Rodrigo Constantino's Blog, page 431
July 11, 2011
Lições de um Brasil sem governo
Guilherme Fiuza, Revista ÉPOCA
Morreu Itamar Franco, um presidente que fez bem ao Brasil. Fez bem por linhas tortas. Foi o símbolo da volta da dignidade ao poder depois da queda de Collor – de quem era vice e aliado político. PC Farias, centro dos escândalos que levaram ao processo de impeachment, era o tesoureiro da campanha que elegeu Itamar vice-presidente da República. Quando Collor caiu e Itamar assumiu, parecia que os dois nunca tinham se visto na vida – tal a esperança de regeneração depositada nele pelos brasileiros. E Itamar fez um "não governo" excelente, bem melhor que o atual.
A história é uma salada de versões, e a que prevalece pode ser a que foi gritada mais alto. Itamar foi enterrado como o presidente do Plano Real. A homenagem é merecida, por ser verdadeira. Mas a verdade às vezes é tortuosa. Fernando Henrique foi nada menos que o quarto ministro da Fazenda de Itamar. O presidente do Real teve, portanto, três outras chances de realizar "seu" Plano – e não passou nem perto.
A inflação anual de 1992 tinha passado de 1.000% (melhor escrever por extenso, para os mais novos não acharem que foi erro de digitação: mil por cento). Para enfrentar esse monstro, Itamar escalou para a Fazenda Gustavo Krause, depois o substituiu por Paulo Haddad, que também tirou para colocar Eliseu Resende. Três ministros e nenhum resultado contra a inflação. Quando o terceiro caiu, ninguém acreditava mais que o governo Itamar pudesse fazer algo consistente contra a escalada louca dos preços. Nem Fernando Henrique acreditava.
Cada vez mais, o ex-vice de Collor parecia empurrar com a barriga um governo-tampão, apenas arrastando o país até a eleição seguinte. Nesse cenário de quase paralisia, uma voz ajudou Itamar a não perder de todo a liderança política – a voz do ministro das Relações Exteriores. Era Fernando Henrique. Depois da demissão de Eliseu Resende, não tendo mais nenhum coelho para tirar da cartola, Itamar chamou o intelectual tucano que cuidava da diplomacia para comandar a economia. Não fazia muito sentido – mas, àquela altura do desastre, fazer sentido era o de menos.
Fernando Henrique assumiu o Ministério da Fazenda para tentar acalmar a inflação, talvez com alguma medida emergencial. Era preciso evitar o colapso econômico e o perigo de uma crise institucional, que jogasse o país no desgoverno. O quarto ministro da Fazenda de Itamar reuniu as melhores cabeças econômicas que conhecia (a algumas delas, teve de implorar) e pediu a essa pequena equipe um plano de ação imediata.
Tal plano começou com medidas de controle orçamentário, sem truques imediatos contra a inflação – como o confisco da poupança pelo Plano Collor e outras acrobacias dos sucessivos "pacotões". Sob a regência de Fernando Henrique, o grupo passou a trabalhar em ações estruturais, que acabaram levando à ousadia de uma reforma monetária – gestada em nove meses e implantada em quatro. O Plano Real.
Na véspera da implantação do Plano (quando ia entrar em vigor a moeda de transição para o real, a URV), Fernando Henrique pediu demissão. Influenciado pela ala "trabalhista" do governo, Itamar queria correção para os salários pela inflação anterior e controle de preços – o que, na prática, destruiria o Plano Real. Diante do pedido de demissão de FHC, Itamar recuou, mantendo o Plano e o ministro.
Depois que o real deu certo e mudou a vida dos brasileiros para melhor, Itamar virou oposição a FHC, seu sucessor na Presidência. Tentou atrapalhar a política econômica na crise de 1999, decretando uma moratória como governador de Minas Gerais. Coisas do jogo político.
Mas Itamar Franco é o presidente do Plano Real, porque, em seu governo frágil, teve força para proteger uma grande reforma das inúmeras tentativas de sabotagem. Hoje os sabotadores estão no poder, sem planos. Saudades do não governo de Itamar.
Morreu Itamar Franco, um presidente que fez bem ao Brasil. Fez bem por linhas tortas. Foi o símbolo da volta da dignidade ao poder depois da queda de Collor – de quem era vice e aliado político. PC Farias, centro dos escândalos que levaram ao processo de impeachment, era o tesoureiro da campanha que elegeu Itamar vice-presidente da República. Quando Collor caiu e Itamar assumiu, parecia que os dois nunca tinham se visto na vida – tal a esperança de regeneração depositada nele pelos brasileiros. E Itamar fez um "não governo" excelente, bem melhor que o atual.
A história é uma salada de versões, e a que prevalece pode ser a que foi gritada mais alto. Itamar foi enterrado como o presidente do Plano Real. A homenagem é merecida, por ser verdadeira. Mas a verdade às vezes é tortuosa. Fernando Henrique foi nada menos que o quarto ministro da Fazenda de Itamar. O presidente do Real teve, portanto, três outras chances de realizar "seu" Plano – e não passou nem perto.
A inflação anual de 1992 tinha passado de 1.000% (melhor escrever por extenso, para os mais novos não acharem que foi erro de digitação: mil por cento). Para enfrentar esse monstro, Itamar escalou para a Fazenda Gustavo Krause, depois o substituiu por Paulo Haddad, que também tirou para colocar Eliseu Resende. Três ministros e nenhum resultado contra a inflação. Quando o terceiro caiu, ninguém acreditava mais que o governo Itamar pudesse fazer algo consistente contra a escalada louca dos preços. Nem Fernando Henrique acreditava.
Cada vez mais, o ex-vice de Collor parecia empurrar com a barriga um governo-tampão, apenas arrastando o país até a eleição seguinte. Nesse cenário de quase paralisia, uma voz ajudou Itamar a não perder de todo a liderança política – a voz do ministro das Relações Exteriores. Era Fernando Henrique. Depois da demissão de Eliseu Resende, não tendo mais nenhum coelho para tirar da cartola, Itamar chamou o intelectual tucano que cuidava da diplomacia para comandar a economia. Não fazia muito sentido – mas, àquela altura do desastre, fazer sentido era o de menos.
Fernando Henrique assumiu o Ministério da Fazenda para tentar acalmar a inflação, talvez com alguma medida emergencial. Era preciso evitar o colapso econômico e o perigo de uma crise institucional, que jogasse o país no desgoverno. O quarto ministro da Fazenda de Itamar reuniu as melhores cabeças econômicas que conhecia (a algumas delas, teve de implorar) e pediu a essa pequena equipe um plano de ação imediata.
Tal plano começou com medidas de controle orçamentário, sem truques imediatos contra a inflação – como o confisco da poupança pelo Plano Collor e outras acrobacias dos sucessivos "pacotões". Sob a regência de Fernando Henrique, o grupo passou a trabalhar em ações estruturais, que acabaram levando à ousadia de uma reforma monetária – gestada em nove meses e implantada em quatro. O Plano Real.
Na véspera da implantação do Plano (quando ia entrar em vigor a moeda de transição para o real, a URV), Fernando Henrique pediu demissão. Influenciado pela ala "trabalhista" do governo, Itamar queria correção para os salários pela inflação anterior e controle de preços – o que, na prática, destruiria o Plano Real. Diante do pedido de demissão de FHC, Itamar recuou, mantendo o Plano e o ministro.
Depois que o real deu certo e mudou a vida dos brasileiros para melhor, Itamar virou oposição a FHC, seu sucessor na Presidência. Tentou atrapalhar a política econômica na crise de 1999, decretando uma moratória como governador de Minas Gerais. Coisas do jogo político.
Mas Itamar Franco é o presidente do Plano Real, porque, em seu governo frágil, teve força para proteger uma grande reforma das inúmeras tentativas de sabotagem. Hoje os sabotadores estão no poder, sem planos. Saudades do não governo de Itamar.
Published on July 11, 2011 12:35
Santos entre taças de vinho

Entrevista de Luiz Felipe Pondé à Jerônimo Teixeira, da VEJA
Luiz Felipe Pondé (foto), 52, é um raro exemplo de filósofo brasileiro que consegue conversar com o mundo para além dos muros da academia. Seja na sua coluna semanal na Folha de S.Paulo, seja em livros como o recém-lançado O Catolicismo Hoje (Benvirá), ele sabe se comunicar como o grande público sem baratear suas ideias. Mais rara ainda é sua disposição para criticar certezas e lugares-comuns bem estabelecidos entre seus pares. Pondé é um crítico da dominância burra que a esquerda assumiu sobre a cultura brasileira. Professor da Faap e da PUC, em São Paulo, Pondé, em seus ensaios, conseguiu definir ironicamente o espírito dos tempos descrevendo um cenário comum na classe média intelectualizada: o jantar inteligente, no qual os comensais, entre uma e outra taça de vinho chileno, se cumprimentam mutuamente por sua "consciência social". Diz Pondé: "Sou filósofo casado com psicanalista. Somos convidados para muitos jantares assim. Há até jantares inteligentes para falar mal de jantares inteligentes. Estudioso de teologia, Pondé considera o ateísmo filosoficamente raso, mas não é seguidor de nenhuma religião em particular. Eis um pensador capaz de surpreender quem valoriza o rigor na troca de ideias.
Em seus ensaios, o senhor delineou um cenário exemplar do mundo atual: o jantar inteligente. O que vem a ser isso?
É uma reunião na qual há uma adesão geral a pacotes de ideias e comportamentos. Pode ser visto como a versão contemporânea das festas luteranas nas Dinamarca do Século 19, que o filósofo Soren Kierkegaard criticava por sua hipocrisia. Esse vício migor de um cenário no qual o cristianismo era base da hipocrisia para uma falsa espiritualidade de esquerda. Como a esquerda não tem a tensão do pecado, ela é pior do que o cristianismo.
Como assim?
A esquerda é menos completa como ferramenta cultural para produzir uma visão de si mesma. A espiritualidade de esquerda é rasa. Aloca toda a responsabilidade do mal fora de você: o mal está na classe social, no capital, no estado, na elite. Isso infantiliza o ser humano. Ninguém sai de um jantar inteligente para se olhar no espelho e ver um demônio. Não: todos se veem como heróis que estão salvando o mundo por andar de bicicleta.
Quais são os temas mais comuns da conversa em um jantar desses?
Filhos são um tema recorrente. Todos falam de como seus filhos são diferentes dos outros porque frequentam uma escola que cobra R$ 2.000 por mês, mas é de esquerda e estuda a sério o inviável modelo econômico cubano. Ou dizem que a filha já tem consciência ambiental e trabalha e uma ong que ajuda as crianças da África. Também se fala sempre de algum filme chatíssimo de que todos fingem ter gostado para mostrar como têm repertório. Mais timidamente, há certa preocupação com a saúde e o corpo. Reciclar lixo, e mais recentemente, andar de bicicleta também são temas valorizados. Sempre se fala mal dos Estados Unidos, mas Barack Obama é um deus. Fala-se mal de Israel, sem conhecer patativa da história do conflito israelo-palestino. Mas, claro, é obrigatório enfatizar que você é antissionista, mas não antissemita, pois em jantar inteligente muito provavelmente haverá um judeu – apesar de serem muitas vezes judeus em crise consigo mesmos, o que é bem típico dos judeus.
Que assuntos são tabus?
Imagine dizer em uma reunião na Dinamarca luterana de Kierkegaard que algumas mulheres são infelizes porque não chegam ao orgasmo. Seria um escândalo. Simetricamente, hoje é um escândalo dizer que as mulheres emancipadas e donas de seu nariz estão mesmo é loucas de solidão. No jantar inteligente, você tem sempre de dizer que a emancipação feminina criou problemas para as mulheres, que os homens aprenderam a ser sensíveis e que uma mulher nunca vai dar um pé no homem que se mostre sensível demais. Os jantares inteligentes misturam cardápios interessantes -- pratos peruanos ou, sei lá, vietnamitas – como papo-cabeça, mas servem à mesma função que os jantares dos pais dessas pessoas cumpriam: passar o tempo. Os problemas amorosos, sexuais e profissionais são os mesmos, mas todos se acham bem resolvidos. Costumo provocar dizendo que há 100 anos se fazia sexo melhor. Tinha mais culpa e pecado, o que deve ser uma excitação tremenda. Hoje, todos mundo diz que tem um desempenho maravilhoso, e que vive uma relação de troca plena com o seu parceiro ou parceira. Eu considero a revolução sexual um dos maiores engodos da história recente. Criou uma dimensão de indústria, no sentido da quantidade, das relações sexuais – mas na maioria elas são muito ruins, porque as pessoas são complicadas.
Quando começaram os jantares inteligentes?
A matriz histórica são os filósofos da França pré-revolucionária. Os saraus, os jantares em casa de condessas e marquesas eram então uma atividade da burguesia, ou de uma aristocracia falida, aburguesada. Eram uma das formas que a burguesia usava para constituir sua identidade, para mostrar que tinha cultura e opiniões. Mas era um grupo de vanguarda, que discutia a fratura e crises do pensamento. Nos jantares de hoje, a inteligência tem a mesma função do vinho chileno.
Não há lugar para um pensamento alternativo nem na hora da sobremesa?
Não. A gente anos de ditadura no Brasil. Mas, quando ela acabou, a esquerda estava em sua plenitude. Tomou conta das universidades, dos institutos culturais, das redações de jornal. Você pode ver nas universidades, por exemplo, cartazes de um ciclo de palestras sobre o pensamento de Trotsky e sua atualidade, mas não se veem cartazes anunciando conferência sobre a crítica à Revolução Francesa de Edmund Burke, filósofo irlandês fundamental para entender as origens do conservadorismo. Não há um pensamento alternativo à tradição de Rousseau, de Hegel e de Marx. Tenho um amigo que é dono de uma grande indústria e cuja filha estuda em um colégio de São Paulo que nem é desses chiques de esquerda. É uma escola bastante tradicional. Um dia, uma professora falava da Revolução Cubana, como se esse fosse um grande tema. Ela citou Che Guevara, e a menina perguntou: "Ele não matou muita gente?" A professora se vira para a menina e responde: "O seu pai também mata muita gente de fome". O que autorizou uma professora usar esse tipo de argumento é o status quo que se instalou também nas escolas, e não só na universidade. O infantilismo político dá vazão e legitima esse tipo de julgamento moral sumário.
Como essa tendência se manifesta na universidade?
O mundo das ciências humanos, em que há pouco dinheiro e se faz pouca coisa, é dominado pela esquerda aguada. Há muitos corporativismo e a tendência geral de excluir, por manobras institucionais, aqueles que não se identificam com a esquerda. Existe ainda a nova esquerda, para a qual não é mais o proletariado que carrega o sentido da história, como queria Marx. Os novos esquerdistas acreditam que esse papel hoje cabe às mulheres oprimidas, aos índios, aos aborígenes, aos imigrantes ilegais. Esses segmentos formariam a nova classe sobre a qual estaria depositada a graça redentora. Eu detesto política como redenção.
Por que a política não pode ser redentora?
O cristianismo, que é uma religião hegemônica no Ocidente, fala do pecador, de sua busca e de seu conflito interior. É uma espiritualidade riquíssima, pouco conhecida por causa do estrago feito pelo secularismo extremado. Al lado de sua vocação repressora institucional, o cristianismo reconhece que o homem é fraco, é frágil. As redenções políticas não têm isso. Esse é um aspecto do pensamento de esquerda que eu acho brega. Essa visão do homem se responsabilidade moral. O mal está sempre na classe social, na relação econômica, na opressão do poder. Na visão medieval, é a graça de Deus que redime o mundo. É um conceito complexo e fugidio. Não se sabe se alguém é capaz de ganhar a graça por seus próprios méritos, ou se é Deus na sua perfeição que concede a graça. Em qualquer hipótese, a graça não depende de um movimento positivo de um grupo. Na redenção política, é sempre o coletivo, o grupo, que assume o papel de redentor. O grupo, como a história do século 20 nos mostrou, é sempre opressivo.
Em que o cristianismo é superior ao pensamento de esquerda?
Pegue a ideia de santidade. Ninguém, em nenhuma teologia da tradição cristã – nem da judaica ou islâmica --, pode dizer-se santo. Nunca. Isso na verdade vem desde Aristóteles: ninguém pode enunciar a própria virtude. A virtude de um homem é anunciada pelos outros homens. Na tradição católica – o protestantismo não tem santos --, o santo é sempre alguém que, o tempo todo, reconhece o mal em si mesmo. O clero da esquerda, ao contrário, é movido por um sentimento de pureza. Considera sempre o outro como o porco capitalista, o burguês. Ele próprio não. Ele está salvo, porque reclica lixo, porque vota no PT, ou em algum partido que se acha mais puro ainda, como o PSOL, até porque o PT já está meio melado. Não há contradição interior na moral esquerdista. As pessoas se autointitulam santas e ficam indignadas com o mal do outro.
Quando o cristianismo cruza o pensamento de esquerda, como no caso da Teologia da Libertação, a humildade se perde?
Sim. Eu vejo isso empiricamente em colegas da Teologia da Libertação. Eles se acham puros. Tecnicamente, a Teologia da Libertação é, por um lado, uma fiel herdeira da tradição cristã. Ela vem da crítica social que está nos profetas de Israel, no Antigo Testamento. Esses profetas falam mal do rei, mas em idealizar o povo. O cristianismo é descendente principalmente desse viés do judaísmo. Também o cristianismo nasceu questionando a estrutura social. Até aqui, isso não me parece um erro teológico. Só que a Teologia da Libertação toma como ferramenta o marxismo, e isso sim é um erro. Um cristão que recorre a Marx, ou a Nietzsche – a quem admiro --, é como uma criança que entra na jaula do leão e faz bilu-bilu na cara dele. É natural que a Teologia da Libertação, no Brasil, tenha evoluído para Leonardo Boff, que já não tem nada de cristão. Boff evoluiu para um certo paganismo Nova Era – e já nem é marxista tampouco. A Teologia da Libertação é ruim de marketing. É como já se disse: enquanto a Teologia da Libertação fez a opção pelo pobre, o pobre fez a opção pelo pentecostalismo.
O senhor acredita em Deus?
Sim. Mas já fui ateu por muito tempo. Quando digo que acredito em Deus, é porque acho essa uma das hipóteses mais elegantes em relação, por exemplo, à origem do universo. Não é que eu rejeite o acaso ou a violência implícitos no darwinismo – pelo contrário. Mas considero que o conceito de Deus na tradição ocidental é, em termos filosóficos, muito sofisticado. Lembro-me sempre de algo que o escritor inglês Chesterton dizia: não há problema em não acreditar em Deus; o problema é que quem deixa de acreditar em Deus começa a acreditar em qualquer outra bobagem, seja na história, na ciência ou sem si mesmo, que é a coisa mais brega de todas. Só alguém muito alienado pode acreditar em si mesmo. Minha posição teológica não é óbvia e confunde muito as pessoas. Opero no debate público assumindo os riscos do niilista. Quase nunca lanço a hipótese de Deus no debate moral, filosófico ou político. Do ponto de vista político, a importância que vejo na religião é outra. Para mim, ela é uma fonte de hábitos morais, e historicamente oferece resistência à tendência do Estado moderno de querer fazer a cura das almas, como se dizia na Idade Média – querer se meter na vida moral das pessoas.
Por que o senhor deixou de ser ateu?
Comecei a achar o ateísmo aborrecido, do ponto de vista filosófico. A hipótese de Deus bíblico, na qual estamos ligados a um enredo e um drama morais muito maiores do que o átomo, me atraiu. Sou basicamente pessimista, cético, descrente, quase na fronteira da melancolia. Mas tenho sorte sem merecê-la. Percebo uma certa beleza, uma certa misericórdia no mundo, que não consigo deduzir a partir dos seres humanos, tampouco de mim mesmo. Tenho a clara sensação de que às vezes acontecem milagres. Só encontro isso na tradição teológica.
Published on July 11, 2011 10:42
July 4, 2011
O germe do autoritarismo
Denis Rosenfield, Estadão
O País apresenta uma situação assaz curiosa. De um lado, observamos estranha complacência com os mais distintos descalabros relativos à coisa pública, tratada, na verdade, como coisa de uns poucos. É como se a Nação estivesse adormecida. De outro, notamos uma espécie de cruzada contra alguns comportamentos, tidos por nocivos à saúde e ao bem de cada um, como se coubesse ao Estado ingerir nas escolhas individuais. É uma espécie de puritanismo de Estado.
A Nação está adormecida. Governantes e parlamentares estão dando uma amostra do que não deveria ser um comportamento exemplar de representantes do povo. O exemplo funciona ao contrário, como aquilo que não deveria ser feito. A mensagem que esses representantes passam aos cidadãos é a seguinte: locupletem-se com o dinheiro público, com os impostos de cada um de nós.
A aprovação de leis na Câmara e no Senado torna-se objeto de barganha pública por cargos, emendas e benesses dos mais diferentes tipos, como se o mérito de cada uma das iniciativas não devesse ser considerado enquanto tal. Estamos mesmo perdendo o sentido da hipocrisia. Nesta, um tributo é ainda pago à virtude, pois os que dela fazem uso procuram, ao menos, encenar um outro comportamento, voltado para o "bem". Na ausência da hipocrisia, até essa encenação desaparece.
Palavras perdem o seu sentido ou passam a significar algo totalmente distinto, como se ilícitos ou crimes fossem brincadeiras de crianças, coisas de "aloprados". O escândalo dos aloprados ganhou nova dimensão com a revelação, pela revista "Veja", do "desabafo" de um "qualificado" militante petista de que suas ações "inqualificáveis" tiveram apoio partidário para desqualificar a candidatura de José Serra ao governo do Estado de São Paulo, em 2006. Foi mais preciso ainda ao dizer que o mesmo instrumento já havia sido utilizado com sucesso para desqualificar uma companheira do partido, Serys Slhessarenko, e o tucano Antero Paes de Barros, em Mato Grosso. Nem os companheiros são poupados.
Num país "acordado", essa nova revelação teria efeito bombástico, sendo propriamente um fato novo que deveria ensejar novas investigações da Polícia Federal e do Ministério Público e uma atitude firme do Congresso. Até agora, nada aconteceu. O ministro Aloizio Mercadante, apontado por seu companheiro de partido como um dos mentores daquela ação criminosa, compareceu ao Senado e nada aconteceu. A própria oposição mostrou desinteressar-se do caso. O ministro chegou ao desplante de dizer que a militância envolvida no episódio achava que, assim, iria destruir a corrupção: "Eles entendiam que havia blindagem na imprensa em relação às ações do governo Lula. Então eles achavam que tinham essa missão heroica de combater isso".
A bandidagem mudou de nome, agora se chama "missão heroica". Está entendido. Os "aloprados" deveriam ser considerados "heróis", embora possam ter-se equivocado em sua ação. Trata-se de uma enormidade. O problema, porém, reside em como podemos ter chegado lá, quando uma frase desse tipo é dita no Senado sem que produza comoção. Isso só se explica pela degradação moral do ambiente político.
Por outro lado, o governo transmite uma outra mensagem, compartilhada também por governos de outras agremiações partidárias nos níveis estadual e municipal. O Estado estar-se-ia ocupando da saúde dos indivíduos, do seu bem. No país do carnaval e da cachaça, a mensagem é a de um puritanismo alicerçado no Estado.
As medidas de cerceamento da liberdade de escolha, em diferentes níveis, só se têm acentuado. Começam insensivelmente, de modo a não produzir grandes reações. Funcionam como uma espécie de anestesia progressiva. Progressiva porque não se trata de uma anestesia comum, que deixa de produzir os seus efeitos após um breve período.
As coisas funcionam anodinamente. Numa espécie de longa história, ela começa com o cinto de segurança. Deveria ser função do Estado informar sobre os eventuais malefícios de dirigir sem o cinto de segurança, cabendo a cada um decidir se seguirá ou não essa orientação, assumindo, evidentemente, as suas consequências. A história prossegue com uma cruzada contra o fumo e as bebidas alcoólicas, como se as pessoas fossem incapazes de discriminar por si mesmas o que é melhor para elas. Para evitar qualquer tipo de mal-entendido, não estou advogando que uma pessoa em ambiente fechado fume na cara de outra, o que seria um evidente desrespeito ao direito alheio, mas que se possam frequentar lugares exclusivos para uns e outros. Tampouco que bêbados dirijam pelas ruas. Se causarem um acidente por isso, devem, evidentemente, ser severamente punidos. Daí não se segue uma legislação puritana que só tem equivalente no mundo em países como a Arábia Saudita. Uma legislação mais tolerante seria muito mais adequada, como ocorre em vários países europeus. Um cálice ou dois de vinho não causam embriaguez!
A situação de restrição à escolha individual chega às raias da insensatez, obrigando as pessoas a usarem um padrão de tomada determinado, como se cada um não pudesse fazer sua opção. Parece não haver limites para a intromissão do Estado, obrigando até mesmo os médicos a não prescreverem certos tipos de remédios para emagrecer, como se não fossem pessoas qualificadas para o exercício de sua profissão. A lista é longa e se estende à compra de antibióticos nas farmácias sem receita especial, além de outras que já se anunciam quanto à publicidade de comidas gordurosas ou contendo alto teor de sódio. Telefones celulares estão igualmente na mira, pelas ondas que utilizam.
A situação não deixa de ser paradoxal. Complacência completa com a imoralidade pública e imposição de comportamentos puritanos na esfera privada. Quem ganha com esse estranho jogo, o do germe do autoritarismo?
O País apresenta uma situação assaz curiosa. De um lado, observamos estranha complacência com os mais distintos descalabros relativos à coisa pública, tratada, na verdade, como coisa de uns poucos. É como se a Nação estivesse adormecida. De outro, notamos uma espécie de cruzada contra alguns comportamentos, tidos por nocivos à saúde e ao bem de cada um, como se coubesse ao Estado ingerir nas escolhas individuais. É uma espécie de puritanismo de Estado.
A Nação está adormecida. Governantes e parlamentares estão dando uma amostra do que não deveria ser um comportamento exemplar de representantes do povo. O exemplo funciona ao contrário, como aquilo que não deveria ser feito. A mensagem que esses representantes passam aos cidadãos é a seguinte: locupletem-se com o dinheiro público, com os impostos de cada um de nós.
A aprovação de leis na Câmara e no Senado torna-se objeto de barganha pública por cargos, emendas e benesses dos mais diferentes tipos, como se o mérito de cada uma das iniciativas não devesse ser considerado enquanto tal. Estamos mesmo perdendo o sentido da hipocrisia. Nesta, um tributo é ainda pago à virtude, pois os que dela fazem uso procuram, ao menos, encenar um outro comportamento, voltado para o "bem". Na ausência da hipocrisia, até essa encenação desaparece.
Palavras perdem o seu sentido ou passam a significar algo totalmente distinto, como se ilícitos ou crimes fossem brincadeiras de crianças, coisas de "aloprados". O escândalo dos aloprados ganhou nova dimensão com a revelação, pela revista "Veja", do "desabafo" de um "qualificado" militante petista de que suas ações "inqualificáveis" tiveram apoio partidário para desqualificar a candidatura de José Serra ao governo do Estado de São Paulo, em 2006. Foi mais preciso ainda ao dizer que o mesmo instrumento já havia sido utilizado com sucesso para desqualificar uma companheira do partido, Serys Slhessarenko, e o tucano Antero Paes de Barros, em Mato Grosso. Nem os companheiros são poupados.
Num país "acordado", essa nova revelação teria efeito bombástico, sendo propriamente um fato novo que deveria ensejar novas investigações da Polícia Federal e do Ministério Público e uma atitude firme do Congresso. Até agora, nada aconteceu. O ministro Aloizio Mercadante, apontado por seu companheiro de partido como um dos mentores daquela ação criminosa, compareceu ao Senado e nada aconteceu. A própria oposição mostrou desinteressar-se do caso. O ministro chegou ao desplante de dizer que a militância envolvida no episódio achava que, assim, iria destruir a corrupção: "Eles entendiam que havia blindagem na imprensa em relação às ações do governo Lula. Então eles achavam que tinham essa missão heroica de combater isso".
A bandidagem mudou de nome, agora se chama "missão heroica". Está entendido. Os "aloprados" deveriam ser considerados "heróis", embora possam ter-se equivocado em sua ação. Trata-se de uma enormidade. O problema, porém, reside em como podemos ter chegado lá, quando uma frase desse tipo é dita no Senado sem que produza comoção. Isso só se explica pela degradação moral do ambiente político.
Por outro lado, o governo transmite uma outra mensagem, compartilhada também por governos de outras agremiações partidárias nos níveis estadual e municipal. O Estado estar-se-ia ocupando da saúde dos indivíduos, do seu bem. No país do carnaval e da cachaça, a mensagem é a de um puritanismo alicerçado no Estado.
As medidas de cerceamento da liberdade de escolha, em diferentes níveis, só se têm acentuado. Começam insensivelmente, de modo a não produzir grandes reações. Funcionam como uma espécie de anestesia progressiva. Progressiva porque não se trata de uma anestesia comum, que deixa de produzir os seus efeitos após um breve período.
As coisas funcionam anodinamente. Numa espécie de longa história, ela começa com o cinto de segurança. Deveria ser função do Estado informar sobre os eventuais malefícios de dirigir sem o cinto de segurança, cabendo a cada um decidir se seguirá ou não essa orientação, assumindo, evidentemente, as suas consequências. A história prossegue com uma cruzada contra o fumo e as bebidas alcoólicas, como se as pessoas fossem incapazes de discriminar por si mesmas o que é melhor para elas. Para evitar qualquer tipo de mal-entendido, não estou advogando que uma pessoa em ambiente fechado fume na cara de outra, o que seria um evidente desrespeito ao direito alheio, mas que se possam frequentar lugares exclusivos para uns e outros. Tampouco que bêbados dirijam pelas ruas. Se causarem um acidente por isso, devem, evidentemente, ser severamente punidos. Daí não se segue uma legislação puritana que só tem equivalente no mundo em países como a Arábia Saudita. Uma legislação mais tolerante seria muito mais adequada, como ocorre em vários países europeus. Um cálice ou dois de vinho não causam embriaguez!
A situação de restrição à escolha individual chega às raias da insensatez, obrigando as pessoas a usarem um padrão de tomada determinado, como se cada um não pudesse fazer sua opção. Parece não haver limites para a intromissão do Estado, obrigando até mesmo os médicos a não prescreverem certos tipos de remédios para emagrecer, como se não fossem pessoas qualificadas para o exercício de sua profissão. A lista é longa e se estende à compra de antibióticos nas farmácias sem receita especial, além de outras que já se anunciam quanto à publicidade de comidas gordurosas ou contendo alto teor de sódio. Telefones celulares estão igualmente na mira, pelas ondas que utilizam.
A situação não deixa de ser paradoxal. Complacência completa com a imoralidade pública e imposição de comportamentos puritanos na esfera privada. Quem ganha com esse estranho jogo, o do germe do autoritarismo?
Published on July 04, 2011 12:36
July 2, 2011
Governo e BNDES recuam
Editorial do Estadão
Depois de elogiar enfaticamente o projeto de fusão entre o Pão de Açúcar e o Carrefour, o governo decidiu ser mais cauteloso nas manifestações de apoio ao negócio. A presidente Dilma Rousseff e seus assessores parecem haver percebido mais claramente o perigo de se envolver numa transação desse tipo - sujeita à disputa judicial e à contestação pelos órgãos de defesa da concorrência. Está em jogo muito mais que os R$ 3,9 bilhões da possível participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nessa operação. Um erro de avaliação poderá lançar o governo em sérias dificuldades legais e impor um alto custo político à presidente.
A decisão de agir com maior prudência está claramente refletida em uma "nota de esclarecimento" publicada pelo BNDES. A nota, divulgada na quinta-feira, enfatiza dois pontos: 1) a fusão deve ocorrer por meio de uma oferta "não hostil" e ser aprovada por todas as partes envolvidas; 2) o banco "reitera seu compromisso com a estrita observância das leis e dos contratos". Em outras palavras, o BNDES condiciona sua participação no negócio a um prévio entendimento entre o empresário Abilio Diniz e o Grupo Casino, seu atual sócio francês no Grupo Pão de Açúcar. Dirigentes do Casino acusam Diniz de violar o acordo de associação e de agir ilegalmente ao negociar a fusão com o Carrefour. A segunda condição mencionada no texto da nota do BNDES é uma alusão a este conflito. Segundo o Grupo Casino, o sócio brasileiro fere uma regra estabelecida na constituição da Wilkes, a holding controladora do Pão de Açúcar. Nenhuma das partes, alegam os sócios franceses, poderia negociar um acordo com potencial para afetar o controle da companhia brasileira. Advogados do grupo francês levaram esse lembrete ao BNDES.
O banco havia divulgado na terça-feira um primeiro comunicado sobre seu possível envolvimento na fusão. Segundo o informe, o BNDES havia enquadrado para análise uma operação equivalente a até 2 bilhões, "relativa ao projeto de internacionalização do Grupo Pão de Açúcar". No fim do comunicado havia apenas uma breve referência aos demais participantes: "A operação também deverá ser aprovada pelas demais companhias envolvidas". Apenas dois dias depois a diretoria do banco achou conveniente divulgar a "nota de esclarecimento", para afirmar seu cuidado com "a estrita observância das leis e dos contratos".
Dirigentes do BNDES e autoridades do primeiro escalão do Executivo cometeram indisfarçável imprudência ao apoiar a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour. Deixaram-se envolver antes de avaliar com um mínimo de serenidade e bom senso as implicações do negócio. Como não dispunham de argumentos sensatos para defender a operação, expuseram-se ao ridículo com alegações absurdas e tolas. A mais espantosa foi apresentada pela ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Não seria, segundo ela, usado dinheiro público na transação, como se o BNDES e o BNDESPar, seu braço de investimentos, trabalhassem com recursos privados.
Falta saber se o governo decidiu fazer apenas um recuo tático, diante da péssima repercussão do negócio, ou se passará de fato a avaliar com mais cuidado o seu envolvimento na fusão dos dois gigantes do varejo. Nenhuma autoridade precisará de muito esforço para perceber as contraindicações: nada justifica o envolvimento do poder público num negócio tipicamente privado e sujeito a importantes complicações legais. Menos ainda se justifica a intromissão do Palácio do Planalto, por meio de um banco público, para defender os interesses estritamente particulares de um empresário brasileiro.
Mas a presidente Dilma Rousseff deveria aproveitar a oportunidade para uma revisão geral dos critérios seguidos pelo BNDES nos últimos anos. O banco tomou rumo perigoso, aplicando somas enormes em empreendimentos sem real valor estratégico para o Brasil, apoiando estatais e outras grandes empresas capazes de levantar financiamentos no mercado e funcionando como instrumento de centralização do poder econômico. As melhores e mais ambiciosas intenções da presidente Dilma Rousseff jamais serão satisfeitas com essa política.
Depois de elogiar enfaticamente o projeto de fusão entre o Pão de Açúcar e o Carrefour, o governo decidiu ser mais cauteloso nas manifestações de apoio ao negócio. A presidente Dilma Rousseff e seus assessores parecem haver percebido mais claramente o perigo de se envolver numa transação desse tipo - sujeita à disputa judicial e à contestação pelos órgãos de defesa da concorrência. Está em jogo muito mais que os R$ 3,9 bilhões da possível participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nessa operação. Um erro de avaliação poderá lançar o governo em sérias dificuldades legais e impor um alto custo político à presidente.
A decisão de agir com maior prudência está claramente refletida em uma "nota de esclarecimento" publicada pelo BNDES. A nota, divulgada na quinta-feira, enfatiza dois pontos: 1) a fusão deve ocorrer por meio de uma oferta "não hostil" e ser aprovada por todas as partes envolvidas; 2) o banco "reitera seu compromisso com a estrita observância das leis e dos contratos". Em outras palavras, o BNDES condiciona sua participação no negócio a um prévio entendimento entre o empresário Abilio Diniz e o Grupo Casino, seu atual sócio francês no Grupo Pão de Açúcar. Dirigentes do Casino acusam Diniz de violar o acordo de associação e de agir ilegalmente ao negociar a fusão com o Carrefour. A segunda condição mencionada no texto da nota do BNDES é uma alusão a este conflito. Segundo o Grupo Casino, o sócio brasileiro fere uma regra estabelecida na constituição da Wilkes, a holding controladora do Pão de Açúcar. Nenhuma das partes, alegam os sócios franceses, poderia negociar um acordo com potencial para afetar o controle da companhia brasileira. Advogados do grupo francês levaram esse lembrete ao BNDES.
O banco havia divulgado na terça-feira um primeiro comunicado sobre seu possível envolvimento na fusão. Segundo o informe, o BNDES havia enquadrado para análise uma operação equivalente a até 2 bilhões, "relativa ao projeto de internacionalização do Grupo Pão de Açúcar". No fim do comunicado havia apenas uma breve referência aos demais participantes: "A operação também deverá ser aprovada pelas demais companhias envolvidas". Apenas dois dias depois a diretoria do banco achou conveniente divulgar a "nota de esclarecimento", para afirmar seu cuidado com "a estrita observância das leis e dos contratos".
Dirigentes do BNDES e autoridades do primeiro escalão do Executivo cometeram indisfarçável imprudência ao apoiar a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour. Deixaram-se envolver antes de avaliar com um mínimo de serenidade e bom senso as implicações do negócio. Como não dispunham de argumentos sensatos para defender a operação, expuseram-se ao ridículo com alegações absurdas e tolas. A mais espantosa foi apresentada pela ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Não seria, segundo ela, usado dinheiro público na transação, como se o BNDES e o BNDESPar, seu braço de investimentos, trabalhassem com recursos privados.
Falta saber se o governo decidiu fazer apenas um recuo tático, diante da péssima repercussão do negócio, ou se passará de fato a avaliar com mais cuidado o seu envolvimento na fusão dos dois gigantes do varejo. Nenhuma autoridade precisará de muito esforço para perceber as contraindicações: nada justifica o envolvimento do poder público num negócio tipicamente privado e sujeito a importantes complicações legais. Menos ainda se justifica a intromissão do Palácio do Planalto, por meio de um banco público, para defender os interesses estritamente particulares de um empresário brasileiro.
Mas a presidente Dilma Rousseff deveria aproveitar a oportunidade para uma revisão geral dos critérios seguidos pelo BNDES nos últimos anos. O banco tomou rumo perigoso, aplicando somas enormes em empreendimentos sem real valor estratégico para o Brasil, apoiando estatais e outras grandes empresas capazes de levantar financiamentos no mercado e funcionando como instrumento de centralização do poder econômico. As melhores e mais ambiciosas intenções da presidente Dilma Rousseff jamais serão satisfeitas com essa política.
Published on July 02, 2011 03:59
July 1, 2011
Enquete encerrada
Perguntei porque Chávez foi se tratar em Cuba, e ofereci duas alternativas: porque lá a medicina é fantástica, e porque lá ele poderia manter sigilo sobre sua saúde, como todo ditador gosta de fazer. Foram 77 votos, e pasmem!, sete "malucos" ainda votaram na primeira opção! Seria pura ironia, ou este blog é frequentado por gente tão alienada assim? Anyway, o fato é que hoje mesmo o tiranete venezuelano deu a resposta, alegando ter câncer (que ocultara até então). Os 90% que votaram na opção do sigilo como motivo da escolha de Cuba estavam certos, naturalmente.
Published on July 01, 2011 06:32
O blog sai de férias

Prezados leitores e leitoras, este blog sai de férias merecidas por uma semaninha. Vou visitar a terra de Cabral, trocar dois dedos de prosa com nossos patrícios em Lisboa. Pretendo aproveitar para ver in loco o estrago que o welfare state causa nos países (como se fosse preciso sair do Brasil para isso - puro pretexto!). A crise lusitana não é nenhuma brincadeira de criança, e espero que os "primos portugas" consigam enfrentar a dura realidade e reformar seu governo inchado. Prometo que entre uma punheta e outra (de bacalhau, ora pois!) tentarei atualizar o blog. Mas confesso que minhas prioridades serão outras, bem diferentes. De qualquer forma, nos vemos na volta!
PS: Dia 4 de julho é meu aniversário, e terei "fugido" para Portugal. De presente dos estimados leitores, peço apenas que reflitam e divulguem a mensagem que consta na criação dos Estados Unidos, cuja independência faz aniversário no mesmo dia. Os "pais fundadores" acreditavam em certos valores que eu muito aprecio, especialmente a liberdade individual.
Published on July 01, 2011 06:26
Protecionismo e ufanismo: dois lados da mesma moeda

Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
O tema da fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour gerou forte reação na imprensa. A celeuma demonstra que o país está cansado de tanta safadeza nesta simbiose entre governo e grandes empresários. O aporte esperado de R$ 4 bilhões via BNDESpar é escandaloso demais, sintomático demais. A turma do andar de cima perdeu qualquer resquício de vergonha na cara, e resta aos simples mortais reagir, reclamar, fazer barulho.
Acredito no poder das idéias, e é fundamental não desistir, expor o que está na raiz desta relação mais que suspeita entre governo e grandes empresários. E o que seria isso então? Acredito que a mentalidade ainda predominante no país de que cabe ao governo ser locomotiva da economia, assim como um nacionalismo infantil que aplaude tudo que é "brasileiro". Enquanto estas crenças ultrapassadas não mudarem, casos absurdos como este serão regra. Sai Abílio Diniz e entra algum outro oportunista qualquer, aproveitando-se dos privilégios do governo e da docilidade de um povo ignorante.
O que devemos atacar, mais até do que a própria malandragem do empresário paulista que declarou publicamente sua admiração ao governo atual, é a existência deste instrumento disponível para o uso dos malandros. Afinal, se tem algo que não falta no Brasil é malandro! Note-se que o Pão de Açúcar abusou da retórica nacionalista, com os aplausos do ministro mercantilista Pimentel, para justificar o uso imoral do BNDES na operação. Em carta aos acionistas em 2010, o presidente do Grupo Pão de Açúcar, já com elevada participação dos franceses do Casino, estampou em letras garrafais o "ORGULHO DE SER BRASILEIRO". Às vezes eu tenho é vergonha disso.
"Precisamos manter o controle nacional no setor de varejo", reza a cartilha ufanista. O motivo concreto ninguém explica, pois não tem explicação mesmo. Para os consumidores, não faz a menor diferença qual a nacionalidade dos principais acionistas das empresas varejistas. O que importa é ter livre concorrência, apenas isso. Em suma, o que importa é ter livre mercado, o oposto deste modelo fascista que concentra poder pela via política.
Published on July 01, 2011 06:18
The Jobless Summer

Editorial do WSJ
Perhaps you've already noticed around the neighborhood, but this is a rotten summer for young Americans to find a job. The Department of Labor reported last week that a smaller share of 16-19 year-olds are working than at anytime since records began to be kept in 1948.
Only 24% of teens, one in four, have jobs, compared to 42% as recently as the summer of 2001. The nearby chart chronicles the teen employment percentage over time, including the notable plunge in the last decade. So instead of learning valuable job skills—getting out of bed before noon, showing up on time, being courteous to customers, operating a cash register or fork lift—millions of kids will spend the summer playing computer games or hanging out.
The lousy economic recovery explains much of this decline in teens working, and some is due to increases in teen summer school enrollment. Some is also cultural: Many parents don't put the same demands on teens as they once did to get out and work.
But Congress has also contributed by passing one of the most ill-timed minimum wage increases in history. One of the first acts of the gone-but-not-forgotten Nancy Pelosi ascendancy was to raise the minimum wage in stages to $7.25 an hour in 2009 from $5.15 in 2007. Even liberals ought to understand that raising the cost of hiring the young and unskilled while employers are slashing payrolls is loopy economics.
Or maybe not. The Center for American Progress, often called the think tank for the Obama White House, recently recommended another increase to $8.25 an hour. Though the U.S. unemployment rate is 9.1%, the thinkers assert that a rising wage would "stimulate economic growth to the tune of 50,000 new jobs." So if the government orders employers to pay more to hire workers when they're already not hiring, they'll somehow hire more workers. By this logic, if we raised the minimum wage to $25 an hour we'd have full employment.
Back on planet Earth, the minimum wage increase has coincided with the plunge in the percentage of working teens. Before the most recent wage hikes, roughly seven million teens were working. Now there are closer to five million with a job and paycheck.
Black teens have had the worst of it, with their unemployment rate rising to 41.6% in April from 29% in 2007, faster than almost any other group. A 2010 study by economists William Even of Miami University of Ohio and David Macpherson of Trinity University found that as a result of the $2.10 increase in minimum wage, "teen employment dropped by 6.9 percent. . . . For the teen population with less than 12 years of education completed, teen employment dropped by 12.4 percent." For teens priced out of the labor market, their wage fell to zero.
The great tragedy is that even discussing the role of the minimum wage in teen unemployment seems to be a political taboo. The other day we saw ABC's George Stephanopoulos baiting Michele Bachmann on the minimum wage, as if refusing to raise it would be some epic political gaffe. Ms. Bachmann didn't back down from saying that the minimum wage has contributed to unemployment, though she didn't explain why.
What she or another candidate should do is stop playing defense and ask why Mr. Stephanopoulos doesn't seem to mind a black teen jobless rate of 41.6%. Someone truly brave would come out for a teenage sub-minimum wage of, say, $4 an hour. In certain circumstances employers can now pay teens a minimum of $4.25, but only for 90 days. This makes employers reluctant to hire at all. Make the case on moral grounds that a mandated wage that is too high blocks the young and unskilled from grabbing a place on the economic ladder.
Teenagers who work part-time while attending school generally make more money and have more successful careers as adults than kids who never work. As a 2006 study by the Federal Reserve Bank of Chicago put it: "The drop in teen labor force participation may also have implications for future productivity growth. In general, labor market experience tends to raise subsequent earnings."
The U.S. has long had a labor market flexible enough that when the economy grows, the jobless rate falls smartly. This time has been different, and the great danger is that Obamanomics has moved the U.S. to a permanently higher jobless rate as in so much of Europe. For America's teenagers this summer, that reality is already here.
Published on July 01, 2011 04:19
June 30, 2011
Será que está na hora de apostar na bolsa brasileira?
Rodrigo Constantino, Valor Econômico
Há quase quatro anos, o Ibovespa atingiu o mesmo patamar em que se encontra atualmente. No período, o lucro operacional das principais empresas do índice experimentou um crescimento expressivo. Será que chegou a hora de fazer uma aposta mais agressiva em ações?
Antes de tentar responder essa difícil questão, pretendo desmistificar uma repetida falácia no mundo dos investimentos: a de que bolsa é um ótimo investimento, desde que o horizonte seja de longo prazo. Com o intuito de averiguar essa crença, fiz uma análise do retorno do Ibovespa em janelas de cinco anos. O resultado não é tão animador para quem acredita na tese de que "comprar e segurar" é a melhor estratégia.
Utilizei dados mensais a partir de 2000, pegando o retorno anualizado de cinco anos. Cheguei a um total de 138 observações, das quais em apenas 55% delas o Ibovespa superou o CDI. O Ibovespa rendeu algo perto de 20% ao ano nas janelas quinquenais, contra retorno de aproximadamente 19% do CDI. A mediana do retorno da bolsa ficou em parcos 105% do CDI na amostra analisada.
Quando a volatilidade é computada, percebe-se que não foi nenhuma maravilha apostar em bolsa de forma geral. Se por um lado o retorno máximo de uma janela de cinco anos do Ibovespa foi quase 48% ao ano, contra 31% do CDI, por outro lado a pior janela rendeu assustadores 6% ao ano, negativos! Isso significa que o investidor teria perdido um terço de seu capital, em termos nominais. A pior janela do CDI, em contrapartida, rendeu mais de 11% ao ano.
No período inteiro, o Ibovespa rendeu pouco mais de 270%, enquanto o CDI rendeu mais de 400%! Nesse longo horizonte superior a uma década, o Ibovespa, tirando o sono dos investidores durante inúmeras crises assustadoras, rendeu menos de 75% do CDI. Como fica evidente, o "timing" de entrada na bolsa é crucial para determinar o retorno, mesmo no longo prazo.
Essa não é a realidade brasileira apenas. O investidor que comprou S&P 500 em 2000 amarga um retorno pior que medíocre. Ele perdeu 10% de seu capital, quase 12 anos depois! No Japão a situação é muito pior: o investidor que comprou o índice Nikkei no auge da bolha, no final da década de 1980, possui hoje somente 25% do valor investido. Após duas décadas aturando a elevada volatilidade da bolsa, a senhora Watanabe teria perdido 75% de seu capital. Viva a bolsa no longo prazo?
O caso brasileiro, apesar de não ser único, possui um agravante: seu elevado custo de oportunidade. Como nenhum governo faz as reformas estruturais necessárias para colocar o país na rota do alto crescimento sustentável, nossa taxa real de juros continua em patamares elevados. A economia acaba experimentando voos de galinha. As apostas em renda variável acusam o golpe, fracassando em entregar um retorno satisfatório, quando ajustado pelo risco.
Essa tem sido a história do Brasil, e não mudou muito nos últimos anos. O fator China, que puxou o preço das commodities e permitiu um ganho gigantesco em nossos termos de troca, alongou e ampliou a fase da bonança. Mas foi só, pois novamente as reformas ficaram a ver navios. A inflação subiu de forma preocupante, o crédito sem lastro cresceu de forma muito acelerada, e aqueles que apostaram num voo de águia tiveram que encarar a dura realidade. O Ibovespa já acumula uma queda de 15% desde o pico em novembro de 2010.
Com isso, podemos retornar à questão inicial: será que está na hora de comprar bolsa? Claro que a resposta vai depender de muitos fatores. O mundo ainda vive uma fase de enormes riscos, como a possível queda abrupta do crescimento chinês, a bancarrota da Grécia e outros países europeus ou a desaceleração da economia americana. Mas, assumindo um cenário base de estabilidade externa, arrisco responder a pergunta de forma afirmativa.
À primeira vista, isso pode parecer estranho, após tanto pessimismo. Mas meu ponto central é que a hora da aposta é justamente aquela em que muitos estão desanimados. E, de fato, os investidores estrangeiros já jogaram a toalha em relação ao Brasil, os fundos locais estão leves, com muito caixa, e os analistas parecem entediados.
Ao contrário de muitos investidores, minha aposta não é no longo prazo, pois neste período o CDI dificilmente perde. Mas acredito que para um prazo mais curto, de 6 a 12 meses, este pode ser um bom momento para acrescentar risco e comprar bolsa. Muito pessimismo parece precificado, e qualquer alívio nas principais preocupações dos investidores pode levar a um interessante rali. Um bom ativo pode ser uma má aposta, e vice-versa.
Há quase quatro anos, o Ibovespa atingiu o mesmo patamar em que se encontra atualmente. No período, o lucro operacional das principais empresas do índice experimentou um crescimento expressivo. Será que chegou a hora de fazer uma aposta mais agressiva em ações?
Antes de tentar responder essa difícil questão, pretendo desmistificar uma repetida falácia no mundo dos investimentos: a de que bolsa é um ótimo investimento, desde que o horizonte seja de longo prazo. Com o intuito de averiguar essa crença, fiz uma análise do retorno do Ibovespa em janelas de cinco anos. O resultado não é tão animador para quem acredita na tese de que "comprar e segurar" é a melhor estratégia.
Utilizei dados mensais a partir de 2000, pegando o retorno anualizado de cinco anos. Cheguei a um total de 138 observações, das quais em apenas 55% delas o Ibovespa superou o CDI. O Ibovespa rendeu algo perto de 20% ao ano nas janelas quinquenais, contra retorno de aproximadamente 19% do CDI. A mediana do retorno da bolsa ficou em parcos 105% do CDI na amostra analisada.
Quando a volatilidade é computada, percebe-se que não foi nenhuma maravilha apostar em bolsa de forma geral. Se por um lado o retorno máximo de uma janela de cinco anos do Ibovespa foi quase 48% ao ano, contra 31% do CDI, por outro lado a pior janela rendeu assustadores 6% ao ano, negativos! Isso significa que o investidor teria perdido um terço de seu capital, em termos nominais. A pior janela do CDI, em contrapartida, rendeu mais de 11% ao ano.
No período inteiro, o Ibovespa rendeu pouco mais de 270%, enquanto o CDI rendeu mais de 400%! Nesse longo horizonte superior a uma década, o Ibovespa, tirando o sono dos investidores durante inúmeras crises assustadoras, rendeu menos de 75% do CDI. Como fica evidente, o "timing" de entrada na bolsa é crucial para determinar o retorno, mesmo no longo prazo.
Essa não é a realidade brasileira apenas. O investidor que comprou S&P 500 em 2000 amarga um retorno pior que medíocre. Ele perdeu 10% de seu capital, quase 12 anos depois! No Japão a situação é muito pior: o investidor que comprou o índice Nikkei no auge da bolha, no final da década de 1980, possui hoje somente 25% do valor investido. Após duas décadas aturando a elevada volatilidade da bolsa, a senhora Watanabe teria perdido 75% de seu capital. Viva a bolsa no longo prazo?
O caso brasileiro, apesar de não ser único, possui um agravante: seu elevado custo de oportunidade. Como nenhum governo faz as reformas estruturais necessárias para colocar o país na rota do alto crescimento sustentável, nossa taxa real de juros continua em patamares elevados. A economia acaba experimentando voos de galinha. As apostas em renda variável acusam o golpe, fracassando em entregar um retorno satisfatório, quando ajustado pelo risco.
Essa tem sido a história do Brasil, e não mudou muito nos últimos anos. O fator China, que puxou o preço das commodities e permitiu um ganho gigantesco em nossos termos de troca, alongou e ampliou a fase da bonança. Mas foi só, pois novamente as reformas ficaram a ver navios. A inflação subiu de forma preocupante, o crédito sem lastro cresceu de forma muito acelerada, e aqueles que apostaram num voo de águia tiveram que encarar a dura realidade. O Ibovespa já acumula uma queda de 15% desde o pico em novembro de 2010.
Com isso, podemos retornar à questão inicial: será que está na hora de comprar bolsa? Claro que a resposta vai depender de muitos fatores. O mundo ainda vive uma fase de enormes riscos, como a possível queda abrupta do crescimento chinês, a bancarrota da Grécia e outros países europeus ou a desaceleração da economia americana. Mas, assumindo um cenário base de estabilidade externa, arrisco responder a pergunta de forma afirmativa.
À primeira vista, isso pode parecer estranho, após tanto pessimismo. Mas meu ponto central é que a hora da aposta é justamente aquela em que muitos estão desanimados. E, de fato, os investidores estrangeiros já jogaram a toalha em relação ao Brasil, os fundos locais estão leves, com muito caixa, e os analistas parecem entediados.
Ao contrário de muitos investidores, minha aposta não é no longo prazo, pois neste período o CDI dificilmente perde. Mas acredito que para um prazo mais curto, de 6 a 12 meses, este pode ser um bom momento para acrescentar risco e comprar bolsa. Muito pessimismo parece precificado, e qualquer alívio nas principais preocupações dos investidores pode levar a um interessante rali. Um bom ativo pode ser uma má aposta, e vice-versa.
Published on June 30, 2011 04:12
June 29, 2011
Carreçúcar: o escandaloso uso do BNDES na fusão
Alguém ainda tem dúvida de porque Abílio Diniz teceu tantos elogios públicos ao ex-presidente Lula e à atual presidente Dilma? O BNDES virou o grande elo da simbiose entre pelegos oportunistas e grandes empresários. Este é justamente o ícone do modelo fascista, jamais capitalista liberal. E o pior é que a esquerda aplaude! Veja meu vídeo sobre o assunto.
Published on June 29, 2011 16:44
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