David Soares's Blog, page 65

February 2, 2012

O verdadeiro criador do Carocha

(Josef Ganz no seu Maikäfer, em 1931.)

Que a história do Carocha ter sido "inventado" por Hitler era uma espécie de lenda urbana já se sabia, mas que também o austríaco Ferdinand Porsche pouco teve a ver com a sua invenção já é uma novidade: o jornalista holandês Paul Schilperoord descobriu que o verdadeiro inventor do Carocha foi um judeu germano-húngaro chamado Josef Ganz, que, em 1931 (dois anos antes do modelo Tatra V570 do austríaco Hans Ledwinka - até agora apontado como sendo a provável base do V1 de Porsche), criou um protótipo de um carro mais barato "para o povo" que chamou de Maikäfer (Carocha de Maio).

O livro de Schilperoord intitula-se The Extraordinary Life of Josef Ganz: The Jewish Engineer Behind Hitler's Volkswagen e pode ser comprado nesta ligação.

Este site tem informações interessantes sobre o tema: http://www.ganz-volkswagen.org


(O modelo Standard Superior produzido em 1933 pela companhia alemã
Standard Fahrzeugfabrik, segundo os modelos de Josef Ganz.)

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Published on February 02, 2012 01:48

January 22, 2012

A morte de Sherlock


Já vi o último (e épico) episódio da segunda temporada de Sherlock: brilhante! Há muito tempo que uma série de televisão não me entusiasmava tanto. Anseio pela terceira temporada.

Entretanto, acho que descobri como é que Sherlock Holmes encenou o seu suicídio - é tão simples.
A minha ideia é a seguinte: a meio do episodio, Sherlock percebe que vai mesmo morrer às mãos de Moriarty, de uma forma ou outra, mais tarde ou mais cedo, e decide tomar a iniciativa de "matar-se" antes que isso aconteça. Então, combina um encontro com o seu adversário no telhado do St Bartholomew's Hospital. Tenham em mente que a ideia de Sherlock quando sobe para o telhado já é encenar um suicídio, por isso quando é confrontado com esse desafio por Moriarty, que o chantageia com a morte dos amigos, o seu plano não sofre com isso. Quando salta do parapeito, vemo-lo a cair pesadamente no passeio, mas isso é um truque de montagem: na verdade, Sherlock caiu num camião de lixo hospitalar carregado de sacos, que estava convenientemente estacionado junto à berma - quando o vemos a cair no passeio, ele está a saltar do camião para o chão.
Ainda vemos a traseira do camião parado junto ao corpo estendido no chão, por um segundo, e, em seguida, num plano picado, vemo-lo a afastar-se pelo canto superior esquerdo da imagem.
O doutor Watson nunca viu o camião, porque entre ele e o local onde esse veículo estacionou encontra-se um edifício mais baixo. O grupo de pessoas que rodeou o corpo de Sherlock serão cúmplices deste, talvez pertencentes à sua rede dos Irregulares de Baker Street, e os paramédicos diligentes estavam em conluio com a patologista forense Molly que auxiliou Sherlock a encenar o suicídio, pedindo ao camião do lixo que estacionasse naquele local. Um dos figurantes até impede que Watson tome o pulso a Sherlock.

Estou certo? Tenho de esperar pela terceira temporada para descobrir. Até lá, vou comprar o DVD da segunda. O da primeira já cá canta.
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Published on January 22, 2012 16:21

January 21, 2012

As minhas crónicas na nova revista LOUD

A revista LOUD! mudou e aparecerá rejuvenescida na sua edição de Fevereiro. Umas das mudanças é que passará a contar com uma crónica regular minha, intitulada Consultor Funerário: será um espaço de cultura, provocação e liberdade.
Agradeço à equipa da revista LOUD! o gentil convite, que aceitei com todo o gosto. O cabeçalho tétrico é da autoria de André Coelho. Convido-vos a descobrir a nova LOUD! e as crónicas do seu "Consultor Funerário".
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Published on January 21, 2012 16:34

January 20, 2012

January 16, 2012

"O Pequeno Deus Cego": apresentações em Lisboa e Porto


No próximo dia 20 (Sexta-Feira), às 18H30, eu, o desenhador Pedro Serpa e o editor Mário Freitas iremos estar no fórum da loja FNAC do Chiado (Lisboa) para apresentar o álbum de banda desenhada O Pequeno Deus Cego (Kingpin Books). A apresentação de Dezembro de 2011 fora cancelada por culpa de um problema de saúde inesperado do Pedro (felizmente já resolvido) e será uma oportunidade única para ouvirem o que nós temos a dizer sobre o livro, assim como para levarem para casa um exemplar autografado e desenhado.

E em seguida, no próximo dia 28 (Sábado), às 17H00, eu e o Pedro iremos ao Porto apresentar O Pequeno Deus Cego na livraria de banda desenhada Mundo Fantasma (Shopping Center Brasília, Avenida da Boavista, 267, 1º. Andar): esta apresentação será, também, a inauguração de uma exposição de pranchas originais do álbum na galeria de arte da livraria.
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Published on January 16, 2012 01:53

January 10, 2012

Crítica na revista LER a "O Pequeno Deus Cego"


Excelente crítica na edição de Janeiro da revista LER a O Pequeno Deus Cego (Kingpin Books), escrito por mim e desenhado por Pedro Serpa. (Por Sara Figueiredo Costa.)
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Published on January 10, 2012 13:31

January 4, 2012

December 29, 2011

O meu novo livro para 2012 e os Vampiros de Alfama


O meu novo livro, que será de não-ficção, irá, entre muitos outros assuntos, falar do livro Les Vampires de l'Alfama (1975) do cineasta francês Pierre Kast. Sim: o título refere-se ao bairro de Alfama, em Lisboa.

Para saberem mais sobre Les Vampires de l'Alfama - e sobre muitas outras coisas - ainda terão de esperar uns meses, mas fiquem atentos porque irei desvendando novidades.
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Published on December 29, 2011 01:10

December 28, 2011

Pais da Ficção Científica


Em From Paralysis to Fatigue, Edward Shorter enuncia a existência de "reservatórios de sintomas": aglomerados ideais, preenchidos pelas tendências predominantes dos períodos que permeiam. São, em simultâneo, influenciáveis e influentes. Faz sentido falar em "sintoma", porque a palavra também significa "presságio"; logo, as mutações que afectarão a sociedade poderão ser calculadas pelo estudo do "reservatório de sintomas".

Nas primeiras décadas do século XIX, os Estados Unidos foram desinquietados pelo Segundo Grande Despertar: revivalismo religioso, de natureza arminiana, que quis repor o rigor protestante, perdido em favor do agnosticismo estimado pelos Pais Fundadores. Foi um período em que a ciência manteve a orientação de que deveria glorificar o desígnio de Deus. Entre os astrónomos americanos e europeus, a maioria era composta por teólogos crentes num pluralismo cósmico teísta (como William Herschel, descobridor de Úrano e da radiação infra-vermelha), sob o qual o universo era populado por raças tementes a Deus. Reverendos astrónomos, como Thomas Dick, acreditavam que a Lua era habitada por uma civilização isenta de pecado (Dick até calculou que ela perfazia o número de 4,2 mil milhões de indivíduos) e Von Littrow e Friedrich Gauss arrogaram ser possível comunicar com os selenitas. A crença no povoamento da Lua foi aceite por todos como provável: fez parte do "reservatório de sintomas" desse tempo.

Em Agosto de 1835, o jornal nova-iorquino The Sun publicou uma série de artigos sobre a descoberta do astrónomo John Herschel (filho de William Herschel), isolado na África do Sul. Lendo o seriado, intitulado Great Astronomical Discoveries Lately Made by Sir John Herschel, L.L.D. F.R.S. &c. at the Cape of Good Hope, o público ficou a saber que a Lua tinha florestas, lagos e era habitada, entre outras espécies (como castores bípedes), por inteligentes híbridos de humano com morcego, capazes de construir igrejas. Graças a um novíssimo procedimento óptico (descrito ao detalhe), que permitia a magnificação das imagens telescopiadas sem que perdessem definição, Herschel desvendava que o homem não estava sozinho no sistema solar. The Sun, criado em 1833 por Benjamin Day, já revolucionara cabalmente o modo de fazer jornalismo, ao lançar-se no mercado em pequeno formato e com custo de um penny: foi o primeiro diário popular, com características actuais, e as novidades sobre os selenitas transformaram-no no título mais vendido. À edição episódica advieram as panfletárias, com litografias dos homens-morcegos voando entre vulcões, lagos e cascatas lunares. Os restantes periódicos norte-americanos (e europeus) não perderam tempo em republicar o material na integralidade, mas James Gordon Bennett, proprietário e editor do diário nova-iorquino Herald, concorrente do The Sun, não acreditou na descoberta e iniciou uma campanha para que Richard Adams Locke (editor do The Sun) assumisse a autoria das espantosas "noticias". Com efeito, fora Locke a escrevê-las; e em 1840, numa crónica publicada no semanário New World, assumiu que quisera satirizar a crendice com que a ciência, em particular a astronomia, era praticada nas academias, mas, infelizmente, ninguém compreendera o ponto de vista. O seu único trabalho ficou conhecido como Grande Embuste da Lua.


Foi o "reservatório de sintomas" da época, recheado com a crença na Lua habitada e a exuberância da emergente imprensa popular, que serviu de placenta ao desenvolvimento de um inédito género literário que iria aperfeiçoar-se no início do século seguinte. No dia 3 de Setembro de 1835, Bennett escreveu no Herald um artigo intitulado A New Species of Literature: nessas linhas, cunhou o estilo de Locke como sendo «scientific novel». O seriado foi pioneiro na descrição meticulosa de uma tecnologia óptica especulativa que credibiliza a história do ponto de vista científico: o texto suspende-nos a descrença porque ciência e ficção se entrosam com harmonia – e esse cruzamento aparece pela primeira vez pela mão de Locke, assim como a designação «scientific novel», inventada pelo editor rival Bennett, antecipa em quarenta e um anos a de «scientific fiction», criada por William H. L. Barnes na introdução que escreveu para a colectânea de homenagem póstuma a Caxton (W. H. Rhodes), e em noventa e um anos o uso dado por Hugo Gernsback no primeiro número de Amazing Stories. Conclui-se que Locke, com o estilo inédito, e Bennett, com a designação que lhe deu, foram os pais remotos da ficção científica.


Locke atreveu-se a imaginar sobre a Lua e num precursor jornal popular mostrou-nos como imaginar o século XX. Sem Locke talvez não houvesse Verne e Wells e sem os seriados e folhetins do The Sun talvez não houvesse fanzines, nem weblogs. A Lua deu-lhe ainda oportunidade de usá-la como alegoria de uma sociedade sem escravos, num momento em que Nova Iorque era a cidade mais sulista dos estados do Norte. A especulação fantástica podia, afinal de contas, falar de problemas reais.

O período supracitado, cheio de convulsões, prova que só o fantástico pode salvar a cultura de tornar-se o epifenómeno subserviente de um mercado cada vez mais volúvel e falsamente personalizado. É olhando para a Lua, domínio argênteo da Imaginação, que se pode observar sem cegueira a luz do Sol, radiância dourada da Obra.

Fantasiando, planeia-se o futuro.

(Crónica publicada originalmente no nº 11 da Revista BANG!, editada pela Saída de Emergência.)
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Published on December 28, 2011 15:43

December 27, 2011

Aforismo


A cultura verdadeira é matéria efervescente, infundida de ânimo pelo fogo da imaginação, mas é, também, plutónica - abissal - e à sua superfície solidifica-se outra cultura: leviana; em cremosos atóis que ocultam a agitação inferior, mas que nunca poderiam existir sem ela. São, pois, duas culturas diferentes - uma profunda, límpida e transformadora; e outra informe, inútil e opaca.
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Published on December 27, 2011 16:24