Pedro Guilherme Moreira's Blog, page 57

June 11, 2012

Feiras do livro do Porto e Mirandela

Confesso que não esperava nem a fantástica recepção em Mirandela, com a inesquecível apresentação do livro "A manhã do mundo" pela via da "matemática" da Dra Maria Gentil Vaz, nem o movimento no Porto, principalmente de leitores desconhecidos, algo novo para mim. Foram dois maravilhosos dias. Intensos, compensadores. Até para o ano. Agora falem as imagens. Na feira do Livro do Porto em 10 de Junho de 2012(com Paula Quadrado, Olindina, Maria do Rosário Pedreira, Mário Cláudio e João Ricardo Pedro)
Em Mirandela, apresentação da Dra Maria Gentil Vaz
Em Mirandela: um saboroso cartaz
Em Mirandela, com uma leitora
Na feira do livro do Porto, foto Leya
O meu outro rebelde
PG-M 2012

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Published on June 11, 2012 16:12

June 5, 2012

Campeões do mundo

Já me calaram a boca quando, a olhar
para o diploma cravado na parede branca do escritório
devoluto,
senti vergonha
pela primeira vez.

Não calarão mais.

Já me sugaram o sorriso quando, a olhar
para o prato vazio do meu filho na mesa vermelha da cozinha,
senti fome
pela primeira vez.

Não sugarão mais.

Já me prenderam os braços quando, a olhar
para o futuro negro como o mar minimalista do Billy
Bud do Melville
me julguei louco
pela primeira vez.

Não prenderão mais.

Já me forçaram o choro quando, a ouvir
a primavera do Enaudi
não enlevei
pela primeira vez.

Não forçarão mais.

Já me secaram as lágrimas na fila do emprego quando,
a explicar a minha merda de vida à luz do amor
me odiei
pela primeira vez.

Não secarão mais.

Já me enganaram quando, nas audiências políticas
às selecções nacionais me pediram para esquecer
tudo e pendurar bandeiras
no corpo que mirra
e na casa que foge.

Não enganarão mais.

Já me prenderam numa massa de gente em desespero
com a corda demagoga
"eu demagogo, quem, demagogos?"
e me culparam de tudo
de perderem a margem de conforto
o colégio o luxo e a potência
que é cada vez mais difícil
passar por mim
e até por cima
de mim

nós que fuçamos sabemos do que se gasta e desgasta
os parasitas das portas dos cafés votarão sempre
nos parasitas das portas dos palácios

Mas doravante venha
a transparência líquida
para toldar o punho
que nos venda
e diz que o amor
é uma lenda
e a liberdade
mania
e a coragem
a mais pérfida loucura
em pó
e aos dedos que nos culpam
de si próprios
forçaremos a vitória
e contaremos na rua
milhões de vozes
ou um silêncio
fecundo
e final.mente. seremos


campeões do mundo

PG-M 2012
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Published on June 05, 2012 08:13

June 1, 2012

Matem-me



Quando o coração parar de pensar
E a cabeça de bater


Matem-me



PG-M 2012
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Published on June 01, 2012 06:12

May 30, 2012

Como espanhol para português

Há um efeito fascinante de se ler um bom livro em espanhol (e eu já não lia livros em espanhol desde a medicina legal da faculdade): o português renasce, cada palavra é uma proposta nova, e então pergunta-se: a sério, acham mesmo que vou perder tempo a preocupar-me com um acordo ortográfico quando para mim são boas todas as propostas de todos os portugueses, todas as propostas de todas as línguas que bebem das mesmas origens?
PG-M 2012fonte da foto
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Published on May 30, 2012 14:54

May 29, 2012

Saltem o ecrã e venham a mim os meus heróis (a 10 de Junho, ao ar livre, Porto)

Este blogue tem um audiência média caseirinha, que anda entre as cem e as duzentas visitas por dia, às vezes pouco menos, às vezes pouco mais. Dos "seguidores" inscritos, desconheço 90%, mesmo virtualmente, e, se é verdade que gosto pouco da ideia de sair da "toca", mais verdade é que não gosto de sair sem razão. Tendo já tido um convite da Feira do Livro de Mirandela, que muito me honrou (é a primeira vez que me vão pagar alguma coisa por actuar como escritor - e, mesmo que seja a estadia, é uma excelente prática) para o dia 9 de Junho de 2012 (Sábado - os transmontanos e quem estiver de férias nessa zona, que apareçam), a minha editora convidou-me para estar presente no dia 10 de Junho de 2012 (Domingo, 16h-18h) ao lado do João Ricardo Pedro e da Maria do Rosário Pedreira no espaço Leya da Feira do livro do Porto. Sou repetente, pois, no dia de Portugal (o ano passado já lá estive neste dia). Este ano não vou aborrecer quem lá foi no ano passado, mas é uma oportunidade para virem a mim os que tanto me dão, ou seja, os leitores - não só do livro, mas especificamente deste blogue - a quem ainda não me apresentei. Quando eu digo que é para mim uma verdadeira honra não estou a fazer conversa. Acreditem ou não, olho os leitores de baixo para cima. Almejo a tal humildade, a tal entrega ao outro e ao que ele cria. É por isso que os meus leitores são literalmente os meus heróis, e não há experiência mais grata na visibilidade acrescida que o livro publicado na Dom Quixote me deu. Assim, gostava que planeassem  a vossa vida para me virem dar um abraço nesse Domingo, dia 10 de Junho, no Porto. Ficar-vos-ia muito grato e não precisam de comprar nada:). Mas também podem. Mas não precisam. Mas podem. Mas não precisam. Mas:))).
PS: ah, e para lá do Marão, mandam-me a Mirandela dia 9:). Quem andar por lá, apareça na Feira do Livro, junto ao rio.

Pedro Guilherme-Moreira 2012
Foto da feira do livro do Porto do ano passado
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Published on May 29, 2012 03:02

May 27, 2012

Virgíneo, edulcorado, cálido, loquaz


Que me encanta. Comove.Já to disse tantas vezes: Aramburu, que é um nome que eu ouço agudo mas os espanhóis dizem grave, reconcilia-me com a vida.A - ram - bú - ru. Dizem eles.Na livraria de Vigo perguntei pelo último dele na Tusquets, "Años Lentos", mas sabia o que verdadeiramente ia lá buscar. Aliás, era uma manhã para celebrar Aramburu, porque desde que o conhecera ainda não tinha ido a Espanha com esse propósito: estar na livraria em busca de Aramburu.Sabes como é. Vamos devagar pelas prateleiras. Não adianta ser sôfrego. Pode não haver. Há que contornar os outros clientes, esperar pacientemente pelo senhor que tapa a letra "A", descobrir outras coisas. A estante dedicada ao galego. A estante dedicada aos livros de bolso, que os espanhóis dizem bolsillo mas os galegos dizem peto. Livros de peito, tão bonito. Lobo Antunes, como serão as apneias antunianas em castelhano? E Mia, quantas palavras dará Mia ao Espanhol, quantos lamentos e exaltações aos seus tradutores? As dedicatórias de Saramago em espanhol. Que já são quase todas a Pilar. E então vem àquele espaço entre os pensamentos e os livros, o primeiro metro entre nós e as estantes das livrarias, aquele odor que nos amolece o  peito que é o calor que nos enfraquece as pernas. Faz olhos brilhantes e gargantas secas.Comove.Finalmente vou ter só para mim "Los peces de amargura", o primeiro que devolveu ao Aramburu a ameaça da sua genialidade e o encheu de prémios. Mas vou dar um "vistaço" a todos. É assim que se diz "vista de olhos" em Vigo. "Vistaço". Eu tentei explicar à menina que me acompanhou na recolha de todos os Aramburus da livraria o que era "vistaço" entre os lusos, como eles gostam de dizer nos resumos dos futebóis. Contei-lhe o crime de não traduzirem Aramburu em Portugal, mas depois disse-lhe, falível e incoerente como é próprio dos pequenos, que ainda bem, porque eu queria lê-lo numa das suas línguas, melhor espanhol, que basco não entendo.Fiquei ali a lê-lo muito tempo. Estremeci com uma dedicatória em particular.Paguei o "Peces de amargura" e saí para a Calle del Principe e não estava ninguém.No meu livro Aramburu escreve uma coisa que ainda me faz sentir mais pequeno, a pensar se algum dia lá chego: "Dedico este libro a la impureza".Mas a dedicatória que me emocionou está agora a desfazer-se.Sei o seu sentido perfeito, mas já não as palavras exactas.Não faz mal, porque a disse, tal qual, à minha mulher quando ela chegou. Pus o livro no peito Nunca me ocorrera declarar o amor assim. Sorri. Estava orgulhoso, a ler o meu livro na baixa de Vigo. Começou a chover. Convoquei as palavras, antes que partissem de vez, e a vez era até à próxima visita  a uma livraria espanhola. Ela chegou, a mulher minha e eu, com o livro no peito,
"À minha mulher, que me enche de felicidade cada vez que encolhe os ombros."
Ou assim.Não sei se algum da cresço para abraçar o Fernando.Pode ser que ele me diga
"Y es que no conozco a un solo hombre a quien pueda calificar de extranjero"
E eu o tente abraçar.Fernando,Ainda ando a deitar Sassetti.Ainda ando a deitar Sassetti para refrear o arrebatamento,
Pedro Guilherme-Moreira 2012fonte da foto

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Published on May 27, 2012 17:04

May 25, 2012

Cínico, azedo, frio, calado


Sinceramente, não sei bem a que me pode levar a expressão desassombrada das minhas opiniões, se não estou disposto a estar em permanente estado de guerra. Porque é assim que me sinto. Há pouco ia escrever no facebook, como poderia escrever num jornal ou dizer a uma televisão, que o caso Esmeralda, agora que o Estado foi condenado a indemnizar o pai Baltazar, foi o exemplo típico de um turba enlouquecida que ninguém podia parar - e isto meteu "media", personalidades de referência, povo, tudo - e não se dispunha sequer a pensar, e ainda não vi nenhuma dessas partes retratar-se ou assumir o que quer que fosse. Mas não vou desenvolver essa ideia. Não vou dizer mais nada. Vinha também falar de como ser activo no sentido de tocar os outros, não ser indiferente, pode sair-nos caro, porque alguém nos marcará como loucos em busca de uma vida imaculada e boa, coisa impossível, e alvos a abater, e, em súmula, reparo que, passo a passo, dia a dia, o que rende efectivamente é estar calado e escondido, fazê-lo pela calada. Ou então atacar “frontalmente e sem olhar a meios”, como se diz, se se estiver com paciência. Isto porque eu tenho pouca paciência para a gestão do ódio. Aliás, é coisa que me assusta. É por isso que a única que lição que tanto me tentaram ensinar é calar. Lição de alguns amigos, bons amigos, mas também de inimigos que fiz sem querer. Ou eles me fizeram a mim. Mesmo no exercício do humor, esse "órgão" fundamental do corpo humano. Não, não quero ter uma vida bonita nem uma projecção pública - como tanto pensam dos recém-chegados os realmente vaidosos e "umbilicais" -, posso falar dos fracos mas entre amigos, posso até confessar a dor e a felicidade mas muito baixinho e entre amigos, posso dar conta das maravilhas e dos infernos por que passa a minha literatura mas entre amigos, quero só passar dias bons com os meus, sobreviver o máximo possível para ver o meu puto casar ou juntar, aturar netos e tal, ir escrevendo, ver a minha velhota brilhar cada vez mais, se possível morrer antes dela, caramba, mas tudo, tudo, sem a presença virtual com que me encantei em tempos, eu que, como pioneiro destes meios, onde pululo desde 1996, deixei que nos meus olhos brilhasse o absoluto encanto pela comunicação total, universal, popular, declaro que perdi totalmente a fé no diálogo sem carne e cheiro e olhos. Nos olhos. Sim, ganhei amigos, amigos reais, e isso é inestimável, mas perdi tantos, e isso é insuportável. Com isto não me despeço de nada nem de ninguém nem faço o número do coitadinho que se vai embora. Não. Eu fico. Apenas dou conta a quem comigo conta que me tornei cínico e amargo. E perdi a fé nesta merda. De vez. A frio. E sinto-me aliviado por, finalmente, o escrever.
PG-M 2012
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Published on May 25, 2012 04:08

May 17, 2012

Vou buscar pão


Eu limpava o pó a uma certeza com um trapo
excisado de glorioso pano
da louça
e veio à estrema
o álbum da prateleira
do meio
que eu abri para aliviar
o mesmo dia de maio
e então vi-o, ao filho que  não via
há precisamente quatro
horas
de beijo a fugir e olhar dento
do celular
está maior do que a mãe
o corpo aos primeiros meses
a adentrar, primordial,
e tive a saudade que fez do peito
ónus
e enquanto sacudia na ombreira
o pano vi no relógio
ele a voltar
quando voltou
abracei um proto-adolescente com os braços inertes e a mochila nas costas
olá filho, obrigado
pelos dias desiguais
pelo amor sem condição
e a cara dele torcida,
a libertar-se dos beijos,
por me pores no lugar certo
da nossa casa pequena,
que nojo pai,
larga-me,
vi há pouco aquela foto em que a mãe está a ler uma revista no carro
e tu ao vidro com essa cara de malandro
depois vi mais dez, vinte, e sempre tu
como metrónomo
como piano
como sal
e tentando libertar-se o filho perguntou,
percebendo as lágrimas mas velando as emoções,
o que tens tu, pai?
o existencialismo
te pegou?
eu respondi não, rapaz,
foi a celeste do facebook
vou buscar pão
e à noite os Creedence nos bares
da Cândido
dos Reis.


PG-M 2012
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Published on May 17, 2012 11:56

May 16, 2012

Um ano de vida de uma certa "Manhã..."

A música é boa, o dia feliz, o ano um delírio, e venham muitos mais:). Agora é dançar, por obséquio.

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Published on May 16, 2012 10:00

May 14, 2012

Sassetti e Marsé

Porque esta semana ouvi em Sassetti e li em Marsé novas propostas para o lugar da humildade na arte, e andava quase convencido de que era impossível servir-me da humildade antes que algo de redutor se sirva dela como uma peça relevante no nosso edifício.Fui ouvir o que o Sassetti dizia, porque, erradamente, nunca me tinha passado pela cabeça que merecesse a pena ouvir o que pensava. Mais uma lição aprendida. Não que eu não tome atenção aos outros, mesmo de lugares e áreas diferentes daquelas a que me dedico. Tomo. Ouço estranhos, ouço desconhecidos. Procuro-os. Procuro os que erigem o conhecimento sem escola. Pois ouvi e vi, na entrevista que o Sassetti dera ao Goucha em Dezembro de 2010, uma sabedoria rara, que me fez correr atrás de uma outra, que ele dera ao Carlos Vaz Marques em 2008, e que eu dispensara. Lá estava o que eu procurava. O facto de o Bernardo Sassetti ter entrado muito novo no meio artístico, virtuoso como era, e de o terem "consagrado" demasiado cedo. Dizia ele que não percebia essa fúria de dar como consagrados os artistas. Dizia também que, quando começou a ser alvo de atenção, experimentou uma mudança de certos olhares (os olhares "tem a mania", as opiniões cínicas que tentam ferir a pureza de intenções do artista) que, não só não lhe agradaram, como fizeram com que se afastasse. Experimentou a competição desenfreada de Nova Iorque e também soube, imediatamente, que ele não era aquilo. Em Londres encontrou o estar cultural e o respeito artístico sem umbigo. Andou onze anos em tourné por todo o mundo, voltou cansado e sem vontade de se submeter a novas "consagrações". Estava lentamente a voltar ao centro. O seu movimento ia levá-lo a ser cineasta, tinha pelo menos quarenta anos pela frente para nos deixar o absoluto empenhamento na excelência, por um lado, e a vontade de ser um tipo normal, pelo outro. Essa vontade era activa, ele cultivava-a tão intensamente como punha na ordem presunçosos que lhe pediam músicas com deadlines de duas semanas. Fiquei cheio de vontade de ouvir tudo o que ele foi dizendo. Era visível a pureza, a transparência, de cada palavra. Sei que agora é fácil dizê-lo, mas tê-lo-ia dito se me tivesse apercebido de que aquele homem vinha dizendo o que eu queria que fosse dito, faria dele um porta-voz de luxo. Afinal, as gargalhadas que eu ouvi ali ao lado do espaço Leya no fim do dia 10 de Junho de 2011, um dos mais importantes da minha vida, onde cumpri o sonho de me sentar numa feira do livro a assinar livros meus a pessoas a quem deverei sempre mais do que elas a mim, afinal as gargalhadas do Bernardo Sassetti nesse fim de tarde quente e grato, eram a paixão do génio. Reconheço que há génios nas artes cujos sinais de expressão são geométricos ou confinados, como as artes visuais ou musicais. Sassetti era-o, antes de mais, por ter aprendido a ser um rapaz simples quando tudo o empurrava para o contrário. É inspirador. Ele perturbou-me com a sua genialidade nas frases da "Canção de Alterne", a melhor canção do Rui Veloso, mas tocou-me ao explicar que a estranheza na mudança de certos olhares e as certezas dos que tudo sabem  podem realmente empurrar os que "têm a mania" para a sombra, podem fazê-los querer legitimamente desaparecer, como disse o Vila-Matas ao mesmo Vaz Marques. E, como explicou melhor ainda Juan Marsé, que já li recusando a banalização da literatura, e é homem que não tem cursos superiores, porque teve de ir trabalhar (como o nosso Saramago) - não teve a escola toda, mas tem a escola toda - não importa a língua, mas a linguagem. Podemos deixar entrar o sotaque brasileiro, ibérico, britânico, a música, com e sem silêncio, a pintura, não importa, a arte é linguagem. A arte é linguagem e a linguagem manifesta-se de todas as formas. E eu tenho pena de não o poder dizer ao Bernardo Sassetti. Mas também sempre tive pena de não o dizer ao Cervantes. Que continuarei a partir com rocim e escudeiro por essas colinas acima, que continuarei a decepar as pás aos moinhos que me façam frente, e nem sequer me digam que o elmo de mambrino é uma bacia de barbeiro.
PG-M 2012fonte da foto
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Published on May 14, 2012 17:01