Os Cus de Judas Quotes
Os Cus de Judas
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António Lobo Antunes3,292 ratings, 3.97 average rating, 351 reviews
Os Cus de Judas Quotes
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“I'm just giving you some spiel, the ludicrous plot of a novel, a story I invented to touch your heart—one-third bullshit, one-third booze, and one-third genuine tenderness, you know the kind of thing.”
― The Land at the End of the World
― The Land at the End of the World
“По това време в моя град, кастриран от полицията и цензурата, хората ставаха на съсиреци от студ по автобусните спирки и изпускаха от устата си облачета пара с надписи от комикс, забранен от правителството.”
― Os Cus de Judas
― Os Cus de Judas
“E queria estar a treze mil quilómetros dali, a vigiar o sono da minha filha nos panos do seu berço, queria não ter nascido para assistir àquilo, à idiota e colossal inutilidade daquilo, queria achar-me em Paris a fazer revoluções no café, ou a doutorar-me em Londres e a falar do meu país com a ironia horrivelmente provinciana do Eça, falar na choldra do meu país para amigos ingleses, franceses, suíços, portugueses, que não tinham experimentado no sangue o vivo e pungente medo de morrer, que nunca viram cadáveres destroçados por minas ou balas. O capitão de óculos moles repetia na minha cabeça A revolução faz-se por dentro, e eu olhava o soldado sem cara a reprimir os vómitos que me cresciam na barriga, e apetecia-me estudar Economia, ou Sociologia, ou a puta que o pariu em Vincennes, aguardar tranquilamente, desdenhando a minha terra, que os assassinados a libertassem, que os chacinados de Angola expulsassem a escória cobarde que escravizava a minha terra, e regressar, então, competente, grave, sábio, social-democrata, sardónico, transportando na mala dos livros a esperteza fácil da última verdade de papel.”
― Os Cus de Judas
― Os Cus de Judas
“Já reparou que a esta hora da noite e a este nível do álcool o corpo se começa a emancipar de nós, a recusar-se a acender o cigarro, a segurar o copo numa incerteza tateante, a vaguear dentro da roupa oscilações de gelatina? O encanto dos bares, não é?, consiste em, a partir das duas da manhã, não ser a alma a libertar-se do seu invólucro terreste e a seguir verticalmente para o céu no esvoaçar místico de cortinas brancas das mortes do missal, mas a carne que se livra, um pouco espantada, do espírito, e inicia uma dança pastosa de estátua de cera que se funde até terminar nas lágrimas de remorso da aurora, quando a primeira luz oblíqua nos revela, com implacabilidade radioscópica, o triste esqueleto da solidão sem remédio.”
― Os Cus de Judas
― Os Cus de Judas
“Бихме могли да остареем един до друг и до телевизора в хола, с който ще образуваме върховете на домашен равностранен триъгълник ... Бихме могли взаимно да си разтриваме папагалските клюнове с балсам Менопаузол, едновременно да отмерваме след хранене същите капки за кръвно, а в неделя след киното, благодарение на последната целувка в индийския филм, да се сливаме в гърчави прегръдки на новородени и да свистим като кипнал чайник, процеждайки измъчени бронхити през изкуствените си ченета. А аз, излегнат по гръб на ортопедичния дюшек, сведен до твърда дъска на факир, за да избегна бодежите на ишиаса, ще си спомням какъв здрав и буен младеж съм бил преди много години, как съм можел да повторя от пилешкото в гърне, без да получа киселини...”
― Os Cus de Judas
― Os Cus de Judas
“Pela minha parte, sabe como é, não peço tanto à vida: as minhas filhas crescem numa casa de que cada vez menos me recordo, de móveis bebidos pelas águas de sombra do passado, as mulheres que encontrei depois abandonei-as ou abandonaram-me numa tranquila decepção mútua em que não houve sequer lugar para esse tipo de ressentimento que é como que o sinal retrospectivo de uma espécie de amor, e envelheço sem graça num andar demasiado grande grande para mim, observando à noite, da secretária vazia, as palpitações do rio, através da varanda fechada cujo vidro me devolve o reflexo de um homem imóvel, de queixo nas mãos, em que me recuso a reconhecer-me, e que teima em fitar-me numa obstinação resignada.”
― Os Cus de Judas
― Os Cus de Judas
“The fear of returning to my country makes my throat tighten because, you see, I have no place anywhere, I went too far away for too long ever to belong here again, to these autumns of rain and Sunday Masses, these long winters as dull as blown lightbulbs, these faces that I can barely recognize beneath all the lines and wrinkles, clearly invented by some ironic caricaturist. Rootless, I float between two continents, both of which spurn me, I’m searching for an empty space in which I might drop anchor and which could, for example, be the long mountain range of your body, some recess or hollow in your body where I could lay my shamefaced hope.”
― Os Cus de Judas
― Os Cus de Judas
“In Mangando and Marimbanguengo, I saw the full misery and evil of the war, the pointlessness of it all, in the soldiers’ eyes, like those of wounded birds, in their state of despair and abandon, in the second lieutenant in shorts sprawled on the table, the stray dogs gobbling up leftovers on the parade ground, the flag hanging from the flagpole like a limp penis, I saw it in the twenty-year-old men sitting in the shade in silence, like old men in parks...”
― Os Cus de Judas
― Os Cus de Judas
“No, seriously, happiness, that vague state resulting from an impossible convergence of parallel lines in the form of a good digestion and a smug egotism untouched by regrets, still seems to me— for I belong to the glum category of the sad and restless, eternally waiting for an explosion or a miracle—something as abstract and strange as innocence, justice, honor, those profound, grandiloquent, and ultimately empty concepts that the family, school, the catechism, and the State solemnly imposed upon me so as to tame me more easily, to nip in the bud, if I may put it like that, any stirrings of protest and rebellion.”
― Os Cus de Judas
― Os Cus de Judas
“Éramos peixes, somos peixes, fomos sempre peixes, equilibrados entre duas águas na busca de um compromisso impossível entre a inconformidade e a resignação, nascidos sob o signo da Mocidade Portuguesa e do seu patriotismo veemente e estúpido de pacotilha, alimentados culturalmente pelo ramal da Beira Baixa, os rios de Moçambique e as serras do sistema Galaico-Duriense, espiados pelos mil olhos ferozes da Pide, condenados ao consumo de jornais que a censura reduzia a louvores melancólicos ao relento de sacristia de província do Estado Novo, e jogados por fim na violência paranóica da guerra, ao som de marchas guerreiras e dos discursos heróicos dos que ficavam em Lisboa, combatendo, combatendo corajosamente o comunismo nos grupos de casais do prior, enquanto nós, os peixes, morríamos nos cus de Judas uns após outros, tocava-se um fio de tropeçar, uma granada pulava e dividia-nos ao meio, trás, o enfermeiro sentado na picada fitava estupefacto os próprios intestinos que segurava nas mãos, uma coisa amarela e gorda e repugnante quente nas mãos, o apontador de metralhadora de garganta furada continuava a disparar, chegava-se sem vontade de combater ninguém, tolhido de medo, e depois das primeiras baixas saía-se para a mata por raiva na ânsia de vingar a perna do Ferreira e o corpo mole e de repente sem ossos do Macaco, (...)”
― Os Cus de Judas
― Os Cus de Judas
“(...) em toda a parte do mundo a que aportamos vamos assinalando a nossa presença aventureira através de padrões manuelinos e de latas de conserva vazias, numa subtil combinação de escorbuto heróico e de folha-de-flandres ferrugenta. Sempre apoiei que se erguesse em qualquer praça adequada do país um monumento ao escarro, escarro-busto, escarro-marechal, escarro-poeta, escarro-homem de Estado, escarro-equestre, algo que contribua, no futuro, para a perfeita definição do perfeito português: gabava-se de fornicar e escarrava. Quanto à filosofia, minha cara amiga, basta-nos o artigo de fundo do jornal, tão rico de ideias como o deserto do Gobi de esquimós. De modo que, de cérebro exaurido por raciocínios complicados, tomamos ampolas bebíveis às refeições a fim de conseguir pensar.”
― Os Cus de Judas
― Os Cus de Judas
“Apetece-lhe outro drambuie? Falar em ampolas bebíveis dá-me sempre sede de líquidos xaroposos, amarelos, na esperança insensata de descobrir, por intermédio deles e da suave e jovial tontura que me proporcionam o segredo da vida e das pessoas, a quadratura do círculo das emoções. Por vezes, ao sexto ou sétimo cálice, sinto que quase o consigo, que estou prestes a consegui-lo, que as pinças canhestras do meu entendimento vão colher, numa cautela cirúrgica, o delicado núcleo do mistério, mas logo de imediato me afundo no júbilo informa de uma idiotia pastosa a que me arranco no dia seguinte, a golpes de aspirina e sais de frutos, para tropeçar nos chinelos a caminho do emprego, carregando comigo a opacidade irremediável da minha existência, tão densa de um lodo de enigmas como a pasta de açúcar na chávena matinal. Nunca lhe aconteceu isto, sentir que está perto, que vai lograr num segundo a aspiração adiada e eternamente perseguida anos a fio, o projecto que é ao mesmo tempo o seu desespero e a sua esperança, estender a mão para agarrá-lo numa alegria incontrolável e tombar, de súbito, de costas, de dedos cerrados sobre nada, à medida que a aspiração ou o projecto se afastam tranquilamente de si no trote miúdo da indiferença, sem a fitarem seque? Mas talvez que você não conheça essa espécie horrorosa de derrota, talvez que a metafísica constitua apenas para si um incómodo tão passageiro como um comichão efémera, talvez que a habite a jubilosa leveza dos botes ancorados, balouçando devagar numa cadência autónoma de berços. Uma das coisas, aliás, que me encanta em si, permita-me que lho afirme, é a inocência, não a inocência inocente das crianças e dos polícias, feita de uma espécie de virgindade interior obtida à causa da credulidade ou da estupidez, mas a inocência sábia, resignada, quase vegetal, diria, dos que aguardam dos outros e deles próprios o mesmo que você e eu, aqui sentados, esperamos do empregado que se dirige para nós chamado pelo meu braço no ar de bom aluno crónico: uma vaga atenção distraída e o absoluto desdém pela magra gorjeta da nossa gratidão.”
― Os Cus de Judas
― Os Cus de Judas
“Une pendule inlocalisable perdue parmi les ténèbres des armoires laissait s'égoutter des heures étouffées dans un quelconque couloir lointain encombré de malles de bois précieux et conduisant à des chambres raides et humides où le cadavre de Proust flottait encore, éparpillant dans l'air raréfié un relent usé d'enfance.”
― Os Cus de Judas
― Os Cus de Judas
“If, for example, you and I were anteaters, rather than two people sitting in the corner of a bar, I might feel more comfortable with your silence, with your motionless hands holding your glass, with your glazed fish eyes fixing now on my balding head and now on my navel, we might be able to understand each other better in a meeting of restless snouts sniffing halfheartedly at the concrete for nonexistent insects, we might come together, under cover of darkness, in acts of sexual coitus as sad as Lisbon nights, when the Neptunes in the lakes slough off the mud and slime and scan the deserted squares with blank, eager, rust-colored eyes. Perhaps you would finally tell me about yourself. Perhaps behind your Cranach brow there lies sleeping a secret fondness for rhinoceroses. Perhaps, if you felt my body, you would discover that I had been suddenly transformed into a unicorn, and I would embrace you, and you would flap startled arms, like a butterfly transfixed by a pin, your voice grown husky with desire. We would buy tickets for the train that travels around the zoo, from creature to creature, with its clockwork engine, an escapee from some provincial haunted castle, and we would wave, as we passed, at the grotto-cum-crib of those recycled carpets—the polar bears. We would observe with an ophthalmological eye the baboons' anal conjunctivitis, like eyelids inflamed with combustible hemorrhoids. We would kiss outside the lions' den, where the lions—moth-eaten old overcoats—would curl their lips to reveal toothless gums. I would stroke your breasts in the oblique shade cast by the foxes, you would buy me an ice cream on a stick from the clowns' enclosure, where they, eyebrows permanently arched, exchanged blows to the tragic accompaniment of a saxophone. And that way we would have recovered a little of the childhood that belongs to neither of us and that insists on whizzing down the children's slide with a laugh that reaches us now as an occasional faint, almost angry echo.”
― Os Cus de Judas
― Os Cus de Judas
“Por vezes, ao sexto ou sétimo cálice, sinto que quase o consigo, que estou prestes a consegui-lo, que as pinças canhestras do meu entendimento vão colher, numa cautela cirúrgica, o delicado núcleo do mistério, mas
logo de imediato me afundo no júbilo informe de uma idiotia pastosa a que me arranco no dia seguinte, a golpes de aspirina e sais de frutos, para tropeçar nos chinelos a
caminho do emprego, carregando comigo a opacidade irremediável da minha existência,
tão densa de um lodo de enigmas como pasta de açúcar na chávena matinal. Nunca lhe aconteceu isto, sentir que está perto, que vai lograr num segundo a aspiração adiada e eternamente perseguida anos a fio, o projeto que é ao mesmo tempo o seu desespero e a sua esperança, estender a mão para agarrá-lo numa alegria incontrolável e tombar, de súbito, de costas, de dedos cerrados sobre nada, à medida que a aspiração ou o projecto se afastam tranquilamente de si no trote miúdo da indiferença, sem a fitarem sequer?
Mas talvez que você não conheça essa espécie horrorosa de derrota, talvez que a
metafísica constitua apenas para si um incômodo tão passageiro como uma comichão efémera, talvez que a habite a jubilosa leveza dos botes ancorados, balouçando devagar
numa cadência autônoma de berços. Uma das coisas, aliás, que me encanta em si, permita-me que lho afirme, é a inocência, não a inocência inocente das crianças e dos
polícias, feita de uma espécie de virgindade interior obtida à custa da credulidade ou da
estupidez, mas a inocência sábia, resignada, quase vegetal, diria, dos que aguardam dos
outros e deles próprios o mesmo que você e eu, aqui sentados, esperamos do empregado
que se dirige para nós chamado pelo meu braço no ar de bom aluno crônico: uma vaga
atenção distraída e o absoluto desdém pela magra gorjeta da nossa gratidão.”
― Os Cus de Judas
logo de imediato me afundo no júbilo informe de uma idiotia pastosa a que me arranco no dia seguinte, a golpes de aspirina e sais de frutos, para tropeçar nos chinelos a
caminho do emprego, carregando comigo a opacidade irremediável da minha existência,
tão densa de um lodo de enigmas como pasta de açúcar na chávena matinal. Nunca lhe aconteceu isto, sentir que está perto, que vai lograr num segundo a aspiração adiada e eternamente perseguida anos a fio, o projeto que é ao mesmo tempo o seu desespero e a sua esperança, estender a mão para agarrá-lo numa alegria incontrolável e tombar, de súbito, de costas, de dedos cerrados sobre nada, à medida que a aspiração ou o projecto se afastam tranquilamente de si no trote miúdo da indiferença, sem a fitarem sequer?
Mas talvez que você não conheça essa espécie horrorosa de derrota, talvez que a
metafísica constitua apenas para si um incômodo tão passageiro como uma comichão efémera, talvez que a habite a jubilosa leveza dos botes ancorados, balouçando devagar
numa cadência autônoma de berços. Uma das coisas, aliás, que me encanta em si, permita-me que lho afirme, é a inocência, não a inocência inocente das crianças e dos
polícias, feita de uma espécie de virgindade interior obtida à custa da credulidade ou da
estupidez, mas a inocência sábia, resignada, quase vegetal, diria, dos que aguardam dos
outros e deles próprios o mesmo que você e eu, aqui sentados, esperamos do empregado
que se dirige para nós chamado pelo meu braço no ar de bom aluno crônico: uma vaga
atenção distraída e o absoluto desdém pela magra gorjeta da nossa gratidão.”
― Os Cus de Judas
“Como quando se tosse nas garagens à noite,
pensei, e se sente o peso insuportável da própria solidão, nas orelhas, sob a forma de
estampidos reboantes, (...).”
― Os Cus de Judas
pensei, e se sente o peso insuportável da própria solidão, nas orelhas, sob a forma de
estampidos reboantes, (...).”
― Os Cus de Judas
“Движението на мамините куки, нижещи пуловери с дрънкане на домашни рапири, притежава за мен неизчерпаемото очарование на огъня в камината или на морето, чието вечно различно еднообразие ме хипнотизира.”
― Os Cus de Judas
― Os Cus de Judas
“Случвало ли ви се е да мечтаете с подпрени лакти върху някой от тези отвратителни плотове и да приключите деня на някой трети етаж (..), където чувате как никне собствената ви брада в пустите вечери? Преживявали ли сте ежедневната смърт да се събуждате всяка сутрин до човек, когото мразите вяло? Да тръгвате заедно на работа с колата недоспали, натежали вече от разочарование и умора, изпразнени от думи, от чувства, от живот? Тогава представете си, че изведнъж, ненадейно, целият този дребничък свят, цялата тази паяжина от тъжни навици, цялата тази смалена тъга от преспапиета, в които вали сняг, в които еднообразно се сипе сняг, всичко това се изпари, корените, които ви вкопчват в примирение с везана възглавничка, изчезнат, а брънките, които ви свързват с досадни вам хора, се скъсат и вие се събудите в камион, вярно, не много удобен и пълен с войници, наистина, но понесъл се сред невероятен пейзаж, където всичко се рее - цветовете, дърветата, огромните очертания на нещата, където небето разкрива и скрива стълбища от облаци, в които погледът се препъва, докато падне възнак като голяма прехласната птица.”
― Os Cus de Judas
― Os Cus de Judas
“Можете ли да обичате? Извинете, въпросът ми е глупав, всички жени могат да обичат, а онези, които не могат, обичат себе си чрез другите, а това на практика и поне през първите месеци почти не се отличава от истинската привързаност. Не ми обръщайте внимание, виното върши своето и след малко ще ви помоля да се омъжите за мен - обикновено така става. Когато съм много самотен или съм прекалил с пиенето, в мен избуява като плесен в затворени шкафове восъчна китка от брачни намерения и ставам лепкав, уязвим, лигав и напълно дебилен; това е моментът, нека отбележа, да се измъкнете по терлици с някакво извинение, да се качите в колата с въздишка на облекчение, после да се обадите от фризьора на приятелките и да им разкажете с кикот за моите плоски предложения. Но дотогава, ако не ви притеснявам, ще придърпам стола си малко по-близо до вас и ще ви правя компания за едно-две питиета." - Антониу Лобу Антунеш/'На края на географията”
― Os Cus de Judas
― Os Cus de Judas
