David Soares's Blog, page 59

May 26, 2012

Acrotomofilia Zoófila (Requintada) em "Gorefilia" de Holocausto Canibal



Gorefilia , o novo álbum da banda portuguesa de death metal/grindcore Holocausto Canibal , já se encontra disponível: consiste num disco conceptual sobre a temática das chamadas parafilias, designação generalista para todos os comportamentos sexuais desviantes da norma, desde as práticas mais inócuas às mais extremas. Considerando que este é um disco de Holocausto Canibal, as parafilias exploradas no universo lírico das canções são as mais extremas possível, apresentando visões violentas de horror sexual e visceral que não são, de maneira nenhuma, indicadas para quem tem corações e estômagos frágeis. Musicalmente, Gorefilia é muito sólido, fazendo lembrar, e bem, os Carcass de Reek of Putrefaction, por exemplo.
Por gentil convite da banda, uma das músicas tem letra de minha autoria: intitula-se Acrotomofilia Zoófila (Requintada) e, como o nome indica, consiste numa observação (com muito humor negro, claro), sobre a prática da acrotomofilia; ou seja, atracção sexual por indivíduos amputados. Neste caso, por animais amputados, mas o «requintada» do título denuncia que algo mais complexo se passa.
Amantes de sonoridades pesadas, Gorefilia é para vocês: atrevam-se a ouvir um disco (verdadeiramente) extremo. Pela parte que me toca, estou muito contente com a música composta para a letra que escrevi: agradeço, pois, à banda pelo convite e faço votos para que Acrotomofilia Zoófila (Requintada) seja um dos pontos altos nos próximos concertos.

ACROTOMOFILIA ZOÓFILA (REQUINTADA)  Desmoralização sexual ritualizada –sofrimento que rima com regozijo.Acrotomofilia zoófila (requintada)é que é o meu estilo de bestialismo.
Capturo pequenas criaturase delas faço abreviaturas(para sevícias sexuais).
Apaixonada penetração venereal. (Em busca de prazeres sofisticados…)Irrigando o meu líquido seminal. (Em corpos mortos desconjuntados…)
Desbarates das torturasque articulo por suturas(grotescos bonecos animais).
Operação sensualista organizada –flebotomia que leva à consumpção.Acrotomofilia zoófila (requintada):orgasmos com animais de estimação.
Capturo pequenas criaturase delas faço abreviaturas(para sevícias sexuais).
Extirpação de membros desproporcionados. (A procura pela forma irrepreensível…)Pernas e braços e caudas são desarreigados. (Com imaginação nada é impossível…)Velhacaria sexual e truculência.(Não há mascote que eu não apanhe…)Anestesio-as, mas sem violência. (Aplicando clisteres de champanhe…)
Vidas por um fio – cerimonial doentio.
Desbarates das torturasque articulo por suturas(grotescos bonecos animais).    
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Published on May 26, 2012 11:26

May 24, 2012

Arco do Triunfo da Rua Augusta


O Arco do Triunfo da Rua Augusta foi concebido pelo arquitecto "pombalino" Eugénio dos Santos, em 1759, mas somente em 1815 se ergueram as suas colunas; vinte e oito anos depois (durante o governo de António da Costa Cabral), foi aberto um concurso público para a construção do coroamento destas e, no ano seguinte, foi escolhido para o efeito o projecto do arquitecto Veríssimo José da Costa. Com contribuições escultóricas dos artistas Anatole Célestin Calmels, Vítor Bastos e Leandro Braga (assistente de Calmels), iniciadas em 1873, o monumento foi finalmente inaugurado dois anos depois.
Enquanto escultor e entalhador, Braga trabalhou com clientes de prestígio, realizando peças diversas para locais como o Palácio Foz, na Praça dos Restauradores, em Lisboa, e o Chalet Biester e o Palácio da Quinta da Regaleira, em Sintra. No conjunto escultórico do Arco do Triunfo da Rua Augusta, Calmels esculpiu as três personagens cimeiras que, de modo mais ou menos consensual, têm sido interpretadas como sendo três alegorias: a Glória coroando o Génio e o Valor. Com efeito, a coroação das alegorias remete para os tratamentos artísticos das coroações dos iniciados pela Beatitude em certos ritos iniciáticos; interpretação "esotérica" reforçada pela existência de uma ara situada atrás da personagem central e que sustenta mais duas coroas de louros (à espera de outros iniciados). A personagem à esquerda do observador assemelha-se às alegorias da Fortaleza que têm como modelo a deusa grega Atena (como a que decora o túmulo do Papa Gregório XIII - cujo nome baptizou o calendário gregoriano -, esculpida pelo artista italiano Camillo Rusconi). A personagem à nossa direita também remete para as costumeiras reproduções do Génio das Artes, que faz-se acompanhar por instrumentos musicais, parafernália de pintura e até livros (todos elementos existentes nesta escultura). Outra interpretação que pode ser feita sobre as anteriores, e que não as desvirtua, é a de que as personagens masculina e feminina que estão a ser coroadas também compõem uma alegoria maçónica para o Sol e para a Lua, da mesma ordem que, por exemplo, as obras escultóricas ou pictóricas que mostram, lado a lado, Apolo e Ártemis.

Aliás, esta leitura apolínea corresponde-se com um detalhe curioso, somente visível aos visitantes do monumento, in situ: sob uma das asas, a personagem masculina oculta uma estatueta de um homem barbado, que agarra um bastão. Várias interpretações têm sido avançadas para explicar a identidade desta personagem, desde a que consiste numa alegoria quinto-imperial até à de que se trata de uma estátua de Ulisses, logo uma alusão à lenda da sua fundação da cidade de Lisboa. A minha humilde proposta para a decifração deste enigma é a de que talvez seja uma criação de alguma maneira relacionada com a estátua romana de Constantino como Apolo, deus do Sol, que era conservada no interior do Milion de Constantinopla - o pavilhão formado por dois arcos do triunfo, mais uma cúpula, a partir do qual eram medidas todas as distâncias entre as cidades do império e a Nova Roma. Nos dias de triunfo, essa estátua de Constantino-Apolo era levada numa quadriga até ao hipódromo e todos podiam ver a pequena figura alada que ela trazia na mão: o espírito-guardião da própria cidade. À luz desta informação histórica, não é nenhuma impossibilidade que a estatueta quasi-oculta personifique em pedra o "espírito-guardião" de Lisboa. Não faz sentido? Faz sentido? É um contributo que deixo para este debate.

As esculturas de Bastos no Arco do Triunfo da Rua Augusta são, da esquerda do observador para a direita: uma alegoria do Rio Tejo, uma estátua de Viriato, outra de Vasco da Gama, uma de Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal, uma de D. Nuno Álvares Pereira e uma alegoria do Rio Douro. A tradução da inscrição em latim ( «virtvtibvs maiorvm vt sit omnibvs docvmentvm. Pecvnia pvblica dicatvm» ) que pode ler-se no pódio é «às virtudes dos maiores, para que a todos sirva de ensinamento. Dedicado a expensas públicas» .
No que concerne a esta inscrição, chamo a atenção para o que Justino Mendes de Almeida apontou no Dicionário da História de Lisboa na entrada que escreveu sobre o Arco do Triunfo da Rua Augusta: «Curiosa a "guerra" filológica travada entre os autores do projecto final, que redigiram um texto, e a Academia das Ciências de Lisboa, com relevo para Augusto Soromenho e D. José de Lacerda, que impuseram outro bem diferente. Ainda assim, os primeiros "vingaram-se": onde os académicos escreveram SINT, em concordância com "virtudes", os escultores registaram SIT, em ligação com a ideia genérica de "monumento", subentendida». É um sinal de que as boutades das quais a história também se faz não podem iludir os hermeneutas.  

Vale ainda a pena cotejar estas estátuas do Tejo e do Douro com as homónimas que se encontram no passeio da Avenida da Liberdade, da autoria do escultor setecentista Alexandre Gomes: destinadas a um chafariz que nunca chegou a ser construído no Campo de Santana, foram adornar o célebre (e desaparecido) Passeio Público (abrangia a área entre as actuais Praça D. João da Câmara - em frente à estação ferroviária do Rossio - e Praça dos Restauradores e terminava onde hoje a Rua das Pretas encontra a Praça da Alegria. Notem que a nossa Praça da Alegria era, na altura, a Praça da Alegria de Cima, pois no extremo Norte do Passeio Público, para lá do muro, ficava uma praça chamada Praça da Alegria de Baixo). Construído na segunda metade do século XVIII, após o terramoto de 1755, o Passeio Público pouco tinha de "público", pois era muralhado e nele só entrava a elite. Em suma, era um grande parque, cheio de fontes e diversos cursos naturais de água que nessa época ainda sulcavam o solo daquilo que viria a ser, no final do século XIX, a Avenida Ressano Garcia, logo baptizada Da Liberdade. O principal pugnador da Avenida da Liberdade (contra quase toda a opinião pública) foi Rosa Araújo, o único presidente da câmara de Lisboa que foi pasteleiro antes de ser político. O projecto da Avenida da Liberdade foi gizado pelo arquitecto Frederico Ressano Garcia, que também projectou a Praça Marquês de Pombal e a Avenida 24 de Julho. Hoje pouquíssimo resta dos inúmeros fontanários e estatuária do Passeio Público. Algumas peças encontram-se no Palácio da Mitra (Rua do Açúcar), no jardim do Miradouro de São Pedro de Alcântara e, como vimos, no caso das alegorias do Tejo e Douro, na Avenida da Liberdade.
       
A esta altura vale a pena pensar um pouco sobre o que é, afinal de contas, um arco do triunfo. Em síntese, quando um imperator romano operava uma grande vitória sobre os exércitos bárbaros, o senado concedia-lhe o direito de realizar uma marcha triunfante, na qual ele, à cabeça do seu exército, entrava na cidade com espectacularidade. De maneira geral, estas marchas - triunfos - seguiam a chamada via sacra, que dava entrada em Roma pelo lado meridional: ou seja, deixando o Coliseu para trás, ao longo do Mons Palatinus (do qual deriva a nossa palavra palácio - os palácios eram apenas as casa das famílias de elite erguidas no Monte Palatino) na parte mais velha da cidade, até ao famoso Fórum e em direcção ao templo dedicado a Júpiter no Monte Capitólio. Nesse templo penduravam-se as grilhetas dos prisioneiros, expunha-se o espólio, do qual a parte mais simbólica eram sempre os portões partidos das cidades conquistadas, e faziam-se os sacrifícios e festividades rituais. Em sequência, os imperadores mandavam construir arcos dos triunfos ao longo da via sacra, de modo a que as suas conquistas, como é óbvio, não fossem esquecidas - e, de facto, todos os arcos dos triunfos (ou seja, arcos construídos para lembrar os triunfos dos imperadores), cumeados por alegorias da Vitória (e outras) e decorados com baixos-relevos que narram histórias de campanhas militares bem-sucedidas, são arquitectados ao jeito dos portões das cidades: são as entradas triunfantes dos cidadãos mais ilustres; posto que possuir o estatuto de cidadão romano, pelo menos até ao século III, a partir do qual ele passou a ser automático e universal para atender à escassez de legionários, era uma honra por mérito próprio.


Na antecâmara do terraço do Arco do Triunfo da Rua Augusta, onde se encontra o mecanismo do relógio que volta a face para a Rua Augusta.

No meu romance Lisboa Triunfante (Saída de Emergência, 2008), o Lagarto perde para a Raposa: mas ei-lo, no mecanismo do relógio do Arco do Triunfo da Rua Augusta, a contar a passagem do tempo, à espera do momento ideal para emergir com nova pele.




Fotos de Gisela Monteiro: http://www.flickr.com/photos/agmonteiro.
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Published on May 24, 2012 19:50

May 22, 2012

Pré-venda de "Compêndio de Segredos Sombrios e Factos Arrepiantes"


O meu Compêndio de Segredos Sombrios e Factos Arrepiantes já se encontra disponível para pré-venda na loja online das edições Saída de Emergência: se clicarem na capa poderão ler as primeiras sessenta e seis páginas do livro (pertencentes à História, a primeira via deste trabalho) e descobrirem quais os segredos sombrios e factos arrepiantes - e verdadeiros - que se escondem atrás de títulos como "Padre António Vieira Abolicionista", "Inspirados pela Suástica", "O Verdadeiro 'Grito do Ipiranga'" e "Especiarias Orientais e Cruzes Portuguesas".

Todos os exemplares à venda na loja online da Saída de Emergência estão assinados por mim.
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Published on May 22, 2012 16:14

Crítica a "O Pequeno Deus Cego"


Vale bem a pena ler esta excelente crítica de Pedro Vieira de Moura a O Pequeno Deus Cego (Kingpin Books, 2011), publicada no seu weblog LER BD. O Pedro diz que o tema central do livro é o Conhecimento e envereda por essa via para analisá-lo... Ora, o tema central de O Pequeno Deus Cego relaciona-se com o conhecimento, sim, mas é outro: o Crescimento - o crescimento através da Iniciação (crescer das Trevas para a Luz). Não quero desvirtuar a leitura que o Pedro fez, somente esclarecer, enquanto autor, qual é o tema central do livro - que, claro, permitirá sempre mais que uma leitura.
Na imagem: clímax de O Pequeno Deus Cego , no qual a carne desprende-se dos ossos...
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Published on May 22, 2012 13:11

May 16, 2012

Os dois Pratts


Acaba de ser lançado um novo fanzine de homenagens Efeméride , criação de Geraldes Lino, insigne divulgador, editor e investigador de banda desenhada, dedicada às mais importantes personagens do universo bedéfilo. Este novo número é dedicado a Corto Maltese, criado pelo autor italiano Hugo Pratt, e conta com bandas desenhadas de diversos autores portugueses.
Participei em conjunto com o desenhador Jorge Coelho, numa história escrita por mim e intitulada Os Dois Pratts : uma observação hermética sobre algumas coincidências essenciais na vida e carreira de Pratt (iniciado na Maçonaria em 1976, na loja veneziana Hermes) e a sua ligação insuspeita ao Monstro de Frankenstein.
Poderão encontrar esta edição do fanzine Efeméride em todas as livrarias especializadas em banda desenhada, assim como pedi-la directamente ao editor Geraldes Lino: geraldes.lino [at] gmail.com.
(Desenho da capa: Regina Pessoa.)
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Published on May 16, 2012 05:40

May 13, 2012

Fotos do lançamento de "Compêndio de Segredos Sombrios e Factos Arrepiantes"


O lançamento de Compêndio de Segredos Sombrios e Factos Arrepiantes (Saída de Emergência, 2012) foi um sucesso!
 Podem ler mais pormenores e ver mais fotos no weblog oficial do livro.
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Published on May 13, 2012 07:38

May 11, 2012

Dois apontamentos


Regressado há pouco da Polónia, enquanto convidado especial do Festival Internacional de Banda Desenhada de Varsóvia: prometo publicar uma descrição mais pormenorizada do evento, mas, para já, fica este apontamento, comigo e com o também convidado especial Pedro Serpa, junto da nossa coutada na exposição. Obrigado ao Instituto Camões de Varsóvia, à embaixada portuguesa na Polónia e ao Instituto Cervantes de Varsóvia pelo convite e excelente acolhimento, assim como, em especial, a José Carlos Costa Dias e a Jakub Jankowski.

E amanhã, Sábado, às 16H30, estarei no auditório da APEL na Feira do Livro de Lisboa para o lançamento do meu novo livro Compêndio de Segredos Sombrios e Factos Arrepiantes (Saída de Emergência). A apresentação será feita pelo cineasta e escritor António de Macedo. É daqui a pouco, portanto: estão todos convidados, apareçam e passem a palavra. [image error]
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Published on May 11, 2012 14:44

May 7, 2012

Lançamento de "Compêndio de Segredos Sombrios e Factos Arrepiantes"


Caros, o lançamento de Compêndio de Segredos Sombrios e Factos Arrepiantes (Saída de Emergência) é já no próximo Sábado, dia 12, às 16H30, no auditório da APEL na Feira do Livro de Lisboa.
«Em Compêndio de Segredos Sombrios e Factos Arrepiantes , David Soares convida a uma viagem surpreendente pelo lado negro da História, da Ciência, do Oculto e do Bestiário: quatro pilares de saberes secretos, como a Alquimia e a Cabala, mas também de criaturas como o grifo do Infante D. Pedro e as gárgulas das catedrais medievais, assim como experiências com cabeças decepadas, rituais de feitiçaria, pragas de dança e vampiros lisboetas. A profusão de temas, reflexões e desmistificações abrangidos será uma fonte inestimável de consulta para todos os leitores empenhados em saberem sempre mais sobre aquilo que os rodeia. Numa união erudita entre a enciclopédia e o livro de ensaio, Compêndio de Segredos Sombrios e Factos Arrepiantes é um livro repleto de histórias reais e factos espantosos que vos desvendarão um mundo negro, mas admirável.»
A apresentação será feita pelo escritor e cineasta António de Macedo. Passem a palavra e apareçam: estão todos convidados.

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Published on May 07, 2012 18:59

May 6, 2012

"Palmas Para o Esquilo": Antevisão no Anicomics 2012


Vídeo da antevisão feita hoje no Anicomics 2012 do álbum de banda desenhada Palmas Para o Esquilo (Kingpin Books, 2013), escrito por mim e desenhado por Pedro Serpa .
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Published on May 06, 2012 15:42