André Benjamim's Blog, page 39

April 8, 2014

«O meu país não é deste Presidente, nem deste Governo» - Alexandra Lucas Coelho

Alexandra Lucas Coelho Alexandra Lucas Coelho
Fotografia de Miguel Manso - Público
Nenhuma arte é panfleto, se é panfleto não era arte. Ao mesmo tempo, toda a arte é política, no sentido em que não existe sem um outro, que pode ser apenas um. O determinante não é que sejam muitos mas que exista uma relação. Que algo actue entre um e outro.
Este livro é político, como todos os que fiz, como tudo o que faço, pelo simples facto de me pôr em relação com outros. Estar aqui hoje é político, falar em público é político. Onde há um colectivo há política.
O meu feitio seria mais não estar, mas encaro isto como parte de um trabalho que aceitei fazer desde que comecei a publicar, por acreditar que podia, devia, contribuir para os livros chegarem a mais alguém, respeitando eu tanto quem se recusa a fazer isso como quem o faz, por razões que são de cada um e de mais ninguém.
A minha opção é política, digamos. Uma forma de participação, de agir além da militância partidária. A militância não é a minha coisa, ainda bem que é a coisa de pessoas que admiro, entre os quais conto amigos. A minha coisa é escrever, falar dos livros, conseguir fazer disso uma acção.
Estou a voltar de três anos e meio a morar no Brasil. Um dia, a meio dessa estadia brasileira, pediram-me que gravasse um excerto de um conto de Clarice Lispector para o site do Instituto Moreira Salles. Era um conto em que a protagonista era portuguesa, daí o pedido, que a voz coincidisse com o sotaque. Como detestei aquela portuguesa do conto da Clarice. Tudo na boca dela era inho e ito. Era o Portugal dos Pequenitos com a nostalgia das grandezas. Aquele que diz “cá vamos andando com a cabeça entre as orelhas” mas sofre de ressentimento. O Portugal que durante 40 anos Salazar achou que era seu, pobre mas honesto-limpo-obediente, como agora o governo no poder quer Portugal, porque acha que Portugal é seu.
Estou a voltar a Portugal 40 anos depois do 25 de Abril, do fim da guerra infame, do ridículo império. Já é mau um governo achar que o país é seu, quanto mais que os países dos outros são seus. Todos os impérios são ridículos na medida em que a ilusão de dominar outro é sempre ridícula, antes de se tornar progressivamente criminosa.
(...)

Este prémio é tradicionalmente entregue pelo Presidente da República, cargo agora ocupado por um político, Cavaco Silva, que há 30 anos representa tudo o que associo mais ao salazarismo do que ao 25 de Abril, a começar por essa vil tristeza dos obedientes que dentro de si recalcam um império perdido.
E fogem ao cara-cara, mantêm-se pela calada. Nada estranho, pois, que este presidente se faça representar na entrega de um prémio literário. Este mundo não é do seu reino. Estamos no mesmo país, mas o meu país não é o seu país. No país que tenho na cabeça não se anda com a cabeça entre as orelhas, “e cá vamos indo, se deus quiser”.
Não sou crente, portanto acho que depende de nós mais do que irmos indo, sempre acima das nossas possibilidades para o tecto ficar mais alto em vez de mais baixo. Para claustrofobia já nos basta estarmos vivos, sermos seres para a morte, que somos, que somos.
Partimos então do zero, sabendo que chegaremos a zero, e pelo meio tudo é ganho porque só a perda é certa.
O meu país não é do orgulhosamente só. Não sei o que seja amar a pátria. Sei que amar Portugal é voltar do mundo e descer ao Alentejo, com o prazer de poder estar ali porque se quer. Amar Portugal é estar em Portugal porque se quer. Poder estar em Portugal apesar de o governo nos mandar embora. Contrariar quem nos manda embora como se fosse senhor da casa.
Eu gostava de dizer ao actual Presidente da República, aqui representado hoje, que este país não é seu, nem do governo do seu partido. É do arquitecto Álvaro Siza, do cientista Sobrinho Simões, do ensaísta Eugénio Lisboa, de todas as vozes que me foram chegando, ao longo destes anos no Brasil, dando conta do pesadelo que o governo de Portugal se tornou: Siza dizendo que há a sensação de viver de novo em ditadura, Sobrinho Simões dizendo que este governo rebentou com tudo o que fora construído na investigação, Eugénio Lisboa, aos 82 anos, falando da “total anestesia das antenas sociais ou simplesmente humanas, que caracterizam aqueles grandes políticos e estadistas que a História não confina a míseras notas de pé de página”.
Este país é dos bolseiros da FCT que viram tudo interrompido; dos milhões de desempregados ou trabalhadores precários; dos novos emigrantes que vi chegarem ao Brasil, a mais bem formada geração de sempre, para darem tudo a outro país; dos muitos leitores que me foram escrevendo nestes três anos e meio de Brasil a perguntar que conselhos podia eu dar ao filho, à filha, ao amigo, que pensavam emigrar.
Eu estava no Brasil, para onde ninguém me tinha mandado, quando um membro do seu governo disse aquela coisa escandalosa, pois que os professores emigrassem. Ir para o mundo por nossa vontade é tão essencial como não ir para o mundo porque não temos alternativa.
Este país é de todos esses, os que partem porque querem, os que partem porque aqui se sentem a morrer, e levam um país melhor com eles, forte, bonito, inventivo. Conheci-os, estão lá no Rio de Janeiro, a fazerem mais pela imagem de Portugal, mais pela relação Portugal-Brasil, do que qualquer discurso oco dos políticos que neste momento nos governam. Contra o cliché do português, o português do inho e do ito, o Portugal do apoucamento. Estão lá, revirando a história do avesso, contra todo o mal que ela deixou, desde a colonização, da escravatura.
Este país é do Changuito, que em 2008 fundou uma livraria de poesia em Lisboa, e depois a levou para o Rio de Janeiro sem qualquer ajuda pública, e acartou 7000 livros, uma tonelada, para um 11º andar, que era o que dava para pagar de aluguer, e depois os acartou de volta para casa, por tudo ter ficado demasiado caro. Este país é dele, que nunca se sentaria na mesma sala que o actual presidente da República.
E é de quem faz arte apesar do mercado, de quem luta para que haja cinema, de quem não cruzou os braços quando o governo no poder estava a acabar com o cinema em Portugal. Eu ouvi realizadores e produtores portugueses numa conferência de imprensa no Festival do Rio de Janeiro contarem aos jornalistas presentes como 2012 ia ser o ano sem cinema em Portugal. Eu fui vendo, à distância, autores, escritores, artistas sem dinheiro para pagarem dívidas à segurança social, luz, água, renda de casa. E tanta gente esquecida. E ainda assim, de cada vez que eu chegava, Lisboa parecia-me pujante, as pessoas juntavam-se, inventavam, aos altos e baixos.
Não devo nada ao governo português no poder. Mas devo muito aos poetas, aos agricultores, ao Rui Horta que levou o mundo para Montemor-o-Novo, à Bárbara Bulhosa que fez a editora em que todos nós, seus autores, queremos estar, em cumplicidade e entrega, num mercado cada vez mais hostil, com margens canibais.
Os actuais governantes podem achar que o trabalho deles não é ouvir isto, mas o trabalho deles não é outro se não ouvir isto. Foi para ouvir isto, o que as pessoas têm a dizer, que foram eleitos, embora não por mim. Cargo público não é prémio, é compromisso.
Portugal talvez não viva 100 anos, talvez o planeta não viva 100 anos, tudo corre para acabar, sabemos. Mas enquanto isso estamos vivos, não somos sobreviventes.

Alexandra Lucas Coelho, « O meu país não é deste Presidente, nem deste Governo ». Texto do discurso proferido aquando do recebimento do Prémio APE pelo romance E a Noite Roda - texto completo no site do Público - e no facebook da escritora.


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Published on April 08, 2014 09:43

April 7, 2014

Keep Calm que eu Acardito...

Keep Calm que eu Acardito, Jorge Jesus, Sport Lisboa e Benfica, (fonte)Vamos lá ver se à terceira é de vez, que já não há calma que aguente perder um campeonato na recta final. «O que mais queremos é voltar a ser Campeões.»


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Published on April 07, 2014 15:01

A Ideiateca de Manuel Forjaz


Uma leitora do blog alertou-me para o caso Ideiateca. Obviamente o post In Memorian de Manuel Forjaz não pretende limpar a imagem de ninguém. Desconheço os contornos deste caso - que suponho um caso de justiça. Se acredito na justiça portuguesa? - Não. Mas isso é outra questão. Infelizmente os casos de abertura e fecho de empresas é o prato do dia em Portugal - há muitos anos. Espero ter respondido às inquietações...


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Published on April 07, 2014 14:53

April 6, 2014

Manuel Forjaz (1963-2014)

Manuel Forjaz, Posso Morrer de Cancro mas o Cancro nunca me matará Manuel Forjaz
Lourenço Marques (actual Maputo), Moçambique - 13 de Agosto de 1963
Estoril, Portugal - 6 de Abril de 2014
«Posso morrer de Cancro, mas o Cancro nunca me matará».
Foi um dos poucos empreendedores com o qual concordei, de quando em quando. Dizia-se de Esquerda, e Católico. Entre os seus últimos desejos: não quer ninguém vestido de preto. Apesar de algumas discordâncias, era um Homem que admirava. Até Sempre.


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Published on April 06, 2014 11:37

April 5, 2014

José Wilker (1947-2014)

José Wilker, Roque Santeiro José Wilker
Juazeiro do Norte, Ceará, 20 de Agosto de 1947 - Rio de Janeiro, 5 de Abril de 2014
Tinha seis anos quando a novela Roque Santeiro começou a ser exibida em Portugal - já não me recordo de quase nada, a não ser que gostava muito da personagem Zé das Medalhas. Sei que foi uma das únicas novelas que segui atentamente - que via quase religiosamente, para depois narrar aos meus pais, quando não conseguiam chegar a casa a tempo do episódio. José Wilker era o Roque Santeiro.


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Published on April 05, 2014 11:36

April 4, 2014

Jorge Fallorca (1949-2014)

Jorge Fallorca Jorge Fallorca
Fotografia de Fábio Teixeira
(Ainda não tinha oportunidade, hoje, de ler os blogs que sigo, e logo no primeiro onde calhei a ir fiquei a saber da triste notícia... Escritor, Poeta, Tradutor, Blogger... Um dos bloggers que há mais tempo leio, O Cheiro dos Livros. Até Sempre...)


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Published on April 04, 2014 14:07

A Europa de Acordo com o Suíços

Suíça, Suíços, Europa, A Europa de Acordo com os Suíços


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Published on April 04, 2014 11:06

April 3, 2014

Os 10 Escritores Portugueses...

O Sítio do Picapau Amarelo, Monteiro Lobato O que eu não daria para ter estes livrinhos todos...
Como não tenho mais que fazer, e não quero desagradar à Tia Jonet, ocupei um pouco do meu demasiado tempo livre a verificar quais os 10 Escritores Portugueses que mais compro* - verifiquei assim que a memória não me traiu, e são mesmo os que refiro em comentário ao post Os 10 Escritores Portugueses que mais Vendem (ordem quase ao acaso): 
Fernando Pessoa, José Saramago, José Maria Eça de Queiroz, J. Rentes de Carvalho, Mário de Sá-Carneiro**, Mário Cesariny, Miguel Torga, Sophia de Mello Breyner Andresen, António Lobo Antunes, Manuel Poppe. Depois, ainda com bastantes volumes, mas fora do top 10: Camilo Castelo Branco, Almeida Garrett, Jorge de Sena, Luís Vaz de Camões, e Gil Vicente. 
Verifiquei também que os 10 Escritores Brasileiros que mais compro* são (ordem quase ao acaso): Joaquim Maria Machado de Assis (ainda assim são muito menos que aqueles que já li, que a obra está toda disponível na internet), Jorge Amado (é o escritor Brasileiro de que tenho mais livros); João Ubaldo Ribeiro (talvez o meu preferido, a par de Rubem Fonseca, e Machado de Assis, embora o meu livro preferido seja mesmo Capitães da Areia, de Jorge Amado), Rubem Fonseca, Cecília Meireles, João Cabral de Melo Neto, Dalton Trevisan, Lygia Fagundes Telles, Manuel Bandeira, e Monteiro Lobato (tenho todos os livros da série O Sítio Picapau Amarelo em pdf, uma vez que não os consigo de outra forma)...
Quanto a autores lusófonos de outras paragens... é uma absoluta miséria.
*Na verdade nem todos foram comprados, muitos foram oferecidos - não há nenhum roubado, o que é uma nódoa: qualquer leitor que se preze já roubou um livro: sou um anjinho.

**A obra de Mário de Sá-Carneiro é relativamente curta, porém possuo vários exemplares de contos "soltos", algumas edições diferentes da mesma obra - e mesmo a obra raríssima, escrita a quatro mãos com Tomás Cabreira Júnior, a peça «Amizade». É um daqueles livros que não sai das minhas estantes por razão nenhuma - escusam de pedir emprestado...


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Published on April 03, 2014 17:49

Portugal não é um País Pequeno...

Antes: Portugal é (Ultra)Mar.

Portugal não é um país pequeno, Mar, Ultramar, Colónias
Agora: Portugal é Mar

Portugal não é um país pequeno, Mar, Ultramar, Colónias
Continua a ser um país pequeno...


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Published on April 03, 2014 10:04

Isabel Jonet e a Miséria a que chegámos

Isabel Jonet, Desempregados, Miséria, Banco Alimentar, Voluntariado, Facebook, Redes Sociais,  Um dos mais desagradáveis sintomas do estado a que chegámos é a miséria intelectual (nem refiro a miséria ética e moral - que essa sempre grassou por aí, pelos jornais, revistas, televisões, rádios, e outros pasquins), dizia, a miséria intelectual que todos os dias nos tenta engravidar pelos ouvidos, pelos olhos, e por qualquer buraco que nos apanhe desprevenido. Ele é os marcelos rebelos de sousas (que há muito andavam por aí, como sabemos) e os miguéis gonçalves e as isabéis jonets (estes multiplicam-se como caracóis, peganhosos e tudo) com os empreendedorismos e os voluntariados, com as punhetas, e os brioches. Não, não é fácil ter que gramar estas anedotas secas.


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Published on April 03, 2014 09:58