David Soares's Blog, page 63

March 2, 2012

February 29, 2012

February 28, 2012

Velhos são os trapos

O cantor canadiano Leonard Cohen lançou há pouco tempo o seu décimo segundo álbum de originais, intitulado Old Ideas. Sim, com efeito, todas as canções de Old Ideas lembram ou têm melodias semelhantes a outras músicas clássicas de Cohen, mas o seu registo é depurado, económico, diferente dos arranjos apresentados na última e brilhante tour mundial, da qual o fantástico Live in London, editado em 2010, oferece registo. É, também, um álbum em que Cohen vinca com força, mas talvez inconscientemente - digo-o, porque o resultado é muitíssimo natural -, as duas faces mais distintivas do seu universo autoral: a do asceta e a do amante.
Pessoalmente, em Cohen, prefiro o ascetismo, e as narrativas penitenciais, ao romantismo; e, na minha opinião, é o primeiro que serve de móbil às melhores canções de Old Ideas. É provável que ascetismo não seja a palavra certa, mas ouvir a voz cavernosa de Cohen inibe-me de escolher outra: esta música é para quem anda nos desertos, sejam os de areia ou os de betão. De igual maneira, poderia ser música que sublinhasse o facto de que para ouvir-se algo decente nestes tempos artificiais seria preciso escutar os artistas de outrora, mas Cohen não é de outrora: é de hoje. E é bem capaz de ser de sempre. Ouçam estas duas confissões: Show Me The Place e Come Healing.




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Published on February 28, 2012 23:32

No ossuário

Os ossos são lixo.
Há eras, quando a vida escumava no cadinho primordial, os pioneiros pluricelulares aprenderam a vestir-se com as suas excrementícias e foi a partir dessas armaduras acerbas que os ossos originaram.
Como uma dadaísta, a morte transforma esse lixo em arte com golpes impiedosos até abandonarmos a carne e adquirirmos formas homogéneas, às vezes emolduradas por caixões, mais adequadas à terra do que aos museus: não morremos - somos esculpidos
Só ossos interessam, nessa imensa obra de arte. O nosso sangue, a nossa linguagem, as nossas memórias, isso é escória esvurmada; limalhas lascadas pela lâmina, tinta erodida.
A quem se destinam as ossadas?
Quem as observa, as critica, comove-se com elas?
Vermes e anjos?
Talvez o próprio universo, já que, segundo esse nome, tudo o que existe verte para uma unidade saprogénica. É sempre assim que as coisas acabam: alguém olha para o universo... e o universo, mais tarde ou mais cedo, também olha. Embebido pela luz que assinala a fronteira frágil entre o agora e o infinito.
Os ossos são lixo.
Cibórios de resíduos humanos que o solo se recusa a absorver para evitar adoecer. São armadilhas anónimas que sugam os nossos itinerários individuais - como a Cintura de Van Allen chupa a radiação proveniente da magnetosfera. Caras ocas: crateras vagadas pela esperança. Silêncios. Inteligências que fluíram: sem objectivo. Somos pó que preenche o atelier da morte; assentando tão lentamente quanto o reflexo de Atena se imprimiu na superfície espelhada do rio: «adeus, minha flauta!»
E, no entanto, inversamente à deusa, a morte não sente vergonha daquilo que cria.


Fotografia: Gisela Monteiro/Mort Safe.
Weblog Mort Safe.
Facebook Mort Safe.
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Published on February 28, 2012 01:15

February 27, 2012

Ebora Captum Est

Junto à Igreja de São Francisco, em Évora (séculos XV e XVI). A lenda diz que o dramaturgo português Gil Vicente está aqui sepultado, embora não existam provas que o corroborem. Parafraseando uma célebre máxima de Auto da Lusitânia (1532), Gil Vicente pode "estar em todo o mundo e em lado nenhum" (o trecho original é «Todo o Mundo e Ninguém».)

Na Igreja de São Francisco, em Évora.

Na Capela dos Ossos (século XVII), na Igreja de São Francisco, em Évora. Locais desta natureza são mais comuns do que se pode pensar e em Portugal existem diversos, como as capelas dos ossos de Campo-Maior e Monforte, no Alentejo, e as de Pechão, Alcantarilha e Faro, no Algarve. Não tenho ideia de que tenha existido uma capela dos ossos em Lisboa (no mínimo com estas características), mas no século XVII e na primeira metade do século XVIII várias igrejas costumavam mostrar mortos ao público em dias especiais, em principal no Dia de Finados (2 de Novembro).

Na Capela dos Ossos, na Igreja de São Francisco, em Évora. As ossadas encontram-se apartadas do público por grossas placas de acrílico. Porquê? Para evitar que energúmenos vandalizem as caveiras: existem dezenas, escrevinhadas nas testas a esferográfica e caneta de feltro.

Na Capela dos Ossos, na Igreja de São Francisco, em Évora. Os frescos alusivos à morte que decoram o tecto datam do século XIX.

À saída da Capela dos Ossos, na Igreja de São Francisco, em Évora.

No Cromeleque dos Almendres, em Évora (cerca de 7000 a.C.). Cromeleque deriva da palavra galesa cromlech que significa pedra curvada e é o nome que se costuma dar aos monumentos megalíticos formados por pedras dispostas em círculos ou em elipses. É provável que tenham servido de locais de culto e de observação de fenómenos astronómicos.

Menir dos Almendres, em Évora. Menir deriva da antiga palavra bretã men hir que significa pedra comprida. Especula-se que o dos Almendres, localizado numa cota menos elevada que a do cromeleque, mas na sua vizinhança, tenha composto com o segundo uma espécie de monumental aparelho sagrado de observação dos astros, pois ambos se encontram alinhados pelo nascer do Sol do solstício de Verão (21 de Junho).
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Published on February 27, 2012 00:40

February 24, 2012

'Weblog' do meu novo livro: "Compêndio de Segredos Sombrios e Factos Arrepiantes"


O meu novo livro é uma não-ficção e intitula-se Compêndio de Segredos Sombrios e Factos Arrepiantes (Saída de Emergência) e esta é a ligação para o seu weblog oficial, no qual publicarei regularmente novidades exclusivas, a ele alusivas. Visitem-no, descubram o que é o Compêndio de Segredos Sombrios e Factos Arrepiantes e divulguem-no.
(Disponível na próxima Feira do Livro de Lisboa.)
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Published on February 24, 2012 15:32

'Making-of' de ilustração de "O Homem Corvo"

Ana Bossa e Nuno Bouça, os ilustradores de O Homem Corvo (Saída de Emergência), levam-nos pela mão até aos bastidores da ilustração.
O Homem Corvo, o meu primeiro livro para crianças, será publicado em Abril (façam-se fãs da sua página oficial no Facebook).


Trailer Ilustração O HOMEM CORVO from Nuno Bouça on Vimeo.

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Published on February 24, 2012 14:01

February 21, 2012

David Soares no Festival Internacional de Ficção Curta de Wroclaw

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De 4 a 7 de Outubro, estarei na bela cidade polaca de Wroclaw como convidado do 8º Festival Internacional de Ficção Curta de Wroclaw: um dos mais interessantes e dinâmicos festivais literários europeus.

Em breve, divulgarei a programação que me está prevista para o evento, mas, para já, posso dizer que irá consistir em encontros com o público, leituras dos meus trabalhos e participações em mesas-redondas e workshops.

Fiquem atentos.
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Published on February 21, 2012 18:42

February 20, 2012

Página oficial de "O Homem Corvo" no Facebook


«O Ladrão de Lágrimas roubou um coração.»

Conheçam a página oficial no Facebook de O Homem Corvo, o meu primeiro livro para crianças, ilustrado por Ana Bossa e Nuno Bouça. Enquanto Abril não chega, e com ele o Homem Corvo, façam-se fãs da sua página e divulguem-na. O Homem Corvo agradece.
Uma edição da chancela Quebra-Nozes, do grupo Saída de Emergência.


«Conheçam O Homem Corvo: um ladrão de lágrimas, que entra à noite nos quartos de meninos tristes. Mas numa noite especial, em que cada barulhinho parece um barulhão, ele espanta-se por encontrar uma coisa que sempre desejara ter: um coração.

Escrita por David Soares, O Homem Corvo é uma história infantil que recupera o carácter dos contos clássicos para crianças, apresentando uma mistura mordaz entre negrume e fantasia. Ilustrado por Ana Bossa numa técnica original, onde figuras e cenários tridimensionais habitam um fascinante espaço de fusão, O Homem Corvo é pura magia.»


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Published on February 20, 2012 21:55