Deana Barroqueiro's Blog: Author's Central Page, page 15
March 27, 2020
Receita de cozinha para quarentena 5
Bolo Virado de Ananás e Nozes (a minha receita inglesa)
Ingredientes: Manteiga 125 g: açúcar 125 g; ovos 2 inteiros; farinha 150 g; fermento em pó 1 colher de chá; leite 3 colheres de sopa; baunilha algumas gotas; nozes e passas a gosto. Para forrar a forma de 20 cm de diâmetro: Açúcar mascavado 50 g; Manteiga 50 g; Ananás ou abacaxi às rodelas, fresco ou de lata.
Preparação: Prepare a forma com antecedência, derretendo nela a manteiga e espalhando-a pelo fundo, que se cobre com o açúcar mascavado, como um tapete, sobre o qual se dispõem as rodelas do ananás, segundo a imaginação de cada um, meias nozes e passas.
Massa: Bata o açúcar com a manteiga até obter um creme branco e macio. Bata bem os ovos inteiros, à parte, e junte-os à massa, a pouco e pouco, com muito cuidado, batendo sempre energicamente para a massa não talhar (se estiver em perigo, pode misturar um pouco de farinha para unir). Misture na massa, com cuidado, a farinha peneirada com o fermento, alternadamente com o leite a que juntou a baunilha. Acrescente as nozes e passas a gosto. Deite a massa na forma, sobre o tapete de manteiga e açúcar, com muito cuidado, alisando a superfície.
Leve a cozer em forno moderado (Gás 4 ou 180º), cerca de 40 minutos. Vire-o sobre um prato de serviço, enquanto quente.
Ingredientes: Manteiga 125 g: açúcar 125 g; ovos 2 inteiros; farinha 150 g; fermento em pó 1 colher de chá; leite 3 colheres de sopa; baunilha algumas gotas; nozes e passas a gosto. Para forrar a forma de 20 cm de diâmetro: Açúcar mascavado 50 g; Manteiga 50 g; Ananás ou abacaxi às rodelas, fresco ou de lata.
Preparação: Prepare a forma com antecedência, derretendo nela a manteiga e espalhando-a pelo fundo, que se cobre com o açúcar mascavado, como um tapete, sobre o qual se dispõem as rodelas do ananás, segundo a imaginação de cada um, meias nozes e passas.
Massa: Bata o açúcar com a manteiga até obter um creme branco e macio. Bata bem os ovos inteiros, à parte, e junte-os à massa, a pouco e pouco, com muito cuidado, batendo sempre energicamente para a massa não talhar (se estiver em perigo, pode misturar um pouco de farinha para unir). Misture na massa, com cuidado, a farinha peneirada com o fermento, alternadamente com o leite a que juntou a baunilha. Acrescente as nozes e passas a gosto. Deite a massa na forma, sobre o tapete de manteiga e açúcar, com muito cuidado, alisando a superfície.
Leve a cozer em forno moderado (Gás 4 ou 180º), cerca de 40 minutos. Vire-o sobre um prato de serviço, enquanto quente.
Published on March 27, 2020 09:52
OS «CROMOS» DO CORONAVÍRUS: BOLSONARO
"Itália é como Copacabana..." E é gente como esta - Bolsonaro, Trump e afins - que governam milhões de pessoas!
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, comparou Itália a um bairro de Copacabana e desvalorizou a quantidade de mortes que o país europeu tem sofrido devido à pandemia de coronavírus.
Bolsonaro disse, na semana passada e em declarações aos jornalistas, que há um velhinho ou um casal de velhinhos em cada apartamento de Itália e normalizou as mortes que a Covid-19 está a fazer no país.
O presidente brasileiro disse ainda que as mortes no Brasil associadas ao coronavírus estão a atingir pessoas com outras patologias e que não pode haver "histeria" por causa da pandemia.
NOVA PÉROLA DO CROMO BOLSONARO:
"Brasileiro pula em esgoto e não acontece nada", diz Bolsonaro em alusão a infecção pelo coronavírus.
Para presidente, "muita gente já foi infectada" e por isso, segundo ele, adquiriu anticorpos que ajudam #a não proliferar isso daí". Ele pretende usar hotéis ociosos para isolar idosos.
Vídeos em: https://www.record.pt/multimedia/vide...
e
https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/03/26/brasileiro-pula-em-esgoto-e-nao-acontece-nada-diz-bolsonaro-em-alusao-a-infeccao-pelo-coronavirus.ghtml
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, comparou Itália a um bairro de Copacabana e desvalorizou a quantidade de mortes que o país europeu tem sofrido devido à pandemia de coronavírus.
Bolsonaro disse, na semana passada e em declarações aos jornalistas, que há um velhinho ou um casal de velhinhos em cada apartamento de Itália e normalizou as mortes que a Covid-19 está a fazer no país.
O presidente brasileiro disse ainda que as mortes no Brasil associadas ao coronavírus estão a atingir pessoas com outras patologias e que não pode haver "histeria" por causa da pandemia.
NOVA PÉROLA DO CROMO BOLSONARO:
"Brasileiro pula em esgoto e não acontece nada", diz Bolsonaro em alusão a infecção pelo coronavírus.
Para presidente, "muita gente já foi infectada" e por isso, segundo ele, adquiriu anticorpos que ajudam #a não proliferar isso daí". Ele pretende usar hotéis ociosos para isolar idosos.
Vídeos em: https://www.record.pt/multimedia/vide...
e
https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/03/26/brasileiro-pula-em-esgoto-e-nao-acontece-nada-diz-bolsonaro-em-alusao-a-infeccao-pelo-coronavirus.ghtml
Published on March 27, 2020 09:40
March 23, 2020
Camões e a Grande Peste de 1569
O flagelo da Peste Negra era uma constante ameaça dos povos, durante a Idade Média e épocas seguintes. Em 1569, a Grande Peste matou 60.000 pessoas só em Lisboa. Luís de Camões regressou da Índia, nesse ano, um episódio que recrio no meu romance "D. Sebastião e o Vidente", de que transcrevo parte do Cap. 47, para quem tiver paciência de me ler possa ver as semelhanças: Cap. 47
Quando a nau Santafé surgiu no porto de Cascais, tanto os tripulantes, como os passageiros sentiram o medo nos gestos das gentes que se azafamavam nos cais ou faziam serviço nos botes, que iam e vinham entre os molhes e os navios fundeados ao largo, a transportar mercadorias e viajantes.
– Que se passa? – perguntou Luís Vaz aos amigos que encontrou na coberta, debruçados na amurada a falar com os tripulantes de uma barcaça. Trazia ainda o rosto marcado pela dor da inesperada morte do poeta Heitor da Silveira, seu grande amigo e companheiro de viagem, cujo coração não resistira à emoção de avistar a pátria.
– É a Peste Grande, pesar do Diabo! – respondeu-lhe Diogo de Couto, o cronista, com uma ruga de profunda preocupação a vincar-lhe a testa. – Matou mais de metade da população de Lisboa! Duarte de Abreu acrescentou: – E dizem-nos aqueles dois que é um perigo entrarmos na cidade, pois a pestilência ainda causa mortes. Na zina do furor, ceifou por dia quinhentas a seiscentas pessoas! Deixou de haver sítio e gente para enterrar os mortos.
– Mau pecado! Assim, tão cedo não poderei imprimir os meus Lusíadas! – exclamou, com profunda mágoa, fazendo sorrir os companheiros apesar da gravidade da catástrofe.
***
Afligidos pelo seu sofrimento, haviam-lhe pagado as dívidas, a passagem e o fato para regressar a Lisboa, onde os esperavam a desolação e a morte. Por isso, não era de admirar que o seu primeiro pensamento fosse para Os Lusíadas, único tesouro, salvo a duras penas, durante um naufrágio em que perdera todos os seus bens, incluindo a formosa escrava que lhe adoçava o desterro. O desastre valera-lhe uma acusação de fraude, com o dinheiro dos órfãos, pela qual teria de responder na justiça.
– Terás de te quedar em Lisboa, apesar da peste, enquanto esperas pelo julgamento – lembrou Couto, preocupado. – Trataremos de mover influências para que se faça depressa justiça e te vejas absolvido e livre de falsas acusações.
Uma sombra perpassou pelo rosto do poeta, desfigurado pela perda do olho em Ceuta.
– A troco de descansos que esperava, / das capelas de louro que me honrassem, / trabalhos nunca usados me inventaram / com que em tão duro estado me deitaram!
Os amigos concordaram em silêncio, admirando a arte com que aquele génio, tão humilhado e desprezado, esculpia os versos atormentados da sua dor. Diogo de Couto despediu-se e partiu para Almeirim, a fim de solicitar a el-rei licença para a nau poder entrar no Tejo e nos portos de Lisboa, encerrados por causa da peste.
Recebida a autorização real, o navio lançou âncora ao largo do Cais da Ribeira e os passageiros embarcaram nos escaleres que os levaram para terra. Sem o buliçoso fervilhar dos matalotes, estivadores e mariolas, Luís Vaz teve dificuldade em reconhecer, nos desolados molhes, o porto da capital portuguesa, centro de um riquíssimo comércio e destino final de inúmeros navios da Europa, da Carreira da Índia ou das Terras de Vera Cruz, comummente designadas por Brasil.
– Para onde ides agora? – perguntou-lhe Luís da Veiga. – Tendes pousada?
– Irei para casa de minha mãe, Ana de Sá.
– Acautelai-vos, Luís – falou António Serrão, sabendo que nada fazia recuar o poeta, nem mesmo o medo da morte. – Tratai de vos resguardar dos maus ares desta peste. Lembrai-vos d’Os Lusíadas!
Seguido pelo fiel escravo jau, que lhe transportava o modesto fato, Camões dirigiu-se para a sua antiga casa, na Calçada de Santana, atravessando a zona da Ribeira, outrora enxameada de gente – com os seus mercados, as tavernas e hospedarias, as tendas de malcozinhado, onde comera tantas vezes antes da sua partida para a Índia –, agora deserta e sem vida. Nas estreitas ruas e vielas, os prédios silenciosos, sem vizinhas às janelas nem roupas penduradas nas cordas, pareciam ameaçar os raros viandantes com as terríficas cruzes brancas pintadas nas portas, indiciadoras da passagem mortífera do Quarto Cavaleiro do Apocalipse.
Um físico, precedido de dois ajudantes empunhando archotes acesos, meteu-se num beco para dar passagem a Camões e poupá-lo ao perigo de contágio, pois a peste manifestava-se agora por outros sintomas mais perigosos do que os bubões, atacando os pulmões e o sangue, propagando-se com a velocidade de um raio.
O médico segurava numa das mãos a esponja embebida em vinagre, destinada a purificar o ar que respirava, usava a máscara de bico comprido, cheio de substâncias aromáticas, os vidros redondos sobre os olhos, para evitar a transmissão do mal pelo olhar dos enfermos, a veste violeta e o bastão vermelho de S. Roque que o mostravam à população como Mestre da Peste. O poeta agradeceu e cortejou-o à passagem, sentindo admiração pelo físico que, ao contrário de muitos outros, não fugira da cidade, nem abandonara os doentes à sua sorte.
– Luís Vaz, que fazes aqui, nesta terra desventurada?
O homem magro, de roupas sujas e desalinhadas, saíra de uma das casas e parara diante dele, olhando-o com espanto. Tinha o rosto macilento, parecendo um morto-vivo, e Camões não o reconheceu.
– Sou o Gonçalo Fernandes, o mestre de escrita de Trancoso. Não me reconheces? – Não havia alegria nem calor na sua voz. – Também não é para admirar, com tudo o que passei...
Gonçalo Fernandes de Trancoso, o homem que gostava de escrever histórias de proveito e exemplo! Nem parecia o mesmo e o poeta mentiu:
– Como não havia de te conhecer, homem?! Mas acabo de chegar da Índia e ainda não me recompus do abalo de ver Lisboa em estado de sítio. Graças a Deus que te encontro são e vivo, meu amigo!
– Preferia mil vezes a morte ao castigo que Deus me deu! – revoltou-se, e as faces afoguearam-se de vermelho, que as lágrimas grossas depressa descoloriram. – A peste roubou-me em poucos dias uma filha e um filho moços, um neto e, por último, para meu maior desespero, a minha adorada mulher. Vai-te daqui, homem, enquanto é tempo. Eu fico, que ando a buscar a morte.
Cheio de mágoa, ficou a vê-lo afastar-se, correndo, com o olhar perdido de um louco. Os sinos dobravam em sinal de luto e só os condenados, com vestes de bocaxim, a arrastar as suas grilhetas, se viam nas ruas transportando em carroças os empestados para o hospital e casas de saúde ou os cadáveres para as enormes valas comuns, onde se chegavam a enterrar sessenta corpos na mesma cova.
Tal como acontecera em outros anos de peste negra, estes criminosos, a quem os reis ofereciam o perdão em troca de tão perigoso serviço, não deixariam de se aproveitar da função para assassinar e roubar os moribundos que achassem sozinhos dentro das suas casas. O poeta tapou a boca e o nariz com um lenço, para evitar o cheiro a pestilência e morte, que lhe revolvia as entranhas, entontecendo-o de mareio.
Deana Barroqueiro – D. Sebastião e o Vidente
Quando a nau Santafé surgiu no porto de Cascais, tanto os tripulantes, como os passageiros sentiram o medo nos gestos das gentes que se azafamavam nos cais ou faziam serviço nos botes, que iam e vinham entre os molhes e os navios fundeados ao largo, a transportar mercadorias e viajantes.
– Que se passa? – perguntou Luís Vaz aos amigos que encontrou na coberta, debruçados na amurada a falar com os tripulantes de uma barcaça. Trazia ainda o rosto marcado pela dor da inesperada morte do poeta Heitor da Silveira, seu grande amigo e companheiro de viagem, cujo coração não resistira à emoção de avistar a pátria.
– É a Peste Grande, pesar do Diabo! – respondeu-lhe Diogo de Couto, o cronista, com uma ruga de profunda preocupação a vincar-lhe a testa. – Matou mais de metade da população de Lisboa! Duarte de Abreu acrescentou: – E dizem-nos aqueles dois que é um perigo entrarmos na cidade, pois a pestilência ainda causa mortes. Na zina do furor, ceifou por dia quinhentas a seiscentas pessoas! Deixou de haver sítio e gente para enterrar os mortos.
– Mau pecado! Assim, tão cedo não poderei imprimir os meus Lusíadas! – exclamou, com profunda mágoa, fazendo sorrir os companheiros apesar da gravidade da catástrofe.
***
Afligidos pelo seu sofrimento, haviam-lhe pagado as dívidas, a passagem e o fato para regressar a Lisboa, onde os esperavam a desolação e a morte. Por isso, não era de admirar que o seu primeiro pensamento fosse para Os Lusíadas, único tesouro, salvo a duras penas, durante um naufrágio em que perdera todos os seus bens, incluindo a formosa escrava que lhe adoçava o desterro. O desastre valera-lhe uma acusação de fraude, com o dinheiro dos órfãos, pela qual teria de responder na justiça.
– Terás de te quedar em Lisboa, apesar da peste, enquanto esperas pelo julgamento – lembrou Couto, preocupado. – Trataremos de mover influências para que se faça depressa justiça e te vejas absolvido e livre de falsas acusações.
Uma sombra perpassou pelo rosto do poeta, desfigurado pela perda do olho em Ceuta.
– A troco de descansos que esperava, / das capelas de louro que me honrassem, / trabalhos nunca usados me inventaram / com que em tão duro estado me deitaram!
Os amigos concordaram em silêncio, admirando a arte com que aquele génio, tão humilhado e desprezado, esculpia os versos atormentados da sua dor. Diogo de Couto despediu-se e partiu para Almeirim, a fim de solicitar a el-rei licença para a nau poder entrar no Tejo e nos portos de Lisboa, encerrados por causa da peste.
Recebida a autorização real, o navio lançou âncora ao largo do Cais da Ribeira e os passageiros embarcaram nos escaleres que os levaram para terra. Sem o buliçoso fervilhar dos matalotes, estivadores e mariolas, Luís Vaz teve dificuldade em reconhecer, nos desolados molhes, o porto da capital portuguesa, centro de um riquíssimo comércio e destino final de inúmeros navios da Europa, da Carreira da Índia ou das Terras de Vera Cruz, comummente designadas por Brasil.
– Para onde ides agora? – perguntou-lhe Luís da Veiga. – Tendes pousada?
– Irei para casa de minha mãe, Ana de Sá.
– Acautelai-vos, Luís – falou António Serrão, sabendo que nada fazia recuar o poeta, nem mesmo o medo da morte. – Tratai de vos resguardar dos maus ares desta peste. Lembrai-vos d’Os Lusíadas!
Seguido pelo fiel escravo jau, que lhe transportava o modesto fato, Camões dirigiu-se para a sua antiga casa, na Calçada de Santana, atravessando a zona da Ribeira, outrora enxameada de gente – com os seus mercados, as tavernas e hospedarias, as tendas de malcozinhado, onde comera tantas vezes antes da sua partida para a Índia –, agora deserta e sem vida. Nas estreitas ruas e vielas, os prédios silenciosos, sem vizinhas às janelas nem roupas penduradas nas cordas, pareciam ameaçar os raros viandantes com as terríficas cruzes brancas pintadas nas portas, indiciadoras da passagem mortífera do Quarto Cavaleiro do Apocalipse.
Um físico, precedido de dois ajudantes empunhando archotes acesos, meteu-se num beco para dar passagem a Camões e poupá-lo ao perigo de contágio, pois a peste manifestava-se agora por outros sintomas mais perigosos do que os bubões, atacando os pulmões e o sangue, propagando-se com a velocidade de um raio.
O médico segurava numa das mãos a esponja embebida em vinagre, destinada a purificar o ar que respirava, usava a máscara de bico comprido, cheio de substâncias aromáticas, os vidros redondos sobre os olhos, para evitar a transmissão do mal pelo olhar dos enfermos, a veste violeta e o bastão vermelho de S. Roque que o mostravam à população como Mestre da Peste. O poeta agradeceu e cortejou-o à passagem, sentindo admiração pelo físico que, ao contrário de muitos outros, não fugira da cidade, nem abandonara os doentes à sua sorte.
– Luís Vaz, que fazes aqui, nesta terra desventurada?
O homem magro, de roupas sujas e desalinhadas, saíra de uma das casas e parara diante dele, olhando-o com espanto. Tinha o rosto macilento, parecendo um morto-vivo, e Camões não o reconheceu.
– Sou o Gonçalo Fernandes, o mestre de escrita de Trancoso. Não me reconheces? – Não havia alegria nem calor na sua voz. – Também não é para admirar, com tudo o que passei...
Gonçalo Fernandes de Trancoso, o homem que gostava de escrever histórias de proveito e exemplo! Nem parecia o mesmo e o poeta mentiu:
– Como não havia de te conhecer, homem?! Mas acabo de chegar da Índia e ainda não me recompus do abalo de ver Lisboa em estado de sítio. Graças a Deus que te encontro são e vivo, meu amigo!
– Preferia mil vezes a morte ao castigo que Deus me deu! – revoltou-se, e as faces afoguearam-se de vermelho, que as lágrimas grossas depressa descoloriram. – A peste roubou-me em poucos dias uma filha e um filho moços, um neto e, por último, para meu maior desespero, a minha adorada mulher. Vai-te daqui, homem, enquanto é tempo. Eu fico, que ando a buscar a morte.
Cheio de mágoa, ficou a vê-lo afastar-se, correndo, com o olhar perdido de um louco. Os sinos dobravam em sinal de luto e só os condenados, com vestes de bocaxim, a arrastar as suas grilhetas, se viam nas ruas transportando em carroças os empestados para o hospital e casas de saúde ou os cadáveres para as enormes valas comuns, onde se chegavam a enterrar sessenta corpos na mesma cova.
Tal como acontecera em outros anos de peste negra, estes criminosos, a quem os reis ofereciam o perdão em troca de tão perigoso serviço, não deixariam de se aproveitar da função para assassinar e roubar os moribundos que achassem sozinhos dentro das suas casas. O poeta tapou a boca e o nariz com um lenço, para evitar o cheiro a pestilência e morte, que lhe revolvia as entranhas, entontecendo-o de mareio.
Deana Barroqueiro – D. Sebastião e o Vidente
Published on March 23, 2020 11:53
March 18, 2020
Receita de Cozinha para Quarentena 4
QUARENTENA COM DOÇURA
Permite fazer uma parte de véspera e é delicioso!
Creme fofo de Ananás Ingredientes:
Para o creme: Leite 5 dl; açúcar 200 g; ovos: 3 gemas separadas das 3 claras; farinha Maizena para engrossar 1 c. de sopa; ananás ou abacaxi às rodelas, fresco (ou de lata, mas o fresco fica melhor), escorrido e em pedacinhos; raspa de 1 limão.
Para o Chantilly: natas 125 g; açúcar em pó (Icing Suggar) 100 g (menos é melhor para a saúde); baunilha umas gotas.
Preparação do Chantilly: Bata as natas com o açúcar (que deve ir juntando aos poucos) até engrossar e “fazer estrada”, ou seja, riscos no creme, mas com cuidado para não bater demasiado e fazer manteiga). No fim, junte umas gotas de baunilha e ponha no frigorífico.
Preparação do creme: Pode fazê-lo de véspera e deixar no frigorífico. Num tacho médio, leve a lume brando a mistura do leite com o açúcar, as gemas, a farinha Maizena; vá mexendo sempre até engrossar. Deve ferver suavemente e apenas 2 ou 3 minutos. Tire do fogo e junte raspa de um limão e deixe arrefecer um pouco; deite o creme na taça de vidro onde será servido e meta no frigorífico para ficar bem frio.
Cerca de meia hora antes de servir, misture no creme, com mil cuidados, as claras batidas em castelo bem firme, espalhando por cima os pedaços do ananás escorridos. Cubra este preparado com as natas batidas com o açúcar (Chantilly)
Bom proveito!
Permite fazer uma parte de véspera e é delicioso!
Creme fofo de Ananás Ingredientes:
Para o creme: Leite 5 dl; açúcar 200 g; ovos: 3 gemas separadas das 3 claras; farinha Maizena para engrossar 1 c. de sopa; ananás ou abacaxi às rodelas, fresco (ou de lata, mas o fresco fica melhor), escorrido e em pedacinhos; raspa de 1 limão.
Para o Chantilly: natas 125 g; açúcar em pó (Icing Suggar) 100 g (menos é melhor para a saúde); baunilha umas gotas.
Preparação do Chantilly: Bata as natas com o açúcar (que deve ir juntando aos poucos) até engrossar e “fazer estrada”, ou seja, riscos no creme, mas com cuidado para não bater demasiado e fazer manteiga). No fim, junte umas gotas de baunilha e ponha no frigorífico.
Preparação do creme: Pode fazê-lo de véspera e deixar no frigorífico. Num tacho médio, leve a lume brando a mistura do leite com o açúcar, as gemas, a farinha Maizena; vá mexendo sempre até engrossar. Deve ferver suavemente e apenas 2 ou 3 minutos. Tire do fogo e junte raspa de um limão e deixe arrefecer um pouco; deite o creme na taça de vidro onde será servido e meta no frigorífico para ficar bem frio.
Cerca de meia hora antes de servir, misture no creme, com mil cuidados, as claras batidas em castelo bem firme, espalhando por cima os pedaços do ananás escorridos. Cubra este preparado com as natas batidas com o açúcar (Chantilly)
Bom proveito!
Published on March 18, 2020 10:32
A Criação do Mundo e os Portugueses
Das "Crónicas de Monções e de Marés: A Criação do Mundo e os Portugueses
A "professora-sibila" tem uma visão da criação do Mundo e profetiza o papel dos portugueses e dos Descobrimentos nesse Universo.
O FOGO E A ÁGUA
No início…
…as Moiras, ao fiarem desleixadas o destino da Sibila, emaranharam de nós cegos o fio da sua vida. Para sempre preso ao Tudo e ao Nada, o ser da pitonisa nunca encontrou paz ou equilíbrio, mas viveu cada momento com nervos e linfa de mil vidas.
À medida que o Tempo ia mordendo de sombra os olhos da Sibila, mais clara e profunda se tornava a visão da sua mente. Via agora para além da realidade próxima e, através da opacidade tranquilizadora dos corpos, penetrara nas fráguas e abismos da alma humana.
A profetiza abrira a caixa de Pandora e chorava a perda da inocência. De si já nada tinha. Como a esponja do mar, absorvera gotas de memória, espumas de sentir, sal de risos e sargaços de agonia. Quando falava, as palavras já não eram as suas, eram vozes roubadas às divindades mortas e a pitonisa sentia como Cassandra o vazio dos seus oragos.
Amara o mundo e quisera partilhar com ele o dom da sua visão, mas aos olhos dos outros apenas trazia o estigma da loucura que provocava o riso ou a piedade. Ferida, buscara a solidão do mundo das sombras e, da sua descida aos Infernos, a Sibila renascera como um ser crepuscular, cujas visões pressagiavam Dor e Desastre, pois a luz pura de Apolo cedera lugar à chama negra de Hades .
O Cabo, batido por ventos e marés, ferido no guincho das gaivotas, era o santuário onde, a cada Poente, a Pitonisa recebia o dom pavoroso da Visão. Quando o sol baixava à linha do horizonte, a Vidente fitava sem pestanejar a bola de fogo cada vez mais próxima, até os olhos se lhe incendiarem de dor.
Cerradas as pálpebras, a negra película da retina explodia num Caos de cores: os ocres, verdes e castanhos de Terra; os vermelhos, laranjas e amarelos de Fogo; os azuis e cinzas de Água; e a insustentável transparência do Ar fundiam-se, para fluir ou refluir em amálgamas de tons e de matérias. A Fénix renascia das cinzas e o Universo tomava forma aos olhos da Sibila.
Primeiro separavam-se as duas faces das Trevas do Mundo _ Nyx, a Noite e o irmão Érebo, o escuro Mundo dos Infernos. A Pitonisa via a Noite tornar-se côncava, o óvulo primordial fecundado pela força espiritual de Eros, o Amor, para criar Urano, o Céu infinito, e Geia , a Terra geradora de vida. Depois Urano cobriu Geia para nela gerar os seis pares de Titãs, as forças elementares e naturais do Universo.
O Titã Oceano, a água primordial que rodeia o Mundo, tomou assento a Oriente, no país vermelho das ilhas da Tarde, para lá das Colunas de Hércules, no Mar Roxo ou além do Golfo Pérsico. Uniu-se a Tétis, a caprichosa energia feminina dos mares do Ocidente, vivendo ambos uma relação de tumultos e reconciliações, salvaguardando a ordem do mundo e preparando as rotas dos mares para futuros navegadores.
A Sibila, no seu transe, viu surgir Hélios, o Sol, Selene, a Lua e Eos, a Aurora para iluminar o caminho dos viajantes, mas também Arges, a luz do relâmpago, Esteropes, as nuvens da tempestade e Brontes , o ronco do trovão, para semear de mistério e terror o esteiro dos navegantes. Depois vieram Zeus, Hades e Posídon e jogaram aos dados a partilha do Universo: para Zeus, senhor do raio que fulmina, ficaram o Olimpo e as zonas celestiais; para Hades, senhor do capacete invisível da Morte, as regiões subterrâneas e o reino dos Mortos; a Posídon, senhor do tridente que abala a terra e as águas, coube o domínio dos Mares.
Cansados da harmonia do Universo, os deuses divertiram-se a criar os homens. Moldaram uma nova raça de criaturas à sua imagem, mas os bonecos de barro, embora animados, não deixaram de ser bonecos e continuaram de barro e a Sibila estremeceu no horror da sua vivência. Mas Prometeu, o mais generoso dos Titãs, roubou a chama divina do Olimpo e deu-a aos homens para que, no futuro, pudessem desafiar os deuses. E os homens dominaram o Fogo e sentiram-se mais perto do Céu, mas os deuses coléricos com a ousadia infligiram à raça humana os mais terríveis castigos, lançando contra ela a fúria dos elementos.
Agora a Pitonisa tinha olhos de água e espumas, corpo de areia ao sabor de marés e monções, ouvidos de búzio com gritos de gaivotas e gentes. Arrastada pela força das correntes, estranhava aqueles mares escavados de abismo e remorso. Não havia neles o brilho esmeralda do Egeu, o ónix irisado do Jónico, o safira do Adriático ou o lápis-lazúli do Tirreno. Estes eram turvos e espessos como mosto de sargaços, fechando-se em sudários de tons baços de hematite, ágata sombria ou ametista sangrenta.
Nuvens de tempestade cegavam mar e terra, ondas erguiam-se como penhascos e os ventos contrários lutavam entre si, esgaçando velas e mastros e as vestes da Sibila. Euros lançava do Este uma bafagem maléfica e doentia contra os tornados e furacões com que Noto, o vento Sul, tentava derrubá-lo e Bóreas estendia do Norte os seus dedos de gelo para estrangular na garganta de Zéfiro, o vento do Oeste, a fúria desatada do seu fôlego.
A Sibila era um escolho no jogo das monções. Búzios sopravam por sobre as ondas o grito prolongado e lúgubre dos seus avisos e medos ancestrais gelaram o coração da Vidente. A água tinha um sabor a sal e sofrimento, cristais de vidas evaporadas, consumidas em sonhos desfeitos, inquietudes de alma e miragens de Infinito.
A Vidente deixou-se embeber do espírito das águas, memória líquida dos Oceanos, e chamou a si imagens de Argonautas perdidos, de Ulisses astuciosos, de Eneias buscando uma nova pátria, fábulas imortais de glória e castigo. Mas a Visão trouxe-lhe uma multidão anónima de seres partindo em busca das terras do Sonho, do Prazer e da Fama, para percorrer as rotas do Medo, da Dor e da Morte.
A Sibila sentia-se impregnar de terrores e heroísmos obscuros, devoções sublimes e paixões mesquinhas, humildes e nobres sacrifícios. Peões miseráveis no Xadrez dos deuses, ao sabor do lance e da jogada, sacrificados ao Rei e à Rainha, movidos no interesse do Bispo, derrubados sob as patas do Cavalo ou esmagados nos assaltos à Torre, deixaram não o nome mas a marca das suas vidas, pelos mundos repartidas em sangue, sémen, suor e lágrimas.
A Sibila mergulhou mais fundo no abismo do Tempo e recordou…
Deana Barroqueiro. 1998
(Em 1998, a minha visão piorou, com o descolamento do vítreo e eu tive de exorcizar o meu terror da cegueira e os meus exorcismo e terapias são sempre a escrita)
A "professora-sibila" tem uma visão da criação do Mundo e profetiza o papel dos portugueses e dos Descobrimentos nesse Universo.
O FOGO E A ÁGUA
No início…
…as Moiras, ao fiarem desleixadas o destino da Sibila, emaranharam de nós cegos o fio da sua vida. Para sempre preso ao Tudo e ao Nada, o ser da pitonisa nunca encontrou paz ou equilíbrio, mas viveu cada momento com nervos e linfa de mil vidas.
À medida que o Tempo ia mordendo de sombra os olhos da Sibila, mais clara e profunda se tornava a visão da sua mente. Via agora para além da realidade próxima e, através da opacidade tranquilizadora dos corpos, penetrara nas fráguas e abismos da alma humana.
A profetiza abrira a caixa de Pandora e chorava a perda da inocência. De si já nada tinha. Como a esponja do mar, absorvera gotas de memória, espumas de sentir, sal de risos e sargaços de agonia. Quando falava, as palavras já não eram as suas, eram vozes roubadas às divindades mortas e a pitonisa sentia como Cassandra o vazio dos seus oragos.
Amara o mundo e quisera partilhar com ele o dom da sua visão, mas aos olhos dos outros apenas trazia o estigma da loucura que provocava o riso ou a piedade. Ferida, buscara a solidão do mundo das sombras e, da sua descida aos Infernos, a Sibila renascera como um ser crepuscular, cujas visões pressagiavam Dor e Desastre, pois a luz pura de Apolo cedera lugar à chama negra de Hades .
O Cabo, batido por ventos e marés, ferido no guincho das gaivotas, era o santuário onde, a cada Poente, a Pitonisa recebia o dom pavoroso da Visão. Quando o sol baixava à linha do horizonte, a Vidente fitava sem pestanejar a bola de fogo cada vez mais próxima, até os olhos se lhe incendiarem de dor.
Cerradas as pálpebras, a negra película da retina explodia num Caos de cores: os ocres, verdes e castanhos de Terra; os vermelhos, laranjas e amarelos de Fogo; os azuis e cinzas de Água; e a insustentável transparência do Ar fundiam-se, para fluir ou refluir em amálgamas de tons e de matérias. A Fénix renascia das cinzas e o Universo tomava forma aos olhos da Sibila.
Primeiro separavam-se as duas faces das Trevas do Mundo _ Nyx, a Noite e o irmão Érebo, o escuro Mundo dos Infernos. A Pitonisa via a Noite tornar-se côncava, o óvulo primordial fecundado pela força espiritual de Eros, o Amor, para criar Urano, o Céu infinito, e Geia , a Terra geradora de vida. Depois Urano cobriu Geia para nela gerar os seis pares de Titãs, as forças elementares e naturais do Universo.
O Titã Oceano, a água primordial que rodeia o Mundo, tomou assento a Oriente, no país vermelho das ilhas da Tarde, para lá das Colunas de Hércules, no Mar Roxo ou além do Golfo Pérsico. Uniu-se a Tétis, a caprichosa energia feminina dos mares do Ocidente, vivendo ambos uma relação de tumultos e reconciliações, salvaguardando a ordem do mundo e preparando as rotas dos mares para futuros navegadores.
A Sibila, no seu transe, viu surgir Hélios, o Sol, Selene, a Lua e Eos, a Aurora para iluminar o caminho dos viajantes, mas também Arges, a luz do relâmpago, Esteropes, as nuvens da tempestade e Brontes , o ronco do trovão, para semear de mistério e terror o esteiro dos navegantes. Depois vieram Zeus, Hades e Posídon e jogaram aos dados a partilha do Universo: para Zeus, senhor do raio que fulmina, ficaram o Olimpo e as zonas celestiais; para Hades, senhor do capacete invisível da Morte, as regiões subterrâneas e o reino dos Mortos; a Posídon, senhor do tridente que abala a terra e as águas, coube o domínio dos Mares.
Cansados da harmonia do Universo, os deuses divertiram-se a criar os homens. Moldaram uma nova raça de criaturas à sua imagem, mas os bonecos de barro, embora animados, não deixaram de ser bonecos e continuaram de barro e a Sibila estremeceu no horror da sua vivência. Mas Prometeu, o mais generoso dos Titãs, roubou a chama divina do Olimpo e deu-a aos homens para que, no futuro, pudessem desafiar os deuses. E os homens dominaram o Fogo e sentiram-se mais perto do Céu, mas os deuses coléricos com a ousadia infligiram à raça humana os mais terríveis castigos, lançando contra ela a fúria dos elementos.
Agora a Pitonisa tinha olhos de água e espumas, corpo de areia ao sabor de marés e monções, ouvidos de búzio com gritos de gaivotas e gentes. Arrastada pela força das correntes, estranhava aqueles mares escavados de abismo e remorso. Não havia neles o brilho esmeralda do Egeu, o ónix irisado do Jónico, o safira do Adriático ou o lápis-lazúli do Tirreno. Estes eram turvos e espessos como mosto de sargaços, fechando-se em sudários de tons baços de hematite, ágata sombria ou ametista sangrenta.
Nuvens de tempestade cegavam mar e terra, ondas erguiam-se como penhascos e os ventos contrários lutavam entre si, esgaçando velas e mastros e as vestes da Sibila. Euros lançava do Este uma bafagem maléfica e doentia contra os tornados e furacões com que Noto, o vento Sul, tentava derrubá-lo e Bóreas estendia do Norte os seus dedos de gelo para estrangular na garganta de Zéfiro, o vento do Oeste, a fúria desatada do seu fôlego.
A Sibila era um escolho no jogo das monções. Búzios sopravam por sobre as ondas o grito prolongado e lúgubre dos seus avisos e medos ancestrais gelaram o coração da Vidente. A água tinha um sabor a sal e sofrimento, cristais de vidas evaporadas, consumidas em sonhos desfeitos, inquietudes de alma e miragens de Infinito.
A Vidente deixou-se embeber do espírito das águas, memória líquida dos Oceanos, e chamou a si imagens de Argonautas perdidos, de Ulisses astuciosos, de Eneias buscando uma nova pátria, fábulas imortais de glória e castigo. Mas a Visão trouxe-lhe uma multidão anónima de seres partindo em busca das terras do Sonho, do Prazer e da Fama, para percorrer as rotas do Medo, da Dor e da Morte.
A Sibila sentia-se impregnar de terrores e heroísmos obscuros, devoções sublimes e paixões mesquinhas, humildes e nobres sacrifícios. Peões miseráveis no Xadrez dos deuses, ao sabor do lance e da jogada, sacrificados ao Rei e à Rainha, movidos no interesse do Bispo, derrubados sob as patas do Cavalo ou esmagados nos assaltos à Torre, deixaram não o nome mas a marca das suas vidas, pelos mundos repartidas em sangue, sémen, suor e lágrimas.
A Sibila mergulhou mais fundo no abismo do Tempo e recordou…
Deana Barroqueiro. 1998
(Em 1998, a minha visão piorou, com o descolamento do vítreo e eu tive de exorcizar o meu terror da cegueira e os meus exorcismo e terapias são sempre a escrita)
Published on March 18, 2020 10:18
Receita de Cozinha para Quarentena 3
QUARENTENA - Receita para os que se amam:
Bolo de Namorados
Ingredientes
9 c. de sopa de leite; 9 c. de sopa de açúcar; 9 c. de sopa de farinha; 3 c. de sopa de manteiga; 2 ovos; 1 c. (chá) de fermento.
Preparação
Bata muito bem o açúcar com a manteiga, até obter um creme branco; sempre a bater junte-lhe as gemas e o leite aos poucos e com muito cuidado para não talhar (se começar a talhar, junte-lhe um pouco da farinha em continue a bater). Adicione então a farinha peneirada com o fermento e, por fim, as claras batidas em castelo. Leve ao forno em forma bem untada, durante cerca de 25 minutos.
Comam-no namorando!
Bolo de Namorados
Ingredientes
9 c. de sopa de leite; 9 c. de sopa de açúcar; 9 c. de sopa de farinha; 3 c. de sopa de manteiga; 2 ovos; 1 c. (chá) de fermento.
Preparação
Bata muito bem o açúcar com a manteiga, até obter um creme branco; sempre a bater junte-lhe as gemas e o leite aos poucos e com muito cuidado para não talhar (se começar a talhar, junte-lhe um pouco da farinha em continue a bater). Adicione então a farinha peneirada com o fermento e, por fim, as claras batidas em castelo. Leve ao forno em forma bem untada, durante cerca de 25 minutos.
Comam-no namorando!
Published on March 18, 2020 09:37
Esconjuro dos medos
"Crónicas de Monções e de Marés" Neste tempo de doença e morte, cabe bem o meu poema que introduzia os contos dos alunos, ilustrados com pinturas pelos próprios ou por colegas de Artes. Eram 12 contos, de 12 heróis que correspondiam a 12 mitos e 12 desastres ou tragédias:
Lengalenga dos Medos Em dias de nevoeiro,
Em noites de lua cheia,
Junto ao Cabo Carvoeiro
As bruxas tecem a teia,
Ao som do velho pandeiro
Cantam sua melopeia:
Doze horas tem o dia,
Outras doze tem a noite,
Sol e Lua dão magia,
Ouro e prata a quem se afoite.
Na gruta medonha e fria
E entre os monstros se acoite.
Doze meses tem o ano,
Zodíaco doze signos,
Neste mapa portulano
Doze desastres malignos,
Doze heróis no Oceano
Encontraram seus destinos.
As bruxas vão remexendo
Num caldeiro a fumegar,
Suas rezas remoendo
Maus filtros de enfeitiçar
Nas mezinhas vão metendo
Terra, Fogo, Água e Ar.
Vinte e quatro diabinhos
(Doze mais doze a somar)
Fazem feitos tão maninhos
Nesta gruta de espantar
Qu’ os pobres dos marujinhos
Foram todos naufragar.
Fortes monções vão sofrendo
Com as marés a voltear
Doze contos vão tecendo
Suas mortes d’assombrar
Tantos mares percorrendo
Sem um porto onde arribar.
Outros seis diabos chegam,
As penas são a dobrar,
Na caverna todos pintam
Malefícios de abrasar
E os que no mar navegam
Nunca mais se hão-de salvar.
A Ursa tem sete estrelas,
Outras cinco o Cruzeiro,
Indicando duas delas
Os Pólos, ao marinheiro
Que de noite espera vê-las
E seguir o seu roteiro.
Mas as bruxas fazem meia
Com feitiços de luar
E o canto da sereia
Já se ouve em alto mar,
Contra os baixios d’areia
Lá vão as naus soçobrar.
Tantos homens perdidos
E donzelas por casar!
Tantos lares destruídos
E órfãos para criar,
Quanta mulher sem marido
Fica pela vida a chorar!
Deana Barroqueiro, 1998
Lengalenga dos Medos Em dias de nevoeiro,
Em noites de lua cheia,
Junto ao Cabo Carvoeiro
As bruxas tecem a teia,
Ao som do velho pandeiro
Cantam sua melopeia:
Doze horas tem o dia,
Outras doze tem a noite,
Sol e Lua dão magia,
Ouro e prata a quem se afoite.
Na gruta medonha e fria
E entre os monstros se acoite.
Doze meses tem o ano,
Zodíaco doze signos,
Neste mapa portulano
Doze desastres malignos,
Doze heróis no Oceano
Encontraram seus destinos.
As bruxas vão remexendo
Num caldeiro a fumegar,
Suas rezas remoendo
Maus filtros de enfeitiçar
Nas mezinhas vão metendo
Terra, Fogo, Água e Ar.
Vinte e quatro diabinhos
(Doze mais doze a somar)
Fazem feitos tão maninhos
Nesta gruta de espantar
Qu’ os pobres dos marujinhos
Foram todos naufragar.
Fortes monções vão sofrendo
Com as marés a voltear
Doze contos vão tecendo
Suas mortes d’assombrar
Tantos mares percorrendo
Sem um porto onde arribar.
Outros seis diabos chegam,
As penas são a dobrar,
Na caverna todos pintam
Malefícios de abrasar
E os que no mar navegam
Nunca mais se hão-de salvar.
A Ursa tem sete estrelas,
Outras cinco o Cruzeiro,
Indicando duas delas
Os Pólos, ao marinheiro
Que de noite espera vê-las
E seguir o seu roteiro.
Mas as bruxas fazem meia
Com feitiços de luar
E o canto da sereia
Já se ouve em alto mar,
Contra os baixios d’areia
Lá vão as naus soçobrar.
Tantos homens perdidos
E donzelas por casar!
Tantos lares destruídos
E órfãos para criar,
Quanta mulher sem marido
Fica pela vida a chorar!
Deana Barroqueiro, 1998
Published on March 18, 2020 09:28
ESCRITA CRIATIVA SEM DAR POR ISSO
Há mais de 20 anos, na Escola Secundária Passos Manuel, fiz muitos projectos de escrita com os alunos, de que resultaram várias publicações, entre as quais 2 livros de contos e 2 peças de teatro (autos, à maneira de Gil Vicente, que me permitiam aplicar o programa).
Então não se falava em escrita criativa, mas era afinal aquilo que eu fazia.
"Crónicas de Monções e de Marés", uma colectânea de contos escritos pelos alunos, com a minha participação, foi, assim, um projecto que me deu um pretexto para pesquisar novos temas e conceitos, me permitiu passar mais de duas centenas de horas de deleite criativo, partilhando com os alunos o gosto pela escrita e o prazer do texto, mas, além disso, também a capacidade de admirar e procurar a beleza, o simbolismo e a riqueza das palavras, das sonoridades e das imagens de uma língua extraordinária que, por fortuna, é a nossa, em que tudo pode ser dito, da realidade mais simples e concreta, à emoção mais subtil, ou ao pensamento mais transparente ou complexo.
Que foi uma experiência de enorme impacto para os alunos, não tenho dúvidas, porque eles a definiram assim:
«Estávamos preparados para seguir o mesmo ritmo monótono de aulas, quando nos propuseram um desafio. Na verdade o desafio de fazer algo diferente dava um brilho aos olhos de cada aluno e um sorriso resplandecente, vindo da professora. Pensávamos que não íamos conseguir, mas, no fundo, todos tínhamos aquela tal esperança.
Acabou por despertar em nós uma certa curiosidade. De início, achávamos não estar à altura de algo tão grandioso, o tempo surgiu e a caneta não conseguia escrever, por vezes a esperança desaparecia, mas, conforme as ideias iam saindo, tudo ia tomando forma. até que, um dia, não conseguimos parar de escrever.
O monótono das aulas transformou-se num livro cheio de contos maravilhosos, onde a imaginação não deixou de existir. Quando vimos o resultado final, demo-nos conta de que, o que nos parecia impossível tornara-se numa coisa concreta e educativa.
Afinal valeu a pena… porque a alma não é pequena!»
Os autores da Turma do 10º Ano 4A
30 de Abril de 1998
Os temas principais estavam ligados à História e à Literatura, narrativas sobre personagens e acontecimentos históricos ou inspiradas em obras literárias do programa. Exploraram também a mitologia clássica e, como este foi um dos temas preferidos, irei "postar" alguns aqui para os partilharem com os vossos filhos, se gostarem, tal como fiz no Facebook, para ajudar a passar algum tempo, durante a quarentena da Covid-19.
Deana Barroqueiro
Então não se falava em escrita criativa, mas era afinal aquilo que eu fazia.
"Crónicas de Monções e de Marés", uma colectânea de contos escritos pelos alunos, com a minha participação, foi, assim, um projecto que me deu um pretexto para pesquisar novos temas e conceitos, me permitiu passar mais de duas centenas de horas de deleite criativo, partilhando com os alunos o gosto pela escrita e o prazer do texto, mas, além disso, também a capacidade de admirar e procurar a beleza, o simbolismo e a riqueza das palavras, das sonoridades e das imagens de uma língua extraordinária que, por fortuna, é a nossa, em que tudo pode ser dito, da realidade mais simples e concreta, à emoção mais subtil, ou ao pensamento mais transparente ou complexo.
Que foi uma experiência de enorme impacto para os alunos, não tenho dúvidas, porque eles a definiram assim:
«Estávamos preparados para seguir o mesmo ritmo monótono de aulas, quando nos propuseram um desafio. Na verdade o desafio de fazer algo diferente dava um brilho aos olhos de cada aluno e um sorriso resplandecente, vindo da professora. Pensávamos que não íamos conseguir, mas, no fundo, todos tínhamos aquela tal esperança.
Acabou por despertar em nós uma certa curiosidade. De início, achávamos não estar à altura de algo tão grandioso, o tempo surgiu e a caneta não conseguia escrever, por vezes a esperança desaparecia, mas, conforme as ideias iam saindo, tudo ia tomando forma. até que, um dia, não conseguimos parar de escrever.
O monótono das aulas transformou-se num livro cheio de contos maravilhosos, onde a imaginação não deixou de existir. Quando vimos o resultado final, demo-nos conta de que, o que nos parecia impossível tornara-se numa coisa concreta e educativa.
Afinal valeu a pena… porque a alma não é pequena!»
Os autores da Turma do 10º Ano 4A
30 de Abril de 1998
Os temas principais estavam ligados à História e à Literatura, narrativas sobre personagens e acontecimentos históricos ou inspiradas em obras literárias do programa. Exploraram também a mitologia clássica e, como este foi um dos temas preferidos, irei "postar" alguns aqui para os partilharem com os vossos filhos, se gostarem, tal como fiz no Facebook, para ajudar a passar algum tempo, durante a quarentena da Covid-19.
Deana Barroqueiro
Published on March 18, 2020 09:20
O Humor contra o Medo
Os que não podem trabalhar virtualmente nas suas profissões, podem seguir o exemplo de Newton e aproveitar a quarentena para lerem bons livros e fazerem ou criarem coisas que habitualmente não têm tempo para fazer. A quarentena da Peste Negra permitiu a Newton produzir o seu melhor trabalho.
Published on March 18, 2020 06:36
Receitas de Cozinha para a Quarentena 2
Paté de Sardinhas (aperitivos ou entrada) Ingredientes:
1 lata de sardinhas sem peles nem espinhas; 2 gemas de ovos; 1 c. de sopa de salsa picada; 1 c. de sopa de maionese; 3 c. de sopa de vinagre; sal e pimenta q.b.
Preparação:
Separe as gemas das claras (que pode usar para outra coisa), sem as rebentar, e deite-as com muito cuidado num tachinho com água a fervilhar docemente, para não rebentarem; deixe cozer só até ficarem firmes por fora (cerca de 3 minutos).
Escorra-as e no copo da varinha mágica, misture-as com o resto dos ingredientes, até obter uma pasta homogénea. Ponha este creme numa pequena taça, no frigorífico e sirva fria com tostinhas de pão.
Variantes: Pode substituir as sardinhas por atum ou salmão.
1 lata de sardinhas sem peles nem espinhas; 2 gemas de ovos; 1 c. de sopa de salsa picada; 1 c. de sopa de maionese; 3 c. de sopa de vinagre; sal e pimenta q.b.
Preparação:
Separe as gemas das claras (que pode usar para outra coisa), sem as rebentar, e deite-as com muito cuidado num tachinho com água a fervilhar docemente, para não rebentarem; deixe cozer só até ficarem firmes por fora (cerca de 3 minutos).
Escorra-as e no copo da varinha mágica, misture-as com o resto dos ingredientes, até obter uma pasta homogénea. Ponha este creme numa pequena taça, no frigorífico e sirva fria com tostinhas de pão.
Variantes: Pode substituir as sardinhas por atum ou salmão.
Published on March 18, 2020 06:26
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