Rodrigo Constantino's Blog, page 308
July 23, 2013
Enxugar ministérios
Rodrigo Constantino
Deu no Valor: Gerdau quer 'superpasta' para área de transportes
O empresário Jorge Gerdau, um dos principais conselheiros da presidente Dilma Rousseff na iniciativa privada, preparou um rascunho de diminuição do número de ministérios que atinge em cheio a área de infraestrutura logística. A ideia de Gerdau é enxugar radicalmente as pastas que lidam com essa área e juntar suas funções em um "superministério dos transportes". Na sexta-feira passada, ele se reuniu com a presidente, no Palácio do Planalto.
A superpasta imaginada pelo empresário agruparia as responsabilidades hoje dispersas entre o próprio Ministério dos Transportes, a Secretaria de Aviação Civil e a Secretaria de Portos. Também poderia gerenciar questões relativas à mobilidade urbana, atualmente a cargo do Ministério das Cidades. Três agências reguladoras ficariam vinculadas ao superministério: a ANTT (transportes terrestres), a Antaq (transportes aquaviários) e a Anac (aviação).
Interlocutores de Gerdau não souberam informar se, na reunião com Dilma, ele chegou a apresentar esse esboço de reforma ministerial. O empresário criticou recentemente o inchaço da Esplanada dos Ministérios e defendeu uma estrutura administrativa mais enxuta, chegando a dizer que "tudo tem o seu limite", em referência à proliferação de pastas para atender às demandas de partidos da base aliada.
[...]
No esboço de Gerdau, cada uma dessas áreas - aviação civil, portos e mobilidade urbana - poderia ganhar secretarias específicas, com estruturas fortes, mas sempre dentro do mesmo "Superministério dos Transportes".
O empresário Jorge Gerdau, que há anos colabora com movimentos liberais no campo das ideias, tem tentado levar a racionalidade e o bom senso típicos da iniciativa privada para a esfera pública. A luta é louvável, sem dúvida. Infelizmente, como o próprio empresário deve ter notado, os obstáculos são gigantescos. O mecanismo de incentivos não é adequado, os interesses são conflitantes, e faltam a agilidade e a meritocracia tradicionais das empresas particulares.
Gerdau causou forte reação quando disse que era "burrice" ter tantos ministérios. De fato, chegamos a praticamente 40 durante o governo Dilma. Isso é absurdo! Nenhum CEO de uma empresa conseguiria gerir com sucesso tantos "ministros"; quanto mais uma política sem experiência na atividade empresarial. É urgente reduzir essas camadas de poder e agrupar funções em um mesmo ministério, para simplificar a estrutura do governo.
Por isso a iniciativa de Gerdau merece aplausos. Se ele vai conseguir abrir as janelas ideológicas do Planalto para entrar um pouco de ar fresco de racionalidade, isso já é outra história...
Deu no Valor: Gerdau quer 'superpasta' para área de transportes
O empresário Jorge Gerdau, um dos principais conselheiros da presidente Dilma Rousseff na iniciativa privada, preparou um rascunho de diminuição do número de ministérios que atinge em cheio a área de infraestrutura logística. A ideia de Gerdau é enxugar radicalmente as pastas que lidam com essa área e juntar suas funções em um "superministério dos transportes". Na sexta-feira passada, ele se reuniu com a presidente, no Palácio do Planalto.
A superpasta imaginada pelo empresário agruparia as responsabilidades hoje dispersas entre o próprio Ministério dos Transportes, a Secretaria de Aviação Civil e a Secretaria de Portos. Também poderia gerenciar questões relativas à mobilidade urbana, atualmente a cargo do Ministério das Cidades. Três agências reguladoras ficariam vinculadas ao superministério: a ANTT (transportes terrestres), a Antaq (transportes aquaviários) e a Anac (aviação).
Interlocutores de Gerdau não souberam informar se, na reunião com Dilma, ele chegou a apresentar esse esboço de reforma ministerial. O empresário criticou recentemente o inchaço da Esplanada dos Ministérios e defendeu uma estrutura administrativa mais enxuta, chegando a dizer que "tudo tem o seu limite", em referência à proliferação de pastas para atender às demandas de partidos da base aliada.
[...]
No esboço de Gerdau, cada uma dessas áreas - aviação civil, portos e mobilidade urbana - poderia ganhar secretarias específicas, com estruturas fortes, mas sempre dentro do mesmo "Superministério dos Transportes".
O empresário Jorge Gerdau, que há anos colabora com movimentos liberais no campo das ideias, tem tentado levar a racionalidade e o bom senso típicos da iniciativa privada para a esfera pública. A luta é louvável, sem dúvida. Infelizmente, como o próprio empresário deve ter notado, os obstáculos são gigantescos. O mecanismo de incentivos não é adequado, os interesses são conflitantes, e faltam a agilidade e a meritocracia tradicionais das empresas particulares.
Gerdau causou forte reação quando disse que era "burrice" ter tantos ministérios. De fato, chegamos a praticamente 40 durante o governo Dilma. Isso é absurdo! Nenhum CEO de uma empresa conseguiria gerir com sucesso tantos "ministros"; quanto mais uma política sem experiência na atividade empresarial. É urgente reduzir essas camadas de poder e agrupar funções em um mesmo ministério, para simplificar a estrutura do governo.
Por isso a iniciativa de Gerdau merece aplausos. Se ele vai conseguir abrir as janelas ideológicas do Planalto para entrar um pouco de ar fresco de racionalidade, isso já é outra história...
Published on July 23, 2013 11:37
Hezbollah na lista negra

A União Europeia decidiu colocar a ala militar do Hezbollah na "lista negra". Diz a reportagem:
A pressão de Reino Unido, Holanda, França e Alemanha funcionou - pelo menos em parte. Depois de meses de deliberações e divergências, os 28 ministros da União Europeia concordaram em colocar na lista negra o grupo xiita libanês Hezbollah. Mas a determinação foi feita com uma ressalva: apenas o "braço militar" do Hezbollah passará a figurar na lista de grupos terroristas banidos do território europeu. Na prática, a distinção entre uma "ala militar" e uma "ala política" vai permitir que autoridades e diplomatas europeus mantenham contatos com líderes políticos do grupo que hoje domina a política libanesa ao mesmo tempo em que é a maior força militar do país e a mais bem treinada milícia armada do mundo.
Confesso não ver tanto motivo assim para celebração. Primeiro, pois já foi tarde tal decisão; segundo, porque os países europeus insistem em uma separação que não existe de fato. Escutemos quem mais conhece os inimigos em questão:
Em Jerusalém, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu criticou a diferenciação entre as alas do grupo xiita, arqui-inimigo de Israel, com quem travou uma batalha de 34 dias em 2006.
- Para Israel, o Hezbollah é uma organização unitária e sem diferença entre alas. Eu espero que a decisão provoque medidas concretas contra a organização - queixou-se o premier.
Eu fecho com Netanyahu. O Hezbollah, militar ou político, quer a mesma coisa, uma única coisa: impor a sharia ao resto do mundo. A "democracia" é apenas mais um meio que encontraram para esse objetivo totalitário e autoritário. Uma "farsa" que serve a seus propósitos.
Escrevi nesta segunda-feira uma resenha do ótimo livro de Andrew McCarthy sobre o assunto. Recomendo a leitura de ambos. É preciso acordar para a realidade e para a ameaça islâmica o quanto antes.
Published on July 23, 2013 09:57
Brasil: um país para ricos
Rodrigo Constantino
Uma matéria do NYT tem circulado bastante nas redes sociais hoje, mostrando como as coisas são caras no Brasil. Nada que não soubéssemos, mas é sempre bom ver os gringos expondo essa nossa triste realidade; aumenta a pressão por mudanças.
Quer comprar um Galaxy da Samsung? Terá que pagar o dobro do valor pago pelo americano, lembrando que a renda média lá é quatro vezes maior. Ajustando, portanto, para esse fato, podemos concluir que um brasileiro médio paga oito vezes mais para obter o device. Luxo? Na era da informação, estamos falando de produtividade!
As comparações seguem humilhando os brasileiros. Tok & Stok versus Ikea, por exemplo. Eu sou do tempo em que a Tok & Stok era loja barata. Hoje, quando preciso de algo para a casa, sou forçado a lembrar de como tudo é absurdamente caro por aqui.
A reportagem mostra que até uma simples pizza de queijo pode custar US$ 30. Com esse valor, é possível comer em um restaurante bem razoável nos States. Como somos ricos, não? A inflação alta tem piorado o que já era ruim. Com mais informação disponível na era da internet, e com mais gente tendo acesso a ela, essa discrepância ridícula produz mais revolta em mais gente.
O Brasil é um país bastante fechado ainda, com impostos escandinavos, e péssima infraestrutura. Isso tudo explica tanta diferença nos preços. Somos obrigados a pagar valores astronômicos por produtos que os estrangeiros compram por uma parcela do preço. Lembrando, sempre, que eles são bem mais ricos do que nós...
Até quando vamos aguentar isso? Até quando as autoridades e o governo vão explorar o povo brasileiro dessa forma abjeta? Precisamos de um choque de liberalismo no Brasil. Chega de bancar o otário dessa forma.
Uma matéria do NYT tem circulado bastante nas redes sociais hoje, mostrando como as coisas são caras no Brasil. Nada que não soubéssemos, mas é sempre bom ver os gringos expondo essa nossa triste realidade; aumenta a pressão por mudanças.
Quer comprar um Galaxy da Samsung? Terá que pagar o dobro do valor pago pelo americano, lembrando que a renda média lá é quatro vezes maior. Ajustando, portanto, para esse fato, podemos concluir que um brasileiro médio paga oito vezes mais para obter o device. Luxo? Na era da informação, estamos falando de produtividade!
As comparações seguem humilhando os brasileiros. Tok & Stok versus Ikea, por exemplo. Eu sou do tempo em que a Tok & Stok era loja barata. Hoje, quando preciso de algo para a casa, sou forçado a lembrar de como tudo é absurdamente caro por aqui.
A reportagem mostra que até uma simples pizza de queijo pode custar US$ 30. Com esse valor, é possível comer em um restaurante bem razoável nos States. Como somos ricos, não? A inflação alta tem piorado o que já era ruim. Com mais informação disponível na era da internet, e com mais gente tendo acesso a ela, essa discrepância ridícula produz mais revolta em mais gente.
O Brasil é um país bastante fechado ainda, com impostos escandinavos, e péssima infraestrutura. Isso tudo explica tanta diferença nos preços. Somos obrigados a pagar valores astronômicos por produtos que os estrangeiros compram por uma parcela do preço. Lembrando, sempre, que eles são bem mais ricos do que nós...
Até quando vamos aguentar isso? Até quando as autoridades e o governo vão explorar o povo brasileiro dessa forma abjeta? Precisamos de um choque de liberalismo no Brasil. Chega de bancar o otário dessa forma.
Published on July 23, 2013 08:44
Para Safatle, EUA = Alemanha Oriental
Rodrigo Constantino
Vladimir Safatle não costuma perder a oportunidade de atacar os Estados Unidos. Hoje, em sua coluna da Folha, não foi diferente. Ele até usou no título o nome do livro de Étienne de La Boétie: Servidão Voluntária. Descobrimos, com o professor, que os Estados Unidos não são mais uma democracia, e que se assemelham muito ao regime comunista da Alemanha Oriental. Vejamos:
"Eu não tenho nada para esconder. Por isso, pouco me importa que os EUA vejam meus e-mails, desde que isso nos permita vivermos em um mundo mais seguro."
Eu encontrei tal afirmação em um "post" no qual seu autor comentava uma notícia sobre o caso Edward Snowden. A primeira coisa que me veio à mente foi a lembrança de ter ouvido essa frase antes, mas em um contexto relativamente diferente.
Décadas atrás, um conhecido que estudava na antiga Alemanha Oriental, dissera: "Pouco me importa saber que a Stasi [polícia secreta da antiga Alemanha Oriental] me espione. Esse é o preço para defender o socialismo".
[...]
Hoje, quase 25 anos depois [da queda do Muro de Berlim], impressiona perceber quão parecidos são, em sua cegueira ideológica, essas duas pessoas que julgam defender mundos diferentes. É engraçado perceber como, no fundo, eles querem a mesma coisa: sacrificar, de uma vez por todas, a liberdade no altar de seus medos e obsessões.
[...]
Em um mundo onde até mesmo um louco assassinando alguém a machadinha transformou-se em um atentado terrorista, não é difícil imaginar como viveremos em um Estado de exceção permanente. O que me intriga é por que ainda chamar de "democracia" a uma situação assim.
E eis que chegamos à conclusão, segundo Safatle, que os Estados Unidos não são uma democracia, vivem sob um regime totalitário tal como a Alemanha comunista, onde não há mais privacidade alguma ou qualquer resquício de liberdade individual.
Com todas as críticas que o governo americano merece, especialmente sob a gestão do esquerdista Obama (não custa lembrar), tal afirmativa é um disparate, explicado somente por uma agenda de quem deseja desqualificar a nação norte-americana custe o que custar.
Vladimir Safatle não costuma perder a oportunidade de atacar os Estados Unidos. Hoje, em sua coluna da Folha, não foi diferente. Ele até usou no título o nome do livro de Étienne de La Boétie: Servidão Voluntária. Descobrimos, com o professor, que os Estados Unidos não são mais uma democracia, e que se assemelham muito ao regime comunista da Alemanha Oriental. Vejamos:
"Eu não tenho nada para esconder. Por isso, pouco me importa que os EUA vejam meus e-mails, desde que isso nos permita vivermos em um mundo mais seguro."
Eu encontrei tal afirmação em um "post" no qual seu autor comentava uma notícia sobre o caso Edward Snowden. A primeira coisa que me veio à mente foi a lembrança de ter ouvido essa frase antes, mas em um contexto relativamente diferente.
Décadas atrás, um conhecido que estudava na antiga Alemanha Oriental, dissera: "Pouco me importa saber que a Stasi [polícia secreta da antiga Alemanha Oriental] me espione. Esse é o preço para defender o socialismo".
[...]
Hoje, quase 25 anos depois [da queda do Muro de Berlim], impressiona perceber quão parecidos são, em sua cegueira ideológica, essas duas pessoas que julgam defender mundos diferentes. É engraçado perceber como, no fundo, eles querem a mesma coisa: sacrificar, de uma vez por todas, a liberdade no altar de seus medos e obsessões.
[...]
Em um mundo onde até mesmo um louco assassinando alguém a machadinha transformou-se em um atentado terrorista, não é difícil imaginar como viveremos em um Estado de exceção permanente. O que me intriga é por que ainda chamar de "democracia" a uma situação assim.
E eis que chegamos à conclusão, segundo Safatle, que os Estados Unidos não são uma democracia, vivem sob um regime totalitário tal como a Alemanha comunista, onde não há mais privacidade alguma ou qualquer resquício de liberdade individual.
Com todas as críticas que o governo americano merece, especialmente sob a gestão do esquerdista Obama (não custa lembrar), tal afirmativa é um disparate, explicado somente por uma agenda de quem deseja desqualificar a nação norte-americana custe o que custar.
Published on July 23, 2013 07:44
Jabor segue avançando
Rodrigo Constantino
Arnaldo Jabor tem tido a coragem de mudar, de rejeitar seu passado comunista, de reconhecer as tolices de sua juventude, e de abraçar bandeiras cada vez mais capitalistas. É verdade que ainda faz isso com certa timidez, e mantém o ranço antiamericano latente. Mas o progresso é inegável. Em sua coluna de hoje isso ficou mais evidente ainda. Nela, ele diz:
Na tradição do “ideologismo” brasileiro entranhado nas mentes, a ideia de complexidade é vista como “frescura” — macho mesmo seria simplista, radical, totalizante. Mas, no mundo atual, a inovação está justamente no parcial, no pensamento indutivo, em descobrir o Mal entranhado em aparências de Bem.
A ideia de uma solução “geral”, total para o crescimento da economia brasileira é a herança dos velhos tempos da esquerda centralizadora. Para haver progresso, há que esquecer “planos” ou algo assim; temos de abandonar a ideia de uma política central, como nos planos quinquenais da URSS ou nos “saltos para a frente” da China de Mao. Somente uma política econômica indutiva, descentrada e pragmática com mudanças possíveis, pode ir formando um tecido de parcialidades que acabem por mudar o conjunto. É isso que os jovens propõem.
A chave é: “ações indutivas”, conceito que é a fobia do pensamento filosófico de tradição europeia, continental. Bom mesmo sempre foi um doce silogismo aristotélico, com premissas e conclusão. Ou então uma boa causa universal que abranja tudo, o todo, o uno, do qual se deduz o particular. É uma herança da religião e do mito. Já o pensamento pragmático tem uma tradição mais anglo-saxônica (Hume, Locke, J.S. Mill), principalmente Francis Bacon e depois William James. Não é por acaso que o pensamento pragmático nas ciências e na filosofia acelerou muito mais o progresso, saído de dentro do ventre da revolução comercial e conceitual inglesa. Esta, sim, foi a nascente do moderno pensamento filosófico e político. Suas ideias regeram o ritmo do capitalismo e dominaram o mundo.
Tenho ressalvas em relação ao Pragmatismo enquanto filosofia, mas admiro a visão de gradualismo por tentativa e erro do progresso institucional presente no pensamento de David Hume, citado pelo autor. Este, assim como Vico, iria influenciar as ideias de um gigante do liberalismo moderno: Hayek. Esta linha de pensamento rejeita as utopias, as certezas absolutas que vão solucionar todos os males da sociedade, as respostas prontas, definitivas.
Popper iria resumir a ideia em seu conceito de a Grande Sociedade Aberta. Algo em construção, eliminando erros mais do que apresentando fórmulas perfeitas. Esse intercâmbio com o mundo nos beneficia. Jabor finalmente parece ter entendido isso, ainda que não consiga deixar de dar uma espetada no "mercado", ou na "globalização". Ele diz:
A chamada globalização da economia é um bonde carregado de problemas? Sim. Pode nos jogar num vazio de excluídos? Pode. Mas teve a vantagem de nos botar em contato com um pensamento mais livre. Isso foi a maior novidade: abandonar o simplismo totalizante e paranoico da tradição do marxismo vulgar que nossa esquerda adotou. A globalização rompeu as paredes da “taba” imaginária em que vivíamos. Eu tinha um orientador comunista que dizia que tudo era culpa do “imperialismo americano”. Nós éramos vira-latas tupiniquins à mercê do temível mundo externo. Hoje sabemos que a causa de nossa miséria somos nós mesmos.
O apagamento de fronteiras culturais com o mundo nos tirou de um sonho de futuro e nos colocou mais no presente.
A esquerda costuma ser fechada, protecionista, rejeitar a liberdade presente nessas trocas voluntárias entre indivíduos do mundo inteiro. Ela gosta de olhar para fora em busca de culpados por nossos problemas. Mas os culpados somos nós mesmos! E a mudança começa por aqui, justamente se abrindo mais e mais para o mundo, para absorver as boas ideias. Jabor conclui em tom mais otimista do que seu padrão recente:
Melhoramos muito com a ideia do “possível”, em vez da bravata das utopias. E isso não é covardia ou omissão; é sabedoria e prudência.
A tal “mão invisível” do mercado pode nos dar bananas, claro, mas “mercado” pode ser um termômetro dos perigos de gestões voluntaristas como temos hoje no Brasil e pode questionar certezas burras e relativizar um poder público que tende para o autoritarismo. Mudar o país tem de ser por dentro, e não uma intervenção mágica ou ditatorial.
A democracia brasileira, se for mantida, vai expelindo os micróbios que a atacam.
Por isso, neste artigo-cabeça há esperança e otimismo. Muitas novidades que nos parecem detestáveis podem estar trazendo novos conceitos operadores que ajudarão a modernizar o país.
Arnaldo Jabor tem tido a coragem de mudar, de rejeitar seu passado comunista, de reconhecer as tolices de sua juventude, e de abraçar bandeiras cada vez mais capitalistas. É verdade que ainda faz isso com certa timidez, e mantém o ranço antiamericano latente. Mas o progresso é inegável. Em sua coluna de hoje isso ficou mais evidente ainda. Nela, ele diz:
Na tradição do “ideologismo” brasileiro entranhado nas mentes, a ideia de complexidade é vista como “frescura” — macho mesmo seria simplista, radical, totalizante. Mas, no mundo atual, a inovação está justamente no parcial, no pensamento indutivo, em descobrir o Mal entranhado em aparências de Bem.
A ideia de uma solução “geral”, total para o crescimento da economia brasileira é a herança dos velhos tempos da esquerda centralizadora. Para haver progresso, há que esquecer “planos” ou algo assim; temos de abandonar a ideia de uma política central, como nos planos quinquenais da URSS ou nos “saltos para a frente” da China de Mao. Somente uma política econômica indutiva, descentrada e pragmática com mudanças possíveis, pode ir formando um tecido de parcialidades que acabem por mudar o conjunto. É isso que os jovens propõem.
A chave é: “ações indutivas”, conceito que é a fobia do pensamento filosófico de tradição europeia, continental. Bom mesmo sempre foi um doce silogismo aristotélico, com premissas e conclusão. Ou então uma boa causa universal que abranja tudo, o todo, o uno, do qual se deduz o particular. É uma herança da religião e do mito. Já o pensamento pragmático tem uma tradição mais anglo-saxônica (Hume, Locke, J.S. Mill), principalmente Francis Bacon e depois William James. Não é por acaso que o pensamento pragmático nas ciências e na filosofia acelerou muito mais o progresso, saído de dentro do ventre da revolução comercial e conceitual inglesa. Esta, sim, foi a nascente do moderno pensamento filosófico e político. Suas ideias regeram o ritmo do capitalismo e dominaram o mundo.
Tenho ressalvas em relação ao Pragmatismo enquanto filosofia, mas admiro a visão de gradualismo por tentativa e erro do progresso institucional presente no pensamento de David Hume, citado pelo autor. Este, assim como Vico, iria influenciar as ideias de um gigante do liberalismo moderno: Hayek. Esta linha de pensamento rejeita as utopias, as certezas absolutas que vão solucionar todos os males da sociedade, as respostas prontas, definitivas.
Popper iria resumir a ideia em seu conceito de a Grande Sociedade Aberta. Algo em construção, eliminando erros mais do que apresentando fórmulas perfeitas. Esse intercâmbio com o mundo nos beneficia. Jabor finalmente parece ter entendido isso, ainda que não consiga deixar de dar uma espetada no "mercado", ou na "globalização". Ele diz:
A chamada globalização da economia é um bonde carregado de problemas? Sim. Pode nos jogar num vazio de excluídos? Pode. Mas teve a vantagem de nos botar em contato com um pensamento mais livre. Isso foi a maior novidade: abandonar o simplismo totalizante e paranoico da tradição do marxismo vulgar que nossa esquerda adotou. A globalização rompeu as paredes da “taba” imaginária em que vivíamos. Eu tinha um orientador comunista que dizia que tudo era culpa do “imperialismo americano”. Nós éramos vira-latas tupiniquins à mercê do temível mundo externo. Hoje sabemos que a causa de nossa miséria somos nós mesmos.
O apagamento de fronteiras culturais com o mundo nos tirou de um sonho de futuro e nos colocou mais no presente.
A esquerda costuma ser fechada, protecionista, rejeitar a liberdade presente nessas trocas voluntárias entre indivíduos do mundo inteiro. Ela gosta de olhar para fora em busca de culpados por nossos problemas. Mas os culpados somos nós mesmos! E a mudança começa por aqui, justamente se abrindo mais e mais para o mundo, para absorver as boas ideias. Jabor conclui em tom mais otimista do que seu padrão recente:
Melhoramos muito com a ideia do “possível”, em vez da bravata das utopias. E isso não é covardia ou omissão; é sabedoria e prudência.
A tal “mão invisível” do mercado pode nos dar bananas, claro, mas “mercado” pode ser um termômetro dos perigos de gestões voluntaristas como temos hoje no Brasil e pode questionar certezas burras e relativizar um poder público que tende para o autoritarismo. Mudar o país tem de ser por dentro, e não uma intervenção mágica ou ditatorial.
A democracia brasileira, se for mantida, vai expelindo os micróbios que a atacam.
Por isso, neste artigo-cabeça há esperança e otimismo. Muitas novidades que nos parecem detestáveis podem estar trazendo novos conceitos operadores que ajudarão a modernizar o país.
Published on July 23, 2013 07:11
Tarde demais

O editorial do GLOBO hoje faz um alerta importante, de que a presidente Dilma está sob pressão para ser cada vez mais candidata do partido e menos presidente do país. Os motivos são evidentes, pois há muita coisa em jogo, e os petistas estão desesperados com a possibilidade de perder suas "boquinhas":
À medida que saem pesquisas que mostram redução de apoio popular a Dilma Rousseff e cresce a possibilidade de segundo turno nas eleições do ano que vem, o PT se agita e a relação com a presidente fica tensa, enquanto cresce no partido a turma do “queremismo”, pela volta de Lula. Muita coisa, afinal, está em jogo: 22 mil cargos de confiança, usados no aparelhamento da máquina pública, controle de estatais com ambicionados orçamentos etc.
É neste contexto que a presidente, no fim de semana, não foi à reunião da executiva nacional do partido, alegando uma agenda de trabalho sobre a visita do Papa Francisco. Em carta aos militantes, defendeu as “ruas”, o plebiscito da reforma política e se colocou ao lado de Lula. Dilma está entre o partido e a Presidência. Como a reeleição entrou em zona de risco, surgem pressões de alas petistas para que ela seja mais militante e menos presidente do Brasil. É uma armadilha, na qual Dilma cairá se não agir como chefe da nação. Ela não deve se impressionar com pesquisas feitas a mais de um ano das urnas. Neste momento, elas refletem o clima detectado nas manifestações. A presidente deve é se concentrar em governar, ser intransigente com a corrupção, levar a inflação o mais rapidamente possível para a meta (4,5%), recuperar, enfim, a credibilidade da política econômica, por ações como a restauração da seriedade na apresentação das contas públicas.
Onde acho que o editorial erra é na esperança de que isso ainda não aconteceu, e que Dilma está realmente dividida entre as duas funções, tentando resistir às pressões de seu partido. Gostaria de crer nisso, mas não consigo. As atitudes da presidente demonstram que ela já fez sua escolha, e essa foi pelo partido. A insistência no plebiscito, a campanha antecipada, os discursos eleitoreiros, inclusive de forma grosseira na frente do Papa Francisco, tudo isso me leva a crer que Dilma só pensa nas urnas de 2014, e largou sua função de presidente da nação inteira. O editorial diz:
Ela precisa fugir da agenda de confronto a que petistas tentam levá-la. A ideia do plebiscito surgiu da inviabilidade legal da “constituinte exclusiva”, sonho de consumo destas alas do partido, para, numa assembleia sem a barreira da maioria qualificada, poder-se alterar regras eleitorais e, com facilidade, contrabandear para a Carta mecanismos de “democracia direta” de inspiração chavista.
Querer forçar Dilma e aliados a entrar em rota de colisão com o Poder Judiciário, em nome do tal plebiscito, é um desvario. Fingem esquecer a nota do Tribunal Superior Eleitoral, em que é reafirmada a barreira da anualidade para qualquer alteração na legislação eleitoral entrar em vigor. A tese de facções petistas está isolada. O deputado Candido Vaccarezza, de São Paulo, escolhido pelo presidente da Câmara, Henrique Alves, para presidir a comissão da reforma, foi alvo de manifesto de um grupo do partido por não ser muito firme na defesa do plebiscito. O PMDB, o maior aliado, nunca embarcou no projeto. Mesmo assim, forçam Dilma a tomar o rumo de uma crise político-institucional.
Não consigo enxergar a presidente Dilma como uma marionete nas mãos dos petistas. Não acho possível isentá-la de responsabilidade por tudo que fez de errado até aqui, inclusive no desrespeito aos poderes e no tom autoritário. A crise político-institucional, a meu ver, tem as impressões digitais da presidente. Ela não é vítima nessa história; ela é parte do problema. É tarde demais para esperar que ela se decida pelo Brasil em vez do PT.
Published on July 23, 2013 06:19
July 22, 2013
O discurso proselitista de Dilma

Vergonha de ser brasileiro. Eis o sentimento que tive após ver o discurso proselitista da presidente Dilma diante do papa Francisco. Por sorte, Vossa Santidade é argentino e, portanto, está ciente do típico populismo demagógico dos latino-americanos. Ainda assim foi algo constrangedor.
Dilma louvou as grandes "conquistas" dos últimos dez anos de governo. Aproveitou para fazer campanha eleitoral na cerimônia, tentando surfar na popularidade do papa. Mas, se o papa é pop, Dilma não é. Recebeu vaias no estádio de futebol, e hoje mereceu novas vaias, mas o protocolo do evento não permitiu, em respeito ao papa. Só por isso.
Não satisfeita, Dilma ainda olhou diretamente para o papa para lhe dar lições de democracia, explicando que o povo toma gosto e quer mais. Ela estava apenas seguindo a estratégia de seu mentor, o ex-presidente Lula, que recentemente adotou essa desculpa esfarrapada em artigo no site do NYT: as manifestações nas ruas são fruto do sucesso do governo petista!
Enfim, a cena toda foi patética, e Dilma saiu ainda menor da ocasião. Não deveria ter se aproveitado da visita do papa de forma tão escancarada, tão sensacionalista, para vender o peixe (podre) de sua gestão e de seu antecessor, de olho somente nas urnas de 2014. Isso foi feio. Muito feito! Dilma perdeu uma ótima oportunidade de ficar calada.
Só não foi a coisa mais constrangedora do primeiro dia da visita do papa ao Brasil porque a turma do movimento gay veio resgatar Dilma, colocando-se como merecedora do prêmio patetice do dia. Realizar um "beijaço" seminus em frente aos religiosos e à igreja foi um ato deveras infeliz, de quem acha que está chocando os outros, mas está apenas despertando o sentimento de pena, por algo tão mesquinho e ridículo.
A tentativa de ofender os religiosos demonstra apenas como essa gente necessita da aceitação daqueles que julgam "medievais". Querem a aprovação do "papai" cuja autoridade não reconhecem. De fato, patético.
Published on July 22, 2013 17:23
O papa é pop

Rodrigo Constantino
Vendo as imagens da chegada do papa Francisco no Rio e aquela multidão de fieis em busca de um simples toque no líder religioso, veio à mente o livro novo de Mario Vargas Llosa, A civilização do espetáculo . Para o Nobel de Literatura, vivemos na era em que tudo é transformado em espetáculo, em entretenimento. Até filosofia e religião.
Esse tipo de reação histriônica das pessoas não difere muito daquela dos fãs de um cantor de rock, ou de um jogador de futebol. O ídolo desperta fortes emoções, e só de estar perto dele ou conseguir um clique com a câmara do celular já provoca enorme satisfação. Como diz a música dos Engenheiros do Havaí, o papa é pop!
A visão que Vargas Llosa tem da religião em geral e do Cristianismo em particular é bem alinhada à minha. O escritor considera que somente uma pequena parcela das pessoas consegue conviver razoavelmente bem com a idéia de que nossa vida é finita e um tanto sem sentido, sem cair, com isso, em desespero existencial, em niilismo profundo. Diz Vargas Llosa:
Se esta vida é a única que temos, se não há nada depois dela e vamos nos extinguir para todo o sempre, por que não tentaríamos aproveitá-la da melhor maneira possível, ainda que isso significasse precipitar nossa própria ruína e semear ao nosso redor as vítimas de nossos instintos desbragados? Os homens se empenham em crer em Deus porque não confiam em si mesmos. E a história demonstra que não deixam de ter razão, pois até agora não demonstramos que somos confiáveis.
Poucos seriam capazes, então, de levar vidas decentes mesmo sem crer na eternidade ou em uma punição pós-morte. Esta pode ser uma visão um tanto elitista, mas paciência: eu acredito nela. Minha experiência me diz que, de fato, poucos suportam este flerte com a falta de sentido sem surtar, sem aderir à melancolia. Esse seleto grupo, não necessariamente superior aos demais, encontra na filosofia, nas artes, na literatura, as "fugas" para esta ausência.
Já a maioria necessita desse Pai, dessa figura antropomórfica que irá fornecer o sentido da existência e de sua finitude, que é a morte. O tecido social e os valores morais, portanto, dependem em boa parte da religião. Ela atuaria como Ulisses ao amarrar as próprias mãos no mastro do barco, para não cair na tentação das sereias. Esta é a visão utilitarista da crença religiosa. Marx chamava de "ópio do povo", mas creio que possa ser algo menos pejorativo: um freio, um código moral positivo. Diz Vargas Llosa:
Pouquíssimos seres humanos são capazes de aceitar a idéia do "absurdo existencialista" de estarmos "lançados" aqui no mundo por obra de um acaso incompreensível, um acidente estelar, de nossa vida ser mera casualidade desprovida de ordem e coerência, de tudo o que ocorra ou deixe de ocorrer com ela depender exclusivamente de nossa conduta e vontade e da situação social e histórica em que nos achamos inseridos.
A imagem descrita por Camus em O mito de Sísifo, que leva quase todos ao desespero e à paralisia. Mas, se a religião é mesmo o ópio do povo, então o marxismo é o crack, com efeitos bem mais letais. E eis o ponto mais relevante: quando tentaram abolir as religiões na marra, o que veio em seu lugar não foi um progressismo com base na Razão (com R maiúsculo), e sim algo muito pior. O socialismo é a religião laica, e o estado passou a ser o Deus da modernidade. Progresso? Diz Vargas Llosa:
Foi um gravíssimo erro, repetido várias vezes ao longo da história, acreditar que o conhecimento, a ciência e a cultura iriam libertando progressivamente o homem das "superstições" da religião, até que, com o progresso, esta se tornasse inútil. A secularização não substituiu os deuses por idéias, saberes e convicções que desempenhassem suas funções. Deixou um vazio espiritual que os seres humanos preenchem como podem, às vezes com sucedâneos grotescos, com múltiplas formas de neurose, ou dando ouvidos ao chamado dessas seitas que, de planejamento minucioso de todos os instantes da vida física e espiritual, proporcionam equilíbrio e ordem àqueles que se sentem confusos, solitários e aturdidos no mundo de hoje.
Se essa linha de raciocínio estiver correta, talvez seja positivo o fato de alguém como o papa ainda atrair tanta gente, inclusive jovem, mesmo com esse clima de euforia típica dos ídolos pop. Ao menos se trata de uma liderança moral decente, que prega valores importantes, e não algum tipo de fuga imediata para a angústia, seja pelas drogas, seja pela ideologia utópica. Deixo com Vargas Llosa a conclusão:
[...] o certo é que essa moral laica só encarnou em grupos reduzidos. Ainda continua sendo realidade indiscutível o fato de que, para as grandes maiorias, é a religião a fonte primeira e maior dos princípios morais e cívicos que dão sustento à cultura democrática.
Published on July 22, 2013 14:35
Primavera Árabe: A ilusão democrática

A “Primavera Árabe” encantou muita gente no Ocidente. Vários celebraram o “despertar” do povo para a democracia, lutando contra regimes opressores no poder há décadas. Mas a comemoração foi precipitada demais. Os pilares culturais e institucionais que permitem o funcionamento adequado do regime democrático simplesmente não estão lá.
A “democracia”, nesse caso, pode ser apenas uma forma de teocracia disfarçada, com os fanáticos muçulmanos tomando o poder e impondo a sharia – a lei islâmica. É o que defende Andrew McCarthy em seu excelente livro novo Spring Fever: The Illusion of Islamic Democracy . McCarthy é autor também de The Grand Jihad , onde já havia exposto como os fanáticos do Islã estão sabotando os pilares da civilização ocidental de dentro do sistema.
São leituras obrigatórias para quem quer entender melhor como o radicalismo islâmico opera nos Estados Unidos, e porque a democracia no Oriente Médio ainda não passa de uma doce ilusão. Gostamos de crer que o povo islâmico da região despertou, mas isso pode ser somente uma vontade nossa de acreditar nisso.
Para o autor, muitos no Ocidente desejam crer que os povos árabes compartilham dos mesmos ideais de liberdade que nós, e acabam ignorando que a “Primavera Árabe” pode ser, na verdade, a ascendência da supremacia islâmica. O governo de Mursi no Egito deixou claro esse risco: várias medidas do governante eleito foram na direção da sharia, e o alinhamento inclusive com grupos terroristas ficou evidente.
McCarthy disseca o caso da Turquia, pois se trata do país mais ocidentalizado da região, graças ao legado de Ataturk. Erdogan, entretanto, deu demonstração de sobra de que não quer saber disso, preferindo atender aos anseios dos defensores da sharia. Nem há surpresa aqui: tais são os objetivos declarados desses governantes! Eles alegam abertamente que o estado deve ser guiado pelo Islã, e essa é a visão que eles têm de liberdade: “perfeita submissão”.
No Ocidente, especialmente na esquerda progressista, a visão muliculturalista impede a constatação desse fato. Simplesmente reproduzir o que as próprias lideranças islâmicas afirmam é suficiente para ser chamado de “islamofóbico”. Sem querer julgar qualquer coisa (à exceção de seus oponentes conservadores e os “fanáticos” do Tea Party), esses progressistas tentam remodelar o Islã à sua própria imagem: uma nobre e tolerante religião.
Para o autor, essa é a principal lição da “Primavera Árabe”: a miragem do Islã como uma força moderada e amigável à transformação democrática existe somente em nossas mentes, para nosso consumo próprio. Lá, no Oriente Médio, a mentalidade predominante não tem nada a ver com isso, como atos e pesquisas apontam. Os governantes mesmos se sentem ofendidos com o uso do termo “moderado”, pois para eles, o Islã é o Islã, e ponto. Seguir sua lei é absolutamente imprescindível. Estado laico? Nem pensar!
Por acaso o Irã tem se tornado mais moderado nos últimos anos? Por acaso o Hamas é moderado em Gaza, ou ocorreu nova eleição desde que o grupo foi escolhido? Por acaso a constituição iraquiana, aprovada sob a supervisão americana, deixa de colocar o Islã como a religião oficial que deve pautar as leis? O sucesso eleitoral do Hezbollah no Líbano mudou o país, ou serviu para que o Irã pudesse contar com um braço terrorista com o manto de “democracia” em suas provocações jihadistas?
Aplicar a nossa idéia de liberdade individual ao contexto do Oriente Médio é a grande ingenuidade que cometemos, segundo o autor. Essa cultura de povo soberano não está presente nesses países. Para eles, seguir a religião por meio do estado, sob o comando de um representante forte que irá garantir tal submissão, isso é “liberdade”. Parlamento com poderes legislativos, pesos e contrapesos, descentralização de poder, tolerância às minorias, tais são valores enraizados no Ocidente, mas não nos países islâmicos.
Outro ponto importante abordado pelo autor é que os fanáticos muçulmanos compreendem que a disputa é cultural acima de tudo. O dawa é o proselitismo da sharia, sem o uso de violência. Intimidar críticos, cultivar simpatizantes na imprensa e nas universidades, explorar a tolerância e a liberdade religiosa ocidental, infiltrar-se em nosso sistema político, retratar qualquer crítica como “islamofobia”, eis a guerra que eles estão travando e vencendo até aqui. Esses foram os ensinamentos de Hassan al-Banna, um dos fundadores da Irmandade Muçulmana, que pretende dominar todo o planeta com sua religião.
O que McCarthy mostra no livro é como vários institutos islâmicos nos Estados Unidos servem apenas como fachada para disseminar os valores radicais de sua fé, ou então fazer um elo com grupos terroristas. Não é que eles não compreendam a democracia ocidental, ou não sejam sofisticados para isso; é que eles não desejam tal modelo para eles! Eles olham com profundo desdém para o resultado do que essa democracia e essa liberdade conquistaram no Ocidente. E eles querem mudar isso.
McCarthy não tem medo de concluir que, nos termos de Samuel Hutington, trata-se de um “confronto de civilizações”. Não reconhecer isso é um perigo, pois o outro lado avança de forma agressiva. A meta das lideranças islâmicas, com o apoio da maioria do povo, é o “renascimento islâmico”, o resgate de uma época de predominância do Islã.
Os que são considerados “moderados” pela esquerda ocidental não escondem o mesmo sonho, e simpatizam com os terroristas, retratados por eles como “resistentes”. O ódio a Israel e aos Estados Unidos está presente também, mas muitos fingem não ver. McCarthy resume sem rodeios: “Nesta região antidemocrática, a democracia real não tem a menor chance contra a supremacia islâmica”.
Published on July 22, 2013 13:02
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