David Soares's Blog, page 61
April 20, 2012
David Soares e Pedro Serpa no Festival de Banda Desenhada de Varsóvia

De 10 a 13 de Maio, ocorre o Festival de Banda Desenhada de Varsóvia, evento para o qual estão convidados artistas de várias nacionalidades, como os mestres Brian Bolland e Grzegorz Rosinski. Eu e o Pedro Serpa seremos os representantes portugueses no festival, com o nosso O Pequeno Deus Cego (Kingpin Books, 2011).
Podem visitar a página oficial do festival nesta ligação.
E nesta, a página oficial do festival no Facebook.
Acrescento que esta é a minha primeira visita deste ano à Polónia: em Outubro serei o convidado português do 8º Festival Internacional de Ficção Curta de Wroclaw, um dos mais interessantes e dinâmicos festivais literários europeus.
Published on April 20, 2012 06:40
April 16, 2012
Ode à voz
Há cento e vinte e três anos, "nasceu" Alberto Caeiro, caricatura pessoana de um poeta ateu, mestre de todos os heterónimos (e ortónimo). Mas o dia 16 de Abril é, também, o Dia Mundial da Voz. Eu sou escritor, mas também uso a voz como instrumento artístico, nos meus trabalhos de spoken word. Um deles é esta "Ode ao Negro", musicada por Charles Sangnoir, e interpretada no espectáculo Cabaret Seixal de 2010. Consiste num ensaio sobre a cor preta.
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Published on April 16, 2012 09:13
April 13, 2012
April 11, 2012
April 6, 2012
Sobre o café Starbucks e o Infante D. Henrique

A resposta mais rápida é a de que consiste no apelido do imediato do Capitão Ahab no romance Moby-Dick (1851), da autoria do escritor norte-americano Herman Melville, mas é possível recuar até outros imediatos e capitães, mais hostis que os dos navios baleeiros da ilha de Nantucket e oriundos de regiões muito mais frias que o estado norte-americano de Massachussets: neste caso, da Dinamarca.
Em 793, vikings dinamarqueses navegaram pela costa noroeste da Grã-Bretanha acima e pilharam o mosteiro cristão da pequena ilha de Lindisfarne, dando início à era das conquistas vikings, que só terminou três séculos depois. (O facto dos vikings se terem convertido ao cristianismo cerca de oitenta anos depois desse ataque inaugural não provou ser nenhum impedimento para que continuassem as suas expansões turbulentas - em nome de Cristo.) A sua hegemonia em todo o território britânico ainda repercute nos dias de hoje, em diversas toponímias, e, com efeito, na primeira metade do século IX os piratas nórdicos já dominavam todo o condado inglês de Yorkshire, no qual, junto à cidade termal de Harrogate, encontraram uma ribeira aprazível, com margens vicejantes de juças (uma planta comum em quase toda a Europa e também conhecida por carriço). Chamaram-lhe, adequadamente, Ribeira das Juças: denominação que em antigo dinamarquês se pronuncia Starbeck.
Este é o nome com o qual foi baptizado um subúrbio a Leste de Harrogate, habitado desde o século XIV - e o registo da primeira família a adoptá-lo como apelido, sob a corruptela de Starbuck, data de 1379.

Até ao final do século XVII, os Quakers de Fox foram constantemente perseguidos e presos pelas autoridades; nessa altura pesadelar para novos credos alguns indivíduos acharam que seria uma boa ideia tentarem uma vida nova num Novo Mundo e, em consequência, partiram para as colónias da América do Norte. Entre esses pioneiros escorraçados encontrava-se uma família de apelido Starbuck, que tomou residência na ilha de Nantucket; com o passar dos anos, os descendentes da família Starbuck tornaram-se os baleeiros mais famosos do mundo; e é em sua homenagem que Melville baptiza com esse apelido o carismático imediato quaker do navio baleeiro Pequod.
Tão ilustres os Starbuck de Nantucket se tornaram que, em 1823, enquanto fazia escala no reino do Havai, Valentine Starbuck, o capitão do célebre baleeiro L'Aigle, foi contratado pelo rei Kamehameha II para que o levasse a ele, à rainha Kamāmalu e à sua corte, numa viagem a Londres; no ano seguinte, depois de terem feito escala no Rio de Janeiro, onde foram recebidos por D. Pedro I, imperador do Brasil (D. Pedro IV de Portugal), os reis do Havai morreram subitamente de sarampo, em Londres, no início do Verão. As mortes repentinas chocaram a opinião pública e o governo; no rescaldo da investigação, Valentine Starbuck foi acusado de corrupção pelos seus empregadores originais, em virtude de não ter cumprido o contrato.
Vinte e sete anos depois, o escritor Herman Melville, apreciado na altura pelas suas narrativas exóticas, fez das tripas-coração e publicou um romance negro e sublime, intitulado Moby-Dick, que, infelizmente, foi destroçado pela crítica e consistiu num fracasso de vendas. Melville nunca recuperou do choque provocado pela péssima recepção que o seu romance mais querido teve e quando morreu, em 1891, nenhum dos seus livros continuava em impressão; mais tarde, depois da Primeira Grande Guerra, o trabalho superiormente simbólico de Melville foi descoberto por leitores e críticos norte-americanos e europeus, com uma nova sensibilidade, que consideraram merecidamente Moby-Dick como um dos melhores romances de sempre. Um dos fãs tardios de Moby-Dick foi o norte-americano Jerry Baldwin, um professor de inglês residente na cidade de Seattle, no estado de Washington.

Pequod: o nome do baleeiro do Capitão Ahab.
Os seus sócios odiaram-no, porque tinha uma sonoridade muito semelhante a pee (xixi), algo indesejável para uma loja de bebidas e, aparentemente, Bowker (em outra versão, a autoria da escolha recai sobre o publicitário de Seattle Terry Heckler, que desenhou o conspícuo símbolo da sereia "starbuckiana" - na realidade, não é uma sereia, mas uma adaptação de um desenho quinhentista de Melusina) escolheu um segundo nome, que encontrou num mapa dos Estados Unidos, o de uma antiga mina, situada a sudeste de Seattle, no Monte Rainier: Camp Starbo. Insistente em retirar um nome do romance Moby-Dick, Baldwin sugeriu que o do imediato Starbuck seria um bom compromisso entre a sua vontade e o nome da mina preferido pelos sócios. Toda a gente concordou e, em 1971, na Western Avenue, abriu a primeira loja daquela que viria a ser a cadeia internacional Starbucks (a internacionalização viria vinte e cinco anos depois com a abertura de uma loja na cidade japonesa de Tóquio). De Ribeira das Juças a nome de família e até marca internacional, o velhinho nome viking já viajou bastante.
Mesmo assim, a ligação entre ele, o romance Moby-Dick e o café não se esgota aqui.
Algo que pouca gente sabe é que Melville inspirou-se na existência de um cachalote albino verdadeiro que, no início do século XIX, atacou um punhado de navios baleeiros antes de ser capturado. (No romance a que dá o título, a baleia Moby-Dick não é completamente albina: só a cabeça e a corcunda são brancas.) Em 1839, o jornalista norte-americano Jeremiah Reynolds publicou na revista nova-iorquina Knickerbocker Magazine o primeiro relato sobre os ataques e a captura desse cachalote, intitulado... Mocha Dick, or The Whale of the Pacific. Os baleeiros chamaram Mocha Dick à baleia branca, porque ela nadava nas águas da Ilha de Mocha, ao largo da costa chilena.
Ora, de acordo com uma das versões da lenda da origem do café, um muçulmano chamado Omar, que partira em direcção ao Iémen, na Península Arábica, perdera-se no deserto; esfomeado, encontrava-se quase sem forças para continuar quando uma inesperada visão o guiou até um bizarro arbusto, cujas "bagas" diligentemente comeu. Sentindo-se revitalizado por esses grãos desconhecidos, guardou alguns e, graças a eles, foi capaz de chegar ao seu destino: a cidade de Mocha. Achando que tinha sido escolhido pela providência divina para dar a conhecer aquela planta milagrosa aos homens, transformou-a numa bebida revigorante a que chamou, claro, Mocha. (O porto da cidade de Mocha tornou-se, de facto, no grande exportador seiscentista de café.)
Com efeito, os viajantes árabes já mascavam grãos de café, mas a ideia de usá-los para fazer uma bebida é, provavelmente, uma verdadeira invenção iemenita (a lenda tem, afinal, um aroma de autenticidade), imaginada pelo místico sufi quatrocentista Muhammad al-Dhabhani que terá usado grãos dessa espécie de arbusto para fazer uma bebida reconfortante que pudesse ser tomada de forma a afastar o cansaço nas longas horas de estudo e oração a que os sábios sufis se dedicavam (assim chamados devido às suas idiossincráticas indumentárias feitas de lã, que em árabe se chama suf - logo, sufi significa homem de lã). Muhammad al-Dhabhani chamou qahwah à sua bebida (étimo da palavra turca kahveh que está na origem da palavra seiscentista caffe), nome que significa vinho.
É espantoso que Mocha, nome que hoje é usado para designar uma bebida feita de café com chocolate e, também, um tom quente de castanho-escuro, tenha sido dado a uma baleia branca - uma que, ainda por cima, inspirou a criação literária de outra baleia branca, muito mais famosa, em cujos perseguidores se encontra uma personagem que deu o seu nome à maior cadeia de lojas de café do mundo.

Published on April 06, 2012 18:18
April 3, 2012
Booktrailer de "O Homem Corvo"
Booktrailer de O Homem Corvo (Saída de Emergência, 2012). Escrito por David Soares, ilustrado por Ana Bossa com direcção de fotografia de Nuno Bouça.
Booktrailer realizado e montado por Nuno Bouça, com música original de Filipe Raposo e grafismo de Eglė Bazaraitė.
«Eu dou-te um peixinho, se tu me deres um coração.»
Nas livrarias a 13 de Abril.
Published on April 03, 2012 14:59
"Mr. Burroughs" 2012

Este ano, em data a anunciar brevemente, irá ser reeditado em português um dos meus clássicos: o álbum de banda desenhada Mr. Burroughs (Círculo de Abuso, 2000; Frémok, 2003), escrito por mim e desenhado por Pedro Nora. Um álbum que o académico Bart Beaty (da universidade canadiana de Calgary) definiu como sendo uma «surrealist, nightmarish reconceptualization, flattering to the comics form, a cross between literature and the visual» (em Unpopular Culture. Universtity of Toronto Press, 2006).
Passados doze anos, Mr. Burroughs irá ser reeditado, por uma das editoras independentes de banda desenhada portuguesa que fez parte do universo bedéfilo que o viu nascer, numa edição bilingue, em português e inglês (versão inglesa de minha autoria).
É do conhecimento público que este título é um dos álbuns mais importantes da banda desenhada portuguesa e que foi verdadeiramente instrumental - e decisivo - para a revitalização da nova bd portuguesa a partir da década de 2000.
Imagem: Eu, em 2009, numa livraria parisiense especializada em banda desenhada, com a edição francesa de Mr. Burroughs.
Published on April 03, 2012 06:39
April 1, 2012
Nova crónica no número 133 da revista LOUD!

O número 133 da revista LOUD! sai esta semana.
Além dos inúmeros artigos e entrevistas interessantes (uma nova entrevista com Thormenthor - quem se lembra do fantástico Abstract Divinity?) e uma capa surpreendente (não é a que está na imagem), esta edição conta com a minha crónica regular Consultor Funerário.
Desta vez, apresento-vos um texto intitulado A Invenção da Existência que versa sobre o tema do dito Novo Acordo Ortográfico, mas por uma via que ainda não foi falada na nossa praça (pelo menos que eu tenha lido). É, sobretudo, uma verdade muito evidente e que eu achei que já urgia ser abordada. Às vezes, é fácil esquecer o essencial: azar dos tecnocratas eu ser um tipo completamente obcecado pela minúcia histórica.
Published on April 01, 2012 17:39
March 30, 2012
Lançamento de "Cabaret Portugal" de La Chanson Noire

No próximo Domingo, às 17H00, La Chanson Noire apresentará no Museu da Música o seu novo álbum, intitulado Cabaret Portugal, numa grande festa de lançamento, com música ao vivo e participações especiais.
Este álbum, composto e interpretado por Charles Sangnoir, é o sucessor do álbum de estreia Música Para os Mortos e consiste em mais um fabuloso trabalho, executado com bom-gosto e com uma força e lirismo infelizmente cada vez mais incomuns no panorama descaracterizado que atravessamos. Este álbum é, em simultâneo, um disco e um livro, recheado de participações especiais de diversos artistas, como músicos, escritores e fotógrafos (entre os quais Adolfo Luxúria Canibal, Gilberto de Lascariz, Fernando Ribeiro e Pedro Laginha), que, a partir do universo temático das canções de Cabaret Portugal, ergueram uma cosmogonia estética muito particular.
Alguns dos artistas estarão presentes na apresentação para lerem os seus trabalhos. Eu irei ler a peça com a qual participo, intitulada Ensaio aos Peixes.
Fiquem com o vídeo do single titular do álbum.
Published on March 30, 2012 09:54
March 29, 2012
"O Homem Corvo" chega a 13 de Abril

«Não muito longe daquele sítio, o Homem Corvo encontrou outro bicho: era o Urso Amuado, que tinha um braço enfiado num buraco de um tronco de árvore. "O que é que eu posso fazer para tu gostares de mim, amigo malcheiroso?", perguntou o Homem Corvo. "Quero comer o mel que está aqui dentro, mas está tão fundo que não sou capaz de apanhá-lo", disse o Urso Amuado. "Se me deres este mel todo, prometo que fico a gostar de ti."»O Homem Corvo, escrito por mim e ilustrado por Ana Bossa com direcção fotográfica de Nuno Bouça, chega às livrarias no próximo dia 13 de Abril pelas edições Saída de Emergência.
Em breve, darei informações sobre a sua apresentação e sobre a abertura da exposição das ilustrações.
Published on March 29, 2012 08:22