Rodrigo Constantino's Blog, page 372
May 28, 2012
República das bananas

"Vês, pois, que, onde tudo está sob o poder de uma facção, não se pode dizer que existe República." (Cipião)
Quando o então presidente Lula terminou seu segundo mandato, ele declarou que seria sua nova prioridade “provar” que o “mensalão” não passou de uma farsa. Não sendo possível provar isso, uma vez que o “mensalão” claramente existiu e está bem documentado, restou ao ex-presidente apelar para subterfúgios que tentam reescrever a história e jogar fumaça no julgamento dos acusados pelo Supremo Tribunal Federal.
O último episódio desta cruzada imoral foi também o mais abjeto de todos. Segundo o ministro Gilmar Mendes relatou à revista “Veja”, Lula teria solicitado um encontro com este por intermédio do ex-ministro Nelson Jobim, aliado político do ex-presidente. Gilmar Mendes jamais deveria ter aceitado tal convite. Mas o fato é que aceitou e, segundo seus relatos, foi vítima de constrangimento e até ameaça velada por parte de Lula.
O que foi comentado sobre este encontro, se verdadeiro na íntegra, representa um absurdo, um total desprezo pelos valores republicanos. Dada a trajetória de Lula, confesso que não fico nada surpreso com o conteúdo da conversa. O sindicalista sempre encarou a democracia como um simples meio para chegar ao poder, e uma vez lá, não foram poucas as tentativas de enfraquecer as principais instituições republicanas do país.
Conforme revelou Gilmar Mendes, Lula teria solicitado uma espécie de acordo com o ministro. A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga Carlinhos Cachoeira, criada pela pressão do próprio Lula por interesses políticos e pessoais, seria suspensa em troca da postergação do julgamento do “mensalão”. Lula teria usado chantagem para convencer Gilmar Mendes, mencionando a viagem para Berlim que o ministro fez em companhia de Demóstenes Torres.
Sendo tudo isso verdade – e não há porque duvidar do ministro Gilmar Mendes –, trata-se de um escândalo de proporções gigantescas para a nossa frágil República. Lula realmente parece ignorar as lições do Barão de Montesquieu, principal iluminista responsável pela moderna divisão dos poderes. Para o ex-presidente, o país pode ser tratado como seu quintal, como uma espécie de feudo onde os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário se misturam por completo.
Tal divisão de poderes foi idealizada justamente para combater o arbítrio do governo, comum na época das monarquias absolutistas tão condenadas pelo próprio Montesquieu. Se o governante se sente no direito de legislar e julgar, além de executar, então o céu é o limite para seus mandos e desmandos. Lula, mesmo fora do cargo de presidente, parece ter deixado sua popularidade subir à cabeça, e não enxerga mais limites constitucionais aos seus desejos. Espera-se que a lei imponha tais limites.
Um dos mais importantes pilares de uma República constitucional que preza o império das leis é justamente um Judiciário independente. Governos autoritários sempre tentaram controlar a Corte Suprema. Foi o caso de Roosevelt nos Estados Unidos, cujo programa “New Deal” era claramente inconstitucional, e o meio encontrado para driblar este inconveniente foi expandir a quantidade de ministros para diluir os opositores.
Dos 11 ministros do STF, já são seis apontados pelo governo petista. Uma das indicações mais controversas foi a de José Antônio Dias Toffoli, por ser conhecido simpatizante do PT e ter trabalhado para membros do partido. Além desta afinidade, sua namorada é advogada de alguns “mensaleiros”. Um mínimo de bom senso e de apreço republicano faria com que o ministro se declarasse impedido de julgar o caso. A decisão ainda não foi tomada, mas o ex-presidente Lula teria dito, na reunião com Gilmar Mendes, que Toffoli tem que participar do julgamento. Como cobrar imparcialidade assim? Será que Lula pensa que estamos em Cuba?
Outro importante pilar de uma república saudável é a ampla liberdade de imprensa. Não por acaso o que resta de nossa imprensa livre tem sido alvo constante dos petistas. Assim que Gilmar Mendes colocou a boca no trombone sobre este nefasto encontro com Lula, o “bunker” virtual dos petistas disparou inúmeras mensagens tentando colocar em dúvida a honra do ministro, levantando suspeitas de uma parceria com a revista “Veja” em interesses obscuros. O ataque, para esta gente, é a melhor defesa. Já sobre o encontro em si e o que foi revelado dele, o ex-presidente preferiu não se manifestar.
É muito triste e também preocupante ver o modo como alguns petistas, incluindo o ex-presidente Lula, tratam as instituições republicanas de nosso país. Se dependesse somente deles, já seríamos uma legítima República das Bananas. Não estamos livres deste destino, como a vizinhança latino-americana pode atestar. Mas enquanto isso, que eles saibam que ainda há quem lute pela República neste país!
Published on May 28, 2012 10:20
Comitês de depuração
Luiz Felipe Pondé, Folha de SP
IMAGINE PARIS entre 1940 e 1944. Ocupação nazista. Agora se pergunte: onde estavam os artistas e intelectuais, franceses ou não, naquele momento? Estes que gostam de posar de arautos da ética, da transparência e do bem.
Claro, houve a "resistência francesa". Se contarmos o número de pessoas cujos pais e avós foram da Resistência Francesa, não teremos franceses suficientes para completar a cota dos resistentes de cada família.
Provavelmente, os resistentes de fato não enchiam dois ônibus. A Resistência Francesa é um dos maiores mitos modernos, assim como a dinamarquesa, a sueca, a holandesa e outras. A falsa coragem não é privilégio de nenhum povo. A maioria conviveu com o nazismo. E conviveria de novo. Raros são os que se revoltam contra situações assim, porque simplesmente temos medo e somos seletivos em nossas prioridades morais -quando existem.
Em situações assim, pensamos primeiro no café da manhã, no almoço e na janta. No emprego, no cotidiano, nas vantagens que podemos ter, dadas as condições em que vivemos. Danem-se as vítimas.
O século 20 criou uma das maiores mentiras da humanidade: a solidariedade abstrata. Aquela que se presta direto do Facebook ou do cardápio orgânico.
Não quero dizer que "tudo bem ser covarde", desculpando nossos atos pela banalização do medo. Basta um só corajoso para a covardia revelar sua face vergonhosa. O que me espanta é a mentira moral que se conta negando a epidemia de covardia em situações como essas. E gente "chique intelectualmente" adora esse tipo de farsa.
Depois de passar o dilúvio, aí aparecem milhares de "resistentes" corajosos para colher os louros que não merecem. Onde estavam Sartre, Beauvoir, Camus, Picasso, Dalí, Mauriac, Colette, Malraux, Gide e outros luminares naqueles anos?
Se você quer saber, leia o maravilhoso livro de Alan Riding, "Paris, A Festa Continuou - A Vida Cultural durante a Ocupação Nazista, 1940-4", publicado pela Cia. das Letras. Trata-se de um painel definitivo do cenário intelectual e artístico da época, revelando detalhes do convívio "pacífico" da casta erudita francesa (e de estrangeiros que lá viviam) com a ocupação alemã.
Não se tratam dos reconhecidos fascistas e antissemitas franceses como Louis-Ferdinand Céline, o grande escritor e médico. Mas sim daqueles que ensaiaram uma resistência cultural tímida (que os alemães nunca levaram de fato a sério) a troco de permanecer vivendo suas vidas comuns de intelectuais e artistas "comprometidos com um mundo melhor" (risadas?).
Até o mercado das artes plásticas viveu um crescimento tímido, mas real, na época.
Não eram "colabôs" de fato ("colaboracionistas", termo usado na França para quem apoiou a ocupação nazista), apenas faziam teatro, escreviam livros, pintavam quadros, faziam música, bebiam vinho. E quando os Aliados libertaram a França, logo se apressaram em "provar" sua condição de membros da resistência "cuspindo" na cara de gente que, muitas vezes, os ajudou porque eram de fato "colabôs" e tinham acesso a favores nazistas.
Os "comités d' épuration" (comitês de depuração) se multiplicaram no pós-guerra e visavam estabelecer a verdade de quem era ou não "colabô".
Os alemães sabiam que, mantendo os salões, os cabarés, as "brasseries", os cafés, as livrarias, as galerias de arte e os teatros em atividade, ajudariam a manter os franceses e estrangeiros cultos "ocupados". Todo mundo sabe que o risco para regimes como o nazista está em quem pega em armas, e não em quem fala delas.
Por que a vergonha da casta artística e intelectual manchou tanto o nome da França? Porque se esperava mais deles.
Segundo Riding, o trauma francês com relação à covardia daqueles que se diziam combatentes do pensamento e da arte pode ter sido causada pelo fato de que, desde a Revolução Francesa de 1789, a França "é uma população educada para reverenciar ideias... Alguns consideram este um dos legados da revolução de 1789, a noção inebriante de que uma ideia traduzida em ação pode produzir uma mudança súbita, radical e idealizada".
Ledo engano.
IMAGINE PARIS entre 1940 e 1944. Ocupação nazista. Agora se pergunte: onde estavam os artistas e intelectuais, franceses ou não, naquele momento? Estes que gostam de posar de arautos da ética, da transparência e do bem.
Claro, houve a "resistência francesa". Se contarmos o número de pessoas cujos pais e avós foram da Resistência Francesa, não teremos franceses suficientes para completar a cota dos resistentes de cada família.
Provavelmente, os resistentes de fato não enchiam dois ônibus. A Resistência Francesa é um dos maiores mitos modernos, assim como a dinamarquesa, a sueca, a holandesa e outras. A falsa coragem não é privilégio de nenhum povo. A maioria conviveu com o nazismo. E conviveria de novo. Raros são os que se revoltam contra situações assim, porque simplesmente temos medo e somos seletivos em nossas prioridades morais -quando existem.
Em situações assim, pensamos primeiro no café da manhã, no almoço e na janta. No emprego, no cotidiano, nas vantagens que podemos ter, dadas as condições em que vivemos. Danem-se as vítimas.
O século 20 criou uma das maiores mentiras da humanidade: a solidariedade abstrata. Aquela que se presta direto do Facebook ou do cardápio orgânico.
Não quero dizer que "tudo bem ser covarde", desculpando nossos atos pela banalização do medo. Basta um só corajoso para a covardia revelar sua face vergonhosa. O que me espanta é a mentira moral que se conta negando a epidemia de covardia em situações como essas. E gente "chique intelectualmente" adora esse tipo de farsa.
Depois de passar o dilúvio, aí aparecem milhares de "resistentes" corajosos para colher os louros que não merecem. Onde estavam Sartre, Beauvoir, Camus, Picasso, Dalí, Mauriac, Colette, Malraux, Gide e outros luminares naqueles anos?
Se você quer saber, leia o maravilhoso livro de Alan Riding, "Paris, A Festa Continuou - A Vida Cultural durante a Ocupação Nazista, 1940-4", publicado pela Cia. das Letras. Trata-se de um painel definitivo do cenário intelectual e artístico da época, revelando detalhes do convívio "pacífico" da casta erudita francesa (e de estrangeiros que lá viviam) com a ocupação alemã.
Não se tratam dos reconhecidos fascistas e antissemitas franceses como Louis-Ferdinand Céline, o grande escritor e médico. Mas sim daqueles que ensaiaram uma resistência cultural tímida (que os alemães nunca levaram de fato a sério) a troco de permanecer vivendo suas vidas comuns de intelectuais e artistas "comprometidos com um mundo melhor" (risadas?).
Até o mercado das artes plásticas viveu um crescimento tímido, mas real, na época.
Não eram "colabôs" de fato ("colaboracionistas", termo usado na França para quem apoiou a ocupação nazista), apenas faziam teatro, escreviam livros, pintavam quadros, faziam música, bebiam vinho. E quando os Aliados libertaram a França, logo se apressaram em "provar" sua condição de membros da resistência "cuspindo" na cara de gente que, muitas vezes, os ajudou porque eram de fato "colabôs" e tinham acesso a favores nazistas.
Os "comités d' épuration" (comitês de depuração) se multiplicaram no pós-guerra e visavam estabelecer a verdade de quem era ou não "colabô".
Os alemães sabiam que, mantendo os salões, os cabarés, as "brasseries", os cafés, as livrarias, as galerias de arte e os teatros em atividade, ajudariam a manter os franceses e estrangeiros cultos "ocupados". Todo mundo sabe que o risco para regimes como o nazista está em quem pega em armas, e não em quem fala delas.
Por que a vergonha da casta artística e intelectual manchou tanto o nome da França? Porque se esperava mais deles.
Segundo Riding, o trauma francês com relação à covardia daqueles que se diziam combatentes do pensamento e da arte pode ter sido causada pelo fato de que, desde a Revolução Francesa de 1789, a França "é uma população educada para reverenciar ideias... Alguns consideram este um dos legados da revolução de 1789, a noção inebriante de que uma ideia traduzida em ação pode produzir uma mudança súbita, radical e idealizada".
Ledo engano.
Published on May 28, 2012 07:03
May 25, 2012
Liberdade, Liberdade
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
Prezado leitor, estimada leitora, peço que você faça agora um exercício de memória voltando ao primeiro dia deste ano de 2012. Lembre de cada ida ao trabalho, que poderia ser um dia de folga, com a família, com um bom livro ou filme. Pense naquelas broncas todas que o chefe deu, na quantidade de sapo que você foi obrigado a engolir para manter seu emprego.
Lembre ainda aquela perda enorme de tempo nas filas do transporte coletivo, ou no engarrafamento dentro de seu carro, porque falta transporte coletivo decente. Pense ainda nos desafios que você teve de enfrentar no trabalho em janeiro, fevereiro, março, abril e maio, nos momentos em que você quase desanimou, mas teve que arregaçar as mangas e seguir em frente.
Pronto. Agora você já pode ficar sabendo que foi tudo isso em vão! Sei que pareço cruel, mas é que a verdade precisa ser dita. Todo esse esforço homérico, esse tempo dedicado ao trabalho em vez do lazer, ele foi a fundo perdido. Até agora, caro leitor, tudo isso serviu apenas para pagar as mamatas dos políticos, os esquemas corruptos dos governantes e seus apaniguados.
Sabe o escândalo do Cachoeira? Lembra do mensalão do PT? Pois é, de onde você acha que saiu a grana para tudo isso? Os invasores do MST, os anistiados terroristas comunistas, os funcionários públicos cheios de privilégios, os sindicalistas, os subsídios bilionários para as empresas amigas do rei, tudo isso demanda muita verba. Na verdade, quase 40% de tudo que é produzido no país, e que seu trabalho faz parte.
A partir de hoje você começa a trabalhar para você mesmo, e não mais para Brasília e para seu governo estadual. Agora você vai labutar para pagar tudo aquilo que supostamente o governo deveria oferecer para cobrar tanto imposto.
Mas não entre em desespero, nem comece a me xingar. Hoje é sexta-feira! É dia de cerveja com os amigos! Ops, preciso fechar com mais uma lembrança chata. Um certo “amigo” vai com você nessa "chopada" mesmo sem convite. É o fiscal da Receita, que leva mais da metade de cada gole que você der na bebida. Não vá com tanta sede ao pote, pois ele custa caro graças ao governo.
Amanhã, entretanto, será outro dia. Liberdade, liberdade!
Prezado leitor, estimada leitora, peço que você faça agora um exercício de memória voltando ao primeiro dia deste ano de 2012. Lembre de cada ida ao trabalho, que poderia ser um dia de folga, com a família, com um bom livro ou filme. Pense naquelas broncas todas que o chefe deu, na quantidade de sapo que você foi obrigado a engolir para manter seu emprego.
Lembre ainda aquela perda enorme de tempo nas filas do transporte coletivo, ou no engarrafamento dentro de seu carro, porque falta transporte coletivo decente. Pense ainda nos desafios que você teve de enfrentar no trabalho em janeiro, fevereiro, março, abril e maio, nos momentos em que você quase desanimou, mas teve que arregaçar as mangas e seguir em frente.
Pronto. Agora você já pode ficar sabendo que foi tudo isso em vão! Sei que pareço cruel, mas é que a verdade precisa ser dita. Todo esse esforço homérico, esse tempo dedicado ao trabalho em vez do lazer, ele foi a fundo perdido. Até agora, caro leitor, tudo isso serviu apenas para pagar as mamatas dos políticos, os esquemas corruptos dos governantes e seus apaniguados.
Sabe o escândalo do Cachoeira? Lembra do mensalão do PT? Pois é, de onde você acha que saiu a grana para tudo isso? Os invasores do MST, os anistiados terroristas comunistas, os funcionários públicos cheios de privilégios, os sindicalistas, os subsídios bilionários para as empresas amigas do rei, tudo isso demanda muita verba. Na verdade, quase 40% de tudo que é produzido no país, e que seu trabalho faz parte.
A partir de hoje você começa a trabalhar para você mesmo, e não mais para Brasília e para seu governo estadual. Agora você vai labutar para pagar tudo aquilo que supostamente o governo deveria oferecer para cobrar tanto imposto.
Mas não entre em desespero, nem comece a me xingar. Hoje é sexta-feira! É dia de cerveja com os amigos! Ops, preciso fechar com mais uma lembrança chata. Um certo “amigo” vai com você nessa "chopada" mesmo sem convite. É o fiscal da Receita, que leva mais da metade de cada gole que você der na bebida. Não vá com tanta sede ao pote, pois ele custa caro graças ao governo.
Amanhã, entretanto, será outro dia. Liberdade, liberdade!
Published on May 25, 2012 04:53
May 23, 2012
Sensible Keynesians see no easy way out
By Raghuram Rajan, Financial Times
In the long run we are not dead, we will still be recovering from the Great Recession. We should therefore weigh stimulus policies not just on their immediate effect but on their consequences over time. Sensible Keynesians recognise this. They bet that reviving growth through government spending today outweighs the future loss of growth as the debt taken on to fund current spending is paid back. Consider two circumstances where this may apply.
The first is in a fully fledged panic where demand collapses, banks and companies fail and organisational capital is destroyed. Save, possibly, for Greece, it is hard to argue any industrial country is there today.
The key question then is whether more government spending can make a real difference to the most severe employment problems. Here the case for a general stimulus becomes less compelling. In the US, demand is weakest in communities where a boom and bust in house prices has left an overhang of household debt. Lower local demand has hit employment in industries such as retail and restaurants. A general increase in government spending may be too blunt – greater demand in New York is not going to help families eat out in Las Vegas (and hence create more restaurant jobs there). Targeted household debt write-offs in Las Vegas could be a better use of stimulus dollars.The second is when persistent high unemployment leads the long term unemployed to lose the habits and skills that make them employable. This is probably the more pertinent case in several industrial countries, such as the US and Spain. Increasing employment in a sustainable way today could more than pay for itself if people who would otherwise drop out of the workforce earn incomes.
However, the past build-up of debt in now depressed areas may suggest that demand was too high relative to incomes. If so, demand, without the dangerous stimulant of borrowing, will stay weak. Policy should instead help workers move where there are suitable jobs – for instance, by helping them offload their homes and the associated debt without the stigma of default.
Employment is also lower in states that experienced a housebuilding bust. In these states, unemployment is higher among construction workers and in related jobs such as real estate brokerage. Could big publicly funded infrastructure projects, modelled on those in the 1930s, re-employ them? Possibly not, since today’s built-up US is less in need of infrastructure on that scale. Moreover, it is not clear that a worker used to putting up drywall can move easily to laying fibre-optic cable. Perhaps it would be better policy to support retraining for private jobs.
Japan, which had a huge property boom and bust in the late 1980s, provides a salutary warning of the difficulties of stimulus through infrastructure spending. Even though Japan covered much of the country with concrete, it never fully emerged from the crisis. For the Japanese, the long run has arrived, and they are older, fewer and have the highest government debt in the G7.
The US government can still spend. The UK is more on the margin. With a huge financial sector dependent on the government’s financial standing, it can take fewer chances with its finances. Austerity is painful, which is why austerity tomorrow is not credible. Yet shared tax increases and spending cuts can instil a sense of national purpose to help a country weather tough times.
For Greece, government spending is the problem, not the solution. A responsible government would implement judicious austerity, firing the party hacks who were hired in the go-go years, cutting wages and pensions and restructuring itself to collect taxes and provide useful services, even while retaining transfers to the indigent and elderly. As public sector workers share the private sector’s pain, national solidarity could improve. Also, improved government efficiency and other structural reforms will make it easier for Europe to provide the financing that will prevent even more savage cuts to government functions. And it will make it easier to write down Greek debt further and attract private investment, giving people hope of growth.
Targeted government spending, or reduced austerity, along the lines suggested by sensible Keynesians, might be feasible in some countries and helpful in speeding recovery. But we should examine each policy based on a country’s circumstances. We should be particularly wary of populist Keynesians, who parrot “in the long run we are dead” to justify any short-sighted government action. They do the world a disservice by suggesting there are easy ways out. By misleading people and their leaders, they may well precipitate revolution rather than recovery.
In the long run we are not dead, we will still be recovering from the Great Recession. We should therefore weigh stimulus policies not just on their immediate effect but on their consequences over time. Sensible Keynesians recognise this. They bet that reviving growth through government spending today outweighs the future loss of growth as the debt taken on to fund current spending is paid back. Consider two circumstances where this may apply.
The first is in a fully fledged panic where demand collapses, banks and companies fail and organisational capital is destroyed. Save, possibly, for Greece, it is hard to argue any industrial country is there today.
The key question then is whether more government spending can make a real difference to the most severe employment problems. Here the case for a general stimulus becomes less compelling. In the US, demand is weakest in communities where a boom and bust in house prices has left an overhang of household debt. Lower local demand has hit employment in industries such as retail and restaurants. A general increase in government spending may be too blunt – greater demand in New York is not going to help families eat out in Las Vegas (and hence create more restaurant jobs there). Targeted household debt write-offs in Las Vegas could be a better use of stimulus dollars.The second is when persistent high unemployment leads the long term unemployed to lose the habits and skills that make them employable. This is probably the more pertinent case in several industrial countries, such as the US and Spain. Increasing employment in a sustainable way today could more than pay for itself if people who would otherwise drop out of the workforce earn incomes.
However, the past build-up of debt in now depressed areas may suggest that demand was too high relative to incomes. If so, demand, without the dangerous stimulant of borrowing, will stay weak. Policy should instead help workers move where there are suitable jobs – for instance, by helping them offload their homes and the associated debt without the stigma of default.
Employment is also lower in states that experienced a housebuilding bust. In these states, unemployment is higher among construction workers and in related jobs such as real estate brokerage. Could big publicly funded infrastructure projects, modelled on those in the 1930s, re-employ them? Possibly not, since today’s built-up US is less in need of infrastructure on that scale. Moreover, it is not clear that a worker used to putting up drywall can move easily to laying fibre-optic cable. Perhaps it would be better policy to support retraining for private jobs.
Japan, which had a huge property boom and bust in the late 1980s, provides a salutary warning of the difficulties of stimulus through infrastructure spending. Even though Japan covered much of the country with concrete, it never fully emerged from the crisis. For the Japanese, the long run has arrived, and they are older, fewer and have the highest government debt in the G7.
The US government can still spend. The UK is more on the margin. With a huge financial sector dependent on the government’s financial standing, it can take fewer chances with its finances. Austerity is painful, which is why austerity tomorrow is not credible. Yet shared tax increases and spending cuts can instil a sense of national purpose to help a country weather tough times.
For Greece, government spending is the problem, not the solution. A responsible government would implement judicious austerity, firing the party hacks who were hired in the go-go years, cutting wages and pensions and restructuring itself to collect taxes and provide useful services, even while retaining transfers to the indigent and elderly. As public sector workers share the private sector’s pain, national solidarity could improve. Also, improved government efficiency and other structural reforms will make it easier for Europe to provide the financing that will prevent even more savage cuts to government functions. And it will make it easier to write down Greek debt further and attract private investment, giving people hope of growth.
Targeted government spending, or reduced austerity, along the lines suggested by sensible Keynesians, might be feasible in some countries and helpful in speeding recovery. But we should examine each policy based on a country’s circumstances. We should be particularly wary of populist Keynesians, who parrot “in the long run we are dead” to justify any short-sighted government action. They do the world a disservice by suggesting there are easy ways out. By misleading people and their leaders, they may well precipitate revolution rather than recovery.
Published on May 23, 2012 07:23
Trabalho escravo

"O direito nunca é infringido a não ser quando alguém se encontra destituído de uma parte daquilo que apropriadamente lhe pertença, ou de sua liberdade pessoal, sem o seu consentimento ou contra a sua vontade." (Humboldt)
A Câmara aprovou nesta terça-feira a PEC do Trabalho Escravo, que pode expropriar a propriedade rural ou urbana, sem indenização, caso seja detectado "trabalho escravo". Muitos aplaudem a medida, cheios de boas intenções. Eu confesso que lamento profundamente a decisão. Não por ser a favor do trabalho escravo, naturalmente. E sim porque tenho muito receio da arbitrariedade do estado com o uso flexível e vago do conceito "escravo".
Alguns podem associar o termo automaticamente àqueles trabalhadores acorrentados, levando chibatadas dos capatazes. Não é nada disso. Se não tiver carteira assinada (quase 40% da mão de obra brasileira não possui carteira), se as condições do local de trabalho não forem "adequadas" de acordo com infindáveis normas vagas, se as autoridades, enfim, resolverem achar indícios de "trabalho escravo", então o proprietário poderá perder sua propriedade sem mais nem menos. Abre-se um precedente perigoso, um risco enorme ao nobre e fundamental pilar da propriedade privada.
Abaixo, um texto meu antigo, quando foi levantada pela primeira vez esta ideia:
Escravidão é coerção. Para configurarmos um trabalho como escravo, necessitamos invariavelmente do conceito objetivo de obrigatoriedade contra a vontade, sendo o trabalhador forçado a executar suas tarefas sob ameaça de punição caso não as cumpra. A escravidão é, portanto, um conceito objetivo atrelado a moral, e independe dos sofismas e eufemismos que legisladores de plantão resolvam aplicar. Ela pode ser permitida por lei, como já foi no passado, ou distorcida pela lei, como o é atualmente, mas isso nada altera sua definição básica de caracterizar-se pela supressão da liberdade de escolha individual.
Algumas pessoas, mesmo que bem intencionadas, preferem manipular tais conceitos objetivos e complicar a questão da escravidão, associando-a a aspectos subjetivos e abstratos, como a dignidade humana. Revoltados com certas condições de trabalho, principalmente no meio rural, essas pessoas criam novos conceitos para definir a escravidão, solapando a objetividade da lei e abrindo perigoso espaço para o poder arbitrário do burocrata do momento. Tal atitude abre um perigoso precedente, permitindo que a arbitrariedade do conceito de "justiça social" condene à morte a necessária e concreta noção de justiça, essencial para a liberdade dos indivíduos.
Alguns defensores de malabarismos com o conceito de escravidão argumentam que sem um salário "justo" ou mínimo para a subsistência, temos um evidente caso de trabalho escravo. Isso está incorreto. O princípio básico de liberdade é o direito à propriedade, incluindo aí a escolha voluntária do indivíduo no que diz respeito ao trabalho e às trocas que este irá efetuar. Se alguém decide, voluntariamente, por um trabalho filantrópico, por exemplo, com a ausência de remuneração material pelo seu esforço, este nunca poderá ser considerado um escravo. Já um trabalhador que recebe salário "decente", mas não é livre para escolher abandonar tal serviço, é um escravo.
Logo, escravidão não pode ter ligação com a remuneração, e sim com a livre escolha ou não do trabalhador. Isso para não falar dos que consideram que remuneração, numa visão materialista marxista, dá-se somente através de papel-moeda. Ora, o próprio termo salário vem de sal, produto que já foi utilizado como moeda de troca antigamente. Portanto, um trabalhador que aceita, voluntariamente, oferecer seu esforço individual em troca de comida e moradia, sem dinheiro como forma de pagamento, não pode ser considerado um escravo. Mais escravo que ele é o "contribuinte" que entrega compulsoriamente cerca de metade de sua renda para o estado, que concentra ainda mais poder através da retórica contra a escravidão!
As condições materiais da vida desses trabalhadores pode, e deve, suscitar nas pessoas de bem a vontade de ajudar. Porém, há que se preservar a justiça, sempre. O inferno está cheio de boas intenções, diz a sabedoria popular. E a dignidade humana não estará condicionada à conta bancária, mas sim ao aspecto moral da conduta individual. O sujeito que permanece livre para escolher, assumindo responsabilidade por seus atos, é mais digno de respeito que o homem que depende de burocratas "iluminados" para decidir seus passos. Parasitas do governo, em busca de votos, que retiram a liberdade individual, não estão dando dignidade alguma, mas sim a destruindo. A dignidade vem da liberdade do indivíduo em exercer livremente suas preferências.
Exauridos os argumentos conceituais, podemos combater as recentes medidas sobre escravidão através da linha prática. Sabemos que o PT possui ranço ideológico socialista, além de uma proximidade criminosa com o MST. Observando a história, vemos que contorcionismos com a definição de escravidão foram bastante úteis aos revolucionários marxistas, cuja míope visão de luta de classes levou ao extermínio de milhões de indivíduos inocentes. Na melhor das hipóteses, fossem os defensores do combate à "escravidão" pessoas sinceramente imbuídas de senso de justiça, seus objetivos ficariam limitados à aplicação da lei via julgamento criminal dos fazendeiros com trabalho escravo. Entretanto, é a expropriação de suas terras que estes visam, numa clara confissão de perfídia, que passa despercebida pelos leigos românticos.
O próximo passo poderia ser tranquilamente estender tal luta contra a "escravidão" para o meio urbano, alegando que trabalhadores sem carteira assinada e excluídos das "garantias" da lei precisam de ajuda. Levando-se em conta que estamos falando de quase metade da população economicamente ativa, temos um prato cheio para os revolucionários de plantão. Amanhã, a empregada que voluntariamente trabalha sem carteira justamente para fugir das "regalias" utópicas das leis, poderá ser considerada uma escrava, e seu patrão poderá ter sua residência confiscada pelos nobres combatentes da escravidão. Salve-se quem puder!
Published on May 23, 2012 05:53
May 22, 2012
Time to plan a velvet divorce for the euro

As I read the umpteenth article on the “Grexit”, a phrase from the filmMarathon Man ran around my head. In this cult-thriller, Laurence Olivier plays a war criminal turned dentist who tortures Dustin Hoffman by drilling through his dental nerves without anaesthetic. As he does so, he asks repeatedly “Is it safe?”“Is it safe?” is the question European leaders have been asking themselves for months, as they contemplate Greece leaving the eurozone. Late last year I found myself discussing this very question with a senior European politician. He had noticed that I had written repeatedly that the eurozone was a flawed construction that was likely to collapse. If that was the case, I was asked, would it not be better to break the whole thing up now?At this point, I heard myself becoming shifty and evasive – “The trouble,” I replied, “is that I keep being told that a break-up would cause a catastrophe. Until I can tell you convincingly why that’s untrue, I can’t responsibly advocate it.”But prevarication is no longer good enough. In the coming months, Europe may be forced to decide.So – to answer the question that I dodged back in December – yes, I do think that it would ultimately be better if the eurozone broke up. This might not involve a complete reversion to national currencies. A hard core of euro-users, centred on Germany, might survive. But the current euro will have to go.It is true that the transition from here to there will be painful and dangerous. My colleague Martin Wolf laid out an updated version of thefull horror scenario in Friday’s FT – involving a breakdown of law and order in Greece, and financial collapse across Europe. How could anyone responsibly run that risk?The answer is that the alternatives to eurozone break-up are inherently implausible and deeply unattractive. At the weekend G8 leaders called for Greece to stay in the eurozone. Their present plan seems to involve some magical mix of stimulus and austerity that restores both budgetary balance and growth. But even if they can agree a real plan and even if it works – and neither outcome is likely – the eurozone’s structural problems would remain.Without the option of devaluing their currencies, uncompetitive economies are left with “internal devaluation” – otherwise known as wage cuts and mass unemployment. It is true that countries such as Greece badly need economic reforms. But these reforms – conducted within the straitjacket of monetary union with Germany – are causing political and economic turmoil.The real problem, however, is political. The euro does not have a political union behind it so it simply lacks the key institutions needed to make monetary union work. There is no strong central government to enforce budgetary discipline and no large federal budget to fund transfers from rich to poor areas. And, as we are discovering, there is no euro-wide bank-deposit insurance scheme.In theory, the eurozone might rectify this error by moving to a real political union. But the idea of a permanent transfer of sovereignty from Athens to Brussels has been rejected by all sides in Greece. Meanwhile, in Germany, the idea of a transfer union – involving a permanent gush of subsidies from northern to southern Europe – remains anathema.Even if EU politicians were able to overcome such objections and create a real federal union, this giant new entity would essentially hollow out the powers of national democracies. Sacrificing national self-rule on the altar of the euro is inherently objectionable – and would invite a nationalist backlash across Europe. This “cure” for the ills of the euro would be worse than the disease.Since the long-term alternatives to the break-up of the eurozone lack credibility, it is necessary to think about how to manage such an event – rather than simply dismissing it as too dangerous to contemplate.Unfortunately, the break-up plans that Europeans are already drawing up behind closed doors are too limited.They envisage a Greek exit, followed by a determined effort to throw up a firewall that prevents other countries being sucked into the crisis. This has unfortunate echoes of the past two years, during which the EU has consistently tried and failed to confine the crisis to Greece.In fact, the exit of Greece would unleash contagion, by making it clear that membership of the euro need not be permanent. Markets would inevitably round on the next vulnerable countries.Allowing the fate of the euro to be driven by a succession of market panics would be the worst possible way of breaking up the single currency. It would involve the loss of billions of euros of public money as the EU burnt through its firewall. The political and economic turmoil that followed would cause public panic and discredit the politicians in charge.It would be infinitely preferable if EU leaders were to make a rational assessment of which countries are willing and able to stay in the euro – and announce plans to work on an amicable and orderly divorce between the stayers and the goers. Only by acting in this way might they finally achieve their oft-stated goal of “getting ahead of events”. Almost all euro-users adopted the currency without a referendum, and they could leave the same way.It is true that even a “velvet divorce” for the eurozone would involve enormous dangers. But at least it would offer a believable exit from the present maze. As a (very) German proverb puts it – “Better an end with horror, than a horror without end.”
Published on May 22, 2012 07:07
Uma herança
João Pereira Coutinho, Folha de SP
Passei uma parte da adolescência com a revista "Playboy". Culpa de um familiar, que a consumia primeiro e a deixava na mesa de cabeceira depois.
Dito e feito: aos sábados, almoçava na casa dele como um menino aprumado. E, quando os comensais ainda estavam na sobremesa, eu mostrava certo enfartamento, levantava-me sem fazer ondas e ia repousar na biblioteca.
A biblioteca era um pequeno banheiro nos fundos da habitação, onde tive longos colóquios com Maitê Proença, Vera Fischer e Luiza Tomé.
Ainda hoje, a caminho da meia-idade, penso nas fotos de Luiza Tomé e sinto o tipo de estremecimento que Stendhal detectou em certos turistas girando pelos monumentos de Itália. Nunca desmaiei, é certo, mas, já que falamos no assunto: onde anda você, Luiza? Não escreve, não telefona, não diz nada.
A "Playboy" era educação estética. Mas era também formação cultural. Parece piada: folhear a "Playboy" pelos contos e ensaios.
Não era. A primeira vez que ouvi falar de Graham Greene, foi na "Playboy". O mesmo para Nabokov, Amis (pai) e Amis (filho). Se os li na edição brasileira ou na edição americana, é difícil dizer. Consumia ambas. Nunca discriminei.
Mas, para ficarmos no Brasil, o melhor de tudo eram as entrevistas.
Recordo, com gratidão sincera, uma conversa notável com Roberto Campos, na qual o economista elaborava uma das defesas mais inteligentes do capitalismo que li em qualquer língua.
Uma das observações mais sagazes de Campos era, ironia das ironias, uma evocação de Marx: a ideia de que, sem produzir em abundância, não há riqueza para redistribuir. É tudo "die alte Scheisse" ("a mesma merda").
Muitos intelectuais de esquerda, na impossibilidade de lerem Marx, deveriam ler essa entrevista.
Ou outras. O que acontecia com os escritores, acontecia com certos políticos: um tal de "Lula" foi-me apresentado pela "Playboy".
As considerações econômicas do sindicalista eram de um primitivismo embaraçoso, confesso. Mas, depois, Lula mostrava um tal desprezo por Caetano Veloso e Gilberto Gil (juro, juro), que simpatizei logo com o personagem.
Sem falar de Nelson Rodrigues. Já conhecia as crônicas do mestre, é verdade. Mas desconhecia que aos sete anos Nelson escrevera sua primeira história de adultério. Palavras do próprio. Onde estará essa história? Ruy Castro que nos esclareça.
Os sábados eram assim: repartidos entre as curvas do corpo e as contracurvas do espírito. E eu, na estupidez própria dos 12 ou 13 anos, pensava honestamente que um cidadão tinha direito aos seus segredos. Eu desaparecia uma tarde inteira com as revistas debaixo do braço. E ninguém notava.
Esse familiar notou. Semanas atrás, depois de uma doença demasiado longa e dolorosa para merecer comentário, o homem apagou-se. Fizeram-se as cerimônias fúnebres, disseram-se as palavras de circunstância.
E eu, em frente ao caixão, enquanto meditava em todos os sábados do passado, recebi do filho dele a informação de que existia uma caixa na casa deles que me era destinada.
A caixa chegou hoje, com o conteúdo inevitável: as revistas. Ou o que sobrou delas: dezenas de números da "Playboy", até dezembro de 1999. Não sei por que motivo elas deixaram de ser consumidas na virada do milênio.
Sei apenas que eu as deixei de consumir anos antes, quando o desafio passou a ser encontrar Luizas Tomés fora do banheiro, não dentro dele.
Com a imaginação literária que o momento exige, ainda procurei um bilhete no meio da herança: uma explicação, um "sempre-soube-de-tudo", um aceno irônico do outro lado da eternidade. Em homenagem aos almoços interrompidos, talvez um "bom apetite".
Nada encontrei. Faz sentido: os segredos de duas vidas não devem terminar quando termina uma delas. Pelo contrário, devem continuar com a vida que fica. Por momentos, ainda pensei expor a coleção na melhor estante da sala.
Mas isso seria uma traição ao espírito da coisa. Melhor guardar tudo na mesa do quarto. Com sorte, haverá filhos ou sobrinhos que saberão o que fazer com elas.
Passei uma parte da adolescência com a revista "Playboy". Culpa de um familiar, que a consumia primeiro e a deixava na mesa de cabeceira depois.
Dito e feito: aos sábados, almoçava na casa dele como um menino aprumado. E, quando os comensais ainda estavam na sobremesa, eu mostrava certo enfartamento, levantava-me sem fazer ondas e ia repousar na biblioteca.
A biblioteca era um pequeno banheiro nos fundos da habitação, onde tive longos colóquios com Maitê Proença, Vera Fischer e Luiza Tomé.
Ainda hoje, a caminho da meia-idade, penso nas fotos de Luiza Tomé e sinto o tipo de estremecimento que Stendhal detectou em certos turistas girando pelos monumentos de Itália. Nunca desmaiei, é certo, mas, já que falamos no assunto: onde anda você, Luiza? Não escreve, não telefona, não diz nada.
A "Playboy" era educação estética. Mas era também formação cultural. Parece piada: folhear a "Playboy" pelos contos e ensaios.
Não era. A primeira vez que ouvi falar de Graham Greene, foi na "Playboy". O mesmo para Nabokov, Amis (pai) e Amis (filho). Se os li na edição brasileira ou na edição americana, é difícil dizer. Consumia ambas. Nunca discriminei.
Mas, para ficarmos no Brasil, o melhor de tudo eram as entrevistas.
Recordo, com gratidão sincera, uma conversa notável com Roberto Campos, na qual o economista elaborava uma das defesas mais inteligentes do capitalismo que li em qualquer língua.
Uma das observações mais sagazes de Campos era, ironia das ironias, uma evocação de Marx: a ideia de que, sem produzir em abundância, não há riqueza para redistribuir. É tudo "die alte Scheisse" ("a mesma merda").
Muitos intelectuais de esquerda, na impossibilidade de lerem Marx, deveriam ler essa entrevista.
Ou outras. O que acontecia com os escritores, acontecia com certos políticos: um tal de "Lula" foi-me apresentado pela "Playboy".
As considerações econômicas do sindicalista eram de um primitivismo embaraçoso, confesso. Mas, depois, Lula mostrava um tal desprezo por Caetano Veloso e Gilberto Gil (juro, juro), que simpatizei logo com o personagem.
Sem falar de Nelson Rodrigues. Já conhecia as crônicas do mestre, é verdade. Mas desconhecia que aos sete anos Nelson escrevera sua primeira história de adultério. Palavras do próprio. Onde estará essa história? Ruy Castro que nos esclareça.
Os sábados eram assim: repartidos entre as curvas do corpo e as contracurvas do espírito. E eu, na estupidez própria dos 12 ou 13 anos, pensava honestamente que um cidadão tinha direito aos seus segredos. Eu desaparecia uma tarde inteira com as revistas debaixo do braço. E ninguém notava.
Esse familiar notou. Semanas atrás, depois de uma doença demasiado longa e dolorosa para merecer comentário, o homem apagou-se. Fizeram-se as cerimônias fúnebres, disseram-se as palavras de circunstância.
E eu, em frente ao caixão, enquanto meditava em todos os sábados do passado, recebi do filho dele a informação de que existia uma caixa na casa deles que me era destinada.
A caixa chegou hoje, com o conteúdo inevitável: as revistas. Ou o que sobrou delas: dezenas de números da "Playboy", até dezembro de 1999. Não sei por que motivo elas deixaram de ser consumidas na virada do milênio.
Sei apenas que eu as deixei de consumir anos antes, quando o desafio passou a ser encontrar Luizas Tomés fora do banheiro, não dentro dele.
Com a imaginação literária que o momento exige, ainda procurei um bilhete no meio da herança: uma explicação, um "sempre-soube-de-tudo", um aceno irônico do outro lado da eternidade. Em homenagem aos almoços interrompidos, talvez um "bom apetite".
Nada encontrei. Faz sentido: os segredos de duas vidas não devem terminar quando termina uma delas. Pelo contrário, devem continuar com a vida que fica. Por momentos, ainda pensei expor a coleção na melhor estante da sala.
Mas isso seria uma traição ao espírito da coisa. Melhor guardar tudo na mesa do quarto. Com sorte, haverá filhos ou sobrinhos que saberão o que fazer com elas.
Published on May 22, 2012 06:41
May 21, 2012
Que dó da Chanel
Luiz Felipe Pondé, Folha de SP
"Que dó da Chanel!", disse minha filha ao ouvir que o Monsieur Normal (François Hollande, o socialista) ganhou as eleições presidenciais na França. Só vai restar a Chanel fugir para Bélgica.
Caras como ele parecem não entender que se você coloca limites para o retorno financeiro de quem trabalha, a pessoa trabalha menos e fica preguiçosa. Ou foge para onde não roubem seu dinheiro, fruto de anos de trabalho duro.
Basta ver a história. Estes caras deveriam ler a filósofa russa Ayn Rand e seu maravilhoso "A Revolta de Atlas", da editora Sextante. Sociedades socialistas cultivam a preguiça, a mediocridade e desestimulam a criatividade e coragem profissional. Todo mundo vira funcionário público. Rand conheceu na pele o ridículo do sistema socialista soviético, antes de fugir para os Estados Unidos.
Dirá o leitor que exagero. Sim, um pouco, mas em se tratando da esquerda francesa, acostumada à vida mansa do Estado de bem-estar social, a França produtiva deve ficar alerta.
Assim como a Argentina, que nunca saiu da pasmaceira peronista, a França nunca saiu do delírio jacobino da Revolução Francesa.
Os caras não crescem e continuam a não entender que país é como sua casa, quando se gasta mais do que se ganha, a conta não fecha no final do mês e você estoura sua conta no banco.
Engraçado como a França e outros países europeus ocidentais que não passaram por regimes marxistas gostam de brincar de socialista. Brincam como se a catástrofe que foi a experiência marxista no poder não tivesse acontecido.
Acusam muita gente de não ter "consciência histórica", quando eles não têm nenhuma. A começar pelos intelectuais de esquerda, esses mandarins da mentira.
Vejam que os países do leste europeu que foram comunistas não chegam nem perto da baboseira da esquerda. Pergunte a uma tcheca ou russa se ela gostaria de voltar ao comunismo.
Mas, como a França ainda tem dinheiro para gastar, o dinossauro francês ganhou a eleição. Se ele não criar juízo e ficar prometendo o que não pode (como deixar os franceses se aposentarem com menos de 60 anos e com isso piorar a pressão sobre a população mais jovem produtiva que paga a conta da previdência social francesa), na próxima eleição, Marine Le Pen (do Front National, partido de extrema-direita) leva, o que seria outra catástrofe. É isso que ela espera, por isso recusou apoio ao Sarkozy.
Tanto a direita radical quanto a esquerda são contra a sociedade de mercado e não entendem nada de economia. Os da esquerda culpam os ricos, os da direita radical culpam os estrangeiros, e nenhum dos dois sabe lidar com a complexidade de um mundo que nada tem de perfeito e que é sempre fruto da velha natureza humana: mentirosa, interesseira e preguiçosa, quando pode. Nada brota onde não há dinheiro. Até minha llhasa apso, mais inteligente do que muita gente que conheço, sabe disso.
E por falar em Chanel (que para mim significa "mulher bonita"), recentemente tivemos mais uma prova de que a natureza humana é atávica em suas mazelas, sendo a inveja uma das piores.
Já disse várias vezes nesta coluna que as mulheres bonitas são vítimas de perseguição por parte das feias -a velha inveja da beleza.
Em recente pesquisa sobre mercado de trabalho, publicada no caderno "Mercado" desta Folha (13/5), israelenses provaram que mulheres bonitas que colocam suas fotos no CV são constantemente eliminadas, não tendo chance de chegar nem a uma primeira entrevista.
E por quê? O fato é que o RH é comumente dominado pelas mulheres, e estas, aparentemente, temem que mulheres bonitas assumam cargos em suas empresas.
Incrível, não? Depois dizem que são os homens que atrapalham a vida profissional das mulheres bonitas. A verdade parece ser o contrário: se aumenta o número de homens envolvidos no processo decisório, a seleção pode deixar de ser injusta para as mais bonitas.
Já que estamos em época de cotas para minorias oprimidas, proponho cotas para mulheres bonitas nas faculdades, nas empresas e no governo. O mundo respira melhor quando tem mulher bonita por perto. Elas são o pulmão do mundo.
"Que dó da Chanel!", disse minha filha ao ouvir que o Monsieur Normal (François Hollande, o socialista) ganhou as eleições presidenciais na França. Só vai restar a Chanel fugir para Bélgica.
Caras como ele parecem não entender que se você coloca limites para o retorno financeiro de quem trabalha, a pessoa trabalha menos e fica preguiçosa. Ou foge para onde não roubem seu dinheiro, fruto de anos de trabalho duro.
Basta ver a história. Estes caras deveriam ler a filósofa russa Ayn Rand e seu maravilhoso "A Revolta de Atlas", da editora Sextante. Sociedades socialistas cultivam a preguiça, a mediocridade e desestimulam a criatividade e coragem profissional. Todo mundo vira funcionário público. Rand conheceu na pele o ridículo do sistema socialista soviético, antes de fugir para os Estados Unidos.
Dirá o leitor que exagero. Sim, um pouco, mas em se tratando da esquerda francesa, acostumada à vida mansa do Estado de bem-estar social, a França produtiva deve ficar alerta.
Assim como a Argentina, que nunca saiu da pasmaceira peronista, a França nunca saiu do delírio jacobino da Revolução Francesa.
Os caras não crescem e continuam a não entender que país é como sua casa, quando se gasta mais do que se ganha, a conta não fecha no final do mês e você estoura sua conta no banco.
Engraçado como a França e outros países europeus ocidentais que não passaram por regimes marxistas gostam de brincar de socialista. Brincam como se a catástrofe que foi a experiência marxista no poder não tivesse acontecido.
Acusam muita gente de não ter "consciência histórica", quando eles não têm nenhuma. A começar pelos intelectuais de esquerda, esses mandarins da mentira.
Vejam que os países do leste europeu que foram comunistas não chegam nem perto da baboseira da esquerda. Pergunte a uma tcheca ou russa se ela gostaria de voltar ao comunismo.
Mas, como a França ainda tem dinheiro para gastar, o dinossauro francês ganhou a eleição. Se ele não criar juízo e ficar prometendo o que não pode (como deixar os franceses se aposentarem com menos de 60 anos e com isso piorar a pressão sobre a população mais jovem produtiva que paga a conta da previdência social francesa), na próxima eleição, Marine Le Pen (do Front National, partido de extrema-direita) leva, o que seria outra catástrofe. É isso que ela espera, por isso recusou apoio ao Sarkozy.
Tanto a direita radical quanto a esquerda são contra a sociedade de mercado e não entendem nada de economia. Os da esquerda culpam os ricos, os da direita radical culpam os estrangeiros, e nenhum dos dois sabe lidar com a complexidade de um mundo que nada tem de perfeito e que é sempre fruto da velha natureza humana: mentirosa, interesseira e preguiçosa, quando pode. Nada brota onde não há dinheiro. Até minha llhasa apso, mais inteligente do que muita gente que conheço, sabe disso.
E por falar em Chanel (que para mim significa "mulher bonita"), recentemente tivemos mais uma prova de que a natureza humana é atávica em suas mazelas, sendo a inveja uma das piores.
Já disse várias vezes nesta coluna que as mulheres bonitas são vítimas de perseguição por parte das feias -a velha inveja da beleza.
Em recente pesquisa sobre mercado de trabalho, publicada no caderno "Mercado" desta Folha (13/5), israelenses provaram que mulheres bonitas que colocam suas fotos no CV são constantemente eliminadas, não tendo chance de chegar nem a uma primeira entrevista.
E por quê? O fato é que o RH é comumente dominado pelas mulheres, e estas, aparentemente, temem que mulheres bonitas assumam cargos em suas empresas.
Incrível, não? Depois dizem que são os homens que atrapalham a vida profissional das mulheres bonitas. A verdade parece ser o contrário: se aumenta o número de homens envolvidos no processo decisório, a seleção pode deixar de ser injusta para as mais bonitas.
Já que estamos em época de cotas para minorias oprimidas, proponho cotas para mulheres bonitas nas faculdades, nas empresas e no governo. O mundo respira melhor quando tem mulher bonita por perto. Elas são o pulmão do mundo.
Published on May 21, 2012 07:05
O fim do euro
Meu novo artigo para o OrdemLivre.org: “The european single currency is bound to fail, economically, politically, and indeed socially, though the timing, occasion, and full consequences are all necessarily still unclear.” (Margaret Thatcher)
Published on May 21, 2012 06:35
May 19, 2012
Dilma ressuscita Geisel
Vídeo onde comento a situação preocupante da economia brasileira, com medidas erráticas do desgoverno Dilma, que ressuscitou o nacional-desenvolvimentismo de Geisel com vontade. Pagaremos um alto preço por tanta incompetência e ranço ideológico.
Published on May 19, 2012 05:53
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