Alexandre Willer's Blog, page 2

September 27, 2022

a necessidade que não é necessária

Já me perguntaram inúmeras vezes porque escrevo, o que motiva, qual o ímpeto, qual a razão, enfim, aquelas perguntas de sempre o que é normal, para quem está de fora, escrever parece algo mágico quase sobrenatural.

Não sei bem se acredito em dons ou bênçãos, algo do tipo 'você nasceu com esse dom' mas, pode até ser, porque não? Se há algo divino ou sobre ou super natural no ato em si, desconheço mas sei que escrever está em mim desde muito cedo assim como acho que está em todos que escrevem salvo raras exceções que podem não escrever por natureza mas por esforço o que também vale afinal, o que importa é escrever, se é bom ou não tem muita gente aí para dar um parecer.

Escrever pode ser um hobby como pode ser uma profissão como pode ser destino, praga, martírio, horror, gozo, trabalho, enfim, uma série de coisas dependendo de como você encara a profissão de fé mas, escrever é uma necessidade, ao menos para mim. Há uma urgência, uma fome, um desejo de expressar que, imagino eu, todo mundo que trabalha com algum tipo de arte, tem.

A coisa começa a ficar problemática quando tentamos associar essa produção com sucesso, reconhecimento e afirmação, coisas distintas mas relacionadas.

Hoje, com a internet e redes sociais e dancinhas e vídeos e reels, todo mundo quer e consegue sua tão merecida fama de 15 ou mais minutos mas essa é uma droga poderosa, vicia mais que crack e quando não conseguimos, vem a abstinência.

Não sou hipócrita, obviamente desejo sucesso e reconhecimento, quem não? Viver constantemente em busca disso, não. Houve um tempo em que sim, buscava muito e incansável mas, numa sociedade que pouco valoriza a leitura e arte de forma geral, as janelas de oportunidade são poucas e muitas vezes, de cartas marcadas.

Ah! Lá vem o amargo e rancoroso! Vocês podem dizer mas é a mais pura verdade, a literatura por si é bela e me proporcionou alegrias não há como negar, ao mesmo tempo, pude ver sua outra face horrenda cheia de dentes, aparências e contradições o que é normal, todo ambiente é assim pois é feito de pessoas e pessoas são complicadas e cheias de falhas então, nada demais que seus ambientes também o sejam.

Abri mão disso para viver em paz comigo mesmo, quero prêmios e sucesso? Sim! Quero isso a qualquer custo? Não. E para quem disser que é mentira, tudo bem, seu direito não acreditar e pensar que eu não lido bem com o sucesso alheio o que, se me permitem, afirmo ser totalmente falso.

Num país que trata cultura e livro como crime, qualquer um de nós que ultrapasse a barreira merece meu apoio e abraço, fico extremamente feliz quando vejo amigos escritores conseguindo reconhecimento, uma parte de mim vai junto e não me sinto esquecido, menosprezado ou preterido por isso.

Creio que a ideia central aqui seja fazer primeiro para si e depois para os outros e não aguardar uma grande chance que pode jamais vir, ser realista e parar com o complexo de coitado, não aconteceu? Tudo bem! Deixe estar! Mais importante do que ser laureado é ser lido e ter deixado de alguma forma sua marcar mesmo que seja mínima.

A alternativa pode ser frustrante e decepcionante e o preço a ser pago, alto demais.

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Published on September 27, 2022 04:30

September 26, 2022

positivo/negativo

 


É horrível que estejamos nas vésperas de uma eleição e que, ao invés de discutir temas importantes para nosso futuro, estejamos é discutindo mitos, messias e salvadores da pátria e incapazes de conciliar nossas diferenças ou sequer abertos para uma possibilidade de diálogo sobre questões que mexem profundamente com nosso cotidiano atual e futuro.
Triste termos de escolher o menor entre dois males ainda que, obviamente, um deles seja 'o mal' personificado e o outro seja apenas não tão ruim.
Ainda que o atual mandatário represente tudo que de pior existe em nós como sociedade e flerte abertamente com um autoritarismo em voga no mundo, a alternativa a ele é apenas um reflexo à esquerda ainda que, como disse, na atual conjuntura, seja melhor que mais quatro anos de barbárie.
A questão é sermos reféns de duas opções que pouco trazem algo de novo, um ar mais fresco e ideias mais novas, vamos votar num para não deixar o outro vencer e isso é péssimo! Mostra o quanto estamos perdidos enquanto sociedade e como a política deixou de ser algo importante em nossas vidas para virar apenas uma imensa briga de condomínio.
Quem segue e vota em Lula (eu incluso) padece do mesmo messianismo que inflama o Bolsonarismo, podemos negar e dizer e jamais mas é, aceitemos que também tratamos Lula como mito, messias e salvador, a diferença é que ele, para nós, é o verdadeiro messias enquanto o outro é o anticristo, é uma linha muito tênue que separa os dois e não em termos de ideologia ou consciência social e de classe mas em termos de seguir cegamente e idolatrar a pessoa e o que ela representa e não sua atual capacidade de tratar o país com seriedade e respeito.
O messianismo de Lula foi a gênese do messianismo de Bolsonaro, ficamos aqui nos perguntando de onde saiu esse ser, como pode ter acontecido isso e outras questões afins e a resposta é muito simples: fomos nós!
Passamos quase duas décadas cultuando uma figura, uma ideia, removemos do plano terreno e colocamos num panteão com incensos e cânticos e isso, na política, é extremamente perigoso. Acreditamos que havíamos salvado o Brasil e que seriam apenas anos de rosas e vinhos mas, o outro lado aprendeu a fabricar mitos e lendas e não nos demos conta de que o Brasil é uma ilha de boas intenções rodeada de Bolsonaros por todos os lados.
Nós criamos Bolsonaro, simples assim. Ao não darmos atenção aos sinais de culto que o petismo e o lulismo viraram demos de mão beijada o caminho para a extrema direita empossar seu messias e agora ficamos pasmos sem entender e ainda assim não aprendemos pois vamos novamente ter de escolher entre dois messias, oxalá mais a frente aprendamos que presidente da república não deve ser messias mas apenas competente.
Vou votar 13 porque não posso conceber mais quatro anos de 22 mas, desejo ardentemente que ele não se candidate e que outra pessoa tome rédeas e que seja alguém novo e longe dos extremos para tentarmos começar a curar as feridas que seguem inflamadas. Precisamos de políticos com ideias, determinados e comprometidos com pautas humanitárias e sociais e não pais, mães ou ídolos, precisamos parar de tratar um prestador de serviços públicos como santo e salvador e encarar que a era do messianismo tem de acabar o quanto antes.
Precisamos nos livrar dos Lulas e Bolsonaros, precisamos parar de tratar a política como campo de salvação e passar a tratar dela como campo de mediação e discussão e qualquer messianismo não dá conta disso pois é por demais centrado em sua figura central e não no grupo que o segue, quem segue messias está fadado e cometer erros crassos e depois chorar a perda da razão, entregar nossas ideias e ideais a um salvador é morte certa porque não existem salvadores que não sejam nós mesmos.
A era dos messias precisa acabar, precisamos crescer e aprender que não somos mais crianças, parar de fazer birra e assumir que a responsabilidade pelas coisas e pelo país é nossa e não deles, parar de discutir esquerda e direita e entender que depois da eleição tanto faz qual lado porque, no final das contas, quem paga a conta somos todos nós independente de qual lado estejamos.
Que em quatro anos não estejamos elegendo santos mas pessoas.


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Published on September 26, 2022 04:30

May 12, 2022

discurso pronto para um dia incerto

Dialogar com fascista é jogar xadrez com pombos, sabemos, mas nesse tabuleiro, as peças estão desiguais e tem vontade própria e as regras mudam a todo instante.
Um dos grandes fatores que nos fez a raça dominante nesse pálido ponto azul é fato de termos aprendido a trabalhar em grupo e é exatamente o que estamos perdendo/desaprendendo. Com o distanciamento promovido pela polarização e incapacidade de diálogo, estamos cada vez mais fechados em nós mesmo ou em grupos que apenas ecoam o que pensamos.
Esse fechamento, ainda que benéfico para manter a saúde física e mental, mata aos poucos o que nos faz únicos, a troca de ideias e pensamentos, ao nos colocarmos em opostos irreconciliáveis afastamos essa dinâmica e sequer cogitamos a possibilidade de discutir qualquer coisa que vá mesmo que de leve na direção contrária do que pensamos.
E isso ocorre de forma geral, não é 'privilégio' da esquerda, direita ou seja lá o que for. Obviamente que não podemos corroborar ou tentar dialogar com discursos ou ideias que promovam o ódio ou preconceito mas, tanto a cultura do conservadorismo com suas regras de exceção como a cultura do cancelamento, válida em alguns casos, acabam trazendo efeitos colaterais terríveis.
Julgamos sem conhecer o todo dos fatos, tendo apenas um lado da história, condenamos sem dar o benefício da dúvida, a internet e réu, advogado, juiz e júri e invariavelmente imperdoável, não cabe recurso e jamais esquece.
Condenamos as fake news mas somos os primeiros a repassar sem antes verificar, validar e termos certeza, o dedo like é mais rápido que a mente lerda, o mundo digital evoluiu mais rápido que nossos cérebros que ainda são analógicos e assim, vamos cancelando uns aos outros sem dó ou piedade.
Apontar desigualdades, crimes e preconceitos é um dever nosso e as redes tornam isso mais fácil e com alcance imediato, se antes tais horrores ficavam restritos a esfera pessoal ou de um grupo pequeno, agora viraliza e ganha o mundo em segundos e, como disse, isso é perigoso, perdemos o senso ético, o racional, a razão e a lógica impulsionados pelo desejo de sermos os primeiros a compartilhar, denunciar e fazer parte da patrulha alerta que está sempre de celular em mãos.
Repito que isso é sim benéfico pois abusos e violências não passam mais despercebidos mas, se não dermos um passo atrás e pensarmos cautelosamente antes de sair compartilhando tudo, estamos incorrendo num erro grotesco que rouba de nós o que nos faz humanos, tira nossa empatia e apenas fomenta o pior de nós e nunca está satisfeito, quer sempre mais e mais.
Antes de cancelarmos uns aos outros, expormos uns aos outros, condenarmos uns aos outros deveríamos tentar entender o contexto, a situação, os motivos, os sentimentos e volto a dizer que isso não abona ou justifica os comportamentos abjetos de racistas e afins mas, tomando a parte pelo todo acabamos colocando tudo no mesmo balaio e depois é bem complicado saber quem é o que.
Parece besteira não? Mas lembremos do caso da Escola Base em 1994 (Google it!). Os donos foram acusados de molestar as crianças, promoverem orgias e até mesmo entregarem as crianças para sexo com outras pessoas.
A mídia fez uma cobertura totalmente parcial agindo como juiz e júri e condenando de antemão os proprietários e a polícia fez uma investigação pouco elogiosa e totalmente tendenciosa porque eram crianças. O caso tomou proporções nacionais e o clamor por justiça falou mais alto do que o bom senso, os proprietários foram presos, perderam tudo e suas vidas viraram um inferno.
Três meses depois todos foram inocentados mas o estrago já estava feito. Dos proprietários, alguns já faleceram sem terem retomado sua vida e com a marca de abusadores, os sobreviventes seguem com suas vidas destruídas e tentando mesmo depois de tantos anos, buscar algum tipo de compensação ou justiça porque ainda seguem marcados mesmo inocentes.
Pense então muito bem antes de fazer seu próximo cancelamento...
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Published on May 12, 2022 04:30

May 11, 2022

vida que segue...

a vida é um tipo de prato que a gente só descobre que gosta quando acabou e não tem mais pra servir. semanas atrás ela perdeu alguém e eu senti. a gente só dá pela falta quando acaba, tarde demais, aí vem uma série de arrependimentos que vão devorando a gente feito bicho faminto mas depois passa e você volta a viver e isso é ruim porque a vida não é mais a mesma, ela não tem mais uma pessoa e isso não deveria ser normal.

a gente se pergunta quando vai ser gente. quando vai ser isso, quando. a gente não sabe e não quer saber mas a gente sabe que vai ser. a gente chora na hora mas depois volta e faz tudo meio diferente e depois volta a fazer igual. triste. não pode ser só isso. passa tão rápido e tão sem sentido. a gente precisa mais.

estar mais com as pessoas. estar mais com os amores. gozar mais. sair mais. beber mais. ler mais. ver mais. ouvir mais. correr mais. parar mais. sentir mais. brigar mais. beijar mais. chupar mais. comer mais. abraçar mais. chorar mais. rir mais. escrever mais. sonhar mais. estar mais. 

quando acabar tudo vai ser menos...

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Published on May 11, 2022 04:30

May 10, 2022

quem tem medo das gays?

 


Um político reaça escroto, misógino, que não goza e não quer que outros gozem, fechou o MUSEU DA DIVERSIDADE.

Não vou citar nome pra não dar palanque para esse tipo de lixo mas, não é de surpreender afinal, no Brasil Pátria Amada de hoje, ser bixa ou qualquer outra letra que nos identifique é crime inafiançável e motivo para perseguição e humilhação.

Não que antes não fosse mas agora, com a chancela do miliciano e sua família, pode descer a lenha nas gays afinal, quer ser bixa vá ser no seu canto sem pedir direitos ou usar o dinheiro público para pouca vergonha como se as bixas não pagassem impostos também ou não fossem portadoras de RG e CPF.

O apagamento nosso é desde sempre e não restrito ao Brazil, todos sabemos porque sempre fomos jogados para a margem quando não simplesmente erradicados do mundo feito algum tipo de praga então, fechar um museu que fale de nossa história e memória não é novidade, a memória é heterossexual, religiosa e do bem, bixa não pode ter memória, só uma vaga lembrança, não precisa de museu porque bixa não te história, só doença e vergonha e ameaça as criancinhas com suas ideologias.

Mas vai ser difícil nos apagar porque sem nós, vocês não teriam muita coisa. Não teriam um senso de liberdade inovador, não teriam liberdade sexual, não teriam computadores, não teriam livros, não teriam arte, não teriam história, não gozariam porque a gente sabe você pai de família adora sair com as bixas para dar vazão aos seus desejos mais recônditos, não teriam humor, não teriam cores, não teriam palavras, não teriam feriado, não teriam moda, não teriam serviços essenciais porque sim, as bixas estão lá, não teriam modelos, não teriam graça, não teriam vida.

Vocês podem fechar o nosso museu mas JAMAIS fecharão a nossa MEMÓRIA!

PS: Mas de tudo isso, o que dói mais é saber que muitos de nós não valorizam e não reconhecem a nossa história então, procure conhecer! Se hoje temos alguns direitos é devido a gigantes que do alto de seus temores desafiaram o status quo para que estejamos onde estamos, eles estão aqui ainda, alguns, outros só pelos livros, estude sua história!)

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Published on May 10, 2022 04:30

May 9, 2022

o bobo

 


Triste ver como, enquanto nação, caímos num esquecimento, párias mundiais ao lado de tantos outros regimes de extrema direita vistos com maus olhos pela comunidade internacional devido aos seguidos desmandos e barbaridades sem fim.

A reputação nossa de nação mediadora e de peso no cenário internacional mesmo não pertencendo ao seleto clube dos podres de ricos foi ralo abaixo sob a batuta de pátria, família e deus e vai levar um tempo para voltarmos a recuperar isso mesmo que tenhamos outro sentado lá no planalto.

O estrago feito em quatro anos foi terrível e imenso, instaurada a ditadura fálica o país vive sob a égide do estupro social, da família de bem e do atira primeiro e pergunta depois. No Brazil atual o que importa não é igualdade mas mérito, não é você que pobre, é você que não se esforça, não é você que é bixa, é você que precisa ser bixa mas dentro de casa, não é você que fuma crack, é você que é vagabundo, deus ajuda quem cedo madruga e quem sai pra bater em travesti e matar viado.

O isolamento não é apenas mundial mas territorial, estamos isolados de todos, incapazes de quebrar a barreira de mentiras e narrativa disforme que impregnou a todos e concluir que não é matando a bixa que o pai de família vai por comida na mesa, não é matando o ladrão que o cidadão de bem vai ter mais segurança, não é armando a pessoa que ela vai aprender a se defender, não é cortando o acesso que as pessoas vão parar de acessar.

O véu conservador desceu pesado e não serão todos que serão capazes de tirá-lo em Outubro porque ele adere na pele feito cola, tem gente que vai preferir morrer do que ter algum tipo de justiça social novamente, tem gente que vai preferir matar do que ter um presidente que promova um pouco mais de igualdade, tem gente que vai acreditar piamente nas mentiras porque elas foram ditas por tanto tempo que agora são verdades.

Tem gente que prefere assim...

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Published on May 09, 2022 04:30

April 28, 2022

o grande i(r)mão

Reality Shows viraram um fonte de entretenimento e principalmente grana para emissoras de TV e streaming, é impressionante a quantidade e variedade de shows desse tipo desde o consagrado BBB até shows dedicados e podólogos, cirurgias plásticas, obesidade, compras, leilões e por aí vai, pensa numa categoria, certamente haverá um show dedicado a ela.
A realidade da televisão é muito mais atraente que a das ruas e, através delas, demonstramos nossos gostos, preferências, insatisfações, desejos, medos e tudo mais, não ficaria admirado se dentro de mais alguns anos ou décadas ao invés de escolhermos nossos governantes e representantes pelo voto, o fizermos por um desses shows, trancamos os candidatos dentro de um casa e o vencedor será eleito presidente, parece loucura mas acho bem plausível e, de certa maneira, talvez melhor do que urna, pensem bem, isolar os candidatos sem apoio de suas equipes, pesquisas e mídias, veríamos bem como cada um deles é na verdade.
O problema desse tipo de entretenimento que, pessoalmente, acho tóxico, nocivo e totalmente preparado para apresentar resultados desejados, é tratar a realidade como algo maleável e não multifacetado, encerrar atrás de uma câmera um tipo de realidade que vai longe do que temos aqui fora.
Da mesma forma, formadores de opinião e influenciadores (talvez a pior invenção da internet) da era digital tratam, salvo algumas poucas exceções, temas espinhosos com a profundidade de uma poça d'água quando não são tendenciosos seja por desconhecimento das questões abordadas ou por serem paus mandados do establishment.
Tanto estes como seus parentes da TV padecem desses males e são apenas sintomas de uma patologia mais profunda resultante do avanço do conservadorismo e da polarização irreversível que vivemos. Através desses programas podemos dar vazão ao pior de nós sem, algumas vezes, sermos associados a assuntos ou ideias pouco elogiosas afinal, ficamos diluídos no meio de tantos outros opinando mas, esses programas deixam claro qual caminho a sociedade está seguindo vide a final do BBB atual onde apenas homens permanecem e o mais cotado para vencer é um homem, cis, branco e certamente Bolsonarista.
O grande trunfo do Bolsonarismo foi se inserir nessas brechas e delas fazer pequenos mundos onde a única realidade que vale é a deles, qualquer outra é execrada e vetada. Os influenciadores que flertam, intencionalmente ou não, como ideias de extrema direita acham nesses mundos terreno fértil e seguro para seguir com suas barbaridades sob o manto da liberdade de expressão e, sob o manto de perseguidos, alardear ainda mais suas ideias descabidas.
Se antes Reality Shows eram diversão inócua para esvaziar a mente, hoje são pequenas bastilhas de ideias pútridas e da extrema direita porque não promovem discussões efetivas mas a pasteurização de temas delicados tratados, assim como seus colegas de outras redes, com a relevância de um like.
Há exceções? Claro! Mas são poucas porque não adianta fazer um podcast de duas horas e meia para falar de política para toda uma geração que mal suporta consumir 140 caracteres e foi criada com o shuffle ligado, enquanto não tivermos uma linguagem mais assertiva e direta para explicar essas coisas o Bolsonarismo e seus seguidores estarão na vantagem pois ele dominam a narrativa, mesmo que ela não possua conteúdo, ela atinge seu público e fala exatamente do jeito que eles esperam, não adianta a esquerda bater nas teclas que todos já sabem porque os de fora não estão propensos a ouvir.
O fato é que estamos criando pessoas incapazes de se aprofundar em qualquer assunto, reféns de formadores de opinião que não tem opinião ou apenas ecoam opiniões que ouviram falar, quem promove discussão ou entendimento é chato ou esquerdista porque a realidade deve ser igual a da TV e não complexa como é.
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Published on April 28, 2022 04:30

April 27, 2022

a evolução das espécies

Já fui um chato musical, humor ácido, fel puro para tudo que não fosse compatível com meu gosto musical ou com aqueles que nunca houvessem ouvida falar de bandas e artistas clássicos que eu e tantos outros julgam como Deuses intocáveis e que devem ser reverenciados, qualquer coisa fora disso deve ser execrada e vista com maus olhos e isso não apenas na música mas na literatura também, melhor falar mal e apontar o dedo porque certas obras nunca deveriam ter visto a luz do dia.

Mas, mudei talvez radicalmente de postura, amadurecimento? Não sei, pode ser.

Ficar preso no passado é algo perigoso, acreditar que apenas esse ou aquele estilo musical, esta ou aquela obra tenham valor porque são inovadores, provocantes e fazem jus em ingressar num panteão seleto é algo pior ainda, quando deixamos que nossos gostos pessoais atuam como ofensores quem sai perdendo somos todos nós e não apenas quem produziu aquela peça de arte.

Arte e cultura não artigos seletivos ou elitistas, são meios de expressão de uma sociedade e de sua cultura, não adianta torcer o nariz e dizer que na sua época sim é que era feita música boa e que este ou aquele livro é um lixo ou nunca deveria ser publicado, ao diminuir e desmerecer quem produz arte estamos fazendo favor a quem está empenhado em destruir nossa cultura, estamos deixando o jogo deles muito mais fácil ao nos dividirmos usando gosto, crítica ou bom senso como parâmetros de avaliação.

Arte, cultura, música e livros são coisas muito pessoais, lidam com nossas emoções e sentimentos de formas que ainda não entendemos direito, podemos todos ouvir a mesma música, ver o mesmo filme e ler o mesmo livro e certamente teremos opiniões distintas porque eles irão mexer com nossa individualidade de formas totalmente diferentes, não somos todos iguais então, as experiências de cada um ao entrar em contato com a arte e cultura serão também distintas e isso não é uma coisa ruim.

Então, antes de falar mal do funk, pensar no que ele representa para que o ouve, como ele atua na formação de identidades e retratar a realidade de muita gente; antes de falar mal do sertanejo pense a mesma coisa e por aí vai. Precisamos para de forçar nossas opiniões e gostos, se algo não nos agrada não significa que não tenha valor e seja ruim pois terá valor para outra pessoa e poderá dizer e representar muito para ela.

Estipular uma norma pela qual a arte a cultura devem ser produzidos ou consumidos é elitizar e restringir o acesso de muitas pessoas e pior, é desmerecer tais manifestações por não irem de encontro com normas cultas e/ou academicismos, é dizer que uma parte da arte e da cultura são boas enquanto o resto é lixo e, sinceramente, a importância de uma obra de Van Gogh ou de um disco dos Racionais é a mesma ainda que você possa ficar horrorizado ao ler isso. A única (se houver alguma) diferença é o contexto histórico de cada uma mas em termos se representação e sensibilidade quem pode julgar sua relevância? Porque uma pessoa não sabe interpretar uma tela de Van Gogh ela deve ser considerada menos apta culturalmente? Por ouvir rap ou funk uma pessoa pode ser considerada mais ou menos capaz de discutir arte e cultura?

Manifestações artísticas devem refletir o tempo em que estão inseridas, devem atender os anseios de quem vive e não de quem já morreu, arte e cultura que se dediquem a perpetuar o passado estão fadadas a sumir ou serem apenas casos de estudo acadêmico. Se a música hoje morreu para uma parte das pessoas, ela segue viva e bem para outra parte, dizer que no seu tempo era melhor pode até ser verdade para você mas não desmerece o que está sendo produzido agora porque está sendo feito para quem vive hoje e não há dez, vinte ou trinta anos ainda que as referências sejam, às vezes, evidentes.

O mesmo se aplica a literatura.

Livros dialogam conosco ainda mais intimamente então, é difícil julgar o que pode ser considerado boa ou má literatura. Porque um livro não me agrada ele deve ser considerado ruim? Porque a crítica especializada assim o disse, um livro deve ser descartado? Quem definir quais os parâmetros de bom ou ruim?

Obviamente que os estudiosos de teoria e crítica literária tem um olhar refinado e preparado para fazer tais separações mas, quem realmente é capaz de dizer ou definir o que é um livro bom ou ruim? Ao detonar um autor e sua obra o que se está ganhando efetivamente? Estaríamos preparando leitores ou apenas elitizando? Se um livro é considerado ruim pela crítica, ele não tem valor para ninguém? Quem define a norma? Se todos devermos ler apenas os laureados, como ficam os outros autores? Devem ser banidos e marginalizados? Eles não tem valor?

Talvez o papel de críticos e afins seja de analisar as obras e quais seus defeitos e apontar onde o autor pode melhorar e não apenas difamar e destruir o sonho de alguém matando pela raiz algo que poderia render frutos bem interessantes. Ao escolher diminuir ou destruir essas expressões em seu berço, estamos apenas reforçando um comportamento elitista e de privilégios, não seria melhor a abstenção ou outro meio de crítica?

Oras, diria você, mas aí ficaria difícil separar o joio do trigo e muita coisa ruim ganharia reconhecimento. Voltamos a questão 'per se', quem define o que é bom ou ruim? Eu? Você? E se o que é bom para você for ruim para mim e vice-versa? Quem vai bater esse martelo? Quem vai arbitrar essa questão?

Talvez o melhor caminho seja simplesmente dizer que esta ou aquela música, este ou aquele livro, este ou aquele filme não me agradam porque não foram capazes de dialogar comigo, provocar uma reação, inflamar, estremecer e isso é normal! É impossível esperar que manifestações culturais e artísticas afetem a todos do mesmo jeito, o que precisamos entender, praticar, é o respeito e empatia pela experiência do outro porque ela, assim como a nossa, é única!

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Published on April 27, 2022 04:30

April 26, 2022

O contador de histórias

Todo mundo adora uma boa história, se for bem contada então ainda melhor.

Não é a toa que a história, de forma geral, acaba sendo contada por quem vence grandes batalhas ou por quem sabe contar melhor o seu lado dos fatos ou seja, quem controla a narrativa, controla a história.

Não é preciso ir muito longe para comprovar isso, basta dar uma olhada na Rússia de Stálin, China de Mao, Alemanha de Hitler e, porque não, Brasil de hoje.

A melhor maneira de fazer com que as pessoas acreditem em algo é controlar a narrativa, fazer com que apenas o seu lado da história seja levado a sério e tomado como verdade incontestável, deixemos de lado debate, argumentos ou análise, confie no que estou dizendo, eu sei do que falo e posso provar mesmo que essas provas sejam estapafúrdias.

O controle da narrativa não acontece da noite para o dia, nem Jesus conseguiu isso que dirá presidentes e afins. Isso ocorrer de forma lentar e persistente, é um trabalho dedicado feito mais simples pela agilidade e pouca veracidade das redes sociais; antes, se você quisesses saber se algo era verídico ou não, teria de se debruçar sobre o assunto, ler vários jornais, análises, discutir até chegar em alguma conclusão enquanto hoje, se está no Google ou aquele youtuber ou influencer falou com certeza deve ser verdade, não é preciso se dar ao trabalho de analisar, a informação já vem pronta e sem abertura para contestação, aquilo é uma verdade e você não precisa se preocupar em analisar porque isso já foi feito para você, apenas ouça e aceite.

O Bolsonarismo aprendeu essa lição muito bem e está muito na frente enquanto a esquerda segue tentando entender como fazer isso. Desde antes de assumirem o poder, os Bolsonaristas já utilizavam a posse da narrativa como seu meio de consolidar suas ideias e planos e, mesmo quando questionados, jamais deixaram a narrativa sumir ou mudar e, no final das contas, a mentira contada mil vezes acaba virando verdade.

Através da construção de uma narrativa única e que não admite contestações, o Bolsonarimos criou raízes que não podem mais ser arrancadas, em torno de um projeto de governo e país embasado em valores nacionalistas, tradicionais e religiosos, ele se ergueu feito colosso e farol para todos que não acreditavam mais numa sociedade justa e que preferem a meritocracia ao invés de igualdade e que, convenhamos, é a cara do brasileiro médio.

O controle da narrativa está cimentado, vejam como as redes sociais Bolsonaristas não perdem tempo em contestar quaisquer fatos ou acontecimentos com outras versões dos fatos sempre citando a liberdade de expressão, opinião e de que são perseguidos por expressarem seus ideais, não há comprovação, não há argumento apenas o discurso de que são perseguidos sem informar de que fazem o mesmo ou, quando confrontados com provas irrefutáveis, usam as mesmas desculpas, foi tirado de contexto, não deixaram margem para explicação e se vitimizam apontando o dedo para a patrulha ideológica.

Bolsonaro e seus seguidores assumem esse tom messiânico em suas narrativas, não existe contexto aplicável, não existe debate de ideias, apenas as mesmas histórias contadas com palavras diferentes e não importa se não correspondem aos fatos porque estes precisam dobrar-se a narrativa e não o oposto. Então pouco importa se eles defendem a tortura, se defendem o preconceito, o racismo, o machismo ou qualquer outra barbaridade, dentro da narrativa Bolsonarista isso não importa porque não são os fatos que importam mas a narrativa e ela está sob controle.

Não seria de espantar que esse controle fique ainda mais ferrenho com a proximidade das eleições e muito pior num eventual segunda mandato o qual, se vier, talvez a história que será estudada no futuro seja bem diferente da que conhecemos afinal, o que seria mudar a história para quem a está escrevendo?

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Published on April 26, 2022 04:30

April 25, 2022

O horror na porta de casa

Existe uma possibilidade de termos um segundo mandato de Bolsonaro mesmo com todas as pesquisas indicando que sua reeleição seja muito incerta. Além de controlar a máquina estatal, ele detém a narrativa por mais absurda que seja ante os fatos, quem o segue não está preocupado com a veracidade dos fatos ou perigo às instituições e democracia, acredita piamente no capitão e vive em uma realidade paralela onde apenas o que ele diz é verdade inconteste.
Se um primeiro mandato serviu de abre-alas para o governo conservador e extremista, um segunda mandato lhe dará uma abertura sem precedentes para consolidar a autocracia tão sonhada e, porque não, dobrando a lei e instituições a seu bel prazer, perpetuar-se no poder seja através de um golpe rasgado (pouco provável mas não impossível) ou da eleição de alguém pode ele indicado que dê continuidade ao plano de limpar o país da corja ideológica comunista.
O projeto de poder Bolsonarista plantou sementes fortes neste primeiro mandato, aparelhou os órgãos governamentais e afins para atendessem ao plano messiânico da família miliciana barrando quaisquer possibilidades de aferição ou apuração de desvios ou má conduta restando apenas a judicialalização do Estado para tentar bloquear os exageros absolutistas do messias, não se trata de um Estado sujeito aos desmandos da mais alta corte mas esta tapando buracos feitos pelo governo na tentativa de desestabilizar as estruturas e tomar o resto que lhe falta para consolidar seu poder.
Num eventual segundo mandato, Bolsonaro poderá aumentar sua influência no judiciário e, com respaldo das urnas, passar a próxima fase de seu plano nefasto banindo por completo qualquer frente ideológica, política, cultural ou social que lhe faça oposição alegando agira dentro da lei e no melhor interessa da nação como fez ao perdoar seu fiel escudeiro semana passada.
Mas, o risco maior de um segunda mandato recai sobre a normalização do Bolsonarismo e seu líder, não se trata apenas de pregar para os convertidos, coisa que mesmo a esquerda parece não saber até hoje fazer mas, tanto já xingamos, falamos mal, memes, panelaços, tanto já foi atribuído ao governo Bolsonaro e a ele mesmo através de seus mandos e desmandos, falas e fake news que nada mais o amedronta, nada mais cola e assim, ele se sente livre para fazer cada vez pior já que não há qualquer previsão de penalidade a curto prazo, em qualquer outra democracia que se preze, ele já teria sido deposto mas, aqui, estamos jogando pôquer com o demônio que é sempre matreiro, Boslsonaro não apenas dá as cartas como regula as apostas e rouba descaradamente sem que ninguém reclame.
O Bolsonarismo vive em uma realidade paralela onde as leis da física trabalham de forma distinta, ele constrói a narrativa e se apega a ela de forma ferrenha difamando quem se atreve a contestar seus fatos distorcidos, acusando essas pessoas de não serem patriotas, serem contra o país e desejarem implantar o comunismos vide seu discurso na ONU de um tempo atrás onde afirmou que pegou um país em vias de virar comunista.
Conforme se aproximarem as eleições, esse discurso vai ganhar mais e mais força, os ataques serão mais baixos e sangrentos e não ficaria impressionado se ele mais uma vez forjasse um atentado, todo mundo adora um mártir. Bolsonaro não precisa apresentar plano de governo para ser reeleito, basta seguir com sua estratégia atual e apenas intensificar seu discurso de que está numa cruzada contra o mal, seu eleitorado fará o resto...
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Published on April 25, 2022 04:30