Filipe Russo's Blog, page 19
October 17, 2015
Exames: Errôneo
A superdotação tende a ser escamoteada ora por exames errôneos, ora pela extrema parcialidade dos avaliadores que logo buscam enquadrar o indivíduo num quadro clínico mais tradicional e assim se desenvolve complexos processos de invisibilização e apagamento, onde encontrar enfim representatividade e protagonismo neurodiversos? Comecemos pois esmiuçando um pouco a problemática em questão, só então esclarecidos poderemos nos reconhecer ao espelho e nas calçadas rua a fora para em seguida reivindicar efetivamente nosso locus social.

tdah?
A SuperInteligência do Superdotado e suas flexões (agitação física e psíquica de caráter distrativo/concentrador) diferem da sintomática referente ao transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), sendo este último uma condição neurodiversa à parte da primeira, há a possibilidade da sobreposição de ambas no mesmo indivíduo a configurar uma dupla excepcionalidade, entretanto tal caso não é via de regra. Confunde-se a prolixidade involuntária do segundo com a polissincronia do primeiro, enquanto um portador de tdah vive tropeçando em ramificações, o sobredotado tece, desfia e realinha seus interesses de modo premeditado com um propósito mais ou menos bem definido, quando não ao menos intuído, nesse sentido o mesmo não se vê lesado por um descontrole cognitivo, pois se descobre coordenador de processos metacognitivos.

Misdiagnosis of Bipolar Disorder
A SuperSensibilidade do Superdotado e suas flexões (oscilações de humor, intensa reação emocional aos estímulos internos e externos, baixo limiar percepto-sensorial) diferem da sintomática referente ao transtorno bipolar, pois no último se observa um desequilíbrio conformacional dos humores e pensamentos devido a causas ora neuróticas, ora bioquímicas a acarretar prejuízo funcional e não diretamente correlatas a uma alta plasticidade e interconectividade do sistema ora percepto-sensorial, ora cognitivo-emocional. Ou seja, o supersensível não se desregula ilogicamente, sofre oscilações semelhantes, porém raro equivalentes as de um portador de transtorno bipolar. Há uma forte resistência socio-profissional em se aceitar um indivíduo neurodiverso em seu amplo modus operandi divergente e quando digo divergente, não me refiro a ‘ser do contra’, ‘ser do contra’ é uma mera reação passivo-agressiva de um indivíduo que não possui o instrumental ou a boa vontade de verbalizar com todas as letras seu posicionamento, um resmungo motor em outras palavras, divergente no âmbito deste blog se refere a qualquer via de ação e reação diferente, equivalente e alternativa quando comparada ao senso comum, este agir no mundo de modo tão singular quanto o que se é configura portanto a divergência neurodiversa. No comportamento e fala emergem flutuações da turbulência interior, que agora externadas compõem um fenômeno observável pelo transeunte e não mais exclusivamente íntimo.

to obsess or not to obsess?
O Perfeccionismo do Superdotado e suas flexões (completismo, cronometria, integração, essencialidade, microcontrole, finalidade e materialidade) diferem da sintomática referente ao transtorno obsessivo-compulsivo, o segundo configura uma patologia ou comportamento patológico de origem majoritariamente neurótica devido ao prejuízo funcional proporcionado, a preocupação aqui reside em obedecer a forma e não há um primor pelo conteúdo, não se observa devidamente um senso estético com sua virtuosidade e prazer correlatos, mas sim uma força patológica desviando o indivíduo do seu bem-estar. O perfeccionismo do superdotado pode surgir como um traço de sua personalidade ou como uma escolha de vida quando não associado a um prejuízo funcional regular, se carateriza sempre pela instrumentação do mesmo, emprega-se tal instrumento nas atividades as mais diversas e diárias com uma preferência maior quando se trata de solucionar deveres domésticos, acadêmicos, profissionais, artísticos ou científicos, há portanto uma predisposição espontânea do indivíduo em dispender intensa e extensamente seus recursos na elaboração e execução de um plano de trabalho, o projeto envolve tanto o sobredotado que o mesmo pode sair e entrar em hiperfoco durante a execução ou planejamento.


October 10, 2015
Superdotado: Um portador de necessidades especiais

Matrículas de Alunos Portadores de Necessidades Especiais
Pensa-se, sem o devido senso crítico, que um sobredotado, por definição, ostenta categoricamente um status de sucessos acadêmico e profissional. Tais pensadores não tão ilustres assim desconsideram as barreiras monolíticas de origem estrutural que as instituições neurotípicas impõem a todos os seus membros, em especial os neurodiversos, um ótimo exemplo para ilustrar meu ponto se chama subrendimento, o mesmo configura uma ameaça real a todo e qualquer indivíduo inconformista, apenas aos bitolados se abre a porta para a próxima fase do labirinto social. Procura-se funcionários inteligentes o suficiente para operar o maquinário repressor, mas não inteligentes demais a ponto de questionarem as mecânicas de poder e frente a tal desestímulo intelecto-cultural o superdotado não raro abre mão de oportunidades que inevitavelmente o levariam de oprimido a opressor.

Inclusão
Todo neurodiverso apresenta necessidades especiais pertinentes a sua classe cognitiva em questão, o sobredotado por sua vez apresenta necessidades especiais de caráter acadêmico e profissional, intelectual e emocional tão ou mais importantes do que qualquer concepção mesquinha de sucesso social. Não nos venda suas promessas vazias de campanha política, não queremos paliativos e sim medidas efetivas que de fato nos empoderem, precisamos de representatividade e protagonismo nos meios midiáticos e não mais uma performance circense para o alívio das massas, alimentar essas quimeras mitológicas só desmerecem nossos méritos, defasam a opinião pública do fenômeno neurodiverso assim como abafam a pouca voz que temos nas ruas e domicílios.
O sobredotado portanto recorre aos poucos instrumentos à mão: tenta ora uma acomodação (enriquecimento curricular, aceleração escolar, agrupamento), ora uma alternativa (supletivo, ensino à distância, cursos profissionalizantes). Muitas vezes seu potencial míngua e sai bem na fita apenas os mais alinhados aos valores pseudo-meritocráticos do sistema vigente, obrigado sociedade! Muitíssimo obrigado família tradicional brasileira por exigir tudo e não dar nada.


October 3, 2015
Proficiência: Cooperação & Individualidade

cooperação
Sempre apresentei uma ótima política de grupo, mas frente à incapacidade alheia de confabular, confraternizar e convergir para um bem comum eu preferi ao longo dos anos investir mais na minha individualidade do que no meu anseio por cooperação. Nós, humanos, só chegamos até aqui através da cooperação, ninguém constrói uma cidade sozinho e através do processo cooperativo maximizamos as oportunidades e realizamos os sonhos uns dos outros, zelamos pelo bem-estar e julgamos uns aos outros em atividades de monitoramento e regulação. Mas o egocentrismo moderno sabota esse fenômeno benevolente e por falta de maturidade e discernimento se toma decisões persecutórias, conflitivas, quando não plenamente perversas tais como o bullying, o estupro coletivo, as guerras, as facções criminosas e qualquer organização maligna ou desorganização prejudicial tal como a falta de urbanismo, o lixo nas ruas, a simples falta de empatia e compaixão para com o próximo.

individualidade
A individualidade configura tanto necessidade quanto inerência no indivíduo e portanto não pode ser negada, muito menos se deve negligenciá-la. Mas agora o que fazer quando o contexto ora nos dilui, ora nos esquarteja para cabermos em seus propósitos? Você está pronto e decidido a se doar por esta ou aquela causa? Ou um movimento nesta direção não expressaria em plenitude a tua vontade? Talvez seja melhor ir pro seu próprio cantinho, produzir em silêncio e penumbra algo talvez para si, quem sabe para o mundo e não, o outro não participa ativamente neste processo de elaboração. Eu fiz dois livros e duas fontes tipográficas assim, sozinho traço um movimento em direção ao outro, mas a meu modo e nos meus termos, prefiro não me expor e me desgastar desnecessariamente com rotinas e convívios mais danosos do que prósperos. Entretanto para ver a empreitada do Supereficiente Mental florescer preciso de público leitor, de quem comente e ofereça complemento, suplemento ou crítica as minhas proposições, eu também preciso da sua voz, colega de classe, seja fornecendo um relato pessoal para todos, seja militando rua a fora ora num almoço familiar de domingo, ora num happy hour com os colegas de trabalho.


September 26, 2015
SuperSensibilidades: Baixo Limiar Percepto-sensorial

Estresse
Por limiar percepto-sensorial entende-se a relação intensidade/duração necessária para que um estímulo desencadeie uma reação no indivíduo exposto ao mesmo. Um baixo limiar se relaciona portanto com respostas fisiológicas e psicológicas ora agudas, ora crônicas, quando não agudo-crônicas e cedo ou tarde o neurodiverso supersensível vê a necessidade de moderar a exposição aos gatilhos. A parte interessada primária precisa do auxílio das secundárias (família, amigos e colegas institucionais seja num colégio, numa faculdade ou em casa) para minimizar a acepção de elementos estressores, pois uma vez atingido o limite o quadro desencadeado pode não ser imediatamente reversível e comorbidades emergentes começaram a se manifestar sem aviso prévio, nem muitos menos com manual.

Sofrimento
Os sintomas observados intra e interpessoalmente variam desde tiques nervosos, sudorese, oscilações de humor, ansiedade exacerbada, raciocínio circular, pensamentos paranóicos a lágrimas ora de tristeza, ora de raiva, quando não de alegria ou intensidade, a supersensibilidade nos aproxima dos objetos de afeto, da natureza emocional humana, conseguimos portanto adentrar campos de difícil acesso e ali tocar a tessitura tectônica do que existe, mediante um baixo limiar-percepto sensorial se adquire informações privilegiadas da psique e do mundo e com as mesmas se maximiza o desenvolvimento pessoal, se produz arte, ciência e comportamento neurodiversos. Não raro nos refugiamos em solidão, escuro e silêncio até a turbulência interior se reduzir a níveis administráveis, melhor prevenir do que remediar e assim deve-se desenvolver metodologias e instrumentos aplicáveis tanto a rotina quanto ao acúmulo de estresse para evitar ao máximo entrar em crise. Pois após uma resta apenas operar um controle de dano, atualizar o registro de inventário e partir para outro dia, mais outro dia tão inseguro e instável quanto o predecessor. O apoio familiar, doméstico, acadêmico e profissional se faz necessário nas acomodações de um neurodiverso supersensível tanto para reduzir-lhe o sofrimento quanto para promover uma melhor produtividade quantitativa e qualitativa.


September 19, 2015
Superproteção: Alienação Social
“Imaturidade é a incapacidade de utilizar a própria inteligência sem o direcionamento de um outro.” – já dizia Emmanuel Kant, e de onde e como surge essa incapacidade aprendida chamada Imaturidade Patológica? Educação e cultura domésticas e familiares, a superproteção pode promover a alienação social.

Imaturidade
Educação e cultura domésticas e familiares durante os anos formativos (até o fim da juventude) configuram a base estrutural através da qual o indivíduo interage com o meio, a superproteção em casa prejudica o afetado cerceando-lhe a liberdade e a exposição aos fenômenos externos sejam estes de natureza cultural, sejam de âmbito social. Bitola-se o próprio filho ou parente numa espécie de doutrinação domestico-familiar e quando se vê há um homem morando numa casa que ele nunca varreu, comendo alimentos que ele nunca cozinhou, usando roupas que ele nunca lavou e a maturidade para questões menos óbvias e ainda mais pertinentes: como fica a perspectiva de mundo desse ser mimado, iludido, imaturo e sem instrumental algum para ver o outro como semelhante e não como mais um servo.

Censura em Casa
Às vezes o fenômeno vira de cabeça para baixo e forma-se então uma seita domestico-familiar, portadora axiomaticamente de toda e qualquer verdade, os pais e/ou parentes mais velhos ditam então as verdades absolutas e ninguém ousa questionar tal ditadura, não há espaço portanto para o livre intercâmbio cultural. Ceticismo, divergência intelectual e método científico então nem se fale, nesta casa não entrarás! Quando entra, entra com uma bela dissonância cognitiva, porque o ofício ou trabalho do indivíduo não expressa o íntimo de ninguém, não é mesmo? É só ganha pão, não se traz os princípios trabalhistas, profissionais e éticos para dentro de casa, reina então a hipocrisia do falso moralista que bate palma para o politicamente correto quando está sob o escrutínio da sociedade ao ar livre, mas quando fecha a porta da rua e ninguém de fora do clã lhe tece um olhar de observação faz apenas o que seu narcisismo autofágico ditar.


September 12, 2015
Comorbidades: Insônia


“A insônia é a vingança da mente por todos os pensamentos que evitamos durante o dia”, já dizia Alain de Botton, entretanto tal aforisma se refere mais ao aspecto neurótico com um quê filosófico existencialista do que a qualquer outro participante do fenômeno. A insônia não raro afeta neurotípicos e em superdotados há uma tendência maior e mais precoce à ocorrência desta comorbidade, comigo por exemplo, eu comecei a experienciar a mesma na quinta série aos 11 anos: eu simplesmente não conseguia mais dormir. Desde sempre eu participei em inúmeras atividades curriculares e extra-curriculares de manhã e à tarde, ficando a noite reservada para lição de casa e diversão. De uma hora para outra as descargas hormonais da pré-adolescência ativaram esse ladinho do meu cérebro que eu ainda não conhecia e com o qual dialogaria durantes anos e mais anos até assumir domínio eficaz sobre suas capacidades e comorbidades.

Captado por um olhar escancarado
Eu jantava às 21:40hrs e me retirava para o meu quarto ora para terminar um afazer escolar, ora para jogar uma horinha de vídeo-game, às 23:00hrs eu já havia escovado os dentes, arrumado a mochila para a aula da manhã seguinte e me encontrava de olhos fechados sob as cobertas em posição fetal esperando o costumeiro sono chegar; e não chegava. Após uma a duas horas me virando de um lado para o outro da cama eu simplesmente desistia, descia as escadas para beber um copo de água, voltava para o quarto, ligava a televisão e ficava assistindo a desenhos animados, filmes e documentários. Lá pelas 3, 4 horas da madrugada eu conseguia enfim adormecer por exaustão e o dia seguinte simplesmente não rendia pelo cansaço e mau humor desencadeados. Já outras noites eu me masturbava para dormir, no começo o relaxamento vinha de modo imediato, mas com o passar dos dias os efeitos foram ficando mais suaves até que então nem me masturbando bastante e gozando várias vezes eu conseguia atingir o efeito desejado.

Complicações da Insônia
Nestas noites insones eu comecei a pensar na vida, não que nas outras eu não pensasse, sempre pensei muito nas questões ao meu redor, pensar é minha brincadeira e ofício favoritos desde sempre, mas bem antigamente o sono impedia meu raciocínio de adentrar as profundezas inerentes à condição humana e social. Eu não entendia à época que a insônia era a segunda manifestação de uma insatisfação primária, a mesma desencadeadora do tédio, minha sensação mais comum desde a infância. Reside em mim uma energia que nada nem ninguém consegue conter, mas com muito esforço e dedicação eu consigo convertê-la. Ora em horas e mais horas de estudos em nanociência, ciências forenses, anatomia e bioquímica de extremófilos, história das ervas daninhas, da micofilia, da relação humanos-plantas e da humanos-animais; ora produzindo arte na forma de literatura (dois livros publicados), fotografia, design gráfico (duas fontes tipográficas originais). Se eu não der vazão ao meu impulso criativo, toda essa energia represada me deteriora e eu nem sempre soube dizer isso com estes termos de entendimento, tudo era mais confuso, intuitivo e assolador. Desde então minha insônia diminuiu consideravelmente, mas mesmo assim ainda fico com insônia sempre que vou viajar, conhecer alguém novo ou começar um novo emprego ou um novo curso seja universitário, seja livre.


September 5, 2015
Exames: Negativo

Rejeição
Ser diagnosticado como superdotado o faz superdotado? Não. Ser diagnosticado como não superdotado o faz não superdotado? Não. Entretanto deve-se respeitar o valor das avaliações, procure sempre uma segunda opinião e saiba que nada pode legitimá-lo ou deslegitimá-lo, muito menos uma opinião profissional ou um atestado disso ou daquilo. Os instrumentos e seus utilizadores todos apresentam falhas e um grau maior ou menor de acurácia quanto a um ou outro critério discriminante arbitrário, mas para todos os efeitos não nos deteremos neste momento à validez ou invalidez e à assertividade ou inassertividade dos métodos avaliativos vigentes. Mas então por que buscar um diagnóstico? E o que fazer em caso de negatividade?

Solidão
Primeiro, alguns e digo a maioria, necessitam de comprovação experimental externa em termos mais ou menos rígidos para dar estruturação e conforto emocional às suas premissas pessoais. Agora, digamos que recebemos um não, você não pertence a uma minoria discriminada pela neurodiversidade e cheia de Comorbidades, SuperSensações, entre outras especificidades intrínsecas à classe cognitiva em questão. Você chegou até aqui devido a uma busca pessoal, para onde ir depende apenas de um capricho seu e não, não há problema algum em se questionar a própria identidade cognitiva, agora você já pode partir para outra autodescoberta e bem, talvez a suas questões não sejam tão distantes de nós ou de si.


Diagnósticos: Negativo

Rejeição
Ser diagnosticado como superdotado o faz superdotado? Não. Ser diagnosticado como não superdotado o faz não superdotado? Não. Entretanto deve-se respeitar o valor das avaliações, procure sempre uma segunda opinião e saiba que nada pode legitimá-lo ou deslegitimá-lo, muito menos uma opinião profissional ou um atestado disso ou daquilo. Os instrumentos e seus utilizadores todos apresentam falhas e um grau maior ou menor de acurácia quanto a um ou outro critério discriminante arbitrário, mas para todos os efeitos não nos deteremos neste momento à validez ou invalidez e à assertividade ou inassertividade dos métodos avaliativos vigentes. Mas então por que buscar um diagnóstico? E o que fazer em caso de negatividade?

Solidão
Primeiro, alguns e digo a maioria, necessitam de comprovação experimental externa em termos mais ou menos rígidos para dar estruturação e conforto emocional às suas premissas pessoais. Agora, digamos que recebemos um não, você não pertence a uma minoria discriminada pela neurodiversidade e cheia de Comorbidades, SuperSensações, entre outras especificidades intrínsecas à classe cognitiva em questão. Você chegou até aqui devido a uma busca pessoal, para onde ir depende apenas de um capricho seu e não, não há problema algum em se questionar a própria identidade cognitiva, agora você já pode partir para outra autodescoberta e bem, talvez a suas questões não sejam tão distantes de nós ou de si.


August 29, 2015
Neurodiversos: Síndrome de Savant

Daniel Tammet tem a capacidade de dizer os “primeiros” 22.514 dígitos de PI e aprender línguas rapidamente (fala 11 línguas).
A síndrome do sábio, síndrome do idiota-prodígio ou savantismo (do francês savant, “sábio”) carateriza-se como um distúrbio psíquico no qual a pessoa possui uma grande habilidade intelectual aliada a um déficit de inteligência. Pessoas com síndrome de savant podem ter variações no neurodesenvolvimento, notavelmente desordens do espectro autista, ou danos cerebrais. Os casos mais dramáticos ocorrem em indivíduos que tiram notas muito baixas em testes de QI e ao mesmo tempo demonstram habilidades excepcionais ou brilhantes em áreas específicas, tais como cálculos rápidos, arte, memória, ou habilidade musical. Apesar do termo síndrome permanecer em vigência a condição em questão não configura uma doença mental ou característica correlata a alguma doença mental descrita em manuais médicos tais como o ICD-10 ou o DSM-5.

Stephen Wiltshire, autista londrino famoso por sua memória fotográfica. Após sobrevoar uma cidade, observa detalhes importantes e específicos, desenhando-a e pintando-a posteriormente, em seus mínimos detalhes.
Encontrada em mais ou menos uma em cada 10 pessoas com autismo e em, aproximadamente, uma em cada 2 mil com danos cerebrais ou retardamento mental, a síndrome do sábio é citada na literatura científica desde 1789, por Benjamim Rush, o pai da psiquiatria americana. Em 1887, no entanto, John Langdon Down, mais conhecido por ter identificado a síndrome de Down, cunhou o termo idiota savant , aceito na época em que um idiota era alguém com QI inferior a 25,4 e descreveu 10 pessoas portadoras da síndrome, com as quais manteve contato ao longo de 30 anos – como superintendente do Earlswood Asylum (Londres). O termo idiota savant caiu em desuso após ser considerado inadequado tendo em vista que nem todos os casos reportados enquadravam um idiota, originalmente uma pessoa com uma deficiência intelectual bem severa e o termo autista savant passou a ser utilizado para descrever a condição, este também pode ser considerado inadequado pois apenas metade dos diagnosticados são autistas. Devido à necessidade de acurácia e dignidade frente ao indivíduo, o termo síndrome de savant se tornou a terminologia amplamente empregada.

Leslie Lemke aos 14 anos tocou, com perfeição, o Concerto nº 1 para piano de Tchaikovsky, depois de ouvi-lo pela primeira vez enquanto escutava um filme de televisão. Lemke jamais tinha tido aula de piano, é cego, mentalmente incapacitado e tem paralisia cerebral.


August 22, 2015
Diagnósticos: Dupla Excepcionalidade

multiplicidade
O termo dupla excepcionalidade, frequentemente abreviado como 2e, apenas recentemente entrou no léxico de educadores e se refere a indivíduos com duas condições neuro ou físico diversas simultâneas e sobrepostas. O indivíduo divergente, por definição, já apresenta uma série de necessidades especiais pertinentes a sua classe em questão e quando este se enquadra no campo da dupla excepcionalidade o quadro muda de figura, pois uma superdotação pode compensar e mascarar uma deficiência, assim como uma deficiência pode mascarar e descompensar uma superdotação.

Eddie Redmayne, vencedor do Oscar em “A Teoria de Tudo” ao interpretador o físico Stephen-Hawking
Tamanho embaralhamento confunde desde o transeunte aos profissionais especializados, o diagnóstico nestes casos costuma sair de modo simplista e bidimensional; ou seja, tende a ocorrer um de três: se recebe o diagnóstico ora de superdotado, ora de portador de deficiência, quando não de neurotípico! Sendo este último o pior dos casos pois não se toma nenhuma medida corretiva, muito menos se procura acomodações, apenas quem já sofreu a vilania de um diagnóstico falso-negativo ou falso-positivo consegue compreender a extensão do dano causado, mas tal temática já configura assunto para um outro ensaio.

