Pedro Guilherme Moreira's Blog, page 14
October 10, 2015
Saudemos esta pausa antes de a tempestade se abater sobre nós
Por momentos, breves momentos, tudo se detém, mesmo os actos formadores das tempestades.É quando o mundo ganha fôlego para deflagrar sobre si mesmo.
A onda do tsunami.
O abalo maior do terramoto.
O desabamento da montanha.
A erupção do vulcão.
O grito da mãe.
PG-M 2013
fonte da foto
Published on October 10, 2015 02:47
October 8, 2015
antecâmara
durante anos arrumei o teu pijama no armário e quando sem querer caía uma peça eu apanhava-a e cheirava-a como se te abraçasse e beijasse o lugar do pescoço onde o perfume chega primeiro e o sorriso que lhe sucedia era meio que uma lágrima retida ou um raio de sol oblíquo a entrar no caixilho profundo da janela do quarto, achaque de felicidade e,
ainda assim,
não estando tu junto a mim,
parecias multidão em volta
durante anos todas as morenas relativamente altas com o cabelo preto volumoso no espaço público me pareciam tu e se por lapso eu colhia das floreiras urbanas o acento almiscarado do teu perfume mais caro ocorria a saudade naquela versão selvagem que se parece com um esmorecimento cardíaco como o que teve a avó júlia que deu o nome às azedas e foi na ambulância com uma tez já de partida e nos fez finalmente decidir comprar o primeiro telemóvel para nunca mais cessar a comunicação
estás bem lembrada que ela não morreu, só quebrou
e depois foi morrendo cada vez mais perto de nós
até um dia de novembro, anos depois,
em que partiu a dormir
precisamente a meio do dia
estava de sol não de morte
depois de recitar a vida toda
nos lábios
durante anos as semanas secas de solidão e o pátio sem os teus cruzamentos a caminho de fazer tudo, só os triângulos de sol na mesma hora do raio oblíquo a entrar no caixilho profundo da janela do quarto, o estendal cheio da roupa que penduraras de manhã antes de ires para o trabalho, eu ou a tua mãe a remover as molas e a empilhar a roupa para a passares a ferro, isso também, a tábua de passar ferro ao alto na arrecadação e o desarrumo das coisas com que sonhavas permanentemente fazer um recanto do paraíso dentro de casa
ainda assim,
não estando tu junto a mim,
parecias multidão em volta
durante anos voltei dos julgamentos e das palestras de escritor para uma casa sem ti a meio do dia só silêncio e demasiado sol onde podia estar o teu corpo ou o teu cabelo prata e quando me desprendia da toga ou dos livros e começava a abrir os armários da cozinha ou a porta do frigorífico ou a máquina de lavar loiça e te via lá via a forma como puseras tudo com um equilíbrio que te podia descrever como as pestanas dos olhos ou a paz das pálpebras, tudo perfeito menos os pratos na máquina de lavar loiça, nunca soubeste cumprir regras na arrumação da máquina de lavar loiça, se fosses sempre tu a tratar disso fazíamos o dobro das lavagens e ainda assim eu olho para o trato ineficaz da travessa do assado que tem de ser sempre lavada à mão e quase morro daquela saudade que parece um esmorecimento cardíaco ou o fim de tudo
a felicidade tem margens cortantes e derivas perigosas
tem elementos em equilíbrio instável
o pedido de beijos e abraços
e o intervalo que deixam
ainda assim,
não estando tu junto a mim,
pareces multidão em volta
mas nesses épicos dias de solidão aqui tão miseravelmente descritos
o adeus continha o regresso
agora estás aí estendida e fria com excesso de brancura enquanto não fecham a urna e,
ainda assim,
não estando tu junto a mim,
pareces multidão em volta
na antecâmara
nenhum abraço contém já perfume
nenhum adeus contém já regresso
vou ver se morro depressa porque
assim,
não estando tu junto a mim,
nha vida é longa demais
e todo o sol redundante
PG-M 2015
fonte da foto
Published on October 08, 2015 09:32
October 5, 2015
O vídeo, João de Melo e outros viajantes do olimpo
Ovar, o FLO, o Festival Literário de Ovar, o primeiro, este de 2015, foi um momento singular em que me deixei estar naturalmente entre os grandes, mas quase não quero falar aqui de competências literárias, embora queira falar de memória e de presente. Gostava de falar da doçura e do respeito de senhores como Jaime Rocha, sublime poeta e marido da Hélia Correia, que eu idolatro e faço questão de idolatrar, entre outros, como o Miguel Real e o João de Melo, mas não só. Neste último caso, vi-me, nesse memorável jantar ovarense de escritores, noite alta, a ouvir a lucidez do João de Melo sobre a memória. Eu e ele, num troço da longa mesa e já na fase das migalhas, mas para mim no prato principal. Depois disso, sei que pediu os meus livros e os leu. Tive a honra de ouvir/ ler dele palavras que levarei para a sepultura (talvez até as grave na pedra tumular). Depois houve o dia em que ele me mencionou por escrito e publicamente, e isso para mim não passa. Tive esse dia cheio de comoção e "louvo-me" por ter podido conhecer e ser alvo das palavras do grande João de Melo, que se "louvou", e passo a citar, "por ter descoberto em Pedro Guilherme-Moreira o autor fulgurante de "A Manhã do Mundo" (sobre o quotidiano nova-iorquino dos mortos que nos saudaram no 11 de Setembro de 2001) e de "Livro sem Ninguém"; e esta menção vale quantos prémios vocês quiserem. Não o partilho porque me ache nada de especial. Partilho pela raridade e pela beleza do acto num dos grandes. Este homem, este meu ídolo, foi, por exemplo, o editor de Memória de Elefante e de Os cus de Judas, de um tal de Lobo Antunes, e também do Mário de Carvalho, entre outros. O que me comove é ter passado no crivo de quem já viu muito. E é tão bom que tenha voltado e continue a ver. (junto um printscreen parcial, porque a partilha não ficava visível para todos). Abaixo podem também ver o vídeo que substitui a minha intervenção principal em Ovar e que nos deixou a todos plenos, porque todos, quase todos, acreditam que a literatura (também) é isto: PG-M 2015
Published on October 05, 2015 11:09
condição
tenho muito presente a fragilidade e o cansaço dos corpos à alvorada e ao por-do-soltenho muito presente a nossa ausência dos barcos pousados no horizonteas cabeças das pessoasos olhares nas esplanadase a forma de inscriçãodo mundo com o corpo todo
quando nos levantamostodos quase todossomos mais falíveis de pédo que sentados
PG-M 2013
fonte da foto
Published on October 05, 2015 10:19
October 3, 2015
poema de uma só linha sobre um dos aspectos do silêncio
hoje é dia de dar as palavras às vezes em que as perdi
(música de Arvo Pärt - Spiegel im spiegel;
letra de mim)
PG-M 2013
Published on October 03, 2015 05:39
October 1, 2015
A sala com sentimentos
Quando nenhum suicida rompeu o círculo vicioso, o governo mandou o exército avançar por aquela rua da cidade cujo equilíbrio fora, até agora, perfeito. É verdade que os passantes habituais nunca haviam reparado que algo de singular crescera num dos endereços e que só Frigga, a acompanhante de luxo que usava o quarto no hotel em frente e cujas costas nuas redimiam, muitas vezes, o sofrimento dos trabalhadores que a viam, se sentira ela própria redimida com a visão da liberdade. Mas fora a única - e isso revelar-se-á importante na sua salvação.
A infantaria já tinha uma linha de vista para o segundo andar do edifício espelhado da multinacional que, dentro da multinacional, ficara conhecido pela sala com sentimentos, porque todo o segundo andar trabalhava pelo sistema de espaço aberto e nele restaram, como de costume, os mais inteligentes e criativos, mas, ao contrário do costume, nenhum dos ordeiros disciplinados se suicidou e a sala atingiu um insuportável nível de pressurização e quem se levantou foram os criativos com sentimentos e visão, o que rompeu a ordem das coisas, porque os criativos com sentimentos e visão estavam para trabalhar e não para contestar a ordem estabelecida até um dos ordeiros, deixado como uma espécie de resto matemático deliberado nas salas de trabalho, rebentar e recorrer ao suicídio ou ao massacre de todos os seus colegas criativos e livres pensadores que, normalmente, o olhavam num tom cinzento, astigmático e sem profusão, quando entre si eram claros, nítidos, profusos e carnais.
Pois neste ciclo não houve círculo vicioso.
O ciclo fechou-se com a conversão do resto ordeiro em colega criativo e a sala ficou, não a rebentar de tensão e desespero, como as chefias estavam habituadas, mas de sentido e liberdade.
A tensão e o desespero haviam de chegar, sim, às chefias, que aproveitariam o sistema fechado de favores para acorrer a esta emergência laboral e pedir a intervenção do exército para controlar a sala com sentimentos - argumentando que o sistema em vigor desde a revolução industrial já estava suficientemente impregnado de empregadores que pugnavam por que os seus fossem os melhores lugares para trabalhar, devaneios que só a compra por "irmãos" mais velhos e experientes no sistema resolvia, obviamente com custos para o tecido social e o perigo da invasão por um reino com um sistema de mérito e não o vetusto e eficaz sistema do demérito do patrão que verifica por balance scorecards ou furos nos cartões dos empregados o seu próprio poder que, construído sob a forma de um oco bastão de bambu tem serventia para correctivos e para sexo, não o sexo dentro do local laboral, que se assumiu como a mais perigosa forma de prazer do século XXI, mas o sexo escravizante que salda as frustrações do gabinete com terceiros por meio da introdução do bastão de bambu no canal rectal e outros prodígios, a verdade é que o sistema cada vez mais redutor, massacrante e rentável - contudo perigoso e civilizacionalmente apocalíptico, como se vai ver - da transformação da gente em máquinas e das máquinas em gente, para que singre o reinado do número e nunca haja franquia para o mencionado reino invasor do mérito, vinga sempre.
O sistema no segundo andar em espaço aberto da multinacional antes do perigoso surgimento em sala de sentimentos era simples e eficaz e funcionava assim:
Pela imprevisibilidade das competência dinâmicas, os novos contratados eram divididos, ao fim de um ano, em ordeiros - de um lado - e criativos - do outro, sem que isto significasse que um criativo não era ordeiro, mas significando que um ordeiro não era criativo. Vinha sempre um director dar as boas-vindas à nova equipa e prometer disponibilidade e envolvimento. Nenhum director observou algum dia um funcionário a trabalhar. Quem fazia isso era apenas o Presidente, que visitava as equipas de cinco em cinco anos e antes houvera observado uma pessoa a trabalhar e dava sempre conta, na reunião, como estava dentro das dificuldades práticas dos seus funcionários e como era importante mudar algumas coisas para lhes aliviar o fardo. Estas promessas, ainda que conhecidas e pouco credíveis, concediam mais seis meses de vida aos funcionários, animais que tendem a ter fé nos directores e nos presidentes para que a própria vida não se afigure uma mentira completa, assim como os cidadãos querem, muitas vezes e perante o medo e a promessa do inferno, acreditar nos políticos do sul da europa, quando é certo e sabido que, geneticamente, os políticos do sul da europa não quinhoam da sabedoria desde o Império Romano. Depois os directores alteram as regras anualmente. As novas regras nunca fazem sentido para os funcionários, mas é imperioso que, no fim do dia, e embora digam o contrário durante o dia, eles pensem que são eles os incapazes, e não quem os dirige. Há algo de comovente na escolha de directores: são todos cegos. Para cegos, fazem um trabalho magnífico, desconhecendo, como desconhecem, o seu ofício e o ofício dos funcionários que dirigem. Conhecer exige um anormal gasto de energia e essa queixa ia também anexa à emergência: não é bom para nenhum sistema laboral da era industrial conhecer.
Prosseguindo o relato do sistema equilibrado de organização do trabalho, no limite da razão do custo/benefício, os ordeiros são dispensados ou despedidos, assim como os piores ou mais contestários entre os criativos, mas há uma regra de ouro: deixar entre os sobreviventes o mais frágil dos ordeiros. Nos espaços abertos ficam então funcionários efectivos maioritariamente criativos e pelo menos um frágil e ordeiro, e entre eles paredes de tensão e opressão, objectivos e números, protocolos e resultados, sendo estimulada a permanente competição e aproveitada a dinâmica dos criativos para crescer. O frágil ordeiro que fica entre eles será naturalmente conduzido à morte, não sendo imperioso que seja uma morte física: quando o ordeiro passa os seus próprios limites, que por definição são estreitos, ou se suicida, poupando muito dinheiro às seguradoras de vida e abrindo espaço a um novo ciclo de recrutamento em que também o director é despedido (com justa causa e fundamentadamente, com relevantes poupanças para a instituição), ou planeia a morte dos colegas criativos, o que também isentará de responsabilidades a empresa, que se limitou a respeitar o sistema de trabalho. E, embora os passantes nas ruas onde estão as sedes destas empresas nunca reparem, até porque o passante humano olha em frente ou para o chão, nunca para cima, que as paredes dos espaços abertos normalmente se contraem durante cada ciclo, tornando as ruas mais amplas - o que convida à fuga - e os edifícios mais estreitos, a verdade é que todas as cidades doentes crescem por estreitamento das moradas e alargamento das ruas, forradas por magníficos tapetes entretecidos a fio dourado: o tom não vem do ouro, mas da solidão, que é uma matéria-prima eminentemente humana e os homens e as mulheres são feitos de uma luz que não é exactamente branca, por causa da pele e dos pelos.
A sala com sentimentos, contudo, perverteu o processo por se ter tornado consciente dele.
Ao processo de recrutamento acorreram elementos das mais diversas artes - poder-se-ia pensar que a maioria deles eram actores de teatro, mas, no que toca à essencialidade do rumo, qualquer bom elemento de qualquer arte é um bom intérprete e um bom soldado. Os candidatos, contudo, tinham todos uma primeira profissão, com a qual se inscreveram: no século XXI todas as artes têm profissões de resguardo e tristeza. E, quando a configuração do novo espaço aberto se tornou definitiva, as paredes não contraíram, pelo contrário, incharam, e isso seria visível da rua, não fossem os passantes de olhos no chão - é certo, por falta de hábito, mas também por temerem o sofrimento que transcende o seu próprio -, mas Frigga, a acompanhante de luxo que dava as costas nuas à sala e depois se voltava com o mesmo arrebatamento que nela colhia, e que a sala dela colhia, reparou que a sala com sentimentos se debruçava sobre a rua e fazia sombras novas onde antes o sol ardia. Cada elemento do espaço aberto trazia novas todos os dias, partilhava mão com mão, braço com braço, a música e o teatro e a literatura e até um olhar, um sorriso, um perfume, um ou outro beijo consentido, partilhava a pureza do desporto que amava, não eram likes nem reencaminhamentos sem corpo, eram likes e reencaminhamentos com corpo, as reuniões e as novas regras dos directores foram sentidas como espectáculos de stand-up, havia riso franco e os directores liam-no como sucesso retumbante, o frágil ordeiro eleito, na verdade o melhor actor e o líder secreto do projecto de afronta, continuou a fingir situar-se muito perto dos limites, e assim a sala cresceu de sentimentos todos os dias durante os anos que durou o ciclo, mas houve uma coisa que a sala com sentimentos não teve em conta e talvez esta tragédia sirva de lição aos livres pensadores, a saber:
a infantaria entrou na rua, preparou-se para investir e cruzou-se com os passantes indiferentes, indiferentes mesmo ao exército, quando a dinamarquesa Frigga, símbolo da doçura, deusa nórdica da fertilidade, do amor e da união, assomou à janela do seu quarto de hotel e tapou a boca com as mãos e os ombros com o manto. A sala com sentimentos, inflada, arrebatada, insustentável, caiu à rua. A infantaria e os passantes foram soterrados - entre estes, nenhum sobrevivente. A espuma de poliuretano do tecto falso do primeiro andar aplacou a sala com sentimentos e todos os seus elementos, cuja dor e o medo em queda foram considerados indemnizáveis pela Unidade Central Secção Três Jota Sete do Tribunal de Comarca - não o seriam a dor e o medo em queda pelo sistema de trabalho estruturado para maximizar a produção, não a produtividade, e minimizar os custos primários, que não incluíam o coupé topo de gama do presidente estacionado à porta do edifício (nem mesmo o coupé de dois lugares e um só cavalo do fundador), presidente que, milagrosamente, sobreviveu graças aos serviços de Frigga, que dava as costas nuas à luz dourada dos criativos do segundo piso e o corpo intersticial aos donos do mundo.
A cavalaria vinha atrás e não sofreu danos.
A dor e o medo indemnizáveis fundaram veios de expressão artística e a sala com sentimentos foi recuperada em queda por arquitectos premiados. Entretanto, começou novo processo de recrutamento. Frigga foi a primeira candidata.
PG-M 2015fonte da foto
Published on October 01, 2015 11:36
September 10, 2015
A consciência aguda da beleza
A consciência aguda da beleza e do silêncio, que podem ser sinónimos ou o seu contrário, como a consciência aguda do lugar universal, deixa-nos frequentemente calados, passivos, sendo a irrelevância estelar que num olhar, num sorriso cúmplice que leva silêncio à beleza e um barulho íntimo, estético, ao silêncio, se manifesta um todo, que para o universo é nada e por isso nos calamos durante os abraços e até durante o choro mais profundo, seja ele felicidade ou o seu contrário. PG-M 2015 - ATP forever
Foto de Ana Teresa Pereira em publico.pt aqui/ autoria: José Miguel Rodrigues
Published on September 10, 2015 12:20
Ana Teresa Pereira (Baker)
Já vos falei de como amo, desde que a folheei pela primeira vez, a Ana Teresa Pereira?De como decidi idolatrá-la e venerá-la de forma acrítica em vozes de veludo a preto e branco e estalidos nas costuras?De como a levo pelas veredas que rasam as praias esbranquiçadas de novembro?De como a chamo em inglês, Rosalyn, are you coming?, e a inquietude parda de uma irlanda larga e comprida se dilui mal a mão dela toca a minha e o sorriso dela está contido mas cheio e ela responde, já em surdina, I won't come - You know. I know, I know. You do not exist.
At least untill the next frame.
E fico com a página em suspenso e Bus Stop em pausa na brancura de Miss Baker e lhe digo, e insisto, que o nosso filme, afinal, é The Misfits, mas ela não, fica líquida por excesso de pausa e eu bebo e fumo e viro a página, enfim.
O que está a ler? Ana Teresa Pereira? - pergunta o velho Clark na rua das flores
Os barcos rabelos turísticos explodem no douro e a ponte de ferro está em brasa. Tomo sentido.
Como disse?
Se está a ler Ana Teresa Pereira.
Ah, não, não, estou a escrevê-la. Tenho esta doença, sabe? Os meus ídolos cercam-me e enlaçam-me o pescoço como os cavalos nos desertos salgados e eu estou gravemente doente e escrevo. Com efeito, decidi agora mesmo que ela se chama Norma Jeane e eu sou você, Clark, e estamos todos a preto e branco, nós já somos velhos, ela nunca será.
Já lhe falei de como a amo?
PG-M 2015 - ATP foreverfonte da foto
Published on September 10, 2015 12:09
August 27, 2015
o fim de agosto
não sou uma mulher, soua própria ilha e o sobremar fúcsia e tenho este ódio a agosto líquido na minha boca
sabe a sangue
sabe ao desespero e ao alívio
pelo fim; já disse
(já repeti)
que uma colagem de frases não é um poema
escrevo-as assim porque a raiva vem em golfadas
à preia-mar
e a minha pele é o fundo seco de um oceano ausente
mais um cigarro e o meu cão
e um dândi inglês a circular entre as formações mortas
de coral
chamámos ahab à baleia branca
deitada de lado no vale
tem no corpo o nosso amor
que é um galeão pirata
enquanto turistas equidecomponíveis cuidadosamente ajustam
o laço na minha laringe, Hepburn
evolui na tela exterior do parque de estacionamento
as famílias comem batatas fritas e esfregam factor cinquenta
antes que acabe chove
chove muito e a praia fica
livre
Hepburn brilha no topo
dos petroleiros
the lion in the winter e as luvas
em pelica incandescente
e agosto vai consumar-se
em old saybrook
Eleanor: And when you die, which is regrettable but necessary, what will happen to frail Alais and her pruny prince? You can't think Richard's going to wait for your grotesque to grow.
Henry II: You wouldn't let him do a thing like that.
Eleanor: Let him? I'd push him through the nursery door.
Henry II: You're not that cruel.
Eleanor: Don't fret. We'll wait until you're dead to do it.
Henry II: Eleanor, what do you want?
Eleanor: Just what you want, a king for a son. You can make more, I can't. You think I want to disappear? One son is all I've got, and you can blot him out and call me cruel? For these ten years you've lived with everything I've lost, and loved another woman through it all, and I am cruel? I could peel you like a pear and God himself would call it justice
e então agosto acaba
PG-M 2015
(ou 29 de Junho de 2003)
fonte da foto
Published on August 27, 2015 05:07


