Marcelo Rubens Paiva's Blog, page 73

November 3, 2014

Intervenção militar de novo?!


 


INTERVENÇÃO MILITAR já?!


Alguns problemas se ela de fato ocorrer, como pedem alguns.


1. Em 1964, a sociedade civil também a pediu. Para “acabar com a baderna”, num país “dividido”, com a ameaça comunista no ar, cujo Poder fazia negócios com Cuba de Fidel.


Os militares tomaram o poder em 1 de abril. Devolveriam um ano depois, depois de cassar os adversários políticos. Teríamos eleição para presidente em 1965, adiada para 1966.


O problema foi que, pelas pesquisas, quem ganharia era outro inimigo do regime, ex-presidente JK. O deposto e cassado Jango não poderia concorrer. Mas foi exilado com altíssimo índice de aprovação.


A solução foi truculenta: cassaram JK, Jânio, aliados como Lacerda, cancelaram as eleições, fecharam o Congresso, cassaram os partidos e criaram o sistema bipartidário.


Eleições diretas para presidente só em 1989, 25 anos depois.


Em resumo, se rolar intervenção, dá pra voltar atrás.


2. Se houver arrependimento, não se poderá em 4 anos buscar a alternância. No máximo, sairia um general do Exército gaúcho para entrar outro carioca.


3. Não seriam possíveis manifestações políticas contra o regime.


4. Não seriam possíveis associações que discutissem política.


5. Não seriam possíveis filmes, peças, livros, novelas de TV séries, que atentassem aos valores morais do grupo no Poder.


6. Não se poderia criticar o grupo no Poder. A imprensa seria censurada. Jornalistas que furassem o bloqueio poderiam ser presos. Alguns torturados. Outros mortos.


7. Sindicatos, centrais sindicais, organizações de classe e de estudantes seriam proibidas.


8. Artistas que incomodassem o governo seriam presos e convidados a se retirar. Uma campanha, BRASIL AME-O OU DEIXE-O, se tornaria o lema que justificaria a limpeza ideológica.


9. Se organizações clandestinas começassem a combater o regime, um aparato repressivo com licença para torturar e matar cairia em cima.


10. Qual grupo fardado organizaria o Estado? Tem experiência administrativa? Haveria alternância entre Exército, Marinha e Aeronáutica, como na Argentina? Apenas generais, como no Brasil? Haveria intervenção no Judiciário? No Congresso? Quais partidos seriam cassados? O que fazer com eleições estaduais e municipais, Assembleias e Vereanças.


11. A reação internacional seria desfavorável, o País ficaria isolado.


Democracia é complicada.


Não é melhor continuarmos sem os militares.


A história não traz boas recordações.

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Published on November 03, 2014 06:31

November 2, 2014

Não odeie a democracia


 


A democracia é o pior dos governos, com exceção de todos os outros.


Não existe uma democracia melhor ou mais verdadeira.


Como não existe voto certo e errado, bom e ruim.


Existem democracias.


Mas, de Tocqueville a Montesquieu, idealizador da divisão do Estado em três poderes, executivo, legislativo e judiciário, por trás das tépidas paixões de ontem e dos impetuosos ódios de hoje, é possível encontrar a força subversiva sempre nova e ameaçada da ideia democrática. Palavras do filósofo francês Jacques Rancière. Democracias se renovam.


O ódio à democracia nasceu quando deram à luz a própria. Para Aristóteles, o regime que tirou o poder de reis e deuses se tornou a expressão do ódio. Foi o primeiro insulto inventado na Grécia Antiga democrática, por aqueles que viam a ruína em toda ordem legítima no inominável governo da multidão.


A jornalista e atriz formada pelo Wolf Maia Studio, Deborah Albuquerque Chlaem Salomão, correu ao proscênio e improvisou o papel de musa do ódio. Por anos, jogou os dados e cumpriu algumas etapas do tabuleiro da fama. Avançou e retrocedeu num jogo disputado, concorrido. Nessas eleições, conseguiu graças ao acaso avançar muitas casas, sem precisar rebolar, usar shortinhos ou biquíni, graças ao desabafo que ela mesma postou.


Loiraça de corpão trabalhado, Deborah despontou como Legendete, figurante provocante assistente de palco do programa Legendários (TV Record), apresentado por Marcos Mion. Participou da Feira do Riso, programa de humor (Rede TV).


Aqui ela representa:


 

 https://www.youtube.com/watch?feature=pl…


 


Entrevistada pelo blog Notas da Fama, disse que topa ser convidada para participar do Pânico na TV (Band), do reality show A Fazenda (Record), e segredou que Gilberto Barros a sondou para fazer parte do casting das Leoas, assistentes de palco que rebolam no Sábado Total (Rede TV).


Se ela não tem dado sorte na TV aberta, Deborah viu o jogo virar assim que saiu o resultado das urnas. Postou um vídeo domingo que se tornou viral (mais de 8 milhões de visualizações). A atriz que participou de um clipe do Jota Quest e concorreu à Musa do Brasileirão disse exaltada numa produção caseira, olhando para a câmera:


“Quer saber, estou me preparando para ir pra Orlando, onde mora o meu pai. Eu sou rica, bem-sucedida e muito bem de vida, e tentei ajudar vocês, miseráveis, imbecis, burros, que votaram na p… da Dilma. Vocês são muito burros e vão depender de Bolsa Família, bolsa miséria, pro resto da vida… Eu, não, eu tenho condições de sair desse país, que vai virar Cuba, que vai virar uma ditadura, vocês são burros… Estragaram o Brasil.”


Na segunda-feira, postou outro vídeo, já com 2 milhões de visualizações, mais calma, ao lado de Geralda, “mãe de criação”, para esclarecer melhor seu ponto de vista: “Disseram que que eu descrimino os pobres. Estão errados. Aqui está Geralda, que ajudou a me criar e me conhece bem. Descrimino sim os petistas que elegeram mais uma vez esse partido corrupto de m… , que promove uma ditadura neste país.” Geralda encerra o esclarecimento, abraçando a filha de criação: “Conheço há mais de 20 anos.”


Para o filósofo Janine Ribeiro, democracia não é um Estado acabado, mas algo desdenhado desde os gregos: o empenho insolente dos pobres em invadir o espaço que era dos seus superiores, enquanto a ideia de separação social continua presente e forte.


Deborah odiou o resultado da apuração. Odiou ser contrariada. Achou que ela estava certa, e os outros, não. Prefere se mudar de país a aceitar ser governada por aquela escolhida numa votação apertada por “burros imbecis”, a maioria.


Para todos os que acreditavam que o poder cabia de direito aos que a ele eram destinados por nascimento ou eleitos por suas competências, democracia quando surgiu na Grécia era sinônimo de aberração.


Em O Ódio à Democracia (Boitempo), Rancière afirma que a democracia é, em primeiro lugar, essa condição paradoxal da política, esse ponto em que toda legitimidade se confronta com ausência de legitimidade última, com contingência igualitária que sustenta a própria contingência não igualitária, por isso que suscita o ódio. O governo de qualquer um está fadado ao ódio infindável de todos aqueles que têm que apresentar títulos para o governo dos homens (nascimento, riqueza ou ciência).


Governos eleitos foram obrigados a aceitar diversidade na moral, religião, orientação sexual, apesar dos conflitos. Recusar a hierarquia é parte do jogo democrático. Aceitar a divergência, obrigação legal. É inútil procurar o que une acontecimentos de natureza tão distinta. Todos os sintomas, enumera Rancière, traduzem um mesmo mal e se chama democracia, “o reino dos desejos ilimitados”:


1. Um sistema representativo como critério pertinente de democracia é um compromisso instável, uma resultante de forças contrárias, que muda de tempos em tempos.


2. As eleições são livres. Em essência, asseguram a reprodução, com legendas intercambiáveis, do mesmo pessoal dominante. Mas as urnas não são fraudadas. Qualquer um pode se certificar disso sem arriscar a vida.


3. A administração não é corrompida, exceto na questão dos contratos públicos, em que ela se confunde com os interesses dos partidos dominantes. As liberdades dos indivíduos são respeitadas, à custa de notáveis exceções em tudo que diga respeito à proteção das fronteiras e à segurança do território.


4. A imprensa é livre. Quem quiser fundar um jornal, uma revista ou um canal de TV com capacidade para atingir o conjunto da população, sem a ajuda das potências financeiras, pode ter dificuldades, mas não será preso. Mais ainda hoje, no mundo digital,


5. Direitos de associação, reunião e manifestação permitem a organização de uma vida democrática, isto é, uma vida política independente da esfera estatal. Os “direitos do homem e do cidadão” são os direitos daqueles que os tornam reais.


Segundo Aristóteles, o Estado oligárquico de direito realiza esse equilíbrio bem-sucedido dos contrários por onde os maus governos se aproximam do impossível bom governo.


No seu caso, Deborah, sua oligarquia foi vencida por outra. Foi por pouco, mas foi.


Odeie a derrota, não a democracia.

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Published on November 02, 2014 14:31

Não odeie a democracia?


 


A democracia é o pior dos governos, com exceção de todos os outros.


Não existe uma democracia melhor ou mais verdadeira.


Como não existe voto certo e errado, bom e ruim.


Existem democracias.


Mas, de Tocqueville a Montesquieu, idealizador da divisão do Estado em três poderes, executivo, legislativo e judiciário, por trás das tépidas paixões de ontem e dos impetuosos ódios de hoje, é possível encontrar a força subversiva sempre nova e ameaçada da ideia democrática. Palavras do filósofo francês Jacques Rancière. Democracias se renovam.


O ódio à democracia nasceu quando deram à luz a própria. Para Aristóteles, o regime que tirou o poder de reis e deuses se tornou a expressão do ódio. Foi o primeiro insulto inventado na Grécia Antiga democrática, por aqueles que viam a ruína em toda ordem legítima no inominável governo da multidão.


A jornalista e atriz formada pelo Wolf Maia Studio, Deborah Albuquerque Chlaem Salomão, correu ao proscênio e improvisou o papel de musa do ódio. Por anos, jogou os dados e cumpriu algumas etapas do tabuleiro da fama. Avançou e retrocedeu num jogo disputado, concorrido. Nessas eleições, conseguiu graças ao acaso avançar muitas casas, sem precisar rebolar, usar shortinhos ou biquíni, graças ao desabafo que ela mesma postou.


Loiraça de corpão trabalhado, Deborah despontou como Legendete, figurante provocante assistente de palco do programa Legendários (TV Record), apresentado por Marcos Mion. Participou da Feira do Riso, programa de humor (Rede TV).


Aqui ela representa:


 

 https://www.youtube.com/watch?feature=pl…


 


Entrevistada pelo blog Notas da Fama, disse que topa ser convidada para participar do Pânico na TV (Band), do reality show A Fazenda (Record), e segredou que Gilberto Barros a sondou para fazer parte do casting das Leoas, assistentes de palco que rebolam no Sábado Total (Rede TV).


Se ela não tem dado sorte na TV aberta, Deborah viu o jogo virar assim que saiu o resultado das urnas. Postou um vídeo domingo que se tornou viral (mais de 8 milhões de visualizações). A atriz que participou de um clipe do Jota Quest e concorreu à Musa do Brasileirão disse exaltada numa produção caseira, olhando para a câmera:


“Quer saber, estou me preparando para ir pra Orlando, onde mora o meu pai. Eu sou rica, bem-sucedida e muito bem de vida, e tentei ajudar vocês, miseráveis, imbecis, burros, que votaram na p… da Dilma. Vocês são muito burros e vão depender de Bolsa Família, bolsa miséria, pro resto da vida… Eu, não, eu tenho condições de sair desse país, que vai virar Cuba, que vai virar uma ditadura, vocês são burros… Estragaram o Brasil.”


Na segunda-feira, postou outro vídeo, já com 2 milhões de visualizações, mais calma, ao lado de Geralda, “mãe de criação”, para esclarecer melhor seu ponto de vista: “Disseram que que eu descrimino os pobres. Estão errados. Aqui está Geralda, que ajudou a me criar e me conhece bem. Descrimino sim os petistas que elegeram mais uma vez esse partido corrupto de m… , que promove uma ditadura neste país.” Geralda encerra o esclarecimento, abraçando a filha de criação: “Conheço há mais de 20 anos.”


Para o filósofo Janine Ribeiro, democracia não é um Estado acabado, mas algo desdenhado desde os gregos: o empenho insolente dos pobres em invadir o espaço que era dos seus superiores, enquanto a ideia de separação social continua presente e forte.


Deborah odiou o resultado da apuração. Odiou ser contrariada. Achou que ela estava certa, e os outros, não. Prefere se mudar de país a aceitar ser governada por aquela escolhida numa votação apertada por “burros imbecis”, a maioria.


Para todos os que acreditavam que o poder cabia de direito aos que a ele eram destinados por nascimento ou eleitos por suas competências, democracia quando surgiu na Grécia era sinônimo de aberração.


Em O Ódio à Democracia (Boitempo), Rancière afirma que a democracia é, em primeiro lugar, essa condição paradoxal da política, esse ponto em que toda legitimidade se confronta com ausência de legitimidade última, com contingência igualitária que sustenta a própria contingência não igualitária, por isso que suscita o ódio. O governo de qualquer um está fadado ao ódio infindável de todos aqueles que têm que apresentar títulos para o governo dos homens (nascimento, riqueza ou ciência).


Governos eleitos foram obrigados a aceitar diversidade na moral, religião, orientação sexual, apesar dos conflitos. Recusar a hierarquia é parte do jogo democrático. Aceitar a divergência, obrigação legal. É inútil procurar o que une acontecimentos de natureza tão distinta. Todos os sintomas, enumera Rancière, traduzem um mesmo mal e se chama democracia, “o reino dos desejos ilimitados”:


1. Um sistema representativo como critério pertinente de democracia é um compromisso instável, uma resultante de forças contrárias, que muda de tempos em tempos.


2. As eleições são livres. Em essência, asseguram a reprodução, com legendas intercambiáveis, do mesmo pessoal dominante. Mas as urnas não são fraudadas. Qualquer um pode se certificar disso sem arriscar a vida.


3. A administração não é corrompida, exceto na questão dos contratos públicos, em que ela se confunde com os interesses dos partidos dominantes. As liberdades dos indivíduos são respeitadas, à custa de notáveis exceções em tudo que diga respeito à proteção das fronteiras e à segurança do território.


4. A imprensa é livre. Quem quiser fundar um jornal, uma revista ou um canal de TV com capacidade para atingir o conjunto da população, sem a ajuda das potências financeiras, pode ter dificuldades, mas não será preso. Mais ainda hoje, no mundo digital,


5. Direitos de associação, reunião e manifestação permitem a organização de uma vida democrática, isto é, uma vida política independente da esfera estatal. Os “direitos do homem e do cidadão” são os direitos daqueles que os tornam reais.


Segundo Aristóteles, o Estado oligárquico de direito realiza esse equilíbrio bem-sucedido dos contrários por onde os maus governos se aproximam do impossível bom governo.


No seu caso, Deborah, sua oligarquia foi vencida por outra. Foi por pouco, mas foi.


Odeie a derrota, não a democracia.

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Published on November 02, 2014 14:31

October 31, 2014

10 horas de um homem andando em NY

O site FD, Funny or Die, decidiu ver o que acontece em 10 horas de um homem andando em NY com  uma câmera camuflada


Está com a mesma roupa da mulher que andou por 10 horas e levou mais de cem cantadas, um jeans e uma camisa preta, que causou uma tremenda repercussão.


E cortaram as vezes em que o oferecem descontos.


Recebeu 1 cantada meia-boca. De resto…


 



10 Hours of Walking in NYC as a Man from Nate Dern

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Published on October 31, 2014 17:03

October 30, 2014

Eleições apertadas


 


Eleição apertada não é exclusividade nossa.


Muitas eleições americanas são decididas voto a voto.


Kennedy x Nixon. O primeiro ganhou apertado em 1960.


A diferença foi de 112 mil votos.


Kennedy: 34.220.984      (49,7%)


Nixon: 34.108.157    (49,6%)


Kennedy perdeu na maioria dos estados (22 contra 26 do candidato republicano)


Ganhou no colégio eleitoral.


A de George W Bush foi decidida pela Suprema Corte.


Obama, eleito com 51,42%.


Hollande, eleito com 51,62%.


Dilma, reeleita com 51,64%


No final das contas, Dilma teve mais votos no Sudeste (20.931.961) do que no Nordeste (20.175.484)


Sai uma oligarquia, entra outra.


Não se iluda: todo Estado é oligárquico.


Raymond Aron escreveu em Démocratie et Totalitarisme (Gallimard): “Não se pode conceber regime que, em algum sentido, não seja oligárquico”.


As práticas dos governos oligárquicos que podem ser denominadas mais ou menos democráticas.


O governo democrático é ruim quando se deixa corromper pela sociedade democrática que quer que todos sejam iguais e que todas as diferenças sejam respeitadas.


E é bom quando mobiliza os indivíduos apáticos da sociedade democrática para a energia da guerra em defesa dos valores da civilização, aqueles da luta das civilizações.


O filósofo francês Jacques Rancière quem disse isso:


Os males de que sofrem nossas “democracias” estão ligados em primeiro lugar ao apetite insaciável dos oligarcas.


Não vivemos em democracias. Vivemos em Estados de direito oligárquicos, isto é, em Estados em que o poder da oligarquia é limitado pelo duplo reconhecimento da soberania popular e das liberdades individuais. 


Democracia não é brinquedo.


A disputa é quase sempre acirrada.


Raramente ocorre um 7 x 1.

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Published on October 30, 2014 17:07

Água de beber




Escrevi este texto em abril no Estadão. Ficou terrivelmente mais atual:


A água da piscina do condomínio começou a baixar um azulejo por semana. A moradora do bloco B, zelosa pela condição física, a única que nadava todas as noites, foi a primeira notar. Avisou o porteiro, que avisou o chefe do turno, que reportou ao zelador. Vazamento?


O síndico, sedentário que não zelava pela condição física, demorou para chamar o técnico terceirizado. Que disse, numa inspeção cuidadosa, que o fenômeno ocorria na vizinhança. Fenômeno? Sugeriu checarem as imagens gravadas pelas câmeras espalhadas.


Na administração do prédio, num monitor sem cor nem definição, técnico terceirizado, zelador e síndico sedentário viram a moradora do bloco B entrar na piscina e nadar. Elogiaram a disposição e o bom condicionamento. Adiantaram as imagens. Viram que, no meio da madrugada, pessoas encapuzadas apareciam correndo e, com baldes, retiravam às pressas água da piscina. Adultos e crianças. Subtraíam água do bem coletivo de uso compartilhado pela massa condominial. Quem?


Pelo mesmo monitor, viu-se que naquele horário ninguém atravessou o esquema de monitoramento do perímetro condominial (portaria gaiola, ou clausura, com sistema de “intertravamento”, portaria blindada, cercas eletrificadas, grades duplas, alarmes e sensores a laser). Não tinha outra: moradores dos blocos A, B e C, independentemente do condicionamento físico, surrupiavam noite após noite água da piscina.


Numa reunião marcada com urgência na Associação de Síndicos de Condomínios Comerciais e Residenciais, descobriu-se que o fenômeno era epidêmico. Condôminos roubavam água das piscinas dos próprios condomínios. E residências com piscinas eram invadidas por ladrões de água. Sugestão: redobrar a vigilância, cobrir piscinas com lonas e grades, até a crise abastecimento do Estado passar.


O boato se espalhou. Esgotou-se o estoque de baldes e afins. A notícia de que a água estava com os dias contados foi a mais comentada em redes sociais por dias. Clubes e academias de natação foram invadidos por gangues organizadas que, com SUVs adaptados com caixas d’água de polietileno e fibra de vidro nas carrocerias, com capacidade de armazenarem até 5 mil litros, chegavam armados de bastões, agrediam fisioterapeutas, professores, pacientes e clientes com ou sem tendinites e dores nos meniscos, e sugavam a água dos reservatórios que encontrassem. Clorada e salinizada.


Pessoas estocavam água potável ou não em casa, no quintal, na varanda, no armário, no cofre. A Força de Segurança Federal foi chamada para cercar o sistema público de tratamento de água e esgoto, que podia ser tomado pelo novo movimento sem-água, braço radical do sem-terra e sem-teto, que acampou nos portões da companhia mista de capital aberto de saneamento básico do Estado.


Postos de gasolina viram o estoque de água mineral de suas lojas de conveniência se esgotar. Passaram a vender a água estocada de seus lava-rápidos. O negócio era uma mina de ouro. A clientela não parava. Esvaziaram os tanques de gasolina e passaram a vender água pelas bombas de gasolina aditivada, comum e etanol. O preço, lógico, foi reajustado.


Filas de clientes com galões se formaram. Caminhões tanques, que antes transportavam gasolina, diesel e álcool, traziam água de rios distantes. Como sempre, as agências reguladoras, criadas para fiscalizar a prestação de serviços públicos praticados pela iniciativa privada, como  a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis e a Agência Nacional de Águas, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, que coordena a gestão dos recursos hídricos no país e regula o acesso à água, foram as últimas a se darem conta da crise.


Uma comissão mista, acoplada a uma força tarefa, foi criada tarde demais, quando já não se vendia mais combustível na maioria dos postos da cidade, e a população obstinada agia anarquicamente e se organizava em milícias em busca de água.


De bairro em bairro, as torneiras secaram. Famílias armadas paravam carros no farol e anunciavam o assalto. Enquanto as vítimas se preparavam para entregar bolsas, correntes, relógios e celulares, num gesto rápido e aparentemente bem treinado, o líder da gangue abria o capô por dentro, mantendo as vítimas sob a mira de um revólver, enquanto, numa operação bem orquestrada, sua família retirava água dos reservatórios do carro assaltado, incluindo a do radiador.


O Estado de Emergência mudou para o Estado de Calamidade Pública do dia para a noite. Aviões não mais posavam nem decolavam, já que não havia combustível nem água nos aeroportos. As linhas telefônicas ficaram congestionadas, com pessoas em busca do que beber. A internet caiu: a expressão “água potável” foi a mais digitada em sites de busca, superando “Justin Bieber”, “dieta de Hollywood” e “como adquirir barriga tanquinho”.


Carros como o Fusca, com motor refrigerado a ar, foram valorizados. Mas a enorme quantidade de veículos sem combustível e com motor fundido (sem água no radiador) parada no meio do caminho congestionou ruas, alamedas, avenidas, túneis, artérias rodoviárias das cidades e estradas. O trânsito travou de vez.


Carroceiros trocaram seus instrumentos de trabalho por apartamentos. Uma bicicleta passou a valer mais do que um SUV. Um pangaré passou a valer mais que uma Ferrari 550 Maranello V-12 com 485 cavalos de potência.


A moradora do Bloco B, sem condição física, já que estava há dias sem nadar, decidiu não encarar a jornada a que a população se propôs: rumar para o norte em comboios.


Viu da sua janela a procissão de farrapos humanos imundos e sedentos abandonando a cidade em busca de água. Carroças, bicicletas, carrinhos de supermercado, skates, tudo que tivesse rodas servia para a grande migração. Viu o porteiro e o chefe do turno ajudarem a empurrar o carrinho de lixo com pertences do síndico e do zelador, que partiam com a grande massa que, ao longe, lembrava migração de gnus na África.


Poucos ficaram, esperando que autoridades competentes e incompetentes conseguissem resolver o problema.


Até acabar a luz.

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Published on October 30, 2014 07:15

October 28, 2014

100 cantadas em 10 horas

Um simples passeio por Nova York pode se tornar uma chatice sem fim, se você é mulher


Esta daqui em 10 horas levou 100 cantadas.


De gracejos a intimadas.


Sem contar o esquisitão que anda ao lado dela por 5 minutos.


Que saco, hein?


HOLLABACK  http://www.ihollaback.org) é um movimento que começa a pedir o fim das cantadas de rua.


Perdão aos canalhas, mas eu apoio.


Veja o vídeo e vê se elas não têm razão:

 

 https://www.youtube.com/watch?v=b1XGPvbW…

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Published on October 28, 2014 13:49

Mitos e micos da apuração

 


Micos e mitos fizeram a festa nas redes sociais, depois das eleições.


Alguns mitos a serem derrubados:


1. A eleição dividiu o País.


Deputado Coronel Telhada (PSDB) propôs separar o Estado que o elegeu, SP, do resto.


Uma das eleições mais disputadas das democracias modernas foi entre Kennedy x Nixon. O primeiro ganhou apertado em 1960.


A diferença foi de 112 mil votos.


Kennedy: 34.220.984      (49,7%)      Nixon: 34.108.157    (49,6%)


Kennedy perdeu na maioria dos estados (22 contra 26 do candidato republicano).


E governou como um dos presidentes mais populares da história americana.


Eleição apertada não é sinônimo de ingovernabilidade.


Dilma ganhou no Nordeste, mas também pelos votos que teve no Sul e Sudeste.


Como indicam mapas mais precisos.


 



 


 



 


2. DILMA não pode governar sozinha, achar que o voto popular é garantia de aprovação.


Dois presidentes que tentaram governar sozinhos se deram mal, Jânio Quadros e Collor.


Ambos achavam que o voto bastava.


Um renunciou e outro foi impeachado, apesar de renunciar.


Aliás, se ela sabe que é tempo de mudança, está esperando o que para mudar?


 


3. Boatos se tornam fato.


A brincadeira de que o deputado Jean Wyllys faria um projeto lei que proibiria o casamento evangélico, de um site de humor, foi levada a sério pelo Pastor Davi Morgato.


Foi obrigado a se retratar.


 



 


4. Alguns micões foram flagrados.


Rafal xingou o governo do PT, mas logo se interessou pelo “programa” Ciência Sem Fronteiras, do governo petista


 


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Published on October 28, 2014 06:33

October 27, 2014

Quem ganhou em Cláudio?

Enquanto isso, em Cláudio (MG), cidade do polêmico aeroporto construído pelo então governador Aécio Neves:


Resultado 2º turno Cláudio 19.553 eleitores


AÉCIO NEVES PSDB             81,14% 12.987 votos


REELEITA 2T DILMA PT      18,86% 3.019 votos


 


Aécio ganhou na cidade em que a família tem fazenda, mas  levou o PSDB ao quarto vice seguido.


Como:


 


+++

E já tem gente que contesta o resultado da urna.


 



 


+++


 


Pergunta @joaovarella:

“Vinte e poucos por cento de abstenção. Bora acabar logo com esta palhaçada de voto obrigatório?”


Sim, não está na hora?


Na verdade, o voto é obrigatório, mas a multa para quem descumpre a lei é baixo, varia de R$ 1,05 a R$ 35,14, sem contar a chatice de regularizar a situação no TRE.


O problema:


Ao completar três ausências não justificadas, o título será cancelado e, após seis anos, excluído do cadastro eleitoral. Em caso de irregularidade com a Justiça Eleitoral, o eleitor não poderá: inscrever-se em concurso público; tirar passaporte ou carteira de identidade; participar de concorrência pública; obter empréstimos de bancos estatais; e renovar matrícula em estabelecimento de ensino, entre outros. (fonte EBC)


 


+++


 


Mudando de assunto.


Ao comentar o fim da marca NOKIA, comprada pela Microsoft, o primeiro (bom) celular de muitos e por muitos anos, que decidiu encerrar a marca, que perdeu espaço para os SmartPhones, recebi este mimo da empresa via Twitter.


@NokiaSuporte “Marcelo, o nosso carinho por vc é tão indestrutível quanto os nossos celulares. ♥


Fofos, vai…


Nesse tempo de ódio nas redes sociais, faz bem um pouco de amor.


 


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Published on October 27, 2014 07:21

October 23, 2014

Quarta via

Questionário que rola na rede.


Aécio, Dilma, Nulo?


Nada disso:


 



 

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Published on October 23, 2014 07:27

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Marcelo Rubens Paiva
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