André Benjamim's Blog, page 44
February 25, 2014
Fim*
Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.
*Poema de Mário de Sá-Carneiro
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February 20, 2014
Uma Mentira Mil Vezes Repetida, de Manuel Jorge Marmelo
Manuel Jorge Marmelo venceu, com
Uma Mentira Mil Vezes Repetida
, o Prémio Correntes d'Escritas 2014, na 15.ª edição do festival literário Correntes d'Escritas, que decorre anualmente na Póvoa de Varzim. O prémio é atribuído todos os anos, alternando entre uma obra em prosa e uma obra de poesia. Quem tiver a oportunidade de se deslocar à Póvoa de Varzim, pode ouvir o autor hoje, 21/02/2014, pelas 22h00, na Mesa 5, com o tema Cada livro é a antologia corrente da existência, onde participam também Carlos Quiroga, Joana Bértholo, Manuel da Silva Ramos, Miguel Sousa Tavares, Ondjaki, e Rui Zink. A moderação é deita por Michael Kegler.Os meus parabéns a Manuel Jorge Marmelo; pode ser que as vendas - muito justamente - lhe permitam viver profissionalmente da escrita; e que as visitas ao seu blog Teatro Anatómico (que sofre também do abandono generalizado da blogosfera) aumentem - e que isso lhe dê motivação para lá escrever mais frequentemente. Neste país em ruína (económica, financeira, social - mas pior ainda, cultural e moral) é bom saber que aqueles que não se vergam nem se vendem ainda vão tendo algum reconhecimento.
(Ainda no mesmo festival, J. Rentes de Carvalho estará presente na Mesa 7 - sábado, 22/02/2014, pelas 15h30, com o tema Não são minhas as correntes que escrevo é outro que as escreve em mim. Participam nessa mesa, moderada por Ana Sousa Dias, Andrés Neuman, Inês Pedrosa, José Rentes de Carvalho, Manuel Rivas, e Onésimo Teotónio Almeida. Programa completo aqui.)
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February 19, 2014
Os descendentes dos Navegadores, e &c.
Ouço frequentemente indivíduos extasiados de súbito e momentâneo patriotismo afirmarem algo absolutamente fabuloso (do domínio das fábulas, portanto) e surpreendente: que somos, os Portugueses, descendentes desses que partiram à conquista do mundo, que deram novos mundos ao mundo, que exploraram lugares então desconhecidos, os idealizados Navegadores (e Colonizadores). Pois. Mas não somos. Nós, os Portugueses, somos, e teimamos em ser, os descendentes dos que ficaram. Os que partiram são hoje Brasileiros, Angolanos, Goeses, Malaios, São-Tomenses, Cabo-Verdianos, Moçambicanos, Macaenses, Timorenses - apenas para citar alguns. Outros, vítimas de outras purgas, de outras partidas, são hoje Franceses, Suíços, Alemães, Americanos, Canadenses, Luxemburgueses, Belgas, Holandeses... E aqueles, que por acasos do destino, tiverem os genes desses que partiram, hão-de partir... Até que fiquem apenas, com o seu paradisíaco deserto e a sua inveja endémica, marqueses arruinados, com os seus reality shows na televisão, as telenovelas e a vergonha - se a tiverem - mas não acredito que a tenham.
Carta de João Tordo, ao seu pai, Fernando Tordo, que aos 65 anos partiu para o Brasil:
Ontem, o meu pai foi-se embora. Não vem e já volta; emigrou para o Recife e deixou este país, onde nasceu e onde viveu durante 65 anos.
A sua reforma seria, por cá, de duzentos e poucos euros, mais uma pequena reforma da Sociedade Portuguesa de Autores que tem servido, durante os últimos anos, para pagar o carro onde se deslocava por Lisboa e para os concertos que foi dando pelo país. Nesses concertos teve salas cheias, meio cheias e, por vezes, quase vazias; fê-lo sempre (era o seu trabalho) com um sorriso nos lábios e boa disposição, ganhando à bilheteira.
Tudo isto são coisas pessoais que não interessam a ninguém, excepto à família do senhor Tordo. Acontece que o meu pai, quer se goste ou não da música que fez, foi uma figura conhecida desde muito novo e, portanto, a sua partida, que ele se limitou a anunciar no Facebook, onde mantinha contacto regular com os amigos e admiradores, acabou por se tornar mediática. E é essa a razão pela qual escrevo: porque, quase sem o querer, li alguns dos comentários à sua partida.
Muita gente se despediu com palavras de encorajamento. Outros, contudo, mandaram-no para Cuba. Ou para a Coreia do Norte. Ou disseram que já devia ter emigrado há muito. Que só faz falta quem cá está. Chamam-lhe palavrões dos duros. Associam-no à política, de que se dissociou activamente há décadas (enquanto lá esteve contribuiu, à sua modesta maneira, com outros músicos, escritores, cineastas e artistas, para a libertação de um povo). E perguntaram o que iria fazer: limpar WC e cozinhas? Usufruir da reforma dourada? Agarrar um "tacho" proporcionado pelos "amiguinhos"? Houve até um que, com ironia insuspeita, lhe pediu que "deixasse cá a reforma". Os duzentos e tal euros.
Eu entendo o desamor. Sempre o entendi; é natural, ainda mais natural quando vivemos como vivemos e onde vivemos e com as dificuldades por que passamos. O que eu não entendo é o ódio. O meu pai, que é uma pessoa cheia de defeitos como todos nós – e como todos os autores destes singelos insultos –, fez aquilo que lhe restava fazer.
Quer se queira, quer não, ele faz parte da história da música em Portugal. Sozinho, ou com Ary dos Santos, ou para algumas das vozes mais apreciadas do público de hoje – Carminho, Carlos do Carmo, Mariza, são incontáveis –, fez alguns dos temas que irão perdurar enquanto nos for permitido ouvir música.
Pouco importa quem é o homem; isso fica reservado para a intimidade de quem o conhece. Eu conheço-o: é um tipo simpático e cheio de humor, que está bem com a vida e que, ontem, partiu com uma mala às costas e uma guitarra na mão, aos 65 anos, cansado deste país onde, mais cedo do que tarde, aqueles que o mandam para Cuba, a Coreia do Norte ou limpar WC e cozinhas encontrarão, finalmente, a terra prometida: um lugar onde nada restará senão os reality shows da televisão, as telenovelas e a vergonha.
Os nossos governantes têm-se preparado para anunciar, contentíssimos, que a crise acabou, esquecendo-se de dizer tudo o que acabou com ela. A primeira coisa foi a cultura, que é o património de um país. A segunda foi a felicidade, que está ausente dos rostos de quem anda na rua todos os dias. A terceira foi a esperança. E a quarta foi o meu pai, e outros como ele, que se recusam a ser governados por gente que fez tudo para dar cabo deste país – do país que ele, e milhões de pessoas como ele, cheias de defeitos, quiseram construir: um país melhor para os filhos e para os netos. Fracassaram nesse propósito; enganaram-se ao pensarem que podíamos mudar.
Não queremos mudar. Queremos esta miséria, admitimo-la, deixamos passar. E alguns de nós até aí estão para insultar, do conforto dos seus sofás, quem, por não ter trabalho aqui – e precisar de trabalhar para, aos 65 anos, não se transformar num fantasma ou num pedinte –, pegou nas malas e numa guitarra e se foi embora.
Ontem, ao deitar-me, imaginei-o dentro do avião, sozinho, a sonhar com o futuro; bem-disposto, com um sorriso nos lábios. Eu vou ter muitas saudades dele, mas sou suspeito. Dói-me saber que, ontem, o meu pai se foi embora.
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February 18, 2014
Ainda (ou outra vez): Portugal, a Flor e a Foice
No começo dos anos 80 um conhecido editor português pediu-me para ler o manuscrito, e logo de seguida foi franco:
- Editar isto? Nem pensar! Agora não, daqui a trinta anos também não!
Trinta anos passaram e provavelmente continuará inédito, mas que isso não obste.
J. Rentes de Carvalho, daqui.
Monstruoso concubinato o de certos escritores portugueses com a Censura, escrevendo com o propósito de serem censurados e assim alcançarem o nadinha de notoriedade que, doutra forma, os seus escritos nunca lhes dariam. A mostrarem depois cicatrizes da alma como quem pendura medalhas num uniforme – para que se veja. E queixando-se da falta de liberdade, esquecidos de que a liberdade não é coisa que se receba doutrem, mas direito que se tem. Se não fosse a Censura, diziam, escreveriam coisas grandiosas e quando chegasse a liberdade eles iriam tirar das gavetas os manuscritos lá escondidos, as obras primas, os soluços abafados pelo fascismo. A liberdade chegou com o 25 de Abril, mas as gavetas nada continham. A Censura e o fascismo tinham sido a desculpa fácil, o pretexto visível a cobrir um mal mais profundo que a falta de talento: a demissão perante a realidade política e social do país, o alheamento voluntário em malabarismos de uma intelectualidade duvidosa.
J. Rentes de Carvalho, em Portugal, a Flor e a Foice. Agora que Portugal, a Flor e a Foice, está a chegar finalmente às livrarias (ainda não consegui saber em que abençoado dia chegará), convém não esquecer que esta obra (aliás, toda a obra do escritor) foi vítima da mais cobarde censura, a censura do silêncio e da indiferença, a censura da promiscuidade e da prostituição, a censura sem rosto. Foi vítima da nacional cobardia daqueles que, domesticados, fazem fila para ver quem primeiro beija a mão que os oprime. Foi vítima das colunas vertebrais dobradas, que guerreiam entre si, lutando pelas migalhas que caiem das mesas onde lhes negam o assento. Foi vítima dos interesses mesquinhos daqueles a quem convém ladrar aos interesses instalados - para obterem os aplausos - ao mesmo tempo que lhes piscam o olho, como quem diz, não tenhais receio que não mordemos - para obter a bênção. Foi vítima - mas nunca se vergou perante os carrascos. Teve um caminho difícil, mas conseguiu chegar. Também por isto - os meus parabéns (e agradecimento) a J. Rentes de Carvalho. Houvesse mais Portugueses assim...
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February 17, 2014
Portugal, a Flor e a Foice
39 anos depois de se ter posto a caminho, está a chegar...
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February 16, 2014
teste
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February 15, 2014
Harry Potter e a Pedra Filosofal
O post do Pedro Correia pôs-me a pensar como é que cheguei ao Harry Potter. Foi assim: comprei Harry Potter e a Pedra Filosofal numa feira do livro dum hipermercado (não vou fazer publicidade - aconselharia até toda a gente a não comprar em hipermercados desses mega-grupos económicos que secam tudo à sua volta, como os eucaliptos - ai se os consumidores fossem inteligentes!). Foi numa tarde de Agosto do ano 2000, antes de entrar para a faculdade - tinha lá ido com um amigo fazer compras para a sua festa de aniversário - razão porque até sei a data exacta, mas não importa para aqui. O dinheiro era muito pouco - ele nunca cresceu - motivo porque duvido que fazer anos seja sinónimo de crescer - e como sou muito original no que concerne a prendas de aniversário: ofereço sempre livros - veio mesmo a calhar que houvesse uma feira do livro. Tinha acabado de ler Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade, de Sigmund Freud, que lera pela mesma razão que leio frequentemente: porque me apetece ler qualquer coisa. Do Harry Potter nunca tinha ouvido falar, mas como eram os livros mais baratos, comprei para mim e para o meu amigo. Li o Harry Potter na noite seguinte, que nesse dia houve festa até tarde. Na época estavam publicados em Portugal os três primeiros volumes dos sete que completam a série. E em Inglaterra havia saído o quarto. Alguns meses mais tarde, no fim-de-semana a seguir ao lançamento do quarto volume traduzido para Português, comprei Harry Potter e a Câmara dos Segredos, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, e Harry Potter e o Cálice de Fogo. Foi no sábado à tarde, tinha ido às compras, que não tinha comida em casa, a um hipermercado - que já não havia mais nada aberto por perto - e quando vi que tinham os volumes anteriores em promoção, comprei logo os três. Li-os nessa noite e na tarde e noite de domingo. Os livros seguintes da série, comprei-os sempre na data de lançamento - ainda não voltei à literatura mainstream - quer dizer, comprei o 2666, do Roberto Bolaño no dia de lançamento - até hoje continuo a pensar que o Francisco José Viegas e a Quetzal me enganaram com uma enorme acção de marketing. Prefiro os clássicos.Post-Scriptum: E se a Igreja contratasse J. K. Rowling para reescrever a Bíblia?
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February 14, 2014
A Grande Aventura dos Livros Grátis: as minhas escolhas
Aqui estão as minhas escolhas na promoção A Grande Aventura dos Livros Grátis. Após ponderada - e difícil - porque é difícil ouvir a palavra «grátis» e não poder trazer todos - reflexão, decidi-me por estes três: O Olho de Apolo, de Chesterton, O Convidado das Últimas Festas, de Villiers de L'Isle-Adam, e O Amigo da Morte, de Pedro A. de Alarcón. Já não cheguei a tempo de alguns, e ainda pensei nos de John dos Passos - se os três disponíveis fossem os três que compõem a trilogia U.S.A. provavelmente teria optado por este autor - que está há muito na minha lista mental de autores a ler. Na encomenda (ainda me falta pagar os portes de envio - 4,80€ -, mas às 03h00 da manhã não tenho nenhum multibanco por perto) apareceu o envio de um quarto livro grátis - não sei se é engano ou não - o melhor se calhar era estar calado - e esperar que chegasse. E não, não esperem que eu devolva um livro se vier por engano. Honestidade, tudo bem - mas com livros não caio nesses exageros morais, nem me deixo levar por subtilezas éticas - açambarco tudo quanto posso. Obrigado, Editorial Presença, por me fazeres parecer um garoto a esta hora da manhã.
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Interrupção - de manuel a. domingos
manuel a. domingos Interrupção Edição do autor2014
Fotografia de capa por Miguel de Carvalho e desenho de Carla Ribeiro. Composição e paginação de Pedro Ribeiro, numa tiragem única de 100 exemplares, dos quais vinte numerados de 1 a 20 pelo autor e cinco numerados de I a V pelo autor, ilustradora e fotógrafo, no mês de Fevereiro de 2014.
Normais: 8 euros
Numerados e assinados de 1 a 20: 10 euros
Portes de envio: incluídos.
pedidos para:
manueldomingos[arroba]gmail[ponto]com
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February 13, 2014
A Vasconcelização do País...
A embrulhadora-mor, enfeitadora oficial, escultora do estado (a que isto chegou), artista do regime (que ninguém sabe que regime seja: aparentemente seria de dieta de emagrecimento, mas só se vêem emagrecer aqueles que já estão magros de uma magreza de pele-e-osso-e-vê-se-te-anguentas-em-pé), ou lá o que ela é, volta a atacar - mas porque raio se queda pelas chaimites? Porque não há-de embrulhar a merda do país inteiro, que nem precisa de mecenas, com os enfeites que tem à disposição no palácio de belém, no da ajuda, no de são bento, no das necessidades, ...?
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