Deana Barroqueiro's Blog: Author's Central Page, page 10
March 10, 2021
RAINHAS DE PORTUGAL DESDE 1094
Desde o início da monarquia para 32 reis tivemos 41 rainhas
- 2 foram as rainhas reinantes: D. Maria I e D. Maria II. - 31 estiveram casadas em tempo em que seus maridos governaram Portugal, - 8 nunca chegaram a ser rainhas porque morreram (5) ou casaram quando os maridos já não eram reis (3).- 9 nunca estiveram em Portugal.- 1 foi repudiada uma: D. Matilde de Bolonha, primeira mulher de D. Afonso III. - - 2 não se consumaram dois matrimónios: O de D. Afonso v com D. Joana de Castela, a Excelente Senhora e o de D. Afonso VI com D. Maria Francisca de Sabóia. - 1 foi coroada rainha depois de morta: D. Inês de Castro, segunda mulher de D. Pedro I
FORAM REGENTES OU ESTIVERAM ENCARREGUES DO GOVERNO DE PORTUGAL, 9 RAINHAS: - D. Teresa de Leão, mulher do conde D. Henrique, na menoridade de seu filho, D. Afonso Henriques, 1114-1128. - D. Beatriz de Gusmão, segunda mulher de D. Afonso III, na menoridade de seu filho, o rei D. Diniz, 1279. - D. Leonor Telles de Menezes, mulher de D. Fernando I, governadora e regedora do reino da ausência de sua filha, D. Beatriz, mulher do rei D. João I de Castela, 1383. - D. Leonor de Aragão, mulher de D. Duarte I, na menoridade de seu filho, o futuro rei D. Afonso V, 1438-1439 (regência disputada pelo Infante D. Pedro, filho de D. João I, 1439-1448). - D. Leonor de Lencastre, mulher do príncipe D. João, que foi depois o rei D. João II, filho de D. Afonso V, na ausência do sogro e do marido, na guerra, 1476. E, já rainha, durante a doença de seu marido. E, ainda depois de viúva, na ausência de seu irmão, o rei D. Manuel I. - D. Catarina d'Áustria, mulher de D. João III, na menoridade de seu neto, o rei D. Sebastião I, 1557-1562. - D. Luiza de Gusmão, mulher de D. João IV, durante a doença de seu marido, 1643. E durante a menoridade de seu filho, o rei D. Afonso VI. 1656-1662.- D. Mariana d'Áustria, mulher de D. João V, durante a ausência de seu marido, em 1716, e durante a doença do mesmo em 1742-1750 - Rainha D. Mariana Victoria de Bourbon, mulher de D. José I durante as doenças de seu marido, 1758, 1776-1777.
TAMBÉM FORAM REGENTES DE PORTUGAL AS PRINCESAS: - D. Joana (santa Joana), filha de D. Afonso V, na ausência de seu pai, 1471. - D. Catarina de Bragança (Rainha da Grã-Bretanha), filha de D. João IV de Portugal e viúva de Carlos I de Inglaterra, durante a ausência de seu irmão, o rei D. Pedro II, em 1704 e durante a doença do mesmo, em 1705.
EDUCAÇÃO DA MULHER NA IDADE MÉDIA E RENASCIMENTO
A percepção das mulheres como inferiores ao homem, necessitando de vigilância masculina, remonta no Ocidente à Antiguidade Clássica e intensificou-se com o Velho Testamento, o livro sagrado das três principais religiões monoteístas, com as suas sociedades patriarcais de há mais de três mil anos. Concepção reforçada pelos evangelistas misóginos e temerosos da influência e poder das mulheres. A educação da mulher, como esposa, mãe e filha, devia extirpar os seus "vícios" e "danos" e colmatar a sua inferioridade natural para justificar a sua total submissão ao homem e ausência de direitos. A castidade era a principal prenda e virtude sobretudo para as princesas e rainhas, seguida da obediência. Silêncio ou diminuta visibilidade da "expressão" feminina em épocas passadas, em que grande parte das informações sobre a sua vida e atitudes são indirectas, quase todas testemunhos de origem masculina e muito contraditórias, na maior parte dos casos, restringidas aos grupos sociais mais influentes e poderosos, com argumentos, mesmo extremos, nomeadamente os que acentuavam os "vícios" e "malefícios" atribuídos à mulher.
Ao mesmo tempo e em contracorrente aparecem, nos finais do século XV e inícios do século XVI, de obras em defesa das mulheres, em particular das "ilustres", mencionando a importância da educação feminina, embora apenas na formação das princesas e grandes senhoras, que seriam espelhos das outras.
Alguns autores apontam as obras misóginas clássicas que, em vez de dar a mão às mulheres , lhes deram com os pés: em vez de as instruírem e ensinarem, escolheram repreendê-las e vituperá-las, para melhor as dominarem, como já tinham feito, entre os gregos, Eurípedes: e entre os latinos, Juvenal, e também outros poetas satíricos posteriores como Boccacio.
Luis Vives diz na sua obra “A Educação da mulher cristã”: «Al hombre muchas cosas le son necesarias; verbigracia: la prudencia, el bien hablar, la ciencia politica, la memoria, el talento, el arte de vivir, la justicia, la liberalidad, la magnanimidad y otras cosas que sería prolijo enumerar. Si le falta alguna de éstas parece menos de culpar, con que tenga algunas. Empero en la mujer nadie busca la elocuencia, ni el talento, ni la prudencia, ni el arte de vivir, ni la administración de la República, ni la justicia, ni la benignidad; en suma: nadie reclama de ella sino la castidad, la cual, si fuere echada de menos, es igual que si al hombre le faltaren todas. La castidad en la mujer hace las veces de todas las virtudes.»
NOBRES, INFANTAS, PRINCESAS E RAINHAS 
As infantas e as princesas eram os espelhos das outras, quase não tinham infância, preparadas desde o berço para serem esposas de governantes que nunca tinham visto até ao dia do seu casamento, fossem velhos, viúvos, déspotas ou loucos, em países distantes e estranhos. Outras vezes, por tratados da aliança, foram levadas nos primeiros anos da sua infância, com as suas aias, criadas e amas, para viverem nessas cortes estrangeiros, longe da sua família, até à idade núbil (por volta dos 12 anos) para consumarem o casamento. Estudavam religião, etiqueta da corte, artes como bordados, dança e música, aprendiam latim e outras línguas, como o espanhol ou o francês, assim como ciências, política e governação se tivessem “ânimo varonil”, etc.
March 6, 2021
LAS MUJERES DETRÁS DEL TRONO
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ID de reunión: 914 9125 1951 | Código de acceso: 531522
La Embajada de Portugal en Caracas conmemora el Día Internacional de la mujer con una conferencia histórica “Las mujeres detrás del trono” , a cargo de la escritora Deana Barroqueiro El 8 de marzo se celebra el Día Internacional de la Mujer, un día para luchar por la igualdad, la participación y el empoderamiento de la mujer en todos los ámbitos de la sociedad. Esta es una oportunidad para resaltar los progresos realizados hacia la consecución de la igualdad de género, la consolidación de las mujeres logrando reflexionar críticamente sobre estos logros y trabajando para obtener más dinamismo global.
Este año la Embajada de Portugal en Caracas junto con el Instituto Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, la ”Coordenação de Ensino Português no Estrangeiro” (CEPE Venezuela) y el Correio da Venezuela, han organizado esta conferencia a cargo de la escritora Deana Barroqueiro, reconocida por sus novelas históricas ambientadas en la época de los descubrimientos portugueses y el Renacimiento. Esta cita con la historia contará con la introducción del embajador de Portugal Carlos Amaro y el profesor Rainer Sousa coordinador de la Enseñanza de la Lengua Portuguesa del Instituto Camões.
Deana Barroqueiro es autora de numerosas novelas y cuentos inspirados en personajes reconocidos de la historia. Su minuciosa investigación la lleva a recrear con gran detalle los entornos donde se desarrollan las historias, haciendo que sus lectores viajen en el tiempo y el espacio y vean lo que veía el aventurero, observar la extrañeza de lugares y costumbres, sufrir la misma sorpresa y miedo de los héroes, escuchar los mismos sonidos, oler y saborear los mismos manjares. "Los hombres en lugar de dar la mano a las mujeres, les dieron el pie: no instruyéndolas ni enseñándolas sino adoctrinándolas y vituperándolas”. (Juan Justiniano)
Sobre la conferencia Deana nos comenta: “En pleno siglo XXI, cuando entramos en la tercera década del tercer milenio, en que se son enviadas sondas a Marte, pareciera bizarro que aún estemos hablando de sociedades misóginas, déspotas y paternalistas y de una continua lucha de las mujeres por sus derechos, en particular el de la igualdad ante los hombres con quienes comparten el mundo. Durante milenios, y en muchas sociedades, las mujeres fueron y aún siguen siendo consideradas inferiores a los hombres, los cuales pueden disponer de ellas conforme les plazca, maltratándolas, confinándolas al hogar, a los trabajos domésticos y a las principales funciones de esposas y madres. Representadas por varias religiones como encarnaciones del pecado, seres débiles, sujetos a tentaciones y capaces de todas las perfidias, las mujeres tendrían que ser siempre vigiladas y sujetas a los hombres – padres, esposos, hermanos u otro pariente masculino cercano -, desde su nacimiento hasta su muerte, a menos que eligiesen el convento. Se trata de un destino común a todas las mujeres, con muy raras excepciones, aún en las clases más altas, lo que incluye a las princesas y reinas. En Portugal algunas de estas esposas e hijas de reyes supieron operar en las sombras del trono, influyendo y cambiando el curso de la historia. Otras arriesgaron su destino rebelándose y pagaron un precio muy alto por esa osadía, como, de hecho, les contaré, si desean tener paciencia y la bondad de escucharme.”
#IWD2021 #InternationalWomensDay #Igualdade @deana_barroqueiro @Cepe.Vzla #CEPEVzla
January 25, 2021
ARTIGO DO PÚBLICO SOBRE A HISTÓRIA DOS PALADARESo
O artigo de Alexandra Prado Coelho na Revista Fugas, do Público, de 23 de Janeiro 2021, sobre a História dos Paladares, Vol. I- Sedução
December 21, 2020
CRÍTICA DE GASTRONOMIA NO FUGAS (PÚBLICO)
CRÍTICA DO GASTRÓNOMO FORTUNATO DA CÂMARA NA REVISTA DO EXPRESSO
«O lote de letras gastronómicas deste ano faz-se de quatro castas: literatura, investigação, antropologia e ciência»
TEXTOS FORTUNATO DA CÂMARA
Quem somos e do que é que gostamos enquanto seres humanos? Como é que as receitas que julgamos serem ‘as de sempre’ nos moldaram a cozinha dita tradicional? Ou porque é que temos a ameixa de Elvas como um património alimentar, ainda que saibamos pouco acerca da sua origem, e as algas nos pareçam tão distantes sendo um alimento quase omnipresente na costa portuguesa? Há perguntas que se calhar nunca fizemos até as vermos formuladas, mas é bom saber que há livros que as tentam esclarecer. O vírus estará mais longe de quem estiver sentado no recolhimento da sua casa, de mente curiosa e a ler um livro com as mãos a exalarem perfume a álcool-gel... A sugestão que se segue talvez funcione como ‘retroviral’.
UMA FESTA SEDUTORA DE PALAVRAS SABOREADAS
O calibre literário da primeira sugestão está intimamente ligado ao percurso da sua autora. Deana Barroqueiro tem um percurso sólido enquanto escritora de romances históricos, e agora com o lançamento desta “História dos Paladares” acrescenta requinte gustativo à sua prosa literária. A obra de fôlego, que ultrapassa as 460 páginas, divide-se em onze capítulos numa ordenação incomum onde se agrupam paladares: Lêvedos / Fintos / Alentadores (Capítulo II); Doces / Melosos / Sacarinos (Capítulo VI); Cremosos / Coalhados / Bolorentos (Capítulo X), só para citar alguns exemplos. O que se verifica é que a autora detalha com humor e deleite um miríade de ‘paladares’ alinhados ao longo da história, baseada numa extensa lista bibliográfica de fontes que surgem no final da obra.
As centenas de textos de pequena e média dimensão vão desfilando intercalados com inúmeras receitas, algumas oriundas de livros conhecidos, sendo outras de recolha livre e popular. O alinhamento dos conteúdos assemelha-se a vórtice informativo que nos impede de interromper a leitura, numa espécie de festim de saberes e sabores que não queremos que termine. Nos subtítulos ora surgem citações de autores célebres ou ditados de cariz popular, muitas vezes num registo bem-humorado.
Algumas rubricas como “Uma História de Pasmar” ou “História da Nossa História” são recorrentes e funcionam como um complemento a um dos ‘paladares’ que está a ser dissecado. Uma dessas histórias de pasmar, como a própria autora a classifica, é “o azeite Herculano” que o escritor Alexandre Herculano produzia na sua quinta em Santarém, e que acabaria por ser premiado em certames internacionais, a ponto de ser alvo da cobiça pela qualidade que tinha. Segundo conta a autora, a empresa Jerónimo Martins & Filho Lda. chegou a falsificar azeite Herculano, comprando depois os direitos de comercialização do azeite ao escritor.
É de um grande banquete gastronómico, repleto de referências históricas, com várias culturas e épocas em pano de fundo que trata esta “História dos Paladares”. Sob a égide da “Sedução”, pois é nesse domínio envolvente que os temas são tratados ao longo da obra, Deana Barroqueiro seduz o leitor a percorrer de forma incessante este seu anunciado Volume I. Quanto ao segundo tomo, que irá ser regido sob a égide da “Perdição”, a autora promete estabelecer a relação entre a gastronomia e as artes. De momento este faustoso repasto de conhecimento promete saciar a curiosidade de muitos.
December 8, 2020
Encuentro con Deana Barroqueiro - 1er. Encuentro Virtual de Escritores L...
December 2, 2020
1º ENCONTRO VIRTUAL DE ESCRITORES LUSÓFONOS NA VENEZUELA
DEANA BARROQUEIRO REPRESENTA PORTUGAL
DIA 8 DE DEZEMBRO, ÀS 21 HORAS
No próximo dia 8, terça-feira, Deana Barroqueiro participa, como representante de Portugal, no 1º Encontro Virtual de Escritores Lusófonos, promovido pelo Instituto Camões e pela Embaixada de Portugal, na Venezuela, o qual vai decorrer de 8 a 12 de Dezembro, pelas redes da Coordenação para o Ensino da Língua Portuguesa na Venezuela.
As entrevistas dos escritores serão transmitidas por YouTube:
Coordenação de Ensino Português no Estrangeiro Vzla Facebook: Cepe Vzla Instagram: @cepe.vzla E pelas redes do Correio da Venezuela
November 26, 2020
1640 - UM RETRATO DA RESTAURAÇÃO DE PORTUGAL
A poucos dias do 380º Aniversário da Restauração da Independência Portuguesa do domínio espanholNo romance «1640», ao escolher para guias do leitor, quatro dos maiores mestres e cultores da língua portuguesa, fui forçada a meter-me na pele (ou a meter sob a minha pele) o épico Brás Garcia de Mascarenhas, a poetisa lírica Soror Violante do Céu, o maior prosador ibérico seiscentista D. Francisco Manuel de Melo e o pregador António Vieira, que deslumbrava pelo virtuosismo da expressão. Quatro narrações feitas em 1ª pessoa, que constituíram, para a escritora, um tremendo desafio, mas também um prazer sem limites.
O romance está construído como um puzzle ou uma teia de intertextualidades documentais, geográficas, literárias, filosóficas, religiosas, sociais e culturais, para envolver o leitor, de modo a que ele possa sentir o prazer estético da leitura, aprofundando em simultâneo o seu conhecimento da época em que decorre a acção. No século XVI, passada a euforia da grande odisseia dos descobrimentos de outros mundos até então encobertos aos europeus, a crise endémica portuguesa, provocada pelos problemas políticos, económicos e sociais, vai culminar no desastre de Alcácer-Quibir e na posterior anexação de Portugal por Espanha.
O romance 1640 reflecte esses tempos de crise e da vida problemática das suas gentes. Sendo obra de ficção, tem como principal objectivo o prazer estético da leitura, por isso o escritor frui de uma liberdade criativa que é negada ao historiador; contudo, enquanto género histórico, o romance exige uma componente de informação e conhecimento da História que o distingue e singulariza em relação a todos os outros tipos de romance. O que, para ser feito com honestidade intelectual e respeito pelo leitor, implica da parte do seu autor um estudo de alguns anos, não só dos factos narrados, mas sobretudo da sua contextualização, nos múltiplos aspectos de cada época e da mentalidade dos seus actantes.
O desastre de Alcácer-Quibir (com que termina o meu romance D. Sebastião e o Vidente ), a crise dinástica, a guerra civil e a anexação do reino por Filipe II de Espanha, numa pretensa União Ibérica, são os antecedentes do romance 1640, em que Portugal foi arrastado para os conflitos do Império espanhol, em particular, da Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), uma das mais destrutivas da Europa. A fim de alimentar a guerra em várias frentes, Filipe IV de Espanha e o conde-duque de Olivares, fazendo tábua-rasa dos acordos sobre a autonomia de Portugal, esgotaram os seus recursos humanos e materiais, destruindo a economia e esmagando o povo com impostos, que eram aplicados não em benefício dos portugueses mas dos espanhóis, transformando o reino numa das mais pobres províncias da Península Ibérica. Olivares contou com os serviços de funcionários portugueses submissos e interesseiros, como Diogo Soares, em Madrid, e Miguel de Vasconcelos, em Lisboa, os bons alunos do Ministro estrangeiro, que não só obedeceram às suas directrizes, como foram mais longe na imposição de sacrifícios aos seus compatriotas, reduzindo-os à miséria e à fome. Ao estudar a crise social, económica e política de Portugal, nos textos deste período, foi possível estabelecer um paralelismo entre este triunvirato de governantes seiscentistas e a Troika que nos veio governar, em 2011, imposta pelo FMI/instituições europeias, com os seus nefastos resultados.
Nestes períodos de crise, Portugal procurou uma panaceia ou incentivo contra o pessimismo e a estagnação do país, na afirmação da sua nacionalidade e identidade colectiva. E nada melhor para valorizar a nação do que atribuir-lhe origens divinas ou tão antigas, que remontassem a um tempo anterior à sua criação, legitimando-a. Assim, como princípio fundador, mais remoto, surge a identificação de Portugal com a Lusitânia e dos portugueses com os Lusos ou Lusitanos, e consequente apropriação do herói Viriato e da sua luta pela autonomia do território, como matriz e origem histórica de Portugal, uma tese veiculada e exaltada pela Literatura, com expressão máxima nos Lusíadas, de Luís de Camões, no século XVI, e no Viriato Trágico, de Brás Garcia Mascarenhas, no XVII.
A reforçar essa legitimidade, uma tese posterior vai atribuir origem divina à fundação do reino de Portugal, por D. Afonso Henriques, sacralizada, em 1139, pelo milagre de Ourique, na sua anunciada visão de Cristo crucificado a prometer-lhe a vitória contra os cinco reis mouros. Um milagre que o consagra rei, em pleno campo de batalha, e que será descrito em futuras crónicas, servindo de argumento para a sua legitimação pelo papa.
Sobrepondo-se à valorização política dos dois princípios fundadores, coexistiam três crenças messiânicas, que indicavam 1666 como o annus mirabilis: a dos judeus e cristãos-novos para a vinda do seu Messias; a dos sebastianistas para o regresso d’El-Rei Dom Sebastião; e a dos milenários à espera da destruição do Turco e da instauração de um Quinto Império, cristão e universal, que Bandarra mencionava nas suas Trovas. O povo oprimido começou a ansiar pelo regresso do rei D. Sebastião, desaparecido sem deixar rasto no campo de batalha e identificado com o Encoberto das profecias do sapateiro santo. Uma crença que foi crescendo, cada vez mais forte, durante o domínio dos três Filipes, alimentando a esperança do povo português na sua libertação. Padre António Vieira defenderá a deia do Quinto Império, o Império de Cristo, para um período de mil anos, que terá Portugal como guia, quando todos os pagãos, judeus e muçulmanos forem convertidos ao catolicismo, o reino do Deus único e verdadeiro.
O romance 1640, apoiado em inúmeras fontes documentais coevas e actuais, procura fazer um retrato verosímil do Portugal seiscentista, dos seus conflitos internos e das suas difíceis relações internacionais, numa luta pela sobrevivência como nação independente. A acção decorre num período de cinquenta anos (1617-1667), riquíssimo em acontecimentos, dramas e personagens. No dia 1 de Dezembro de 1640, os portugueses dos três Estados – povo, clero e nobreza – soltaram o grito de liberdade e tomaram o destino do país nas suas mãos, iniciando uma intensa luta para sair da crise pelos seus próprios meios, num Portugal esgotado e acossado por nações inimigas – a Espanha e as suas aliadas –, mas também pelas «amigas», como a Inglaterra e a França, que impuseram condições esmagadoras em troca da sua ajuda. Tal como nos nossos dias.
A estrutura formal da obra foi inspirada na Corte na Aldeia, de Francisco Rodrigues Lobo, que, ao estilo da época barroca e em total sintonia com a intriga, recorre aos Diálogos entre várias personagens que discutem, comentam e problematizam os assuntos mais variados, introduzindo os capítulos narrativos dos sucessos que mais os marcaram, preocuparam ou divertiram. Durante a dominação filipina, os reis e a Corte residiam em Madrid, centro de acção e decisão sobre todos os assuntos do Império Espanhol e das suas relações com o mundo, mas também um lugar privilegiado de criação e promoção de progresso, cultura e entretenimento. Lisboa, a antiga residência da dinastia de Avis, perdeu assim o seu estatuto de Corte régia, transformando-se em mera capital de província. Cansada de correr para Espanha, a mendigar mercês, parte da nobreza de Portugal retirou-se para os seus domínios, no campo, onde fez florescer as «cortes de aldeia», que procuravam imitar, segundo o estatuto e as posses dos seus senhores, as Cortes régias, com mecenato a escritores, músicos e outros artistas. A mais fulgurante, em dimensão e importância, foi a dos duques de Bragança, em Vila Viçosa, cujo cerimonial cortês era idêntico ao de Madrid. Uma mentalidade barroca que, segundo Vitorino Magalhães Godinho, “anseia pelo fausto e pela exibição, nos círculos nobres como nos religiosos – uma religião de exuberância decorativa, aquietando-se nos ritos de subterrâneas inquietações, satisfazendo-se na exterioridade de uma insatisfeita interioridade”. Assim, nas cidades, essa função cultural e intelectual é assumida nos conventos pelas freiras, cultas e de nobre ascendência, alguns célebres quer pelos seus Outeiros (representações teatrais, concertos musicais, saraus de poesia e produção literária), quer pelos escândalos de cariz licencioso das suas religiosas.
Na primeira parte do romance, o narrador é o poeta Brás Garcia de Mascarenhas, autor do Viriato Trágico, a grande epopeia seiscentista cujo herói é o pastor dos Montes Hermínios, com a sua luta contra os romanos, que simboliza a revolta dos portugueses contra a ocupação espanhola. Brás é a personagem de maior relevância, embora desconhecida dos portugueses, que pretendi resgatar ao limbo do esquecimento, restituindo-a a um merecido lugar entre os maiores vultos da cultura portuguesa. Nascido em Avô, amante traído, proscrito e aventureiro, Brás vai conduzir o leitor pelo dédalo de sucessos anteriores à Restauração, como as guerras do Brasil contra os holandeses, a sua amizade com António Vieira, as experiências com os índios e a sua complexa vida amorosa.
Na segunda parte, guia-o Soror Violante do Céu, desde o convento da Rosa, em Lisboa. Cultora do conceptismo e cultismo, tanto na poesia de temática religiosa como na de cariz secular/erótico. Celebrada pelos seus contemporâneos, como a Décima Musa e a Fénix dos Engenhos Portugueses, dará a conhecer a situação e vida das mulheres de seiscentos, enclausuradas sem vocação nos conventos, algumas desde a infância, uma prisão que, paradoxalmente, era para muitas uma libertação da tirania masculina castradora, permitindo-lhes estudar e exercer os seus talentos de artistas, letradas ou cientistas, o que de outro modo lhes era vedado pelos homens, sob o pretexto de serem intelectualmente inferiores.
Na terceira parte, os conflitos de ordem militar serão relatados por D. Francisco Manuel de Melo, o grande prosador e poeta do século. Na prisão da Torre, este Fidalgo de Dom, aparentado com a Casa de Bragança, militar e marinheiro, foi vítima de uma Justiça corrupta (um traço comum às quatro personagens) que o condenou a doze anos de prisão e ao exílio no Brasil. O seu testemunho permite tomar conhecimento da intrincada rede de conspirações, espionagem e traições com que Portugal e D. João IV se debateram para ganhar a liberdade.
Na quarta parte, o leitor é levado pelas palavras e reflexões do jesuíta António Vieira, o mais brilhante pensador e pregador de todos os tempos, que o guiará pelos meandros da diplomacia nacional e internacional, em que D. João IV se vai empenhar num dificílimo jogo de custosas alianças, para que Portugal possa recuperar o seu estatuto de nação independente. No cárcere da Inquisição, entre 1663 e 1667, ano em que termina o romance, Padre António Vieira, relembrando a sua vida passada, dará conta dos mais significativos sucessos em que participou até à crise política interna, do reinado de D. Afonso VI.
A complexidade do assunto a tratar implicou o estudo de uma infinidade de temas, porque só no cruzamento de saberes se pode alcançar o multifacetado conhecimento de uma época, um trabalho que se arrastou por treze anos de investigação, embora alternando a sua escrita com a da trilogia dos Descobrimentos. 1640 é uma data fulcral da nossa História, que mudou o destino da nação, pois, sem a Restauração, Portugal não seria o mesmo e talvez não passássemos hoje de uma pobre província espanhola, a falar um dialecto e a sonhar com a independência, como a Catalunha, cuja revolta ajudou então à nossa libertação. Assim como, sem a Expansão Marítima Portuguesa, ou seja, sem os Descobrimentos portugueses dos séculos XV e XVI, os países da Lusofonia não existiriam como tal, nem falariam a Língua Portuguesa em todos os seus ricos matizes e este Colóquio não teria razão para existir. Deo gratias, por isso não ter acontecido.
Trabalhar a nossa língua em todos os seus registos é um prazer divino e a maior motivação da minha escrita. «1640», o meu último romance, levou esse exercício mais longe do que me permiti sonhar. Amo este país e a sua cultura por isso só escrevo romances históricos de temática nacional, a partir das histórias daqueles que souberam criar, desenvolver e manusear a nossa língua com infinita mestria e originalidade, de que nós hoje somos fracos herdeiros. Na minha trilogia dos Descobrimentos – O Navegador da Passagem, O Espião de D. João II e O Corsário dos Sete Mares – recorri ao estilo e linguagem dos cronistas dos séculos XV e XVI, em que a língua ainda se encontrava em processo de desenvolvimento, transbordante de criatividade; em D. Sebastião e o Vidente, mas, sobretudo, no «1640», que aqui venho apresentar, pude gozar com toda a plenitude a volúpia da Língua Portuguesa, que atingiu as maiores alturas no século XVII.
November 17, 2020
História dos Paladares - Crítica gastronómica
pelo P rof. Virgílio Nogueiro Gomes
História dos Paladares - Sedução
«Surgiu-me, inesperadamente, este volumoso livro que foi uma leitura agradável durante a semana passada. Não conhecia a autora, e talvez por isso, dediquei-lhe uma atenção especial. Este é o primeiro volume de “História dos Paladares” com o subtítulo “Sedução”. Do Prefácio transcrevo:
A erudição muitas vezes tolhe o espírito, pois provoca sobrecargas incontroláveis. Felizmente, Deana Barroqueiro é uma sábia fecunda que, depois de décadas de uma vida profissional dedicada aos alunos e a uma cidadania activa, prossegue essa mesma dedicação à grei oferecendo-nos pedaços da sua sabedoria. … A melhor forma de agradecermos a sua generosidade é lermos o seu texto para nos enriquecermos…
Só isto bastaria para definir a autora!O livro tem onze capítulos e a estrutura que lhe arquitectei nada tem de convencional, na pena da própria autora. Ora esta forma de organizar o livro é uma das atracções da obra. Mas primeiro, antes dos capítulos anunciados, tem um conjunto de textos aos quais chama “História do Paladar”: No princípio era o gosto…; Paladares Planetários; Paladares Míticos; Paladares Primordiais; Paladares Ancestrais; Paladares Mediterrânicos; Paladares Científicos e Paladares Certificados. Seguem-se agora os onze capítulos que não irei anunciar, pois são 488 páginas de puro prazer de leitura e aprendizado.
Quem gosta de entender a história da alimentação através de receitas tem duzentas e cinquenta para se distrair e comer, com a vantagem de dispor no final de um índice alfabético. Estas receitas estão integradas nos textos como que a ilustrá-los. E as histórias vêm desde as tradições populares à cozinha mais requintada. Trabalhadas com o mesmo nível para o conhecimento e ambas integradas nos conceitos de que a alimentação é, de facto, Património Imaterial da Humanidade.
Surpreendente este livro com uma escrita clara e compreensível, e que revela o estudo e grande critério de investigação da autora, a quem envio os meus Parabéns. Se já temos o primeiro volume, lido com muito entusiasmo, o segundo “Perdição” já nos abre o apetite e apetece perguntar quando o teremos.
Este é um livro que seguramente recomendarei aos meus alunos.
© Virgílio Nogueiro Gomes
Título: História dos Paladares - Sedução
Autor: Deana Barroqueiro
Editora: PRIME Books
ISBN: 9789896554293
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