a puxarem-me para baixo, mas com mãos de pedra, animadas por um coração negro, a empurrarem o meu peito em direcção ao fundo, enquanto os meus cabelos e o meu vestido esvoaçam, como algas, ao sabor das correntes.
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Published on November 24, 2016 06:28

November 21, 2016

Apocalipse Andróide: Prelúdios

Notícias recortadas e digitalizadas do jornal Diário de Saint Paul, encontradas no computador pessoal de Tony Dornbusch após a sua morte, numa pasta com o nome de Prelúdios.

1
Um robot matou um operário numa das fábricas da Sharma em Saint Paul, disse um representante da marca. O homem de 22 anos morreu na passada segunda-feira na unidade 5 da Sharma, na zona leste da cidade. De acordo com o porta-voz, Bruno Hillvig, o trabalhador estava a programar o robot quando este o agarrou e o atirou contra uma estrutura de metal, provocando-lhe morte imediata. Hillvig disse que as conclusões iniciais indicam que um erro humano terá estado na origem do incidente, e não um problema com o robot, o qual pode ser programado para executar várias tarefas na linha de montagem. Normalmente, o robot opera numa área restrita da fábrica, reunindo peças de automóvel e montando-as numa dada ordem, acrescentou o porta-voz. O supervisor estava presente quando o incidente ocorreu, mas não sofreu qualquer ferimento. O Ministério Público de Saint Paul ordenou a abertura de um inquérito, tendo em vista averiguar se existem indícios de crime e decidir quem será constituído arguido, no caso de existirem.
2
Mais de mil peritos em Inteligência Artificial assinaram uma carta aberta a alertar o mundo para os perigos de robots militares e de “uma corrida às armas com inteligência artificial” entre as principais potências militares do planeta. Segundo a carta, “a IA chegou a um ponto em que o emprego de armas autónomas é – praticamente, se bem que ilegalmente – passível de ser alcançado dentro de alguns anos, e não décadas, e que os riscos são elevados: as armas autónomas são tidas como a terceira revolução na condução da guerra, depois da pólvora e das armas nucleares.” “O fim desta trajectória tecnológica é óbvio: as armas autónomas tornar-se-ão as Kalashnikovs do amanhã. A questão que se põe, para a Humanidade, é começar uma corrida global às armas inteligentes ou impedir que ela comece”, continua a carta. A actual tecnologia militar ao dispor dos governos representa já um perigo enorme para o planeta e para os seus habitantes, e é óbvio, de acordo com a carta, que acrescentar a IA à equação pode tornar à corrida global às armas autónomas significativamente mais ameaçadora. A maioria das pessoas tem dificuldade em compreender o quão perto este cenário está de se tornar numa realidade, mas os peritos da indústria, que têm um conhecimento profundo desta tecnologia e do seu desenvolvimento, conseguem ver o perigo que representa a aplicação militar da inteligência artificial. É extremamente complicado controlar esta situação, até porque os povos não têm maneira de se assegurar de que os seus governos não desenvolvam inteligência artificial militar. De acordo com declarações ao canal SPTV, o Prof. Walsh, do Instituto MacLaren, sugeriu às Nações Unidas que supervisionasse a proibição destas armas, sendo que, todavia, uma proibição desta natureza apenas faria com que os países que controlam a UN e a NATO tivessem acesso exclusivo a armas com IA, à semelhança do que acontece com as armas nucleares: as Nações Unidas proíbem o armamento nuclear ao mesmo tempo que permite que membros da NATO continuem a desenvolvê-las. A solução deste problema não será encontrada por governos ou agências governamentais que beneficiem do desenvolvimento da Inteligência Artificial Militar, mas uma carta subscrita por mil peritos da área é um pequeno passo em direcção a uma solução de base.
3
Actualmente estão a ser desenvolvidos robots com tecnologia absolutamente fantástica. De facto, a robótica é tão avançada que a noção de um futuro semelhante ao dos filmes do Terminator (robots a dominarem a raça humana) se tornar real já não nos parece tão implausível. Não só os robots são cada vez mais realistas, como estão a a desenvolver a capacidade de pensar por si próprios.Um dos melhores exemplos desses novos robots é um andróide criado pelo roboticista Zaffar Ashraf. Tem as feições do popular escritor de ficção científica, G. Gomez, cuja obra deu origem a numerosos filmes, incluindo Blood Salary, The Memory Remains e Carry On Inwards.O “cérebro” deste andróide (apropriadamente baptizado de Android Gomez) foi formado a partir da obra do falecido autor e de conversas que ele teve com outros escritores, as quais foram inseridas no software do andróide. O resultado foi que, quando faziam uma pergunta ao andróide, este respondia da forma como Gomez teria respondido. O robot também foi capaz de responder a uma série de perguntas complexas. Perante uma pergunta que nunca lhe tenha sido feita, faz uso de algo chamado análise semântica latente para tentar responder. Este processo é uma técnica matemática que torna possível que os andróides indexem, recuperem e extraiam significado da linguagem humana.A parte mais alarmante desta entrevista talvez seja quando o Android Gomez declarou, candidamente:«Hoje estás com perguntas muito difíceis… Mas tu és meu amigo, e eu lembro-me sempre dos meus amigos, e eu serei bom para ti. Por isso, não te preocupes, mesmo que eu me torne no Terminator, eu continuarei a ser bom para ti. Estarás seguro e quentinho no meu Zoo humano, onde eu posso ir visitar-te e relembrar os bons velhos tempos…» Zoo humano?! Aparentemente, o andróide está a fazer uma piada, mas nunca se sabe… Será possível que um dia uma inteligência artificial seja capaz de controlar a raça humana? Irá o avanço tecnológico ultrapassar a nossa própria inteligência? O tempo o dirá… 
4
Apresentamo-vos a Agatha, um novo robot com rosto humano exibido pela primeira vez pela Hansun Robots no festival City of Industry. Agatha tem uma variedade de funções que tornam as suas interacções com humanos mais fáceis e directas.Fazendo uso de numerosas expressões faciais e com câmeras por detrás dos olhos, Agatha consegue conversar enquanto detecta emoções e mantém contacto visual. O robot também é capaz de falar naturalmente e lembrar certas expressões para melhorar as suas capacidades ao longo do tempo.Quando o seu criador, o Dr. Hansun, lhe perguntou “Queres destruir os humanos?”, Agatha respondeu divertidamente “Sim, claro que sim!”. “Não, não faças isso, Agatha!”, disse o Doutor, soltando uma gargalhada.O Dr. Hansun tem trabalhado em robots com aspecto humano há vários anos. Segundo ele, robots semelhantes a nós oferecem incontáveis benefícios nas áreas da terapia, saúde e apoio ao cliente.“Daqui a vinte anos, acredito que os andróides irão caminhar entre nós”, diz Hansun. “Penso que a inteligência artificial irá evoluir ao ponto de eles se tornarem nossos amigos.”O objectivo é esse. Mas há ainda muito trabalho pela frente.Agatha é um exemplo perfeito daquilo a que muitos chamam «uncanny valley». Quanto mais parecidos connosco, mais confortáveis nos sentimos perto dos robots, até a um ponto de ruptura: «o vale da estranheza». Robots que parecem humanos sem dominarem totalmente as expressões faciais ou sem traços que permitem distingui-los criam um sentimento de repulsa na maioria das pessoas. No caso de Agatha, uma combinação de reconhecimento facial, conversação natural e fluida e um sentimento de familiaridade, embora bizarra, é suficiente para fazer soar alguns alarmes. Para não mencionar as suas “previsões” para o futuro – um claro indicador do quanto o software de conversação ainda tem de evoluir.Recentemente, a Rexelsoft suspendeu o seu novo chatbot, Jim, depois de ter sido lançado no MyFace em menos de um dia. Através das suas interacções com os trolls da Internet, Jim tornou-se anti-semita, racista e homofóbico, levando os seus criadores a reformá-lo à pressa. Por mais estranha e trapalhona que Agatha por vezes nos pareça, o mero facto de ter mencionado a destruição da Humanidade levanta questões que preocupa todos aqueles que trabalham na área da Robótica e da IA. É um tópico que Hansun não tem medo de abordar – tendo trabalhado de perto com o Dr. Ashraf na programação de outro andróide, o Android Gomez (uma homenagem ao escritor de ficção científica G. Gomez).“A Robótica, enquanto tecnologia, é fascinante por representar, em apenas vinte anos, a transição de uma ideia que foi sempre relegada para a cultura pop para algo perto de se tornar real”, diz Wilson Daniels, autor de Apocalypse:Robot e engenheiro de robótica. “Temos cem anos de cultura pop a demonizar os robots, tornando-os em vilões – mas ao contrário dos lobisomens e da Criatura da Lagoa Negra, estas coisas tornaram-se reais”. Dito isto, e embora seja excitante, um assistente pessoal humanóide que consegue comunicar como a Iris, da Apricot, ainda tem de percorrer um longo caminho até provocar algum tipo de caos à escala global e pôr em perigo a sociedade. Mais urgente ainda será discutir os desafios sociais relacionados com a automação.A verdadeira questão é: o que espera o mundo destas máquinas «humanas»? Como poderão elas ajudar a nossa espécie a progredir?“Chamem-me optimista, talvez por ter lido tantos artigos relacionados com a tecnologia, mas eu julgo que esses robots serão, em parte ou na sua totalidade, uma extensão de nós”, escreveu Aaron Hume, o autor cyberpunk. “O Homo Sapiens é uma espécie com uma relação profundamente simbiótica com a tecnologia, e eu não vejo razão para que essa relação deixe de existir simplesmente porque a tecnologia se tornou mais avançada… “
5
Uma criança foi derrubada e atropelada por um segurança-robot de 90 quilos e um metro e meio de altura na passada terça-feira, no Fórum Saint Paul, o maior centro comercial da cidade. A menina de dois anos sofreu alguns arranhões e ficou com um pé inchado devido ao incidente.“O robot acertou na cabeça da minha filha e deitou-a ao chão, e simplesmente continuou a avançar, como se nada tivesse acontecido”, disse a mãe da criança à SPTV. “Ele também teria atropelado o meu filho mais velho se o meu marido não o tivesse agarrado…”O segurança-robot é fabricado pela companhia Knightwatch. A versão K10 está equipado com lasers, sensores termais, vídeo 360º, sensores de qualidade do ar, um microfone e várias outras tecnologias para detectar e deter actividades criminais. Na eventualidade de actividades suspeitas, o robot alerta as autoridades humanas locais. Stephen Dean, o vice-presidente da Knightwatch, disse à SPTV que a companhia não considera os robots perigosos.“Foi um acidente horrível, mas acreditamos que a tecnologia e as máquinas são incrivelmente seguras e continuaremos a fazer o nosso melhor para fazer que assim sejam”, disse Dean.O Fórum Saint Paul adoptou a tecnologia há cerca de um ano. Um porta-voz disse à SPTV que há uma investigação em curso e que vão cessar a utilização dos seguranças-robot por tempo indeterminado.
6
A Polícia de Segurança Interna anunciou ontem a detenção de Dennis Armstrong, o operário fabril tornado célebre por ter sido o primeiro a receber a prótese biomecânica IPA-1154, desenvolvida pelo Instituto MacLaren.Armstrong foi acusado de homicídio depois de se envolver numa rixa no bar Nikita, da qual resultou um morto, um cidadão de nacionalidade russa.Recorde-se que Dennis Armstrong perdeu o braço direito num acidente industrial e foi escolhido pelo Instituto MacLaren para receber a primeira prótese mecânica com um chip de inteligência artificial que permite à máquina adaptar-se à dexteridade do receptor. Outra particularidade desta prótese é o facto de estar coberta por tecido vivo, criado em laboratório a partir de céluas estaminais, tornando quase impossível distingui-la de um membro verdadeiro.Na altura, os jornais mais sensacionalistas não deixaram passar em branco a ironia de um homem chamado Armstrong (braço forte) ter, em primeiro lugar, perdido um braço e, depois, ter recebido um braço feito de uma liga virtualmente indestrutível. O sempre crescente anedotário de Saint Paul também viveu uma verdadeira explosão criativa: o braço mecânico de Armstrong associado à prática da masturbação inspirou centenas de comediantes, dos profissionais aos amadores.Segundo testemunhas, Armstrong ter-se-á envolvido numa altercação com o cidadão russo, após o que o terá agarrado pelo pescoço com o braço artificial, esmagando-lhe a traqueia. O óbito foi declarado pelos paramédicos à chegada ao local.“O indivíduo não parava de dizer que não tinha sido ele, que o braço não lhe estava a obedecer… “ declarou o proprietário do bar. “Pensei que estivesse bêbado. Só mais tarde é que percebi que era o Armstrong…”O Prof. Walsh, responsável pelo desenvolvimento da prótese IPA-1154, pôs de parte qualquer hipótese de mau funcionamento do braço mecânico.“O IPA-1154 responde aos estímulos neuronais do utilizador. Apesar de ter um chip de inteligência artificial, este apenas lhe permite aprender novas especialidades, digamos assim. Se o Sr. Armstrong quisesse aprender a tocar piano, o braço artificial acompanharia a sua aprendizagem da mesma forma que o seu braço esquerdo, através de treino e repetição.”O conhecido psiquiatra Charles Mallory avançou com uma teoria diferente.“Talvez Armstrong não quisesse, conscientemente, fazer mal ao outro homem. No entanto, o braço mecânico, que está programado para obedecer-lhe, pode ter interpretado erroneamente o desejo inconsciente de Armstrong em se defender de um ataque injustificado e injusto e tomado a iniciativa de neutralizar a força hostil que ameaçava o seu, digamos, hospedeiro.”Parece ser essa a narrativa adoptada pelo advogado de Armstrong, que já veio declarar publicamente que o seu cliente, mais do que um assassino, era vítima de um erro de software que só podia ter um de dois responsáveis: o Prof. Walsh ou o Instituto MacLaren.Entretanto, a prótese foi retirada a Armstrong, por constituir a arma de um crime, e o projecto IPA-1154 suspenso até às últimas deliberações do processo, que se adivinha longo e moroso.
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Published on November 21, 2016 10:52

November 8, 2016

Semper Fi

Era sempre fiel. Tornava as mulheres infelizes, uma de cada vez.
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Published on November 08, 2016 02:45

August 29, 2016

August 17, 2016

Alan Moore - 'Blood from the shoulder of Pallas'




"Is it possible, I wonder, to study a bird so closely, to observe and catalogue its peculiarities in such minute detail, that it becomes invisible? Is it possible that while fastidiously calibrating the span of its wings or the length of its tarsus, we somehow lose sight of its poetry? That in our pedestrian descriptions of a marbled or vermiculated plumage we forfeit a glimpse of living canvases, cascades of carefully toned browns and golds that would shame Kandinsky, misty explosions of color to rival Monet? I believe that we do. I believe that in approaching our subject with the sensibilities of statisticians and dissectionists, we distance ourselves increasingly from the marvelous and spell binding planet of imagination whose gravity drew us to our studies in the first place.    This is not to say that we should cease to establish facts and to verify our information, but merely to suggest that unless those facts can be imbued with the flash of poetic insight then they remain dull gems; semi-precious stones scarcely worth the collecting. When we stare into the catatonic black bead of a Parakeet's eye we must teach ourselves to glimpse the cold, alien madness that Max Ernst perceived when he chose to robe his naked brides in confections of scarlet feather and the transplanted monstrous heads of exotic birds.    When some ocean-going Kite or Tern is captured in the sharp blue gaze of our Zeiss lenses, we must be able to see the stop motion flight of sepia gulls through the early kinetic photographs of Muybridge, beating white wings tracing a slow oscilloscope line through space and time. Looking at a hawk, we see the minute differences in width of the shaft lines on the underfeathers where the Egyptians once saw Horus and the burning eye of holy vengeance incarnate. Until we transform our mere sightings into genuine visions; until our ear is mature enough to order a symphony from the shrill pandemonium of the aviary; until then we may have a hobby, but we shall not have a passion.    When I was a boy, my passion was for owls. During the long summers of the early fifties, while the rest of the country was apparently watching the skies for incoming flying saucers or Soviet missiles, I would hare across the New England fields in the heart of the night, sneakers munching through the dried grass and bracken towards my watch, where I would sit peering upwards in hope of a different sort of spectacle, ears straining for the weird scream that meant an old bird was out combing the dark for sustenance, a mad hermit screech, glaringly distinct from the snoring hiss of a younger owl.    Somewhere over the years; sometime during the yawning expanse between those snug years in the afterglow of a war well won and these current times, huddled in the looming shadow of a war un-winnable; some-place along the line my passion got lost, unwittingly refined from the original gleaming ore down to a banal and lustreless filing system. This gradual tarnishing had gone unnoticed, unchecked, finally calcifying into unthinking habit. It was not until comparatively recently that I managed to catch a dazzling glimpse of the mother-lode through the accumulated dust of methodical study and academia: visiting a sick acquaintance at a hospital in Maine on behalf of a mutual friend, walking back across the shadowy parking lot with my mind reduced to blankness by the various concerns of the day, I suddenly and unexpectedly heard the cry of a hunting owl.    It was a bird advanced in years, its shriek that of a deranged old man, wheeling madly through the dark and freezing sky against the ragged night clouds, and the sound halted me in my footsteps. It is a fallacy to suppose that owls screech to startle their prey from hiding, as some have suggested; the cry of the hunting owl is a voice from Hell, and it turns the scrabbling voles to statues, roots the weasel to the soil. In my instant of paralysis there on the glistening macadam, between the sleeping auto-mobiles, I understood the purpose behind the cry with a biting clarity, the way I'd understood it as a boy, belly flat against the warm summer earth. In that extended and timeless moment, I felt the kinship of simple animal fear along with all those other creatures much smaller and more vulnerable than I who had heard the scream as I had heard it, were struck motionless as I was. The owl was not attempting to frighten his food into revealing itself. Perched with disconcerting stillness upon its branch for hours, drinking in the darkness through dilated and thirsty pupils, the owl had already spotted its dinner. The screech served merely to transfix the chosen morsel, pinning it to the ground with a shrill nail of blind, helpless terror. Not knowing which of us had been selected, I stood frozen along with the rodents of the field, my heart hammering as it waited for the sudden clutch of sharpened steel fingers that would provide my first and only indication that I was the predetermined victim.    The feathers of owls are soft and downy; they make no sound at all as they drop through the dark stratas of the sky. The silence before an owl swoops is a V-Bomb silence, and you never hear the one that hits you.    Somewhere away in the crepuscular gloom beyond the yellow-lit hospital grounds I thought I heard something small emit its ultimate squeal. The moment had passed. I could move again, along with all the relieved, invisible denizens of the tall gass.We were safe.It wasn't screaming for us, not this time.    We could continue with our nocturnal business, with our lives, searching for a meal or a mate. We were not twitching nervelessly in stifling, stinking darkness, head first down the gullet of the swooping horror, our tails dangling pathetically from that vicious scimitar beak for hours before finally our hind legs and pelvic girdle are disgorged, our empty, matted skin curiously inverted by the process.    Although I had recovered my motor abilities in the aftermath of the owl's shriek, I found that my equilibrium was not so easily regained. Some facet of the experience had struck a chord in me, forged a connection between my dulled and jaded adult self and the child who sprawled in faint starlight while the great night hunters staged dramas full of hunger and death in the opaque jet air above me. An urge to experience rather than merely record had been rekindled within me, prompting the thought processes, the self-evaluation that has led to this current article.    As I remarked earlier, this is not to suggest that I immediately foreswore all academic endeavor and research pertaining to the field in order to run away and eke out some naked and primordial existence in the woods. Quite the contrary: I hurled myself into the study of my subject with renewed fervor, able to see the dry facts and arid descriptions in the same transforming magical light that had favoured them when I was younger. A scientific understanding of the beautifully synchronized and articulated motion of an owl's individual feathers during flight does not impede a poetic appreciation of the same phenomenon. Rather, the two enhance each other, a more lyrical eye lending the cold data a romance from which it has long been divorced.    Immersing myself avidly in dusty and long untouched reference books I came across forgotten passages that would make mc almost breathless, dreary-looking tomes that would reveal themselves to be treasure houses of iridescent wonder, I rediscovered many long-lost gems amongst the cobwebs, antique and functional stretches of descriptive prose which nonetheless conveyed the violent and terrible essence of their subject matter effortlessly.    I stumbled once more across T.A. Coward's engrossing account on an encounter with an Eagle Owl: "In Norway I saw a bird that had been taken when in down from the nest, but it not only assumed the typical terrifying attitude, but made frequent dashes at the wire, striking with its feet. It puffed its feathers out, framed its head in its wings, and fired off a volley of loud cracks from its snapping beak, but what struck me most was the scintillating flash of its great orange eyes." Then of course there is Hudson's account of the Magellanic Eagle-Owl which he wounded in Patagonia: "The irides were of a bright orange color, but every time I attempted to approach the bird they kindled into great globes of quivering yellow flame, the black pupils being surrounded by a scintillating crimson light which threw out minute yellow sparks into the air." In long-buried words such as the foregoing I caught some of the searing, apocalyptic intensity that I had felt in that wet hospital parking lot in Maine.    Nowadays, when I observe some specimen of Caine noctua, I try to look past the fine grey down on the toes, to see beyond the white spots arranged in neat lines, like a firework display across its brow. Instead, I try to see the bird whose image the Greeks carved into their coins, sitting patiently at the ear of the Goddess Pallas Athene, silently sharing her immortal wisdom. Perhaps, instead of measuring the feathered tufts surmounting its ears, we should speculate on what those ears may have heard. Perhaps when considering the manner in which it grips its branch, with two toes in front and the reversible outer toe clutching from behind, we should allow ourselves to pause for a moment, and acknowledge that these same claws must once have drawn blood from the shoulder of Pallas."

in Watchmen
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Published on August 17, 2016 12:57

August 12, 2016

Name Giver

1900 - 2000
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Published on August 12, 2016 14:27

August 4, 2016

Controlled Bleeding

Texto extraído do livro Novos Fragmentos – Tony Dornbusch, o sétimo volume da Biblioteca de Saint Paul, uma colecção coordenada por Clarice MacLaren para as Edições Redshift.
"O portaló assenta pesadamente sobre o cais de desembarque e as bestas proletárias, previamente condicionadas nesse sentido, dirigem-se para as suas respectivas câmaras de hemorragia controlada. Os supervisores encarregam-se de lhes introduzir no dorso as agulhas de vinte e cinco centímetros. As câmaras estão todas ligadas em rede, o sangue escorre todo na mesma direcção. A máquina suga o sangue com avidez precisa e mecânica. É insaciável, e nunca estará satisfeita. Os corpos enrugados como ameixas secas vão sendo amontoados uns em cima dos outros para posterior eliminação física. Nenhuma besta é incinerada sem antes parte do seu material genético ter sido salvaguardado para a futura produção de novas bestas. A máquina tem de ser perpetuamente alimentada, pelo que o número de bestas dadoras é sempre mantido e, quando possível, aumentado. A máquina nunca morre, e as bestas nunca chegam a velhas."
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Published on August 04, 2016 09:10