O Medo Quotes

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O Medo O Medo by Al Berto
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O Medo Quotes Showing 1-18 of 18
“Sinto que há uma estranha eternidade naquilo que amámos e foi destruído.' / 1991”
Al Berto, O Medo
“sabes
por vezes queria beijar-te
sei que consentirias
mas se nos tivéssemos dado um ao outro ter-nos-íamos separado
porque os beijos apagam o desejo quando consentidos
foi melhor sabermos quanto nos queríamos
sem ousarmos sequer tocar nossos corpos
hoje tenho pena
parto com essa ferida
tenho pena de não ter percorrido o teu corpo
como percorro os mapas com os dedos teria viajado em ti
do pescoço às mãos da boca ao sexo
tenho pena de nunca ter murmurado o teu nome
acordado
perto de ti as noites teriam sido de ouro
e as mãos teriam guardado o sabor do teu corpo”
Al Berto, O Medo
“o passado não é senão um sonho. uma brincadeira com clepsidras avariada e algum sangue.”
Al Berto, O Medo
“Dia da Criação da Noite por Carlos Nogueira


estavam os homens as águas os animais e as terras
cansados de luz e de não haver noite
levantei as mãos
fiz rodar a terra para que se retirasse o sol
enrolei os dedos nas últimas fulgurações
teci com os cintilantes fios
a misteriosa linguagem dos astros

depois
fui pela escura abóbada
estendi a fantástica tapeçaria
para que lá em baixo ninguém perdesse o seu caminho
e nela pudesse adivinhar o doloroso humano destino

a noite ficou assim tão habitada quanto a terra
os homens podem hoje sonhar com aquilo que mal entendem
e quando o medo atribuiu nomes àquele luzeiro
dei por terminada a obra
cortei os fios como se cortasse um pedaço de mim
fui para outro hemisfério adormecer o dia
construir a pirâmide o quadrado o círculo a linha recta
as cores do mundo
e dar vida a outras incandescentes criaturas


in A Secreta Vida das Imagens III (1984/85) de O Medo”
Al Berto, O Medo
“conheci o imutável bolor do rectangular país
a histérica península
o buraco onde coalhou o pressagioso nevoeiro de Quibir
que país é este? onde a espera definha noutra espera

in A SEGUIR O DESERTO”
Al Berto, O Medo
“(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no coração, mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)

in SALSUGEM”
Al Berto, O Medo
“uma aranha arrasta-se sobre a folha de papel
espeto-lhe o aparo... escrevo
a crueldade das palavras que te cantam

in ERAS NOVO AINDA”
Al Berto, O Medo
“enquanto escrevo, despontam corpos esbeltos dos vasos
por entre as plantas e a loucura
onde o mais secreto desejo se mantém jovem”
Al Berto, O Medo
“quem me dera que a chuva viesse e nos diluísse um ao outro,
e pela noite corrêssemos como um regato
em direcção ao mar.”
Al Berto, O Medo
“um fio de sémen atava o coração devassado pela salsugem

in SALSUGEM”
Al Berto, O Medo
tags: poesia
“tenho medo, medo de voltar a escrever incessantemente e rasgar tudo o que escrevo, como se o corpo todo estremecesse pela última vez.”
Al Berto, O Medo
“a memória é hoje uma ferida onde lateja a Pedro do Homem, hirta como uma sombra num sonho
e as aves? frágeis quando aperta a tempestade... migraram como eu?
aonde caminhas, Doce Moura Encantada?
(...)
escuto o lamento das águas e sei que tudo continua vivo no fundo do mar... e no coração persistente das plantas
(...)
em ti cresce o precioso silêncio, as ostras doentes e as pérolas sem rumo
em ti se perdem os ventos, a solidão do mar e este demorado lamento

in MAR-DE-LEVA (textos dedicados à vila de Sines)”
Al Berto, O Medo
tags: sines
fico quieto ao ver-te arder dentro de mim, cintilo
Al Berto, O Medo
“Salive m'encule
éclipse de corps textures du tissu et de la peau regard meurtrier foutre attouchements verre épais peaux lunaires

in Salive, Hôtel de la Gare”
Al Berto, O Medo
“pássarolâmina em noite de esperma subindo-me pelo ânus / sussurro de corpo extenuado / minúscula flor de unguento penetrando a pedra e o cristal”
Al Berto, O Medo
“Salive songe a une orange.”
Al berto, O Medo
“PANORÂMICA SOBRE A CIDADE EM CÉU DE SERINGAS TRANSPARENTES: no centro do sismo está o jardim de borboletas / estranho rosto de asas queimadas estendido por cima da pálpebra / boca seca e aberta / petrifica um desejo de esperma / treme o corpo ao sugar a seiva da luz / uma lâmina corre vertiginosa pela ausência de outro corpo / nos dedos um caroço estelar / pulsos abertos manchando a noite das cidades / luares brancos de Tangerina / acorda / sem dias e sem noites / minuciosamente o tempo grava em mim Tangerina / a sombra dum osso e duma laranja nas mãos /

in 4. / As mãos de Kapa num Jardim D'Agosto”
Al Berto, O Medo
“Lo que veo ya no se puede cantar.”
Al Berto, El miedo: Poemas escogidos