Marcelo Rubens Paiva's Blog, page 72

November 24, 2014

Desbunde em 2015

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A GLOBO se prepara para cobrir o carnaval de rua de São Paulo, que ganhou fôlego nos últimos anos.


A emissora procura os grandes blocos, que são o combustível do novo carnaval paulistano, para acertar detalhes da engenharia.


Sou testemunha ocular.


Como porta-estandarte do ACADÊMICOS DO BAIXO AUGUSTA há 5 anos, vejo o entusiasmo e a adesão crescer.


Se começamos com um bloquinho de amigos que desceu sem licença da prefeitura (Kassab) a Bela Cintra e Augusta, em 2009, descemos neste ano a Augusta com batedores, banheiros químicos instalados e seguidos por 40 mil pessoas. E com licença.


SPTuris estimou que forma 200 blocos com média de 5 mil pessoas por bloco em 2014.


O Baixo Augusta é o maior deles.


Neste ano, o tema está definido.


A arte é de Felipe Cama e Estefânio.


Os ensaios começam.


Acompanhe a programação na página do Face


E desbunde!

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Published on November 24, 2014 05:36

November 21, 2014

O Brasil e a corrupção

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O Brasil está diante de um enigma: não se faz obra sem caixinha?


A relação cidadão e Estado quase sempre passa pela corrupção.


Ou o Estado é grande demais, ou o cidadão pequeno demais.


Provavelmente os 2.


Tal desequilíbrio de forças gera a caixinha.


Como escreveu ontem Veríssimo no ESTADÃO, a primeira palavra em português dita por um índio a Cabral, que explicava o que veio fazer numa terra tão distante e que já tinha dono, foi, com a mão estendida: “Molha”.


A frase do ano coube ao advogado de defesa do lobista Fernando Baiano.


Disse nessa quarta-feira, Mario Oliveira Filho, diante de de jornalistas perplexos pela sinceridade: “O empresário, se porventura faz alguma composição ilícita com político para pagar alguma coisa, se ele não fizer isso não tem obra. Pode pegar qualquer empreiterinha e prefeitura do interior do país. Se não fizer acerto, não coloca um paralelepípedo no chão.”


Hoje ele não quis comentar o comentário.


Sim, todos sabem.


E até quando o Brasil aguentará tamanha fraude, que já dura mais de 500 anos?


O empresário e autor, intelectual, RICARDO SEMLER, empresário, sócio da Semco Partners, professor visitante da Harvard e MIT, tucano assumido, escreveu hoje na FOLHA um tratado sobre o tema, que pode servir de exemplo a outros empresários e a nós.


Algo de que poucos discordarão:


“Nossa empresa deixou de vender equipamentos para a Petrobras nos anos 70. Era impossível vender diretamente sem propina. Tentamos de novo nos anos 80, 90 e até recentemente. Em 40 anos de persistentes tentativas, nada feito. Não há no mundo dos negócios quem não saiba disso. Nem qualquer um dos 86 mil honrados funcionários que nada ganham com a bandalheira da cúpula.”


SEMLER vai além. Diz que o fenômeno não para na Petrobras, que há outras estatais com esqueletos parecidos no armário, e que a corrupção também passa pela empresa privada:


“O que muitos não sabem é que é igualmente difícil vender para muitas montadoras e incontáveis multinacionais sem antes dar propina para o diretor de compras. A turma global que monitora a corrupção estima que 0,8% do PIB brasileiro é roubado. Esse número já foi de 3,1%, e estimam ter sido na casa de 5% há poucas décadas.”


Por fim, dá uma dura geral, com a qual concordo:


“Cada um de nós tem um dedão na lama. Afinal, quem de nós não aceitou um pagamento sem recibo para médico, deu uma cervejinha para um guarda ou passou escritura de casa por um valor menor? Deixemos de cinismo. O antídoto contra esse veneno sistêmico é homeopático. Deixemos instalar o processo de cura, que é do país, e não de um partido. O lodo desse veneno pode ser diluído, sim, com muita determinação e serenidade, e sem arroubos de vergonha ou repugnância cínicas. Não sejamos o volume morto, não permitamos que o barro triunfe novamente. Ninguém precisa ser alertado, cada de nós sabe o que precisa fazer em vez de resmungar.”


Vamos fazer história e mudar de vez.


Vamos começar hoje: aumentar o tamanho e a importância do cidadão.

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Published on November 21, 2014 15:16

November 19, 2014

Quando Lobão era petista

Papo descontraído com LULA e ZÉ DIRCEU.


Fala sem parar. Prestes a tocar num comício petista.


Achado curioso no YOUTUBE


 


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Published on November 19, 2014 08:48

November 18, 2014

Pinguins estuprados

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Depois que a revista POLAR BIOLOGY divulgou que focas estão estuprando pinguins em Goodhope Bay e Marion Island, no Atlântico Sul, com bom humor o cartunista STOCKER começou a campanha.


O fenômeno ocorre, segundo a revista, entre focas jovens e pinguins-rei.


Os cientistas não conseguem explicar o estupro, que dura 5 minutos, cujas imagens chocaram as redes sociais.


Acreditam que focas mais jovens imitem as mais velhas, num fenômeno de reprodução de comportamento.


Em alguns eventos, a foca mata e come a pinguim.


Para Nico de Bruyn, do Mammal Research Institute at the University of Pretoria (África do Sul): “São focas jovens e pequenas com grande descarga hormonal que descarregam a frustração de não ter fêmeas.”


As cenas são desagradáveis. Mas não devemos meter a mão no sangrento jogo da evolução natural.


 



 


 


 

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Published on November 18, 2014 11:03

Doors toca Zeppelin

O QUE acontece quando uma banda genial toca um hit de outra mais genial ainda.


É o que aconteceu em 1968 num  show ao vivo, cujas imagens foram recuperadas.


Aconteceu?


JIM MORRISON começa a cantar Stairway to Heaven, música de uma banda que dava os primeiros passos do lado de cá do Atlântico, LED ZEPPELIN


Acontece que foi a partir de 1968 que a banda inglesa, sem disco gravado, tocou em Los Angeles e São Francisco.


O primeiro álbum do LED foi lançado nos EUA só em 1969.


E os fãs sabem bem: Staiway to Heaven de Jimmy Page aparece só no quarto álbum de estúdio da banda, de 1971


Muitos dizem que a música é plágio de uma instrumental Spirit, Taurus, gravada em 1968.


A música, não a letra.


O LED abriu um show deles em 1968.


THE DOORS acabou em 1971, ano em que JM morreu.


E o último show da banda foi em 1970, antes da música ser composta.


Então esta gravação não pode ser de 1968.


A base se parece, na verdade, The Music is Over


Montagem? Ah-ah, segredos da tecnologia.


Mas vale o registro:


 



 

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Published on November 18, 2014 06:38

November 17, 2014

Sempre ele o amor


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Mesmo nas séries de TV mais sofisticadas, existe o núcleo dramatúrgico simplificador “eu te amo, você não me ama, eu não te amo, você me ama, ele não é seu filho, ele é seu filho, a gente se ama, existe felicidade, sim”, que corre paralelo à trama principal do inconformado professor de Química que se transforma no maior traficante de metanfetamina, do terrorista arrependido de caso com o inimigo, do publicitário conquistador perturbado bêbado que não se ama, do republicano liberal em crise com os rumos do seu partido, do sexólogo precursor que desafia a comunidade médica e do mafioso gente boa que não se conforma com seus pares, que só pensam em vender histórias para Hollywood e entrar para o programa de delação premiada.


Se elas vieram para substituir a esgotada linguagem da TV aberta, especialmente do burro que puxa o pesado eixo da programação diária, a novela, as séries não rompem completamente com o cordão umbilical que liga os olhos do espectador com o coração.


Séries como, pela ordem, Breaking Bad, Homeland, Mad Men, Newsroom, Masters of Sex e Família Soprano, que tiram audiência das redes tradicionais, plagiam temas melosos, cenas e até frases do produto que se tornou linguagem de exportação, o dramalhão.


O romantismo come solto entre questões atuais de geopolítica, crise ética, falência das instituições e revolução comportamental, como a sexual.


É o amor, que nunca nos abandona, que pira, inspira, conduz e seduz, como numa canção de Djavan e como no épico, dramaturgia, literatura, ópera, samba, poesia, cinema mudo, falado, em cores, 3D, IMAX, pirata ou on demand.


Os autores de novela devem se perguntar: se dizem que nosso gênero é decadente, como HBO, ACM, SHOWTIME e afins ganham milhões reproduzindo nossa eficiente técnica de enganchar e enrolar o espectador com um clássico melodrama?


Breaking Bad traz a crise dos valores morais americanos, quando um pai de família corrompe a lógica e concilia o banditismo com os dilemas comuns de um casamento em que tem um casal de filhos.


Homeland fala do atual papel da CIA no intrincado jogo geopolítico americano de guerrear sem soldados. Mas lá está o imbróglio amoroso entre o marido com o casal de filhos, que voltou convertido ao Islã, seu melhor amigo, sua mulher e uma agente bipolar, que engravida.


Mad Men é conduzido por um fascinante conquistador criativo de poucas e exatas palavras, que se apaixona perdidamente pelos rabos de saia que cruzam seu caminho, apesar de casado e com um casal de filhos com a “mulher ideal” padrão anos 60.


Newsroom discute a promiscuidade entre a notícia e o idealismo, a ética jornalística e o conturbado processo democrático, num país dividido ao meio. Mas, por trás do furo de reportagem, o âncora do telejornal tem um caso mal resolvido com sua produtora. Na série com diálogo intenso, rico, difícil de acompanhar, o último capítulo da última temporada terminou com um piegas pedido de casamento, com direito a anel, corrida pelos corredores, como numa autêntica novela mexicana.


Masters of Sex fala da trabalheira que o médico William Masters teve, na década de 1950, para convencer a conservadora sociedade acadêmica a iniciar uma pesquisa aprofundada sobre sexo, numa época em que mencionar o orgasmo feminino era uma blasfémia. Mas o que conta, mesmo, é o dilema entre ele, sua esposa, com quem brocha, e sua secretária, com quem “pratica” ciência.


Família Soprano, a série inovadora, que revolucionou a TV paga, é conduzida por um personagem cativante, apesar de violentíssimo, que tem que dividir seu tempo entre resolver as confusões dos negócios ilícitos da sua gangue e as da família, sem contar o freudiano caso de amor com a psicóloga. Pai que faz o impossível para criar seu casal de filhos num ambiente que se encaixa no “american dream”.


Não conseguimos contar uma história sem a presença dele, O AMOR.


No berçário da literatura, dois povos entraram em guerra na Grécia Antiga por causa dos cachos de uma pilantrinha, Helena, que, casada com o líder de um povo, fugiu com o de outro, o de Tróia.


Na nova série The Americans, da FX, o tema é rico: uma dupla de espiões da KGB se muda para Washington. Fingem ser casados, criam dois filhos, quando a Guerra Fria reacende com a posse de Reagan em 1981.


Eles dobram a carga horária de trabalho e execuções. Porém, se apaixonam de fato, querem estar casados de fato.


O amor luta contra o Estado. O sentimento fútil burguês corrompe os ideais da ditadura do proletariado. O socialismo mundial está em crise. Na revolução permanente, não há tempo para essa frescura chamada amor. Espiões não amam.


Minha mulher adora.


***


Na cadeia brasileira, entre assassinas e psicopatas, uma história de amor rendeu: a de Suzane von Richthofen, condenada a 38 anos de prisão pela morte dos pais, e Sandra Regina Gomes, ou Sandrão, condenada a 27 anos de prisão pelo sequestro de uma empresária.


As duas se casaram no presídio de Tremembé, que ocupa um antigo convento no interior de SP, onde estão Elize Matsunaga, ex-mulher de Sandrão, acusada de matar e esquartejar o marido Marcos Matsunaga, e Anna Carolina Jatobá, acusada de assassinar da enteada Isabella Nardoni.


Se, em todo país, o casamento homossexual causa repúdio em grupos religiosos e líderes conservadores, ele está paradoxalmente legalizado no presídio. Suzane pôde se mudar para a cela de presas casadas, em que vivem oito casais, ao assinar um contrato de reconhecimento de relacionamento afetivo. No sistema, o papel tem o valor de uma certidão de casamento, permite o convívio marital. O pacto impõe regras de convivência: caso se separe, a presa não poderá voltar à cela destinada a casais num prazo de seis meses; se brigar, acaba tudo.


O amor aparenta ser verdadeiro. Suzane abriu mão do direito de passar os dias de agosto na progressão de regime fora da prisão e pediu à juíza Sueli de Oliveira Armani para adiar a adesão ao regime semiaberto, em que seria transferida para outra unidade.


Amor bandido digno de uma série, como Orange Is the New Black.


Que minha mulher também adora.

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Published on November 17, 2014 05:17

November 14, 2014

Chegou livro novo do Chico

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Chega nas livrarias em dose cavalar O IRMÃO ALEMÃO, novo livro de CHICO BUARQUE, que promete ser O HIT DO VERÃO.


Capa do meu capista RAUL LOUREIRO


CHICO, que já publicou Estorvo, Benjamim, Budapeste e Leite Derramado e faturou 3 prêmios Jabuti, livros que venderam quase um milhão de exemplares, leu trechos do livro novo em vídeo no YOUTUBE, uma nova bossa da Cia das Letras.


 


Parte 1: https://www.youtube.com/watch?v=2cRoe...


 


Parte 2: https://www.youtube.com/watch?v=lGi-n...

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Published on November 14, 2014 10:52

November 13, 2014

Fim de ano, livros novos

Prepare o bolso.


Muitos lançamentos neste fim de ano.


Parece que as editoras reservaram o melhor para o fim.


Cia das Letras lança no Brasil enfim MIDDLESEX, livro de JEFFREY EUGENIDES, para completar a trilogia, escritor que a crítica brasileira não lê e não gosta, um dos meus favoritos, que lança 1 livro por década [VIRGENS SUICIDAS, TRAMAS DO CASAMENTO]. O livro com o que ganhou o PULITZER de 2003.


TRECHO: “Nasci duas vezes: primeiro como uma bebezinha, em janeiro de 1960, num dia notável pela ausência de poluição no ar de Detroit; e de novo como um menino adolescente, numa sala de emergências nas proximidades de Petoskey, Michigan, em agosto de 1974.”


 


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Lançado A BALADA DE ADAM HENRY, de Ian McEwan, deste todo mundo gosta, o melhor escritor inglês em vida. Livro novo!!! Sobre o amor de uma juíza e um réu anos mais jovem.


 


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REINALDO MORAES, o escritor que a maioria dos escritores brasileiros queria ser, lança CHEIRINHO DO AMOR.


 


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CHICO BUARQUE, o “autor” brasileiro de maior prestígio no mercado, e que para mim se firmou no último livro, LEITE DERRAMADO, lança O IRMÃO ALEMÃO. Desperta curiosidade, vai…


 


LAIS BODANZKY e LUIS BOLOGNESI contam suas experiências de anos exibindo filmes na perifa.


 


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O autor novato MÁRCIO MARANHÃO, médico que bate ponto nas “comunidades” cariocas da zona norte, surpreende no livro SOB PRESSÃO, falando do dia a dia na emergência de hospitais, livro cujos direitos já são disputados para virar série de TV.


 


NELSINHO MOTTA comemora os 70 anos, e devemos comemorar junto com ele, lendo suas delícias em AS SETE VIDAS DE NELSON MOTTA


 


E, claro, o hit do ano, GRAÇA INFINITA, a tradução brasileira enfim de INFINIT JEST, de FOSTER WALLACE. A revista piauí deste mês trouxe uma palhinha, com um texto de brinde do tradutor CAETANO GALINDO. São mais de mil imperdíveis páginas. Livro para ler na cadeia, com hepatite ou numas férias prolongadas.


 


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Published on November 13, 2014 05:41

November 11, 2014

As peladonas de PoA


 


As peladonas de Porto Alegre são ousadas.


Gatas.


Vêm em boa hora.


Na hora do ódio, na hora do rush, na hora do país dividido, na hora da missa, no auge do lobby das igrejas, do pastor intolerante, da feiura da seca, da queima da mata, no fim da água.


A nudez das gaúchas chega com o verão, alegra, provoca, dá tesão.


Ninguém as entenderá.


Continua sem explicação.


Segredos de uma cidade vibrante, de um mundo em ebulição.


Pode aumentar ou sumir. Ganhar adeptos ou ficar para a história.


Mas não nos esqueceremos jamais, das peladonas de PoA.


4 casos foram reportados, três mulheres e um traveca.


O gaúcho Cristiano Bartel foi rápido e até criou um game: “Corrida Pelada! POA”.


O APP está disponível pra Android.


O objetivo: fugir peladona de um policial e desviar de carros, buracos e bancos em 2 cenários possíveis, parque e cidade.


Corra, gaúcha, corra!


 


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Published on November 11, 2014 05:00

November 9, 2014

Cegueira e Blecaute

Um site analisa as capas do meu livro BLECAUTE.


Talvez meu livro mais cultuado (de cult), junto com MALU DE BICICLETA.


http://www.literar.com.br/capa-blecaute/


Eu tinha 27 anos quando ele foi lançado (1986), um guri.


Certa vez uma revista me pediu a comparação entre duas obras literárias, que são diferentes em estilo, mas oferecem uma trama de pano-de-fundo parecida: Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago (Companhia das Letras) e Blecaute (Objetiva), o meu segundo romance- primeiro de ficção.


Sem abusar da vaidade, a pauta foi sugerida pela Revista da Cultura, já que, apesar de, também entre aspas, escrevermos seguindo as regras da mesma língua, Saramago é um Prêmio Nobel, vendedor de milhões de exemplares, e eu sou um escritor do Sul do Equador, conhecido como o roteirista do documentário sobre o Corinthians, FIEL.


 Ensaio Sobre a Cegueira é de 1995. Virou filme pelas mãos e lentes de Fernando Meirelles. É narrado por um velho, que se desloca por uma cidade desconhecida, em que todos ficam temporariamente cegos, devido a uma praga desconhecida. Apenas a mulher de um oftalmologista é imune à doença- os personagens não têm nome. Para sobreviver, ela finge que é cega.


A praga começa de repente, já na primeira página: um motorista “se vê” cego no meio do trânsito. Ele espalha o vírus, que é rápido, impiedoso. O caos se estabelece.


A civilização e os pactos criados são rompidos.


Pouco a pouco, desperta a fera corrupta, predadora e interesseira que há domesticada em muitos. A frágil aliança entre os homens é substituída pela competição entre aqueles que acreditam na união para a sobrevivência, e aqueles que apostam na anarquia.


Blecaute foi escrito dez anos antes. Pode virar filme ou série pelas mãos da Querosene Filmes em parceria com a Pródigo Filmes.


Além do Brasil, foi publicado na Alemanha. Vendeu 280 mil cópias, um estouro que, segundo muitos, seguiu a esteira do sucesso do meu primeiro livro, Feliz Ano Velho.


Rindu, Mário e Martina ficam presos numa caverna do Vale do Ribeira. Quando saem, descobrem que as estradas e São Paulo estão desertas. As pessoas viraram estátuas. Apenas os animais sobreviveram a uma misteriosa praga.


Entre explorar e esperar na cidade “o fenômeno” acabar, decidem morar num bunker e esperar. Aos poucos, é também rompido o pacto de civilidade. Passam a agredir tudo em volta, dinamitar monumentos, fazer excentricidades. Para, depois, considerarem o amigo um inimigo.


Cegueira tem final feliz e sugere que precisamos de uma catástrofe eventual para enxergamos nossas contradições, desenharmos a paz e um rumo. Todos voltam a enxergar. Muitas metáforas emergem desse plot: estamos cegos diante da miséria humana.


“Por que foi que cegamos, não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, queres que te diga o que penso, diz, penso que não cegamos, penso que estamos cegos, cegos que veem, cegos que, vendo, não veem.”


Blecaute não explica o fenômeno e termina sem solução. Os personagens sobreviventes estarão para sempre solitários, numa civilização que se foi.


Escrevi inspirado no movimento punk e no desespero que vivíamos perante a possibilidade da destruição por uma guerra nuclear e aquecimento global.


Antes dele, livros e filmes propunham uma trama apocalíptica, para desvendarmos alguns segredos da civilização. Como Kalki, de Gore Vidal. Informei no prefácio que meu livro era inspirado na série Além da Imaginação, produzida no clima do pós-guerra.


 



 


Dois filmes, A Última Esperança da Terra, com Charlton Heston, e a sua refilmagem, A Lenda, com as nossa Alice Braga, mostram Nova York deserta, também atacada por uma praga, e a luta contra seres mutantes.


Acredito que Saramago foi inspirado pela aids e ebola, vírus que ameaçam a espécie.


Enquanto abuso da linguagem coloquial, Saramago tem um estilo formal, apesar de não pontuar os diálogos, uma brilhante técnica, que ilustra como, se fecharmos os olhos, nos vêm as falas ao redor.


Porém, sem dúvida, em comum, há o sentimento que existe em todas as religiões, está narrado na Bíblia, e que aflige o homem, o de que um dia tudo isso acabará, que não haverá mais olhos para ver um Van Gogh, ouvidos para escutar um Mozart.


A beleza criada pelo homem pode ser destruída por ele mesmo.


Na comparação, faltou a capa alemã, doida de pedra.


 


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Published on November 09, 2014 16:17

Marcelo Rubens Paiva's Blog

Marcelo Rubens Paiva
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