André Benjamim's Blog, page 46
February 3, 2014
Um Dia Isto Tinha Que Acontecer: Os Ignorantes Haviam de Começar a Escrever Textos Idioto-Paternalistas, a Assiná-los com o Nome de um Autor Conhecido, e as Ovelhas do Rebanho Haviam de se Sentir Sábias ao Ler um Chorrilho de Lugares-Comuns.
Fico irritado sempre que vejo este texto - a gente toda contentinha - que o Mia Couto escreveu isto - como fico irritado quando vejo aquelas frasesinhas idiotas a serem partilhadas vezes e vezes sem fim - como se fossem de Fernando Pessoa, ou de Carlos Drummond de Andrade, ou de Clarice Lispector, ou de William Shakespeare, ou de Jorge Luis Borges, ou - ... Raios partam a Ignorância - mais as frases de belo efeito - e sem conteúdo nenhum - nem nada de novo. Não me levem a mal - oh gente que acredita que o Mia Couto escreveu esta porcaria - eu é que vos levo a mal a vós. Já levei pancada suficiente para aguentar com os vossos palavrões - atirem-me lá com os epítetos mais feiinhos que souberem. E vão ler - ou estudar - ou estejam apenas quietinhos.
Isto não foi escrito pelo Mia Couto:
Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida. Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações. A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo. Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.
Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor. Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos…), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1.º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.![]()
Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes. Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, … A vaquinha emagreceu, feneceu, secou. Foi então que os pais ficaram à rasca. Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado. Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais. São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração. São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer “não”. É um “não” que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar!
A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas. Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados. Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional.
Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere. Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam. Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras. Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável. Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada. Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio. Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração? Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos! Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós). Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja! que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida. E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos – e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas – ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!!
Novos e velhos, todos estamos à rasca. Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens. Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles. Haverá mais triste prova do nosso falhanço?
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February 2, 2014
Philip Seymour Hoffman (23 de Julho de 1967 - 02 de Fevereiro de 2014)
Philip Seymour Hoffman (23 de Julho de 1967 - 02 de Fevereiro de 2014)Faleceu, aos 46 anos, Philip Seymour Hoffman, o actor que representou (entre outros papéis) Truman Capote. Requiescat In Pace.
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A alma humana é porca como um ânus - Poema de Álvaro de Campos
Fernando Pessoa, por William MR - imagem vista aqui.
A alma humana é porca como um ânus E a Vantagem dos caralhos pesa em muitas imaginações.
Meu coração desgosta-se de tudo com uma náusea do estômago. A Távola Redonda foi vendida a peso, E a biografia do Rei Artur, um galante escreveu-a. Mas a sucata da cavalaria ainda reina nessas almas, como um perfil distante.
Está frio. Ponho sobre os ombros o capote que me lembra um xaile — O xaile que minha tia me punha aos ombros na infância. Mas os ombros da minha infância sumiram-se antes para dentro dos meus ombros. E o meu coração da infância sumiu-se antes para dentro do meu coração.
Sim, está frio... Está frio em tudo que sou, está frio... Minhas próprias ideias têm frio, como gente velha... E o frio que eu tenho das minhas ideias terem frio é mais frio do que elas.
Engelho o capote à minha volta... O Universo da gente... a gente... as pessoas todas!... A multiplicidade da humanidade misturada Sim, aquilo a que chamam a vida, como se só houvesse outros e estrelas... Sim, a vida... Meus ombros descaem tanto que o capote resvala... Querem comentário melhor? Puxo-me para cima o capote.
Ah, parte a cara à vida! Levanta-te com estrondo no sossego de ti!
Poema de Álvaro de Campos - ando há dias com este poema na cabeça - A alma humana é porca como um ânus - e não há definição melhor da alma humana - nem da religião - nem da filosofia - nem da psicologia - copiado daqui - que não me apeteceu ir procurá-lo à minha edição da Poesia de Álvaro de Campos
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February 1, 2014
Un Amour À Taire*
*Nos próximos tempos, sempre que me lembrar - ou que os encontrar no YouTube - vou partilhar aqui alguns filmes, cujo denominador comum é a II Guerra Mundial. Ontem partilhei o Hitler: La Naissance du Mal - também podem ver o Au Revoir, Les Enfants.
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January 31, 2014
Anatomia da Melancolia - de Robert Burton
A Quetzal vai começar a publicar uma série de clássicos. Estão anunciados este Anatomia da Melancolia, de Robert Burton - e Páginas Escolhidas, de Samuel Johnson (esse mesmo que disse que a posteridade não havia de recordar o nome de Laurence Sterne) - para um triste Shandyano como eu isto é o Paraíso - um Inferno! (Também vão publicar Gargântua - e Pantagruel? - se me querem matar de melancolia - ou desespero - ou raiva por andar a rapar o fundo da carteira e não encontrar pataco - acho bem que o façam...) P'la minha saúde - julgo que devo boicotar novamente os livros da Quetzal. Que não se lembrem de publicar o Samuel Richardson - ou terei que vos apresentar a conta do Psiquiatra. Raios partam o vil metal. Logo agora que eu não tenho dinheiro é que se haviam de lembrar de publicar Portugal, a Flor e a Foice - estávamos tão bem, de relações cortadas.
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Hitler: La Naissance du Mal [Hitler: A Origem do Mal; Filme Completo; Versão Longa]
Pardonnez-moi, mais je n'ai pas trouvé aucune version sous-titré...
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January 29, 2014
13 ans...
As minhas desculpas a quem não entende Francês, mas não há legendas.
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10 Livros
O João Roque desafiou-me a indicar 10 livros (ficção ou não) que me tenham marcado ou que sejam importantes para mim, independentemente de serem grandes obras ou não (o que é uma grande obra? - o cânone - o cânone - eu dizia-vos qualquer coisa sobre o cânone - mas leiam antes Henry Fielding e Laurence Sterne - e James Joyce). A ideia é não gastar muito tempo, nem pensar muito (o difícil é ficar por 10). Deveria indicar 10 amigos - mas também devia ser no facebook - e se já tenho pouca paciência para estas correntes, no facebook tenho ainda menos. Portanto, deixo aqui uma lista (por comodidade, conforto, ou preguiça - limitei a lista a romances) - há uns anos atrás, era esta a minha lista de 10 livros - agora fica esta:
A Vida e Opiniões de Tristram Shandy, de Laurence SterneTom Jones, de Henry FieldingMemórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de AssisO Crime do Padre Amaro, de Eça de QueirozA Peste, de Albert CamusEnsaio sobre a Cegueira, de José SaramagoCem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquezmanhã submersa, Vergílio FerreiraNáusea, Jean-Paul SartreAs Vinhas da Ira, de John Steinbeck
(E ficam de fora Lewis Carroll, Boris Vian, Álvaro de Campos, Yukio Mishima, e Mário de Sá-Carneiro, em relação à antiga lista - porque isto de indicar apenas 10 é muito redutor...)
E vocês - meus caros leitores - e minhas queridas leitoras - qual a vossa lista de 10 livros?
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January 28, 2014
Este País não é para Jovens* - de Helena Matos e José Manuel Fernandes - apresentação de Álvaro Santos Pereira
*Álvaro Santos Pereira foi apresentar - descaradamente - o livro Este País Não É Para Jovens** - nem para ninguém - excepção seja feita - apenas para aqueles que fazem com que seja assim - como os gestores que gerem mal as empresas públicas - e veem depois dizer que o Estado é mau gestor. Quem o ouvir - ao Álvaro - até fica convencido que ele não esteve no Governo - não deve ser o mesmo Álvaro - bons ares tem respirado. Enfim, compare-se a notícia - com o que não é noticiado:
Paz podre. Vivemos num país em que uma paz podre é mantida não só por quem decide mas por quem faz as escolhas editoriais nos media portugueses. É uma afirmação constatada na primeira pessoa. Acabo de chegar da Fnac do Chiado, onde estava o ex-ministro da Economia, "o Álvaro" na apresentação do livro "Este país não é para jovens". Estava lá a comunicação social em peso. No final do discurso interpelei Álvaro Santos Pereira sobre o discurso esquizofrénico que fez sobre o país. Uma descrição em que, até parecia, não ter feito parte do governo nos últimos três anos. Disse-lhe, além disso, em claro e bom som, que ele é responsável por este país não ser realmente para jovens. Não é nem para jovens nem para ninguém que questione estas políticas e queira mudança. Os jornalistas gravaram. Contudo (surpresa das surpresas), nos jornais da noite nem uma palavra ou imagem do que ali se passou. A TVi fez uma micro-nano peça em que passou umas imagens de um público bem comportado e calado, com direito apenas a um soundbite do Álvaro Santos Pereira a dizer que a Segurança Social tem que ser "reestruturada" e que se tem que reduzir o "peso" do Estado (aka privatizar o que nos sobra, como se isto trouxesse alguma riqueza, poder e bem-estar às pessoas, sem ser aos círculos do costume. Nos outros canais nada. Nada de novo. Querem fingir que está tudo bem. Continuam a esconder a contestação. A oprimir qualquer coisa que se meta nos seus caminhos. Fazem-nos crer que não há alternativas. Quem decide as notícias deste país só dá espaço ao mesmo discurso, repetido vezes sem conta, senão pelos jornalistas pelos seus comentadores. Querem nos impingir o "consenso" (sabem lá eles o que isso é) que lhes interessa. Esta é a paz que tentam garantir com unhas e dentes neste país também ele já podre.
Inês Subtil, no facebook.
**O Cormac McCarthy não merecia que se apropriassem assim do seu título - quanto ao livro em questão, há livros que bastam pelos autores que os assinam - nada mais têm a dizer, apenas isto: Helena Matos e José Manuel Fernandes...
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Surreal: 100 Surreais
Surreal: a nova moeda Brasileira, a moeda que chega aonde o Real não chega. Muito útil no Rio de Janeiro.
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