Rodrigo Constantino's Blog, page 309

July 22, 2013

Era melhor beijar a cruz...

Fonte: Folha
Rodrigo Constantino

Deu na Folha: Estudante prepara 'beijaço' no Rio contra visita do papa

O estudante de direito João Pedro Accioly Teixeira, 19, ficou três dias preso após uma manifestação que começou pacífica e terminou com a explosão de um coquetel molotov lançado em direção a policiais militares.

O enredo, que poderia ser de um dos mais de 60 detidos nas manifestações no último mês, no Rio, ocorreu há dois anos. Mas pode se repetir.

Preso em 2011 durante protesto contra a visita ao país do presidente norte-americano, Barack Obama, o estudante agora organiza manifestação contra o papa Francisco.

Ele participa hoje de um "beijaço" LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) para criticar a reprovação da igreja à homossexualidade. O ato terá início no Largo do Machado, zona sul do Rio, e os manifestantes devem se dirigir ao Palácio Guanabara, local da recepção oficial ao pontífice.

Para o estudante, também militante do PSOL, há semelhanças entre os atos contra Obama e contra o papa. "Os dois são ícones de instituições que causaram dano à humanidade", disse o estudante.

Um momento, por favor! Eu entendi bem? O garoto critica as entidades governo americano e Igreja Católica por terem causado dano à humanidade, e faz isso pertencendo a um partido SOCIALISTA? Confirma isso, produção?
Com todas as críticas que o governo americano merece, assim como a Igreja, estamos falando de instituições com um legado que pode ser considerado amplamente positivo. Muito ao contrário do socialismo, que só espalhou miséria, terror e escravidão pelo mundo. 
Se falarmos da trajetória recente, então, do século 20, temos Reagan e João Paulo II como ícones da boa luta, justamente contra o socialismo que o garoto defende, sem se dar conta, inclusive, que tal regime assassino sempre perseguiu os homossexuais. 
Entre o PSOL e o governo americano ou a Igreja Católica, não tenho a menor dúvida de qual partido eu escolho. Mas o rapaz quer "protestar" contra tais instituições, pois ele não aceita que a Igreja não considere a homossexualidade algo "lindo". São muito tolerantes os socialistas modernos: desejam enfiar goela abaixo dos outros as suas preferências. 
Ora, ninguém é obrigado a ser católico! Mas aprendam a conviver com aqueles que não consideram beijo de língua entre dois barbados algo "bonitinho". Que tal praticar um pouco mais da tolerância que tanto pregam? Querem converter fiéis na marra agora? Querem controlar até a repulsa natural que muitos sentem quando se deparam com esta imagem?
Por fim, o rapaz diz ter medo de ser preso novamente. Ele se explica: "Sinto medo porque não acredito que a atuação da polícia se dê dentro da lei". E eu que pensei que jogar pedras e coquetéis molotov na polícia é que fosse algo fora da lei. Sinceramente, eu acho que era melhor esse rapaz beijar a cruz...
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Published on July 22, 2013 09:56

Acordo com o Papa

Rodrigo Constantino

O Papa está chegando no Brasil. Não se fala de outra coisa. Confesso ter até simpatia por Francisco I, um Papa que parece realmente humilde e disposto a mexer em vespeiros no Vaticano. Mas até o Papa comete seus deslizes...

Ricardo Noblat, em sua coluna de hoje no GLOBO, traz algumas passagens do Papa sobre diferentes assuntos. Não quero ensinar o Papa a rezar a missa. Quem sou eu?! Mas sobre economia, sim, acho que tenho uma ou outra palavrinha para agregar. O Papa diz:


Neoliberalismo. "A crise socioeconômica e o consequente aumento da pobreza têm suas origens em políticas inspiradas por formas de neoliberalismo, que consideram o lucro e as leis do marcado como parâmetros absolutos acima da dignidade das pessoas ou dos povos. (...)Na predominante cultura neoliberal, o externo, o imediato, o visível, o rápido, o superficial: estes ocupam o primeiro lugar, e o real cede terreno às aparências".Globalização. “A globalização que uniformiza é essencialmente imperialista e instrumentalmente liberal, mas não é humana. Em última instância, é uma maneira de escravizar os povos. (...)A globalização, como uma imposição unidirecional e uniforme de valores, práticas e bens, anda de mãos dadas com a imitação e a subordinação cultural, intelectual e espiritual".
Não, nobre Papa, a crise não é resultado do neoliberalismo, tampouco há essa dicotomia entre lucro e pessoas. Essa passagem, aliás, ficou parecendo do Noam Chomsky. A ganância desmedida pode ser um problema sim, mas isso não é fruto do "neoliberalismo", e sim de seres humanos sob qualquer modelo econômico. No socialismo, tal ganância é transformada em tirania da pior espécie.
Tampouco a crise foi resultado desse modelo. A crise foi resultado do excesso de intervencionismo do estado, do Banco Central praticando taxas de juros artificialmente baixas, da Casa Branca pressionando as empresas de hipoteca a emprestarem para os mais pobres em busca de votos, enfim, as impressões digitais do governo estão em todas as cenas do crime!


Globalização como instrumento liberal "imperialista"? Vossa Santidade, que isso? Parece até um marxista da Teologia da Libertação! A globalização não escraviza povo algum, ela liberta! Ela leva prosperidade, ampliação de alternativas para consumo ou estilo de vida, empregos e riqueza. Assim não, Papa...
Vamos combinar uma coisa? Eu não me meto nas questões católicas, mas o senhor evita dar pitaco em economia. Combinado? Temos um acordo?
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Published on July 22, 2013 08:29

Crédito murchando

Rodrigo Constantino

Deu na Folha: Demanda de crédito empresarial tem pior 1º semestre desde 2009, diz Serasa

A demanda das empresas por crédito diminuiu 4,7% no primeiro semestre deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com a Serasa Experian. Foi o segundo pior desempenho para um primeiro semestre desde 2007, início da série histórica do indicador. Antes desse resultado, o pior tinha sido o de 2009, quando a queda chegou a 6,7%.

Tomando apenas o mês de junho houve uma pequena recuperação na demanda por crédito, com aumento de 0,6%, ante queda de 9% em maio.

No semestre, a queda se concentrou nas micro e pequenas empresas (menos 6,8%), já que entre as médias e grandes houve avanço, de 6,3% e de 18,6%, respectivamente.

Para a Serasa, a inflação elevada, as incertezas quanto à recuperação da atividade econômica doméstica e a alta dos juros afetaram a busca das empresas por recursos neste ano.

Na análise por setor, a demanda caiu mais entre as empresas comerciais (menos 7,4%), seguidas pela indústria (queda de 6,2%). Entre as empresas de serviços o recuo foi bem menor, de 1,0%.
Como sabemos, para o crescimento do crédito ser sustentável, ele precisa ter lastro na poupança, ou seja, empresta-se aquilo que antes foi poupado. Não é possível emprestar indefinidamente acima da taxa de poupança, pois a fatura terá de ser paga algum dia. Compensar isso com empréstimos externos tampouco é solução, pois os credores estrangeiros também vão querer seu dinheiro de volta eventualmente.
No Brasil, o governo tem sido o grande responsável pelo aumento do crédito. Os bancos privados, receosos com a inadimplência, pisaram no freio, enquanto o governo pisou fundo no acelerador. A Caixa expandiu sua carteira total de crédito em 45% em 2012. Os bancos públicos já respondem pela metade de todo o crédito no país. A decisão, com certeza, não é econômica, e sim política. 
Isso não pode acabar bem. Os próprios tomadores de empréstimo vão acusar do golpe e recuar, como pode estar acontecendo, ou então o governo vai criar - se já não criou - uma bolha creditícia, que quando estourar deixará um rastro de desgraça. Não podemos fugir das inexoráveis leis econômicas. O alerta de Mises é sempre atual e válido:
Não há meio de evitar o colapso final de um boom de expansão provocado pela expansão do crédito. A alternativa é apenas se a crise deve vir mais cedo, como o resultado de um abandono voluntário de mais expansão de crédito, ou mais tarde, como uma catástrofe definitiva e total do sistema monetário envolvido.
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Published on July 22, 2013 07:22

Pondé sobre a espionagem americana

Rodrigo Constantino

A coluna de Luiz Felipe Pondé hoje na Ilustrada da Folha é um choque de realismo para aqueles mais românticos, que sonham com um mundo sem espionagem, com total preservação de nossas privacidades. Pondé recusa a visão maniqueísta de preto ou branco, reconhecendo que, no mundo real, uma zona cinzenta de "sujeira" sempre existirá em nome de objetivos maiores. Ele diz:

Quando Obama disse que ninguém pode viver com segurança e privacidade com 0% de inconveniência, pensei: Obama virou gente grande. Mas não foi assim que o mundo reagiu. Quase todo mundo ficou horrorizado, e eu, fiquei horrorizado com mais um show de infantilidade do mundo em que vivemos. É um mundo "teenager" mesmo.

E por que o Brasil seria vigiado? Talvez porque suspeita-se que o Brasil esteja na rota entre o dinheiro do crime internacional e terroristas. E a América Latina está à beira de uma virada socialista, só não sabe quem não quer ver. Corrupção, autoritarismo, gestão inepta da economia e populismo sempre foram paixões secretas do socialismo.

A CPI do "Obamagate" é um truque nacionalista (tipo Guerra das Malvinas) para desviar a atenção da nossa crise econômica, apesar de muitos brincarem de revolução enquanto a economia vai para o saco nas mãos de um governo que aumentou os gastos públicos com embaixadas em repúblicas das bananas, criação de ministérios inúteis e "investimento" na inadimplência como forma de ganhar votos.

A diferença entre um "teenager" (ainda que com PhD, PostDoc e livre-docência) e alguém que sofre para ser um pouco menos "teenager" é saber que o mundo não é preto e branco e que se você é responsável por muitas coisas, você nem sempre vive com luvas de pelica.

Estou de acordo que o mundo não é dividido de forma simplista entre "bonzinhos" e "malvados". Também estou de acordo que nosso governo usa como pretexto para desviar o foco da crise atual o caso da espionagem. Também concordo que há razões para que os Estados Unidos queiram espionar a América Latina sim. Com isso tudo estou de acordo com Pondé. Mas aqui começo a discordar um pouco:
Não é bonito o que o Obama fez. Mas todo mundo que tem as responsabilidades que o Obama tem faz coisas assim quando ocupa o lugar do Obama.
Sim, é verdade que todos vão fazer mais ou menos o que foi feito. Mas, em primeiro lugar, talvez não na mesma magnitude, e há que se ter mecanismos de pesos e contrapesos para impedir um avanço desmedido do "olho grande" estatal em nossas vidas. Em segundo lugar, há uma escalada de poder concentrado no "Grande Irmão" que incomoda - ou deveria incomodar - qualquer liberal. 
Por fim, Obama sempre gozou de um salvo-conduto, enquanto Bush era o demônio em pessoa. Quando Obama mostra ser ainda mais invasivo que Bush em nossas liberdades, isso merece duras críticas sim, até para mostrar que a esquerda não é esse ícone de respeito às liberdades civis como propagado; muito pelo contrário!
Feita essa ressalva, volto ao ponto de concordância com Pondé. O filósofo esfrega na cara de muita gente a hipocrisia de quem condena uma coisa na teoria, e faz outra na prática:
Por muito menos, vigiamos a geladeira para ver quantos iogurtes tem, os armários da cozinha para ver quantos sacos de açúcar tem, e as sacolas das empregadas para ver se elas não estão levando algum pacotinho de carne.
[...]
Nada disso é bonito, apenas é assim. Para manter as coisas funcionando, pessoas tem que fazer coisas que não são muito bonitinhas. Eu sei que os inteligentinhos facilmente entram em surto, mas que vão brincar no parque, com segurança, de preferência.

As redes sociais, esse grande bacanal de narcisismo, são um prato cheio para sermos vigiados. Sites nos dão nosso perfil de consumo e nossa "linha da vida". Celulares nos avisam quando algo acontece em nossa conta e em nosso cartão de crédito, e isso tudo é muito "prático", não?

Muitos alertas têm sido feitos, mas é sempre bom lembrar: quando o produto é gratuito, é porque o "produto" é você. Muita gente posta intimidades nas redes sociais, transforma sua vida em um livro aberto, e depois reclama que isso é usado por outros? É preciso mais cuidado, pois sabemos que, no mundo moderno, as informações digitais não estão seguras. Teremos que conviver com essa realidade. Pondé conclui:
Este evento revela a óbvia violência à privacidade que as redes sociais significam. A ideia de que elas são uma ferramenta da democracia pode ser uma ideia também infantil.
Além de elas serem um elemento de alto risco com relação a linchamentos e violência espontânea, elas nos tornam vulneráveis de modo direto na medida em que estar "na rede" significa estar dependente de uma "teia" (de aranha) tecnológica de controle bastante vulnerável a tutela das empresas que nos oferecem a própria ferramenta. Por isso o nome é TI, tecnologias da informação.

Há muito se sabe que é mais fácil subornar um blogueiro do que um jornal gigantesco (o blogueiro é mais barato...). Agora fica mais claro ainda que a manipulação via redes sociais é muito maior do que via mídia "clássica".

Todo mundo sabe que não pode marcar encontros amorosos ilegítimos via e-mail ou mensagem de celular, como alguém fica escandalizado que a internet não seja segura? Parece papo de falsa virgem de 50 anos.

Em breve esqueceremos isso e continuaremos a postar fotos, falar bobagens, marcar revoluções no final de tarde e propor utopias que requentam a falida autogestão. E viajar para fazer compras em Miami com segurança e usando Visa.

Snowden, e seus 15 minutos, é mais um falso herói para falsos adultos.
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Published on July 22, 2013 06:19

O estado-babá de Caio Blinder

Fonte: VejaRodrigo Constantino

No Manhattan Conection deste domingo, falando sobre o prefeito Michael Bloomberg, Caio Blinder saiu em defesa do conceito de estado-babá, aquele que olha por nós, que cuida de cada cidadão como se uma criança indefesa ele fosse. Como exemplo, em tom jocoso, Caio disse que sem essa tutela o Diogo Mainardi ficaria o dia inteiro em frente a televisão, e Ricardo Amorim passaria o dia todo no celular.

Brincadeira (sem graça) à parte, o assunto é muito sério. Até porque vivemos na era do estado-babá, onde este se mete cada vez mais em nossas vidas, partindo exatamente dessa premissa absurda de que, sem sua tutela, seríamos um bando de irresponsáveis. Nos casos citados por Caio Blinder, fica evidente que os únicos prejudicados seriam os próprios envolvidos. O que Caio ou Bloomberg teriam com isso é algo que me escapa. 

Uma leitura imperdível sobre o tema é O Estado Babá, de David Harsanyi. O autor faz um levantamento minucioso das atrocidades legislativas nos Estados Unidos com base nessa premissa de que cabe ao governo cuidar dos mínimos detalhes de nossas vidas. Escrevi uma resenha para a revista do Instituto Liberal, e recomendo fortemente a leitura do livro na íntegra. Aliás, precisamos de um livro desses sobre a nossa realidade brasileira. Receio apenas que seria um calhamaço de fazer inveja a Tolstoi. 

No meu texto, escrevo:

Babás são presunçosos, e acreditam que sabem melhor que os outros como a vida deve ser vivida. Eles partem da premissa arrogante de que conhecem as escolhas “certas”. São moralistas autoritários, que desejam impor seu estilo de vida aos demais. Viver é assumir riscos, mas os covardes babás querem uma vida totalmente segura (e sem graça), e pior, querem obrigar os outros a desejar o mesmo.
Confesso que me veio à mente agora a imagem de Caio Blinder, como ícone dessa vida "segura", protegida de riscos e aventuras. E sim, também chata, insossa, sem graça. Mas como liberal, respeito o direito de cada um buscar seu próprio estilo. Acho absolutamente legítimo Caio Blinder desejar uma babá. Só não entendo porque ele simplesmente não contrata uma para ele, pagando de seu próprio bolso pela tutela que tanto anseia, e deixa seus colegas em paz, um diante da TV, e o outro do celular. Todos seriam mais felizes assim, não? 
Se fosse para todos serem mais ou menos iguais, clones de Caio Blinder, não só o mundo seria um lugar mais entediante, como tenho certeza de que o programa liderado por Lucas Mendes não teria audiência alguma...
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Published on July 22, 2013 05:05

André Esteves na Veja, e Mantega cada vez mais só

Rodrigo Constantino

O editorial da revista VEJA atira sem dó nem piedade: "A conclusão é que o Brasil está tendo um triênio perdido, com as piores taxas de crescimento do PIB desde o governo Color. Má notícia para a presidente Dilma. Péssima para a candidata à reeleição em 2014. Uma tragédia para o Brasil e os brasileiros, pois, como se sabe, o estado sobrevive, mesmo que dramaticamente modificado, sem uma economia funcional, mas as economias de mercado não sobrevivem muito tempo sem que os governos propiciem e mantenham condições favoráveis à criação de riqueza".

Vira-se a página, e lá está a entrevista nas páginas amarelas com o banqueiro André Esteves, cujo alerta vem estampado como título: "Estamos perdendo o jogo". O BTG Pactual de Esteves tem feito pesadas apostas no sucesso da nossa economia, e a situação começa a colocar em xeque o retorno desses investimentos. A proximidade entre o banco e o governo, que são inclusive sócios na Caixa (uma operação muito suspeita), estreitou-se nos últimos anos. 

Mas, pelo visto, o relacionamento está azedando. O sócio de Esteves, Pérsio Arida, deu entrevista recentemente no Estadão pregando um choque de liberalismo. E agora foi a vez do próprio Esteves bater em tecla parecida. Eis alguns trechos da entrevista:


A decepção com o BrasilA decepção dos investidores não é só com o Eike. É também com a Petrobras, que, mesmo tendo feito uma capitalização recorde, vai mal.Sobre o BNDESNão acho certo o BNDES dar crédito barato a empresas que têm como conseguir dinheiro no mercado. O banco é um excelente instrumento para o Brasil, mas está se tornando contraproducente. Não é bom que o país fique tão dependente dele. Trata-se de um claro sinal de que algo está errado. [...] Se todo mundo ficar pendurado no BNDES, o país perde a competitividade.O PT e o mercadoQuando o PT assumiu, em 2003, o momento era de enormes desafios econômicos, e havia uma descrença na capacidade dos petistas em lidar com essa complexidade. O ceticismo fez com que Lula fosse muito disciplinado na condução da economia no primeiro mandato. Graças a isso, consolidamos os pilares da estabilidade. Mas o sucesso trouxe um efeito colateral negativo: o gradual desprezo às críticas do mercado, principalmente a partir de 2008, com a derrocada dos sistemas financeiros na Europa e nos Estados Unidos. Sinais importantes - como o fato de a nossa bolsa estar indo pior do que todas as outras e a perda de credibilidade da política fiscal - foram ignorados. Essa soberba econômica foi um erro. O mercado é um termômetro tão valioso quanto a voz das ruas.A credibilidade do governoO país tem feito muita confusão nessa seara. Outro dia mesmo o governo reafirmou o compromisso com o superávit de 2,3% do PIB e deixou todo mundo satisfeito. Dias depois, ficamos sabendo que o Tesouro estava recebendo dividendos do BNDES para cumprir essa meta. Ora, esse tipo de coisa tira toda a credibilidade. Assim fica difícil defender o país perante os investidores.Os investidores e a confiança no BrasilPaira uma grande incerteza sobre o rumo que o país está tomando. Nos últimos tempos, o governo lançou pacotes para ferrovias, rodovias e aeroportos que até iam na direção certa, mas resolveu definir ele mesmo a taxa de retorno do investimento – o que, além de despropositado, é tarefa absolutamente inglória. A beleza desse tipo de concorrência está justamente em cada um conseguir maneiras de obter a melhor taxa de retorno do negócio oferecendo um bom preço ao consumidor. Ao tentar tutelar essa variável, o governo afetou diretamente o apetite dos investidores. Depois disso, muita gente pôs o Brasil sob observação. Temos um cliente, um grande fundo de pensão canadense acostumado a aplicar bilhões aqui, que suspendeu temporariamente os investimentos em infraestrutura até ter mais clareza sobre o futuro. É esse o jogo – o das expectativas – que o governo está perdendo. Precisamos de racionalidade e transparência para fazer o dinheiro voltar a fluir. O que me choca é que é tudo muito fácil de resolver. As soluções estão dadas.Se é tão fácil assim, por que ninguém faz?Em alguns segmentos do governo, falta capacidade de gestão e, em outros, os diagnósticos, estão errados. Tem gente que ainda acha que está abafando.

Como podemos ver, até um "parceiro" próximo, amigo de Mantega, sócio na Caixa, não está mais suportando ficar em silêncio diante de tanta incompetência e esse viés ideológico absurdo. A equipe econômica do governo simplesmente não entende nada de economia! E isso precisa ser dito, e repetido, pela maior quantidade de gente possível. Quem sabe assim cai a ficha da presidente Dilma... 

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Published on July 22, 2013 03:55

July 21, 2013

Hierarquia estética

Rodrigo Constantino

Postei no Facebook no sábado pela manhã um trecho da ária da Rainha da Noite, de A Flauta Mágica, de Mozart, com o seguinte comentário: Mas há quem prefira funk... questão de gosto, de preferência subjetiva? Sim, sem dúvida. Assim como é questão de gosto quem prefere comer esterco em vez de caviar...

Alguns acharam que o comentário foi elitista, esnobe. Não! É apenas a tentativa de resgatar o fundamental direito de julgar, de respeitar certa hierarquia estética nesse mundo relativista, onde tudo tem que ser "igual" pois as diferenças ofendem. Quando "tudo" é arte, nada é arte!

Um dos que têm combatido esse relativismo estético - que, não se enganem, tem forte ligação com o ético - é Ferreira Gullar. Ele volta e meia utiliza sua coluna aos domingos na Ilustrada da Folha para bater nessa tecla, com razão. Voltou ao tema hoje, com um importante artigo defendendo que a beleza ainda põe mesa. Diz o poeta na abertura:

Arte sempre teve a ver com beleza, mesmo quando, aparentemente, mostra o feio, o horrível, o abjeto.

Não é fácil explicar o que acabo de afirmar. Para dizer a verdade, não sei ainda como explicá-lo, mas sei que o que disse é certo: a arte sempre teve (e tem) a ver com a beleza, porque, do contrário, não nos daria prazer. E não venham agora me dizer que arte não é para dar prazer. E seria para que, então? Para nos fazer sofrer é que não é, porque sofrimento já há demais na vida e ninguém gosta de sofrer, a não ser os masoquistas, que são doentes.

Inventei uma frase que o pessoal aí adotou e repete: "A arte existe porque a vida não basta". E é verdade. Não pretendo com isso dizer que a vida é só chatice e sofrimento. Não, a vida tem muita coisa boa e bela, mas, por mais que tenha, não nos basta. É que nós, seres humanos, sempre queremos mais. Mais alegria, mais felicidade, mais beleza.


O ser humano deseja o belo, e a beleza é fundamental. Infelizmente, vivemos em uma época de revolta contra tudo que é melhor, mais belo, mais refinado. É como se os medíocres tivessem descoberto seu poder numérico e desejassem destruir os melhores. O relativismo moral, ético e estético é exatamente isso. 

Suspender o julgamento porque todos são "iguais" em suas diferenças, e ninguém é melhor do que ninguém, significa a vitória do pior sobre o melhor, do feio sobre o belo. Pergunto: a quem isso interessa? Quando Mozart e Beethoven são jogados no mesmo saco que Valesca Popozuda e Tati Quebra-Barraco, quem sai perdendo e quem sai ganhando? Quando um linguajar chulo é equiparado a um texto clássico, quem ganha? Quando "nós pega os peixe" e Shakespeare são "apenas diferentes", quem perde? Gullar conclui:

O acaso é, sem dúvida, um fator presente na realização de qualquer obra de arte mas, a partir da Renascença, quando os pintores buscaram a execução cada vez mais perfeita, esse fator foi sendo quase anulado. Na época moderna, chegou-se ao extremo oposto mas, num caso como noutro, o que se buscava era a beleza.

Isso é diferente de certo tipo de manifestação artística contemporânea, em que não há qualquer preocupação com o apuro da linguagem utilizada. Em alguns casos, pelo contrário, o autor parece buscar o primarismo e o mau gosto, como a nos dizer que arte e beleza são coisas velhas, ultrapassadas.

Pelo bem da humanidade, espero que não sejam coisas velhas, ultrapassadas. A guerra é cultural, e os defensores da hierarquia estética estão perdendo batalha atrás de batalha. Que não seja tarde demais para virar o jogo. 
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Published on July 21, 2013 07:56

July 20, 2013

Favela pacificada... pero no mucho!

Rodrigo Constantino

Deu no GLOBO: Expulso por traficantes, AfroReggae encerra suas atividades no Complexo do Alemão

A sede do AfroReggae e a pousada da ONG, na Rua Joaquim de Queiroz, na Grota, no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio, amanheceram fechadas na manhã deste sábado. Normalmente, aos sábados, a sede funciona até as 16h. A ausência de funcionários e integrantes do projeto no imóvel confirmam a informação publicada hoje em reportagem da revista “Veja” de que o AfroReggae teria sido expulso pelo tráfico.

Segundo a publicação, os bandidos chegaram a fazer ameaças à ONG, dizendo que “a desobediência seria punida com a explosão da sede e uma chacina”. Em seu twitter, o coordenador do AfroReggae, José Júnior, disse que daria neste sábado“ uma péssima notícia: “Tenho uma pessima noticia pra dar + q muito me orgulha de não omitir. Ja comunicamos as autoridades do nosso estado e país. Post amanha”. No início da tarde, ele postou o link da reportagem e acrescentou a frase “Não da pra deixar assassinarem inocentes”.

Apesar da aparente tranquilidade e do policiamento na comunidade, moradores e comerciantes evitam falar sobre o assunto.

— Não estou sabendo de nada. Soube pela televisão do incêndio —disse uma moradora da Rua Joaquim de Queiroz, que não quis se identificar.

Como fica claro, o sonho da pacificação das favelas cariocas ainda não virou realidade. As UPPs devem ser vistas, no máximo, como um primeiro passo, um começo tímido frente ao real desafio. Não podemos imaginar, de forma ingênua, que se derrota tantos bandidos dessa forma simples, sem confronto, sem desarmá-los, sem prisões. Isso é uma doce ilusão!
Como definiu Reinaldo Azevedo, se não me engano, as UPPs são mais operações "espalha ladrão", e o que precisamos são operações "prende ladrão". Bandido solto é ameaça constante. Ao que tudo indica, a comemoração com as UPPs foram bastante precipitadas. O tráfico ainda manda na maioria das favelas. A guerra está longe de ter terminado. E ela não será vencida com flores ou discursos românticos de esquerda.
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Published on July 20, 2013 14:25

Um teatro chamado Mercosul

Rodrigo Constantino

O editorial do Estadão de hoje já começa colocando o dedo na ferida:

Caudatários de uma ideologia em que a farsa substitui a história, os dirigentes de Brasil, Argentina, Venezuela e Uruguai acreditaram que fosse possível, na base do caradurismo, adulterar a narrativa dos acontecimentos para legitimar a entrada dos venezuelanos no Mercosul. Tal como na Rússia stalinista, em que personagens inconvenientes para a história oficial eram apagados das fotos, o Paraguai, que se opunha ao ingresso da Venezuela, foi "apagado" do bloco sul-americano, como se suas objeções nunca tivessem existido. Agora que o objetivo foi plenamente atingido - a Venezuela não apenas é membro do grupo, como o preside -, o Paraguai foi convidado a reaparecer na foto do Mercosul, para completar o roteiro burlesco costurado pela vanguarda bolivariana. Mas os paraguaios, teimosos, se recusam a participar dessa chanchada.

Infelizmente, o Mercosul se transformou em uma piada de mau gosto, um grupelho ideológico que serve para abrigar as pretensões bolivarianas de caudilhos latino-americanos, nada mais. Enquanto o Brasil perde seu precioso tempo nessa emboscada, outros países fecham acordos de livre-comércio bilaterais vantajosos. É o caso da Aliança do Pacífico, que vai despontando na região como ilha de pragmatismo em meio a radicais de esquerda. Diz o editorial:

Trocando em miúdos, Brasil e Argentina, em nome da defesa da democracia, patrocinaram um atentado contra as instituições do Mercosul para favorecer um regime cujo autoritarismo é a principal marca. O tratado do bloco exige o voto unânime de seus fundadores para aceitar novos sócios. Como o Congresso paraguaio dava todas as indicações de que não aprovaria o ingresso da Venezuela chavista, Dilma e Cristina aproveitaram a oportunidade da crise política paraguaia para, num passe de mágica, eliminar o voto do país. Enquanto os paraguaios estavam suspensos, Brasil, Argentina e Uruguai abriram as portas do Mercosul para os venezuelanos, numa decisão cuja legalidade é obviamente contestável.
Esse teatro farsesco serviu apenas para ridicularizar de vez o bloco, assim como os países envolvidos. É realmente lamentável que o Brasil, sob o governo petista, tenha não só participado e endossado, como liderado essa comédia. O Mercosul, hoje, não passa de uma ópera bufa, de uma novela mexicana de quinta categoria, fingindo que há respeito às instituições democráticas e ao próprio acordo de livre-comércio entre seus membros. 
Mas, se a novela parece mexicana, o México quer distância desse tipo de furada. Prefere ficar próximo dos Estados Unidos, o "Grande Satã" segundo os bolivianos que dão as cartas no Mercosul. Com atores tão medíocres assim, o teatro só pode acabar em retumbante fracasso de bilheteria. Quem paga a conta do mico, naturalmente, somos todos nós, brasileiros, que ficamos à margem do comércio mais amplo internacional, amarrados na camisa-de-força ideológica que é o Mercosul. 
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Published on July 20, 2013 10:09

Carta ao jovem brasileiro - II


Doutor José Nazar *
Que grito é esse “das ruas”? O que está por traz dele, o que desejam esses “jovens”? Os especialistas não arriscam a dar uma resposta. Eles acreditam que o tempo poderá explicar o motivo e a razão desse movimento que, ao meu ver, engatinha. Sabe-se que o país encontra-se mergulhado numa crise de valores morais, políticos e éticos. Há uma insatisfação e uma desconfiança generalizadas. Elas se devem à uma perda da legitimidade das instituições governantes. Toda crise é sinal de turbulência mas, também, de abertura. Pode levar ao pior mas, quando bem conduzida e isso, tanto no plano pessoal quanto social, pode levar a melhoras estruturais. Isso só ocorre quando os anseios de mudanças diagnosticados, acolhidos, escutados e, quando possível, bem tratados. Há desejo de mudanças. O diálogo é a verdadeira arte de bem dizer o ato político. Ele cria as brechas necessárias para que se insemine o assentimento à lei. Mesmo que a mídia repita incessantemente que os jovens brasileiros conseguiram arrastar consigo milhares de famílias da classe média às ruas, unindo suas vozes numa reivindicação de melhores serviços públicos, tais como: educação, saúde, segurança  e transportes, a pergunta insiste: que interpretação dar a esses movimentos?  Mas há um fator que chama a atenção. Mesmo no auge do clamor das ruas, alguns homens públicos exacerbam uma prática desavergonhada da corrupção. Há uma compulsão à transgressão que tornou-se uma norma: “eu faço porque todos fazem”! E na medida em que, historicamente, há a certeza da impunidade, esses políticos tomam a coisa pública como um bem próprio. Trata-se de uma relação incestuosa, sem culpa, sem lei, sem mediação paterna, uma atualização de questões patológicas da vida privada, obscenamente atuada no público. Parece que esse mal  está no sangue, e tornou-se difícil de ser tratado e extirpado. Os brasileiros não suportam mais fingir que a corrupção não existe. Fatos evidenciam que essa praga, a corrupção, tornou-se uma doença epidêmica, algo de difícil tratamento. É como um câncer incurável, com metástases, invadindo os tecidos das instituições nacionais, umas mais que outras. O que está na base desse distúrbio social, desse fenômeno que tem conseguido unir o povo, que se constrói a partir de uma insatisfação generalizada? O que esses jovens desejam em suas fortes movimentações? É evidente que essas vozes que tomaram as ruas não se dirigem apenas ao poder público. Os gritos são dirigidos às autoridades mas, isso vai mais longe e as exigências convocam cada um dos cidadãos, pais, professores, educadores, a um questionamento. Por anda a lei, os pais, as autenticidades dos atos? Onde está a legitimidade do ato de governar? Em nome do quê está se governando? Os jovens são sensíveis à questão da legitimidade. Eles só aceitam limites quando estes partem de um lugar reconhecido por seu compromisso com a verdade de uma dignidade daquele que institui esses limites. Isso quer dizer que o discurso inconsciente, vigorando nas entrelinhas do discurso enunciado, deixa transparecer o verdadeiro e o falso. Todo jovem se apoia na verdade que recebeu dos adultos para adentrar, com dignidade, ao mundo adulto. O governo está infantilizando o povo brasileiro, arrancando sua capacidade de fazer escolhas autênticas, porque ele julga saber “o melhor para o povo”. Os jovens brasileiros estão numa anorexia a um poder legítimo que abra caminhos dignos de seus desejos. Os que ocupam o poder público esqueceram do vigor de suas próprias aspirações de juventude. O grito de cada jovem encontra eco na voz que denuncia o desconforto com os atos desencontrados das autoridades brasileiras, que dizem uma coisa e fazem outra! A função que está sendo profundamente interrogada nessas manifestações é a autoridade paterna. É desta que advém o assentimento às leis que regem as relações humanas, de onde emergem as condições de desejo. A educação é base que construiria valores mais duradouros. É a estrada sólida para alguém trilhar seus sonhos e, no entanto, encontra-se obstruída pela indiferença daqueles que dela deveriam zelar, permitindo a construção de um futuro promissor. O inconsciente da juventude capta a não legitimidade daqueles que ocupam os lugares máximos da nação. Isso quer dizer que não lhes passa despercebido o fato de que um governo só alcança o reconhecimento verdadeiro do povo quando seu projeto visa ao bem desse povo, e não ao poder pelo poder. Entenda-se, aqui, “o bem” como serviços básicos: educação, saúde, transporte, emprego, segurança de qualidade.     Jovem manifeste-se, mas* Psiquiatra e psicanalista - Escola Lacaninana de Psicanálise/RJ e ES
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Published on July 20, 2013 09:21

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Rodrigo Constantino
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