Rodrigo Constantino's Blog, page 418

September 15, 2011

US Misery Index


O blog Zero Hedge publica o índice de miséria americana, que simplesmente soma taxa de desemprego com inflação. Ele atingiu o patamar máximo de 28 anos! São as políticas de resgate, as regulações arbitrárias do governo Obama e a alquimia do Fed prejudicando justamente os mais pobres.[image error]
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Published on September 15, 2011 10:28

Casamento grego e Oktoberfest com samba e twist

Rodrigo Constantino, Valor Econômico

As festas gregas, especialmente as de casamento, costumam ser muito animadas. O casamento monetário da Grécia com a Comunidade Europeia não foi diferente: foram vários anos de pura euforia.

O país teve a oportunidade de surfar uma grande onda de juros reduzidos, pois pegou carona na credibilidade alemã. Mas os deuses do Olimpo se esqueceram de ensinar a seu povo lições básicas de economia.

Como Ícaro, os gregos pensaram que era possível voar cada vez mais alto. Ignoraram os alertas de Dédalo - e, como seu filho, desabaram rumo ao mar. Quando a fase de bonança acabou, os gregos se viram com um governo totalmente falido após anos de gastança irresponsável. Sem uma moeda própria, ficaram sem a tradicional válvula de escape para tais crises: desvalorização e inflação. Resta a opção do divórcio litigioso.

Mas os gregos não desistiriam tão facilmente assim. Antes de assinar o divórcio, a Grécia ainda contava com uma cartada: chantagear seus parceiros com o risco de doença contagiosa. Se a Grécia desse o calote em suas dívidas, isso poderia produzir uma corrida bancária na região toda. Caberia a Alemanha, portanto, assumir o passivo e bancar a conta da farra grega.

Acontece que alemão não gosta da ideia de pagar pelo erro dos outros (alguém gosta?). Sua economia, após reformas responsáveis, estava indo de vento em popa. O Oktoberfest tinha tudo para continuar. Mas antes de outubro vem setembro, mês das grandes crises. E a Grécia apareceu para estragar a festa.

O agravamento da crise chegou a patamar tão sério que autoridades alemãs começaram a falar abertamente na hipótese de expulsão da Grécia da comunidade. As crescentes incertezas geraram enorme volatilidade nos mercados. O euro, apesar da intervenção de alguns governos, perdeu finalmente o piso de US$ 1,40. Os bancos europeus despencaram, e o spread interbancário na região disparou, denotando total falta de confiança entre os bancos.

O risco de uma crise da magnitude de 2008 voltou a assombrar os mercados. A Itália enfrentou dificuldade na rolagem de suas dívidas, tendo que pagar taxa maior. Dois grandes bancos franceses foram rebaixados pela Moody's. E o BCE teve que disponibilizar linhas em dólar para alguns bancos europeus, pois o mercado americano está quase fechado para eles. O mal-estar é geral, e todos parecem à espera de um milagre que salve a Europa.

Todos os olhares se voltam para a Alemanha, única em condições de matar no peito o problema. Mas a demora em tomar alguma atitude mais agressiva fez com que o tamanho do problema atingisse outra dimensão. Um calote grego desorganizado provavelmente levaria a uma corrida bancária na região. A Itália corre o risco de afundar junto. Alguns chegaram a sonhar com uma ajuda chinesa para reverter esta situação. Sonhar é barato.

Enquanto o clima de racha geral toma conta da Europa, o Fed estuda a possibilidade de uma Operação Twist: comprar títulos longos e vender títulos curtos, para pressionar a taxa longa sem elevar o balanço já deveras esticado do banco. O problema é que as taxas de dez anos já estão em 2% ao ano. Reduzi-las na marra não vai resolver nada. A sombra do caso japonês parece cada vez maior, ofuscando as "brilhantes" idéias do "iluminado" Bernanke.

No Brasil, sob o comando do DJ Guido Mantega e seu colega Alexandre Tombini, o Copom cortou a taxa de juros com base na deterioração do quadro europeu. Para quantificar o efeito da piora do cenário externo, a autoridade monetária fez uso de um modelo de equilíbrio geral dinâmico estocástico, denominado SAMBA ("Stochastic Analytical Model with a Bayesian Approach"). Mas, a despeito de seu verniz científico, a verdade é que ele não passa de um modelo altamente impreciso, repleto de variáveis estimadas e poucas amostras. Em linguagem mais clara: chute.

E assim chegamos a este tenso momento para os mercados. O casamento grego indo para o espaço, o Oktoberfest chegando ao fim antes de outubro, todos torcendo para que o BCE garanta mais liquidez para preservar a festa, o Fed tentando dançar o Twist e nosso BC apelando para o samba do crioulo doido. Como essa loucura toda vai acabar?

Não tenho bola de cristal, naturalmente. Mas arrisco dizer que o próprio euro, um projeto político acima de tudo, corre risco de vida. Para salvá-lo, muitos pressionam por maior integração na região, ou seja, a Alemanha pagando a fatura dos gregos e romanos. O risco é o tiro sair pela culatra, e a Alemanha cansar disso tudo e pular fora de vez. Divórcio custa caro, mas pode ser melhor que viver num casamento infernal.

Rodrigo Constantino é sócio da Graphus Capital[image error]
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Published on September 15, 2011 06:06

September 14, 2011

Merkel sobre o problema da dívida grega

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Published on September 14, 2011 11:04

The 2013 Tax Cliff

Editorial do WSJ

President Obama unveiled part two of his American Jobs Act on Monday, and it turns out to be another permanent increase in taxes to pay for more spending and another temporary tax cut. No surprise there. What might surprise Americans, however, is how the President is setting up the U.S. economy for one of the biggest tax increases in history in 2013.

Mr. Obama said last week that he wants $240 billion in new tax incentives for workers and small business, but the catch is that all of these tax breaks would expire at the end of next year. To pay for all this, White House budget director Jack Lew also proposed $467 billion in new taxes that would begin a mere 16 months from now. The tax list includes limiting deductions for those earning more than $200,000 ($250,000 for couples), limiting tax breaks for oil and gas companies, and a tax increase on carried interest earned by private equity firms. These tax increases would not be temporary.

What this means is that millions of small-business owners had better enjoy the next 16 months, because come January 2013 they are going to get hit with a giant tax bill. Let's call the expensive roll:

• First comes the new tax hikes that Mr. Obama proposed on Monday. Capping itemized deductions and exemptions for the rich would take $405 billion from the private economy for 10 years starting in 2013. Taxing carried interest would raise $18 billion, and repealing tax incentives for oil and gas production would get $41 billion.

• These increases would coincide with the expiration of the tax credits, 100% expensing provisions and payroll tax breaks in Mr. Obama's new jobs program. This would mean a tax hit of $240 billion on small business and workers. That's the downside of temporary tax breaks and other job-creation gimmicks: The incentives quickly vanish, and perhaps so do the jobs.

So even if the White House is right that its latest stimulus plan will create "millions of jobs" through 2012, by this logic a $240 billion tax hike on small businesses in 2013 would cost the economy jobs. This tax wallop would arrive when even the White House says the unemployment rate will still be 7.4%.

• January 2013 is also the same month that Mr. Obama wants the

Bush-era tax rates to expire on Americans earning more than $200,000. That would raise the highest individual income tax rate to about 42%, including deduction phaseouts, from 35% today. Congress's Joint Committee on Taxation found in 2009 that $437 billion of business income would be taxed at higher tax rates under the Obama plan. And since some 4.5 million small-business owners file their annual tax returns as subchapter S firms under the individual tax code, this tax increase would often apply to the same people who Mr. Obama is targeting with his new tax credits.

The capital gains and dividend taxes would also rise to an expected 20% rate from 15% today. The 10-year hit to the private economy for all of these expiring Bush rates: about $750 billion.

• Also starting in 2013 are two of ObamaCare's biggest tax increases: an additional 0.9-percentage point levy on top of the 2.9% Medicare tax for those earning more than $200,000, and a new 2.9% surcharge on investment income, including interest income. This will further increase the top tax rate on capital gains and dividends to 23.8%, for a roughly 60% increase in investment taxes in one year.

The White House's economic logic seems to be that its new spending and temporary tax cuts will so fire up investment and hiring in the next 16 months that the economy will be growing much faster in 2013 and could thus absorb a leap off the tax cliff. But this requires its own leap of faith.

The White House also predicted a similar economic takeoff from the 2009 stimulus that was supposed to make a tax hike possible in 2011. Then last December Mr. Obama proposed new tax incentives only for 2011 because the economy was supposed to be cooking by 2012. Now it wants to extend those tax breaks so the economy will be cruising in 2013.

All of this assumes that American business owners aren't smart enough to look beyond the next few months. They can surely see the new burdens they'll face in 2013, and they aren't about to load up on new employees or take new large risks if they aren't sure what their costs will be in 16 months. They can also reasonably wonder whether Mr. Obama's tax hike will hurt the overall economy in 2013—another reason to be cautious now.

For the White House, the policy calendar is dictated above all by the political necessities of the 2012 election. Mr. Obama will take his chances on 2013 if he can cajole the private economy to create enough new jobs over the next year to win re-election, even if those jobs and growth are temporary. Business owners and workers who would prefer to prosper beyond Election Day aren't likely to share Mr. Obama's enthusiasm once they see the great tax cliff approaching. Look out below.[image error]
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Published on September 14, 2011 07:02

September 13, 2011

The Trouble With French Banks

By NICOLAS LECAUSSIN, WSJ

'We can no longer borrow dollars. U.S. money-market funds are not lending to us anymore," a bank executive for BNP Paribas, who declines to be named, told me last week. "Since we don't have access to dollars anymore, we're creating a market in euros. This is a first. . . . We hope it will work, otherwise the downward spiral will be hell. We will no longer be trusted at all and no one will lend to us anymore."

He's not the only one worried. France's three biggest banks have been the subject of whisper campaigns about their solvency since the beginning of the summer, and Société Générale has lost 22.5% of its value.

BNP, Société Générale and Crédit Agricole together hold nearly $57 billion in Greek sovereign and private debt, versus $34 billion held by the largest German banks and $14 billion at British banks. French banks also held more than €140 billion in total Spanish debt and almost €400 billion in Italian debt as of December, according to the latest figures from the Bank for International Settlements. If either of these latter two governments were to default, their banking systems could collapse and take the French system with them.

BNP, Société Générale and Credit Agricole all say that their finances are in order and the market worries are unfounded. But it's difficult for the BNP executive to hide his concern.

"Look at the French banks' debt holdings versus those of U.S. banks," he continues. "The total debt of the three big U.S. banks (Bank of America, JP Morgan and Citigroup) is $5.86 trillion, or 39% of GDP, while the debts of BNP, Crédit Agricole and Société Générale come to €4.7 trillion, or 250% of French GDP."

Analysts are suggesting that the government is set to start nationalizing France's banks. The banks have remained silent on the matter, and the government denies this talk. But the last time the French state intervened in the banking system in a big way, the results were disastrous. As recently as the 1980s, most French banks were owned by the state, and by the 1990s the sector was bordering on bankruptcy. The French banking sector shrank by nearly 50% during the decade, while the those in other countries such as Britain and the U.S. grew by 39% and 50%, respectively.

The most famous case of that time was Crédit Lyonnais, which was plagued by mismanagement throughout the 1980s and 1990s until it shifted its debts and liabilities into a new state-owned company, the Consortium de Réalisation. In 2003 Crédit Lyonnais was taken over by Crédit Agricole, but in July 2008 its bills came due anyway.

An arbitration court ordered the Consortium de Réalisation to pay €240 million to the liquidators of the Bernard Tapie group, along with €105 million in interest and €45 million in moral damages—a total of €395 million for one erstwhile borrower. Meanwhile, the SdBO (Western Bank Corporation), a subsidiary of Crédit Lyonnais, lent sums to the Tapie family that added up to more than two-and-a-half times the bank's total capital. French taxpayers paid out more than €15 billion for the mismanagement of Crédit Lyonnais over the years.

The taxpayer-backed losses of mortgage lender Crédit Foncier came to €2 billion. And the Hervet bank (now part of the HSBC group) announced the first losses in its history after its 1982 nationalization.

These and other disasters were brought on by the bank nationalizations of the early 1980s. But despite the subsequent privatizations, French bank boards are still dominated by the alumni of France's famous ENA, the Ecole Nationale d'Administration, and by officials who have worked at the Ministry of Finance. A study by the Management Institute at the Université de La Rochelle finds that between 1995 and 2004 banks administered by government-linked technocrats were in greater total debt than those that were not.

Whether the market's worst fears are realized or not, French banks certainly maintain an all-too-close relationship to the state. This opaque system doesn't offer outsiders much visibility, save for the knowledge that indebted banks and an indebted French state intend to continue to cover each other, no matter the cost and on taxpayers' backs if they must. If U.S. money-market managers no longer trust the French system, this is a glaring reason why. The fastest way to regain their trust would be to end this system.

Mr. Lecaussin is director of development at France's Institute for Economic and Fiscal Research. [image error]
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Published on September 13, 2011 05:46

Ponto de chegada

Rodrigo Constantino, OrdemLivre.org

"No transcurso de sua existência, o ser humano só possui uma certeza: a da morte. Por silogismo, é fácil deduzir o desejo inconsciente de morte metaforicamente contido em toda busca de certeza." (Pierre Rey)

O liberalismo clássico rejeita utopias. Ele rejeita dogmas. Uma das premissas mais básicas de um liberal é que o mundo é um lugar complexo demais para ser compreendido por modelos simplistas. Seres imperfeitos não são capazes de produzir sistemas perfeitos. Falíveis e com razão limitada, os homens precisam tatear com certa humildade temas delicados, tais como a ética e a justiça, abandonando qualquer meta mais ambiciosa de construir uma sociedade "plenamente" livre ou justa.

Nunca vai existir algo parecido com um "paraíso terrestre" onde um ambiente de liberdade "plena" seja real. Sequer seria possível definir de forma racional e irredutível o que é uma liberdade plena. Visões conflitantes sobre isso poderiam ser igualmente razoáveis. Liberais, portanto, rejeitam a tentativa de monopolizar os fins nobres, como se apenas um único destino final fosse compatível com a "verdadeira" noção de liberdade. A existência de visões conflitantes sobre a própria liberdade faz parte da doutrina liberal.

A causa liberal consiste, então, numa luta contínua pelo máximo de liberdade individual possível, que jamais será total. Viver em sociedade é abrir mão de parte das liberdades, aceitando divergências inclusive sobre certos valores e princípios. Liberais não pensam ter encontrado uma "pedra filosofal", um princípio absoluto que seja capaz de fornecer respostas em quaisquer circunstâncias. Ainda que respeitem conceitos como o "direito natural", os liberais não costumam ignorar a utilidade de suas crenças. De nada vale pregar a "liberdade" dentro de um Gulag. Os fins podem não justificar os meios, mas os resultados importam.

O rancho de Galt, na novela "A Revolta de Atlas", de Ayn Rand, só pode ser criado no mundo da ficção. Sua existência e sobrevivência dependem da condição de que todos os habitantes compartilhem o mesmo princípio. É como nas comunidades hippies de "paz e amor": ignora-se o que acontece quando alguém, de dentro ou de fora, discorda do estilo de vida das pombas, e decide ser um gavião. As pombas acabam devoradas.

No rancho, os empresários que compartilhavam os mesmos princípios libertários abandonaram o mundo e buscaram refúgio, isolados do restante. Todos ali dividiam os mesmos ideais, respeitavam voluntariamente o mesmo princípio. Era um paraíso de inúmeras figuras praticamente iguais à própria Ayn Rand. Narciso acha feio o que não é espelho.

Mas, no mundo real, precisamos conviver com pessoas que não compartilham os mesmos ideais, ou até os mesmos valores. A postura mais arrogante – e intolerante – é aquela que trata essas divergências como fruto da pura alienação ou má-fé, e que acha que a liberdade é necessária apenas como um meio para que todos possam, finalmente, chegar às mesmas conclusões e abraçar o mesmo ideal de mundo. A liberdade, para estes, nada mais é do que o instrumento para que um consenso possa ser formado; o consenso que convirja para o que eu acredito, naturalmente. Divergências costumam ser motivo para brigas feias, pois são todos "inimigos da liberdade".

Outra postura possível diante do problema, aquela que considero mais alinhada com o liberalismo clássico, é respeitar as diferenças inclusive sobre o que seria uma sociedade livre, dentro de certas fronteiras. Claro que isso não é o mesmo que aderir ao relativismo total, que rejeita qualquer possibilidade de conhecimento objetivo. Tampouco é sinônimo de flexibilizar tanto o liberalismo a ponto de ele perder qualquer sentido lógico. É apenas negar a possibilidade de certezas sobre algo tão complexo. Parece evidente que o socialismo jamais será visto como compatível com qualquer concepção de sociedade livre. O mesmo vale para o nazismo e o fascismo. Mas existem regiões mais cinzentas que os liberais não são capazes de evitar.

Deixa de ser livre uma sociedade que impede o discurso racista que incita o ódio e a violência contra minorias étnicas? O direito de propriedade privada pode ser claramente prejudicado nesse caso, mas como fica o direito destas minorias, na prática, sem tal impedimento? Uma sociedade que proíbe um partido nazista perde seu status de liberal por conta disso? A legalização de drogas pesadas como o crack, com rápida capacidade de vício, representa necessariamente uma bandeira liberal, independentemente dos seus resultados práticos? Qualquer um pode portar a arma que desejar, com base no direito de propriedade privada? Imposto é sempre roubo e, portanto, incompatível com a liberdade? Permitir o aborto é uma postura liberal? A propriedade intelectual é incompatível com a liberdade individual, ou, ao contrário, necessária para garanti-la?

Enfim, podemos pensar em inúmeros exemplos onde visões da liberdade conflitam, e não há resposta simples para decidir qual partido tomar. Ambos os lados podem ser razoáveis e racionais. Diante de questões tão complexas, o liberal terá a humildade para evitar posturas radicais e intransigentes. O menos razoável talvez seja responder enfaticamente essas perguntas, como se fosse algo muito simples e evidente. Não é.

O liberal não pretende posar como o dono da razão. Ele sabe que esta pode levar a caminhos diferentes ou mesmo conflitantes, sem solução aparente. O que o liberal vai defender, nestas ocasiões, são "soluções" imperfeitas. O debate aberto e civilizado, a democracia, ainda que carregada de riscos de abusos, a convivência pacífica entre as visões discordantes. O liberal não precisa enxergar como um inimigo aquele que adota visões diferentes sobre a própria liberdade, desde que suas liberdades individuais mais básicas não estejam ameaçadas. À exceção destes casos extremos e evidentes, onde basta bom senso, há toda uma zona nebulosa, em que parece legítimo discordar. O pluralismo é uma bandeira liberal.

Em suma, o liberal não prega e não acredita num ponto de chegada, no destino final de uma sociedade perfeitamente livre. Ele está mais preocupado com o caminho, com o processo inesgotável de busca por melhorias e por mais liberdade, mas sempre sob a restrição de que nossa razão é falível e limitada para fornecer todas as respostas. Nos termos de Karl Popper, o liberalismo é uma "grande sociedade aberta" permanentemente em construção, que não negocia com seus princípios mais básicos, mas que tolera divergências razoáveis com a mente aberta. O liberal está ciente de que o melhor lugar para as utopias e as ideologias intransigentes é a lata do lixo.[image error]
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Published on September 13, 2011 05:18

September 12, 2011

Marketing francês

LUIZ FELIPE PONDÉ, Folha de SP

Nada há na Revolução Francesa que remotamente tenha a ver com liberdade, igualdade e fraternidade

A Revolução Francesa (1789-1799) é um fenômeno de marketing. Foi importante para medirmos a febre de um país sob um rei incompetente e não para nos ensinar a vida cotidiana em democracia.
Nada há na Revolução Francesa que tenha a ver com liberdade, igualdade e fraternidade. Essas palavras são apenas um slogan que faz inveja a qualquer redator publicitário.
Esse slogan, aliado ao que os revolucionários fizeram (mataram, roubaram, violentaram, enfim, ideologizaram a violência em grande escala), é uma piada.
É uma aula de marketing político: todo mundo cita a Revolução Francesa como ícone da liberdade.
O marketing da revolução ficou a cargo da filosofia. Primeiro caso na história de um fato claramente ideologizado para vermos nele outra coisa. Os "philosophes" do Iluminismo contribuíram muito para essa matriz do marketing político de todos os tempos, a Revolução Francesa.
Começa com a criação da ideia de que existe uma coisa chamada "povo que ama a liberdade" para além da violência que ele representa quando desagradado.
"Povo" é uma das palavras mais usadas na retórica democrática e mais sem sentido preciso.
A única precisão é quando há violência popular ou quando muitos morrem de fome por conta da velha miséria moral humana.
As "cheerleaders" da primavera árabe têm orgasmos nas ruas de Damasco, Trípoli, Cairo e Tunis. Já imaginam os árabes lendo Rousseau, Marx e Foucault (que, de início, "adotou" a revolução iraniana).
Dançam para esses movimentos como se ali não estivessem em jogo divisões religiosas atávicas do próprio islamismo, quase total ausência de instituições políticas, tribalismo atroz, grupos religiosos fanáticos muito próximos do crime organizado, para não falar do óbvio terrorismo.
De vez em quando, o "povo" mata, lincha, violenta e destrói cidades, a casa dos outros e o diabo a quatro.
Mas como (e isso é um dado essencial do efeito do marketing da Revolução Francesa) pensamos que o mundo começou em 1789, achamos que o "povo" nunca destruiu tudo o que viu pela frente antes da queda da Bastilha.
A historiadora americana Gertrude Himmelfarb, em seu livro essencial "Caminhos para a Modernidade", publicado no Brasil pela É Realizações, chama o iluminismo francês de "ideologia da razão", com toda razão.
Os "philosophes" criaram um fantasma chamado "la raison", que seria a deusa dos revolucionários.
Se no plano bruto "la raison" justificaria assassinatos nos tribunais populares (que deixam as "cheerleaders" dos movimentos populares até hoje em orgasmo), no plano sofisticado do pensamento, seria a única capaz de entender e organizar o mundo desde então.
Esse fantasma da "la raison" nada tem a ver com a necessária faculdade humana de pensar para além dos desejos e medos humanos, que é muito dolorosa e rara.
Ela é uma deusa mítica que ficaria no lugar do Deus morto, dando a última palavra para tudo.
Foram muito mais os britânicos e americanos que nos ensinaram a vida cotidiana em democracia. Mas o iluminismo anglo-saxão não foi marqueteiro.
Nas palavras de Himmelfarb, os britânicos, com sua "sociologia das virtudes", buscavam compreender como as pessoas e as sociedades geram virtudes e vícios. Entre elas, a benevolência e o hábito de respeito à lei comum.
Os filósofos americanos criaram uma "política da liberdade", nas palavras de Himmelfarb.
Eles associavam a qualidade de pensadores a de homens políticos práticos que investigavam a liberdade, não como uma ideia abstrata, mas como algo a ser preservado pela lei da tentativa contínua do homem em destruí-la em nome de qualquer delírio.
Daí as instituições americanas serem as mais sólidas, até hoje, em termos de defesa dos indivíduos contra os delírios do governo e do Estado.
Os britânicos e os americanos nos ensinaram a liberdade que conhecemos e que dá a você o direito de dizer e pensar o que quiser nos limites da lei.
É hora de deixar nossos alunos lerem mais Locke, Hume, Burke, Tocqueville, Stuart Mill, Oakeshott, Berlin, os federalistas e antifederalistas, Rawls, Strauss e não apenas Rousseau, Marx e suas crias.[image error]
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Published on September 12, 2011 05:44

Ponto de Chegada

Meu novo artigo para o OrdemLivre.org, sobre a visão pluralista, humilde e tolerante do liberalismo, que rejeita dogmas e utopias.[image error]
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Published on September 12, 2011 05:26

September 9, 2011

A última estação


Rodrigo Constantino

Para quem quer ver um bom filme em casa neste fim de semana, fica aqui a dica: "A Última Estação", um filme de Michael Hoffman com ótimas atuações de Anne-Marie Duff, Christopher Plummer, James McAvoy e Paul Giamatti. Trata-se dos últimos dias de vida de Tolstoi, quando este começa a ficar meio senil e, influenciado por seu pupilo Chertkov (Paul Giamatti), decide deixar todos os seus bens para o "povo russo". Sua esposa, após mais de 40 anos de casados, fica evidentemente revoltada. Não apenas pelos bens materiais, mas principalmente pela traição, por tal decisão a colocar num papel insignificante dentro da obra do grande romancista russo. Ela se sentia, com razão, parte daquilo tudo, e não aceitava ver seu velho marido, encantado com a nova religião que criaram em torno dele, simplesmente apagar o passado.

O filme retrata de forma muito clara aquilo sintetizado na frase de Nelson Rodrigues: "Amar a Humanidade é fácil; difícil é amar o próximo". Chertkov "ama" Tolstoi, ou, na verdade, a imagem que faz do mestre. Está inclusive disposto a deixá-lo morrer sem ver a própria mulher, tudo em nome do legado de sua obra. Tolstoi pertencia ao povo russo, segundo seus seguidores. Mas a esposa sabia que não. Ela sabia quem era o homem de carne o osso por trás do mito. Se Tolstoi quis ensinar ao mundo sobre o amor, antes ele teve que conhecer o amor. Não o amor platônico reverenciado por Chertkov, mas aquele verdadeiro, por outro ser humano, imperfeito.

Paul Johnson costuma chamar de "intelectual" aquele que ama mais as idéias do que os seres humanos. Se aceitarmos esta definição, então Chertkov representa o típico intelectual na história, enquanto o novo pupilo, encarregado de anotar tudo que se passa na casa de Tolstoi, no excelente papel de James McAvoy, representa o homem que descobre o amor verdadeiro, sempre imperfeito, mas muito mais real do que aquele "amor" pela Humanidade, pelo "povo". Vejam o filme![image error]
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Published on September 09, 2011 15:53

O guerreiro do povo

NELSON MOTTA, O GLOBO

O grito de guerra dos militantes ainda ecoa no Planalto Central. "Dirceu guerreiro! Do povo brasileiro!", o refrão estremece o salão, como um canto de torcida organizada no estádio ou o coro de um funk carioca num bailão.
Mas Dirceu é guerreiro modesto e discreto, nunca falou sobre as suas ações revolucionárias, seus confrontos com as forças da repressão, suas batalhas de arma na mão pelo povo brasileiro. Talvez para não humilhar companheiros que não tiveram tanta bravura como ele na luta contra a ditadura, ou cometeram erros estratégicos que levaram à prisão e à morte de companheiros. Ou talvez porque nunca tenham acontecido. Quando lhe perguntam se matou alguém em combate, dá um sorrisinho maroto e faz cara de mistério.
O guerreiro chama a presidente Dilma de "companheira de armas", mas, embora ela tenha pago na própria carne pela sua coragem revolucionária, não há qualquer noticia, documento ou testemunha da presença de Dirceu, ou de "Daniel", seu nome de guerra, em nenhuma ação armada durante a ditadura. Talvez a Comissão da Verdade faça justiça à sua combatividade, ou desmascare o guerreiro que foi sem nunca ter sido. Talvez algum dia reapareçam os disquetes com a sua biografia escrita por Fernando Morais, em que ele dizia ter contado tudo sobre a sua vida guerreira, mas foram misteriosamente roubados da sua trincheira.
Na Câmara, ele foi um incansável guerreiro, se recusando a assinar a Constituição democrática de 88, batalhando pela rejeição da Lei de Responsabilidade Fiscal e denunciando o Plano Real como uma farsa eleitoreira da direita. Perdeu essas batalhas, mas não a sua guerra.
Notável estrategista, ele começou como um dos líderes estudantis que, em 1968, convocaram um congresso "secreto" da UNE em uma fazenda em Ibiúna, onde os 500 congressistas foram facilmente cercados pela polícia e o Exército e presos, aniquilando o movimento estudantil. Em entrevista recente, Dirceu disse que, mesmo cercado por centenas de policiais e soldados armados, "queria resistir", mas foi voto vencido. Com um guerreiro desses, o povo brasileiro não precisa de inimigos.[image error]
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Published on September 09, 2011 13:23

Rodrigo Constantino's Blog

Rodrigo Constantino
Rodrigo Constantino isn't a Goodreads Author (yet), but they do have a blog, so here are some recent posts imported from their feed.
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