Alexandre Willer's Blog, page 9

January 7, 2021

a liberdade e suas fronteiras

 


Conviver em sociedade é para os fortes.

Ainda mais em tempos como estes quando todos acham que tem direito a tudo e não devem nada, a individualidade e hedonismo promovidos pela vida on-line confundem as fronteiras da vida real e as pessoas acabam achando que suas vidas-casas são extensão de seus feeds e páginas e que as podem simplesmente bloquear desafetos e quem não aceita suas ações sem culpa e seguir fazendo o que bem entendem.

Adicionemos uma geração que veio de lares onde limites e NÃO eram coisas raras ou inexistentes e uma pandemia que forçou todos e obrigatoriamente exercer um convívio que não estavam habituados e a receita para o desastre está completa. Com a rotina carregada de trabalho, estudo e diversão, pouco contato tínhamos com as pessoas com quem dividimos espaços comuns, principalmente me prédios e condomínios. A pandemia forçou essa convivência indireta e abriu feridas que dificilmente uma vacina irá fechar.

Há uma noção escrota de liberdade amparada pelo conceito pré-existente e reforçado pelo Bolsonarismo de que, se estou pagando, posso fazer o que bem entender vide a quantidade de casos de Bolsonaristas que bradam aos quatro ventos seus direitos de pagantes ofendendo e humilhando sem culpa para depois meter um atestado de distúrbios emocionais, lamento, falta de caráter não é doença, é falta de caráter e só.

Passei por algo assim onde moro. Morador ou moradores de um andar faziam reuniões que se estendiam até altas horas da madrugada com música e conversas animadas, janelas abertas como se somente eles morassem no prédio.

Reclamei uma vez ao síndico e mesmo assim voltou a acontecer.

Reclamei novamente e dessa vez fui um pouco mais incisivo, quem me conhece sabe bem como, e comentei que se ele não resolvesse o caso, eu mesmo resolveria só que não seria legal para ninguém porque eu ia meter o louco e tacar fogo nessa porra.

Aparentemente, o morador recalcitrante foi enquadrado e dia desses, pegando o elevador com o síndico:

Tudo bem?

Tudo bem!

Como foi de fim de ano?

Bem, em casa, não dava pra sair e você?

Em casa também, não saímos, ficamos quietos.

Pois é, o morador do NN não teve mais nada né?

Olha, se teve, eu não ouvi, se não viajou..

Viajou mas voltou, passou as festas aqui, não teve barulho né?

Eu não ouvi, se tivesse ouvido você seria o primeiro a saber.

Pois é, falei com ele novamente depois daquelas vezes porque não dava mais..

Não mesmo!

Ele disse que vai mudar, disse que é muito complicado morar aqui..

Não é complicado, é só seguir as regras de convivência agora, se você quer morar em lugar que você pode fazer o que bem entender sem ter reclamação, sugiro um casa ou um sítio..

Fim da conversa e fim de mais um morador que não está preparado para conviver em sociedade.

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Published on January 07, 2021 03:00

January 6, 2021

não há vacina para sua doença

 


A OMS, através de sua resolução de 17/05/1990, aboliu a homossexualidade como doença além de alterar a nomeação retirando o sufixo ‘-ismo’ que denotava a orientação sexual como patologia. Igualmente, o CFP em sua resolução 01/99 instrui que a homossexualidade não é uma doença, distúrbio ou perversão não demandando assim tratamento que vise sua ‘cura’ e/ou reversão.


Mas, os que nos odeiam e perseguem, amparados pelo manto conservador do Bolsonarismo, insiste em fomentar e apoiar 'profissionais' ou os assim chamados ‘psicólogos’ (que deixam suas convicções religiosas interferir em sua profissão o que é lamentável além de condenável) no tratamento de pessoas LGBTQIA+ que, seja por qual for o motivo, lutam para aceitar sua orientação sexual.

Essas pessoas precisam sim de apoio psicológico mas não para deixar de ser o que são e sim no processo de aceitação de sua natureza e orientação sexual para que possam tornar-se funcionais e felizes superando os traumas que lhes foram impostos pela sociedade, família e amigos e entendendo que não há crime ou doença em ser LGBTQ, que qualquer que tenha sido a origem da criação, assim fomos feitos e não há o que corrigir.

As tentativas de reverter a orientação sexual resultará apenas em um pessoa fragmentada, miserável e infeliz, não se pode mudar a natureza do que somos simplesmente porque a religião que vocês pregam assim o diz, vocês partem de um pressuposto que o homossexual é uma criatura miserável e infeliz e que precisa de ajuda para deixar ‘essa vida’ e ser um membro digno da sociedade e, porque não dizer, seguidor dos preceitos desse seu deus de ódio e intolerância sofismado por escrituras que que vocês distorcem e adaptam às suas necessidades.

Porque tanto ódio? Porque essa perseguição incansável? Porque esse medo tão gritante? Só posso intuir que ele não esteja apenas embasado em conceitos religiosos mas num pavor patológico do que é diferente, daquilo que desafia as regras que ninguém os obriga a seguir salvo o temor da danação eterna e, se for este o caso, trago péssimas notícias, estamos tão fadados a ela quanto vocês que pregam tamanho ódio e praticam atos pouco cristãos aos seus próximos, não é a nossa alma que está em risco mas a sua.

Esse seu medo de nós advém de alguma questão muito mal resolvida quanto a sua própria identidade e condutas sexuais presas e restritas a conceitos e normas seculares e temporais que caducaram há tempos sem que se tenham dado conta disso. A natureza questionadora e libertária do homossexual, que usa sim a sexualidade como meio de desbravar e demarcar territórios onde o heteronormativo padece, enquadrado por todos os lados por movimentos que não mais aceitam ficar sob seu jugo, lhes é assustadora, trai o status quo da assim chamado família tradicional sendo que esta também há muito já deixou de existir.

É lamentável para não dizer sórdido sua associação da homossexualidade com pedofilia e demais distúrbios sexuais graves quando os maiores perpetradores de tais abusos são heterossexuais sendo estes também que lotam as clínicas clandestinas de aborto enquanto casais homoafetivos estão mais do que dispostos a aceitar os filhos que vocês não desejavam ter.

Da mesma forma, essa sua tentativa de inversão onde nós somos o malévolos e perseguidores e vocês, as vítimas, é outro jogo pérfido e baixo pois como pode a minoria perseguir a maioria? Vocês estão há séculos perseguindo não apenas a nós mas todos aqueles que não se encaixam no seu conceito estúpido e intolerante, a sociedade lhes é favorável pois se lhes questionam, basta acenar com a danação eterna e acusar aqueles que buscam os direitos inalienáveis de todos ser humano de golpistas, inimigos da fé, ameaça a sociedade, ditadores de gênero.

Pensem comigo apenas um instante, quem está perseguindo quem? Quem tem a seu favor toda a estrutura de uma religião empresarial e aparato do estado? Quem tem espaço na mídia e está sempre atacando a nós? Quem é intolerante? Quem deseja ver a homossexualidade banida e tratada? Quem deseja um estado teocrático onde tudo o que for diferente do pregado por vocês deve ser excluído e excomungado?

Eu posso olhar no espelho com tranquilidade e paz na alma, e vocês?
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Published on January 06, 2021 03:00

January 5, 2021

sobre amor, romantismo, relacionamentos, normatividade e outros

 


Pessoas são complexas e, por conseguinte, relacionamentos são complexos desde que o tempo é tempo, desde que passamos a conviver em sociedade ou, se você prefere, desde Adão e Eva tretaram e foram expulsos do Éden.
Todos os modelos de relacionamento são uma construção ou desconstrução social, uma convenção que se aceita ou questiona (condenar é coisa de fascistas, se você condena qualquer tipo de relacionamento, afeto, sexo ou amor, melhor ir lá fazer arminha com o messias) conforme o entendimento de cada um de nós sobre o que é adequado sendo esse tipo de ato em si, um reflexo da bagagem sócio-cultural-familiar-religiosa da qual viemos, uns conseguem ter uma abertura de pensamento e compreender e até mesmo abraçar novos modelos de relacionamento, outros não conseguem romper com essa bagagem e preferem seguir modelos mais tradicionais, normativos e baseados em conceitos e regras normativas que ditam costumes desde que o mundo resolveu ser gerido e não vivido.
Dizer quem está errado e quem está certo em aceitar, questionar, viver, não viver quaisquer tipos de relacionamento não cabe a nenhum de nós, só se você prefere usar a forma de amar alheia como instrumento de subjugar, humilhar e excluir quem ama e se relaciona diferente do normativo maximizando a diferença em nome de uma igualdade que nivela a todos por baixo.
Os modelos tradicionais de relacionamento seguem existindo, jamais deixarão de existir pois são a base e pilar da sociedade mundial (raras exceções) e um excelente método de controle social, moral, político e econômico. Não digo que sejam modelos falidos porque se o fossem, já teriam sido extintos há séculos, a evolução é lenta mas implacável e, com isso em mente, quem ousa contestar tais modelos normativos, os padrões, age em nome da evolução da espécie e é execrado porque representa o novo e, como diz a canção, o novo sempre vem.
Mas, isso não quer dizer que os novos modelos de relacionamento irão sepultar os tradicionais e instaurar algum tipo de 'ditadura orgástica', podem ficar tranquilos que ninguém vai propor uma reforma agrária sexual ou contestar heranças. O que os novos modelos de relacionamento contestam é a visão obsoleta e viciosa de que amar alguém significa emitir nota fiscal, certificado de compra e termo de garantia de felicidade eterna e não se enganem, eu já fui totalmente conservador em termos de relacionamentos, amor e sexo e hoje, cheguei num ponto em que demoli essas crenças e me libertei das amarras que a sociedade desde sempre me infligiu.
A monogamia é bela enquanto item romântico, valorizada nas artes e mídia como valor máximo de lealdade e dedicação de uma pessoa para com outra o que é uma falácia vendida como ouro para manter as pessoas felizes e unidas, pelo bem da sociedade e da tradição, essas coisas que só fazem a gente andar para trás.
O conceito de monogamia é uma construção social perpetuada pela religião e sociedade para manter, acima de tudo, poder e dinheiro dentro dos mesmos círculos assim como a pobreza e a miséria igualmente presas em seus respectivos círculos. Criou-se um conceito de lealdade e traição culpando sentimentos naturais humanos e chamando de pecado e outros nomes o amor e o sexo que sentimos por outras pessoas que não sejam as que elegemos para amar num determinado momento e que deveriam, pela regra, ser a mesma pessoas que amaremos e sexualizaremos até o fim do nosso tempo de vida.
Isso é tão tóxico e perverso que chega às vias do sadismos, fico pensando se as classes inventoras dessa regra não ficam rindo a toa de nós que insistimos em aplicar esse modelo enquanto eles mesmo devem seguir outros modelos amparados pelo poder socioeconômico que lhes dá liberdade e liberalidade absolutos.
Ao insistirmos num modelo que prende uma pessoa a outra por laços e convenções, estamos matando o que de primordial existe em nós, o desejo e ele é responsável por quase tudo que nossa raça construiu, pense como seria se todos os pensadores e cientistas não pudessem dar vazão aos seus desejos? E, antes que venham questionar que são coisas muito distintas, digo que não, o desejo humano é amplo e diverso demais e enclausurá-lo apenas na dimensão do sexo e do amor é de uma limitação mental imensa.
Há uma maldade ímpar em tolher o desejo e o amor uns dos outros demandando que somos suficientes para atender e fazer uns aos outros felizes, satisfeitos e plenos, com isso, passamos a jogar a responsabilidade da felicidade no colo alheio e, quando essa pessoa falha em cumprir o acordo porque é humanamente impossível que ela possa ser responsável por nos fazer felizes, chegamos a culpa, a frustração e acusações de traição e falta de lealdade e amor quando, na verdade, todos são culpados por uma desgraça generalizada a partir do momento em que nos julgamos incapazes de chamar a responsabilidade de sermos felizes para nós mesmos.
Demandar do outro uma lealdade e contrato afeto-sexual é matar o amor em seu berço porque é muito pouco provável (não digo impossível) que durante nosso tempo de vida apenas uma pessoas consiga suprir tudo o que desejamos, sonhamos, sentimos, sexualizamos ou seja o que for e assim, voltamos ao parágrafo anterior onde a responsabilidade é culpa do outro, não nossa.
Recolher e cingir o amor e sexo a um modelo fixo e preso é a razão de cada vez mais precisarmos de psiquiatras e ansiolíticos, terapeutas que nos ensinem a amar e relacionar uns com os outros porque não temos a capacidade de entender que somos complexos e diversos demais para abarcar o amor e o sexo com apenas uma pessoa o que não significa que cada uma das pessoas que amamos, transamos e nos relacionamos, seja o mesmo tempo ou uma de cada vez, tragam uma importância única ou algum tipo de lição, aprendizado seja ele para o bem ou para o mal nos fazendo crescer e encarar alguns fatos.
Não podemos ser donos uns dos outros, para isso já existe a religião e os governos, se não pudermos ter liberdade de amar e transar como e com quem desejarmos estamos fadados e ficar batendo boca nas redes sociais e seguir fazendo o jogo de quem fica lá de cima olhando a gente se demolir. Demandar uma posse de algo que deveria ser universal é um crime hediondo.
E não pense que atesto com isso tudo que os novos modelos de relacionamento são putaria apenas, coisa de gente promíscua e que não valoriza a si e ao outro. Ledo engano esse causado pela visão monocentrada do amor e do sexo, amar e desejar mais de uma pessoa não é isso, não quer dizer que faremos de nossos corpos e almas monumentos hedonistas do prazer mas apenas que reconhecemos a liberdade absoluta de nossos corpos e de nossos afetos, que não nos vemos como amos e senhores uns dos outros mas como iguais, com os mesmos medos, amores e desejos, com o mesmo tesão e necessidade de sermos livres para amar e transar da forma que nos parece melhor e, ao mesmo tempo, de escolhermos a pessoa ou pessoas com quem desejamos ter mais do que um simples flerte ou sexo casual.
Há uma confusão quando se fala de relacionamentos abertos, poliamorosos e afins, que são pessoas que vivem em orgia constante e nada poderia ser mais distante da verdade. Podemos nos atrair e interessar por outras pessoas, ao mesmo tempo, em tempos diferentes e até nem mesmo termos alguém fixo mas, quando temos, aquela pessoas acaba se tornando um centro de tudo que vivemos e a vida que construímos com ela é maior do que qualquer outra coisa que porventura venhamos a ter com outras pessoas, ou pode até ser parte de outra coisa maior que venhamos a ter, quem sabe?
Novos modelos de relacionamento não são o fim do relacionamento mas um passo em direção a evolução dele, não quer dizer que jogamos o amor e o respeito na lata do lixo, o oposto disso pois todos que eu conheço que seguem esse modelo (eu incluso) seguem em relacionamentos longevos e harmoniosos na medida do humanamente possível e não foi a abertura ou a liberdade sexual que pôs me risco a relação ou o amor, se isso aconteceu não foi culpa disso mas de causas já pré-existentes, como dizem, impérios não caem da noite para o dia, eles começas a ruir por dentro.
Acima de tudo, o importante é encontrar o modelo de relacionamento que funciona para você e para a pessoa ou pessoas que você quer ter a seu lado, o combinado não sai caro.
O que sai muito, mas muito caro, é ficar julgando e condenando uns aos outros, que eu saiba, ninguém sai ganhando com isso...
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Published on January 05, 2021 03:00

January 4, 2021

doismilevinteum

 

Olá, tudo bem?

Sou eu, doismilevinteum, sei que acabei de chegar mas precisamos bater um papo antes de começarmos de verdade nosso relacionamento que, você sabe, tem data e hora marcada para terminar, a gente vai ter pouco tempo para se acertar, bem provável que algumas coisas saiam bem e outra nem tanto e então, achei melhor te chamar para esclarecer algumas coisas.

Vamos lá e não me leve a mal se eu for direto ou sincero demais mas, doismilevinte antes de se aposentar me passou toda a ficha então achei por bem a gente ter uma conversa aberta e sincera, pode ser que outros anos não fizeram isso com você, somos meios complicados os anos, a gente age de forma bem peculiar, cada um de nós de um jeito ainda que façamos parte da mesma família mas, como eu disse, resolvi fazer algo diferente.

Bom, primeiro que não vou te prometer nada, mesmo você tendo pulado sete ondas, comido romã, lentilha, entupido o mar de oferenda, enfim, agradeço as boas vindas mas não posso te prometer nada, se doismilevinte foi ruim, bom, mais ou menos ou seja lá o que for eu mesmo não vou prometer mundos e fundos porque depois, lá no final, você vai reclamar que eu não cumpri nem metade do que 'prometi' sendo que eu mesmo não prometi nada, foi você quem prometeu e não cumpriu.

Vocês tem essa mania de empurrar tudo para o ano, como se a gente fosse resolver tudo num passe de mágica, não é assim, lamento dizer. Somos apenas um encadeado de dias atrelados a meses que engatam em nós, não somos nós que fazemos as merdas, são vocês e depois botam a culpa na gente para ficar de consciência limpa e poder fazer a mesma coisa com o ano seguinte.

Cansei de ir em festas onde alguns de meus irmãos eram tratados feito párias porque vocês falaram tão mal deles que acabaram pegando essa imagem de horríveis e os outros anos ficam olhando para eles de lado, cochichando, apontando os meses como se eles fossem culpados, anos tem sentimentos, mas isso parece não importar a vocês não é mesmo?

Doismilevinte é mais um que vai ser tratado assim, quando veio me passar o serviço, estava triste, ensimesmado, poucas vezes vi um ano tão acabado e olha que já tivemos anos bem ruins mas esse, coitado, disse que ia sumir por uns tempos, talvez não volte, é isso que acontece com anos que ficam com essa imagem. Enfim, só vim para dizer que eu vou fazer minha parte, meu trabalho, sabe? Aí só queria te pedir para fazer o seu e assim, quem sabe no fim de nosso relacionamento a gente não pode simplesmente dizer adeus e seguir em paz.

Pode parecer complicado mas não é, eu sei bem o que eu tenho de fazer e, sem querer me meter no que vocês precisam fazer mas, só desejando aconselhar para não acabarmos como o ano passado, vou dar umas dicas, vocês podem seguir ou não, sou apenas um ano, não sou dono de vocês mas, se vocês seguirem apenas uma parte delas, acho que daremos certo:

Não posso trazer saúde, isso é com vocês, se vocês tem pandemia e outras coisas não tenho culpa e se vocês preferem negar a realidade e agir como se tudo estivesse bem, não venham por a culpa em mim quando vocês começarem a morrer feito moscas, chorar os entes queridos e amigos que morreram porque vocês preferiram curtir as festas ao invés de ficar quietos em suas casas. Da mesma forma, a saúde de cada um de é responsabilidade de vocês, não minha então não adianta reclamar comigo porque você não se cuidaram e acharam que era tudo uma mentira, um exagero e que vacina é coisa de conspiração global e essas coisas, vocês fizeram a mesma coisa quando teve o HIV, pelo jeito não aprenderam foi nada mesmo.

Amor, ano não ama, ano não se apaixona, ano não tem disso porque não tem tempo para isso e também não pode ficar arranjando amor para vocês porque também não é de nossa alçada. Quer amor? Melhor procurar direito e se fazer amar, amar o outro como ama a si mesmos como disse um de vocês aí, sou apenas um ano, não sou cupido nem versado nessas coisas mas, se tem algo que nós anos sabemos é que o amor é algo simples que vocês insistem em complicar, por regra, cabresto, norma, contrato, petição, cor, modelo e por aí vai, não é bem assim então não vem me culpa porque eu não trouxe seu grande amor, se ele não veio é porque você não soube abrir os caminhos para isso, eu te deu doze meses para isso, mais do que suficiente.

Dinheiro. Ah, o dinheiro, esse é talvez o mais complicado. Vocês olham para nós como se fôssemos banco, caixa eletrônico, cornucópia, como se bastasse desejar e plim! Está aqui o dinheiro! Anos não usam dinheiro, não sabemos nem para que serve e vocês sempre pedem mais e mais, toda vez, ao invés de pedir outras coisas pedem dinheiro, a gente vem pegar o serviço com esperança de que vocês não vão pedir dinheiro mas, na virada, é dinheiro que vocês pedem além das outras coisas como se ele fosse o carro chefe que vai trazer o resto, más notícias, EU NÃO TRAGO DINHEIRO!

Paz. Não vou me estender nesse aqui porque vocês pedem isso todo ano e todo ano fazem o possível e o impossível para tornar a vida uns dos outros um inferno.

Sucesso. Leia o parágrafo acima DINHEIRO.

Acho que é isso, vamos começar nossa relação, vamos tentar nos dar bem, vamos tentar acertar as coisas dessa vez, eu cheguei novo e com disposição, meu antecessor fez seu trabalho da melhor forma que pode, não o culpem, ele pegou uma maré bem ruim, vamos ver se a gente pega algo melhor, não posso prometer nada como eu disse porque eu sou apenas um ano, tenho doze meses para fazer isso dar certo ou menos errado, se vocês tem alguma queixa com algum ano, sugiro reclamar com as décadas, se elas não resolverem, com os milênios e, se eles não resolverem, aí tem de ver com o Universo ou sei lá quem.

Eu vim novo, cheio de vontade para trabalhar com vocês mas precisava deixar essas coisas bem claras porque sinceramente, não quero chegar em 31/12 e ter DR com vocês, não mesmo! Não vim aqui para isso e se vocês começaram com essa ladainha toda a coisa vai azedar logo cedo e vocês podem acabar é com saudade de doismilevinte...

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Published on January 04, 2021 03:00

December 18, 2020

o tear

 



Acordou antes mesmo dos primeiros raios de sol resolverem trabalhar e isso sempre a confundia, não sabia se era um dia novo que iniciava ou apenas uma extensão do anterior o que, na verdade, lhe era indiferente.

Havia muito a fazer e assim, passou rápido um café, cortou uma fatia fina de pão no qual passou um pouco de manteiga que já ia meio desandando e depois, ficou ali uns momentos observando a manteiga penetrar nos pequenos furinhos do pão. Sempre passava a manteiga de forma que a fatia de pão ficasse uniformemente coberta, mas hoje, de forma acidental ou não, havia deixado um pequeno pedaço dela em uma das beiradas da fatia e agora, ela vagarosamente escorria por aquela parede de trigo.


Ficou ali observando aquele movimento moroso, a xícara de café soltando um vapor leve, o aroma era de café ou algo que parecia com isso, ela lembrava do cheiro do café e principalmente do gosto ou era do gosto e depois do cheiro, não sabia, só sabia que lembrava café. A manteiga finalmente percorreu toda a lateral da fatia de pão e se esparramou no pequeno prato que a acolhia, ela queria ser a manteiga mas a vida era uma fatia muito grande de pão.


Desjejum feito, lavou a pouca louça que usara e já com os primeiros indícios de trabalho solar foi-se para a sala onde o tear a aguardava em silêncio. Abriu as janelas, a claridade já começava a inundar o cômodo o que lhe permitiria trabalhar, essa época era boa, havia muita luz, diferente das outras, ela não lembrava os nomes, sabia apenas que numas fazia frio e noutras, muito calor, agora era algo no meio, ela queria ser uma estação mas a vida havia cancelado sua parada.


Olhou para o tear, o trabalho já ia adiantado, questão de mais o que? Um dia, pouco mais? Era uma encomenda boa, lhe traria alguns dividendos, o suficiente para alguns meses até pingar outro trabalho, não eram muitos, teares eram antigos, poucas pessoas sabiam manejar um, acabariam por desaparecer, ela queria desaparecer mas sempre acabava aparecendo de volta.


Esfregou as mãos no avental já carcomido por um sem fim de esfregadas, arfou de leve e sentou-se no banco em frente ao tear quando o sol finalmente despontava no horizonte. Ela queria ser um sol, se contentaria com uma lua, mas o universo era muito grande para ela.


Começou a tecer, era bom começar cedo, fazia o trabalho render, ela rendia muito, lembrava de um tempo em que tecia quase sem parar, o tear chegava a pedir arrego, ela chegou a vara noites tecendo mas não sabia ao certo quando fora isso, podia ser um sonho, talvez fosse, ela tecia há tanto tempo que até o tempo era apenas um fio a mais a ser tecido, ela queria ser o tempo mas ele era um fio muito grande para tecer em seu tear.


A manhã já ia alta, o trabalho rendia bem e ela resolveu fazer uma pausa para tomar um café e comer mais uma fatia de pão, almoçaria mais à tarde. Dessa vez não passou manteiga, apenas comeu o pão e bebeu meia xícara de café. Ficou alguns minutos olhando pela janela da cozinha, o tempo estava bom lá fora, talvez valesse uma caminhada para esticar as pernas, ela antes fazia isso mas não lembrava quando o fizera a última vez, tinha de acabar aquela peça o quanto antes, havia pressa na entrega mas o sol estava tão convidativo, ela queria caminhar mas os caminhos já não eram os mesmos há tempos.


Voltando ao tear, sentou-se e foi quando deu fé, pela primeira vez ao olhar para a barra do vestido que roçava gentilmente o chão, um pequeno fio que dela se desprendia. Mirou o fio por longos minutos, não com surpresa mas com interrogação, era de se esperar que houvesse já que o vestido vivera dias mais ilustres. Pensou em puxá-lo mas isso poderia desfazer toda a costura e sua era a responsabilidade de tecer e não o oposto, resolveu então deixar o fio quieto e voltou ao tear.


A tarde avançou rapidamente, a luz já ia fugindo quando ela parou seu trabalho, sim não tardaria a acabar e enquanto admirava seu trabalho lembrou-se do pequeno fio solto em sua saia. Olhou para baixo e talvez pela pouca luz ou cansaço das vistas, ela queria ver mas a visão era demais para tanto, o fio lhe parecia maior. Certamente que seus movimentos tecendo o haviam soltado mais, levou a mão até o fujão e fez menção de puxá-lo, mas, anos de tecelã lhe impediram de cometer crime tão hediondo e cansada, resolveu ir deitar-se.


No dia seguinte repetiu lá seu mesmo ritual e, quando sentou ante ao tear olhou para baixo, de certo que o fio deveria ter sumido já, impossível que ainda estivesse lá mas estava e agora, à luz do dia, não havia falha ou truque das vistas, estava mesmo maior. Abaixou-se e o pegou com uma das mãos, já formava um pequeno bolo, ela deveria cortá-lo ou mesmo tentar costurá-lo de volta mas para isso precisaria parar o trabalho e a data da entrega se aproximava além do mais, ela sentia-se cansada, mais do que ontem e do que antes, ela pouco se cansava, ela não queria descansar mas o cansaço era uma fatia de pão com manteiga demais sobre ela.


Deixou o fio para lá e voltou a tecer, nem mesmo fez pausa para café ou almoço, queria terminar logo, a entrega, era preciso respeitar os prazos, seu cansaço não importava, ela jamais havia atrasado uma entrega, seu tear era mais preciso que muitos relógios e seria possível acertar as datas do ano por suas entregas.


Quando o dia bateu seu ponto transferindo o turno para a noite, ela parou de tecer e, meio ressabiada, olhou para o chão, lá estava um pequeno monte de fios, já um pequeno novelo saindo de si, ela ensimesmada pensou em como poderia estar se desfazendo assim uma fazenda tão boa mas, ainda que fosse de qualidade, não há tal coisa que peite o tempo que acaba por desfazer tudo que é do bom e do melhor afinal, para ele isso não existe. Exausta, levantou-se e foi para a cama arrastando atrás de si aquele pequeno filhote de tecido, incapaz de lhe cortar o cordão umbilical por uma questão de princípios mais do que praticidade.


Acordou no dia seguinte com a luz do sol a lhe tocar as faces emprestando um calor há muito esquecido, chegou a pensar que sonhava com calores há tanto enterrados e olvidados mas a surpresa lhe pegou no pé pois se o sol lhe fazia carícias, o trabalho já estava então atrasado. Pulou da cama e sem café, pão ou manteiga foi-se ao tear mas sentia-se pesada, mais do que o peso do vestido, corpo ou alma que já fora tecida e costurada tantas vezes, olhou para trás e lá estava o novelo agora maior, já se poderia tecer um pequeno tapete dele, pegou-o nas mãos e indecisa e em susto, largou-o como se houvesse tocado algum leproso.


O dia corria já, era fazer repor o tempo perdido, ilusão pura mesmo que houvesse às mãos todo o tecido do mundo. Sentia as forças lhe faltarem mas era preciso tecer, cumprir a entrega, a clientela não podia esperar, ela sim.


No tear, o trabalho ia bem, pensava mesmo que era seu melhor trabalho em tempos, talvez o melhor de sua vida, se fosse seu legado, poderia ir-se em paz e ouviria do lado de lá os elogios e faces de espanto antes tamanha peça de arte, quem sabe gerações futuras não estudariam seu trabalho, não fosse usado como referência e padrão de qualidade para tecelões futuros se é que tal coisa existira no futuro mas, sempre haveria necessidade de tecelões fosse para tecer roupas, tapetes ou mesmo a delicada fábrica que unia em finos fios a trama da vida e, se não fosse para tecer, que fosse para remendar, tudo se rasga com o tempo e apenas mãos firmes e experientes sabiam como por de volta o que as intempéries cotidianas haviam rasgado.


Esses pensamentos lhe fizeram escorrer um fiozinho de suor frio pela testa e pelas faces, faltava tão pouco agora, era um tear bom aquele, estava ali desde sempre ou desde quando ela entendia o que era o sempre, brotou em sua mente uma lembrança meio embaçada de menina vendo mulher tecer, a vida era um tear, tecemos com nossas lágrimas o pano que nos servirá de mortalha, alguém lhe falara isso ou era um lembrança solta.


Olhou para o chão, o novelo que se soltava de sua saia já estava grande, se lhe faltasse fio poderia usá-lo para acabar a entrega mas fio havia, fio havia, ela tinha um bom estoque, estava segura mas, como a segurança é por si insegura, para apaziguar seu medo e satisfazer sua certeza, levantou-se e foi até onde guardava os fios arrastando atrás de si aquele pequenos animal de estimação felpudo.


Ao abrir o armário onde acomodava seus fios, quase foi ao chão, empalideceu de tal forma que a cera de velas tinham mais coloração que sua face, o armário estava vazio e a entrega seria no dia seguinte. Voltou ao tear arrastando dois pesos, o de sua decepção por não ter-se antecipado ao fato e o pequeno novelo que ia onde ela fosse.


Sentou-se em frente o tear, lá fora a tarde se espalhava por todo lado de forma preguiçosa, ela inspirou profundamente e desejou que a tarde ficasse ali mais tempo mas já ao longe as cores da noite começavam a comer em pequenos pedaços aquele resto de dia.


Desolada, não poderia cumprir com a entrega e lhe faltava tão pouco, um novelo bastaria, não mais. Como pudera ser tão descuidada? Uma vida dedicada assim ir ao fim, nunca lhe havia passado isso, agora deixaria como legado não elogios mas um nome que seria eternamente associado à inconstância e incompetência, seu tear seria vendido como bugiganga e não preservado como item histórico.


Suspirando levemente olhou para o chão, o novelo ainda estava lá, maior ainda ela pensou, como se não bastasse a desgraça de agora ainda tinha aquele atestado de sua incapacidade a lhe lamber as saias e então, em algum tipo de iluminação divina ou desespero, é difícil diferenciar ambos pois confunde-se muito, quando se pensa num é outro e vice-versa, teve ali a resposta de suas preces ou angústias.


Sacou o novelo do chão e o desfiou encaixando sua meada no tear. Com o olho, mediu a quantidade, haveria de ser o suficiente, não tinha também outra alternativa que não essa, preparada e determinada, começou a tecer pois a noite já se mudava e o dia seguinte iniciara sua jornada trazendo consigo a entrega.


E teceu a noite toda, horas a fio, com fio, fiando-se no tecido que dela saía, seu nome seria intocado, seu tear imaculado, seu trabalho reconhecido e sua técnica reverenciada. Ela seria alguém, não apenas um fio no tear mas o tear, nunca fizera outra coisa exceto tecer, tecera de tudo de tapetes a tapeçarias, a finas tramas que jamais entendera a serventia, de panos raros e caros, padronagens simples e das mais intricadas, seguira tecendo fosse na chuva, sol, neve ou seca, tecia de olhos fechados, muitas vezes com amor outras tantas com um sentimento menor mas tecia, a vida tecia junto mas ela não reconhecia a padronagem, tentava se encaixar na trama mas a vida sempre mudava o padrão, ela teve padrão mas não lembrava qual era, achava ter tecido fios com outros mas há tanto tempo que não sabia quais eram os fios usados, não lembrava bem deles apenas de seguir tecendo, dias, noites e sempre no prazo, isso era o mais importante, tecer é vida, tecer com arte de no prazo é arte em vida e se a arte imita a vida que dizer de sua tecelagens, não eram arte e vida? Não eram sua vida, não tecia sua vida para outros deixando que eles usassem sua vida tecida como proteção aos fios tortos que não sabiam tecer por si?


O dia chegou de mansinho, veio junto uma névoa suave que cobriu tudo dando às paragens aparência de algo imerso em líquido. Quando a névoa subiu e a luz morna finalmente tocou a terra, as pessoas começaram a sair para suas tarefas diárias, havia muito a entregar e o prazo é muito importante, o leite deve estar às portas cedo, os jornais idem, o comércio deve abrir suas portas e a vida deve ter seus prazos atendidos.


A entrega da encomenda foi respeitada, a peça de tecelagem era realmente única, foi um espanto geral ante tamanha qualidade e fineza do trabalho executado, uns diziam que não era algo terreno, que apenas os divinos poderiam ter concebido algo tão perfeito e belo, outros sussurravam que forças menos nobres pudessem estar envolvidas, uns tantos lhe achavam defeitos por motivos de inveja e amargura apenas, outros não deram atenção e a pessoa a quem era destinada a peça rompeu em prantos ante tamanha beleza, disse sentir uma injustiça que peça tão rara e única fosse de sua propriedade e decidiu por doá-la a comunidade, houve quem duvidasse de seus motivos mas a doação foi aceita mesmo assim.


O único consenso foi a dúvida sobre o paradeiro da artesã autora de tão magnífica peça.

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Published on December 18, 2020 03:00

December 17, 2020

pequenas lembranças aleatórias

 



O relato abaixo é real e se passou há muito tempo, quase igual ao preâmbulo de todos os filmes da saga Star Wars.

Estava solteiro, como não nasci para a clausura, buscava ocupar a vaga. O moço em questão, já havia cruzado comigo na noite em diferentes ocasiões mas, não o sabia surdo. Certa vez, estava na Vieira, no dia anterior ao G-Day Hopi Hari tomando meus gorós quando alguém chega em mim e diz: ‘Meu amigo quer te conhecer’, estando ele sozinho, ou o amigo era imaginário ou estava ele bêbado, destino ao qual me encaminhava à passos largos. Percebendo o ar de dúvida, apontou para um bar do outro lado da rua onde me encontrava, entendi que o moço estava lá e o segui até ele.

Chegamos, e não é que era o surdo que trocara olhares comigo tantas vezes antes? Ainda sem sabê-lo surdo disse oi e então, seu amigo (que ouvia muito bem) disse: ‘Ele é surdo’. Suspense, como se a revelação fosse o ultimo segredo de Fátima, tempos depois, entendi o porque quando, ao irmos numa boite com amigos dele e já o namorando, um desses amigos (também surdo e extremamente pegável) começou a trocar olhares com outro cara que, ao chegar nele e constatar sua surdez, deu-lhe meia dúzia de beijos para fazer tabela e, alegando o chamado da natureza, embarafustou clube adentro para nunca mais voltar. Fiquei chocado mas o rapaz que levou o fora assimilou bem e ainda me disse que era comum, que ele estava mais do que acostumado, eu não e ainda acho que foi uma das pires cenas que já vi.

Voltando a vaca surda, nos cumprimentamos e começamos a conversar ou o mais próximo disso dado que sou analfabeto de Libras e, encurtando, acabamos um na boca do outro, surdos são ótimos amantes, não perdem tempo com palavras ou aparências, dão valor ao toque e intuem tudo o que nós, falantes, dissimulamos entre as frases tornado o ato de ficar, gostar e amar algo complexo, jogatina e um absurdo de incompetência. Ao final, ele precisava ir e me disse que estaria no Hopi Hari no dia seguinte, nos despedimos calorosamente. Fiquei ansiando pelo dia seguinte, queria ir com ele mas respondeu já ter marcado com amigos e que nos encontraríamos lá.

Eu no parque louco atrás do moço, besta, não tinha marcado um lugar para nos encontrarmos e fiquei caçando o lugar todo por ele quando, finalmente, o vejo saindo do mesmo brinquedo em que eu acabar de andar. Para meu infortúnio, ele fez que não me viu quando tenho certeza de que o fez pois passei bem à sua frente mas, como nem mesmo fez menção de minha existência, esfriei meus ânimos e os cobri com desgosto deixando que o resto do dia se acabasse num amargo e triste fim.

Passou-se um tempo e nos reencontramos, dessa vez ele me viu. Veio falar comigo, desculpou-se, à época estava num relacionamento complicado e fora um erro alimentar minhas esperanças, estava livre agora e queria muito ficar comigo. Desacreditei, expus meus temores e rancores, ele ouviu calado (claro), só podia fazer mais desculpas as quais, ao fim de alguns drinks, aceitei. Se há fato mais verídico do que relacionamentos serem loterias, desconheço; porém, falhamos ao ler os sinais de que o prêmio se acabou e que precisamos voltar ao jogo.

Engatamos a coisa e conheci os amigos com quem ele dividia um apartamento, todos não surdos e muito simpáticos. Nesse dia, me contou já ter sido casado e ter um filho o que para mim nada mudou. Fomos nos afeiçoando, o sexo era fora do comum, fodemos com a boca, não com a genitália, a profusão de ais/uis e demais expressões inerentes ao sexo inexistiam ali dando lugar a um silêncio pornográfico e um sexo mudo mas arrisco dizer mais sentido do que o gritado entre unhas e dentes.

Conheci sua ex-mulher e seu filho, todos eram simpáticos e cheguei a apresentá-lo aos amigos pois a coisa ia séria. Fomos à uma festa de aniversário de um amigo dele e esta penso ter sido uma das experiências mais estranhas que já passei. Todos eram surdos, apenas eu ouvia; era uma festa, havia bebida, comida, pessoas conversando (em Libras, óbvio eu era o único que ouvia) mas não havia música e para que haveria? Porém, engana-se quem acha que eles por não ouvir, não sentem a música, quando íamos a boites, ele preferia ficar o mais próximo possível das caixas de som pois assim poderia sentir as vibrações da música e ‘ouví-la’ o que deve ter me custado alguns decibéis da audição.

Nessa festa, lembro do ar de surpresa quando ele me apresentou como seu namorado dizendo que eu escutava, incrédulos, me olhavam com um misto de surpresa e inveja do amigo que conseguira quebrar a barreira do som. Tudo ia bem e, como de praxe, tão bem que começou a azedar. Não emito julgamentos, não desejo isso para mim e nem tenho outorgado o direito de apontar o certo ou errado, cada um deve saber para si tais coisas e cuidar de sua vida, fosse sempre assim, o mundo seria um local agradável.

Não sei o que houve, pessoas são estranhas e reagem de formas absurdas ante os problemas da vida. Ele, vim a saber depois, passou a não cumprir suas obrigações para com os amigos que dividia moradia, descobri que seu filho usava por fraldas sacos de supermercado e que sua mulher ameaçava com a Justiça e guarda do filho, tudo culminou com uma ligação de seus amigos dizendo que ele sumira da noite para o dia levando o que podia do apartamento incluso alguma grana dos moradores e pertences menores dos mesmos.

Desabei, creio mesmo que seus amigos meio que desconfiaram se eu não o acobertava mas, acho que fui sincero o suficiente quando os encontrei e puderam ler em minha face a desolação do amor quebrado e convertido em drama. Não havia explicação possível ou plausível e as revelações do parágrafo acima se deram quando estes amigos dele me confrontaram. Saí de lá desolado e com a promessa de que caso ele fizesse contato, os avisaria pois eles pensavam mesmo em por a policia atrás dele se tivessem o cheiro de seu paradeiro.

Cai em mim e notei que além do desfalque na casa, sofrera eu um: relógio que gostava muito e que antes de sua evaporação lhe emprestara com juras de amor. Recriminei minha inocência sentimentalóide e assumi o prejuízo. Dias se passaram e recebo uma ligação dele (através de um amigo), estava no sul do país e viria a SP, queria me ver, devolver o relógio. Hesitei, não queria mais vê-lo, que ficasse com as horas que me roubara, as marcasse no objeto furtado mas, resquícios do amor falaram mais alto e cedi marcando dia e hora para encontrá-lo e tentar por senso em naquela comédia toda errada.

Fui ao encontro, não avisei aos amigos que o veria a pedido dele mesmo pois lhe dissera que lhe poriam a ferros se o vissem. Nos encontramos em Santana, rapidamente, não me lembro se houve alguma explicação, se houve a sublimei com o fato de que não teríamos mais nada. Acho que houve um pedido de desculpas, o relógio me foi devolvido e antes de nos despedirmos lembro-me de lhe ter dito que o gostava demais.

Acho que ele também pois seu ar era de devastação, não precisava ser surdo para fazer o silencio que seguiu. Ele foi embora e eu segui meu rumo, acabei falando aos amigos enganados que o vira o que serviu apenas para cortar nossos laços já frágeis, não acreditaram ou aceitarem que não os tivesse avisado sobre o encontro.

Nunca mais o vi.





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Published on December 17, 2020 03:00

December 16, 2020

até que ela nos separe...ou una a todos...

 



Mais dia, ou menos dele, vamos todos bater as contas com a ceifadora. Fato.


É de nossa cultura, genético arrisco, vendermos tudo e todos a quem for para nos comprar aqui mais algumas horas, unhas e dentes atracados a isso que chamamos vida, essa bosta colorida que nos cega os sentidos e empanturra mais e mais e, mesmo assim, não fechamos a boca nem fazemos menção de largar o prato ainda que este possa se mostrar vazio ou, se você é desses, meio cheio, tomarnocu, viu?


Nem eu quero sair dessa pra melhor, meu chapa! E olha que nem creio assim nos portões de San Pietro ou nas labaredas sem fim de Mefistófeles ainda que acredite em conceitos meio que vagos de bem/mal. Mas, o peso que a morte nos faz carregar é demasiado, vai longe mesmo do valor da vida e nos faz esquecê-lo pensando apenas na hora final seja de forma direta ou indireta.


Trabalho quase utópico esse de nos fazer encarar a hora ruim com mais tranquilidade e adotar o fim como parte do começo mas, um dia há que se conseguir. Eu tento cá, do meu jeito, uns dias mais, outros menos e vou levando assim sabendo que cada dia deixado para trás e mais a frente para me deixar frente a frente com a juíza final. Nem sei como vou lhe olhar nos olhos descarnados, mais um problema, pintamos a morte de forma sempre horrenda e grotesca, embutimos medo em sua concepção e imagem sendo que nem mesmo temos como saber como ela é, se é e como vem nos buscar mas, como ante o desconhecido e mais fácil satanizar do que harmonizar, vamos indo aí com esse medo genético e hereditário de morar a sete palmos nesse último latifúndio (a parte que nos cabe de fato, ninguém tasca!).


Sempre fui avesso aos rituais mortuários, velórios e afins sempre me pareceram um séquito de sofrimento engajado em lhe fazer não esquecer a dor e não lhe deixar esquecer de seu destino certo mas, como todo resto de nossas vidas, é uma fase e como tal precisa de seus ritos de passagem e assimilação coisa que estamos paulatinamente ‘matando’ (não resisti) quando cremamos os corpos de forma rápida ou os enterramos com cada vez mais celeridade, impessoalidade e de forma a acabar com tudo aquilo o quanto antes o que é compreensível pois queremos é mesmo escapar da dor o mais breve possível.


Não podemos ignorar a morte mas, podemos meio que apagar sua passagem e deixá-la com área de parte da paisagem urbana desonerando seu caráter definitivo. Assim, cremamos os corpos para não termos mais que ir aos cemitérios nos lembrar menos dos mortos e mais de que nós mesmos vamos estar ali um dia, fazemos túmulos planos, esteticamente modernos e que mais parecem lajotas em um calçadão do que jazigos grandiosos, vá lá, opulência pura para deixar claro que nem a morte pode quebrar a diferença de classes mas, deixamos tudo com um grau de asceticismo que beira o esquecimento.


Nossa memória dos mortos vai, no máximo, até o sétimo dia e o que antes era prática comum, hoje se limita a uma pequena parte do jornal onde se pode ler as odes ao que se foram, costume antigo e, creio que, ainda perpetuado por um pequeno numero de pessoas ainda apegadas às tradições mais clássicas, desconsidero o que se faz como homenagem póstuma em redes sociais, acho macabro pois fica lá é pra sempre, como se o morto pudesse curtir ou comentar de um facebook do além, cruz credo! Ao menos no jornal é naquele dia e pronto, acabou!


Antes, velava-se os defuntos em casa pois eram familiares e lugar deles é em casa, onde todos se reuniam para prestar as ultima homenagens ao falecido e acabava mesmo com ares de festa mortuária o que entendo ser legal pois antes comemorar o que houve de bom com aquele que se foi do que lamentar sua agora eterna ausência fazendo da vida dos que ficam um inferno oco e sem gosto. Claro, fácil falar, fazer é que são elas mas, enfim, apressamos tudo na vida sem saber que isso só nos põe mais próximo das mãos da morte e acabamos assim apressando ela em seu rituais para que passe logo e possamos colocar terra sobre ela, abafando os sentimentos apenas para cobri-los depois com camadas e mais camadas de antidepressivos.


Lidar com a morte, clichê, faz parte da vida, seu moço! Esse ritual todo, ainda que doloroso pois nos arrancou alguém que gostávamos, precisa ter seu tempo respeitado e processado de acordo, sem pressa, sem velocidade para que acabe logo, fuga dos momentos ruins como se vida fosse feita apenas de momentos doces. Do jeito que a coisa vai, acabaremos tendo é a morte sem os mortos.


Não quero morrer que não sou tatu mas, quando vier a hora, quero mais é que os que ficam façam uma festa e bebam meu corpo oco, festejam o que vivemos juntos e não o que não viveremos mais, quero sim os choros dos que me amam mas não pela minha ausência e sim pela doce lembrança de que passei por suas vidas, as marquei de alguma forma e os fiz feliz ainda que por míseros segundos.


Façam isso por mim, eu mesmo estarei é morto e disso tudo pouco vou aproveitar mesmo.


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Published on December 16, 2020 03:00

December 15, 2020

do que se pode ou não tocar e sentir (as mesmas coisas?)

 



Existem coisas palpáveis, tangíveis, possíveis, comungando realidade ainda que esta seja algo por demais subjetiva posto que cada um a experimenta com base em seus próprios valores, bagagem, vivencia, sentido e sentimento (não confundir); o real daqui pode ser imaginário aí e vale o oposto, oxalá fossemos todos menos real e mais onírico, feitos de pó de estrela, luz morta-viva de uma galáxia distante, renascida em cada gene mudo que não grita por não deixarmos que o faça e assim, abrir as portas de um mundo mais de gente e menos pseudo-pessoas.

E existe isso, essa coisa cegamudasurda que descarece desses sentidos cinco para fazer-se aqui, algo maior e que depende tanto de atos menores, simples, ínfimos, micro, nano. Mas ímãs que somos, ao invés de grudar o que presta, atuamos nos polos opostos afastando o que se deve e aproximando o que não presta, sina certa da raça, buscar o que sempre esteve na mão achando-o anos-luz distante apenas para na hora sem volta arreganhar bocas e olhos para a verdade quando ela ri de nossa cara ante o tempo perdido.

Mudar? Fácil demais, sim, é, basta pouco, um gesto, um ato(mo), um segundo, milésimo, um oi, olá, te amo, saudades e quero te ver e, um pouco mais de esforço, nada demais, só um pouco mais de boa vontade, de querer mesmo, e essas palavras tomam carne, membros e troncos, abraços, beijos, mãos e olhos. Então, sugiro que no ano próximo que de novo só tem o nome, façamos por merecer essas palavras em vida, em hóstia sacramentada, louvada, transubstanciada, metafisicadeada, empurrando goela abaixo de alguns dos 365 dias modorrentos que seguirão a certeza de que amamos quem nos ama e que desejamos mais proximidade dos que estimamos.

Deixemos as palavras para os léxicos, para os políticos, para as novelas e para nós escritores que sabemos seu real valor, que elas sejam veiculo de trazer para cá, para dentro, para os (a)braços seus, meus, nossos e vossos que são amigos amados e que as lembranças trazem cada vez que conclamadas um gosto doce na boca, um ar novo ao sangue, um olhar de dias melhores, de tempos mais lindos, mais de tudo ainda que seja do mesmo se esse mesmo for com as pessoas certas; não é tédio, nem aborrecido quando à volta estamos com quem conta.

Saiamos mais de nossos trinômios ou equações sem solução para buscar um no outro o ‘x’ da questão, em nós mesmos pouco resolve se a adição depende de mais um e nunca menos um ainda que preciso é ser inteiro mas esse inteiro só faz ser quando agregado aos demais. Por isso mesmo quero mais de todos vocês no ano que vem, vem vindo, chegando, sorrateiro, matreiro, esperto, de faca na mão para dar o golpe de misericórdia no agonizante, cansado, de guerra e nós de batalha.

Prometer? Nunca, não vou pois promessa é divida e dessas já estou cheio das que nunca paguei mas, fica o esforço cimentado de que arrancarei a pele dos ossos para ser mais a vocês e que vocês sejam mais a mim, sem cobrar nada que amizade não é agiota nem cheque especial ou cartão. Tudo se vai de uma forma muito fácil e rápida, meus caros, olho para o lado e vejo gente que não é mais ou que foi um dia e hoje é menos que uma sombra platonesca na vida enquanto eu, do lado de cá da caverna, não sei como trazer de volta para a vida iluminada aqui fora e, nesses momentos, em fato, não há que se fazer muito além de estender a mão, ombro e dar a quem precisa paciência, amor, um afago e aquele sorriso legendado ‘eu sei, eu sei’.

Fantoches de nós mesmos, cortemos as cordas e apontando o dedo ao pupeteiro feito aquele passarinho gritemos ‘Nunca mais!’. Antes que a terra e o universo nos repossua, sejamos felizes, é simples, fácil, nada custa e nem dá assim tanto trabalho, nós é que gostamos de complicar.
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Published on December 15, 2020 03:00

December 14, 2020

d(ê) passagem

 


A viagem é feita de tempo onde os caminhos se cruzam de forma que nos parece aleatória mas, em verdade, tecem tramas delicadas entre nossas vidas engendrando momentos que perduram em sorrisos leves e olhares vagos, daqueles perdidos ao longe na ânsia de trazer de volta aquele tesouro que foi e que vive apenas mornamente acolhido em nossas lembranças.


Talvez o alicerce seja feito dos sonhos que morreram, não dos que nem mesmo deram o primeiro ar no mundo, mas daqueles que o fizeram e feito chama mágica arderam numa supernova, os melhores pois a beleza decaí e restam apenas os cacos para rememorar seus feitos gloriosos. Passamos o resto e o fim da vida tentando colar de volta esses pequenos pedaços de luz, vã tentativa de recompor o caleidoscópio original, ficamos mirando luzes distorcidas tentando identificar nelas aquele amor há tanto ido, aqueles dias perfeitos, aqueles momentos saídos do forno.


Não, esses que ardem vezes mais forte e se consomem em menos da metade do tempo são os que efetivamente deixam as marcas, as rugas, as cicatrizes que mesmo depois de curadas ainda formigam emulando o ferimento original. Se temos algo que deve fenecer são esses sonhos, melhor que vê-los viver para tornarem-se paródias de si e de nós, velemos então esses mortos e os bebamos, que a angústia não seja de perdê-los, mas de tê-los sentido tanto e, sob a pele, ter-nos imiscuído deles.


Eu temo o meu caminho, principalmente quando me desvio dele não por medo de me perder, mas pela sensação apavorante de conhecer outros, onde poderiam me levar e retornar ao meu velho conhecido eu sentindo que seus buracos são mais fundos do que pensei e pior, foram cavados por mim. A insatisfação gerada gesta em meu ventre alimentada pelos lenitivos artificiais, até quando, eu não sei.


Quando voltei ao meu caminho hoje, havia um mal-estar, uma sensação ruim e percebi que havia enterrado parte de meus sonhos, entristeci e ainda me encontro, julgo, velando, mas de rabo de olho eu vejo que o rei morto já possui a seu lado rei posto, aguardando respeitosamente que se desça ao solo o falecido para sentar em mim feito trono e demandar que faça o que devo fazer, seja o que tenho de ser e siga onde devo ir.


E então, aquele sorriso delicado que falei no começo aparece, converte o choro de triste em saudoso e move meus olhos para o horizonte, aquele lugar que insiste em me enviar sonhos e mais sonhos reis, queira eu ou não.


Nesse quesito meu querer vale quase nada, me resta ser súdito, fazer reverência e dizer 'Amém!'.

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Published on December 14, 2020 03:00

December 11, 2020

só por hoje...

 



Só por hoje quero que você me respeite.

Quero que não faça aquelas piadinhas sem graça e estúpidas sobre gays, que não use o diminutivo para enfatizar inferioridade ou fraqueza, que não me associe aos estereótipos distorcidos que a sociedade e a mídia não cansam de reforçar todos os dias.

Quero que você deixe de lado sua religião e me trate realmente como seu irmão, que você não use a palavra opção pois não optei por nada sou assim desde o útero, desde sempre. Quero que você pare de me odiar e por vinte e quatro horas ao menos tente me amar, quero que você pare de me julgar e passe a me apoiar, quero que você para de me agredir e passe a me abraçar, quero que você me trate como gostaria de ser tratado.

Quero que você abra sua mente e seu coração para a verdade universal de que somos tão pequenos e tão raros que nada justifica gastarmos o pouco tempo que temos demolindo um ao outro, caçando um ao outro, denegrindo um ao outro, matando um ao outro. Apenas por um dia poderíamos tentar viver em paz.

Quero que você abrace a diferença e esqueça a igualdade, não somos iguais, jamais seremos e isso é bom, é saudável e devemos celebrar. Não afaste de si o que não entende pois já entendemos tão pouco, não feche as portas na cara da vida, não promova uma linha reta quando somos feitos de caminhos tortuosos que se cruzam inúmeras vezes, seguir assim é solitário e nenhum de nós foi feito para andar sozinho.

Quero que você enxergue além das cores do arco-íris, entre as sete cores existem tantos outros tons que fogem a nossa percepção, tantos amores que escapam nossa afeição, o olho humano foi condicionado a não perceber tudo isso mas nosso espírito possui sim essa capacidade, nós apenas o deixamos nas sombras brincando com chamas bruxuleantes, a luz cega e machuca mas se a deixamos entrar não restará um canto que ela não banhe e traga para si.

Quero que você me dê sua mão, não precisa dizer nada, basta me dar a mão e me olhar nos olhos, eu entenderei. Quero que você veja além do sexo e de sua expressão, que não deixe a carne ditar como tratar esse irmão, que não deixe o leito ser a moeda que define nossa transação, que não deixe a genitália dizer o que deve fazer o coração, que entenda que meu sangue tem o mesmo tom vermelho que o seu e meus cortes sangram exatamente como os que lhe farão.

Quero que você tenha orgulho por ser meu amigo, meu pai, minha mãe, meu irmão, por trabalhar comigo, por estudar comigo, por estar ao meu lado, por viver comigo, por respirar o mesmo ar, por bebermos a mesma água, por estarmos aqui e agora onde tudo é possível e tudo pode acontecer, que chance de fazermos o bem e sermos mais de nós mesmos e podermos olhar um para o outro e saber que está tudo bem, que o futuro é um campo aberto e as sementes estão em nossas mãos.

Só por hoje, que me diz? Vamos tentar com afinco, são apenas vinte e quatro horas, passa rápido e quem sabe amanhã você pode querer mais vinte e quatro e depois disso mais outras vinte e quatro até não precisemos mais dos relógios para medir o tempo que precisamos nos amar, entender e respeitar.

Mas se não der, tudo bem, eu entendo, não se preocupe. Guardarei comigo estas vinte e quatro horas com carinho confiante de que um dia poderemos usá-las de novo.
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Published on December 11, 2020 03:00