Pedro Guilherme Moreira's Blog, page 18

May 4, 2015

as mãos


olha as mãos distintas da mãe
segurando a travessa a caminho
da mesa
olha a tristeza

subindo pelos fumos do jantar
olha as minhas próprias mãos roçando a toalha de linho
junto ao joelho da prima e olha para ti depois de tudo
fraco para evitar que da revoada ou da bruma
volte a descer o desgosto
o pai tinha uma mãos bonitas que nas costas e nas falanges
tinham pelinhos curtos que à morte foram brancos
e ainda cingimos quentes porque nós,
já velhos, esperámos no quarto o fim
como em meninos a alvorada

um de cada lado do pai de mão dada pela alameda dos plátanos
que no verão era a infinita lonjura
da ventura
e na primavera o trilho infausto dos amores
no outono as folhas de pontas caídas
no inverno as próprias mãos do pai
mais do que os casacos e os chapéus
e os galhos suplicantes
até nos encostarmos à cerca de cimento caiada a branco
da estação
e quando os comboios passavam
o pai nos puxar para ele e as mãos
nos guardarem

perpetuamente


como matéria negra onde
explodem supernovas
e bailam trajes de luzes
pelas eras

terás mornas as mãos dos que amaste
entre as tuas e os laços dos dedos
atados para sempre
olha as mãos dela apertando os livros
ao peito e a travessia
contigo, olha as mãos
a velar o sorriso, olha
a estrela polar na galáxia
proximal e as mãos enfim
entre as tuas ou em concha
sob os frutos
olha as mãos dele sem saber onde ficar
na vertigem do cruzamento
com ela, olha as mãos
nas algibeiras, olha
a estrela polar na galáxia
proximal e os nós
sobre os teus no curso
dos afluentes

olha as mãos dos bebés a dar-te
virtude
olha as mãos das crianças a dar-te
guarida
olha as mãos dos amigos e
os braços que em partes
da vida são inteiros
amparos

olha a piedade
das mãos dos maestros
em todos os aplausos
que abriste
olha as mãos dos médicos
a erguerem tabiques
entre os medos

olha as mãos dos professores
no giz que alumia
o quadro negro
olha as mãos que pungem
as teclas e erguem as forcas
dos números, de como é devassa
a hierarquia
olha as mãos no gatilho
das pistolas com os canos apontados
às bocas
olha as mãos nos microfones
dos que falam sem voz
de como é deus
o nada

olha as mãos dos músicos a pedir
esmola

olhas as mãos dos escritores
na ocultação exacta
do inútil
olhas as mãos dos pintores
no cosmos do traço
exordial
olha as mãos dos escultores
na evidência da
amputação

olha as mãos que formaram violinos
do arame farpado e descansam
com perdão e lágrimas
nos dedos
desfeitos os punhos que combatem a memória olha as mãos
sinaleiras sobre as mãos sinaleiras

olha outra vez a piedade
das mãos sobre o teu rosto
olha as mãos dos padeiros sobre a fome

olha as mãos de tribunos sobre o
brio, olha a espada nas mãos
de magistrados e padres
nas mãos de profetas
olha filósofos em silêncio e mãos
no ar e o riso troante
nos campos finitos e no mar
olha as mãos dos pescadores
olha as mãos dos poetas a chorar
olha as mãos de polícias
a abjugar e a arder
como as mãos de bombeiros
olha as mãos dos carpinteiros na
saciedade e as de troia
em todos, todos!, os cavalos
olha as mãos dos sapateiros
nos caminhos por fazer
olha as mãos na água por beber
olha as mãos na terra por comer
olha as mãos da avó
a pelar as castanhas cozidas
e as mãos do avô nas malgas
de vinho e nas conchas
de sopa

olha os abraços à porta das aldeias
olha a piedade do vento
nas mãos da turba e a solidão
das mãos do mundo inteiro
nas mais longas auroras e agora
olha as mãos da mãe a ceder ao inverno, lassas
da forma que deram aos colos, doridas
da leveza que ofereceram às
almas
e aos solos
olha as mãos do pai
como galhos suplicantes
o pai na alameda dos plátanos de chapéu e
casaco, por fim


PG-M 2015
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Published on May 04, 2015 12:00

May 1, 2015

notas sobre a grande audiência, ídolos, whiplash e rosselini


O lado bom da grande audiência. Sou lentíssimo a arrumar a cozinha, gosto de intercalar a tarefa com a televisão, porque há dias em que só a vejo a esta hora. Vejo o sempre excelente jornal do Pedro Mourinho, salto a meio do Marcelo e depois, de costas e entre pratos, se os suportar, os programas que se seguem em ambos os canais. Curioso o que hoje me fez mudar de canal, já depois do palhaço Raminhos. A dose de lamechice da Cristina e do júri no pós-dança da Cuca foi tão exagerada e artificial, que eu, telespectador burro, como eles pensam, percebi logo que alguma coisa se passava no outro canal. Estreia do Ídolos, pois. Tenho de agradecer a este programa o serviço que prestou a uma canção que eu amava sozinho desde 2008, quando alguém se candidatou com ela no Ídolos em 2012 e a fez um sucesso nacional. O "Anda comigo ver os aviões" é das mais belas letras kitsch e, para mim, a mais bonita canção que se escreveu nos anos 00. Mérito do agora mediático Miguel Araújo, um letrista e músico genial, que já tem municiado o Zambujo. Portanto, o Ídolos faz esse serviço público. E também confesso que, mais nesta fase de castings nortenhos (o nosso sotaque é, praticamente, o mais bonito do mundo), me farto de chorar a ver aquilo. E até concordo com a brutalidade "whiplash" que, pelo que vi hoje, já vai incorporada em alguns concorrentes, e isso é bom. É evidente que por lá passam bons músicos, mas também é evidente, e outra discussão, que muitos dos que lá vão querem um sonho rápido, não propriamente trabalho, - mas não se pode censurar isso a pessoas tão jovens. O Abrunhosa nunca passaria, o Camané nem pensar, o Bob Dylan seria gozado, o Leonard Cohen mandado embora de fininho, a Madonna era corrida com insultos, só para citar alguns. Na volta do comando, vi dançar na 4 um casal de jovens com trissomia 21, ela tinha um sorriso tão bonito que comovia. Voltei a chorar. Neste caso, fico sempre sem chão com o afecto sem filtros. Achamos que é muito cool, muito in, socializar à estalada, e estas pessoas, com que também me cruzo por razões profissionais, fazem-nos sentir ridículos com o amor incondicional por todos, mesmo pelos que conhecem mal. E estou de coração cheio tendo engrossado as audiências, que sou capaz de abandonar para vos vir contar isto e, agora, ler. À tarde vi Roma, cidade aberta, do Rosselini (bendito ciclo) e voltei a chorar - a cena não podia ser mais simples, mas o óculo do Rosselini sabe muito: o padrasto aconchega o enteado, um menino de uns seis anitos, que ele não sabia ter sido cúmplice, nessa noite, com o grupo de crianças de que fazia parte lá no prédio, e cujo líder era o Romoletto, de um atentado com uma bomba artesanal aos nazis que ocupavam Roma, e pede-lhe para contar o que se passa, o menino diz que não pode, que é segredo, o padrasto conforma-se, se é segredo, guarda-o, e, como amanhã o padrasto se casa com a mãe (Ana Maganani), o menino pergunta:

- A partir de amanhã posso chamar-te pai?
 - Se quiseres.
 - Sim, quero.
 E diz o menino:
 - Te voglio tanto, tanto, bene.
 E abraça-o, sob a macro de Rosselini.

  Não há nada de transcendente em nada disto, nem eu estou particularmente fragilizado, mas a vida - não necessariamente a felicidade ou a tristeza - é assim mesmo. E isto faz-me pensar. O que é magnânimo, afinal? A nota densa, complexa, do Whiplash, do Ulysses ou da Recherche ou os aviões do Mendes na voz transparente de um miúdo ou o abraço do pequeno enteado no desarmante preto e branco do Rosselini? Eu acho que é tudo, se não se limitar a passar, como a garota de Ipanema, ou mesmo ela, se regressar a nós. Boa noite e boa semana. 
PG-M 2015
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Published on May 01, 2015 02:31

Euronews



Euronews: não sei se foi por isso que o Guterres escolheu este canal para dizer que não é candidato a candidato, mas aproveito para dizer que o canal é para mim, há muito, um modelo de qualidade, e na última hora fiz um apanhado para poder dizer que ouvi, sempre interessado e com um razoável nível de profundidade e rigor, notícias sobre política, religião, economia, tecnologia e desporto, e em cada área informativa nem sempre domina o óbvio. O desporto é disso exemplo. Aliás, não houve futebol nesta hora, mas esgrima e pólo aquático, entre outros, sem perda de interesse. Já sei que não percebo nada disto, mas, como espectador, sei o que é a mediocridade. Estar sempre a repetir os mesmos temas e falar cem vezes de cada um não é qualidade. Muitas vezes espanto-me como deixam de dar notícias que até são vendáveis como bons momentos televisivo. Claro que isto acontece porque, na lobística que serve de funil, às vezes de forma evidente, às vezes de forma indolor, tal não é admitido. É preciso dar minutos ao mais visto e se for mesmo mais visto é repetir e repetir e repetir. A Euronews, aliás como eu já percebi também com o El País, chega a dar-me notícias sobre Portugal de forma mais esclarecedora e com mais qualidade e objectividade do que qualquer tasco de notícias da pátria. Era isto.
PG-M 2015
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Published on May 01, 2015 02:26

Esse abraço foi surpreendente

 Título:
Vimos é de vir e de ver, vir no cortejo, ver o céu impossível, assim, ah sim

Corpo:
Ensina-me. O silêncio é baixinho? Conheces? Já viste onde trabalha? Não é na secção quatro da repartição sete da rua chã? Não é o único do jardim interior que usa casaca lisa sem condecorações? Ensina-me. Ensina-me a escrevê-lo. Abro parêntesis. Espaço. Fecho parêntesis. Já está. Oh, então canta-me qualquer coisa, estou tão cansado, não quero falar mais. Vimos no cortejo dos carros pretos e o céu tão claro que é impossível. A tua canção são gemidos em duas oitavas, não percebo nada, mesmo nada, mas continua, a música é mesmo assim, porque me haveria de emocionar o teu volapuque? A verdade é que emociona. Então sorrimos. Não preciso que me ensines isto. Já sei ler. Sei ler, ainda que os sorrisos sejam textos raros. Há poucos nas nossas idas e voltas e idas e voltas e idas e voltas. Com efeito, aparece um por semana, e aparece sempre assim, à sexta-feira. Ah, sim, peço perdão, adeus, bom fim-de-semana. Esse abraço foi surpreendente. Ensina-me. Tens cinco minutos?
PG-M 2015 fotografia do Porto (Pasteleira)
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Published on May 01, 2015 02:20

voltou

voltou.
voltou esta coisa que me regista numa faixa acima ou abaixo da vida e do mundo que escorre regular, peço o dobro dos cafés e bebo-os e pago-os feliz, imagino que por fora os meus olhos sejam uma espécie de vidro com espirais, não é loucura, isto não é loucura, é um labirinto sem paredes, um parque aquático seco no meu corpo tubular e as pessoas a fluir por dentro aos gritos e às gargalhadas e eu vejo em cada esgar o sentimento enciclopédico de todos os imperadores e de quem os serviu e de quem nunca os serviria, como diria o Fernando, uma criança a ler as horas desde o gato, um menino a render-se a uma máquina fotográfica, um velho a nascer, já vos deixo em paz, mas a verdade é que já nada mais me serve, serve-me isto e isto não é sempre assim.
PG-M 2015

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Published on May 01, 2015 02:11

Selfie


É curioso como olho para este lugar, cada vez mais, como um lugar vago, com a cara da solidão, apesar de tanta gente, como se visse desfilar uma multidão parda e silenciosa e conseguisse ouvir algumas conversas de circunstância - queríamos que fosse aquele permanente almoço barulhento entre amigos, em que tudo o que dói fica suspenso - ou o jantar alaranjado com fumos de forno e um tinto denso em que nos levantamos para ir buscar um copo e ouvimos uma gargalhada a puxar outras e o ar corpulento, como o vinho, e não pode ser sempre assim, vimos por aqui bem intencionados para que alguma coisa nos mova, ou apenas para deixar imagens maiores do que nós e assim completar a ilusão do nosso tamanho, preocupa-me, preocupa-me não valer a quem ainda não aprendeu que a vida tem de ser um esforço permanente de levar o sangue ao ponto de ebulição, mesmo em plena tristeza, podes estar sereno perante uma paisagem arrebatadora, em silêncio, e profundamente triste, como aqui, de olhar vazio para o ecrã azul e branco, mas o sangue tem de passar espesso e em alta tensão, sempre, não é um programa de saúde, não é sequer um abraço, há momentos tão desventurados que queremos é que nos deixem, que não nos toquem, que não nos falem, vai a multidão parda e tu podes agarrar num braço, sair dela, sentares-te a tomar um café e uma conversa de disparates levantar a película aderente dos nossos dias e sem querer estamos a consumi-los, a comê-los como deve ser, e até o trabalho, um bom dia de tensão, pode salvar-nos da incomensurável tristeza, aflição, ansiedade, medo de falhar, estamos aqui no centro de um multidão parda e podemos, sem demagogia ou lamechice, dar o grito de várias formas, e a infinita dolência, como a infinita alienação, são duas gémeas a percorrer os corredores do hotel e o melhor que tiramos daí são vários Jack Nicholsons que espreitam a todas as portas sem querer, realmente, saber. Se formos capazes de manter o sangue em ebulição, pousar o telemóvel, desligar o pc, abrir a boca e ouvir, fazer barulho e calar, nada do que é bom é contínuo, nada do que é mau é contínuo. Está gente fosforescente a sair da multidão parda e a encher as margens, há um rumorejo que cresce, já ninguém promete cafés ou jantares, já ninguém adia para depois da morte, já todos seguiram o bom exemplo dos velórios e funerais, onde homenageamos o outro, não a nós, onde cuidamos dos que os cuidaram, não de nós, onde não nos fotografamos, onde descobrimos um tempo impossível, em vez de nos ocuparmos a afastar todos para longe, e agora eles, os fosforescentes, falam, eles falam todos uns com os outros. Que raiva, dizem. Olha, dizem. Ouve, dizem. Caramba. Caramba.
PG-M 2015
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Published on May 01, 2015 02:05

Ana de Amsterdam e Thomas Bernhard

 Outro dia, em plena leitura cúmplice, ia escrever "como é bonita Ana de Amsterdam".E depois de Thomas Bernhard senti-me enganado.
Aqui por casa todos se riam quando eu dizia que nunca tinha lido ninguém tão inconveviente, bruto e insensível para a sensibilidade média das cidades e do mundo como o Thomas, e no entanto algo de luminoso sai de cada linha, a textura das frases é fresca e redentora, e não é exactamente o que vi dito dele na imprensa, com os graus superlativos e comparativos do costume, como se o tempo já tivesse acabado ("Herberto cortou o século XX em dois", vejam bem, e nem sequer foi incluído nos quinze anos que adentrou o XXI). Do Bernhard há passagens perfeitamente loucas, que foram apenas o exercício desse direito, de ser louco. Ana tem um timbre quente, às vezes fervente, mesmo quando diz que está triste. Se Thomas tivesse dito mal do Porto como, por exemplo, de Salzburgo, eu ia sorrir e aproveitar a oportunidade para evoluir. Mas Thomas está morto e esse diálogo faz-se de outra forma - quando vivo, poucos entre os visados aproveitaram a oportunidade para evoluir, pelo contrário, cerraram as fileiras da mediocridade. Já Ana está viva, bem viva, e é desconcertante e estimulante. É um teste de hipocrisia que se podia comprar nas farmácias como os testes de gravidez. E uma verdadeira páscoa. 
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Published on May 01, 2015 01:54

O adeus do mestre, mesmo que não seja


As asas do vento, do mestre Myazaki, que ele próprio anuncia como a sua última obra, não é bem um filme, ou não é apenas um filme, é um momento. Realmente vê-se o mestre a dizer adeus a toda a hora, em cada traço, na música que escolheu, pelo génio de Hisaishi, na forma como os próprios sons das máquinas são humanos (não é a primeira vez, mas é a mais intensa). Também não é o melhor filme dele, porque não é um filme, é um comovente e longo adeus. Até acho que ele vai fazer mais, mas já será o começo de outra coisa qualquer. Podiam é ter demorado menos de dois anos a estrear. É impossível não ficar comovido com esta inscrição do adeus na pele. Ao menos a alegria de o irmão de armas, Isao Takahata, o tal autor do melhor filme de sempre (mesmo entre os não animados: O Túmulo dos Pirilampos), ter um novo poema à porta dos nossos cinemas: depois da Mononoke, a princesa Kaguya.
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Published on May 01, 2015 01:41

o poeta a dar à pata para um verão interior



O poeta a dar à pata para um verão interior. Estranha hoje a sensação de pedalar, realmente pedalar, na hora do almoço, a ouvir o próprio Herberto a dizer os seus poemas. Creio que já posso falar de Herberto. Quando o povo o fez seu, à morte, quando o descobriu mesmo fingindo sempre tê-lo conhecido (não há logro moderno mais belo do que esse), e encheu os murais de colagens, os pequenos-animais-donos de um Herberto inventado, exclusivo e marginal, correram, desvairados, furibundos, os quatro cantos da própria jaula, e alguns escolheram um silêncio sujo. Eu só quero dar testemunho de coisa incrível que hoje me aconteceu, ouvindo-o. Normalmente o que ouço em exercício físico é para me distrair do sofrimento muscular e respiratório, e o efeito é desligar uma certa auto-consciência, ou seja, foco-me mais no que ouço e menos no que faço ou vejo. Mas hoje, com os poemas de Herberto ditos pelo próprio, tudo o que me rodeava ficou mais nítido, as cores e as sombras mais carregadas, e mesmo na paragem, quando tiro os fones e recebo a imagem da ponte Dom Luís e da largueza daquela curva do Douro, ali em Gaia, junto ao estaleiro dos rabelos, de frente, e me sinto privilegiado por ser daqui, tudo foi diferente, as palavras cósmicas do Herberto ligaram-me a carne e a respiração ao detalhe do mundo. Eu chamo-lhe lucidez, mas nunca o esperei da poesia desta forma. Físico, como um beijo líquido com as línguas a evoluir até à incandescência ou um abraço de braços e pernas de dois corpos nus, o meu e o do mundo inteiro
PG-M 2015

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Published on May 01, 2015 01:33

April 30, 2015

A saudade é um objecto (uma posse)

 Há fotografias que ganham um valor incalculável.
Faz um ano que tomámos este pequeno-almoço e, no final do dia, na charmosa noite brasileira, o grupo português subiu ao palco do Teatro da Urca e foi implicado num caso de paixão transcontinental. Oito mil quilómetros que ficam em nada.
Esta fotografia não podia ser tirada este ano, porque perdemos ambos.
O Sr Alípio, director do Hotel, era um português radicado neste paraíso mineiro há décadas e desfrutou, intensamente, de cada minuto dos seus portugueses. O Luís foi o verdadeiro anfitrião, porque já tinha ido no ano anterior. Este ano temos lá o José Luís Peixoto. Há momentos bons da vida. Esta semana foi um deles, perfeito, indelével. Não me canso de o dizer, mas hoje tinha de o recordar. Fora do enquadramento, mas presentes, o Gonçalo Carreira, o Joel Neto, o Eric Frattini e o Miguel Roza. Portugal ficou bonito na fotografia brasileira. Saudades de todos, que se curam, menos as destes dois.
Curiosamente, as saudades não são bem um sentimento, são um objecto. Uma posse. Não se sentem, têm-se. E por isso se levam a tudo e a todos. Tomem lá as minhas.
A actriz Livia D'Angelo fez quinze anos nesse dia. Hoje faz dezasseis. É ela que observa a Caroline a dizer a Tabacaria. Retenho esse silêncio sublime da Lívia.


PG-M 2015
Ps: o momento único, espontâneo, da Tabacaria da Carol e da Lívia pode ser visto aqui

O "Happy", vídeo que passou novamente este ano no festival, recordando o nosso grupo, vê-se aqui
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Published on April 30, 2015 09:01