David Soares's Blog, page 82

January 5, 2011

Origem de "badagaio"

Hoje pediram-me, se pudesse, para esclarecer uma dúvida sobre a origem da palavra badagaio; e, por acréscimo, da expressão popular deu-lhe o badagaio. Com efeito, começo por dizer que, infelizmente, não tenho as respostas definitivas para essas perguntas, mas posso, ainda assim, tentar encontrá-las. Toda a gente está familiarizada com as definições comuns de desmaio, achaque ou morte repentina para a palavra badagaio, mas de onde é que ela virá?

Eu suspeito que badagaio seja uma corruptela de badagá, que era o nome que os antigos navegadores portugueses (ver, por exemplo, Conquista Temporal e Espiritual do Ceylão do padre jesuíta Fernão de Queyroz [1687]: «Agradecido o Rey Xaga Rajá ao bom serviço que lhe fizerão os Badagaz, gente sempre estimada, por valente e rebelada ao Nayque de Madurê...») davam ao povo que compunha o chamado Império ou Reino de Bisnaga: uma monarquia hindu que habitava no Sul da Índia, sobre o planalto do Decão. Ora badagá é, por sua vez, uma corruptela da palavra tâmul vadagar, com o mesmo significado.

O que interessa para desvendar a possível origem de badagaio é a constatação de que os tais badagás faziam, com frequência, sorrateiras incursões de guerrilha pelo centro e Sul da Índia, maltratando os cristãos. Por conseguinte, badagá (mais tarde badagaio) veio a ganhar o significado de gente terrível que se aproximava de modo sorrateiro das vítimas.
É aqui que estará a possível origem para a expressão popular deu-lhe o badagaio. Ou seja, era o badagaio (ou badagá) que vinha em surdina e dava pancada ou morte ao insuspeito: quase que se adivinha uma troca coeva de palavras, mais ou menos nestas linhas: "-Quem é que lhe deu?", "Deu-lhe o badagaio".
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Published on January 05, 2011 19:32

"O Evangelho do Enforcado" nos 'tops' de 2010 #2

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Published on January 05, 2011 14:01

January 4, 2011

Cabaret Seixal 2011 - Primeira Vaga


No próximo dia 25 de Fevereiro, o cinema São Vicente, no Seixal, irá receber a primeira vaga do evento Cabaret Seixal 2011: um espectáculo de spoken word e música ao vivo, organizado e musicado por Charles Sangnoir, vocalista e compositor de La Chanson Noire. O evento, espaçado ao longo do ano, será composto por diversas participações de vários artistas convidados.
Esta primeira vaga contará com Fernando Ribeiro, vocalista de Moonspell, e comigo.

Visitem o myspace do evento para saberem mais detalhes e ficarem a par das novidades.

Entretanto, à guisa de hors d'oeuvre, fiquem com a minha participação no Cabaret Seixal 2010, com o texto Ode ao Negro.


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Published on January 04, 2011 19:47

Da luz nasce a sombra


Excelente crítica a A Luz Miserável (Saída de Emergência), escrita por João Morales na revista Os Meus Livros deste mês:

Da Luz Nasce a Sombra

De 0 a 5: 4
Prós: A escrita apurada, a capacidade de incorporar questões éticas por entre o horror.
Contras: O primeiro conto mostra-se mais frágil.

Três contos unidos pelas características da escrita deste autor - referências escatológicas, fantasia negra, algum fundo moral mais ou menos distorcido até se tornar (quase) irreconhecível, uma escrita cuidada.
Saltando a primeira história (uma narrativa sobre uma vidente que convoca "os elementais", seres de luz, e um homem quase invisível), enfraquecida por uma certa tonalidade new age, entremos nas duas seguintes, francamente bem conseguidas.
A Luz Miserável fala-nos de três antigos combatentes, Fortunato (acamado num hospital), Ranulfo (administrador de um predio) e Bartolomeu (que encontrou a salvação tornando-se num cruel sádico, para arrecadar almas), que temem em conjunto a chegada de um feiticeiro negro.
Depois conheça o Rei Assobio, um conto a fazer lembrar as histórias de arrepiar contadas à lareira, com laivos de ruralidade, preceitos ancestrais e reminiscências de Moby Dick. Temos Bicheiro, rapaz de 14 anos que frequenta bordéis, Bandido, Guiga e Cupim, atraídos por Rei Assobio (antes conhecido como Emílio Ensino) e ensinamentos sábios. «Andam muitas coisas por aí. Umas boas e algumas más. Mas a maioria são coisas boas», diz a mãe de Ensino.
Apenas a maioria, como ela bem frisou...
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Published on January 04, 2011 11:45

January 3, 2011

December 31, 2010

Uma tarde no museu


Ontem, na companhia de um casal amigo, visitei o Museu Nacional da Arte Antiga para ver a exposição de pintura Primitivos Portugueses (1450-1550): O Século de Nuno Gonçalves, na qual se integram os trabalhos Painéis de São Vicente de Fora e Ecce Homo sobre os quais escrevi no romance O Evangelho do Enforcado (Saída de Emergência).

A minha intenção era começar a visita guiada pelo 3º andar do museu, dedicado à escultura, e onde se encontra a fantástica fonte bicéfala manuelina: um dos mais maravilhosos ícones da cidade.
Infelizmente, a exposição temporária ocupou o piso e as esculturas não podem ser observadas. Fiquei triste, porque queria mostrar a fonte aos meus amigos, mas haverá outra oportunidade. Entretanto, partilho uma imagem desse trabalho, de escultor anónimo e data incerta (datará do primeiro decénio do século XVI). Quantos outros trabalhos mágicos, desta natureza, teremos perdido ao longo dos séculos? Dá que pensar.

Aqui, D. Manuel I, o Venturoso, e provavelmente D. Maria (a sua segunda mulher, com quem casou em 1500), surgem como sendo as duas cabeças de uma serpente. Muito intrigante é a presença de dois brasões: a esfera armilar manuelina e o camaroeiro de D. Leonor, irmã mais velha do rei e viúva de D. João II.
Só existe mais um exemplo dessas duas empresas conjuntas e que é o Pelourinho de Óbidos. Por conseguinte, também se poderá especular que a cabeça feminina é a de D. Leonor.

Mesmo assim, D. Manuel I caracterizou-se por ser um rei que não teve amantes e por se fazer acompanhar por D. Maria em todas as ocasiões - conduta que não o poupou a que se dissesse em surdina que era um efeminado; já que, nessa altura, o costume mandatava que os mundos masculinos e femininos fossem duas realidades apartadas. Todavia, mesmo que a parcela feminina da enigmática escultura não seja D. Maria, isso não invalida o facto de que D. Manuel I e D. Maria deram feitio na vida diária a um verdadeiro rebis...

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Published on December 31, 2010 03:26

December 30, 2010

December 23, 2010

Planeamento a longo prazo


Ainda o Natal nem sequer chegou e já o Coelho da Páscoa anda ocupado a fazer os ovos.
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Published on December 23, 2010 15:44

December 18, 2010

Mensagem de Natal


De acordo com o moderno cânone católico, Emanuel, mais tarde chamado de Jesus Cristo, nasceu na cidade palestiniana de Belém, no dia 25 de Dezembro; para poupá-lo à loucura homicida do edomita rei Herodes, que mandou matar todos os primogénitos da região que tivessem menos de dois anos de idade, de maneira a evitar ser substituído por um Messias há muito profetizado, a família fugiu para o Egipto e, posteriormente, quando o monarca morreu, mudaram-se para a cidade galileia de Nazaré - o facto de que, na verdade, o psicótico Herodes morrera quatro anos antes do início da chamada era cristã provou não ser nenhum impedimento para que estes acontecimentos fabulosos tivessem ocorrido.

A primeira menção a Cristo ter nascido no dia 25 de Dezembro foi escrita pelo capadócio São Gregório de Nanziano, o Teólogo, no ano de 379. A lógica para a escolha dessa data foi a mesma que os doutos da igreja de Roma, desde cedo, usaram para melhor serem aceites pelas populações pagãs durante o PREC (processo rápido de evangelização cristã) iniciado com o ataque epiléptico de São Paulo na estrada para a cidade siríaca de Damasco: a apropriação de feriados religiosos pagãos, como cavalos de Tróia para introduzir ideias católicas. De acordo com a tradição pagã, esse era o dia em que o Sol Invencível (Sol Invictus) iniciava a batalha anual contra as Trevas; contenda titânica que se prolongava até ao fim da estação invernal.

O culto desta divindade solar siríaca foi introduzido em Roma por Vario Avito Bassiano, em 218; data em que esta personagem controversa se tornou imperador. No ano anterior, tinha sido expulso de Roma, indo refugiar-se na cidade de Émesa, na qual se tornou sacerdote do Sol Invencível e adoptou o famoso nome de guerra Heliogábalo. Reinou com outro nome fictício, Marco Aurélio António, até ser morto em 222 pela guarda pretoriana, a mando da avó, Júlia Mesa, depois de esgotar as finanças romanas com o estilo "exótico" com que vivia e governava.
Entre as excentridades que lhe são atribuídas encontram-se as seguintes: percorria as ruas numa quadriga puxada, alternadamente, por leões, tigres e veados - e por mulheres nuas; mandou construir uma casa de banho majestosa, na qual não faltavam os mais caros luxos, para defecar uma só vez e mandá-la demolir; dava jantares estupendos em que servia, secretamente, excrementos e vidros partidos aos convidados; mandava ler o futuro nas vísceras de crianças pobres; promoveu um cavalo a senador; e criou um novo sistema político hierárquico, baseado no tamanho do pénis - no qual ele, como é óbvio, ocupava o topo da pirâmide.
O povo detestava-o - e a classe alta ainda mais: depois de morto, com apenas dezassete anos, foi atirado, sem cerimónias, para o rio Tibre.

Mais tarde, e até finais do século IV, mais ou menos, o culto do Sol Invencível andou associado ao de Mitra, outra divindade solar, repescada pelos romanos à mitologia persa. Este deus guerreiro, que também migrou para a Índia, na forma da díada Mitra Varuna (o Sol e a Lua), foi muito popular entre as legiões e o seu culto era iniciático: diz-se que para participar nele era mandatório que o adepto se submetesse a uma iniciação de sete graus, representados com bastante teatralidade e alguns efeitos de choque. Mitra é mais conhecido pela impressionante representação como tauróctono, sacrificando um touro numa gruta sagrada, e com o conspícuo barrete frígio. Este Mitra romano já pouco tem de persa, no entanto já o persa nada tinha do suposto Mitra original que, de acordo com algumas fontes, seria uma divindade feminina assíria: a mãe do Sol e da Água.

Eu estou muito confuso sobre que ícone celebratório hei de pendurar... O infante Cristo, ungido com o nimbo solar, flutuante sobre um fundo vermelho? Uma representação de Mitra, cortando o gasganete ao touro? Ou um simples Pai Natal, trajando as cores do logótipo da bebida refrigerante Coca-Cola que lhe foram dadas pelo artista norte-americano Haddon Sundblom, em 1930?

O facto deste pintor, que, de maneira inegável, foi o responsável por ter criado a mais popular e sólida imagem contemporânea do nosso Natal, ter sido conhecido pela alcunha de "sunny" (!!!) é completamente mind-fucking.

Boa heliolatria a todos os leitores e visitantes dos Cadernos de Daath.
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Published on December 18, 2010 22:42