M. Barreto Condado's Blog, page 30
January 16, 2017
Entrevista ao escritor Nuno Nepomuceno
segunda-feira, 16 de janeiro de 2017
Texto e Fotos: Madalena Condado com Nova Gazeta & Diário do Distrito | Direitos Reservados
A 30 de Novembro de 2016, na FNAC Colombo, em Lisboa, o escritor de thrillers Nuno Nepomuceno apresentou o seu mais recente livro “A Célula Adormecida”. Neste seu último trabalho tratam-se assuntos tão atuais como religião e terrorismo.
Para quem já leu as anteriores obras do Nuno sabe que o talento está todo lá, não deixará, contudo, de ser surpreendido pelos locais, as situações, mas principalmente pela transformação que se nota na sua escrita mais fluída, consistente e viciante. Na obra “A Célula Adormecida” consegue sentir-se um grandioso enriquecimento de conteúdos na sua abordagem a temas tão polémicos que nos entram em casa diariamente através da televisão.
Neste dia tão importante para o Nuno estavam sentados à sua mesa as pessoas que, de alguma forma , contribuíram para este seu novo sucesso:Fernando Gabriel Silva (o seu Editor na TopBooks), o Sheikh Munir (Imã da Mesquita Central de Lisboa) e Luís Pinto (blog Ler Y Criticar).
Lembro-me de uma das frases ditas pelo seu editor que me marcou particularmente e que passo a citar: “Todos os editores tentam encontrar o seu escritor e eu tive o privilégio de o encontrar no Nuno”. Mas se é verdade que escrever requer muita paixão, e principalmente talento, tudo qualidades que o Nuno tem na medida certa, também é certo que por detrás de um grande escritor tem que existir um editor que acredite nesse trabalho e ajude na promoção do mesmo.
“A Célula Adormecida” é um thriller psicológico onde o suspense impera, trata de um tema atual e controverso sempre contextualizado com factos. Acredito que foi necessária muita pesquisa para se documentar, passo importante para conseguir manter o leitor preso à sua leitura do início ao fim. Consegue uma vez mais, como lhe é típico, dizer muito com poucas palavras, mas, mais importante ainda, leva-nos a questionar, a cada folhear de página, sobre tudo o que não compreendemos e temos medo na religião e no terrorismo.
O Sheikh Munir começou por nos cumprimentar a todos com uma bênção Salaam Aleikum (a paz esteja convosco), explicou o fascínio que o interesse do Nuno lhe tinha despertado, principalmente quando percebeu que a estória do livro seria passada durante os 30 dias do Ramadão. Aproveitou para esclarecer o significado desses dias: os 10 primeiros sendo os dias de misericórdia, os 10 posteriores de perdão sendo que os últimos 10, os dias em que pedimos salvação. Confessou ainda que tinham sido a persistência, curiosidade e conhecimentos do Nuno sobre os assuntos abordados o impulso de que necessitara e o levara a acreditar que os temas falados neste livro, através da sua visão, tinham tudo para correr bem.
O Nuno confessou que o seu género de escrita favorito é a espionagem, mas que com este seu último livro quis dar um passo em frente chegar a mais pessoas não somente para as entreter, mas também para transmitir uma mensagem. Em “A Célula Adormecida” tenta desmistificar o Islão, a comunidade muçulmana em particular, ao mesmo tempo que aborda temas como a xenofobia, racismo, expressão social, consegue colocar-nos a pensar na forma como cada um de nós tende a julgar as outras pessoas.
Mas, para que fiquem a conhecer o autor ainda um pouco melhor, coloquei-lhe três questões, e, desde já, aconselho a que sigam o Nuno através das suas páginas (site e redes sociais) e, quem sabe, se aparecerem numa próxima apresentação para trocarem dois dedos de conversa. É garantido que vão gostar.
Entrevista Breve:
Como se descreveria?
Chamo-me Nuno, tenho 38 anos, escrevo profissionalmente há 4, gosto de cinema, fazer BTT, passear com o meu cão, ler e escrever.
Dá muito valor à investigação e às suas fontes antes de começar um livro ou foi somente para a escrita da "Célula Adormecida"?
A investigação é uma parte muito importante do meu processo criativo e que me acompanha desde o meu primeiro livro. Não consigo iniciar um manuscrito completamente do zero. Preciso sempre de estudar e saber mais, de me preparar corretamente para o que vou enfrentar a seguir, e só depois disso é que surgem as ideias, que me sinto seguro em relação ao rumo escolhido. Escrevo thrillers, mas não me considero extremamente comercial. Julgo que ofereço conteúdo. Os meus livros não são uma sucessão de twists com vista a manter o leitor agarrado, mas sim histórias ricas em intriga de forma a apaixoná-lo. E tal só se consegue se estivermos convenientemente preparados. Por exemplo, em "A Célula Adormecida", o tempo que despendi em pesquisa ultrapassou o da redação do livro.
Não tem medo que o tema que aborda no seu último livro se possa vir a tornar uma realidade no nosso país? Que de alguma forma esteja a dar algumas "ideias" de como o fazer e onde?
Há sempre esse risco, mas não creio que o livro incite à violência. Esse teria sido o caminho mais fácil — aproveitar as controvérsias que rodeiam o Islão e explorar a parte mais negativa do extremismo. O que procurei fazer com A Célula Adormecida foi introduzir uma abordagem inovadora não só ao nível do tema do livro, como da religião muçulmana em si. Quem o ler irá encontrar uma obra bem diferente do que o título sugere. A mensagem final que transmite é de paz, esperança.
in Jornal Nova Gazeta, 16 Janeiro 2017
Texto e Fotos: Madalena Condado com Nova Gazeta & Diário do Distrito | Direitos Reservados
A 30 de Novembro de 2016, na FNAC Colombo, em Lisboa, o escritor de thrillers Nuno Nepomuceno apresentou o seu mais recente livro “A Célula Adormecida”. Neste seu último trabalho tratam-se assuntos tão atuais como religião e terrorismo.
Para quem já leu as anteriores obras do Nuno sabe que o talento está todo lá, não deixará, contudo, de ser surpreendido pelos locais, as situações, mas principalmente pela transformação que se nota na sua escrita mais fluída, consistente e viciante. Na obra “A Célula Adormecida” consegue sentir-se um grandioso enriquecimento de conteúdos na sua abordagem a temas tão polémicos que nos entram em casa diariamente através da televisão.
Neste dia tão importante para o Nuno estavam sentados à sua mesa as pessoas que, de alguma forma , contribuíram para este seu novo sucesso:Fernando Gabriel Silva (o seu Editor na TopBooks), o Sheikh Munir (Imã da Mesquita Central de Lisboa) e Luís Pinto (blog Ler Y Criticar).
Lembro-me de uma das frases ditas pelo seu editor que me marcou particularmente e que passo a citar: “Todos os editores tentam encontrar o seu escritor e eu tive o privilégio de o encontrar no Nuno”. Mas se é verdade que escrever requer muita paixão, e principalmente talento, tudo qualidades que o Nuno tem na medida certa, também é certo que por detrás de um grande escritor tem que existir um editor que acredite nesse trabalho e ajude na promoção do mesmo.
“A Célula Adormecida” é um thriller psicológico onde o suspense impera, trata de um tema atual e controverso sempre contextualizado com factos. Acredito que foi necessária muita pesquisa para se documentar, passo importante para conseguir manter o leitor preso à sua leitura do início ao fim. Consegue uma vez mais, como lhe é típico, dizer muito com poucas palavras, mas, mais importante ainda, leva-nos a questionar, a cada folhear de página, sobre tudo o que não compreendemos e temos medo na religião e no terrorismo.
O Sheikh Munir começou por nos cumprimentar a todos com uma bênção Salaam Aleikum (a paz esteja convosco), explicou o fascínio que o interesse do Nuno lhe tinha despertado, principalmente quando percebeu que a estória do livro seria passada durante os 30 dias do Ramadão. Aproveitou para esclarecer o significado desses dias: os 10 primeiros sendo os dias de misericórdia, os 10 posteriores de perdão sendo que os últimos 10, os dias em que pedimos salvação. Confessou ainda que tinham sido a persistência, curiosidade e conhecimentos do Nuno sobre os assuntos abordados o impulso de que necessitara e o levara a acreditar que os temas falados neste livro, através da sua visão, tinham tudo para correr bem.
O Nuno confessou que o seu género de escrita favorito é a espionagem, mas que com este seu último livro quis dar um passo em frente chegar a mais pessoas não somente para as entreter, mas também para transmitir uma mensagem. Em “A Célula Adormecida” tenta desmistificar o Islão, a comunidade muçulmana em particular, ao mesmo tempo que aborda temas como a xenofobia, racismo, expressão social, consegue colocar-nos a pensar na forma como cada um de nós tende a julgar as outras pessoas.
Mas, para que fiquem a conhecer o autor ainda um pouco melhor, coloquei-lhe três questões, e, desde já, aconselho a que sigam o Nuno através das suas páginas (site e redes sociais) e, quem sabe, se aparecerem numa próxima apresentação para trocarem dois dedos de conversa. É garantido que vão gostar.
Entrevista Breve:
Como se descreveria?
Chamo-me Nuno, tenho 38 anos, escrevo profissionalmente há 4, gosto de cinema, fazer BTT, passear com o meu cão, ler e escrever.
Dá muito valor à investigação e às suas fontes antes de começar um livro ou foi somente para a escrita da "Célula Adormecida"?
A investigação é uma parte muito importante do meu processo criativo e que me acompanha desde o meu primeiro livro. Não consigo iniciar um manuscrito completamente do zero. Preciso sempre de estudar e saber mais, de me preparar corretamente para o que vou enfrentar a seguir, e só depois disso é que surgem as ideias, que me sinto seguro em relação ao rumo escolhido. Escrevo thrillers, mas não me considero extremamente comercial. Julgo que ofereço conteúdo. Os meus livros não são uma sucessão de twists com vista a manter o leitor agarrado, mas sim histórias ricas em intriga de forma a apaixoná-lo. E tal só se consegue se estivermos convenientemente preparados. Por exemplo, em "A Célula Adormecida", o tempo que despendi em pesquisa ultrapassou o da redação do livro.
Não tem medo que o tema que aborda no seu último livro se possa vir a tornar uma realidade no nosso país? Que de alguma forma esteja a dar algumas "ideias" de como o fazer e onde?
Há sempre esse risco, mas não creio que o livro incite à violência. Esse teria sido o caminho mais fácil — aproveitar as controvérsias que rodeiam o Islão e explorar a parte mais negativa do extremismo. O que procurei fazer com A Célula Adormecida foi introduzir uma abordagem inovadora não só ao nível do tema do livro, como da religião muçulmana em si. Quem o ler irá encontrar uma obra bem diferente do que o título sugere. A mensagem final que transmite é de paz, esperança.
in Jornal Nova Gazeta, 16 Janeiro 2017
Published on January 16, 2017 06:00
December 26, 2016
No dia seguinte ao Natal
No dia seguinte ao Natal, tomo consciência de quem sou, que importo, todas importamos, todas aquelas que durante gerações tiveram o privilégio de estudar na casa da “Irmandade da Cruz”. Ali não somos um nome, somos uma família e se existem momentos que ficam para sempre marcados na nossa memória e se acabam por tornar parte de nós, esse é um deles. No dia seguinte ao Natal, sabemos que no instante em que transpomos o enorme portão verde de ferro, subimos as escadas de pedra e entramos pela mão dos nossos pais através da larga porta de madeira, passamos a fazer parte de um outro mundo. O mundo da Irmandade.No dia seguinte ao Natal, deixamos para trás as crianças tímidas e assustadas e passamos a ser as determinadas mulheres que ainda somos. Sob a tutoria das nossas mentoras e das nossas companheiras de jornada vamos pouco a pouco criando laços tão fortes que nos acompanharão para sempre, mesmo após o momento em que a última de nós deixe de respirar.No dia seguinte ao Natal, dos anos que ainda temos pela frente não tememos o que o destino deixou escrito para cada uma de nós, estaremos sempre prontas para enfrentar qualquer obstáculo pois somos determinadas e temerárias. Juntas somos uma. No dia seguinte ao Natal, as lembranças da nossa infância entre aquelas paredes tornam-se mais fortes. Fechamos os olhos e conseguimos ouvir os nossos passos a ecoar nos longos corredores enquanto corremos para o recreio, passamos a medo o túnel que nos está vedado, saltamos pelas janelas, investigamos todas as bem guardadas passagens secretas. No dia seguinte ao Natal, conseguimos sentir o cheiro das queijadinhas de leite acabadas de fazer, do pão acabado de cozer.No dia seguinte ao Natal, vislumbramos as mesas do refeitório onde perfiladas por detrás das cadeiras tantas vezes demos graças por estarmos todas juntas.No dia seguinte ao Natal, lembramo-nos de todas as nossas mentoras, da Irmã Berta com a sua eterna paciência, da Irmã Palmira com as suas diversas tentativas de projeção de slides, irreverentemente sempre de pernas para o ar na pequena sala na cripta, da Irmã Mercedes com a sua doçura espanhola, da Irmã Genoveva e de todas as outras que deixaram em nós marcada a saudade e a nostalgia.No dia seguinte ao Natal, lembro-me com saudade daquelas que nunca mais reencontrei, mas de quem me lembro com emoção, Alexandra, Esmeralda, Maria João, Inês, Conceição, Teresa, Luísa, Sandra Lisboa, Susana, Helena Serra, João Matos, Verónica, Elsa Casinhas, Dulce e Paula Soares.No dia seguinte ao Natal, agradeço exultante as que permanecem junto de mim, Margarida, Helena Pereira, Elsa Dias, Paula Barroso, Carlota, Sandra Pereira, Ana, Paula França, Zaida, Manuela, Elsa Pereira, Vera, Elsa Vicente, Elsa Costa e Sónia.No dia seguinte ao Natal, tomo contacto com a realidade e a verdade é que o nosso tempo dentro da proteção daquelas paredes passou, mas as memórias mantemo-las dentro de cada uma de nós avivando-as com aquele fogo que reacende sempre que nos reencontramos.Porque no dia seguinte ao Natal, somos e seremos sempre parte desta larga Irmandade da Cruz.
Published on December 26, 2016 11:48
December 24, 2016
Conto de Natal
Dois mil e dezasseis anos passaram desde o nascimento de Jesus. Para todos os católicos espalhados pelo mundo este é o dia mais importante do calendário. Fui educada a acreditar que neste dia se celebra aquela criança que nasceu para mudar o mundo e torná-lo melhor para todos nós. E se falarmos nas tradições desta quadra a minha família não é uma exceção.Desde que me lembro este dia gira todo à volta da nossa família. E o centro da minha sempre foi a minha avó Madalena, a minha vovó Lena. Mas esta época do ano mostra-me ainda como o tempo é demasiado curto e cruel, principalmente quando deixamos de ter as pessoas que mais amamos. Em miúda lembro-me de acordar na véspera de Natal com a casa aquecida com a sua alegria, a sua voz rouca, o seu riso fácil, a caricia que me fazia na cara sempre que me cruzava com ela, com os seus olhos brilhantes de felicidade por nos ter a todos. Hoje reunimo-nos. Lembro-me de ter o pinheiro de Natal montado ao canto da sala perto da janela onde já tinham sido colocados diversos presentes à sua volta. Conversávamos e comíamos todos sentados à mesa esperando com ansiedade pelo toque do sino da Igreja do Campo Grande para continuarmos a celebração. Esse era o nosso dia, sentíamo-nos especiais.Na minha casa nunca “demos prendas” oferecíamos presentes, e cada um deles com um significado especial. Lembro-me de escrever uma carta para o Pai Natal dias antes e de a entregar à minha avó. Esta depois de a receber vestia o casaco e saía dizendo que a ia colocar no marco do correio para que chegasse ao Polo Norte a tempo e horas.Hoje sei que era ela a minha verdadeira Mãe Natal.É com saudades que me lembro de mais uma das tradições dessa noite, antes de me ir deitar colocava uma meia na chaminé da cozinha pois o menino Jesus também me queria deixar uma lembrança. Era um único presente, mas sempre o mais desejado.E no dia de Natal, uma vez mais, a minha avó conseguia encher a casa com a família e amigos para um lanche ajantarado.Foram tempos felizes dos quais me lembrarei sempre com saudade.Infelizmente as pessoas que amamos partem sem que o possamos evitar e é nestas alturas que sentimos mais a falta delas. E de ti vovó eu sinto mesmo muita, continuarás sempre a ser o centro do meu mundo, a estrela no topo da minha árvore.
Mas, se os tempos passam e as tradições se vão alterando sem que o possamos evitar, a minha casa não é uma exceção. Nestes novos tempos somos pagãos, católicos, ortodoxos e agnósticos, motivo que nos leva a começar a reunir no dia 21 de dezembro e acabar no dia 7 de janeiro.Continuamos a oferecer presentes e a cear em família, a dar graças por mais um ano na presença uns dos outros. E assim será mantendo sempre o espirito da vovó Lena vivo. É por isso que sei que naquela cadeira vazia ao meu lado ela está sentada a ver-nos. Sorrindo com as piadas do meu tio, as brincadeiras dos mais novos, com o facto de estarmos novamente juntos. E se fechar os olhos posso sentir a sua mão na minha face e o seu beijo quando chego e me despeço e nesse momento sou novamente a sua menina ansiosa pela chegada da noite.Feliz Natal a todos.
Mas, se os tempos passam e as tradições se vão alterando sem que o possamos evitar, a minha casa não é uma exceção. Nestes novos tempos somos pagãos, católicos, ortodoxos e agnósticos, motivo que nos leva a começar a reunir no dia 21 de dezembro e acabar no dia 7 de janeiro.Continuamos a oferecer presentes e a cear em família, a dar graças por mais um ano na presença uns dos outros. E assim será mantendo sempre o espirito da vovó Lena vivo. É por isso que sei que naquela cadeira vazia ao meu lado ela está sentada a ver-nos. Sorrindo com as piadas do meu tio, as brincadeiras dos mais novos, com o facto de estarmos novamente juntos. E se fechar os olhos posso sentir a sua mão na minha face e o seu beijo quando chego e me despeço e nesse momento sou novamente a sua menina ansiosa pela chegada da noite.Feliz Natal a todos.
Published on December 24, 2016 09:17
December 23, 2016
Festas Felizes Na Companhia Da Irmandade Da Cruz
Agradecia que os participantes na campanha acima indicada entrem em contacto comigo para o meu email.
Boas Festas
Boas Festas
Published on December 23, 2016 15:21
November 30, 2016
À conversa com o Aclamado Autor Amílcar Monteiro
No passado dia 11 de novembro, estive à conversa com o escritor Amílcar Monteiro na FNAC do Colombo. Tinha curiosidade em conhecer este novo autor do panorama nacional humorístico, felizmente acedeu encontrar-se comigo e só posso dizer que foi uma tarde muito bem passada. Quis saber o que o motiva para escrever, mas principalmente queria que me falasse em primeira mão de projetos futuros.
Contou-me que é filho único, que aos seis anos tirou o seu primeiro curso de escrita, leitor fervoroso de tudo desde as embalagens do leite até aos grandes clássicos literários, licenciado em Psicologia, terminada a universidade começou a frequentar cursos que o levariam à sua atual forma de escrita, inicialmente com o curso de escrita humorística de Ricardo Araújo Pereira e posteriormente das Produções Fictícias.
Faz stand up comedy, é praticante de artes marciais possivelmente para se poder defender de uma piada menos conseguida. Contudo para ele o mais importante continua a ser a sua forma de se relacionar com o mundo, onde o humor tem que estar sempre presente. E apesar de exercer diariamente a sua profissão de neuropsicólogo clínico, consegue desde 2007 escrever regularmente no seu blog bem como em diversos sites.
Considera “Não se brinca com coisas sérias” o seu livro “zero”, a sua forma de aprendizagem após sete anos de escrita e revisão, onde junta os seus melhores contos humorísticos “macabros”.
Porém o Aclamado Autor Amílcar Monteiro consegue fazê-lo com uma classe somente digna das grandes mentes deste século como o futuro próximo o confirmará. Foi-me ainda dito que contou com a ajuda de uma amiga na criação da capa, e a verdade é que não poderia ser outra. Coloquei-lhe três questões.
Comecei por perguntar-lhe como se descreveria. Confessou-me que se considera um tipo normal que gosta de escrever, especialmente humor, e que sempre que o faz tenta que seja algo refrescante, que surpreenda o leitor.
Como classificaria a sua escrita. Disse-me que está demasiado envolvido na sua escrita para a conseguir descrever. Necessitaria de distância para fazê-lo. Que se limita a escrever da forma que lhe parece mais clara para conseguir passar as suas ideias aos leitores “ideia que, normalmente é um disparate”.E para finalizar onde pensava estar daqui a um ano.
Por essa altura gostaria de estar a publicar o seu segundo livro ou até mesmo com esse segundo livro já publicado.
Acredito que esse seu último desejo se concretize possivelmente antes desse ano passar e confesso que o gostava de ver em breve com um programa seu. E isso não é de todo impossível afinal bem sabemos que diariamente surgem novas promessas nas mais diversas áreas e Amílcar Monteiro tem tudo para ser uma dessas pessoas que nos contagia com o seu humor acutilante e nos faz rir.
Aconselho que leiam o seu livro e que sintam em primeira mão como ele vos conseguirá surpreender.Só me resta agradecer-te Amílcar pela fantástica conversa e desejar-te muita sorte na realização de todos os teus projetos. Da minha parte fica um até breve ansiosa pela sequela do “Não se brinca com coisas sérias”.
E porque tal como tu acredito que a nossa sorte somos nós que a fazemos gostava de acabar com um dos teus pensamentos incluídos no livro apesar de ter a certeza que no teu caso será sempre com casa cheia. “Nos casinos da Rússia a mesa da roleta está sempre vazia”
In Jornal Nova Gazeta, 30 Novembro 2016
Contou-me que é filho único, que aos seis anos tirou o seu primeiro curso de escrita, leitor fervoroso de tudo desde as embalagens do leite até aos grandes clássicos literários, licenciado em Psicologia, terminada a universidade começou a frequentar cursos que o levariam à sua atual forma de escrita, inicialmente com o curso de escrita humorística de Ricardo Araújo Pereira e posteriormente das Produções Fictícias.
Faz stand up comedy, é praticante de artes marciais possivelmente para se poder defender de uma piada menos conseguida. Contudo para ele o mais importante continua a ser a sua forma de se relacionar com o mundo, onde o humor tem que estar sempre presente. E apesar de exercer diariamente a sua profissão de neuropsicólogo clínico, consegue desde 2007 escrever regularmente no seu blog bem como em diversos sites.
Considera “Não se brinca com coisas sérias” o seu livro “zero”, a sua forma de aprendizagem após sete anos de escrita e revisão, onde junta os seus melhores contos humorísticos “macabros”.
Porém o Aclamado Autor Amílcar Monteiro consegue fazê-lo com uma classe somente digna das grandes mentes deste século como o futuro próximo o confirmará. Foi-me ainda dito que contou com a ajuda de uma amiga na criação da capa, e a verdade é que não poderia ser outra. Coloquei-lhe três questões.
Comecei por perguntar-lhe como se descreveria. Confessou-me que se considera um tipo normal que gosta de escrever, especialmente humor, e que sempre que o faz tenta que seja algo refrescante, que surpreenda o leitor.
Como classificaria a sua escrita. Disse-me que está demasiado envolvido na sua escrita para a conseguir descrever. Necessitaria de distância para fazê-lo. Que se limita a escrever da forma que lhe parece mais clara para conseguir passar as suas ideias aos leitores “ideia que, normalmente é um disparate”.E para finalizar onde pensava estar daqui a um ano.
Por essa altura gostaria de estar a publicar o seu segundo livro ou até mesmo com esse segundo livro já publicado.
Acredito que esse seu último desejo se concretize possivelmente antes desse ano passar e confesso que o gostava de ver em breve com um programa seu. E isso não é de todo impossível afinal bem sabemos que diariamente surgem novas promessas nas mais diversas áreas e Amílcar Monteiro tem tudo para ser uma dessas pessoas que nos contagia com o seu humor acutilante e nos faz rir.
Aconselho que leiam o seu livro e que sintam em primeira mão como ele vos conseguirá surpreender.Só me resta agradecer-te Amílcar pela fantástica conversa e desejar-te muita sorte na realização de todos os teus projetos. Da minha parte fica um até breve ansiosa pela sequela do “Não se brinca com coisas sérias”.
E porque tal como tu acredito que a nossa sorte somos nós que a fazemos gostava de acabar com um dos teus pensamentos incluídos no livro apesar de ter a certeza que no teu caso será sempre com casa cheia. “Nos casinos da Rússia a mesa da roleta está sempre vazia”
In Jornal Nova Gazeta, 30 Novembro 2016
Published on November 30, 2016 06:52
November 24, 2016
À conversa com Brandon Sanderson
Brandon Sanderson é um escritor americano de fantasia. Um homem com cara de miúdo e uma escrita que nos consegue transportar para outros mundos onde tudo é possível. E consegue faze-lo com aquela facilidade com que só os grandes escritores sabem. Foi isso que no passado dia 07 de novembro na FNAC do Colombo tanto eu como todos aqueles que ali se encontravam, e eram muitos, tivemos o privilégio de lhe transmitir ao ouvi-lo falar sobre o seu trabalho e planos futuros.Entrou acompanhado do seu editor numa sala completa com os seus leitores e alguns curiosos, mas foi somente quando levantou o braço para saudar os presentes que o público lhe respondeu com uma salva de palmas ensurdecedora. Deu-nos a oportunidade de o ficarmos a conhecer um pouco melhor nesta sua curta passagem pelo nosso país, sabemos que se considera um “nerd”, que ficou viciado na leitura quando uma sua professora lhe deu um livro de fantasia para ler, livro esse que conserva até hoje em local de destaque. Faz muita pesquisa para todos os seus livros e que antes de os enviar para publicação os dá a ler em entendidos nas diversas matérias que estes abordem, tendo sempre em conta as suas opiniões. Utiliza um bloco de notas onde coloca os nomes de todos os seus personagens na medida em que estes já ultrapassam os 2000. Escreve vários livros ao mesmo tempo. Ocupa o tempo em que autografa os livros que a sua editora inglesa lhe envia para ir ouvindo livros áudio. Ficámos ainda a saber que a ideia para escrever Steal Heart lhe surgiu quando se deslocava para uma sessão de autógrafos, no preciso momento em que um carro parou à sua frente impedindo a sua passagem e passo a citar o que disse na altura: “People in front of me you’re very luck I don’t have superpowers” (tu aí à minha frente tens muita sorte que eu não tenha superpoderes).Recebe frequentemente ameaças de morte quando destrói uma personagem. Garantiu-nos, contudo, que durante o dia que passou em território nacional escreveu algumas páginas do próximo livro. E sabendo como Portugal pode ser inspirador acredito que em breve nos possa surpreender com um livro ou pelo menos algumas páginas cuja acção se desenrole por aqui.Em hora de despedida julgo que é merecido um agradecimento especial à sua editora portuguesa a Saída de Emergência, por apostar forte na divulgação dos seus escritores e da literatura em geral.
Convido-vos a visitarem a página de Brandon Sanderson bem como a da Saída de Emergência para que possam ficar a conhecê-lo melhor e desafio-vos a adquirirem um dos seus livros e começarem desde hoje a lê-lo, acredito que vos surpreenderá.
In Jornal Nova Gazeta, 23 Novembro 2016
Convido-vos a visitarem a página de Brandon Sanderson bem como a da Saída de Emergência para que possam ficar a conhecê-lo melhor e desafio-vos a adquirirem um dos seus livros e começarem desde hoje a lê-lo, acredito que vos surpreenderá.
In Jornal Nova Gazeta, 23 Novembro 2016
Published on November 24, 2016 14:08
November 23, 2016
EuroMilionária
Esta segunda-feira acordei a pensar que chegou a minha vez de ser milionária e isso é algo para acontecer já esta semana, quero começar a gozar os bons prazeres da vida que só o dinheiro proporciona.
Fiz uma lista que penso ser o primeiro passo para um futuro milionário bem-sucedido, escrevi tudo o que pretendo comprar e todos os locais que quero visitar.
Decidi que o primeiro item da minha curta lista de duas páginas teria que ser uma casa com piscina quem sabe até mesmo um velho solar ou um palacete, tinha era que ser na Boca do Inferno. Nesse momento comecei a pensar e se calhar não devia passar o patamar dos 600 mil euros, para já chegava ter que dar vinte por cento do bolo ao estado, não queria ter que entregar o resto em IMI. Se calhar o melhor mesmo era continuar no meu apartamento em Benfica onde afinal até já pago tanto imposto como o Armando Pereira e eu não sou dona da PT só de mim mesma.
No segundo ponto da minha lista conclui que preciso urgentemente de um carro novo. Mas não pode ser um qualquer, tem que ser um topo de gama, o ideal seria um jipe com bastantes cavalos que ronronasse como um gatinho. Mas aqui o problema são as constantes oscilações dos valores petrolíferos, é que mesmo com tanto dinheiro não me compensa ir a Espanha atestar o depósito. O mais seguro para já será ficar com o meu velho chaço a gasóleo sempre é melhor do que andar a pé, nesse momento percebi que entrava num dos últimos pontos da lista o personal trainer e parei.
Olhava para a televisão expectante com as mãos suadas e o coração a bater mais forte segurava aqueles números como se a minha vida dependesse deles. Nesse momento entravam os anúncios ainda não era chegada a hora da verdade pelo que respirei fundo e aguardei.
Sei que quero viajar, para todos aqueles locais onde ainda não fui e a partir deste dia sempre em primeira classe. Champanhe, almofadas, espaço para os pés. Preciosismos na medida em que não gosto de champanhe, não consigo dormir a bordo e os meus pés não precisam assim de tanto espaço. Além de que nos tempos que correm o local para onde vamos a seguir pode ser uma verdadeira roleta russa e ser raptada para me extorquirem o dinheiro que ganhei a custo com uma misera aposta de dois euros e meio não me parece saudável.
Nesse instante começava na televisão o tão ansiado momento, já a apresentadora sorria como se soubesse quem seria o feliz sorteado, as bolas rolavam hipnotizando-me, tinha o corpo hirto e a mente entorpecida, e um a um os números lá iam saindo confirmando-me as minhas piores suspeitas, ainda não foi desta.
Suspirei contrariada e amassei o papel com os números atirando-o para que os meus gatos pudessem brincar afinal podia não me ter saído a mim o grande prémio, mas para eles é como se tivessem ganho o jackpot.
E já na próxima sexta-feira irei fazer uma actualização dessa mesma lista. Afinal sou persistente a roçar a casmurrice e sei que os diamantes continuam a ser os melhores amigos da mulher, bem como as casas, os carros, as viagens…
E sem que o meu marido saiba para já, pois não tem necessidade de sofrer por antecipação, eu ainda faço tenção de tomar banho com o tio Patinhas pelo menos uma vez na vida.
Crónica in Diário do Distrito, 23 Novembro 2016
Fiz uma lista que penso ser o primeiro passo para um futuro milionário bem-sucedido, escrevi tudo o que pretendo comprar e todos os locais que quero visitar.
Decidi que o primeiro item da minha curta lista de duas páginas teria que ser uma casa com piscina quem sabe até mesmo um velho solar ou um palacete, tinha era que ser na Boca do Inferno. Nesse momento comecei a pensar e se calhar não devia passar o patamar dos 600 mil euros, para já chegava ter que dar vinte por cento do bolo ao estado, não queria ter que entregar o resto em IMI. Se calhar o melhor mesmo era continuar no meu apartamento em Benfica onde afinal até já pago tanto imposto como o Armando Pereira e eu não sou dona da PT só de mim mesma.
No segundo ponto da minha lista conclui que preciso urgentemente de um carro novo. Mas não pode ser um qualquer, tem que ser um topo de gama, o ideal seria um jipe com bastantes cavalos que ronronasse como um gatinho. Mas aqui o problema são as constantes oscilações dos valores petrolíferos, é que mesmo com tanto dinheiro não me compensa ir a Espanha atestar o depósito. O mais seguro para já será ficar com o meu velho chaço a gasóleo sempre é melhor do que andar a pé, nesse momento percebi que entrava num dos últimos pontos da lista o personal trainer e parei.
Olhava para a televisão expectante com as mãos suadas e o coração a bater mais forte segurava aqueles números como se a minha vida dependesse deles. Nesse momento entravam os anúncios ainda não era chegada a hora da verdade pelo que respirei fundo e aguardei.
Sei que quero viajar, para todos aqueles locais onde ainda não fui e a partir deste dia sempre em primeira classe. Champanhe, almofadas, espaço para os pés. Preciosismos na medida em que não gosto de champanhe, não consigo dormir a bordo e os meus pés não precisam assim de tanto espaço. Além de que nos tempos que correm o local para onde vamos a seguir pode ser uma verdadeira roleta russa e ser raptada para me extorquirem o dinheiro que ganhei a custo com uma misera aposta de dois euros e meio não me parece saudável.
Nesse instante começava na televisão o tão ansiado momento, já a apresentadora sorria como se soubesse quem seria o feliz sorteado, as bolas rolavam hipnotizando-me, tinha o corpo hirto e a mente entorpecida, e um a um os números lá iam saindo confirmando-me as minhas piores suspeitas, ainda não foi desta.
Suspirei contrariada e amassei o papel com os números atirando-o para que os meus gatos pudessem brincar afinal podia não me ter saído a mim o grande prémio, mas para eles é como se tivessem ganho o jackpot.
E já na próxima sexta-feira irei fazer uma actualização dessa mesma lista. Afinal sou persistente a roçar a casmurrice e sei que os diamantes continuam a ser os melhores amigos da mulher, bem como as casas, os carros, as viagens…
E sem que o meu marido saiba para já, pois não tem necessidade de sofrer por antecipação, eu ainda faço tenção de tomar banho com o tio Patinhas pelo menos uma vez na vida.
Crónica in Diário do Distrito, 23 Novembro 2016
Published on November 23, 2016 16:20
November 15, 2016
Sexto Sentido
Dizem que vivemos várias vidas e que nunca nos lembramos delas para que possamos de alguma forma corrigir o que deixámos inacabado. Mas como será possível garantir que desta vez agiremos de acordo com os nossos desígnios? Que desta feita será a última vez que percorreremos o nosso atribulado percurso sem falhar, fazendo desta a nossa última passagem?Será que as pessoas que nos acompanham agora foram as mesmas que já o fizeram nas nossas vidas passadas?Gosto de pensar que das vezes que o meu sexto sentido me disse que de alguma forma já as conhecia, que não me tivesse enganado. Será esta a minha última passagem? A minha intuição diz-me que não.Deito-me e fecho os olhos, quero viajar, quero que a minha memória me leve para lá do véu das minhas lembranças, que me permita atravessar a névoa dos tempos e independentemente de quem possa ter sido ter sempre a certeza que estou aqui novamente para acabar o que deixei inacabado.
“Sigo por um estreito e escuro caminho, estico as mãos, mas não toco em nada. Tudo à minha volta é vazio, consigo senti-lo. Fecho os olhos com maior intensidade quero deixar-me levar para lá desse nevoeiro. Quero que se abra para mim e me mostre o que se esconde na infinitude dessas Eras passadas.Sinto que me vai ser dada a oportunidade de ver o que tanto procuro.Sou banhada por uma luz forte e quente que me embala no meu caminho. Ofuscada por um calor tão humano e no entanto tão ausente, estou só. Ou não estarei?Tenho a apurada percepção de que alguém me acompanha, inundada por um amor que não consigo abraçar. Deixo-me levar. Sei que ali estou protegida, cheguei a uma casa há muito abandonada.Abro os meus sentidos. A minha acutilante perspicácia que sempre me deu conselhos certeiros. Sinto-me segura porém não sei onde.Fisicamente continuo deitada no meu sofá de olhos bem cerrados.Pressinto o que vai acontecer mesmo antes que aconteça. Continuo rodeada daquela luz quente e protetora. Sinto que estou perto muito perto de saber quem fui. Deixo-me guiar.E quando as cerradas névoas se abrem um pouco é-me permitido ver que fui várias pessoas, fui vilã, vivi em reclusão afastada de olhares curiosos, ajudei com o gado, cultivei terras, fui neta, filha, irmã, mãe. Fui amante, esposa. Morri, vi morrer, matei. Fui cobiçada, cobicei. Fui rica, fui pobre. Ajudei, maltratei. Vivi várias vidas e morri outras tantas.Vi tudo em flashes. E antes que me pudesse aperceber fui novamente conduzida para o meio daquela névoa que me afastava da luz quente que de mim se despedia com a promessa de um até já.”
E sempre guiada pelo meu instinto quase sempre infalível e certeiro, abri a medo os olhos. Continuava deitada no meu sofá. E do fundo das minhas memórias soube que a minha passagem ainda não estava terminada, uma voz persistia na minha cabeça dizendo-me para confiar no meu sexto sentido pois seria ele a levar-me de volta a casa, ao calor das suas almas e à ausência de incertezas.Sei que elas me esperam. E quando acabar esta minha nova e não derradeira passagem reencontrarei quem tanto me ama e protege.
O sexto véu dos sentidos.
In Colectânea Sentidos, Volume I, Sexto Sentido, Editora Lua de Marfim, Novembro 2016
“Sigo por um estreito e escuro caminho, estico as mãos, mas não toco em nada. Tudo à minha volta é vazio, consigo senti-lo. Fecho os olhos com maior intensidade quero deixar-me levar para lá desse nevoeiro. Quero que se abra para mim e me mostre o que se esconde na infinitude dessas Eras passadas.Sinto que me vai ser dada a oportunidade de ver o que tanto procuro.Sou banhada por uma luz forte e quente que me embala no meu caminho. Ofuscada por um calor tão humano e no entanto tão ausente, estou só. Ou não estarei?Tenho a apurada percepção de que alguém me acompanha, inundada por um amor que não consigo abraçar. Deixo-me levar. Sei que ali estou protegida, cheguei a uma casa há muito abandonada.Abro os meus sentidos. A minha acutilante perspicácia que sempre me deu conselhos certeiros. Sinto-me segura porém não sei onde.Fisicamente continuo deitada no meu sofá de olhos bem cerrados.Pressinto o que vai acontecer mesmo antes que aconteça. Continuo rodeada daquela luz quente e protetora. Sinto que estou perto muito perto de saber quem fui. Deixo-me guiar.E quando as cerradas névoas se abrem um pouco é-me permitido ver que fui várias pessoas, fui vilã, vivi em reclusão afastada de olhares curiosos, ajudei com o gado, cultivei terras, fui neta, filha, irmã, mãe. Fui amante, esposa. Morri, vi morrer, matei. Fui cobiçada, cobicei. Fui rica, fui pobre. Ajudei, maltratei. Vivi várias vidas e morri outras tantas.Vi tudo em flashes. E antes que me pudesse aperceber fui novamente conduzida para o meio daquela névoa que me afastava da luz quente que de mim se despedia com a promessa de um até já.”
E sempre guiada pelo meu instinto quase sempre infalível e certeiro, abri a medo os olhos. Continuava deitada no meu sofá. E do fundo das minhas memórias soube que a minha passagem ainda não estava terminada, uma voz persistia na minha cabeça dizendo-me para confiar no meu sexto sentido pois seria ele a levar-me de volta a casa, ao calor das suas almas e à ausência de incertezas.Sei que elas me esperam. E quando acabar esta minha nova e não derradeira passagem reencontrarei quem tanto me ama e protege.
O sexto véu dos sentidos.
In Colectânea Sentidos, Volume I, Sexto Sentido, Editora Lua de Marfim, Novembro 2016
Published on November 15, 2016 07:47
[Cinemania] "O Herói de Hacksaw Ridge" [Crítica de Cinema]
Texto: Madalena Condado
Foto: Nós Audiovisuais - Direitos Reservados
Pelas magistrais mãos de Mel Gibson chega-nos mais um filme onde se juntam todos os ingredientes necessário para vir a ser um êxito de bilheteiras, ou não contasse ele com nomes como Hugo Weaving, Rachel Griffiths, Vince Vaughn, Richard Roxburgh, Andrew Garfield entre tantos outros.
Hacksaw Ridge ao contrário de todos os filmes de guerra anteriormente produzidos tem a excepcional capacidade de nos mostrar um lado humano no meio de tanta destruição e morte. Tem tudo para poder ser considerado um filme antiguerra ou não fosse ele uma póstuma homenagem a Desmond Doss o primeiro militar Objector de Consciência a receber a Medalha de Honra pela coragem demonstrada em pleno campo de batalha.
Desmond Doss foi um verdadeiro herói de guerra americano que na batalha de Okinawa em que os soldados tinham que escalar a escarpa de Maeda renomeada pelos americanos de Hacksaw Ridge salvou sozinho 75 soldados feridos sem nunca pegar numa arma.
Este filme além de nos mostrar o legado de um verdadeiro pacifista, acaba por ser um tributo à sua própria fé, coragem e valor. E nada melhor para representar todos essas características de Desmond Doss do que a frase por ele utilizada para lhe dar força na árdua tarefa que teve ao salvar todos aqueles homens “Ajuda-me a salvar mais um”.
In Jornal Nova Gazeta, 10 Novembro 2016
Foto: Nós Audiovisuais - Direitos Reservados
Pelas magistrais mãos de Mel Gibson chega-nos mais um filme onde se juntam todos os ingredientes necessário para vir a ser um êxito de bilheteiras, ou não contasse ele com nomes como Hugo Weaving, Rachel Griffiths, Vince Vaughn, Richard Roxburgh, Andrew Garfield entre tantos outros.
Hacksaw Ridge ao contrário de todos os filmes de guerra anteriormente produzidos tem a excepcional capacidade de nos mostrar um lado humano no meio de tanta destruição e morte. Tem tudo para poder ser considerado um filme antiguerra ou não fosse ele uma póstuma homenagem a Desmond Doss o primeiro militar Objector de Consciência a receber a Medalha de Honra pela coragem demonstrada em pleno campo de batalha.
Desmond Doss foi um verdadeiro herói de guerra americano que na batalha de Okinawa em que os soldados tinham que escalar a escarpa de Maeda renomeada pelos americanos de Hacksaw Ridge salvou sozinho 75 soldados feridos sem nunca pegar numa arma.
Este filme além de nos mostrar o legado de um verdadeiro pacifista, acaba por ser um tributo à sua própria fé, coragem e valor. E nada melhor para representar todos essas características de Desmond Doss do que a frase por ele utilizada para lhe dar força na árdua tarefa que teve ao salvar todos aqueles homens “Ajuda-me a salvar mais um”.
In Jornal Nova Gazeta, 10 Novembro 2016
Published on November 15, 2016 05:07
November 10, 2016
Área 51
Foi com surpresa que esta madrugada vi chegar ao Terreiro do Paço “A Liberdade”, mais conhecida internacionalmente por Estátua da Liberdade, trazia como bagagem somente a sua tocha e coroa que me garantiu nunca ter sido recebida num concurso de miss universo. Sendo ela filha de pai francês, amiga de um número incontável de imigrantes e nunca tendo requerido cidadania americana resolveu partir para o velho continente que a viu nascer com receio de represálias devido ao facto de ser imigrante, mulher, gorda e vestir-se de forma esquisita.
Contou-me como numa noite toda a sua existência bem como a de tantos tinha sido colocada em causa. Temia pela construção do prometido muro que seria pago por terceiros, pelo “drenar do pântano” podia dar-se o caso de ser construído um casino no seu lugar, a mudança de Obamacare para Trumpcare, o ensino nas universidades da cadeira de fuga aos impostos, a retirada das tropas americanas de locais de guerra para a possível colocação de mão de obra treinada na extração de gás e de xisto, a transformação da Casa Branca na casa da Barbie e do Ken, o ensinar o filho Barron a carregar no botão vermelho para iniciar os “jogos de guerra” mas principalmente temia pela desagregação dos Estados Unidos para Estados Desunidos.
E antes de se despedir e continuar a sua viagem ainda deixou no ar a confirmação à dúvida que nos persegue a todos desde sempre, o significado da fantástica cor laranja da sua pele. É verdade que eles estão entre nós e agora até nos governam.
“Beam me up Scotty”
Crónica in Diário do Distrito, 09 Novembro 2016
Contou-me como numa noite toda a sua existência bem como a de tantos tinha sido colocada em causa. Temia pela construção do prometido muro que seria pago por terceiros, pelo “drenar do pântano” podia dar-se o caso de ser construído um casino no seu lugar, a mudança de Obamacare para Trumpcare, o ensino nas universidades da cadeira de fuga aos impostos, a retirada das tropas americanas de locais de guerra para a possível colocação de mão de obra treinada na extração de gás e de xisto, a transformação da Casa Branca na casa da Barbie e do Ken, o ensinar o filho Barron a carregar no botão vermelho para iniciar os “jogos de guerra” mas principalmente temia pela desagregação dos Estados Unidos para Estados Desunidos.
E antes de se despedir e continuar a sua viagem ainda deixou no ar a confirmação à dúvida que nos persegue a todos desde sempre, o significado da fantástica cor laranja da sua pele. É verdade que eles estão entre nós e agora até nos governam.
“Beam me up Scotty”
Crónica in Diário do Distrito, 09 Novembro 2016
Published on November 10, 2016 09:33


