Rodrigo Constantino's Blog, page 370

June 5, 2012

Bando de covardes!

Desabafo sobre a ditadura do politicamente correto, sobre a histeria com o "bullying", termo da moda, sobre o fascismo da Anvisa, enfim, sobre este bando de covardes que deseja delegar ao estado-babá o controle de nossas vidas. Deixem-nos em paz!


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Published on June 05, 2012 18:38

Milton Friedman e a Escola de Chicago

Invista menos de 10 minutos do seu precioso tempo para ver este excelente e didático vídeo sobre as principais ideias de Milton Friedman e da Escola de Chicago, por quem tenho profundo respeito. Que maravilha seria se o governo ficasse restrito a estas funções básicas!
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Published on June 05, 2012 12:19

Why This Slow Recovery Is Like No Recovery


By ROBERT J. BARRO, WSJ

Last week's dismal jobs report showed little change in payroll employment for May and a slight rise in the unemployment rate to 8.2%, thereby underscoring the weakness of the economic recovery. Although changes in payroll employment and the unemployment rate are important, the key gauge of recession and recovery is the growth rate of real gross domestic product, and that is where our core problems lie.

The average annual growth rate of U.S. GDP since 1948 has been 3.1%. In the recession starting in the third quarter of 2007 and ending in the second quarter of 2009, GDP fell by nearly 5%. But this decline is 10% when gauged relative to trend—that is, after factoring in normal growth. To make up for this shortfall, the subsequent recovery has to attain growth rates averaging above 3% for several years.

This is not an unreasonable expectation. For instance, the GDP growth rate averaged 4.3% per year from 1982 to 1989 following the deep recession of the early 1980s. Yet in the current "recovery," beginning in the second quarter of 2009, growth has averaged only 2.4% per year, and just 1.8% for the first quarter of 2012. This low growth means that the U.S. economy has actually been falling further and further behind the normal trend. Therefore, it is not a recovery at all.



Getty Images

The Obama administration likes to blame the country's weak economic performance on the Bush administration, Europe's debt crisis, Japan's tsunami and so on. President Obama's advisers are now saying they learned only gradually that the economy was in even worse shape than they had imagined in 2009. But even if this is so, it gets the signals backwards: A bigger recession predicts a stronger recovery (as has to be true for the economy to return to its trend line).

The pattern of strong recoveries following sharp downturns is clear when one examines the history of economic disasters. The worst depressions relate to wartime destruction, and the subsequent peacetime periods typically exhibit strong growth. Examples include the high post-World War II growth rates in Japan, Germany and much of Western Europe.

The pattern applies also to non-war depressions, including the Great Depression of the 1930s. U.S. GDP growth from 1933 to 1940—starting from the trough of the Depression and ending before the economy was heavily influenced by World War II—was a remarkable 7% per year, despite the 1937-38 recession.

A better argument can be made that recoveries are typically sluggish following a real-estate crash and prolonged declines in housing prices, as the U.S. has recently experienced. In a study of international housing crises published May 2 by Global Economics Weekly, Jose Ursua examines long-term house-price data for 11 countries, including the U.S. His sample included 65 housing busts, defined as falls in average house prices by at least 15%. The bottom line is that housing crises do impede subsequent recoveries.

However, the average GDP growth rate during the U.S. recovery since 2009 remains nearly 2% per year lower than would be expected, according to the Ursua study. That is, after factoring in the estimated impact of the typical housing bust, Mr. Ursua found that the U.S. growth rate since 2009 should have averaged a little over 4%, rather than the 2.4% we've experienced.

What's interfering with a real recovery? Perhaps the Obama administration should stop casting blame elsewhere and examine the policies it has implemented to ease the pain of recession and falling housing prices. (Some of those, to be fair, were initiated under the Bush administration.)

Consider the expansion of social-safety-net programs, including food stamps, unemployment insurance, Medicaid (prospectively) and housing and mortgage programs. In a study published last month by the National Bureau of Economic Research, University of Chicago economist Casey Mulligan observed that, because these programs were means-tested (falling or ending as income rises), expanding them raised the effective marginal tax rate on labor income.

Specifically, Mr. Mulligan estimates that the effective marginal tax rate for low-income households went from around 40% in 2007, before the recession started, to about 48% in 2009, at the start of the recovery. Thus, while these programs may be attractive from the standpoint of assisting poor families, they dilute incentives to work.

To achieve a real recovery, government policy should focus on individual incentives to work, produce and invest. Central here are tax rates and regulations, including especially clarity about future policies. In a successful policy package, the government would get its fiscal house in order and make meaningful long-term reforms to entitlement programs and the tax structure.

The Obama administration seems to think that individual incentives and serious fiscal reforms are of no great importance and policy should emphasize Keynesian-style demand stimulus (public works, prolonged benefits) along with bits of industrial policy (loans and grants to "green" energy companies). This approach has failed for three years.

Mr. Barro is a professor of economics at Harvard and a senior fellow of Stanford University's Hoover Institution.
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Published on June 05, 2012 11:16

O outro lado

Rômulo Bini Pereira, Folha de SP

Com a instauração da Comissão da Verdade, o ciclo de beligerância e de turbulência política do passado recente voltou a ser um tema discutido em nosso país.

É um tema preocupante, que estará presente em debates e artigos nos próximos dois anos, tempo de vigência dos trabalhos da comissão. No período, os principais fraseados das esquerdas brasileiras estarão em evidência, sempre acompanhados de justificativas emocionais.

Agora é possível acrescentar no debate a Lei da Anistia, já chamada de lei injusta, primeiro passo para a sua revogação. Esquecem os críticos que foi essa lei que permitiu quase 33 anos de relativa paz no processo de crescimento democrático do país. Sem ela, o período seria controverso e perturbador.
Na comissão, as Forças Armadas serão o foco principal. Disciplinadas como são, estarão em silêncio obsequioso e sem poder político para interferir nos processos que serão abertos. O seu desgaste será evidente, um objetivo permanente de segmentos minoritários e radicais da esquerda brasileira.

Surge, agora, em artigo publicado neste jornal, de autoria do frade dominicano Libânio, o Frei Betto ("Os dois lados da Comissão da Verdade", em 20 de maio), uma nova designação para a Comissão da Verdade. O novo nome seria Comissão da Vaidade, uma alusão à posição adotada por um dos juristas que integra a comissão, considerada vaidosa pelo frade.

O jurista teria se posicionado, em corte internacional, contra interesses de familiares de vítimas na guerrilha do Araguaia. Em seu artigo, o autor questiona se o jurista teria condições de atuar com imparcialidade.
É surpreendente a posição do frade. Ele considera o jurista parcial por ele ter sido contrário ao posicionamento dos citados familiares. Então sejamos claros: os sete indicados serão imparciais quando analisarem um só lado, de preferência o do frade Libânio. Se analisarem o "outro lado", serão parciais.
Como deverão se sentir os juristas da comissão, indicados com base no seu "notável saber", diante desse claro patrulhamento? Como serão suas "imparcialidades" ao analisarem só um lado, ferindo o contraditório, princípio básico do direito?

Meu professor de história geral, um saudoso frei franciscano, ensinava que a "história tem sempre dois lados". O "outro lado" também tem inúmeras perguntas não respondidas nem esclarecidas.
Também choramos nossa centena de mortos e o mesmo tanto de feridos, muitos inocentes e que nada tinham com os confrontos. Assassinatos a sangue frio, a pauladas, a coronhadas -até esquartejamento houve. Atentados e sequestros com mortes. Sequestro é tortura infame, e alguns sequestradores estão bem vivos.

Há famílias enlutadas que, em sua totalidade, não receberam qualquer apoio indenizatório. Não existia naquela época nenhuma benesse como a atual e generosa "bolsa ditadura". Enumerar outros fatos a esclarecer ultrapassaria nosso espaço jornalístico. Entretanto seria bom se uma pergunta, talvez a mais importante, fosse respondida: que democracia eles lutavam para resgatar?

O ideário das organizações terroristas e os depoimentos insuspeitos de seus ex-integrantes permitem inferir que o objetivo maior, caso vencessem, seria a implantação de uma "ditadura do proletariado" e não uma democracia, como assegura o citado articulista.

Dependendo da organização, seria uma ditadura soviética, maoísta, albanesa ou cubana. Para mim, sem receio de errar, seria a cubana e o seu famigerado "paredón".

Por sinal, os covardes justiçamentos em nosso país, por ordens de tribunais relâmpagos, comprovam a escolha. Caso vingassem tais doutrinas, não poderíamos, hoje, escrever livremente neste ou em outro jornal.
Ao menos eu. Já o frade Libânio escreveria no jornal do partido único. À semelhança de Cuba, no Brasil haveria um só lado. Não existiria o "outro lado".

Não tenho profundos conhecimentos da mitologia grega nem das literaturas portuguesa e espanhola para citações brilhantes como as do eclesiástico. Todavia, fruto da formação franciscana que recebi, encerro com uma citação bíblica, que creio ser válida para o momento sensível pelo qual passa a nação brasileira: "Não julgueis para não serdes julgados, pois com o julgamento com que julgais sereis julgados e com a medida com que medis sereis medidos." (Mt 7,1-2).

ROMULO BINI PEREIRA, 72, é general do Exército da reserva. Foi chefe do Estado-Maior do Ministério da Defesa
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Published on June 05, 2012 10:32

Este é meu corpo

João Pereira Coutinho, Folha de SP

Caro leitor: você está contente com o seu corpo? Pense bem. Olhe-se bem. Os ingleses não estão. Informa a BBC Brasil que um grupo de deputados auscultou a população nativa a respeito.

As conclusões do estudo, intitulado "Reflections on Body Image" ("reflexões sobre a imagem do corpo"), são dramáticas: ninguém gosta da respectiva carcaça.

Nas escolas, o cenário é particularmente aterrador: um em cada cinco meninos de 10 anos despreza a própria figura; uma em cada três meninas também.

A situação é tão extrema que os deputados sugerem aulas de imagem e expressão corporal para combater a insatisfação com o corpo. É preciso mais "autoestima", dizem os especialistas. A saúde psíquica de uma nação depende disso.

Boa sorte, rapazes. Mas posso explicar por que motivo o projeto educacional está destinado ao fracasso? Deixo ficar a teoria para mais tarde. Prefiro a prática por agora.

Moro em frente a uma academia de ginástica. E todos os dias, manhã cedo, contemplo através do vidro exércitos de infelizes que marcham lá para dentro em busca das formas perfeitas.

O cortejo é deprimente, concedo: a angústia plasmada no rosto de cada um dos peregrinos faria as delícias de Hieronymus Bosch. Mas o essencial da experiência está na propaganda da academia -duas frases escritas em inglês e com cores berrantes, logo na entrada: "One life. Live it well."

Nem mais. Durante séculos, a civilização ocidental -corrijo: a civilização judaico-cristã que forjou o Ocidente- tinha uma singular visão do corpo que se alterou com a modernidade.

Simplificando, o corpo tinha a sua importância como guardião da alma divina. Mas só a alma era eterna; só a alma viajava para o outro lado, o que concedia ao corpo um estatuto perecível e secundário.
Quando existe um horizonte de eternidade pela frente, e quando a eternidade se assume como prolongamento da existência terrena e compensação de suas misérias, é normal que o olhar humano não atribua ao corpo e às suas imperfeições o lugar histérico de hoje.

Esse horizonte de eternidade perdeu-se. Para usar as palavras de Thomas Hardy em poema célebre sobre o "funeral de Deus", a divindade podia ser uma projeção que os homens modernos não conseguiram mais manter viva.

Mas existem consequências desse enterro. Se não existe nenhuma continuidade pós-terrena, se tudo que resta é esta passagem breve e incompleta que termina entre quatro tábuas, o olhar humano recentra-se sobre a matéria.

Pior: coloca a matéria no altar das antigas divindades e troca as orações e as penitências do passado pelo calvário tangível da malhação matinal.

Só existe uma vida. Só existe uma oportunidade para vivê-la bem. As frases promocionais da academia podem ser lidas como grito festivo e obviamente narcísico.

Mas também são a expressão de uma angústia e terror bem profundos: a angústia e o terror de quem sabe que não terá uma segunda oportunidade.

Todas as fichas do jogo estão cá embaixo, não lá em cima. Aliás, não existe mais "lá em cima".
Os deputados ingleses, sem originalidade, acreditam que a insatisfação com o corpo tem origem nas imagens de perfeição irreal que a moda ou o cinema cultivam. O clichê de um clichê.

Erro crasso. Essas imagens de perfeição irreal são apenas a consequência, e não a causa, de uma cultura que concedeu ao corpo uma fatídica importância.

E "fatídica" pela razão evidente de que condena os homens a adorar um deus falível por definição. Um deus caprichoso e inconstante, sujeito às inclemências da velhice, da doença e da morte. Se existem causas perdidas, o corpo é a primeira delas. Alimentar causas perdidas é um sintoma de demência.
É por isso que a nossa obsessão com a carcaça não se corrige com as tais aulas de imagem e expressão corporal. Não se corrige com mais "autoestima".

Ironicamente, corrige-se com menos "autoestima". Somos pó e ao pó retornaremos. Aulas de teologia fariam mais pelas crianças inglesas do que renovadas sessões com o corpo no papel principal.
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Published on June 05, 2012 07:49

O valor das instituições

Jorge Maranhão, O GLOBO

Apropósito deste imbróglio entre o ex-presidente Lula, o ministro Gilmar Mendes e o ex-presidente do STF Nelson Jobim, acho que muito se falou, mas pouco se disse sobre o que está por trás do mesmo: o desconhecimento do papel e do valor das instituições para a democracia. Em especial das instituições de Estado, que existem mais para servir aos interesses do bem comum do que a governantes e políticos da ocasião.

Chamam o ex-presidente de apedeuta, mas o que esperar de um líder sindical que vira líder político exatamente no vácuo da omissão política da mais fina flor de nossas elites sociais? Quando ninguém da assessoria do ex-presidente - a começar pelo experiente Nelson Jobim - se aproximou para alertá-lo sobre alguns conceitos básicos da República, como o próprio Artigo 2 da Constituição Cidadã, que define os três Poderes da União como independentes e harmônicos entre si. Ou outro conceito mais fundamental ainda, como o de "instituições", definido como o "conjunto de normas previsíveis e acumuladas pela experiência ao longo do tempo, visando a orientar a conduta de seus membros diante da expectativa da sociedade e das organizações".

Ninguém, para frear o ímpeto voluntarista de Lula, apareceu para lembrá-lo que, entre as instituições de Estado, as instituições jurídicas são a própria garantia do estado de direito democrático, criadas exatamente para defender todo cidadão contra qualquer tentativa de coerção ou intimidação por parte dos governantes. Sobre o valor das instituições, aliás, o economista Prêmio Nobel de 1992 Douglass North observou ainda nos anos 80, num estudo sobre os custos das transações: "A liberdade, a igualdade e a democracia só sobrevivem com base no poder controlado. A função principal das instituições é ajustar os limites da igualdade aos limites da liberdade. Liberdade e igualdade são preservadas como bens comuns na razão direta da eficiência das instituições." Como há 150 anos atrás, escrevendo sobre as instituições da República americana, Alexis de Tocqueville ressaltava os princípios da impessoalidade e da moralidade como sua própria razão de ser.

Mas nossos comentaristas políticos da imprensa mais abalizada falam até em crime de coerção e que a conduta de Lula foi um tiro no pé, e não aproveitam o episódio para relevar o sentido do artigo 37 da CF: "A administração pública de qualquer dos Poderes da União obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência." O que se fundamenta outra vez no conceito de instituição como a concretização dessa impessoalidade da coisa pública e até como o próprio ambiente de segurança jurídica e de previsibilidade da jurisprudência, estas, sim, que nos faltam para o aumento dos investimentos e do progresso econômico e social.
Jorge Maranhão é diretor do Instituto de Cidadania A Voz do Cidadão
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Published on June 05, 2012 07:36

Sem esquecer o básico

Édison Carlos, O GLOBO

Muita controvérsia paira sobre a Rio+20 e ninguém sabe ao certo como e o que acontecerá nestas duas semanas em que o mundo estará atento ao Brasil. São tantas as atividades, tantas autoridades e temas, que fica difícil saber ao certo, mesmo para aqueles mais interessados, onde ir, o que visitar, ao que assistir.

A expectativa não é fruto somente do bombardeio de informações que aumenta com a chegada da conferência, mas principalmente da relevância que o tema ambiental tomou em nossas vidas. Sabemos que os impactos na natureza transpassam as barreiras do meio ambiente e nos afetam em todas as demais áreas da vida, principalmente em nossa saúde.

As discussões sobre a Rio+20 são, portanto, muito pertinentes, mas a maior parte da população assiste à chegada da conferência sem entender bem o que esperar, se é que se pode esperar algo. Temos que aproveitar a oportunidade para debater os grandes temas internacionais - o futuro do clima, da energia, da água, da vida nas cidades, mas principalmente discutir a pobreza, o mais importante de todos os impactos ambientais.

Temos que chamar a atenção dos envolvidos para as graves lacunas que ainda separam os países, que perpetuam as desigualdades. É fato que somente o fator econômico não é suficiente para resolver os problemas, como o Brasil está provando. Avançar nos indicadores ambientais e sociais tem sido muito mais difícil do que melhorar a posição entre os países mais ricos. Melhorar estes índices depende fortemente dos poderes locais e da mobilização do cidadão sobre suas mazelas, da cobrança sem trégua às autoridades.

É fundamental que a Rio+20 olhe para o micro. Em muitos países ainda não se consegue dar ao cidadão menos favorecido o que existe de mais básico. Perpetuamos doenças da Idade Média e continuamos sendo vítimas de descasos históricos. A falta de saneamento básico é a melhor demonstração de que o essencial continua sendo deixado em segundo plano. Não dispor de serviços como água tratada, coleta e tratamento dos esgotos afronta a dignidade humana. Segundo a própria Organização das Nações Unidas, a falta desses serviços afeta mais de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo, particularmente as crianças, os pobres e os desfavorecidos. A ONU projeta que, a continuar assim, em 2015 serão quase 3 bilhões.

Os índices brasileiros são vergonhosos. Um em cada cinco brasileiros ainda não recebe água tratada; 55% da população ainda não têm suas casas conectadas a uma rede de esgoto e muito pouco do pouco esgoto coletado é tratado. Perdemos quase 40% da água tratada que deveria chegar às nossas torneiras. Como explicar que uma das maiores economias do mundo fique nesta situação, mantendo suas crianças à mercê de diarreia, cólera, hepatite, verminoses e tantas outras doenças da água poluída?

Pesquisa feita pela Fundação Getúlio Vargas para o Instituto Trata Brasil em 2009 mostrava que, à época, quase 70 mil crianças entre 0 e 5 anos eram internadas por diarreia no país, e quase 220 mil trabalhadores tiveram que se afastar do trabalho por conta desse problema. Passaram-se 20 anos desde a Rio-92 e continuamos poluindo a pouca água que temos. De acordo com o último Atlas da Agência Nacional de Águas, publicado em 2011, 55% dos 5.565 municípios do país podem sofrer desabastecimento de água nos próximos quatro anos e 84% das cidades necessitam de investimentos para adequar seus sistemas produtores de água.

Então, o que pensar num cenário onde se estima um aumento da população, projetado no Atlas, de 5 milhões de habitantes até 2025? Ainda segundo o estudo, seriam necessários R$ 70 bilhões apenas para melhorar, ampliar e proteger os sistemas produtores de água; uma boa parte disso para coletar e tratar os esgotos jogados indiscriminadamente nos mesmos locais de onde se retira a água para a população.

É impossível, portanto, falar em desenvolvimento sustentável enquanto perdurar esta poluição generalizada, vexatória em todos os sentidos. A solução não é simples, sabemos disso. São necessários muito recurso e muito investimento, mas o país não pode mais se esconder atrás das dificuldades. Levar saneamento básico a todos é o mínimo, uma obrigação em qualquer lugar do mundo. No Brasil estamos avançando, é verdade, mas ainda a passos lentos. Os recursos do PAC, tão importantes para mudar este cenário, ainda não conseguiram ser essa alavanca, mesmo após cinco anos de programa.

Nestes dias em que celebramos a natureza e a Rio+20, nos cabe torcer para que a salvação da natureza venha com debates que apontem caminhos para reduzir a desigualdade, a pobreza, a desinformação e a inércia, tanto do cidadão quanto das autoridades. Para o Brasil, torcer para que as autoridades discutam o básico, o essencial. Que se dediquem às carências mais imediatas do nosso povo. Se só isso for conseguido, a Rio+20 já terá sido um sucesso e deixará o tal legado de que tanto ouvimos falar, mas que nunca conseguimos testemunhar.

Édison Carlos é presidente do Instituto Trata Brasil
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Published on June 05, 2012 06:59

June 4, 2012

Meu inferno mais íntimo

Luiz Felipe Pondé, Folha de SP

Um jovem rabino, angustiado com o destino da sua alma, conversava com seu mestre, mais velho e mais sábio, em algum lugar do Leste Europeu entre os séculos 18 e 19.

Pergunta o mais jovem: "O senhor não teme que quando morrer será indagado por Deus do porquê de não ter conseguido ser um Moisés ou um Elias? Eu sempre temo esse dia".

O mestre teria respondido algo assim: "Quando eu morrer e estiver na presença de Deus, não temo
que Ele me pergunte pela razão de não ter conseguido ser um Moisés ou um Elias, temo que Ele me pergunte pela razão de eu não ter conseguido ser eu mesmo".

Trata-se de um dos milhares de contos hassídicos, contos esses que compõem a sabedoria do hassidismo, cultura mística judaica que nasce, "oficialmente", com o Rabi Baal Shem Tov, que teria nascido por volta de 1700 na Polônia.

A palavra "hassidismo" é muito próxima do conceito de "Hesed", piedade ou misericórdia, que descreve um dos traços do Altíssimo, Adonai ("Senhor", termo usado para se referir a Deus no judaísmo), o Deus israelita (que, aliás, é o mesmo que "encarnou" em Jesus, para os cristãos).

Hassídicos eram conhecidos como "bêbados de Deus", enlouquecidos pela piedade divina (e pela vodca que bebiam em grandes quantidades para brindar a vida...) que escorre dos céus para aqueles que a veem.

São muitas as angústias de quem acredita haver um encontro com Deus após a morte. Mas ninguém precisa acreditar em Deus ou num encontro como esse para entender a força de uma narrativa como esta: o primeiro encontro, em nossa vida, que pode vir a ser terrível, é consigo mesmo. Claro que se Deus existe, isso assume dimensões abissais.

Para além do fato óbvio de que o conto fala do medo de não estarmos à altura da vontade de Deus, ele também fala do medo de não sermos seres morais e justos, como Moisés e Elias, exemplos de dois grandes "heróis" da Bíblia hebraica. Ser como Moisés e Elias significa termos um parâmetro moral exterior a nós mesmos que serviria como "régua".

A resposta do sábio ancião ao jovem muda o eixo da indagação: Deus não está preocupado se você consegue seguir parâmetros morais exteriores, Deus está preocupado se você consegue ser você mesmo.

Não se trata de pensar em bobagens do tipo "Deus quer que você seja feliz sendo você mesmo" como pensaria o "modo brega autoestima de ser", essa praga contemporânea. Trata-se de dizer que ser você mesmo é muito mais difícil do que seguir padrões exteriores porque nosso "eu" ou nossa "alma" é nosso maior desafio.

Enfrentar-se a si mesmo, reconhecer suas mazelas, suas inseguranças e ainda assim assumir-se é atravessar um inferno de silêncio e solidão. Ninguém pode fazer isso por você, é mais fácil copiar modelos heroicos, por isso o sábio diz que Deus não quer cópias de Moisés e Elias, mas pessoas que O enfrentem cara a cara sendo quem são.

Podemos imaginar Deus perguntando a você se teve coragem de ser você mesmo nos piores momentos em que ser você mesmo seria aterrorizante. Aí está o cerne da "moral da história" neste conto.

Noutro conto, um justo que morre, chegando ao céu, ouve ruídos horrorosos vindo de uma sala fechada. Perguntando a Deus de onde vem aquele som ensurdecedor, Deus diz a ele que vá em frente e abra a porta do lugar de onde vem a gritaria. Pergunta o justo a Deus que lugar seria aquele. Deus responde: "O inferno". Ao abrir a porta, o justo ouve o que aqueles infelizes gritavam: "Eu, eu, eu...".

Ao contrário do que dizia o velho Sartre, o inferno não são os outros, mas sim nós mesmos. Numa época como a nossa, obcecada por essa bobagem chamada autoestima, ocupada em fazer todo mundo se achar lindo e maravilhoso, a tendência do inferno é ficar superlotado, cheio de mentirosos praticantes do "marketing do eu".

Casas, escritórios, academias de ginásticas, igrejas, salas de aula, todos tomados pelo ruído ensurdecedor do inferno que habita cada um de nós. O escritor católico George Bernanos (século 20) dizia que o maior obstáculo à esperança é nossa própria alma. Quem ainda não sabe disso, não sabe de nada.
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Published on June 04, 2012 07:55

June 3, 2012

É um circo ou não é?

Ferreira Gullar, Folha de SP

Ultimamente, faço um esforço enorme para não perder a esperança em nosso país, em nossa capacidade de nos comportarmos com um mínimo de respeito pelo interesse público, pelos valores éticos, enfim, por construirmos uma nação digna deste nome.

É que, a cada dia, como você, fico sabendo de coisas que me desanimam. Parece que a corrupção tomou conta do Estado brasileiro, que não há mais em quem confiar. O que desanima não são apenas as falcatruas praticadas por parlamentares, ministros, governadores, prefeitos, juízes... O pior é que esses dados refletem uma espécie de norma generalizada que dita o comportamento das pessoas e o próprio funcionamento da máquina pública.

Um pequeno exemplo: o precatório. Se ganhas na Justiça uma ação que obriga o governo a te indenizar, ele está obrigado a te pagar, não? Só que ele não paga, não cumpre a decisão judicial, e fica por isso mesmo. A Justiça sabe que sua decisão não foi obedecida e nada faz.

Pior, às vezes esse dinheiro é apropriado por altos funcionários da própria Justiça. Enquanto isso, as pessoas que deveriam ser indenizadas esperam 20, 30 anos, sem nada receber. É como um assalto em via pública. Este é um fato corriqueiro num país dominado por uma casta corrupta.

E eu, burro velho, embora sabendo disso tudo, não paro de me surpreender. Acontece de tudo, até CPI criada pelo governo. Nunca se viu isto, já que CPI é um recurso da oposição; quer dizer, era, porque a de Cachoeira foi invenção do Lula e seu partido, e conta com o apoio da presidente Dilma. Isso porque, no primeiro momento, os implicados pareciam ser apenas adversários deles, a turma do mensalão.

Eis, porém, que novas revelações envolveram gente do PT e aliados do governo, sem falar numa empresa corrupta que é responsável por grande parte das obras do PAC, o Plano de Aceleração do Crescimento do governo federal.

Mas o que fazer, agora, se a CPI já estava criada? Voltar atrás seria impossível, e nem era preciso, uma vez que, dos 30 membros da CPI, apenas sete são da oposição, quer dizer, não decidirão nada.

Mas essas revelações punham em risco um dos principais objetivos de Lula, que era usar a CPI para desqualificar o processo do mensalão, prestes a ser julgado pelo STF. Essa intenção foi favorecida por um fato que envolve o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, a quem caberá fazer a denúncia da quadrilha chefiada por José Dirceu.

O PT tentou desqualificá-lo, apresentando-o como ligado a Demóstenes Torres e, portanto, a Cachoeira. A jogada não deu certo e, além do mais, está aí a maldita imprensa, que insiste em criar problemas, por levar à opinião pública informações inconvenientes.

De qualquer modo, a CPI teria que ouvir Carlinhos Cachoeira, e só Deus sabe o que ele poderia revelar. Deus e nós também: nada, como se viu.

É que ele se valeu do direito, que a Constituição lhe concede, de permanecer calado para não produzir provas contra si mesmo. Quem quer que tenha inventado isso -sempre em defesa dos inocentes, claro- com frequência favorece aos culpados, uma vez que o inocente, por nada temer, faz questão de contar toda a verdade. Calar, portanto, é confissão de culpa.

De qualquer modo, Carlos Cachoeira, a conselho de seu advogado, não respondeu a nenhuma das perguntas que lhe foram feitas, deixando os parlamentares, que inutilmente o interrogavam, em situação constrangedora. Aquela sessão da CPI, em Brasília, só pode ser comparada a um espetáculo circense.
E quem é o advogado de Cachoeira? Nada menos que o ex-ministro da Justiça de Lula, Márcio Thomaz Bastos, que, sentado a seu lado, como um segurança jurídico, ouvia os deputados e senadores se referirem a seu constituinte como "bandido, chefe de uma quadrilha de ladrões". Estava ali por vontade própria ou por imposição do cliente? Não se sabe, mantinha-se indiferente, como se nada ouvisse.

Foi por saber Cachoeira culpado de todas aquelas falcatruas que o aconselhou a nada responder. Resta à CPI recorrer às provas documentais. Por isso mesmo, Thomaz Bastos já pediu a anulação delas. Cachoeira pode não ter razão, mas dinheiro não lhe falta. E o espetáculo continua...
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Published on June 03, 2012 06:54

June 2, 2012

A direita admirável

Meus comentários sobre o excelente livro "Por que virei à direita", de João Pereira Coutinho, Luiz Felipe Pondé e Denis Rosenfield. Mostro que o ceticismo contra utopias racionalistas é a marca característica dessa direita que tem todo o meu respeito e admiração.

PS: As marteladas que começam no meio do vídeo podem ser vistas metaforicamente como a esquerda tentando impedir o debate calcado em argumentos sólidos, "martelando" seus slogans e expressões vazias.

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Published on June 02, 2012 08:21

Rodrigo Constantino's Blog

Rodrigo Constantino
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