Deana Barroqueiro's Blog: Author's Central Page, page 9

May 19, 2021

O Golias israelita contra os david palestinianos

 Será que o holocausto, sofrido pela geração dos avós e pais, não ensinou nada aos actuais israelitas?

Talvez porque a maioria não sofreu na pele esses horrores, não se coíbem agora de reproduzir os actos dos nazis nas expulsões dos palestinianos das suas casas e territórios (em Gaza há 2 milhões de palestinianos encerrados num território do tamanho do concelho de Sintra), metê-los em guetos murados e campos de refugiados (campos de concentração) ou bombardeá-los com fogo desproporcionado, que destrói e mata indiscriminadamente, perante a hipocrisia dos países seus aliados europeus e americanos. Segue o testemunho de Manuel Rosendo, jornalista da Antena 1 - RTP:

«E a Palestina tem direito a quê? O Presidente dos EUA, Joe Biden, falou ao telefone com o PM israelita, Benjamin Netanyahu. Disse depois que Israel tem o direito de se defender. Já sabíamos: Israel, como qualquer país, tem o direito de se defender. O que Joe Biden deveria ter incluído na sua mensagem - até para se demarcar da escola de Trump - é o direito que reconhece, ou não, aos palestinianos. Os palestinianos não têm direito de defesa?
Repor a verdade na sequência dos factos também é importante:Na origem desta onda de violência está a brutalidade israelita contra os palestinianos que celebravam o fim do Ramadão na esplanada das Mesquitas e a ameaça de despejo de famílias palestinianas de Sheikh Jarrah, Jerusalém Oriental. Foi o Hamas que respondeu aos ataques israelitas, não foi Israel que respondeu aos ataques do Hamas.
E há ainda uma pergunta que sempre fica fora dos debates, mas é o "pecado original" do conflito: um povo sob ocupação, a que defesa tem direito? Deve fazer o quê? Aceitar e calar? Esperar apoio de uma "comunidade internacional" com discursos bonitos, apelando à paz e ao calar das armas, mas nada faz para garantir que a Lei Internacional e as resoluções da ONU sejam cumpridas?
Um alerta: que ninguém tresleia estas palavras e veja nelas um apelo à violência.» Pode ser uma imagem de 1 pessoa, em pé e ao ar livre [image error][image error]15Ofelia Silva, Maria Coutinho e 13 outras pessoas1 partilha
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Published on May 19, 2021 05:15

May 15, 2021

GRANDES EMPRESÁRIOS OU ABUTRES PREDADORES DO PAÍS?

 O DIREITO À INDIGNAÇÃO NÃO MOVE OS CIDADÃOS

Vejo e ouço nas comissões de inquérito parlamentares um punhado de "grandes empresários portugueses" que devem centenas de milhões aos bancos, em empréstimos que não pagaram (nem pagarão), sem que nada produzissem para o desenvolvimento da economia do país. Inquiridos pelo Parlamento (que nos representa a todos), mostram a arrogância de quem se considera intocável, acima da lei, cometa os crimes que cometer, que se permite rir na cara dos deputados, troçando abertamente de todos nós, quando fingem uma amnésia total sobre as suas empresas e o destino dos milhões que levaram dos bancos e se esvaíram nos seus bolsos sem fundo. 
Uns, como o Presidente do Benfica, afirmam despudoradamente que foram testas de ferro de Ricardo Salgado nas negociatas de empresas falidas. Com tantos milhões que passaram para as suas contas, dizem nada ter de seu, senão uma barraca, uma moto d'água, uma garagem, ou que vivem com o ordenado mínimo (como eu ouvi dizer a Ricardo Salgado, denominado pelos media subservientes como "o dono disto tudo"). 
Esta gente é o cancro que corrói a sociedade e a democracia de um país. São bajulados pelos media e apoiados pelos governantes,  embora sejam um escárnio para o cidadão honesto que paga com esforço os seus impostos e outras obrigações, para a população que luta diariamente para sair da miséria e para todos os empresários cumpridores que procuram produzir bens e levar as suas empresas a bom porto, sem golpaças nem desvios de fundos para offshores. 
É pena que as redes sociais não lancem campanhas de indignação contra estes predadores da nação, em vez de o fazerem contra estátuas do passado. Estes empresários de pacotilha é que são os causadores da pobreza do país, da sua falta de recursos, do seu atraso, porque a Justiça portuguesa é lentíssima e impotente para os apanhar, deixando prescrever os seus crimes ou descartando provas. Eis alguns deles, embora haja muitos mais:
 LISTA DOS DEVEDORES DO NOVO BANCO 
A lista dos maiores devedores é preenchida por empresas lideradas com pessoas próximas de Ricardo Salgado, o ex-líder do Grupo Espírito Santo. Mais de metade do total desta dívida foi contraída por grupos ligados à construção e ao imobiliário. À cabeça encontrava-se o Grupo Mello, que detém as auto-estradas da Brisa e vários hospitais privados, com 945 milhões de euros. Segue-se a Ongoing, o grupo de Nuno Vasconcellos que foi arrastado na queda da Portugal Telecom e que muitos apontavam como sendo um testa de ferro de Salgado na empresa. A dívida da Ongoing ascendia a 606 milhões. 







Com 603 milhões de dívida ao Novo Banco estava o grupo Moniz da Maia, também ligado à construção e obras públicas. Segue-se a Martifer, com atividades no campo da construção e energia, com 560 milhões de dívida. Em seguida está a Promovalor, o grupo imobiliário liderado pelo presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, com 466 milhões de euros. Com 442 milhões de dívida estava a Macquarie Motorways, empresa de construção londrina detida por um grupo financeiro australiano. Com dívidas a rondar os 300 milhões de euros encontravam-se o empresário madeirense Joe Berardo, e as construtoras Prebuild, Grupo Lena e Obriverca. 
 Seguem-se a Pelicano (284 milhões), o construtor José Guilherme (267), a Legacy Investments Asset Group, sedeada num offshore “apanhado” nos Panama Papers detida por capital angolano, e o grupo Imatosgil (223), também envolvido no negócio ruinoso da CGD na empresa espanhola La Seda. Abaixo dos 200 milhões estavam dívidas do Sport Lisboa e Benfica (190), do grupo Previdente, de António Carlos de Almeida Simões (154), o grupo Temple do imobiliário de luxo de Vasco Pereira Coutinho (125), a Energia Limpia, com participação do GES e da Sapec (120), a brasileira Asperbras cuja filial no Congo era liderada por José Veiga. 
A lista dos 20 maiores devedores é fechada com o crédito de 47 milhões à EBD (antiga Espírito Santo Health & SPA). 

VENDA RUINOSA DO NOVO BANCO
O Banco de Portugal anunciou a venda de 75% do Novo Banco ao fundo abutre Lone Star. Dos 4900 milhões injectados directa e indirectamente pelos contribuintes, através de empréstimos ao fundo de resolução, nem um cêntimo será recuperado neste negócio. E o Estado ainda pode ser chamado a pagar mais por um banco que deixa de lhe pertencer. Dossier organizado por Luís Branco.
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Published on May 15, 2021 03:22

May 8, 2021

Prémio Internacional da Literatura Gastronómica 2021

História dos Paladares: I - Sedução, de Deana Barroqueiro, vence o Prémio Internacional da Literatura Gastronómica 2021, da Academia Internacional da Gastronomia (França) 2ª edição revista

NOTA À IMPRENSA 
Prémios da Academia Internacional de Gastronomia e moção de reconhecimento e de apoio à restauração, 2021A Academia Internacional de Gastronomia, reunida em Assembleia Geral no dia 5 Março, decidiu atribuir os seus prémios 2021. 
5 Prémios atribuídos a Portugal: 1. Prix au Chef de l’Avenir – Alexandre Silva – Restaurante Loco 
2. Prix au Sommelier – André Figuinha – Restaurante Feitoria 
3. Prix au Chef Pâtissier - João Picão - Restaurant Jncequoi 
4. Prix de la Littérature Gastronomique - "História dos Paladares " - Deana Barroqueiro 
5. Prix Multimédia – Programa "A nossa Cozinha" de Maria José de Sousa
Prémios Internacionais 1. Grand Prix de l'Art de la Cuisine Considerando a situação provocada pela pandemia foi, excepcionalmente, decidido atribuir 4 prémios ex-aequo a todos os nomeados, como homenagem a toda a actividade de restauração. 
A História dos Paladares I - Sedução É uma obra singular e ambiciosa, que não pode ser reduzida a uma vertente meramente histórica, embora principal, porque ela é muito mais do que isso, ao abarcar uma miríade de categorias, temas e estilos que a completam e lhe dão vida. Com Prefácio do Prof. Dr. João Paulo Oliveira e Costa, ed. Prime Books. 
É a história da evolução do gosto, que levou à educação do paladar e à eleição da gastronomia como uma arte, percorreu um longuíssimo caminho, desde a Idade da Pedra até aos nossos dias. Esse percurso é aqui narrado através de acontecimentos passados nos cinco continentes, estórias e mitos nacionais e universais, personalidades que reflectiram e influenciaram o mundo dos paladares (reis, filósofos, cientistas, escritores) e também receitas que atravessaram séculos ou mesmo milénios, por via oral, manuscrita ou impressa, através de incontáveis gerações, chegando quase inalteradas às nossas cozinhas. Uma história mundial, daí ser ambiciosa, mas também nacional e subjectiva, pelas escolhas pessoais da autora, que dá particular atenção a Portugal, nomeadamente, às influências exercidas e sofridas, na culinária e alimentação, tanto pelos portugueses como pelos povos que contactaram durante a nossa Expansão Marítima, como se pode ver ainda hoje, na gastronomia de muitas nações dos vários continentes, o cozido à portuguesa, o sarapatel ou o porco em vinha-de-alhos. 
 A vastidão do tema (fruto de um trabalho de 5 anos) levou a autora a dividir a sua obra em dois volumes, que se completam, embora com perspectivas distintas: este, da Sedução, acabado de sair, gira em torno dos paladares mais viscerais e que mais apelo fazem aos sentidos; e o da Perdição, ainda no prelo, que liga a Gastronomia a outras artes, como o cinema, moda, religião, e também ao prazer, fausto e tentação…
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Published on May 08, 2021 09:38

April 29, 2021

Sabores da Memória 13 com Deana Barroqueiro

Com a 2ª edição da História dos Paladares - I Sedução prestes a aparecer no mercado, convido os que se interessam pelo património gastronómico e pelos sabores da memória, a ouvir esta minha conversa com o Chefe João d'Eça Lima.
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Published on April 29, 2021 09:23

April 18, 2021

Deana Barroqueiro: Salvar personagens históricas do esquecimento

ENTREVISTA PELO JORNAL DE LETRASTem uma obra "absolutamente singular" no campo do romance histórico, ocupando agora o "lugar da grande mestria do desaparecido Fernando Campos", como assinala Miguel Real na crítica, á frente publicada, a 1640, acabado de sair. E é sobre este romance com mais de 800 páginas sobre o período da Restauração, 2º volume de uma trilogia cujo 3º será sobre os filhos de D. João IV, é sobre 1640 mas também sobre aquele género literário, e muito mais, que falamos com a escritora Maria Leonor Nunes  “Não vivo da escrita”, garante. “Vivo para a escrita”. Escrever é mesmo, para ela, uma espécie de bulimia, uma necessidade insaciável que “engole”, “devora” os seus dias. E são dias inteiros, às vezes 12 incansáveis horas, “colada” ao computador, consumidas por essa voragem. Até pela investigação histórica minuciosa e aturada que os seus livros implicam. E escreve-os sempre em simultâneo, pelo menos um par de histórias a correr ao mesmo tempo. Até que uma toma a dianteira e a arrebata de tal modo que a leva até ao fim.
Sempre romances, sempre históricos. Deana Barroqueiro, 72 anos, nem equaciona a hipótese de experimentar outro género. Tem a paixão da História, apesar de ter trabalhado sempre no domínio da Literatura. E procura resgatar ao esquecimento figuras “épicas” do passado, que viram a sua glória desvanecer-se na poeira dos tempos. Tal como enquadrar literariamente determinadas épocas, reconstituindo não apenas factos, mas também os costumes e as mentalidades. É o que faz em 1640, que agora chega às livrarias, numa edição Casa das Letras.
São mais de 800 páginas, em que efabula sobre o período da Restauração, cruzando quatro personagens, todas ligadas à palavra: o poeta Brás Garcia de Mascarenhas, a poetisa Soror Violante do Céu, o prosador Francisco Manuel de Melo e Padre António Vieira. Um romance em que as quis “reviver”, na primeira pessoa. 
Deana Barroqueiro nasceu nos Estados Unidos e veio para Portugal com dois anos. Licenciou-se em Literaturas e foi professora. Até que a sua curiosidade se cruzou com a História, situando-se entre os séculos XV e XVII. E sentiu que tinha muito que contar. Começou pelos Descobrimentos, com uma série juvenil e a trilogia de que fazem parte O Navegador da Passagem, O Espião de D. João II e O Corsário dos Sete Mares. Seguiu-se-lhes S. Sebastião e o Vidente, a que agora acrescenta 1640. Mas já pensa noutras personagens que “dão pano para mangas”.

Jornal de Letras: 1640 completa um díptico sobre a Restauração?
Deana Barroqueiro: Penso mesmo fazer um tríptico. D. Sebastião e o Vidente termina com a batalha de Alcácer Quibir e a consequente perda da nossa independência. Depois, segue-se o período conturbado dos Filipes e a Restauração, em 1640. E aí, pensei numa personagem, Brás Garcia de Mascarenhas.
Um herói da Restauração?
E o grande épico do século XVII, que quis salvar do esquecimento Foi a partir dessa personagem que o romance tomou forma? Comecei a escrever sobre o período que antecedeu 1640 e as convulsões que se seguiram. O tema era fascinante, mas difícil. Entretanto, tinha muito material sobre os Descobrimentos, porque tinha feito os sete volumes da coleção juvenil. E como tenho que estar sempre a trabalhar em mais de um livro ao mesmo tempo…
Porquê?
Para passar para outro, quando fico paralisada num, por causa de algum problema que surja no desenrolar da narrativa, ou porque me enjoo, porque não consigo estar a fazer a mesma coisa durante muito tempo. Por isso, gosto de escrever dois ou três romances em simultâneo. Até que um deles toma o freio nos dentes… Foi o que aconteceu, por exemplo, com O Navegador da Passagem, porque de repente começaram a surgir-me as figuras dos Descobrimentos.
De permeio com a história de 1640?
Sim. Até saíram também O Espião de D. João II e O Corsário dos Sete Mares, que completaram a trilogia. E entretanto, ia sempre voltando ao Brás Garcia de Mascarenhas. O romance ainda nem tinha nome.
O que a fez interessar-se por essa figura?
Gosto muito de dar aos leitores personagens verdadeiras da nossa História, os grandes valores, quase sempre literatos e que são hoje praticamente desconhecidos. Ainda estudei alguns, no meu tempo de estudante, mas foram caindo no esquecimento. Mas são figuras fantásticas. No D. Sebastião e o Vidente, por exemplo, não comecei por me interessar pelo rei.
Então?
Precisamente pelo vidente, Miguel Leitão de Andrada, escritor do século XVI, que escreveu um livro chamado Miscelânea, tal como Garcia de Resende, mas em prosa. Nele contava a sua ida para Alcácer Quibir com o rei. Apercebi-me que havia grande ligação entre essa figura praticamente desconhecida dos portugueses e o rei. Tinham, aliás, praticamente a mesma idade. Comecei a escrever o livro entrelaçando as vidas de ambos.
E Brás Garcia de Mascarenhas?
Era o mesmo tipo de figura, um pouco mais exacerbada, também desconhecida e injustiçada. Um poeta, guerreiro, apaixonado, com uma vida rocambolesca que se prestava muito à ficção.
Sentiu que tinha todos os ingredientes do herói.
Sim. Não se sabia muito sobre ele, o que me permitia ficcionar muito, mas sempre com a preocupação da História. A certa altura, conseguiram-me arranjar um livro que estava esgotadíssimo sobre ele, de António Vasconcelos. Foi uma fonte fantástica, que me permitiu avançar com o livro
Teve que fazer uma investigação muito apurada?
Até mais do que nos outros livros. Habitualmente, levo pelo menos três anos com cada livro. Este já vinha desde 2004, embora o tivesse interrompido muitas vezes. E sempre que o retomava, tinha que rever o que tinha escrito desde o início.
Por que o interrompeu tantas vezes?
Não sei, havia qualquer coisa que emperrava. Comecei por pôr Brás Garcia de Mascarenhas a contar os acontecimentos da sua perspetiva. Mas gosto sempre de dar vários ângulos, porque a vida tem muitas influências, relações, memórias. São essas correntes diversas que fazem viver também as personagens e os romances.
Como encontrou outras perspetivas?
Surgiu-me D. Francisco Manuel de Melo, um fidalgo militar com todas as questões da guerra associadas. A dada altura, senti que me faltavam as mulheres. E lembrei-me de Soror Violante do Céu, uma poetisa fantástica do tempo. Faltava-me de igual modo a parte diplomática e pensei em Padre António Vieira. Quando os encontrei a todos, senti que tinha quatro guias para fazer mergulhar os leitores naquele tempo riquíssimo e bastante trágico da nossa História. Interessava-me também dar a ideia do barroco, um período tão maltratado e fascinante. Mas para isso, precisava de uma estrutura para o romance, que pudesse dar o luxo e a miséria, as aparências e a realidade trágica das personagens, asfixiadas pelo domínio castelhano, pela Inquisição.
Como o resolveu?
Ocorreu-me a estrutura da Corte na Aldeia. Até porque, como a corte era em Madrid, Lisboa ficou uma verdadeira cidade de província. Os fidalgos mais abastados faziam pequenas cortes nos seus palacetes. E protegiam as artes, os poetas, os músicos. Uma das principais, a do duque de Bragança, em Vila Viçosa.

ELOS DE LIGAÇÃO
Que dificuldades sentiu com o curso da narrativa?
Sobretudo as ligações entre as diferentes personagens. Foi o que mais demorou a fazer, para não cair em falhas graves. Foi preciso perceber em cada momento onde estavam. A dada altura encontrei um elo de ligação.
Qual?
O facto de estarem todos presos. Pe. António Vieira está a contas com a Inquisição em 1663-1967, quando acaba o meu romance. Francisco Manuel de Melo esteve 12 anos preso na Torre de Belém e em Almada. Brás Garcia Mascarenhas também esteve preso várias vezes, embora escapasse sempre das formas mais fantásticas. E Soror Violante estava ‘presa’ no convento.
No caso de Soror Violante do Céu, o que a interessou?
Queria dar o domínio dos homens, a castração das mulheres, a vida dos conventos, onde, de resto, algumas mulheres iam encontrar alguma liberdade que não tinham em casa, nem na sociedade, o que lhes permitia realizarem-se como músicas ou poetisas. Quando tinham pais permissivos, quando muito frequentavam as universidades, mas vestidas de homens. Como sou muito feminista e acho que ainda estamos a pagar a fatura dos velhos testamentos e afins, tinha que dar o ponto de vista das mulheres, o seu sofrimento e também todo o lado cómico dos freiráticos, que é a parte mais atrevida do meu livro. Às vezes, quase coro ao lê-la… (riso) No fundo, procuro sempre tentar reviver as personagens da nossa História, que é riquíssima. 
O que mais a estimulou, do ponto de vista literário, em 1640?
O grande desafio foi pôr as personagens-guias a falar na primeira pessoa, sendo um poeta épico, uma poetisa lírica, um prosador e homem de teatro e o maior pregador de todos os tempos. Não podia ser maior o desafio. A dificuldade foi não usar uma linguagem demasiado contemporânea e, por outro lado, não complicar para que os leitores possam entrar bem nas suas falas. Por isso tive que ter mil cuidados e estar sempre a ver e rever as palavras, questionando-me se na altura já utilizariam determinado termo.
Uma espécie de reconstituição histórica também da linguagem?
Sim. Por exemplo, a hoje tão usada ‘geringonça’ apareceu-me num texto oficial do séc. XVII e caiu como sopa no mel…
Uma ‘piscadela de olho’ à atualidade?
Até senti que havia muitos pontos de contacto com a nossa época.
Políticos?
Na verdade, enquanto escrevia o livro, estivemos sob uma ‘troika’ e, na altura, também havia a ‘troika’ castelhana a apertar a garganta do país, as pessoas a viverem na miséria, com muitas dificuldades, desprezadas, humilhadas e uma enorme revolta. E sempre aquela velha história que era preciso passar-se mal para o país ir para a frente. Afinal, o país estava a ser roubado e explorado por Espanha e por todos os países que até tinham sido nossos aliados, mas então exploraram o mais que puderam. Luísa de Gusmão disse que Portugal era como um pássaro a quem estavam a arrancar as penas das asas. E, por outro lado, está agora muito em voga um tema que é muito explorado no meu romance, a independência da Catalunha. Foi graças à revolta catalã que conseguimos levar a nossa avante.

ESPÍRITO DA ÉPOCA
Afirma que só escreve romances históricos. Porquê?
Divirto-me imenso, e escrever romances históricos permite-me estudar, que é uma coisa que mesmo aos 72 anos não consigo parar de fazer. Sempre tive essa curiosidade e vontade de conhecer.
E como veio do mundo da Literatura para o da História? Como era professora de Português, de língua e de Literatura, senti a necessidade de saber História para saber ensinar sobre os autores e as suas épocas. Tinha que saber muita História para ser uma boa professora de Literatura. Sobretudo das mentalidades. É isso que quero passar para os meus romances, não só os factos, os pormenores dos acontecimentos, mas o espírito da época, a maneira como as pessoas pensavam, sentiam e reagiam no seu tempo. E que evidentemente era muito diferente da nossa.
Não gostaria de experimentar outro tipo de romance?
Não. Vou escrever romance histórico até ao fim da minha vida. Mas interessa-me o género tal como aprendi, como se classificava na Literatura, um romance que permite ao leitor conhecer uma época, um acontecimento, uma determinada mentalidade. Não aceito as correntes modernas, segundo as quais o romance histórico pode ser tudo. Claro que, de alguma maneira, tudo é histórico, inclusive um romance sobre o que se passou esta semana. Mas, para mim, tem que passar conhecimento. Até para que o leitor acredite no autor da obra. Para isso, é preciso muita investigação. Ideias nunca me faltaram, mas o conhecimento de uma época leva-me sempre anos e anos. Fico colada ao computador por vezes 12 horas por dia e muitas vezes leio um volume de 400 páginas só para confirmar uma ideia ou tirar uma frase.
 
Por que escolheu trabalhar sempre o período entre os séculos XV e XVIII?

Apesar de conhecer bem igualmente a época medieval, apaixonou-me o Renascimento, o Barroco, os Descobrimentos, por ser o nosso século de ouro. Apesar de não ser tão conhecido como se possa pensar e de muitas vezes ser encarado como um período negativo. O português tem muito o costume de falar daquilo que não sabe. A ‘achologia’ é uma ciência muito nossa, e é uma pena. Porque temos que reconhecer os nossos erros e falhas, mas assumir o nosso passado. Sem o fazer, não conseguimos estar seguros no presente e perspetivar o futuro. Se os nossos políticos soubessem mais da nossa História, talvez nos governassem melhor.

Por exemplo, o que se passou em 1640….
Com o meu romance podiam aprender muito. Até devia ser uma cartilha para o Governo… (riso) Mas talvez não tenham coragem para ler um livro tão grande. Porque não sei se escrevo bem ou mal, mas faço um trabalho seríssimo de investigação e esse é o meu orgulho e a mais-valia dos meus romances.
Já está a escrever o terceiro romance da trilogia?
Ainda não comecei. Será sobre os filhos de D. João IV, o que dará também muito pano para mangas. São figuras que já foram tratadas por outros autores, mas espero fazê-lo de uma forma diferente. E cada escritor fará, como se sabe, o que lhe dita o coração ou a alma. E muitas vezes a moda. Nem todos, felizmente. Mas já estou a escrever outros livros. Não posso estar sem escrever. Não vivo da escrita, mas para a escrita. A escrita é que me engole e me gasta.

Que outros livros?
Um livro histórico de culinária. Não é, claro, um livro de cozinha, apesar de ter receitas, porque há muitos livros de cozinha e bons chefs por aí. Também não tem a ver com a história das receitas, antes das sensações ligadas à comida e que podem ligar à arte, por exemplo. Ou ao cinema… Já vai em 300 páginas. Espero que saia na altura da Feira do Livro. O outro é um diário de um navegador de que, por enquanto, vou guardar segredo. JL
Deana Barroqueiro “Vou escrever romance histórico até ao fim da vida”Gosto muito de dar aos leitores personagens verdadeiras da nossa História, os grandes valores, quase sempre literatos e que são hoje praticamente desconhecidos
Jornal de Letras - 1640 - romance histórico - Restauração - Barroco - Barroqueiro
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Published on April 18, 2021 11:11

March 18, 2021

Sabores da Memória 13 - Deana Barroqueiro

Uma entrevista que me fez o chefe João d'Eça Lima sobre a memória dos paladares. É notável o trabalho de informação que tem feito, na sua página do Facebook, a favor da nossa gastronomia, nestes tempos cruéis do confinamento.
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Published on March 18, 2021 06:55

March 15, 2021

“Las mujeres detrás del trono” cambiando el curso de la historia

Deana Barroqueiro, convidada pela Embaixada de Portugal na Venezuela, para uma palestra de comemoração do Dia da Mulher.
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Published on March 15, 2021 02:49

March 11, 2021

CASA DAS RAINHAS DE PORTUGAL

 Data, pelo menos, do segundo reinado a fundação da casa das rainhas. Quase sempre estiveram afectas à casa das rainhas as vilas de Alenquer, Óbidos, Sintra, Chamusca e outros lugares. Tinham as esposas dos reis de Portugal todos os proventos e rendimentos destas terras, tendo a seu cargo a nomeação dos ofícios e a administração desses feudos, mas o senhorio iminente ficava geralmente reservado ao monarca. As rainhas tinham ainda outros rendimentos, tais como tenças sobre a receita das alfandegas, vintena do ouro de certas minas, etc. Com frequência os rendimentos eram arrematados a particulares. 

 A casa das rainhas, que até 1769 tinha uma administração especial e independente, passou, por ordem do marquês de Pombal, em 25 de Janeiro de 1770, a ser administrada pelo erário. Os rendimentos entravam no erário e as despesas pagavam -se segundo o determinado pelos decretos e ordens da rainha. Nas verbas de saída o tesoureiro do erário declarava qual o destino das quantias que pagava, excepto quando o dinheiro era para o bolsinho da rainha; neste caso o tesoureiro da coroa lançava, nas suas saídas, a quantia entregue ao tesoureiro da rainha, declarando que de tal verba não tinha este último que dar contas. A casa das rainhas foi extinta por D. Pedro IV, por decreto de 9 de Agosto de 1833, e seus bens incorporados na fazenda nacional. Desde então as rainhas de Portugal tiveram uma doação votada pelas cortes. 

 QUADRO DO PESSOAL DA CASA E ESTADO DAS RAINHAS 

Pessoal feminino (chegou a cerca 200 pessoas): 1 Camareira -Mor; 4 Damas de honor; 22 Damas; 6 Damas da câmara; 33 Açafatas; 34 Moças retretas; 1 Engomadeira; 2 Enfermeiras; 40 Moças de lavar; 24 Moças de quartos; 15 Porteiras; 3 Lavadeiras; 1 Moça de candeeiros; 12 Moças sem emprego certo.

 Pessoal masculino (cerca de 70 pessoas):
1 Estribeiro-mor; 5 Veadores; 1 Secretario;1 confessor; 1 Estribeiro-menor; 1 Mestre de picaria; 1 Comprador da guarda-roupa; 1 Estribeiro-mor da princesa; 5 veadores; 10 Porteiros das damas; 5 Varredores; 14 Moços da portaria das damas; 1 Capelão das damas. 1 Sapateiro; 1 Manteeiro; 1 Escrivão das cavalariças; 1 Fiel das ditas; 1 Moço do escrivão; 1 Alveitar; 7 Moços das cavalariças.

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Published on March 11, 2021 07:42

DOTES E ARRAS DAS RAINHAS

A "compra do corpo" era diferente dos dotes e arras. Até D. Afonso III os casamentos faziam-se por carta de metade ou de arras. As mulheres traziam apenas algum fato ou objectos móveis; eram os maridos que davam dote ou arras. Tal uso estava em harmonia com o código visigodo, que vigorou até ao século XIII. O esposo fazia á sua consorte certa doação pela compra do seu corpo. 
«Foi pelos fins do século XIII que começou a introduzir-se em Portugal a jurisprudência romana sobre casamentos, dando os pais ou tutores um dote à noiva. A primeira rainha de Portugal em cujo matrimonio se vê claramente a jurisprudência romana é Santa Isabel, mulher do rei D. Dinis; Isabel de Aragão foi com efeito a primeira rainha de Portugal que propriamente recebeu dote de seu pai. O marido também lhe fez doação de várias terras. 
«As rainhas de Portugal até ao reinado de D. Pedro I gozavam as arras logo que casavam e por toda a vida. Tinham as rendas e direitos reais, e nomeavam os oficiais fiscais das vilas, e às vezes os alcaides, reservando-se, porém, geralmente o rei o senhorio eminente ou superior dessas terras.» 
As arras eram os bens dados pelo marido, dependente da importância do dote que trazia a mulher, por quanto não deviam exceder a terça parte desse dote.  «O casamento contratava-se por carta de arras, ou por carta de metade. Vê-se que em algumas vilas o costume determinava a primeira forma — deixando a lei, contudo, ao arbítrio do marido escolher de preferência a segunda — ao passo que em outros lugares era costume serem os cônjuges meeiros nos bens, de sorte que por morte de um deles, o outro ficava com a metade que lhe coubera, podendo o que falecia testar livremente da outra quando não ficavam filhos ou outros herdeiros forçados.» Além das arras faziam os reis a suas mulheres doações voluntarias não sujeitas a regras fixas. 
Rainha Santa Isabel
AS RAINHAS ASSINAVAM OS DOCUMENTOS OFICIAIS 
Nos primitivos tempos da monarquia nos documentos importantes, como alienação de bens da coroa, doações, privilégios, etc., figurava o nome do rei, da rainha, dos infantes, prelados e principais magnates. Durou isto até ao reinado de D. Diniz. 
As quatro primeiras rainhas de Portugal figuram em todos os diplomas importantes de seus maridos. O nome da rainha acha-se geralmente em cima, no princípio do documento, logo depois do rei; algumas vezes aparece no fim do diploma. Acontecia também frequentemente estar no fim do documento outra vez o nome da rainha outorgando o que o rei mandava ou pondo limites ao que consentia. 
Ainda no tempo de D. Afonso II e de D. Diniz tinha bastante importância a anuência da rainha nos documentos públicos, a ponto de se ver figurar o nome da esposa dos monarcas em diplomas de doações feitas pelos reis a suas amantes ou a seus filhos bastardos, um costume que termina com a Rainha D. Isabel, mulher de D. Dinis. . A primeira rainha de Portugal que assinou documentos e de quem conhecemos a letra, foi D. Leonor Telles de Menezes, mulher de D. Fernando I. 
(Fonte; "Rainhas de Portugal" - Fonseca Benevides; outros)
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Published on March 11, 2021 03:31

INFLUÊNCIA DAS RAINHAS POR TRÁS DO TRONO

D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques
 Das rainhas não reinantes, algumas houve que tiveram grande influência na política em Portugal, mas nem todos os monarcas deram a suas mulheres grande ingerência no governo. Na consorte procuravam em geral os soberanos quase que exclusivamente a sucessão ao trono, alguns o amor, poucos lhes deixaram tomar grande influência na politica e na governação do estado. 

Tiveram grande influência nos negócios em Portugal especialmente três rainhas; D. Teresa, mulher do conde D. Henrique; D. Leonor Telles, mulher de D. Fernando I; e D. Carlota Joaquina, mulher de D. João VI. Contudo, grandes diferenças, porém, caracterizaram a política d'estas três rainhas:

D. Leonor Teles, a "Aleivosa" A primeira lançou as bases da independência de Portugal; a segunda e terceira conspiraram contra o seu país. D. Teresa lutou contra o poder de Leão e Castela para consolidar os fundamentos do novo estado; D. Leonor Telles à sua ambição sacrificou a independência da sua pátria; D. Carlota Joaquina, à procura de uma regência que sempre lhe escapava, não hesitou em conspirar contra o governo de seu esposo e contra a liberdade do reino. D. Teresa governou Portugal quatorze anos como regente, sustentando e afirmando a independência do novo estado, arrojadamente desmembrado da monarquia leonesa; D. Leonor Telles governou Portugal pela fraqueza de seu esposo e, depois de viúva, ainda foi regente alguns meses, sucumbindo à revolta dos portugueses comandados pelo mestre de Aviz, e à oposição dos castelhanos, que não tinha hesitado em chamar em sua ajuda. D. Carlota Joaquina, de intriga em intriga, de conspiração em conspiração, acusada pela opinião publica de não recuar mesmo perante o crime, não logrou, contudo, obter a regência que tanto ambicionava. 

D. Carlota Joaquina

Fora estas tiveram mais ou menos ingerência nos negócios do estado: D. Mecia Lopes de Haro, mulher de D. Sancho II; D. Beatriz de Gusmão, segunda mulher de D. Afonso II; Santa Isabel, mulher de D. Dinis; D. Leonor de Aragão, mulher de D. Duarte; D. Leonor de Lencastre, mulher de D. João II; D. Catarina d'Áustria, mulher de D. João III; D. Luiza de Gusmão, mulher de D. JoãoIV; D. Maria Francisca de Sabóia, mulher de D. Afonso VI e, depois, de D. Pedro II; D. Mariana d'Áustria, mulher de D. João V; D. Mariana Victoria, mulher de D. José I.

(Fonte: "Rainhas de Portugal"; outros)

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Published on March 11, 2021 03:13