Filipe Russo's Blog, page 23
September 10, 2013
Relato Pessoal: Tatiana Saturno

Tatiana Saturno
Oi, meu nome é Tatiana Saturno e tenho 18 anos. Não sou diagnosticada com altas habilidades, porém eu sou o que chamo de superdotada de boca, ou seja, falam tanto que sou que acabei acreditando. Geralmente as pessoas me veem como uma pessoa madura, não foi sempre assim, quando criança morava em uma cidade pobre, na verdade em um sítio – zona rural mesmo – e lá era bem ativa gostava de brincar com tudo e todos, pode-se dizer que não sou o tipo de SD que desde criança acabou se isolando do resto das pessoas e estudando um mundo de coisas (essa frase ficou meio simplista, mas enfim, continuar). O meio era escasso de estímulos, pessoas da roça mesmo, não davam muita atenção aos estudos e meus pais não tinha nem o fundamental completo, porém eu me destacava nos estudos, tirava nota boa, me lembro que na 1ª série já sabia ler enquanto a maioria das outras criança não sabiam, embora eu não me lembre de quando comecei a ler, na verdade não me lembro de muitas coisas da minha infância. Então, foi nessa época também que tive que me adaptar, recordo-me que fui obrigada a ensinar a tarefa a colega que não sabia mesmo não querendo, na 3ª e 4ª série eu que ajudava a professora a resolver os exercícios. Mesmo com esses sinais de superdotação apenas uma professora minha notou essa capacidade e sugeriu um aceleração de série, que não foi dada atenção. Nunca tinha vindo a minha cabeça eu ser “diferente”, quando cheguei no fundamental comecei a notar a diferença, se bem que não fui eu, mas sim o que os professores falavam (tenho dificuldades para entender o que é normal do que é diferente) que era boa aluna e muito inteligente, isso é outra coisa que difere em mim em relação a maioria dos SD’s: a boa relação com os professores, sempre me dei bem com a maioria deles. Mas foi no ensino médio (feito em um Instituto Federal) que pela primeira vez eu ouvi a palavra altas habilidades, ditas a mim por uma psicóloga da instituição, foi o lugar onde mas me destaquei, e é claro, onde mais fui alvo de piadas, feitas pelos meus colegas, que penso eu tinham inveja de mim. Lembrando que ainda era muito leiga de leitura, praticamente comecei a ler livros na 8ª série e no IF com empréstimos de uma professora, meu mundo foi se abrindo, eu acabei ficando um pouco arrogante, achava a aula chata, já que tinha que ouvir a mesma explicação várias vezes, parei de estudar e passava com notas entre 8 e 10. Hoje faço faculdade, estou com notas péssimas e tentando me adequar, numa fase meio que depressiva e ainda com dúvidas em ser ou não ser SD. Em relação a sociedade, minha opinião varia muito dependendo do meu ânimo neste momento acho um aglomerados de hipócritas, as vezes apenas pessoas que não são entendidas, que julgam sem olhar a quem, interessantes, bons amigos, enfim, o ser humano é um nome muito simples para tanta complexidade e eu tento viver me adaptando a isto e tentando compreendê-los.


February 15, 2013
Entrevista: Nuno Silva
Nuno Silva
Supereficiente Mental: Ninguém nasce com consciência de sua própria superdotação, contextualize para nós a descoberta da sua.
Nuno Silva: Bom, eu diria que tive a consciencia desta diferença em particular muito cedo. Maioria das crianças na pré primaria não percebiam bem o que eu queria transmitir nem possiuam o mesmo grau de logica e criatividade. No momento em que eu tive a certeza foi no 2º ano quando fui ao aniversario de um colega sobredotado e a minha mãe explicou me esse conceito no caminho para casa dele.
SM: Com seu colega sobredotado, conseguiste desenvolver uma amizade estimulante?
Nuno: Ele estava um ano acima pois avançou um ano. Eu costumava estar com ele mas com o tempo mudamos e hoje não temos contacto. No entanto tenho um numero de amigos sobredotados, um deles sendo o meu melhor amigo. Mas sinto que estas pessoas sejam para mim estimulantes.
SM: Comente um pouco sobre essa sociedade sobredotada com que você convive, há oportunidades de se mobilizarem ou colaborarem juntos em prol de algo maior?
Nuno: Infelizmente não houve grandes oportunidades de se juntarem, por isso costumo estar apenas com um de cada vez. Não é uma sociedade, mas sim amigos que fui adquirindo, muitos deles em escolas que frequentei (falo dos contactos ao vivo).
SM: Quais são suas áreas de alta habilidade?
Nuno: Quase todas as areas intelectuais mas com enfase na memória a longo prazo, criatividade e artes, segundo o teste da WISC destaquei me nas provas verbais como a de vocabulario e de similaridades.
SM: Participaste de alguma iniciativa de apoio aos alto habilidosos? Em caso positivo fale um pouco mais sobre essa experiência, em caso negativo por que não?!
Nuno: Não existem grandes possibilidades de apoio face a sobredotação pelo menos aqui em Portugal. Existe uma faculdade aberta aos sabados de manhã para crianças sobredotadas, na qual eu planeava me inscrever. Num entanto era bastante cara e apenas poderia a frequentar até aos 17 anos.
SM: Fazes uso de algum aconselhamento psicopedagógico? Em caso positivo fale como isso funciona para você.
Nuno: Tenho consultas de psicologia, nas quais me tem vindo a ajudar imenso. De resto apenas aconselhamentos de amigos e familia. Em tempos não tive um bom atendimento por parte de uma pedopsiquitra que negligenciava os meus problemas. No fundo um problema muito grande dos psicologos e psiquitras é o da negligencia face ao contexto, o que é bastante importante para detectar casos portadores de altas habilidades. E felizmente já não passo por esse problema.
SM: Quais são suas perspectivas acadêmicas e profissionais de agora em diante?
Nuno: As minhas perspectivas tem vindo a mudar bastante, não pretendo entrar numa faculdade grandiosa, mas pretendo tirar um douturamento na area do cinema ou da psicologia. Num entanto ao contrario de muitos, não tenho um plano fixo, digamos que estou a atravessar por um periodo de duvidas.
SM: Algum lema motivacional?
Nuno: Não diria um lema, mas uma filosofia de vida: A frase de Einstein sobre a criatividade. “Eu acredito na intuição e na inspiração. A imaginação é mais importante que o conhecimento. O conhecimento é limitado, enquanto a imaginação abraça o mundo inteiro, estimulando o progresso, dando à luz à evolução. Ela é, rigorosamente falando, um fator real na pesquisa científica.” – Albert Einstein. Apesar de não ser minha a frase, guardo a como caminho.
SM: Algum recado pra galera?
Nuno: Gostava tambem de dizer para não ficarem quetos quanto ao preconceito. Nem todo o sobredotado é academico, nós não somos o estipulado e impingido pela sociedade,não somos as vossas marionetas, nem somos todos marrões, e sem nós o mundo seria muito menos evoluido, apesar das suas falhas. Um dia os nossos bullies serão os losers na heroina, e nós seremos CEO’s de grandes empresas, ou revolucionarios da nossa era. De qualquer forma, quero que acordem para o mundo que vivemos, hoje somos os escravos, mas amanhã seremos os verdadeiramente livres. Falo para todos os adolescentes sobredotados que estejam a passar por dificuldades, unidos e fortes, encontraremos o caminho.
Obrigado.

