Deana Barroqueiro's Blog: Author's Central Page, page 52

October 18, 2013

O que dizem os meus leitores

Esta rubrica (em título), do meu blogue Conversa com os Leitores, foi criada para eu poder comunicar com quem não tem Facebook, uma rede que utilizo diariamente, em detrimento do blogue, porque a troca de mensagens é rapidíssima e, portanto, mais fácil para estabelecer um diálogo quase instantâneo com os nossos interlocutores."O que dizem os meus leitores" é o lugar privilegiado para me escreverem as suas impressões e as suas críticas, fazerem perguntas ou pedirem esclarecimentos sobre os meus romances, permitindo-me assim reflectir sobre o meu trabalho para tentar escrever cada vez melhor.Se a mensagem chega por e-mail, peço ao seu autor licença para a publicar neste espaço e, assim,  partilhá-la convosco, meus amigos na escrita e na vida. Como esta que recebi ontem do leitor João Ribeiro e me encantou:
"Olá,
Venho por este meio, simultaneamente, felicitá-la e agradecer-lhe  pelo seguinte motivo. Ter escrito "D. Sebastião e o vidente". Estou a menos de dez capítulos de acabar a obra. Adorei. A história é já por si trágica e apaixonante mas a sua escrita faz-nos estar presentes no momento, obrigado por isso. Cada página que leio transporta-me para a realidade do que aconteceu. Não consigo no entanto, perder a esperança que talvez, afinal, tudo irá correr bem e que nós ganhámos a batalha, que o desastre de Alcácer Quibir nunca aconteceu.... Que vou ler um capítulo que explica a verdade em que saímos vitoriosos da batalha... Sou assim, vivo a vida entre o real e o fantasioso. Não conte a ninguém mas provavelmente vou chorar  quando acabar o livro. Fico sempre sensibilizado com as desventuras deste nosso maravilhoso País. Não fosse os grandiosos feitos que alcançámos andaria sempre deprimido. Não fosse isso e o facto de acreditar, acreditar sempre que nos vamos levantar e seremos melhores do que alguma vez fomos. Mais do que a felicidade que desejo para mim, para os meus ou mesmo para o mundo desejo acima de tudo, Portugal.Tudo de bom para si Deana.
Do leitor,João Ribeiro"
 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on October 18, 2013 08:24

October 6, 2013

Pacheco Pereira na Quadratura do Círculo (12-09-2013)

Não deixem de ouvir esta crítica lúcida, de um homem inteligente e decente, qualidades cada vez mais raras entre os políticos .

E neste momento Pacheco Pereira ainda não sabia dos cortes das pensões de viuvez (de sobrevivência).

A propósito dos comentadores da TV, a sua crítica assenta como uma luva à parelha histriónica Judite de Sousa/Marcelo Rebelo que falam da crise que esmaga os portugueses mais desprotegidos  com tal ligeireza e falta de sensibilidade, como se comentassem um "fait divers" ou uma telenovela. Porque a crise passa-lhes ao largo, eles estão a salvo nos respectivos poleiros...  Faço minhas as palavras de Pacheco Pereira:
Sinto-me mal neste país que amo.

 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on October 06, 2013 18:32

October 4, 2013

Hiroshima Nuclear (atomic) Bomb - USA attack on Japan (1945)

Antecedentes à rendição do Japão: as bombas atómicas lançadas, um mês antes, pelos americanos em Hiroshima e Nagasaki: Recriação segundo testemunhos dos sobreviventes (inglês).



Imagens autênticas, sem palavras:

 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on October 04, 2013 11:47

Japanese Sign Final Surrender 日本の降伏

Efeméride histórica, de repercussão mundial, sobretudo no Ocidente, comemorada há dias:

A Rendição do Japão em 02 de Setembro de 1945

Um tesouro histórico tornado público. Este é o filme feito durante a cerimónia de rendição do Japão ao General Douglas McArthur a bordo do couraçado Missouri, na baía de Tóquio, em 02 de setembro de 1945. O público em geral teve acesso apenas às fotos tiradas na ocasião.

Lamento que não esteja legendado em português, mas, mesmo para quem não domine o inglês, as imagens falam por si

News reel of the surrender ceremony on board the USS Missouri in Tokyo Bay on September 2, 1945. Background music is "With Honour Crowned".
 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on October 04, 2013 11:18

September 30, 2013

A NATUREZA DA "CRISE PORTAS" É SER ENDÉMICA

Crónica de José Pacheco Pereira, no Público de Sábado, 28 de Setembro Uma profunda reflexão sobre a situação política que vale a pena ler até ao fim.
A palavra desagregação não chega. Decomposição também serve, mas não é suficiente, porque pelo menos o esqueleto tem estrutura. Quando chamei a este Governo o "navio-fantasma", ainda pensei que a evidência da desagregação não fosse tão rápida, depois do fôlego das proclamações de que "no fim de tudo o Governo ficou melhor" e de que o país, empurrado pelos "sinais" de recuperação, ia para bom porto. Se pudesse ter uma tabuleta gigante nela escreveria: "Com esta gente nunca. Nunca, jamais, em tempo algum".
 A rábula actual do défice na "negociação" com a troika, com Portas e Maria Luís a deambularem pelos "centros políticos" da CE, do BCE e do FMI, para fazerem a "negociação política", depois a irem à Assembleia dizerem aquilo que desdizem no dia seguinte, com Portas a dizer uma coisa e Passos outra, com recados do PSD em período eleitoral enchendo o peito de ar contra a "hipocrisia" do FMI, com truques, mensagens, recados e intrigas, com a troika a fazer de esfíngica com aqueles com que se tem de encontrar, sindicatos, deputados, mas que considera irrelevantes para qualquer decisão, apenas reuniões protocolares aborrecidas que são perda de tempo, com a cacofonia do PS, mostra como singra o "navio-fantasma" com as suas velas cor de sangue. 
O que temos hoje à nossa frente? Ideias, planos, projectos, ideologias? Nem isso. Apenas pessoas, e pessoas que não valem muito. Estão desprestigiadas, mesmo quando tinham apenas um vago prestígio. Estão confundidas, embora a clareza nunca tenha sido uma coisa por aí além. Fazem o que sabem fazer, fazem pela vida. Tentam sobreviver e manter o poder no meio dos sarilhos que criaram e estão agarradas ao seu eu, nalguns casos um gigantesco Eu, noutros um pequeno eu que não se enxerga, mas existe, está lá, ocupa espaço. 
Nós baixamos de tal modo os critérios de exigência, que aceitamos ser governados por gente muito acima do seu princípio de Peter, mesmo para serem bons chefes de secretaria. Que experiência tinham, que qualificações tinham, que adquirido traziam consigo, que caracteres excepcionais, que cinismo lúcido e criador ou bondade genuína, que inteligência especial, que intuição carismática, traziam consigo para ocuparem, numa das maiores crises da nossa história, a condução de Portugal? Nem sequer eram homens normais, cuja razoabilidade e senso comum nos protegiam da asneira. Eram a gente da estufa partidária, com um curso de como singrar no aparelho, uma ambição desmedida, sabedores de que o essencial era estarem no lugar certo na altura certa. E estavam. E estavam, porque nós os deixamos estar. Em democracia, é assim, quem chega ao poder, está lá com o nosso voto. Seja Sócrates, seja Passos Coelho, seja Portas.
Não há outra maneira de entender o que se está a passar nestes dias, a não ser percebê-lo nas suas pessoas, porque são as pessoas que lhe dão forma e expressão, e, a poucos meses de se ter "ultrapassado" a crise Portas, esta continua a revelar-se, como se podia prever, endémica.
Há uma razão para que reine uma enorme confusão vinda de cima e perplexidade vinda de baixo. A teia que une o de cima com o de baixo é feita de mentiras. Mentiras em toda a sua plenitude, com todas as cambiantes, omissão de verdade, sugestão de falsidade e falsidade. A maioria dos portugueses não sabe nada do que se passa e os poucos conhecedores preparam em segredo a sua Arca de Noé. O que se passa nos encontros com a troika? Não se sabe. O que se passou em Bruxelas e Washington? Não se sabe. O que os homens de Lagarde ou de Draghi ou de Barroso dizem? Não se sabe. Recados não são informação. Nunca nos tempos mais recentes tão pouca informação fidedigna existe.
E as lendas não encaixam. Até agora, o "prestígio" conseguido por Portugal travava os juros e fazia-os descer. Quantas vezes a retomada do "prestígio" de Portugal foi louvada, nalguns casos como o único resultado da governação Passos-Gaspar. "Credibilidade" era a buzzword. Era por aí que regressaríamos aos mercados em Setembro de 2013, este mês. Era a barreira que nos separava da Grécia e nos colocava ao lado da Irlanda. E, subitamente, hoje ninguém do lado do poder já fala de "credibilidade", a não ser quando serve para se aceitar mais uma medida de austeridade. Ou um novo "imposto", como o Presidente chamou aos cortes dos reformados, o que deve ter posto o Governo com os cabelos em pé. 
Porquê? Primeiro, porque a "credibilidade" não era assim tão sólida como se dizia; depois porque o penhor da "credibilidade", Vítor Gaspar, se foi embora, e, por fim, porque a crise Portas mostrou a fragilidade de tudo. Os propagandistas do Governo acusam o Tribunal Constitucional, mas basta olhar com atenção para os juros, para perceber o enorme estrago que foi a crise Portas, tornando tudo muito frágil. E para perceber outra realidade incómoda para o Governo, que a evolução dos juros da dívida dependem essencialmente da conjuntura europeia e internacional e aquilo que considerávamos o grande mérito do nosso Governo, era pouco mais do que evitar, pela obediência e bom comportamento, não agravar altos e baixos que vinham de fora. Que foi o que a crise Portas fez.
O que se passava é que, como muita gente prudente disse e o Governo, ofuscado por si próprio, não queria ouvir, nunca estivemos, nem estamos, em condições de "voltar aos mercados", porque a política seguida é errada e é insustentável em democracia, façam-se os pactos, acordos, entendimentos, "consensos" que se quiserem. E porque comparticipamos pelo euro numa crise europeia económica, social, política, em que somos, com a Grécia, o elo mais fraco. Por isso a troika pode ir-se embora daqui a uns meses, que um segundo resgate, às claras ou disfarçado de "plano cautelar", vai continuar a manter-nos sob controlo estrangeiro tendo como único objectivo manter a política actual. 
Como acontece sempre, a imoralidade de cima penetra como um veneno em todo o tecido social. Estamos hoje menos "povo", mas uma soma de medos, egoísmos, defesas, invejas e raivas. Acresce que a relação do poder actual na governação é doentia, para não dizer outra coisa. A grande responsabilidade de Cavaco Silva foi ter mantido um Governo que não existe, não tem primeiro-ministro, mas dois, cada um para um Governo, um é o do CDS e outro é, mais ou menos, do PSD, que não se governa a si próprio quanto mais o país. E a única coisa que é capaz de fazer são medidas avulsas, mal pensadas e mal preparadas e muitas vezes iníquas, que dão cabo da vida das pessoas, não para um ano ou dois ou três, mas para o resto das suas vidas. Depois arranjam um nome pomposo para lhe dar.
Passos Coelho é o factor permanente e estático da governação. Está lá e permite tudo. Está muito agarrado ao poder. Mas o factor dinâmico da crise é Portas, por isso muita da confusão actual se lhe deve, quer ao que fez, quer ao que está a fazer a ver se remedeia o que fez. Aceitou ser primeiro-ministro na prática, com tudo o que implica a assunção de um máximo poder, para o qual não tem legitimidade eleitoral, mas sabe que essa oferta foi dada com desespero de causa e é mantida com dolo. 
O que faz Paulo Portas hoje é tentar desesperadamente reconstruir-se dos efeitos do "irrevogável" e dos milhões que nos custou na crise que deve ter o seu nome. O que Passos Coelho e o PSD fazem é impedi-lo de obter ganho de causa. No meio de tudo isto há eleições e as eleições contam e muito. Todos usam e manipulam os jornais, que se deixam alegremente encher com recados e pseudo-informações. É uma festa.
A salgalhada dos 4% e dos 4,5% (em que Seguro participa com os seus 5%, provavelmente porque sabe ou suspeita que o Governo já conseguiu os 4,5%), a valsa de declarações eleitorais contra a troika, os ralhetes a pedir silêncio, desobedecidos de imediato, são o retrato dessa decomposição com que comecei este artigo. Não são mais do que os sinais de como a crise Portas continua em pleno, Portas a querer mostrar serviço, Passos Coelho a dificultar-lhe a vida, e nenhum a ter qualquer consideração nem com as pessoas, nem com o país. Eles vivem noutro mundo e nenhum pode vir dizer que é Portugal que lhes interessa, mas a única coisa que lhes importa que não se "lixe" são eles próprios.
 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on September 30, 2013 08:28

September 25, 2013

Tese: O Romance da Bíblia/Tentação da Serpente


"O romance da Bíblia: a reescrita profana de Deana Barroqueiro" (Brasil)
Poster de apresentação da tese de Késia Oliveira (Bolsista IC/CNPq), da Universidade Federal de Minas Gerais (Brasil), sob a orientação da Professora Dra. Lyslei Nascimento, sobre o meu romance Tentação da Serpente/Romance da Bíblia, que me deixou imensamente orgulhosa.




 
 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on September 25, 2013 06:18

September 12, 2013

Museu do bonsai



Em Sintra, existe um Museu do Bonsai, único no país, onde é possível perceber que um bonsai é muito mais do que uma árvore envasada, é uma obra de arte.

Merece, sem dúvida, uma visita.

Este vídeo já tem 5 anos, mas o Museu está um encanto e as pessoas que atendem na estufa e loja são simpatiquíssimas.

Quando o visitei, este mês de Setembro, no dia 10, apanhei uma promoção de 50% em todos os bonsai da loja. As árvores eram lindíssimas, apetecia-me trazer muitas mais, mas só comprei quatro.

Os bonsaistas inveterados ainda podem conseguir magníficos exemplares por metade do preço. E quem não visitou, mesmo que não cultive bonsai deve ir lá nestes dias magníficos de  quase Outono.

Mais informações no site do Museu: http://bonsaicentro.net/bc/index.php
1 like ·   •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on September 12, 2013 05:56

July 24, 2013

Deana Barroqueiro A Páginas Tantas

Uma grande surpresa, que chegou no dia do meu aniversário, enviada pelo jornalista Marco Carvalho: a entrevista que ele me fez para a televisão de Macau, aquando da apresentação de "O Corsário dos Sete Mares - Fernão Mendes Pinto", a convite da Casa de Portugal.

Marco Carvalho deu-me espaço e tempo para contar histórias da nossa História, numa conversa amena e despretensiosa, com tamanha simpatia que conquistou para sempre a minha amizade.

Apesar da gripe terrível que apanhei à chegada a Macau e da febre que ainda tinha, a entrevista até nem correu mal, creio mesmo que os espectadores ficaram com uma ideia (se ainda não conheciam) do importantíssimo papel que os Portugueses  tiveram em dar a conhecer à Europa o verdadeiro Oriente, até então praticamente desconhecido.

Para quem tiver pachorra para ver e ouvir...


 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on July 24, 2013 15:28

July 16, 2013

Do Tempo da Outra Senhora: Cinemateca

Caras Amigas e Amigos cinéfilos:

CINEMATECA PORTUGUESA:  Filmes portugueses alojados no YouTube 1930 - LISBOA, CRÓNICA ANEDÓTICA (1930 - Leitão de Barros... 
Para ver aqui:
Do Tempo da Outra Senhora: Cinemateca
 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on July 16, 2013 03:38

June 26, 2013

Respondendo a Miguel de Sousa Tavares

Por Anabela Bragança, uma professora de Coimbra, indignada:
  Caro Miguel
Desde já peço desculpa pela familiaridade do trato, mas como nos conhecemos tão bem sinto-me no direito de ser mais tu-cá-tu-lá consigo. Li o seu artigo sem adulteração, aquele do Expresso do último sábado, do dia 15 de Junho de 2013. Escrevo a data completa porque a quantidade de textos que debita poderiam criar na sua cabeça alguma confusão sobre o espaço temporal a que me refiro. Devo dizer que é um texto bem escrito, daqueles que se aprendem a escrever quando se tem uma professora à moda antiga, das que nos ensinam a amar o saber e fazer da vida uma busca continua desse mesmo saber, das que nos ensinam a ter espírito critico, das que nos ensinam a pensar e a usar com racionalidade essa fundamental característica que é uma das que nos distinguem das restantes espécies da Classe Mammalia. Como se deu ao trabalho de fazer uma breve introdução romanceada do seu percurso pelo primeiro ciclo, então escola primária, vou, também eu, essa breve introdução, sem as figuras de estilo que o Miguel usa, porque em mim a escritora não pode florescer por falta não de vocação que essa até tenho, mas de tempo, e a seu tempo entenderá o porquê. Então vejamos, em 1976 entrei na escola primária. A escola que me acolheu, uma das obras positivas do tempo assumidamente autocrático, era linda, branca, com casas de banho que por acaso não funcionavam mas estavam lá, com as paredes preenchidas pelos trabalhos de desenho dos meus colegas mais velhos que a minha arte ainda não se tinha manifestado. Sabe porque é que a minha escola era linda? Porque eu não sou filha de nenhuma escritora, nem nenhum deputado, nunca os meus olhos tinham visto tanto livro junto, e refiro-me a meia dúzia que havia lá pela minha escola de aldeia, longe de Lisboa e do Porto. Sabe Miguel, acredito que pense efectivamente que sabe, ou não tivesse sido aluno da D. Constança, as vivências da realidade são diferentes de ser humano para ser humano, e por isso o quadro feio e negro da escola do Miguel pode ser belo e muito colorido para alguns dos seus colegas de carteira. Mas deixemos isto e continuemos na saga do meu percurso escolar. Tal como o Miguel também na minha escola éramos muitos, tanto que nem me lembro do número, será porque isso nunca foi relevante? É que das pessoas ainda me lembro bem, das brincadeiras também, das aulas também… As duas salas estavam sempre cheias, como um ovo, havia dois turnos de aulas com 4 professoras, duas de manhã e duas de tarde. A mim calhou a D. Maria Isabel, uma mulher linda, com o seu cabelo cinzento e os lábios pintados de uma cor fabulosa, um tom de laranja doce. A D. Maria Isabel acabou de me ensinar a ler, que alguma coisa a minha teimosia já me havia feito aprender. Sabe Miguel, em algumas situações a teimosia é uma característica boa, de tal forma que no final do primeiro período já eu substituía a minha avó na leitura de “O amigo do Povo” às suas comadres analfabetas. Vou agora refrescar-lhe a memória em relação ao que era o primeiro período: - período de tempo que mediava entre Outubro e meados de Dezembro, suponho que entende o que lhe estou a dizer, mas se não informe-se junto de alguns psicólogos e pedagogos credíveis. Abreviando um pouco, e quase para terminar este parágrafo, devo dizer-lhe que a minha professora foi tão boa que em 3 anos resolveu comigo as questões que para muitos se resolviam em 4, e para outros muitos em mais de 4. Tal como a sua, também a minha deixou em mim um apetite voraz para as letras, chamava-me “papa livros” tal era a minha voracidade, e todas as semanas, levava de Coimbra para mim muitos livros. A minha professora Maria Isabel era uma mulher completa com marido, 3 filhos, sendo um surdo-mudo,  pais e sogros. Vivia do seu trabalho e como tal faltou algumas vezes, pois não tinha possibilidades económicas para delegar responsabilidades. Mas sabe o que lhe digo, foram muitos os alunos que mandou para a universidade, que hoje até lêem o que o Miguel escreve com espírito crítico. Neste momento poderia considerá-lo um mentecapto e situar este comentário no seu texto brilhante, mas não o vou fazer, porque o Miguel também teve uma boa professora na escola primária.
Mudando de parágrafo e de assunto, tal como o Miguel, sei que o país está à beira da bancarrota, mas na minha família só o direito ao voto responsabiliza por essa situação, sabe porquê? Nunca nenhum dos meus progenitores ocupou lugar em nenhuma das cadeiras da Assembleia da Republica, por partido nenhum quanto mais por dois e ainda mais relevante, nunca nenhum dos meus progenitores foi ministro. Sinto muito Miguel por ter que lhe lembrar que algumas das responsabilidades da miséria que crassa por esse Portugal fora tem genes que lhe foram a si entregues. Mais ainda, na minha família toda a gente produz, desde tenra idade. Sobre trabalho o Miguel, por certo, teria muito a prender comigo e com os meus.
Voltemos agora ao ainda cerne desta questão, a greve dos professores. Sabe Miguel, depois de ler o seu texto, volto a dizer, sem adulterações, fiquei a pensar se o seu sistema digestivo seria igual ao dos restantes mamíferos. E confesso que esta dúvida já me assaltou algumas vezes frente aos seus escritos. Em relação aos professores o Miguel não sabe nada do que pretende dizer, seria bom e revelador de algumas sinapses activas, que se calasse até conseguir saber sobre o que se pronuncia. Eu sou professora, há já muitos anos, executo a profissão que sempre quis ter, lá por causa da minha rica professora Maria Isabel, e trabalho que me desunho, e não falto, e estou disponível para os meus alunos até para ser mãe. O meu horário semanal (e o da maioria) tem sempre muito mais do que as 40 horas agora na moda, tenho que me preparar, nem sequer para cada ano é mesmo para cada turma, pois são sempre diferentes os alunos e as suas interacções; tenho que os avaliar, e isso exige muito pois sou acérrima defensora da avaliação formativa; tenho que tentar manter-me actualizada pois lecciono uma disciplina das ciências mais vanguardista, e isso requer muito tempo (percebe agora porque não me dedico mais à escrita?). Eles, os meus alunos, que são quem me importa, sabem disso! Acho de uma arrogância tola o Miguel vir pronunciar-se sem saber do que fala. Eu também sou leitora e agora vou aqui falar de um  escritor medíocre que já li. Vou tecer comentários sobre obras e escrita que conheço, não sobre números de origem duvidosa! O Miguel escreve com a qualidade necessária para ser comercial, isto é para ganhar dinheiro, muito por sinal. Quer assumir-se como um Eça? Sabe que está a anos luz, sobra-lhe a capacidade descritiva, mas falha nos pormenores, vou dar-lhe um exemplo concreto: descreve cenas de sexo/amor com minúcia, mas impraticáveis por imposição das leis da física. Tenta ser um critico social, mas o seu azedume natural tira-lhe a graça e a leveza que tornam Eça sempre actual. Poderia continuar mas acho que já consegue perceber onde quero chegar. O Miguel é um escritor medíocre, mas isso não faz com que todos os escritores de Portugal o sejam, repare a sua mãe até ganhou um prémio Camões. Até sei que vai pensar que estou a ser ressabiada, será um argumento de defesa legítima uma vez que o estou a atacar, mas totalmente desprovido de verdade. Entenda o que lhe quero dizer de forma clara, há professores medíocres mas a maioria é bastante boa, empenhada e esforçada. Esta greve serviu apenas para mostrar ao governo que o caminho da mentira e do enxovalhamento público tem que acabar. Os direitos dos alunos estão a ser salvaguardados, é certo que temos menos alunos, mas também é certo que cada ano as turmas são maiores e os problemas sociais, que entram sempre pela sala de aula dentro, são cada vez mais. Sabe Miguel, seria mais proveitoso para os alunos trabalhar em salas com menos crianças/jovens e consequentemente menos problemas do que em salas cheias até à porta. Sabe que assim poderíamos desenvolver o espírito critico desses jovens e aí as coisas mudavam um pouco… Já  imaginou um país em que a maioria dos cidadãos tivesse espírito crítico? Imagina o destino que seria dado aos medíocres? Acha que haveria lugar a tantas PPP’s? Acha que o dinheiro do Estado Social  (faço aqui um parêntesis para lhe dizer o que é o estado social, que eu sustento: EDUCAÇÃO, SAÚDE e SEGURANÇA SOCIAL) seria desbaratinado em manobras  bizarras sem que fossem pedidas contas? Acha que os gestores das empresas públicas que acumulam prejuízos continuariam a ser premiados? Acha que se assistiria a uma classe política corrupta, incompetente e desavergonhada de braços cruzados? Acha que haveria prémio para a mediocridade de textos que vendem como cerejas à beira do caminho? Ai Miguel depois destas questões até o estou a achar inocente… acabei de ficar com aquele sorriso que dou aos meus alunos travessos, mas simples, só que para eles é para os conduzir ao bom caminho, para si é mesmo com condescendência.
Falou no seu texto no estado calamitoso em que se encontram as contas públicas, e sou forçada a concordar consigo, só tenho pena que apenas consiga ver o erro, e lhe falte a coragem para imputar responsabilidades. O país está neste estado por causa dos decisores políticos e dos fazedores de opinião, entre os quais o incluo. A má gestão é que nos levou a este marasmo, não fui eu, nem os meus pais. Desde muito jovem que justifico o que como, foi assim que fui educada, é assim que educo os meus filhos e até os meus alunos, dentro do possível. Da má gestão posso ser responsabilizada por votar, mas sempre o fiz em plena consciência, acreditando que dava o meu voto a um ser humano digno. E continuo a fazê-lo! Quanto aos fazedores de opinião é um problema acrescido, porque esses nascem do nome que carregam, tal como o Miguel bem sabe. Por isso lhe digo em jeito de conclusão, este texto só será lido em blogues, porque o apelido Bragança não me abre as portas dos jornais. Fique bem Miguel e quando não conseguir mais dormir, por ter tomado consciência da sua responsabilidade pessoal no estado em que se encontra o país, não pense logo em suicídio, tome primeiro Valeriana e se não resolver tome Xanax.
Anabela Bragança, professora de Biologia, ainda com alegria e orgulho!
Coimbra, 19 de Junho de 2013
 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on June 26, 2013 03:08