Rodrigo Constantino's Blog, page 367

June 22, 2012

Teto elástico

Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

O escárnio parece não ter fim. Esta semana, uma comissão especial da Câmara dos Deputados aprovou uma proposta de emenda constitucional (PEC) que, na prática, acaba com o teto salarial para o funcionalismo, que hoje está em R$ 26.700 mensais (em um país com renda per capita na casa dos R$ 2 mil mensais). A PEC ainda precisa ser aprovada no plenário da Câmara e no Senado.

Para Raul Velloso, essa proposta “tem um efeito semelhante ao de abrir uma tampa de uma chaleira, que está prestes a explodir”. Os marajás de Brasília nunca descansam quando o assunto é a expansão do butim da coisa pública. Isso sem falar que cerca de quatro mil servidores, políticos e magistrados dos três Poderes já ganham acima do teto, segundo o site Congresso em Foco. Subterfúgios como verbas extras fora do cálculo do teto explicam este absurdo.

O abuso da classe parasitária é tão escancarado no Brasil que seria compreensível a defesa da desobediência civil por parte dos hospedeiros explorados. Pagar todos os impostos nesse país é financiar esta pouca vergonha, e os políticos e seus apaniguados não demonstram um pingo de semancol. O teto salarial dos burocratas e governantes é tão elástico que mais parece uma lona de circo. O problema é que os palhaços somos nós, os pagadores de impostos obrigados a bancar a farra.

***

Morreu ontem Anna Schwartz, a co-autora do clássico sobre a história monetária dos Estados Unidos com o Prêmio Nobel Milton Friedman. Apesar de Ben Bernanke, o presidente do Fed, enaltecer as lições sobre a Crise de 29 extraídas da obra, Anna Schwartz foi uma crítica das medidas do Fed nos últimos anos, pelo excesso de afrouxamento monetário. Ela morreu com 96 anos. Que descanse em paz.
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Published on June 22, 2012 06:09

June 21, 2012

Segurança ou incompetência?

Carlos Alberto Sardenberg, O GLOBO

James Bond já surfou ondas de três metros para alcançar praias inimigas. Assim, por que um terrorista não poderia voar de asa-delta da Pedra da Gávea até o Riocentro, descer lá armado de bazucas e eliminar meia dúzia de chefes de estado?

Vai daí, o Exército proibiu voos de asa-delta em todo o espaço aéreo da cidade durante a Rio+20.

Com segurança não se brinca, dizem.

Reparem, porém: o sujeito teria que trazer a arma de algum lugar, circular pela cidade, carregar a coisa até a Pedra, voar e descer no Riocentro, tudo isso sem ser percebido e interceptado. Ninguém desconfiaria. E com todos aqueles soldados e policiais, brasileiros e estrangeiros, que estão na cidade e, concentrados, no local da conferência? Só se fossem muito incompetentes, não é mesmo?

Mas proibindo todos os voos, em todo o Rio, qualquer um que passar de asa-delta torna-se suspeito. Fica fácil para a segurança. E atrapalha a vida de quem gosta de asa-delta.

Dirão que esse é um aspecto menor e que, afinal, o pessoal pode ficar uns dias sem voar, em nome da segurança que garanta um bom evento no Rio.

O problema é que esse tipo de comportamento se aplica a todo o evento. Não há qualquer esforço ou qualquer planejamento para garantir a segurança e, ao mesmo tempo, causar o menor dano possível aos moradores e visitantes.

Não está vetada apenas a asa-delta. O espaço aéreo foi fechado. Até os inocentes voos da Ponte Aérea sofrem restrição. Será que não conseguem detectar uma aeronave suspeita, voando fora das rotas?

Só para lembrar: todo mês de setembro tem a assembleia geral da ONU em Nova York, para onde se dirigem mais de 100 chefes de estado. Sabem o que acontece com o tráfego aéreo? Nada. Continua tudo normal nos três aeroportos.

Dirão: lá tem mais aeroportos e mais pistas, de modo que fica mais fácil. Falso. Lá também há muito mais voos por hora. A resposta é outra: mais equipamento, mais engenharia, mais eficiência e empenho de não torrar a paciência dos moradores.

Outra: as comitivas não podem ficar presas no trânsito carioca, claro. Saída simples: fecham-se vias ou pistas, que se tornam seletivas para os carros credenciados. Assim, o não credenciado fica horas e horas no trânsito, tendo ali ao lado pistas e vias vazias, apenas vez ou outra ocupadas por uma comitiva. Será que não existe engenharia melhor?

E, pensando bem, quem precisa mesmo de segurança extrema? Hilary Clinton certamente é um alvo, mas, com todo respeito, o chefe de estado de Tuvalu? Na verdade, nem precisa ser chefe de estado. Autoridades menores gostam do aparato de segurança. Polícia e Exército também gostam de exibir seu aparato.

Experimente passar um tempinho ali no Forte Copacabana, por exemplo, onde há exposição e reuniões. A autoridade vai deixar o local. Aparecem seguranças com terno preto, mesmo quando são mulheres, e soldados com metralhadora. Motos param o trânsito, fecham a rua, afastam as pessoas. Surgem os carrões, pelo menos três: um da segurança, o da autoridade, outro da segurança. Param abruptamente, abrem-se as portas, gritaria nos celulares. Chega o tal, sempre acompanhado, e todos vão entrando rapidamente nos veículos, como se estivessem fugindo. Então, o grande espetáculo: as portas batendo em sequência, as motos arrancam, os carros partem em velocidade. Todos os seguranças com expressão de que estão tirando alguém de um atentado.

E ali olhando, com expressão de paciência obrigada, um homem de bermuda tomando sorvete, a mulher ao lado de um carrinho de bebê, garotos esperando com pranchas, que, aliás, ainda não foram proibidas. Não devem ter visto o filme do James Bond.

Grandes eventos valorizam as cidades. Mas também exibem suas carências. Falta de equipamentos e de planejamento cobram um custo da cidade e, sobretudo, de seus moradores.

Sem contar as contradições: a Rio+20 provoca aumento de emissão de poluentes só com os enormes congestionamentos. E terem utilizado geradores a diesel no Riocentro é inacreditável. E o etanol?

Na Rio 92, o governo brasileiro encontrou a melhor maneira de fazer propaganda de uma energia renovável bem nacional: os carros oferecidos às autoridades eram todos movidos a etanol.

De lá para cá, a tecnologia do etanol só melhorou. A produção de cana tornou-se mais eficiente e sustentável, inclusive com a progressiva eliminação do penoso corte manual, as usinas são mais produtivas, o etanol gera mais energia, sendo, pois, mais econômico, e, ponto forte, o motor flex é um marco tecnológico. Também se começou a produzir energia a partir do bagaço da cana. Mas na Rio+20, nem a presidente Dilma vai de carro a álcool.

PREÇO

Parece que um minuto e meio de televisão vale mais que uma Erundina.
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Published on June 21, 2012 15:42

Entrevista com Luis Sthulberger

Segue a sessão de perguntas e respostas que eu fiz com Luis Sthulberger, o gestor do fundo Verde, o maior e melhor fundo de multimercado do Brasil, durante o evento Ideias em Movimento, organizado pelo IFL em SP.
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Published on June 21, 2012 14:46

Arrastões

Contardo Calligaris, Folha de SP

Um amigo, dono de um restaurante paulistano tradicional, não perde a piada. Ele me explicou por que sua categoria está preocupada com a recente onda de arrastões: é que pensávamos, ele me disse, que assaltar os clientes fosse prerrogativa exclusiva da gente.

Piada à parte, na semana passada, a TV Folha me entrevistou sobre os arrastões que estão acontecendo logo em São Paulo -onde sair para jantar é o programa convivial por excelência, e o restaurante é um lugar tão familiar quanto a casa da gente.

Mesmo sem considerar essa especificidade paulistana, o assalto à mesa é sempre perturbador. A oralidade é o prazer mais primitivo, cuja "lembrança" (digamos assim) permanece em nós como modelo de qualquer outro prazer (por isso, aliás, é difícil parar de fumar ou de comer: as tentações orais são as mais irresistíveis).
Consequência: a experiência de ser assaltado no meio de uma boa refeição é comparável à de um bebê que recebesse um cascudo bem na hora em que ele está mamando, de olhos fechados, perdidamente feliz.

Enfim, a reportagem suspeitou que os arrastões ganhassem espaço na mídia por serem contra restaurantes na moda. Será que as classes C e D são excluídas das pautas da mídia?

A questão me levou de volta aos anos 1980 e 90, quando quase todos os bem-pensantes pareciam concordar com a suposição de que a causa da apavorante criminalidade brasileira fosse a também apavorante diferença social. Essa ideia (desmentida por qualquer pesquisa séria) voltava, como um joão-bobo, a cada vez que se tratasse de explicar a insegurança nas nossas ruas.

Para proteger essa tese falida, a gente (eu mesmo cooperei) insistia na distinção entre diferença econômica e exclusão: a diferença, por maior que fosse, não seria causa de criminalidade, enquanto a exclusão social, ela sim, produziria criminalidade, pois, afinal, quem é ou se sente excluído não pertence à comunidade -e, se não pertenço à comunidade, por que eu respeitaria suas leis? Para o excluído, as ditas forças da ordem não teriam legitimidade, mas seriam uma espécie de exército estrangeiro de ocupação. Para ele, o crime seria, então, um ato de resistência? "Mamma mia."

Mesmo a ideia de uma relação entre criminalidade e exclusão mal resiste à prova dos fatos. Mas tanto faz: o que importa é que, hoje, no Brasil, é difícil invocar um aumento da diferença econômica ou da exclusão para explicar a volta da criminalidade.

De fato, sempre soubemos que a criminalidade não é um efeito da diferença econômica, nem da exclusão, mas adorávamos essa ideia porque ela satisfazia tanto nossas aspirações de clareza (temos uma criminalidade absurda, mas "sabemos" por quê) quanto nossos anseios de justiça (a criminalidade compensa a iniquidade social).

A criminalidade brasileira assim explicada não precisava de um plano de ação: a culpa era nossa, e, portanto, podíamos nos resignar a sermos "justamente" assaltados (ou quem sabe mortos) por sermos cúmplices de um sistema "injusto". Aguentaríamos a violência e a inexistência de um espaço público frequentável porque assim expiaríamos o pecado original da diferença social.

Você não acha que a violência dos anos 1980 e 90 fosse aceita como uma necessária penitência depois da confissão? Certo, havia outras razões por essa tolerância da criminalidade: uma delas é que as ditas elites econômicas eram tão estrangeiras ao país quanto os excluídos -não havia problema em entregar ruas e esquinas aos bandidos, contanto que a residência (real, psíquica ou sonhada) das elites fosse em Miami, Nova York ou Paris.

Seja como for, a prova dessa aceitação é que nenhum político nacional dos anos 1980 ou 90, nem mesmo um demagogo, apresentou-se como porta-voz de um grande plano de segurança pública. Com a verbosa exceção da "Rota na rua" de Maluf em 2002, parece que um verdadeiro projeto de segurança nunca foi prioritário (aparentemente, porque tal projeto não prometia dividendos eleitorais suficientes).

Pois bem, felizmente, nos últimos dez anos, a diferença social diminuiu, assim como diminuiu a exclusão. Portanto, não é possível explicar a criminalidade crescente pela diferença social, que não está crescendo.
Talvez, agora, possamos começar a lidar realmente com o problema da segurança pública no Brasil, sem que nossos conselheiros sejam a culpa e a necessidade de autopunição.
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Published on June 21, 2012 06:40

Verissimo, o cara-de-pau

O Verissimo é tão cara-de-pau, mas tão cara-de-pau, que mesmo quando ele finge estar criticando o Lula, ele está na verdade o bajulando. No artigo de hoje, ele escreve: "No acordo com Maluf trocou-se uma história e uma coerência por um minuto e pouco a mais de espaço para o candidato do PT na TV. Ó Lula!" 
Como assim uma história e uma coerência? Qual história? A do líder sindicalista sempre disposto a tudo pelo poder? Qual coerência? A de nunca ter princípios quando se trata de subir e ficar no poder? Por que Verissimo não lembra do Sarney, do Jader Barbalho, do Collor? Isso não havia manchado já a história de Lula? E a amizade com o mais velho e cruel ditador da América Latina, Fidel Castro, ou El Coma Andante, até hoje reverenciado pelo ex-metalúrgico? Isso não tem problema? A adulação aos ditadores africanos, ao Ahmadinejad, isso tudo faz parte dessa "linda" história? 
Não custa lembrar que Maluf e Marta Suplicy já tinham firmado acordo no passado. Logo, a grande novidade não é o acordo entre PT e Maluf, e sim a foto. A imagem que vale mais do que mil palavras! A própria Erundina condenou a foto, não a parceria em si. Que grande coerência ética!
Verissimo, você é um grande cara-de-pau! Difícil é saber quem vale menos: Verissimo ou Chico Buarque!
Outros comentários sobre Verissimo:
O enigma de Verissimo
O pecado de Verissimo
A propriedade de Verissimo é sagrada?
A caneta de Verissimo

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Published on June 21, 2012 05:39

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