Alexandre Willer's Blog, page 11

November 9, 2020

polos

 


A gente sai comemorando a derrota do déspota americano e esperançoso de que em 2022 nos livremos do nosso, fazemos memes, piadas, gritamos palavras de ordem e sentimos finalmente uma lufada de brisa de esperança como se nunca tivéssemos respirado isso antes.

Não estou criticando, acho que deve sim ser comemorado o fato de uma potência mundial ter eleito um presidente que, até onde se sabe, tem a cabeça no lugar e não é um pequeno ditador disfarçado de democracia. O que mais me preocupa e entristece (e me coloco no saco junto com o resto da farinha) é como estamos perdendo a passos largos a capacidade de diálogo, de debate, de conversar, de ouvir, de analisar, entender e compreender uns aos outros.

Longe de mim defender os que discursam pelo ódio, preconceito, intolerância e que merecem sim uma mordaça tanto física quanto moral por tais barbaridades mas, estamos nos cancelando numa velocidade tão insana que deixamos de lado a razão, a compreensão e a abertura para o diálogo e debate e que são características que nos tornam humanos por excelência. Abolimos o que pensa diferente de nós e preferimos debater apenas com as ideias que são parecidas ou alinhadas com as nossas, qual o ganho disso? Estamos pregando para convertidos, para nosso pequeno séquito, somos pastores de nós mesmos e onde está o crescimento nisso?

Reforço que não defendo o diálogo com pessoas que aberta e claramente flertam com ideias fascistas e que disseminam o ódio e a violência, com gente assim não há diálogo possível mas estamos fechando tanto a abertura que praticamente nada consegue passar e isso é um risco iminente para a estagnação, nenhuma ideologia ou grupo de ideias sobrevive muito tempo sem arestas, sem contestação, sem algo ou alguém que provoque reflexões profundas e até desconfortáveis mas, no século dos extremos que vivemos, estamos todos agindo como absolutistas, ou você está comigo ou está contra mim e achamos que temos toda a razão.

Perdemos a arte do diálogo entre mensagens de whats e postagens nas redes sociais, não sabemos mais conversar com outras pessoas se elas pensam diferentemente de nós, tem outros valores ou ideais, não importa de qual lado estejamos, passamos a encarar o outro com desdém e com raiva, como inimigo mortal e quando ele abre a boca tapamos os ouvidos porque nada do que ele possa dizer vale a pena ser ouvido ou debatido, somos reféns de nós mesmos e de nossas convicções.

Então, quando qualquer assunto esquenta e necessita de mais diálogo e conversa, não fazemos isso, partimos ao ataque e humilhação do outro, do ponto de vista do outro, ele é o mal, o erro, a caixa fora do tom, a nota fora do ritmo mas, se todos tocamos a mesma nota, que música estamos fazendo? Nunca a frase 'o inferno são os outros' me pareceu tão real, enxergamos o outro como a palavra do mal encarnada incapazes de sequer tentar entender a visão de mundo que o permeia e compele, que carrega, que foi imbuída em si e não há engano, todo excesso é nocivo, não importa de que lado venha, o excesso mata não apenas o corpo mas a mente e a sociedade e vivemos há um bom tempo no excesso do excesso sendo a arena política a principal onde jogamos todas as nossas angústias, frustrações, medos, raivas e paixões desenfreadas.

A polarização política foi o estopim para outras que dormiam sob fogo brando, nela pudemos colocar toda a nossa raiva do outro, uns nos outros pelos simples fato de pensarmos diferente, não concordarmos, maximizamos as diferenças porque elas nos fazem sentir vivos e dão menos trabalho do que tentar ouvir, conversar e dialogar, mais fácil atacar, cancelar, exilar e expulsar e ter a vida em grupos que nos aceitam e sempre dizem que estamos certos.

Não evoluímos como espécie assim muito pelo contrário, todas vezes que nos deixamos levar por esse tipo de comportamento a desgraça se abateu sobre nós implacável mas, parece que pouco aprendemos e seguimos insistindo nos mesmos erros, eu incluso. Parece que nos tornamos pequenas bolhas de sabão flutuando e que, ao esbarrar umas nas outras, ao invés de nos fundirmos em outra maior, simplesmente explodimos e deixamos de existir.

Seguindo assim, seremos uma raça polarizada realmente com dois grupos distintos vivendo em pólos distantes, incomunicáveis e que se odeiam no melhor estilo 1984.

Orwell estava certo.

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Published on November 09, 2020 04:42

November 4, 2020

ainda há algo para ser sentido

 



Tenho pensado no sentir e na maneira como ele parece, ao menos para mim, ter uma intensidade maior conforme o tempo vai passando. Talvez seja apenas a ansiedade falando, quem luta contra ela sabe como é essa batalha diária, um dia você vence, noutro ela mas quase sempre ela sai ganhando.
O sentir é um buraco de onde tiramos terra só para colocar dentro de volta, não há sentimento de vazio apenas de momento vazio enquanto esvaziamos para encher de volta com muito mais coisas do que havia antes desafiando as leis da física as quais, se confrontadas com o sentir, põe o rabo no meio das pernas.
Talvez o passar dos anos cause um acúmulo de sentimentos, já idos, presente e a incerteza dos sentimentos futuros quando comparados com o fator tempo que vai sendo consumido muito mais rapidamente ou, talvez, seja apenas uma impressão vaga. Quando jovens, o tempo parece não passar, há toda uma pressa de atingir a maturidade e independência como se fôssemos automaticamente nos tornar amos e senhores de tudo e todos, engano besta, na juventude o tempo passa mais lento porque não sabemos medir, não temos as ferramentas adultas que passam a gerir nosso tempo nem as responsabilidade que nos atam aos nós da vida e que passam a devorar nossos dias com voracidade e, depois de certa idade, temos a exata noção do tempo e de como ele foge de nós de forma inevitável feito aquele cenoura que se estende a frente do bicho para fazer ele puxar a carroça e que jamais será alcançada, claro está quem é a cenoura e quem é o animal.
Há urgência em sentir porque o tempo aumenta exponencialmente essa necessidade de sentir tudo ao mesmo tempo, não mais paramos para nos deleitar com momentos, pressa, isso sim temos de sobra porque se perdemos de sentir algo aqui ou ali, jamais voltaremos a sentir de novo aquela mesma coisa nas mesmas condições. Depois de adultos somos criaturas do passado, o futuro nos apavora porque começamos a entender que boa parte dele de dará sem nós e tudo que sentimos ou poderíamos sentir será diluído nas barbas do tempo que são infinitas.
Essa é a pressa que eu ao menos tenho, cheia de medos e sentimentos que não terei e vivo dos que já tive, requentados, reaquecidos e revividos como algum tipo de futuro distópico de mim mesmo, uma alegoria de vida que está sem mim no amanhã e que no hoje vive uma pantomima ridícula e sem sentido só restando reencenar o passado para dar tempero ao presente.
Eu senti o ontem para viver o hoje e temer o amanhã...

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Published on November 04, 2020 03:00

November 3, 2020

o luto, esse amigo

 



Ontem, finados.
O luto, esse amigo que chega sem avisar, sem prévia, sem convite, sem pedir licença, sem mais nem menos, sabemos que ele vai chegar, só não sabemos como e, ainda que algumas vezes possamos sentir sua presença se acercando feito um tipo de mão invisível que vai aos poucos nos roubando a vida, nunca sabemos ao certo quando ele vai se fazer presente o que nos deixa num esgar de ansiedade eterna para que ele chegue e logo vá embora.
O luto rouba nós de nós mesmos, primeiro nos rouba a mente, esvazia tudo que lá está e ocupa todo o espaço dela pois o luto é espaçoso, pode até parecer pequeno por fora mas é imenso por dentro. Depois nos rouba os sentidos, todos, desliga as conexões e nos deixa em algum tipo de modo avião, em seguida rouba nossa voz, nossa palavra, troca por gemidos, urros ou berros ou também por um lamentar silencioso que pode não ferir o mundo do lado de fora mas corrói tudo por dentro.
O luto não leva apenas quem ele veio buscar, leva a cada visita um pedaço de nós, como se fosse um tipo de taxa, tributo ou pedágio que precisamos pagar por sua passagem, nós o hospedamos mas quem paga por essa estadia somos nós, não ele. O que o luto deixa é uma dívida que não poderá ser saldada e vai só aumentando conforme ele presta novas visitas até que ele vem visitar é a gente mesmo e aí, a conta fecha, fica sem troco e tudo certo, nada pendente.
Mas o luto não é só tristeza ainda que sintamos por ele acima de tudo isso e também raiva, ódio e asco, sem sentido, ele apenas faz seu trabalho assim como a vida fez o dela, parece que logo ao ganharmos vida, ela passa a ser administrada pelo luto que vai contando as horas para sua chegada, a vida já sai de cena ocupada demais em gerar mais vidas para que o luto as administre. A tristeza que acompanha o luto é compreensível mas há alegria por mais absurdo que isso possa parecer, a alegria de termos a chance de perceber que estamos vivos, que a fragilidade da vida é inquestionável, que perdemos tempo demais com coisas que valem de menos e que o amanhã, o segundo seguinte, pode ser algo muito, muito precioso.
Com o luto temos a noção de encerramento, de que a finitude é o ápice da condição humana e que a vida é algo raro e belo, de uma simplicidade única feita problema por nossa inata inabilidade de lidar com ela. O luto não nos faz sofrer porque assim deseja mas porque assim precisa para tentar fazer com que tenhamos o entendimento de que somos filhos do luto e não da vida, ela pode ter nos parido mas é o luto que nos criou, nos fez gente e vem coletar quando a missão é finda. O luto é nosso pai e nossa mãe, ele nos ensina, nos educa mas ainda assim, insistimos em lhe virar a cara, cuspir na testa e renegar.
Talvez, se aceitássemos e entendêssemos melhor o luto, pudéssemos viver vidas menos enlutadas pelo medo de nunca ter feito o bastante, amado o suficiente ou vivido plenamente, coisas que são intangíveis e inimagináveis pois não vivemos além do que precisamos ou foi programado e realizemos tanto quanto nos é permitido pelo luto que vai mostrando, em seus ensinamentos, como é importante fazer mais e temer menos.
O luto, esse amigo, não vai parar de nos visitar, quem sabe se não passamos talvez não a celebrá-lo que isso é demais para simples humanos mas, puxar uma cadeira, passar um café de deixar que ele nos console a dor e o pranto.

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Published on November 03, 2020 03:00

October 30, 2020

brincando de presidente

 


Eu nasci gay graças a todas a forças do universo e, se existe algum tipo de reencarnação, voltarei ainda mais gay porque voltar hétero e escroto como o nosso 'presidente' é praga que nenhuma alma merece, melhor ir logo arder nos fogos eternos do inferno seja ele qual for.
Não temos um presidente, temos um comediante medíocre que segue um repertório datado e que surte efeito apenas para seus convertidos, uma plateia de mortos-vivos que se apegam a um modelo de sociedade cambaleante e moribundo com unhas postiças e dentes moles de forma histriônica e violenta pois sabem que seu mundo está com os dias contados e esse tipo de governo é um suspiro, um vento adicional para seus pulmões caquéticos e cheios de poeira histórica.
Bolsonaro é um palhaço cansado, maquiagem borrada pelo tempo num picadeiro roído pelas traças da história, só consegue arrancar risos de seu público quando reforça as mesmas piadas que passam de geração a geração nas mesas de festas de fim de ano familiares, festas de firma quando as gravatas foram parar nas testas e os sapatos nas mãos, churrascos que reúnem parentes que se veem em ocasiões especiais apenas para perguntar sobre as namoradinhas, namoradinhos, dizer que a sobrinha está ficando um mulherão, o sobrinho está ficando meio boiola, é pavê ou pra cumê, mulher minha não faz isso, vira homem porra enquanto as carnes vão assando além do ponto na grelha junto com as aspirações de uma sociedade que perdeu seu caminho e, desesperada, voltou-se para um mascate piadista de quinta categoria.
Bolsonaro não virou boiola por causa do guaraná, ele não pode virar gay porque não aguentaria um dia sequer como gay, trans, bi, queer ou qualquer um de nós, não duraria cinco minutos como um de nós porque ser LGBTQ no Brasil é sobreviver todo santo dia, não é matar um leão mas fazer de tudo para não ser morto por ele a cada minuto. Bolsonaro não saberia ser gay nem se quisesse, ele não tem capacidade para entender qualquer vivência fora de seu picadeiro de piadas exauridas, se passasse um dia, minutos que fosse, pediria arrego, choraria feito uma criança e pediria colo, desculpas, sumiria para qualquer buraco fundo e nunca mais daria as caras no mundo. Não poderia jamais 'virar boiola' porque não sobreviveria a uma vida gay, para ele ser gay é isso, virar algo que não é normal, um interruptor que podemos ligar e desligar ao nosso prazer, faz troça da gente porque em seu mundo binário, rígido e severo, não pode haver nada que não seja macho alfa forte dominante e zeloso de sua masculinidade, padrões de rosa e azul sem meios termos.
Bolsonaro faz piada com a gente porque essa é a única maneira de lidar com seu pavor de que sejamos humanos, gente, cidadãos e que tenha de nos tratar como tal. Para ele, 'virar boiola', 'jogar água fora da bacia' e todo repertório de piadas infantis e imbecilóides faz sentido enquanto patrono dos tiozões país afora de chinelo Raider, short de tactel, óculos na ponta do nariz e celular na mão, camiseta de time para completar o clichê. Como não pode fuzilar todos nós ou colocar num campo, faz piada porque fazer piada é humilhar o outro, diminuir, fazer dele uma não-pessoa, com seu discurso burlesco grotesco, incita que o assédio e humilhação sigam em frente porque, se o chefe pode, eu também posso e assim, dá-lhe mais e mais crianças, adolescente e adultos tendo se passar por humilhações diárias pelo simples fato de serem e existirem.
Para Bolsonaro, a presidência não é um cargo, uma responsabilidade mas o recreio da escola, a turma do fundão, governar o país por quatro anos é, para ele, um eterno churrasco de família onde ele pode, sem medo de represálias, falar suas asneiras e atrocidades enquanto a nossa carne vai assando lentamente sob o fogo de seu fascismo ardente.

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Published on October 30, 2020 05:31

October 8, 2020

a arte de dizer adeus

 


Desde que saímos do útero somos ensinados senão adestrados sobre e para um zilhão de coisas desde as mais simples até as mais complexas, das mais cordiais e corretas até as menos edificantes e vexatórias. Pode-se discutir sem fim se o resultado disso é genético herdado de gerações antes de nós ou se, aliado a esse mesmo fator, o ambiente e como somos adestrados afeta o final da equação.


Uso o termo adestrado pois criado me parece meio falso já que criar ao menos a mim implica realmente gerar algo onde antes nada havia ou se havia era uma cacofonia disforme incapaz de um rumo ou sentido. Assim, entendo que adestrados soa mais adequado já que, apesar de alguma parte de nós ser nossa mesmo independente do meio ou outras circunstâncias, recebemos o que nossos pais entendem ser o melhor treinamento possível para enfrentar depois as mazelas da vida e, nessa receita não há ingredientes certos ainda que existam cartilhas aos borbotões tentando ensinar como fazer isso do modo mais correto quanto possível a aí, entram os modismos e conceitos novos que mudam como as dietas das celebridades.

Em certos momentos divago sobre o que resultou do experimento que meus pais fizeram e constato que apesar das falhas, sejam elas de fábrica ou adquiridas no percurso por mim mesmo ou como resultado de um adestramento equivocado, o resultado acabou sendo bem satisfatório o que é mais do que se pode dizer de muitas pessoas por aí.

Enfim, voltando ao que motivou esse texto, somos adestrados sobre muitas coisas mas vejo uma falha incomensurável em todo esse treinamento, não somos em absoluto treinados para as despedidas sejam elas de qualquer tipo. Nunca nos prepararam para dizer adeus ou simples até logo, não fomos programados para esse ato de desapegar o que entendo ser uma falha irremediável e irreparável.

Não desejo intuir que a despedida deve ser encarada levianamente ou de forma fria e corriqueira mas, se fôssemos desde tenros anos treinados para lidar com ela, creio que teríamos muito menos problemas quando dela nos acercamos pois quando isso chega o sentimento em geral é de vácuo, perdidos no espaço entre os espaços tateando por sobre escombros afiados que vão aos poucos lascando pedaços de vida que levamos tanto tempo para erguer restando, no final do processo, uma porcelana trincada e de valor duvidoso.

Sempre adiamos o despedir ou o antecipamos quando descontentes com algo ou alguém loucos para livrar-nos daquele inconveniente e inocentes de que o inconveniente é a despedida em si e não sermos mais tolerantes entre nós. A despedida é essa pequena morte que nos afasta dia a dia e come pedaços inteiros de nossas vidas sem que nos demos conta até que chega a despedida derradeira e geralmente já não há lá muito tempo sobrando para recuperar as despedidas que deixamos para trás.

Não somos definitivamente criaturas do adeus, nem de pausas breves e não sei como nos enganamos tão bem a ponto de crer que o somos, imbecis puros isso sim! Somos seres do afeto, do acalanto, do expressar a quem merece esse merecimento e de entender e acatar quem dele não faz conta afinal, não somos nós o circuito defeituoso mas quem não o vê assim. Ao agir como todos extirpamos de nós essa essência pura que ameniza as despedidas desde as diárias até as mais doídas e indesejadas sendo nessas últimas quando nos sentimos real efetivamente mais humanos, mais gente, mais nós e menos coisas.

Gostaria que fosse verdade para mim mas não o é, quiçá para as próximas gerações mais evoluídas e menos medrosas de lidar com seus sentimentos. Para mim, a despedida é ainda um gosto ruim na boca, aquele murro que você não esperava nunca, a palavra que nunca mais será dita, o erro que jamais será reparado e o amor que nunca mais será compartilhado ou demonstrado.

Resta então apenas deixar essas palavras aqui na esperança de que você que partiu, está prestes a partir ou pensa em fazê-lo veja de onde quer que venha a estar que as minhas falhas como pessoa jamais representaram seus defeitos como adestrador e se algum dia mordi a mão que me alimentou, não foi intencionalmente mas é do adestrado quase um dever programado nos genes retribuir assim a quem sempre lhe proveu o que, em absoluto, diminui ou ofusca o amor que lhe dediquei.

Se é preciso nos despedir, o farei da melhor forma possível se é hora para isso e com o passar do tempo quem sabe n'algum lugar menos víscera como este em que vivemos não possamos então dizer 'olá' ao invés de adeus...



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Published on October 08, 2020 05:06

October 7, 2020

ler é o melhor remédio

 


Esse vídeo é bem interessante e traz dados referentes aos hábitos de leitura brasileiros de 2019, recomendo que vejam ainda que possa parecer  meio arrastado com as apresentações de gráficos e números, vale a pena!
Esperava ver resultados bem mais alarmantes mas, ainda não sentimos todo o impacto do governo fascista, isso só veremos daqui um bom tempo então, os dados apresentados pela pesquisa são até reconfortantes ainda que alguns deles sejam realmente preocupantes.
Entre esses, eu destacaria a leitura da Bíblia como campeã de leitura o que denota claramente a guinada conservadora e teocrática que tomamos e seria interessante ver qual o resultado obtido ano que vem ou no outro ainda para confirmar se realmente estamos na merda ou não. Outro dado preocupante é o percentual de pessoas que não leem supostamente por não terem tempo ou por dedicaram seu tempo a outras coisas como internet, YouTube e, pasmem, Whatsapp.
Se o hábito da leitura já não era algo forte, com o advento da internet e de outros meios de comunicação como o Whats, a leitura acabou perdendo terreno e sendo substituída ainda que, segundo a pesquisa, siga como um hábito para boa parte dos brasileiros e, diferente do que Paulo Guedes atesta, quem mais consome livros não são as classes altas e endinheiradas mas as classes mais baixas e média então, aquele ideia imbecil de taxar os livros porque eles são artigos de luxo vai por água abaixo.
Voltando ao tema da concorrência, ler é algo que demanda atenção, concentração e principalmente tempo. Então, não é de se admirar que a pesquisa indique como razão para não ler a falta dele ou a opção por distrações digitais, vivemos a cultura do imediatismo, do já, do agora e o livro não tem isso, ainda que possamos trocar impressões durante a leitura, geralmente só vamos debater ou conversar sobre ele depois de terminar e isso pode levar tempo dependendo do livro o que vai totalmente contra a necessidade de atenção imediata que as redes sociais pregam e exigem.
Se continuarmos assim, não teremos mais leitores mas sim repassadores, pessoas que só lerão textos curtos no whats ou Twitter e talvez presenciemos um movimento literário que surja para alimentar essa demanda e nova mídia, tudo é possível mas, perderem os também o poder de imersão que um livro nos proporciona e de interpretação já que estaremos optando por coisas fáceis e rápidas de consumir. Obviamente que posso estar equivocado, pode ser que qualquer coisa que surja para suprir essa necessidade tenha sim qualidade e capacidade de promover algum tipo de discussão mas, considerando o já citado imediatismo digital, acho pouco provável.
Leitores não se formam do nada, leva tempo para isso e ao vermos os dados da pesquisa fica evidente que é exatamente isso que as pessoas não querem dispor, não querem abrir mão e isso é muito perigoso pois um leitor formado tem capacidade para discernir fato e ficção não apenas na literatura mas nas notícias que se espalham feito rastilho de pólvora pelos meios digitais, um leito não formado facilmente acreditará em qualquer boato ou meme ou vídeo, exatamente o que aconteceu em 2018 e que favoreceu a eleição do atual presidente que segue forte nas mídias digitais e fazendo de tudo para remover o acesso à cultura e informação porque sabe o poder que isso tem.
Se por um lado alguns números da pesquisa são até animadores, penso que precisamos ter cuidado ao interpretar porque, ainda que as pessoas estejam lendo é preciso levar em conta o que elas estão lendo. Não estou dizendo que todos precisam ler os grandes clássicos ou livros difíceis mas, se estamos criando leitores que estão lendo apenas livros de autoajuda, coaching, motivacionais e livros 'fáceis', não estamos criando leitores de verdade mas apenas pessoas que gostam de ler e novamente massa que pode ser facilmente manipulada e enganada.
Acima de tudo, a leitura precisa ser incentivada não apenas pelo poder público mas pelas famílias, sei que em tempos como o que vivemos há outras prioridades e é totalmente compreensível mas, se não houver um esforço para promover e criar o hábito da leitura e formação de leitores estaremos apenas perpetuando pessoas incapazes de um pensamento crítico e que terão graves dificuldades de expressão oral e escrita como já vem acontecendo.
Ler é o melhor caminho mas precisa ser trilhado com carinho e atenção ou não adianta nada.

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Published on October 07, 2020 04:00

October 6, 2020

está incluso

 


Dia desses, a Cristina Judar fez uma postagem sobre como sempre é questionada, quando participando de mesas ou eventos, por escritores cisgêneros HT sobre a necessidade de personagens não normativos ou, como ela diz, gays ou homossexuais porque para eles é tudo a mesma coisa.
Bem, primeiro que é de bom tom explicar ou tentar esclarecer que a sexualidade humana é algo tão complexo e diverso que estamos começando a entender como ela funciona e as diversas expressões que possui e que vão muito, mas muito além dos binarismos e normatividades que são impostas pela sociedade.
Com isso em mente, qual a necessidade então de termos personagens e uma literatura que inclua essas manifestações? Se considerarmos que a grande maioria da literatura é produzida por e fala de personagens heteronormativos, termos literatura e personagens que falem para as mais diversas expressões da sexualidade é sim muito necessário para que essas pessoas sintam-se representadas e tenham voz, ninguém nunca questionou qual a necessidade da literatura retratar personagens normativos porque é justamente o que predomina e se espera dela então, a questão que nos é feita reflete o estranhamento e a falta de compreensão que habita no universo normativo como se nós que escrevemos estivéssemos fazendo algo completamente novo e incompreensível.
De certa forma estamos afinal, estamos dando voz a personagens que não são da realidade absoluta vigente e criando novas formas de contar histórias e criar personagens e isso confunde a mente hetero-centrada. Quando passamos a questionar os moldes e criar nossos próprios caminhos somos confrontados com esse estranhamento dele pois estamos a subverter cânones que muitos julgam intocáveis e não entendem porque não os podemos seguir para fazer parte do clube.
Muitos deles interpretam isso como raiva, ódio ou até um certo belicismo nosso o que pode até ser verdade já que nós não conseguimos deles nada se não for no tapa mas, não é apenas isso, estamos mostrando que é preciso abrir espaço para outras vozes porque o espaço em que essa elite habita é gigantesco e eles não querem abria mão dele nem por um centímetro.
Por outro lado, também não desejamos que nos vejam apenas como vozes que pregam para nossa grupo, obviamente que sermos reconhecidos e valorizados pelos nosso é muito bom e importante afinal, somos parte desse grupo e temos sim uma certa responsabilidade para com ele mas, limitar a nossa arte a isso é apenas reforçar o preconceito e o status quo e fazer com que a pergunta que abre esse texto seja feita e refeita por anos a fio.
Como disse Cris, quem prega para o seus está numa posição confortável e isso geralmente e algo não muito bom para a arte, eu também não desejo pregar para 'convertidos' ainda que me reserve o direito de fazer isso quando achar que deva, encaixar minha literatura num nicho ou expressão pode ser fácil para seu entendimento mas jamais deve servir para limitar seu alcance e veracidade, isso é um instrumento usado pelas estruturas normativas para manter as coisas em caixas e com fácil entendimento e identificação.
Não sou de por em caixa, sou de tirar as caixas e deixar apenas vazios em seu lugar.

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Published on October 06, 2020 04:00

October 5, 2020

vendo a banda passar

 



Já gostei muito de Ryan Murphy, as primeiras temporadas de AHS e ACS forma bem interessantes e confesso que FEUD me ganhou porque eu sou devoto das grandes divas do cinema mas depois, parece que ele ficou ganancioso e passou a produzir em quantidade e não em qualidade meio como a Netflix faz, solta uma baciada de séries e se ao menos duas delas emplacarem já vale e o resto cancelam.
Não há dúvida de que ele tem um papel essencial na representação e visibilidade de pessoas LGBTQIA+ pois suas produções tratam essas pessoas com dignidade e sem pudores da indústria mas, parece que no anseio de produzir o máximo possível ele acaba se esquecendo de outras coisas e, sua marca registrada, brindando o espectador com uma profusão de cores como se toda a escala Pantone tivesse explodido na tela.
Nesse caso, a homenagem feita a esse filme incrível dirigido por William Friedkin  em 1968 e baseado na peça homônima de Mart Crowley é uma excelente oportunidade para gerações mais novas conhecerem esse texto que pode até ter envelhecido mas não ficou datado mas tenho algumas reservas quanto ao novo filme mesmo Mart tendo participado do processo de confecção do roteiro antes de falecer em Março deste ano.
Primeiro que este é um texto teatral, forte, pesado, cheio de acidez e mordacidade, indiretas e ofensas verbais num jogo psicológico que lembra 'Quem tem medo de Virginia Woolf?', começa num ritmo leve e até descontraído mas aos poucos vira uma montanha russa de ressentimento, culpa, frustrações e jogos mentais tóxicos.
Se na primeira versão isso foi preservado e maximizado pela mão de Friedkin (que é um ótimo diretor de atores) além do jogo de iluminação que, no ápice do jogo mental deixa os personagens imersos numa semiescuridão opressiva e que só aumenta o desconforto e, por um elenco oriundo do teatro, nessa versão o texto foi diluído, ficou mais leve e a mão de Murphy se faz sentir na explosão de cores e opção por manter tudo claro e gritante numa clara alusão de que a homossexualidade não precisa ser escondida mas vista e vivida mas, isso acaba emprestando ao filme uma sensação de festa que saiu do controle ao invés de embate de sentimentos e culpas.
A inclusão de flash backs para ilustrar as memórias de cada personagem durante o jogo do telefone ajuda a diluir esse peso da versão anterior muito mais claustrofóbica e tensa e a opção por adicionar cenas finais que ilustram o possível desfecho de cada personagem acabam dando uma sensação de esperança que o texto original não tinha em absoluto. Optar por manter a trama nos anos 60 ao invés de trazê-la para a atualidade também foi acertada pois isso certamente seria um desastre, pode parecer que os assuntos tratados no filme sejam datados mas não são, estamos falando de um texto de um período em que ser gay era algo perigoso e fatal até e isso segue sendo verdade hoje em dia mesmo tanto tempo depois.
Quanto aos dramas de cada personagem, também seguem mais do que atuais desde o casal que enfrenta uma crise passando pelos gays frustrados e amargos que só conseguem algum tipo de satisfação destruindo quem conhecem, pelo gay afeminado que só é visto como piada, o gay negro que é forçado a lidar com mais de um preconceito, o gay que apenas é gay e um hetero que não sabe o que está fazendo ali ou até saiba mas se arrepende de estar.
Infelizmente, parece que no intuito de deixar o texto mais palatável talvez para as gerações mais novas, as atuações acabaram ficando perdidas e sempre com uma sensação de quase lá, se comparadas com as atuações do filme original chegam a ser sofríveis até vide a cena em que Michael se dá conta da merda que fez onde Jim Parsons falha miseravelmente em passar a emoção necessária para a cena.
Esse era um texto que merecia uma direção mais robusta, que espremesse os atores até sair sangue, não era para ser um filme colorido mas um filme denso que fizesse com que todos saíssem dele moídos como fez o primeiro. Infelizmente nada disso aconteceu e temos apenas uma homenagem singela e colorida que serve como caricatura de um texto magistral.

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Published on October 05, 2020 04:00

September 25, 2020

doente é você, não eu

 




Quem é o doente? Quem precisa de tratamento? Quem precisa de internação?

Não eu que nasci viado e morrerei assim graças a todas as entidades que oxalá regem o universo e o nosso destino, se há reencarnação, peço para voltar ainda mais bixa, trixa, homossexual terrível e padecendo do mais alto grau de homossexualismo.

Melhor do que voltar hétero, conservador, pai de família, conservador, moralista, ministro da educação, bolsonarista ou da familícia 17, melhor do que ser crente e cristão, melhor do que ser temente a deus, melhor que ser da fé, melhor que ser desses que pregam o amor de deus e ódio de satanás, melhor do que ser parte da família torta brasileira.

Homossexualismo é uma doença lida, todos deveriam contrair, epidemia, pandemia, espalhar feito rastilho de glitter, de sexo, falta paudemia, falta epidermia, falta mais gozo, se todos pegassem homossexualismo seríamos maia felizes porque estaríamos preocupados em gozar, em ouvir a última música da Kylie, da Gaga, da Madonna e de todas as divas que lacram o caminho do normativo.

Estaríamos preocupado em escolher a roupa para ir na balada, em chamar os amigos pro esquenta, pra ir no Arouche, na Parada, na festa bapho que vai ser lendária, na sauna e cinemão onde os paus não tem nome mas todos dizem amém, em fazer piada com tudo e rir nos momentos mais tristes porque homossexualismo tem como sintoma uma alegria de ser e existir já que o mundo e a sociedade insistem em nos fazer chorar todo santo dia.

Estaríamos mais preocupados em ver a última temporada de RuPaul, em ver aquela série babado, em trocar informações e impressões e não fake news, em amar como se não houvesse amanhã porque para quem é gay o amanhã muitas vezes é algo inexistente ou tão incerto quanto os números da loteria, em trepar como se não houvesse amanhã porque o sexo liberta e alivia, se as pessoas que falam merda e apontam dedos trepassem mais teríamos um mundo melhor.

Então, vamos passar o homossexualismo para todo mundo, vamos infectar a todos, chamem a gente para pegar essa doença maravilhosa, chega de COVID, chega de doenças que matam, venham pegar homossexualismo com a gente, pega fácil, basta um beijo, um pega, se quiser garantir o contágio podemos fazer sexo, será um prazer, garantido! Vamos infectar o mundo com o homossexualismo, vamos deixar todos viados, trans, queer, gays, vamos tornar todos doentes de homossexualismo terminal, sem vacina, sem tratamento, sem internação, sem lockdown, sem quarentena, sem isolamento.

Porque estágio terminal de homossexualismo é ser vivo, ser gente, ser você.

Porque vacina para homossexualismo é viver sem preconceito, sem medo, sem ter de justificar quem somos ou como amamos.

Porque tratamento para homossexualismo é ser feliz, é gozar, é viver sem ter de satisfação aos outros.

Porque internação para homossexualismos é balada, bar e fervo.

Porque lockdown para homossexualismo é festa fechada com amigos queridos.

Porque quarentena para homossexualismo é maratonar a vida.

Porque isolamento para homossexualismo não existe, quem nos isola são vocês aí do outro lado.

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Published on September 25, 2020 08:00

September 24, 2020

em linha

 


Assunto do momento mas não antigo, esse documentário da NF joga mais gasolina no eterno fogo das redes sociais e internet das coisas e nas coisas.
Apesar do tom histriônico, alarmista e apocalíptico do documentário, ele traz sim uma discussão muito séria sobre como não somos donos de nossa persona digital e muito menos de nossos dados que trafegam pela rede sem qualquer controle ou monitoração e como somos moldados por nossos likes, views, posts e tudo mais pelas grandes corporações que dominam o mundo virtual e que não querem que passemos um segundo sequer longe das telas de nossos celulares, computadores e smart tvs.
Como disse, o documentário em si não traz nada de novo, nada que não tenhamos ouvida falar 'n' vezes antes mas, considerando o avanço das tecnologias e maior acesso das pessoas ao mundo digital (ainda que, a grosso modo, grandes partes do globo ainda sejam 'analfabetos digitais), o documentário abre uma caixa de horrores que vivemos na pele: as notícias falsas, a polarização de opiniões, a perda de credibilidade de modelos tradicionais de informação, o perigo das redes sociais em processos democráticos como eleições e afins e em situações como a pandemia do COVID-19.
Se pensarmos friamente, somos criaturas digitais há pouco tempo em termos históricos e ainda estamos aprendendo como lidar com essa ferramenta que evolui muito mais rapidamente do que nosso cérebro e  consciência, arrisco dizer que a internet, as IA e tudo que a permeia estão para nós como nós estamos para um antepassado que ainda não havia dominado o fogo salvo as gerações mais novas que já nasceram conectadas e online basta ver a intimidade incrível de crianças que mal pronunciam palavras mas são capazes de abrir o YouTube e buscar o que desejam ver.
A internet e as redes sociais estão ganhando a luta evolutiva de lavada e moldando as novas gerações para serem incapazes de viver sem elas e este é para mim o maior perigo, estamos formando autômatos incapazes de pensar e tomar decisões sem o amparo do Google, as informações do Whats, as fotos do Insta e as 'notícias' do Twitter, máquinas conectadas 24x7 e que só acreditam no que as telas de alta definição lhes dizem, no que os comentários validam, no que é compartilhado em grupos onde se pode sentir confortável, à vontade, acolhido, aceito e compartilhando apenas o que nos agrada sem uma visão mais ampla e mais profunda de assuntos que podem determinar até mesmo a vida e a morte de alguém ou destruir a vida de uma pessoa em questão de milésimos de segundo.
Estamos presos na matrix, o filme profético, acertou em cheio mas, diferente dele em sua visão fantasioso, não temos cabos e fios presos ao nosso sistema nervoso, ao menos não fisicamente mas virtualmente, somos fantoches dos algoritmos e das grandes empresas de tecnologia que regem nossos destinos e nos conhecem melhor do que nós mesmos ou nossos pais. Essas empresas e produtos digitais trabalham com o mais alto grau da psique humana e seus mecanismos de gratificação, prazer e empatia, eles conhecem nossos gostos sejam eles pueris ou obscuros, estão dia e noite prontos para satisfazer nosso apetite e não deixar com que ele diminua, basta você fazer uma busca em qualquer ferramenta ou aplicativo para ver como a rede conhece você melhor do que qualquer um, ela sabe, ela intui, ela antecipa seus movimentos e pensamentos, ela sabe o que você quer ver, o que precisa comprar, o que você sente tesão, o que lhe deixa feliz e puto, o que lhe deixa triste e com raiva, se deus existe então ele está na internet soltando mandamentos para todos os cyber fiéis.
Mas qual a saída, então?
Não há. Não iremos nos livrar da internet e dos aplicativos, estão por demais mesclados em nossas vidas para isso, não podemos mais conceber um mundo onde você precise pedir um táxi na rua, sair para comprar uma pizza, telefonar para matar as saudades, escrever uma carta para mandar notícias ou esperar que um filme seja lançado no cinema. Se uma hecatombe sem precedentes ocorresse e subitamente ficássemos todos sem internet, o mundo entraria em colapso mas, não acabaria, haveria desordem e provavelmente ondas e mais ondas de distúrbios generalizados ou até guerras civis principalmente, creio eu, porque quase todo o dinheiro circula hoje de forma digital, você não o vê, acredita que está no banco, guardado mas ele é apenas uma sequência de zeros e uns e, se a internet acabasse ou sofresse um colapso mundial, praticamente todos nós estaríamos na miséria num piscar de olhos. Obviamente que o mundo não iria acabar, somos uma raça sobrevivente mas sair desse caos seria custoso e o mundo depois seria algo totalmente diferente e as pessoas que detinham o conhecimento do antes, do mundo analógico valeriam seu peso em ouro e seriam os novos bilionários do novo mundo.
Penso que a saída não é deixar de usar a internet e as redes sociais mas aprender como usá-las, ter um uso racional delas e cobrar não apenas de governos e autoridades marcos regulatórios mas de nós mesmos, confiar mais em nós e menos no on-line, usar essa tecnologia de forma consciente e educar as novas geração para que façam o mesmo ao contrário de deixar que seja a babá de nossos filhos. Não adianta culpar a ferramenta, ela cumpre seu papel e pode ser que seu inventor não tivesse propósitos nefastos quando a criou, uma ferramenta só é tão má quanto a mão que a empunha então, a internet e as redes sociais serão apenas tão ruins quanto nós formos e, se elas hoje são um campo de horror e ódio, não é culpa delas mas nossa.
O dilema não é, enfim, das redes sociais ou da internet mas nosso.

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Published on September 24, 2020 04:00