Rodrigo Constantino's Blog, page 443

May 6, 2011

A eutanásia do poupador e a formação de bolhas

Rodrigo Constantino, Palavra do Gestor - Valor Econômico

Peço que o leitor imagine a seguinte cena: uma festa, duas horas da madrugada, o dono da festa está servindo bebida grátis há horas, e todas as pessoas bonitas já estão devidamente acompanhadas.

Agora pergunto: qual a chance de cada indivíduo da festa começar a usar critérios menos rigorosos no julgamento de beleza? O veredicto acaba bem mais obsequioso, e corre-se o risco de elevar feiosas ao padrão de modelos.

Mas o que isso tem a ver com o mercado financeiro? Em minha opinião, essa é a melhor analogia para o que ocorre atualmente no mundo das finanças. A festa é o mercado, as pessoas são os ativos disponíveis, a bebida é a liquidez abundante e o dono da festa são os bancos centrais. Há anos eles tentam estimular de forma irresponsável o preço dos ativos. Parece natural supor que muitas opções feiosas em tempos normais serão vistas como lindas nesse contexto.

Os keynesianos acreditam que cabe ao governo despertar o "espírito animal" dos investidores. Mas animais agem por puro instinto, enquanto seres humanos deveriam contrapor suas emoções ao raciocínio. Essa tarefa fica imensamente dificultada quando as intervenções maciças de governos distorcem absurdamente os preços na economia. O valor relativo dos bens perde sentido, os sinais que os preços emitem confundem os investidores e a especulação desesperada na busca por retorno cresce de forma assustadora.

Em uma economia saudável, indivíduos poupam para terem recursos disponíveis para investimentos produtivos. Quanto maior for a poupança, mais alternativas existem para investimentos. A alocação desses recursos, feita de forma livre pelo mercado, busca as opções mais rentáveis disponíveis. A taxa de juros "natural" ou de equilíbrio, o retorno do capital poupado, será dependente da oferta de poupança e da demanda por investimentos.

Quando os bancos centrais injetam liquidez artificial nos mercados, eles reduzem a taxa de juros para um patamar inferior ao de equilíbrio. Isso faz com que os agentes do mercado pensem que há mais oferta de poupança disponível, o que é falso. A probabilidade de ocorrerem investimentos que não fariam sentido em condições normais aumenta nesse cenário. Os ciclos econômicos seriam produzidos ou ampliados dessa maneira, e as bolhas seriam o efeito de tais medidas.

Essa explicação, ainda que sucinta, é adequada para ilustrar os acontecimentos da última década. A entrada da China e da Índia nos mercados globais permitiu um choque de produtividade na economia, reduzindo os preços de inúmeros produtos. Sem perceber risco inflacionário, os bancos centrais mantiveram taxas de juros abaixo do normal. A bolha de tecnologia foi criada, e quando ela estourou, os bancos centrais se negaram a aceitar os ajustes necessários após os excessos cometidos. Uma nova rodada de estímulos aconteceu (mais bebida grátis), e com o auxílio de inovações financeiras, a bolha imobiliária foi parida.

Em 2008, essa bolha também estourou. Uma vez mais, os governos e os bancos centrais não toleraram a fase de ajustes necessários. Estímulos sem precedentes foram realizados. As taxas de juros estão próximas de zero nos países desenvolvidos há mais de dois anos, sem falar dos programas de compra direta de ativos pelos bancos centrais. Até agora, eles conseguiram criar a ilusão de prosperidade, uma recuperação artificial totalmente dependente dos estímulos.

Além disso, o desemprego segue elevado, a inflação sai do controle em alguns países e as commodities parecem ter entrado em região de bolha. O ouro chegou a US$ 1.500 por onça, lembrando que se trata de um "anti-investimento", uma vez que não produz "yield" algum, servindo apenas como proteção. E moedas de países emergentes, especialmente com muitos recursos naturais, como o caso brasileiro, valorizaram-se de forma acelerada.

Ganharam até agora os que souberam especular nos efeitos desses estímulos, mas trata-se de um jogo perigoso. Já os poupadores responsáveis, em busca de investimentos produtivos que permitam um futuro melhor, ficaram sem muitas opções. O retorno real dos títulos públicos de dez anos dos países desenvolvidos, "livres de risco", é de pífios 0,7% ao ano. Para viver de renda sem mexer no principal, um americano médio que gasta US$ 50 mil por ano precisaria ter mais de US$ 7 milhões poupados!

É a eutanásia do poupador, que ajuda a criar bolhas nos países emergentes. As feiosas agradecem, alçadas ao patamar de "top models" pela completa falta de opção. O problema é quando a ressaca chegar e o investidor acordar ao lado de um tremendo tribufu.

Rodrigo Constantino é sócio da Graphus Capital
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Published on May 06, 2011 04:07

May 5, 2011

Mantega e o direito de retaliar

Editorial do Estadão

O governo tem o direito de retaliar empresas privadas, quando não concorda com decisões de seus dirigentes, segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ele expôs sua convicção de forma inequívoca, ao falar no Senado sobre a mudança de comando na Vale, decidida formalmente no mês passado. O governo, disse o ministro, poderia ter retaliado a Vale, quando seu principal executivo, Roger Agnelli, se recusou a atender a pedidos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não fez isso porque não quis, o que, segundo ele, mostra que não houve interferência do governo na substituição de Agnelli.

Mas a interferência foi evidente e ocorreu não só quando o presidente Lula pressionou a diretoria da Vale, mas também quando o ministro da Fazenda chamou o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Lázaro Brandão, para discutir a sucessão de Agnelli. O banco integra o bloco de controle da Vale e a mudança na direção da empresa dependeria de sua concordância. Depois dos encontros do ministro com o banqueiro, uma fonte do Bradesco disse ter havido uma pressão massacrante. Essa informação foi divulgada na ocasião. A imprensa noticiou também a primeira reunião de Mantega com o banqueiro.

A indiscrição do ministro, segundo fonte do governo, desagradou à presidente Dilma Rousseff. Por que deveria desagradar, se aquele tipo de contato fosse absolutamente normal e não configurasse uma indisfarçável pressão política?

O ministro negou um fato evidente, ao desmentir a interferência na decisão sobre o afastamento de Agnelli. Mas foi absolutamente sincero ao expor sua opinião sobre os direitos do governo de interferir na gestão de uma empresa privada. Mantega recordou os motivos - bem conhecidos há muito tempo - da insatisfação de Lula em relação ao presidente da Vale. No pior momento da crise, no fim de 2008, a empresa anunciou a demissão de 1.200 funcionários - um número pequeno, seja em comparação com seu quadro de empregados, seja em confronto com as dispensas ocorridas em outras companhias, no Brasil e no exterior. O presidente Lula pressionou publicamente não só a diretoria da Vale, mas também a da Embraer, por causa dos cortes de pessoal na primeira fase da recessão. Não teve sucesso, mas tentou intervir e exorbitou de seu papel ao criticar executivos por tomarem uma decisão legal e perfeitamente normal naquela circunstância.

"Não vejo situação mais democrática do que essa", disse Mantega, referindo-se à ação do presidente. É uma concepção muito particular de democracia, já que o presidente agiu de forma nitidamente autoritária, tentando interferir na direção de duas grandes empresas privadas. O ministro parece haver esquecido, além disso, as bem conhecidas tentativas de derrubar o presidente da Vale, também noticiadas prontamente pela imprensa.

O presidente Lula censurou a Vale também por exportar minério à China em vez de aço, um produto com maior valor agregado. Mas o investimento industrial necessário para isso estava fora dos planos imediatos da empresa. Também isso foi tratado como afronta. A Vale, segundo o ministro, deveria atender ao "interesse nacional". Em outras palavras, o governo tentou, sim, interferir na orientação da empresa. Nem é preciso, aqui, sublinhar a espantosa ingenuidade econômica revelada pelo presidente da República e por seu ministro, ao cobrarem da Vale, no meio da crise internacional, um investimento num setor com grande capacidade ociosa.

O ministro Mantega talvez tenha sido mais transparente do que pretendia, ao mencionar a retaliação não executada pelo governo. Se o governo poderia ter retaliado, essa retaliação deveria corresponder a um direito - pelo menos na sua concepção. Essa ideia pode causar estranheza a quem não conheça a "ideologia petista". Mas é perfeitamente compatível com os padrões seguidos pela administração petista. Afinal, a retaliação não é mais que a contrapartida - com sinal trocado - dos favores distribuídos por esse mesmo governo, por meio dos bancos federais, a empresas selecionadas segundo o arbítrio de quem maneja o dinheiro. Não é isso igualmente democrático, segundo o critério de Mantega?
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Published on May 05, 2011 10:12

May 4, 2011

Teorias conspiratórias

Rodrigo Constantino

A ausência até agora do corpo do terrorista mais procurado do mundo, executado pelo governo americano numa operação de grande sucesso, atiçou as emoções daqueles que amam teorias conspiratórias. Será que ele morreu mesmo? Será que ele já estava morto há anos e o governo americano aguardava um momento adequado para o anúncio?

Sempre fico espantado com a capacidade de alguns para ser atraído por estas teorias mirabolantes. O pior de tudo é que basta um pouco de reflexão e algumas perguntas básicas de bom senso para derrubar a maior parte destas teorias conspiratórias.

Vejamos o caso Osama Bin Laden: Obama comunica ao mundo sua morte, mas ele está vivo. Cáspita! Basta o sujeito gravar um vídeo novo, numa caverna qualquer, mostrando um jornal atual que fala da sua própria morte, rindo da cara do próprio Obama. Nada mais que uns dez segundos de fala, para o mundo vir abaixo para o Todo-Poderoso presidente americano: "Hey, Obama, estou aqui vivinho da silva, otário!". Obama jamais seria eleito novamente, nem mesmo para síndico do prédio. Mas tem gente que acha que ele assumiria tal risco...

Ou pior: Osama estava morto há anos, mas o governo guardava esta carta na manga para o momento propício. Brincadeira! O cara mata o inimigo mais odiado dos americanos, enquanto enfrenta uma baita crise econômica, perdendo popularidade faz tempo, mas espera para dar o aviso depois. Obama é keynesiano, quase socialista, mas não é tão burro, muito menos maluco.

Na verdade, teorias conspiratórias conquistam tantos adeptos porque simplificam enormemente o mundo. Fica tudo mais fácil de ser compreendido quando "eles" controlam todos os fatos de uma cúpula ultra-secreta em alguma montanha distante. Tem gente que anda vendo filme demais e confundindo realidade e ficção. Aceitar a complexidade da vida, o dinamismo dos fatos, os conflitos de interesses de forças opostas, a imprevisibilidade do futuro, tudo isso demanda certa coragem, e é muito mais fácil pensar que "eles" dão as cartas. No mercado financeiro, onde eu trabalho, tem gente que adora acusar "eles" de manipulação, normalmente quando os preços estão indo contra suas apostas.

Ataque em 11 de setembro? Obra do próprio governo americano! Sério, tem gente que acredita nisso, e não são poucos! A internet está repleta de "argumentos" e "evidências" para "provar" esta teoria. Mas já pararam para pensar, fora outras tantas coisas, na quantidade de gente que teria de estar envolvida em tal conspiração? Bombeiros, jornalistas, o Congresso todo, incluindo oposição a Bush, são tantas pessoas que o absurdo da "tese" salta aos olhos. Mas isso não impede que a teoria conspiratória ganhe a rede, conquistando especialmente aqueles que desejam atacar o governo americano patologicamente. A esquerda brasileira, não custa lembrar, adora acusar qualquer crítico de sua ideologia de "agente da CIA".

A lista continua. O homem jamais foi à Lua. Pode pesquisar, há "evidências" abundantes disso na internet. Ou então os eventos que culminaram no colapso soviético foram todos orquestrados pela própria KGB, num plano de dar inveja a Dan Brown ou Sidney Sheldon. Teorias conspiratórias podem ser fascinantes, não é mesmo? E penso que há outro motivo que atrai tanta gente a elas: faz com que eles se sintam parte de uma "elite" esperta, que não foi vítima das mentiras da "mídia", da "alienação" dos grandes veículos de comunicação. Viu na Globo ou leu na Veja? Azar o seu, bobão!

Isso não quer dizer que todas as teorias conspiratórias estarão erradas. Mas, sem sombra de dúvida, a imensa maioria delas não passa de pura balela, montagens patéticas com leves pitadas de realismo para engambelar os sedentos por emoção e reducionismo. E cuidado, leitor! ELES estão de olho e sabem tudo que você pensa.

Assinado: Elvis Presley, que não só está vivo até hoje, como faz parte da cúpula que controla o mundo e forjou a chegada do homem à Lua.

PS: Se alguém deseja refletir sobre bons motivos para não mostrar o corpo do terrorista ou jogá-lo no mar, recomendo o blog de Reinaldo Azevedo, com quem não concordo sempre, mas que respeito pelo bom senso.
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Published on May 04, 2011 13:56

A inflação não espera

Editorial do Estadão

Não se negocia com a inflação, assim como não se negocia com uma doença grave. Nenhum brasileiro medianamente informado deveria desconhecer ou menosprezar essa regra. Inflação e doença grave não fazem concessões, não dão trégua e não se ajustam à conveniência de países ou pessoas. A presidente Dilma Rousseff, ministros, líderes do PT e dirigentes sindicais parecem esquecer ou menosprezar a experiência do Brasil e de muitos outros países, quando defendem um combate "cauteloso" à alta de preços. Falam como se a busca da estabilidade fosse opcional e os males causados pelas pressões inflacionárias não fossem crescentes. Mas o quadro fica ainda mais preocupante quando o Banco Central (BC), embora reconhecendo o perigo, decide tratar com condescendência pressões inflacionárias cada vez mais graves.

A presidente já tomou "medidas cautelosas" para conter a inflação sem causar recessão e desemprego, disse o secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem falado em cuidar das pressões inflacionárias "sem matar a galinha dos ovos de ouro", isto é, sem prejudicar o mercado interno. Além disso, o Brasil aparece em boas condições, segundo ele, quando comparado com outros países.

Só os muito desinformados - ou muito irresponsáveis - podem levar a sério esse palavrório. A escolha entre inflação e recessão não se impõe às autoridades brasileiras. A situação, neste país, é muito diferente daquela vivida nos Estados Unidos e na maior parte da Europa, onde o nível de atividade é muito baixo e a meta de inflação não passa de uns 2% ao ano. No Brasil, a economia continua em crescimento depois de uma expansão de 7,5% em 2010. O crédito se amplia, apesar das medidas de contenção adotadas pelas autoridades.

A inflação acumulada em 12 meses supera 6% e pode em breve ultrapassar o limite superior da meta, 6,5%. Escritórios independentes projetam uma inflação anual superior a 7% no começo do segundo semestre. Em agosto, o índice atualizado semanalmente pela Fundação Getúlio Vargas, o IPC-S, poderá atingir 7,9% em 12 meses, segundo o coordenador da pesquisa, professor Paulo Picchetti. Além disso, a última apuração mostrou que 67,45% dos itens pesquisados custaram mais. Trata-se de uma onda generalizada de aumentos de preços.

É um contrassenso, nesta altura, falar em combater a inflação com cuidado para não matar a galinha dos ovos de ouro. O mercado interno, essa galinha criada e engordada com muito custo ao longo de vários anos, será sacrificado inevitavelmente se a inflação disparar. Conter a alta de preços é condição incontornável para preservar o salário real, isto é, o poder de compra efetivo da grande massa incorporada recentemente ao mercado de consumo. A presidente Dilma Rousseff prometeu trabalhar para proteger esse poder de compra, mas serão necessárias ações muito mais firmes e menos tímidas para o cumprimento dessa promessa. No campo fiscal, por exemplo, o ajuste proclamado pelo governo ainda não é claro.

Será necessário mais tempo para se confirmar se o resultado obtido no primeiro trimestre se manterá. Ao acrescentar dois meses ao prazo para cancelamento de restos a pagar de 2007 a 2009, a presidente mina a confiança em seu compromisso com a austeridade, especialmente porque sua decisão atende a pressões de parlamentares.

Além disso, o governo deve basear o combate à inflação, segundo a presidente, principalmente na expansão do investimento e da capacidade de oferta. O investimento é fundamental para o longo prazo, mas o combate à inflação se faz com instrumentos de ação conjuntural. Isso não deveria ser novidade para a presidente, formada em economia,

Enquanto o governo e seus aliados fazem retórica sobre o combate "cauteloso" à inflação, a alta de preços ganha impulso e vai contaminando todos os segmentos do mercado. A presidente parece perigosamente inclinada a politizar o tratamento do assunto, seguindo a cartilha do PT, dos sindicatos e dos empresários mais dispostos a aceitar a inflação. Essa complacência poderá em pouco tempo destruir conquistas duramente alcançadas nos últimos 15 anos.
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Published on May 04, 2011 12:37

What Canadians Want

Editorial do WSJ

Canadian Conservative Party leader Stephen Harper's landslide victory in Monday's election, capturing the first center-right majority since 1988, is a tutorial in economics as much as politics. Aspiring Presidential candidates south of the 49th parallel, please take note.

Mr. Harper has been running a minority government since 2006 and this time he won big. Conservatives captured 167 seats of 308. Second place went to the hard-left New Democratic Party, which won 102 seats and is now the official opposition, replacing the more moderate center-left Liberal Party. Liberals won a scant 34 seats, while the separatist party, Bloc Quebecois, took the worst drubbing, winning only four seats against 47 in the last parliament.

Mr. Harper was conciliatory on Monday night but also took appropriate credit. "We got that mandate because of the way we have governed, because of our record," he said in Calgary. That record is worth reviewing, especially as it relates to government spending and taxes.

Despite its reputation for leaning left, Canada has been economically opening and liberalizing since the mid-1990s. Progressive Conservative Prime Minister Brian Mulroney negotiated the North American Free Trade Agreement in 1993 and later that decade, as the Canadian dollar swooned, the Liberals were forced to begin cutting federal spending.

Yet Liberals were only willing to go so far in shrinking Ottawa's bureaucracy. Enter the Harper government in 2006. It made tax cuts, a strong national defense and rationalizing government its priorities. And it made good on those promises. On January 1, 2008 Canada's general sales tax fell to 5% from 7%. Mr. Harper has also cut the federal corporate tax rate, which is now 16.5% and is scheduled to fall to 15% in 2012. (Add in provincial corporate rates of about 10%.) The U.S. federal rate alone is 35%.

Canada avoided America's housing mania and meltdown, but as our biggest trading partner it shared some of our economic pain. Conservative policy—low taxes and a willingness to allow the exploitation of rich oil and mineral deposits—has been a life saver for a small economy heavily integrated with the U.S. Its GDP grew by 3.3% last year, compared to America's 2.9%, and it now takes $1.05 to buy a Canadian dollar.

Mr. Harper did engage in stimulus spending, but he was also mindful of the risks. Canada's stimulus did not add to the country's entitlement rolls, and as the nearby chart shows, he has avoided the debt explosion afflicting the U.S. and much of Europe. He has also promised to balance the budget by fiscal 2014-2015 without raising taxes, which was a clear dividing line in the recent campaign.

All of this has made Mr. Harper's Tories the party of Canada's working and middle classes, including the immigrant communities around Toronto, which has long been a Liberal stronghold. As the Canadian polling company Compas explained on Sunday before the vote: "The historic middle class or bourgeois bastion of the Liberal-Conservative establishment, university-educated voters, have become the fortress of the anti-establishment NDP, while less educated and hence lower status Canadians are set to become the stronghold—the impregnable fortress—of the Conservatives."

The bad news here is that Canada's extreme left is now the opposition party, suggesting a sharper ideological polarization more typical of America. New Democratic leader Jack Layton moderated his populist tone during the campaign but the party's official "constitution," as reported on in the Canadian press, is anything but moderate. It includes references to "the extension of the principle of social ownership" and promises to increase government control of the economy in the interest of social justice and the environment. If the Tories mess up, the NDP would be poised to take the country sharply to the left.

For now the Conservatives will get to showcase their agenda with far more freedom than before. The NDP's constitution isn't well known and its victories, particularly in Quebec, seem largely attributed to a protest vote against the failures of the separatists and Liberals.

On the other hand, a too-cautious Mr. Harper could have trouble with his own party. Tory voters have been waiting for this majority for a long time and their victory means a lease of four years in power. Canadians will expect Mr. Harper to reshape economic policy to make the country more internationally competitive. That would seem to include reform of the national health-care model, which is draining government budgets but which Mr. Harper has been reluctant to talk about. Cuts in personal income tax rates are also on the conservatives' list.

The lesson of Mr. Harper's victory is that well-implemented conservative economic policies can attract and keep a political majority. America's Republicans might want to send a visiting delegation and study up.
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Published on May 04, 2011 04:18

May 3, 2011

Capitalismo de Estado

Rodrigo Constantino, O Globo

"O estado é melhor como jardineiro, que deixa as plantas crescerem, do que como engenheiro, que desenha plantas erradas." (Roberto Campos)

Devemos tomar cuidado com rótulos simplistas, que muitas vezes podem confundir mais do que elucidar. Feito o alerta, socialismo é quando o estado detém os meios de produção, enquanto no capitalismo eles são privados. Partindo desta definição, não há país puramente socialista ou capitalista no mundo; todos eles são uma mistura, em graus distintos. Coréia do Norte, Cuba e Venezuela são exemplos quase socialistas, enquanto Suíça, Austrália e Canadá são países bem mais capitalistas.
O modelo mais próximo do socialismo também pode ser chamado de capitalismo de estado. Ele existe quando o poder do estado é tão grande a ponto de influenciar absurdamente os resultados econômicos do país, asfixiando a iniciativa privada. O estado, neste caso, é visto como a grande locomotiva que garante a prosperidade da nação. Os indivíduos precisam se "encostar" nele como fonte de enriquecimento.
A crença de que o Estado é o "pai do povo" permite a privatização do espaço público por uma "patota" populista. O Estado fica muito mais forte do que a sociedade. Burocratas e políticos passam a controlar a máquina estatal. A privatização do Estado ocorre através das práticas de nepotismo e clientelismo, e as leis deixam de ser isonômicas, passando a representar um braço dos privilégios da "grande família" no poder.
Como definiu Octavio Paz, "o patrimonialismo é a vida privada incrustada na vida pública". No capitalismo de Estado, a política deixa de ser um meio para alavancar os negócios; ela é o grande negócio em si. O princípio básico do modelo é a privatização dos lucros e a socialização dos prejuízos. Quem não faz parte do andar de cima acaba pagando a conta. A variável política tem preponderância sobre a econômica. A troca de favores é o meio para o sucesso, não a meritocracia ou a eficiência. O melhor atributo é ser um "amigo do rei".
Este modelo leva ao autoritarismo, por meio da crescente concentração de poder na casta governante. Infelizmente, a América Latina parece longe do dia em que tais características serão apenas um triste capítulo do passado. Se antes figuras como Perón e Getúlio Vargas representavam os ícones deste modelo, atualmente temos Hugo Chávez e Evo Morales como novos "patriarcas".
E o Brasil nesta história? Jamais tivemos um modelo efetivamente liberal, mas "nunca antes na história deste país" tivemos um capitalismo de Estado tão evidente. O aparelhamento da máquina estatal tem sido assustador. A ingerência no setor privado, como no caso da Vale, aumentou exponencialmente. E, talvez o exemplo mais sintomático, o BNDES foi transformado numa gigantesca máquina de transferência de riqueza dos pagadores de impostos para os grandes empresários aliados ao governo.
O banco estatal foi o que mais cresceu nos últimos anos. Seus desembolsos subsidiados ficavam na faixa dos R$ 35 bilhões por ano antes de o PT chegar ao poder, e hoje os empréstimos chegam a quase R$ 150 bilhões por ano. As cifras são impressionantes. Igualmente impressionante é a concentração de grandes empresas no destino final dos recursos. Trata-se de uma verdadeira "bolsa-empresário". O governo seleciona as empresas "vencedoras" de cima para baixo, com base em critérios políticos. Metade do crédito no país já depende do governo, o maior banqueiro do país!
O governo brasileiro é um dinossauro com apetite insaciável. Ele arrecada quase 40% do PIB em impostos, a fundo perdido para os cidadãos. Além disso, a dívida pública se aproxima dos R$ 2 trilhões, pressionando a taxa de juros da economia. A burocracia insana representa outro enorme custo indireto para as empresas. O governo brasileiro se mete até na escolha das nossas tomadas! Com esta hipertrofia toda, a corrupção toma conta do país. E com gastos e crédito crescentes, a inflação já passa de 6% ao ano.
Trata-se de um modelo insustentável que beneficia basicamente os governantes e seus apaniguados. E, para desespero de todos aqueles que compreendem isso, não há lideranças políticas confrontando este ultrapassado modelo, apesar dos 44 milhões de votos na oposição. Parece que os políticos atuais disputam apenas o controle da "cosa nostra". Falta quem lute efetivamente pela substituição deste modelo por outro com mais economia de mercado, império da lei e ética. Precisamos de uma alternativa urgente ao atual capitalismo de Estado, que concentra privilégios e distribui injustiças.

Nota do autor: O jornal O GLOBO, por política própria, utiliza Estado com letra maiúscula, mas eu confesso preferir a alternativa com letra minúscula, o que já o coloca mais em seu devido lugar de servo do povo.
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Published on May 03, 2011 10:50

May 2, 2011

Real ajuda Brasil a alcançar países ricos em altos preços

John Lyons | The Wall Street

O Brasil aspira há gerações entrar para o clube dos países ricos. Em uma medida, já chegou lá: São Paulo e cidades como o Rio estão agora entre os lugares mais caros do mundo.

O grande motivo é que o real subiu cerca de 40% em relação ao dólar em dois anos. Acrescente a isso uma inflação anual de 6,4% e os paulistanos estão de repente pagando até R$ 24, o equivalente a US$ 15, para ir ao cinema - mais do que os nova-iorquinos.

É fato que, com salários em reais, os brasileiros estão de maneira geral isolados das variações cambiais que encarecem as coisas no país em dólar, já que seus salários também aumentam em relação à moeda americana. Mas eles também começam a sentir a mordida da inflação que decorre da economia aquecida.

É uma virada notável em relação a dez anos atrás, quando terrenos, aluguel e mão de obra eram baratos em dólares e deixavam o país atraente para investidores aventureiros - e um paraíso ensolarado para os turistas com orçamentos apertados. Um frenesi de investimento mundial para o Brasil e outras economias emergentes está mudando isso ao fazer o real subir à estratosfera.

Depois de chegar a R$ 1,57 por dólar na semana passada, o real está perto de um recorde em três anos e, de acordo com o Goldman Sachs, é provavelmente a moeda mais supervalorizada do mundo.

Isso tem implicações perigosas para a economia - e serve de alerta para outros mercados emergentes. Ao se tornar mais caro em dólares, o Brasil perde a vantagem competitiva que uma divisa fraca proporciona na economia mundial. Colunistas brasileiros queixam-se com regularidade de uma "desindustrialização" que pode decorrer de uma moeda forte que torne a indústria local pouco competitiva.

A JBS SA, maior produtora de carne do mundo, informa estar exportando menos do Brasil porque muitos clientes internacionais não conseguem mais arcar com o custo. Enquanto isso, as exportações dos frigoríficos da JBS nos Estados Unidos estão aumentando.

O problema é que o Brasil está ficando tão caro quanto os países ricos antes que possa realmente competir com eles. Em dólares, os trabalhadores brasileiros começam a ganhar salários de mundo desenvolvido, embora a produtividade seja menor. Para as empresas estrangeiras, muitas vezes custa tanto, ou mais, fazer negócios no Brasil do que nos EUA, embora as empresas brasileiras tenham a desvantagem de estradas ruins e portos ruins, apagões, criminalidade elevada e impostos mais altos.

Os altos preços proporcionam um contraste gritante com a pobreza que continua comum no Brasil, com milhões ainda vivendo em precárias favelas ou subúrbios. A renda deles está ficando atrás dos saltos nos custos de transporte e alimentação, diz Marcelo Neri, um economista da Fundação Getúlio Vargas.

Já os políticos brasileiros não se deixam ficar atrás da alta dos preços. Em dezembro, o Congresso se deu um aumento de 62%, fazendo com que o salário dos parlamentares chegasse a R$ 26.700, o que dá, por ano, o equivalente a US$ 210.000, em comparação com US$ 174.000 dos deputados e senadores americanos.

Há exemplos de sobra dos altos custos brasileiros. O custo de contratação de executivos para organizar os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio, é maior do que para os jogos de 2012, em Londres, informa a Odgers Berndtson, a firma que fez a contratação para ambos. O aluguel de escritórios no Rio está mais caro agora em dólares do que no centro de Manhattan, segundo a imobiliária Cushman & Wakefield.

Há que se dizer que algumas coisas sempre foram incrivelmente caras na economia em boa parte fechada, bastante tributada do Brasil. Um Honda Civic básico custa cerca de US$ 21.400 nos Estados Unidos. No Brasil, os preços começam no equivalente a US$ 39.000.

A tendência talvez seja mais evidente para os viajantes que chegam ao Brasil com dólares no bolso. Viajantes de negócios estrangeiros queixam-se entre si das caipirinhas que custam até R$ 29, ou US$ 18, no bar MyNY do Itaim-Bibi e não conseguem acreditar que uma noite no hotel Renaissance da Marriott em São Paulo pode custar 50% mais do que no mesmo hotel em Manhattan.

"Não me lembro de preços assim em todos os meus 40 anos cobrindo o Brasil, e quando vivi lá", diz o economista John Welch, que cresceu no país e visita São Paulo com frequência como economista do Macquarie Bank.

Para Welch, uma questão importante é se parte dos preços mais altos do Brasil reflete bolhas de ativos. Uma preocupação é que uma moeda supervalorizada possa provocar bolhas imobiliárias, diz, o que cria imprevisibilidade na economia.

Os preços dos apartamentos em Ipanema dobraram em reais desde 2008, diz Sérgio Freire, presidente da Brasil Brokers, uma das maiores corretoras imobiliárias do país. Os preços subiram 50% só nos últimos 12 meses nos bairros próximos dos locais em que estão sendo construídas as instalações para a Olimpíada de 2016, diz.

"Os terrenos ficaram muito caros porque tudo está sendo comprado, há um choque no custo da construção e ao mesmo tempo há compradores com mais renda", diz Freire.

Lidar com a alta dos preços se tornou um dilema delicado para a presidente Dilma Rousseff.

O Brasil precisa de altas taxas de juros para segurar a inflação. Mas a elevação dos juros pode tornar o real ainda mais supervalorizado ao atrair mais dinheiro estrangeiro. O Banco Central elevou os juros para 12% ao ano este mês, o terceiro aumento este ano, depois que a inflação chegou ao nível mais alto desde 2008. A previsão é de que haverá mais altas de juros.

O real está se valorizando por bons motivos, de maneira geral. A economia brasileira cresceu 7,5% no ano passado, atraindo enormes montantes de investimento estrangeiro. Mas o Brasil também está na ponta receptora de investimentos especulativos que partem de países ricos como os EUA, onde os juros são baixos, para tirar proveito dos juros brasileiros, que estão entre os mais altos do mundo. Isso força o real a subir ainda mais.

Cerca de US$ 35 bilhões em capital estrangeiro entraram no Brasil nos primeiros três meses de 2011, mais do que no ano passado inteiro.

O Brasil não está sozinho. Uma enxurrada de investimento do mundo desenvolvido está valorizando as moedas de vários mercados emergentes, o que torna as economias de países como Coreia do Sul e Chile mais caras.

Por outro lado, o real forte está até produzindo um novo jet set brasileiro que gastou US$ 2 bilhões nos primeiros dois meses do ano - um aumento de 33% em relação a 2010 - em cidades estrangeiras cujas moedas são mais fracas, como Buenos Aires ou Miami.

Ao mesmo tempo, as diárias de US$ 400 dos hotéis butique nas ruas de paralelepípedo de Salvador estão afugentando a clientela majoritariamente europeia, dizem donos de hotel.

"Acho que eles estão indo para a Ásia", disse o gerente de um hotel boutique praticamente vazio no Pelourinho.

Comentário: Se o Brasil já é uma bolha, não sei dizer. Mas que há muita espuma, isso há! Temos uma das moedas mais caras do mundo, o setor imobiliário cresce de forma preocupante, os gargalos de sempre começam a cobrar seu preço. A inflação passa de 6% ao ano, e o governo continua gastando muito, estimulando o crédito (que ainda cresce a 20% ao ano), e mantendo um Banco Central sem independência e "atrás da curva" (juros abaixo do necessário). O governo está brincando com fogo. Eis a analogia que faço: somos um Gurgel numa estrada cheia de buracos, a 150 km/h, com o carro trepidando e parafusos começando a soltar, e uma mulher no volante que não vê problema em acelerar mais o carro sem as devidas condições de segurança. Quais as chances de dar algo errado?
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Published on May 02, 2011 07:36

April 30, 2011

Epidemia da Luz branca



Rodrigo Constantino

É impressão minha ou virou moda agora colocar luz branca na casa toda? Olho do meu apartamento e fico impressionado com a quantidade de gente que aderiu a esta mania.

De Gustibus non est Disputandum. O que seria do azul se todos preferissem o verde? Estou de acordo que gosto não se discute; no máximo se lamenta. Mas pergunto: alguém realmente acha mais bonito colocar luz branca na casa toda?

Lembremos que luz branca é típica para ambientes como cozinha, hospital ou escritório. Por que será? Porque é fria, ora! A luz amarela é mais quente, coisa de quem curte um calor humano, essa coisa ultrapassada pelas redes virtuais.

No fundo, arrisco dizer que esta epidemia de luz branca tem ligação com a mais poderosa seita da atualidade: o ambientalismo, ou eco-terrorismo. Os "verdes" (melancias é melhor, pois são verdes por fora mas vermelhos por dentro) querem salvar o planeta, e nada como uma lâmpada mais econômica, ainda que horrível, para tão nobre objetivo.

Isso mesmo! Vamos salvar a Terra usando uma lâmpada um pouco mais econômica... enquanto vivemos em casas que parecem hospitais! Ainda que considere esta escolha uma agressão visual, nada posso fazer quanto ao gosto alheio.

Mas o perigoso é que essa turma, organizada, chata e influente, vai acabar conseguindo banir do mercado as velhas lâmpadas amarelas. Praticamente já não as vemos mais à venda. Que mundo mais feio e pentelho estamos deixando para nossos filhos...
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Published on April 30, 2011 15:51

April 29, 2011

Sonhos de um libertário

Comentário do blogueiro: A matéria abaixo saiu no caderno EU & Fim de Semana do jornal Valor Econômico. Vale a leitura. Tenho ressalvas quanto ao anarco-capitalismo, que considero utópico demais e simplista também. Além disso, defendo a democracia, reconhecendo suas inúmeras imperfeições. Hoppe diz que o "deus" falhou, mas o ponto é que a democracia não deve ser encarada como um deus, e sim como o pior método de escolha das coisas públicas, exceto todos os outros (by Churchill). Dito isso, os pontos de Hoppe são no mínimo instigantes, e numa era de extremo coletivismo e governos vistos como deuses laicos por tanta gente, seu radicalismo tem lá seu valor, ainda que seja para jogar o vetor resultante na direção de menos governo e mais liberdade individual. Mas não creio em panacéias, em modelos perfeitos ou em "soluções". O que existem são "trade-offs", alternativas melhores, ou menos piores. Crises, ciclos, injustiças e abuso de poder SEMPRE existirão, e jamais acreditem em quem promete o contrário.

Economia: Nem bancos centrais, nem Estado, nem democracia. O economista alemão Hans-Hermann Hoppe imagina uma "sociedade de leis privadas".

Sergio Lamucci | De São Paulo



O alemão Hans-Hermann Hoppe é um crítico feroz dos bancos centrais. Para o economista da escola austríaca, a existência dessas instituições é a principal causa de crises financeiras como a que abateu a economia global em 2008 e 2009. "Um banco central é a única instituição que pode criar dinheiro virtualmente a partir do nada. Não se deve esperar que uma instituição que pode imprimir dinheiro, criar crédito e redistribuir renda em seu favor cause uma crise financeira?", diz ele, que se classifica também como um filósofo libertário/anarco-capitalista.

Membro-sênior do Instituto Ludwig von Mises e fundador e presidente da Property and Freedom Society, Hoppe coleciona opiniões polêmicas. Além de defender a extinção dos bancos centrais, vitupera contra a democracia, como no livro "Democracy: the God that Failed". Em seu lugar, Hoppe propõe o que chama de "sociedade de leis privadas", em que até a segurança seria oferecida por companhias particulares, num ambiente de livre concorrência. Nesse mundo, o Estado não existiria.

Hoppe falou ao Valor em São Paulo, no começo do mês. Nos dias 9 e 10, participou do II Seminário da Escola Austríaca, em Porto Alegre, promovido pelo Instituto Ludwig von Mises do Brasil. Hoppe é um entusiasta da obra de Mises, um dos expoentes da escola austríaca, defensor de uma política irrestrita de livre mercado e de respeito total ao direito de propriedade. "'Human Action', a obra mais importante de Mises, ainda será lida daqui a 200 ou 300 anos, ao passo que ninguém mais lerá Milton Friedman dentro de 100 anos", afirma ele, destacando, entre outros pontos, o fato de Mises explicar economia a partir de uma lógica aplicada, integrando-a num grande sistema.

Para Hoppe, a própria existência dos bancos centrais é a grande responsável pela crise financeira de 2008/2009, cujos efeitos ainda afetam a economia global, e não a progressiva desregulação do sistema financeiro a partir dos anos 90. "O banco central é uma instituição muito pouco comum, a única que pode criar dinheiro basicamente a partir do nada. Todos os outros que fizerem isso são considerados criminosos", ataca Hoppe, PhD em filosofia pela Universidade Goethe, em Frankfurt.

"Só bancos centrais podem criar dinheiro basicamente a partir do nada. Todos os outros que fizerem isso são considerados criminosos"

Hoppe diz que há algumas diferenças institucionais no modo como bancos centrais operam na Europa, nos Estados Unidos ou no Brasil, mas o princípio básico é sempre o mesmo: a possibilidade de imprimir dinheiro. "É sempre possível criar um boom reduzindo os juros a um nível artificialmente baixo. Se as coisas vão mal, o banco central pode resgatar a si mesmo, simplesmente imprimindo os recursos necessários para cobrir suas perdas. Os ganhos são privatizados, obtidos pela expansão de crédito, e as perdas são socializadas quando as coisas dão errado."

Como os bancos centrais vão continuar a existir, a eclosão de novas crises é apenas questão de tempo, afirma Hoppe, observando que o problema foi enfrentado pela impressão de ainda mais dinheiro. O resultado? Uma nova bolha em gestação, ainda maior que a anterior, que terá um colapso ainda mais drástico, vaticina.

Para o economista, a melhor resposta à crise seria ter deixado os bancos quebrarem. "Governos e Estados amam crises, porque oferecem sempre a possibilidade de aumentar o poder. A resposta à crise foi aumentar ainda mais o poder dos bancos centrais, para supervisionar o sistema bancário, quando o mais adequado seria deixar os bancos quebrados falirem. Isso teria afetado alguns grandes 'players', mas não a maior parte dos pequenos homens de negócios e as pessoas mais pobres ou moderadamente ricas. O que ocorreu foi o resgate de governos, grandes bancos e pessoas bem relacionadas. Se os bancos cometeram erros, como qualquer outra empresa, deveriam falir", diz Hoppe, para quem também é um erro o resgate dos países europeus, como Grécia e Portugal.

Mas se a crise se agravou com o colapso de um banco que não era gigante - o Lehman Brothers -, a quebra de instituições do tamanho do Citigroup e a AIG não teria um impacto ainda maior sobre a economia real? "Por que isso ocorreria? Alguns bancos quebrariam, alguns grandes investidores nesses bancos também quebrariam, mas os ativos reais no país continuariam exatamente os mesmos. Não haveria perda de bens. Haveria exatamente as mesmas fábricas, casas, imóveis. Elas apenas iriam para as mãos de pessoas diferentes, que não cometeram erros."



Ludwig Von Mises: expoente da escola austríaca, defensor de uma política irrestrita de livre mercado e de respeito total ao direito de propriedade

Para Hoppe, com essa estratégia o desemprego aumentaria por pouco tempo, e a recuperação da economia seria mais rápida. "Quando as empresas quebram, há um curto período de mais desemprego. Mas isso significa que esses trabalhadores agora estão disponíveis para outras indústrias, em que há mais demanda. O que precisamos, para lidar com o desemprego, é ter mercados de trabalho flexíveis. Os salários devem poder ir para cima ou para baixo, sem nada como leis de salário mínimo."

Mas é realista esperar o fim dos bancos centrais? "Vamos supor que tenhamos hiperinflação. Posso imaginar muito bem que a opinião pública se volte contra o Fed [Federal Reserve, o banco central americano], por exemplo. Há alguns anos, eram considerados intocáveis, falavam no Maestro [Alan] Greenspan [ex-presidente do Fed], apenas atrás de Deus. Hoje ninguém mais os vê desse modo."

Num mundo sem bancos centrais, os juros seriam fixados pelo mercado e haveria a tendência de que uma commodity, possivelmente o ouro, se desenvolvesse como moeda de uso global, para facilitar as trocas. "Por centenas de anos tivemos dinheiro-commodity e bancos privados concorrentes, emitindo suas notas, sempre resgatáveis em ouro, prata ou outro metal."

Em relação aos juros, Hoppe diz que são "um fenômeno de mercado, como qualquer outro preço". Para ele, a noção de que é necessária uma instituição para fixar os juros é "bastante estranha". "Os juros são simplesmente a relação entre o preço futuro e o preço presente do dinheiro."

Entre as ideias de Hoppe, chama a atenção sua visão negativa da democracia. Segundo ele, o movimento democrático foi inicialmente direcionado contra as monarquias, com o argumento de que eram baseadas em privilégios. Na democracia, isso não ocorreria, e todos seriam iguais perante a lei. "Mas isso é um erro, porque também na democracia há privilégios. A questão é que não são privilégios pessoais, mas de função. Um funcionário público pode fazer coisas que um pessoa comum não pode fazer", afirma Hoppe. "Como uma pessoa comum, não posso tomar seu dinheiro contra sua vontade e gastar como eu quiser. No caso dos funcionários públicos, isso é chamado de política social e redistribuição de renda." Com isso, privilégios existem na democracia, assim como na monarquia, exceto que eles não são de caráter pessoal.

"A resposta à crise foi aumentar ainda mais o poder dos bancos centrais, quando o mais adequado seria deixar os bancos quebrados falirem"

O segundo ponto é que, ao mudar um rei por governante democrático, troca-se alguém que considerava o país sua propriedade por alguém que se vê como um zelador temporário do país. "Na democracia, a exploração do país, por assim dizer, se torna mais orientada para o curto prazo. Tenta-se tirar o máximo que se conseguir no período mais curto possível."

Para Hoppe, outra diferença relevante é que, na democracia, a população tende a ser mais tolerante com a expansão do poder do governo. "Na monarquia, como não serei o rei e você não será o rei, sempre que o governo quiser aumentar impostos, expropriar mais, haverá resistência. Na democracia, como em teoria qualquer um pode se tornar 'rei', há mais tolerância em relação a isso. Não gosto de pagar mais impostos, mas talvez amanhã eu esteja recebendo os recursos dos impostos."

Hoppe não propõe, contudo, a volta da monarquia absoluta. Segundo ele mesmo escreveu num artigo, isso seria hoje considerado risível. O que defende é uma sociedade de leis privadas. "Todo indivíduo e toda instituição estariam sujeitos exatamente às mesmas leis. Não haveria nenhuma instituição que pudesse cobrar impostos de outras pessoas ou que tivesse o monopólio da produção de qualquer coisa." Nesse mundo, haveria também livre competição na oferta de segurança, com forças policiais privadas, companhias de seguro privadas e agências privadas de arbitragem, que teriam que oferecer contratos, em contraste com a situação atual. Não temos nenhum contrato com o Estado."

Segundo Hoppe, no Estado democrático, quando há conflito entre um cidadão e um órgão estatal, não há arbitragem independente. Há outras pessoas, também empregadas do Estado, que decidem quem está certo. "Além disso, uma companhia privada que o proteja nunca poderia mudar o contrato unilateralmente, como fazem os Estados ao aumentar os impostos, por exemplo. Sempre que eles passam uma nova lei, as regras do jogo mudam. Coisas que eram legais ontem se tornam ilegais amanhã."

Como transição até esse modelo, Hoppe imagina um mundo com "dezenas de milhares de países, regiões e cantões, e centenas de milhares de cidades livres independentes, como as excêntricas Mônaco, San Marino, Liechtenstein, Hong Kong e Cingapura". Para ele, esse seria um mundo de prosperidade, crescimento e avanço cultural sem precedentes. como afirmou em entrevista ao "The Brussels Journal". A vantagem, segundo Hoppe, é que pequenos Estados são menos propensos a recorrer a políticas protecionistas, dando prioridade ao livre comércio.

Tudo isso não é utópico demais? "O que os socialistas queriam era verdadeiramente utópico, porque queriam mudar a natureza do homem. O que estou dizendo, o que os libertários dizem, não é utópico nesse sentido", responde Hoppe. Para ele, um fator que pode levar o mundo a caminhar na direção de maior descentralização é a inviabilidade do Estado de bem-estar social. Os sistemas previdenciários, por exemplo, não podem ser financiados no longo prazo, diz.

"Quando esse colapso ocorrer e o Estado de bem-estar social não puder mais ser financiado, poderá haver uma tendência em direção à descentralização e à secessão", afirma Hoppe. Os alemães podem se cansar de custear o socorro a países como Grécia e Portugal. Também pode ocorrer o mesmo com países mais pobres, como Estônia, Lituânia e Eslováquia, cujo padrão de vida é mais baixo do que na Grécia, mas que adotaram políticas econômicas mais sóbrias que os gregos. O mesmo movimento poderia ocorrer dentro dos países, acredita Hoppe, que vê como possível o colapso do Estado de bem-estar social em algo como 20 anos.
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Published on April 29, 2011 11:49

O fracasso de Keynes

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Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

O editorial do The Wall Street Journal de hoje faz a pergunta do ano. Em uma tradução livre: "Imagine se o presidente Obama tivesse apresentado seu estímulo original em fevereiro de 2009 com a promessa de que, 26 meses depois, o PIB estaria crescendo 1,8% ao ano e a taxa de desemprego estaria em 8,8%. Alguém pensa que ele teria passado?"

Pois é. Mas, à época, os keynesianos fizeram verdadeiro alarde de que, caso seus planos mirabolantes de estímulos não fossem adiante, os Estados Unidos não retomariam o crescimento e o desemprego poderia chegar a 10%. Dois anos e trilhões de dólares depois, eis que a economia apresenta crescimento pífio e desemprego próximo de 9%, sem falar da inflação crescente.

Claro que os keynesianos jamais vão admitir que podem estar errados. Eles preferem apelar para o argumento contrafactual, de que tudo estaria muito pior sem tais estímulos. Fica mais complicado refutar o famoso "e se", não é mesmo? Mas o fato é que muitos alertaram para a ineficácia destas medidas, e anteciparam exatamente este resultado, que agora espanta os keynesianos. Os mais fanáticos deles, como Paul Krugman, acham que o problema é a falta de estímulos. O Fed e Washington estariam tímidos demais. Talvez o modelo de Zimbábue seja o ideal deles. Para quem tem apenas um martelo, tudo se parece com um prego.

Os Estados Unidos correm o risco de experimentar novamente uma era de estagflação. O próprio editorial do WSJ apresenta uma alternativa, comparando as medidas atuais com aquelas da era Reagan: cortar impostos, reduzir custo e incerteza regulatória, deixar o livre mercado alocar o capital sem tanta influência política, e focar a política monetária na estabilidade de preços em vez de redução do desemprego.

Duro é acreditar que a dupla Bernanke e Obama seria capaz de ir por este caminho mais racional. A lamentável verdade é que, a despeito do fracasso das idéias de Keynes na prática, há uma incrível persistência de suas teorias no "mainstream". Como mostra o excelente vídeo "Luta do Século: Keynes vs Hayek Round Dois", Keynes acaba sofrendo nocaute no ringue das idéias, mas o árbitro, mesmo assim, resolve dar a vitória intelectual a ele. Os jornalistas e aquilo que parece um grupo de banqueiros e políticos correm para congratulá-lo, enquanto Hayek recebe o cumprimento de acadêmicos. Keynes fracassou. Mas levou no tapetão!

Com um cenário desses, o dólar que se cuide, pois o ouro já passou de US$ 1.500 a onça...
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Published on April 29, 2011 05:35

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Rodrigo Constantino
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