Pedro Guilherme Moreira's Blog, page 7

December 13, 2016

Moça

Eu vivi há dois mil anos no princípio do mundo e no fundo da encosta de um monte com seis casas e uma escola.Eu tinha oito anos quando, na casa do meio do monte, nasceu bebé Jesus e o monte e a vida nunca mais repetiram os dias, como até lá, e eu gostava dos dias iguais aos dias e a partir daí a tristeza tomou conta de mim, me deu de comer e de beber e me botava para dormir e me acordava de manhã tapando a manhã com corpo. Eu sei que Jesus foi um acontecimento bonito e é de muita vergonha que falo das pedras, mas eu gostava dos dias iguais aos dias, de não perceber a luz antes da noite e de adivinhar os campos em frente.A escola ficava no topo do monte e no topo da escola ficava uma figueira que eu subia mas não descia e onde todos os intervalos brincávamos às caçadinhas, excepto quando as moças iam na macaca e os moços diziam que não, porque era jogo com alma de moça. O lencinho também era, mas o lencinho dava a chance de um beijo e todos os moços sempre se venderam pela chance de um beijo.Eu tinha oito anos e todos os dias descia a encosta com a moça e com a mocinha. A mocinha não parava de brincar e me fazia rir como os velhos do vinho com lágrimas no tempo, a gente passava na estalagem e ficava espantada com as mãos grossas dos velhos e a felicidade em canecas de barro que entornavam coisas bonitas cor-de-sangue e eles bebiam, desculpa eu falar assim forçado, mas sempre vi as coisas como elas são e não como parecem.A mocinha se atirava a mim e me batia e os meus ossos a levaram tempo fora para combater a tristeza pelas cidades onde eu fiz este eu que sou hoje e te conta a história simples das moças e dos moços como são, não como parecem.A outra, a moça, alta como as árvores do caminho, descia toda calada e com os olhos mais doces do monte e talvez de toda a pátria, e eu falo isso não porque os via com olhos de ver, porque eu era pequenino e ainda não tinha livros, mas porque ficou escrito no meio do peito.Os livros dão vista e armas e antes dos livros, ou um ancião nos chama à estalagem e nos conta o que eles dizem, ou tu és cego e não sabes ver as coisas como são, mas só como parecem.A moça era só alta como as árvores do caminho e calada como o silêncio e o que me ficou escrito no meio do peito foi para debaixo dos pêlos e do barulho desses dias que deixaram de ser iguais.Jesus nasceu e um dardo gigante marcou a manjedoura como o centro do mundo e à volta da manjedoura fizeram muros e à volta desses muros mais muros e à volta destes muros mais muros e à volta do muro maior fizeram um ainda maior e as pessoas do monte começaram a ver os estranhos antes dos amigos e as coisas como parecem, não como são.
E todos deixaram de adivinhar os campos em frente.Desci com elas a encosta umas quinhentas vezes e depois fiquei crescido e disse adeus à mocinha - que ainda vi se afastando no carro de bois do avô e pensei já não a vejo mais e de hoje em deante só a levo nos ossos - e à moça - que já não vi por causa dos pêlos e do barulho, mas sei que levou a minha tristeza com ela.Passaram dois mil anos e eu tive de fazer um electrocardiograma e então raparam os pêlos do meu peito e eu vi a vida toda a passar pelos olhos doces de uma moça que eu já tinha esquecido há mil novecentos e noventa e nove anos, mais ou menos.Fui ao topo do monte e subi à figueira da escola e vi, pela primeira vez, os meus caminhos como eles foram, não como pareciam. Vi várias cidades concêntricas e as luzes de natal no centro. Desci para confirmar que o centro das luzes do centro era a manjedoura. Nunca me afastei muito da manjedoura e do monte e, no entanto, voltei mais vezes a sítios distantes do que à minha própria casa.Entrei no café em frente e pedi um café.Sentei-me e senti a mocinha nos ossos, já não a moça, e senti a solidão também.A moça parecia estar nas vidraças e na luz que entrava e então o espanta-espíritos tilintou duas vezes a milésima vez e eu, de mão no peito, reconheci os olhos doces através dos quais me revira todo, e então a moça entrou no café.Apertámos as mãos e eu pensei que nunca tinha visto uns olhos tão doces nem tanta altura numa pessoa que afinal não era tão alta como as árvores do caminho, era maior ainda.Falámos das nossas vidas inteiras e de como sem livros ou velhos que os ensinem ou poemas puros que nos mostrem como as coisas são, não como parecem, nos podemos perder uns dos outros quando as cidades ou nós próprios começamos a crescer um crescimento que não é o que é, mas o que parece.E no fim eu não lhe disse uma coisa banal que queria ter dito e fiquei em silêncio:- Moça, ver de novo os teus olhos doces a partir do meu peito e ver-me a mim todo a partir deles foi das coisas mais bonitas que me aconteceram na vida.Eu não disse isso, porque não é literário, como o silêncio.
Mas foi das coisas mais bonitas que me aconteceram na vida de que a moça não fez parte durante, pelo menos, mil novecentos e noventa e nove anos.
Desde aí até morrer, todos os natais, todos os meses, todas as semanas, todos os dias, vou à vida com tempo e sem desculpas, como vamos aos funerais, sempre pelos olhos doces de uma moça.
PG-M 2016fonte da foto: Autora: Thaynne
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Published on December 13, 2016 08:39

December 6, 2016

O Padre Freitas está quase morto

O Padre Freitas está quase morto, é só deixar passar a missa de mês e pronto, morreu. Recebi, na volta do correio, dos jornalistas de excelência que interpelei sobre a vergonha que se preparava - o país mediático não ser capaz de combater a rotina instalada e ignorar este grande homem (na verdade, só o PR teve a decência de emitir uma justa nota de condolências) - alguns testemunhos que me comoveram: houve mesmo um que era um genial atestado de lucidez e consciência da camisa de forças. Na própria instituição que o Padre Freitas dirigiu e o acolheu uma vida, o Colégio dos Carvalhos, e exceptuando a memória individual, temo que não se faça o que é devido e comecem a desaparecer as palavras e os murais de homenagem. Há pouco, também eu me comovi ao ler estas palavras no mural do Eduardo Pitta, "A primeira coisa que aprendemos no Facebook é que estamos rodeados de eruditos. O neófito mais humilde lê Artaud ao pequeno-almoço e sabe de cor a obra completa da Lispector. A maior parte das vezes não conseguem alinhar duas frases mas isso é uma minudência que nunca os preocupará." Não gosto muito de me exlcuir destas inanidades que o Eduardo caracteriza, mas comovo-mo com esta clareza. A mim pode acontecer-me o mesmo, se não estou atento, vigilante e me mantenho em combate. É um problema global. É por isso que, para saber precisamente aquilo pelo que vou lutar, fui à Biblioteca Municipal do Porto ler a que, provavelmente, é a única obra do Padre Freitas que foi dada ao prelo, "A pedagogia do léxico", de que muitos devem ter ouvido falar, mas poucos realmente conhecem. Fiquei assoberbado com a minha ignorância. Vergado a tanta sabedoria. Sendo um livro eminentemente técnico, ele levou-o à prática quando ensinou português. Pelos testemunhos, foi um professor brilhante. Era sempre. Deixo-vos a capa e o índice geral, importante para terem uma ideia do trabalho que este livrinho encerra. Há também outros índices, no final, que só obras de excepção têm, porque nos permitem um acesso mais simples e directo ao conhecimento. A excelência e o génio dão muito trabalho.
 PG-M 2016
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Published on December 06, 2016 06:05

Bem-vindos ao Norte

Bem-vindos ao Norte. No último mês tem estado mais sol, menos frio e quase chuva nenhuma a norte. O contrário a Sul. Até o rei de Espanha reparou nisso. No entanto, todos os serviços noticiosos gritaram alertas amarelos e muita chuva sem nunca excluir o Norte. É sempre assim. É ainda com centralismo e megalomania que nós, nortenhos, temos de lidar, em tantos detalhes imperceptíveis a quem vive em Lisboa que nem vale a pena enumerá-los. O tempo (não o clima) tem temperado isso, e a diferença é que agora se lida aqui, a Norte, com essas manias com complexo de superioridade e caras de gozo típicas desta nossa massa. Faz 20 anos que a Unesco reconheceu uma parte do Porto como património da humanidade, e fê-lo numa altura em que o que um tripeiro mais ouvia de um português do Sul era que "o Porto é muito cinzento e está sempre a chover". Esta última ainda se ouve muito, o que, sendo parcialmente verdade (que chove mais, em média) é uma parvoíce de se dizer de uma cidade temperada do Sul da Europa, como é o Porto, que fica apenas a 300km da outra, o que, à escala do Mundo, tem pouca relevância. Em 2013, por exemplo, choveu mais em Lisboa do que no Porto (fonte: PORDATA). É por isso que quando estoura a chuva na cena do filme francês com o nome da primeira frase deste post, qualquer nortenho se sente redimido. O Porto não mudou há vinte anos. Isso foi político, apenas político, e o Porto, quando mudou, foi pela mão de cada um de nós, sem interferência ou ajuda de nenhum político. Esta é a história extraordinária, não dos últimos 20 anos, mas 7 ou 8, desta cidade sublime onde nasci, e que ainda está por contar, porque as reportagens são sempre de espanto bacoco pelo que hoje existe e nunca vão ao fundo de nós. Dispensam-se paternalismos: desses, os que não estão no centro estão cansados até ao vómito. Humor sim, humor do bom, forte e à bruta, sem cedências nem a piadinha parva do costume. Têm estado dias maravilhosos por aqui, muito sol e até algum calor e não, não choveu - mas, hélas!, quem quer saber disso? Valha-nos o Rei de Espanha. E este não é um post dissidente. É um post do deixem-se de merdas com isso do chove muito e sempre vocês, sempre vocês, sempre vocês, e venham conhecer a nossa luz e as nossas belas sombras.
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Published on December 06, 2016 04:32

December 5, 2016

Comoedus (ou Joana Pais de Brito)

Joana Pais de Brito. A excelência em comediante lato sensu, que ela não gosta que lhe chamem isso stricto sensu. Ela diz que é apenas actriz, não humorista ou comediante ou imitadora: na verdade, nada de redutor pode ser dito sobre Joana Pais de Brito. Apenas que ela é a maior dos maiores no momento em que escrevo, o ano da graça de 2016. De uma perfeição e percepção assustadoras. O "estado" anterior, sobre o bobo, é para ela. Para o silêncio que ficaria na cidade sem génios como ela. E se acaso ainda a não conhecem, nem se riram nem se espantaram tudo. Pronto, este é o meu poema de hoje. :) Como é vasto o material em que ela se torna o centro, mesmo não sendo essa a intenção inicial, no youtube, vão por lá. Não falha. Ela nunca falha. Digamos que, sendo um ser humano, e por natureza falível, é perfeita, e por natureza deusa.
PG-M 2016fonte da foto
 PS: apenas alguns exemplos.
Respectivamente, como "chef" Filipa Gomes, como Cristina Ferreira e como Sandra Felgueiras:

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Published on December 05, 2016 08:43

A muralha

o bobo construiu uma muralha dentro da muralha e nessa muralhasó ele cabia
ninguém soube
o pequeno edifício era estranho aos do fazer e afronta aos do poderestes ordenaram que aqueles trespassassem a paredecom lanças afiadas e o bobo morreucalado
ninguém soube
até que a tristeza cercou a vila e se enfiou nos pátiosque haviam nascido para levar o sola vila veio a morrer

mas ninguém sabe 

PG-M 2011


fonte da foto
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Published on December 05, 2016 05:21

November 23, 2016

te echo de menos

 te echo de menos

a expressão espanhola para saudade também é bonita.

fiz-te de menos

ontem lembrei-me de como foste dos primeiros a dar-nos uma nova noção de tempo

era um funeral, e havia alegria no ar, e não era só a alegria do reencontro com os homens e mulheres mais importantes da nossa vida, os professores, nem aquele belíssimo pânico de os ver procurar com a memória que alunos éramos

estão tão mais bonitos, os professores.
quando eram os nossos professores, eram velhos por natureza.
agora somos nós os velhos e eles da nossa idade.
bonitos e cuidados, sábios, serenos, sem poder

só conhecimento

a alegria eras tu e o comprimento da tua obra

comentei com o lima​ que nunca tinha visto um funeral tão feliz
estavas a descer à terra e havia gargalhadas
o coveiro a devolver-te à matéria original, que é a mesma que resulta de ti e abraços entre campas

eu de pé a tomar café e a falar de como a linguagem e o silêncio e o ouvido e a atenção revolucionam o próprio tempo
tu és um dos grandes culpados de, afinal, isto não ser só isto e de
morrer não ser bem morrer

depois ouvi falar de ti, do teu apagamento físico, por quem em nosso nome cuidou de ti e te mimou até ao último minuto
um apagamento físico irrelevante para o mundo, ou só relevante na medida do teu sofrimento: nada para lá do que te doeu importa
não havia choro ou abandono ou pena, as pessoas que contavam o drama da tua doença sorriam, porque, a par de cada perda, havia sempre a tua resiliência, a tua teimosia

talvez seja piedade dizer para não te ir ver, porque estavas pele e osso,
estar deitado dá cabo de nós todos, faz-nos desaparecer fisicamente,
faz-nos assumir a postura da defesa perante a impossibilidade de sermos o que nos ergueu e nos fez evoluir

afinal não parecia ser isso o importante para ti

o alzheimer levou-te as forças, o conhecimento - e é injusto
ter-te cabido uma doença do conhecimento

logo a ti

o alzheimer levou-te tudo, mas não a presença de espírito
nunca desapareceste
foste teimoso até ao fim
ressurgiste muitas vezes
estavas deitado, estavas presente,
não o corpo, já não o corpo,
tu

como agora, afinal

já não o corpo, tu

já não conseguias comer sólidos, mas comias bem
o que podias comer
comeste sempre bem

e continuavas a combater pela tua fleuma, pelos teus hábitos,
ainda lutavas pelos artigos dos jornais que querias ler, pedias  a coluna do rangel e, quando ta davam, sorrias, sentavas-te, punha-la perante ti e não lias

nestes útlimos tempos, já não lias

só replicavas o prazer de ler
o prazer de pensar
replicavas a busca do conhecimento
o arrebatamento do passo em frente
o trabalho
a graça disse que, mesmo agora, no fim, quando regressamos à aparência
da criança que nunca deixámos de ser,
cada vez que ela aparecia ias a despacho

a graça aparecia à porta e tu
puxavas de uma almofada e escrevias com o dedo

assine aqui, senhor padre,
e ali,
e ali,

e tu assinavas

todos pensamos na própria morte perante a morte dos outros

na verdade, não pensei muito na minha, ontem.
pensei mais na eternidade

o teu quarto ficou cheio de livros e papéis
e quem te amou sabe que está aí
a eternidade

não apenas a tua, toda a eternidade

aí e no que levamos de ti connosco
e passaremos aos nossos
e os nossos passarão aos seus
e os deles aos deles
intimamente

infinitamente

dormiste sempre no nosso colégio, morreste onde dormiste

deitado na almofada

já não o corpo, tu

como agora, afinal

já não o corpo, tu


PG-M 2016
foto propriedade do Colégio dos Carvalhos
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Published on November 23, 2016 05:16

November 12, 2016

Rafaela


Não importa onde se encontra Rafaela, o que faz e
de onde veio, importa apenas
a sólida beleza

que se dissolve em nós

em vez dela

no lugar onde os poetas se exaltam
por culpa dela
não há luz
só Rafaela

está nos móveis e no chão
está nos lábios e nos
dedos, nas
máquinas e no
tempo
está nas falhas, está
nas pedras
nos lilases meio abertos
a que cheiram
certas noites

e ela,
legando os seus olhos claros,
ouvirá a explicação de que o poema
é sem amor,  o poema
já cá estava
por escrever
copiado de um clarão
por causa dela

dissoluta
absoluta

Rafaela


PG-M 2016
fonte da foto







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Published on November 12, 2016 03:46

November 5, 2016

Acta de abertura de um livro sobre a imortalidade


António, bisavô: sempre cri que o veneno que tenho no sangue (que há quem chame arte) é culpa tua. Sempre cri que era uma maldição, uma maldição sublime, mas uma maldição. Que nos tortura, porque exige, para bons resultados, o sobre-humano ou a negação do humano. Exige silêncio e minimalismo, como se fôssemos edifícios (diz que somos), tantas vezes geometria e cálculos, mas em nós é carne, é uma torrente descontrolada, um rio a galope fora das margens, olho para as tuas mãos e para as minhas e são iguais, tu davas ou tiravas forma ao nada ou ao tudo, desenhavas, esculpias, modelavas, eu não faço diferente com as palavras, às vezes, quase sempre, tenho de as deixar quietas, os blocos intocados, posso morrer sem nunca mexer em algumas frases. E quando, subitamente, o objecto da arte és tu, toma-me esta obsessão que me leva para perto de um estado que me parece a loucura, essencialmente posso defini-lo como uma solidão intraduzível e no entanto barulhenta, tão barulhenta que posso ser um artefacto pirotécnico em pleno céu de são joão, expludo e ilumino as nossas cidades durante breves segundos e depois caio no douro - às vezes tento ser um balão de papel, posso divagar, subir, mas caio sempre. Caio em chamas, caio sempre em chamas, e depois apago-me. Olho-te profundamente nesses olhos quase frios em que preservas tudo de ti e, claro, vejo-me a mim. Como se estivesse a comer o meu próprio corpo sem a metáfora, bela metáfora, de cristo, embora os teólogos digam que não é metáfora nenhuma. Vai ser assim nos próximos cinco anos, estarei gravemente doente de ti, afinal como tenho estado a vida toda, há sempre um sobressalto quando passo na boavista e fico fixado no leão do alto ou na mãe que morre afogada com o filho nos braços ou na tua campa ou na tua rua ou nas fotografias que guardo. Mas tu seres o objecto das minhas mãos é perverso. A sensação é a de estar sempre a chorar e a cara seca. É uma fraqueza titânica. Uma força transcendente. Componho o teu corpo de volta como uma espécie de frankenstein. Sei que vais falar a qualquer momento, que me vais tentar travar, talvez até devorar, mas os nossos olhares têm sangue e é o mesmo sangue. Estás a ver? Como podem olhos frios ser sanguíneos e explosivos? No fim, vai ser um abraço, um abraço definitivo que provavelmente não mais se desfará, tomamos um copo e rimo-nos deste século doloroso que nos separa - não podias ter morrido - e, então sim, retirar-me-ei para que possas viver o que sobrou. E sobrou muito, tanto que vai desaparecendo para nunca mais ser lembrado. Como se não existisses. Como se não existíssemos. Como se não me doesses e eu não gritasse de dor desde a primeira vez que apontaram a estátua da boavista e me disseram: "foi o teu bisavô que fez" e eu ouvi "aquilo és tu"
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Published on November 05, 2016 08:50

October 31, 2016

I love Volleyball (and him, of course)

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We are animals.
 
We are powerful and rise above what's expected from us. In you all the strength, all the power, all the belief, all the work.

Already born and freed. Between both posts, the most beautiful story a man can handle before he perishes. The screen, with the right tension, it's the symbol of work, balance, the proper height.
The net is the string of life, apparently untouchable, but volatile. And the court is empty, and then you arrive full of light and rise up, with all inscriptions engraved in the body. 

We are animals. We are powerful and we rise above what's expected from us. Somos assim, bichos. Somos poderosos e elevamo-nos acima do que esperam de nós. Em ti toda a força, todo o poder, toda a crença, todo o trabalho. Já nasceste e já te dei carta de alforria. 
 Castêlo da Maia - Sporting de Espinho, seniores, Outubro de 2016, idem para as fotos 2 e 5
Entre os dois postes ficou a história mais bonita que um homem pode suportar antes de sucumbir. A tela, com a tensão certa, é o símbolo do trabalho, do tempero, a altura certa. A rede é o fio da vida: aparentemente intocável, mas volátil. Itália-Portugal, U18, 15-07-2016, Holanda, idem para as fotos 1 e 3
Fica o court vazio, sombrio, até apareceres num jorro de luz e te ergueres, com tudo inscrito no corpo. Somos assim, bichos. Somos poderosos e elevamo-nos acima do que esperam de nós.


PG-M 2016fotos de PG-M, excepto a penúltima, que é creditada a Claudio Panciocco, e o grande plano do número 12, de camisola laranja, creditada a André Gouveia. Todas são do atleta Guilherme Moreira, filho do signatário, excepto esta última, da bola como mundo a girar sobre o dedo do Kiko Silva
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Published on October 31, 2016 07:48

October 22, 2016

finalmente o inverno chegou ao teu cabelo


finalmente o inverno chegou ao teu cabelo

tens outono nas mãos
folhas nos dedos
braços nus cheios de verão
já primavera

sempre foram os teus olhos

PG-M 2016
fonte da foto
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Published on October 22, 2016 08:29