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Kindle Notes & Highlights
by
Karina Heid
Medalhas não produziam herdeiros; partes íntimas funcionais, sim.
— Acha que ele desconfia do quanto Vossa Graça está determinada a casá-lo até a primavera? — O senhor dá muito crédito a Dieter, Herr Winkel. Ele não faz ideia do que uma mulher determinada é capaz. Nenhum de vocês faz, Wilhelmine pensou.
Estão dando um baile para que o Duque finalmente escolha uma esposa! — Esposas de nobres não são escolhidas em bailes — o homem desmereceu a ideia. — São decididas em reuniões de negócios.
Arabella havia conseguido imaginar. Não era fácil visualizar as cenas quando não se sabia nada sobre o universo dos relacionamentos íntimos, um assunto geralmente mantido tão escondido, mas tão escondido, que nem mesmo aqueles em um relacionamento íntimo conseguiam visualizar. Mas com ajuda das leituras certas — e das erradas —, as imagens iam ficando mais detalhadas.
— Acha que encontrará pessoas assim em suas aventuras? — Arabella quis saber. Emma estava para responder quando Charlotte disse primeiro: — Infelizmente, não existem homens como os dos livros, querida. Perfeitos assim, só na literatura.
E se acha que as mulheres são santas, Theo, elas… — Por favor, irmão, a maioria é bastante inofensiva. — Ninguém é inocente entre quatro paredes. Elas sentem desejos.
Uma intrincada rede de conexões permitia que os textos de Charlotte saíssem da Alemanha em forma de cartas e voltassem anonimamente de Amsterdã como livros.
Não era todo dia que encontravam um nobre tão sem virtudes, desclassificado e depreciado para falarem mal.
Emma conhecia os sinais. Em breve, sua visão turvaria e ela começaria a ofegar. Preferia chocar as pessoas fazendo coisas mais interessantes do que desmaiando em público.
o Duque inclinou-se em direção ao secretário e disse algo em seu ouvido. O secretário vacilou. Em seguida, furando a barreira das irmãs, deu um passo adiante, em direção à Emma. Quase engasgou quando todos se viraram para ela. — Sua Graça gostaria de saber se a senhorita está se sentindo bem — o secretário perguntou. Emma fez que sim, levantando-se enquanto sentia o rosto pegar fogo.
Ele era, fisicamente, o homem de seus devaneios literários.
Ela sabia que não precisava ser um gênio para entender o que tinha acontecido ali. O Duque estava sabotando o próprio baile, e a tinha escolhido como boicote.
Os novos tempos exigirão menos títulos e mais miolos. Sugiro que faça bom uso dos seus.
A última frase dele, dita num resmungo, fez com que enxergasse uma faceta sua que não esperava ver: ele estava inseguro.
Emma tentou acalmar os pulmões, dizendo a si mesma que aquele rosto bonito vinha de brinde com uma reputação manchada. Não funcionou.
A cena inteira — as moças, a reação do Duque, a vulnerabilidade que achava não existir — deixou Emma intrigada. O infame Duque de Württemberg era tão vulnerável a rejeições como a mais sensível das damas? Ora, ora.
— Senhorita, talvez induzido por sua graciosidade, deixei minha rudeza se sobrepor à minha pouca educação. Trocamos todo tipo de farpas e esculachos, mas não trocamos nomes. — Se sente necessidade de saber quem sou para se esquivar no futuro, não precisa se dar ao trabalho, Milorde. Onde estiver, lá eu não estarei.
Dietrich não queria abrir mão do momento. Na verdade, não queria abrir mão do sentimento. Achou que havia convidado uma garota perfeitamente esquecível para a dança e, uma valsa depois, precisava tomar cuidado para não chamar a atenção do baile com suas gargalhadas. Quando foi a última vez que isso aconteceu? Ele duvidava de sequer ter acontecido. Nunca discutira de igual para igual com uma moça; sequer imaginou que existiam damas assim. Aquela jovem de estatura pequena parecia guardar uma dúzia de outras mulheres dentro de si, que, ao mínimo comentário masculino, reuniam-se às pressas para
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Enquanto esperava as irmãs saltarem, Emma concluiu que não negaria o óbvio. Fisicamente, o Duque ajustava-se aos seus devaneios como uma boa peça de alfaiataria, sem nada a sobrar ou faltar. Mas cabia à razão entender a atração e expulsar os pensamentos inúteis. Se algo cheirava a problema, tinha forma de problema e fazia sons de problema, era óbvio que a coisa em questão era um problema.
— Vejo que a deixei sem jeito. — O Duque guardou o livro de volta no bolso. — Não era a minha intenção. A respiração de Emma entrava e saía tremida. Precisava se acalmar. Ele estava propondo algo, e ela precisava ouvir. Céus, o segredo das irmãs estava exposto. Para o homem mais absurdo que já conhecera.
Em que momento cheguei aqui com um trunfo e fui roubado como em uma partida de pôquer? Qual é a última condição?
Aquele homem irradiava vida, sempre pronto para roubar seu fôlego, mesmo que ela tivesse pouco para entregar. O
Não me venha com essas frases enigmáticas, Charlotte. Não estou em um livro, isso aqui é a vida real.
— Quer parar de rir do assunto? Estou fazendo isso por nós. Ele foi gentil em não nos chantagear por causa do livro. — Continue repetindo isso, minha irmã. Quem sabe não passa a acreditar?
— Deus, como consegue dizer essa palavra sem corar? — Excitar? — Charlotte repetiu. — Tive que escrever essa palavra mil vezes, e arrumar dez mil variações. Se escrevesse tantas vezes assim, a palavra perderia o poder sobre você também.
— Como posso fazê-lo entender por que eu? — Emma ergueu as mãos. — Não sou uma beldade arrebatadora ou uma sedutora irresistível. Fui um porco espinho com ele durante toda a dança. Só faltei esmurrar o seu nariz! — Há homens que gostam disso. — Charlotte deu de ombros.
Homens e nobres são criaturas autocentradas que esperam que tudo gire em torno deles. Um homem nobre é, praticamente, uma toupeira.
Você só precisa falar. Sei que é extraordinária nisso. Se ele conseguir passar por cima das maiores limitações, a arrogância masculina e o pedantismo aristocrático, reagirá a você e a qualquer outra, como reagimos aos livros.
É que acho incrivelmente excitante aborrecer a senhorita. Tenho certeza de que isso tem algo a ver com o “resultado”.
O Duque cruzou as mãos nas costas, pensativo. Estava lisonjeado por ela ter perdido tempo refletindo sobre aquilo, por isso, deixou as brincadeiras de lado. — Acho que minha animação teve a ver com a surpresa — o Duque avaliou, pensativo. — Não esperava dançar naquela noite com a moça mais desaforada do Reino.
— Já pensou em tentar se relacionar com mulheres que o desafiam intelectualmente? O Duque a olhou sem perceber aonde ela queria chegar. — Sequer entendi o que acabou de dizer.
— Por favor, continue, Srta. Thiessen — ele pediu, encantado, sabendo que não era o fim. — É sempre um deleite ouvi-la. Emma coçou o canto da testa, aparentemente comovida e sem jeito pelo olhar de admiração. Não era todo dia que uma dama se sentia ouvida ou era elogiada por suas histórias.
Apenas queria ver se o texto causava na senhorita a mesma reação que causou em mim.
Assim que o dedo dele deslizou pelo vestido, enganchou-se ao dela. Dietrich a estava segurando. Um gesto minúsculo e carinhoso; perigoso à mesa, e devastador para o seu coração.
— Podíamos fugir. — A sugestão de Dietrich, feita ao pé do ouvido, a fez saltar no lugar. — Como? — Eu disse que podíamos fugir depois do jantar. Você aceita? — Meu Deus, claro que não — ela respondeu, séria. — De onde tira essas ideias? Estamos tentando abafar os mexericos enquanto nos ajudamos, por que iríamos querer escandalizar o mundo? — Cuidarei de tudo — ele assegurou. — Não tem com o que se preocupar.
Amava odiar aquele homem. Adorava a troca de insultos, e, agora sabia, adorava os beijos também.
Emma não havia perdido nenhum propósito de vista, só estava cedendo espaço para alguns novos desejos. E essas vontades pediam racionalizações que as amparassem. Agora, se via fazendo malabarismos intelectuais para justificar seu interesse por aquele homem e o que gostaria de fazer com ele. A ordem das coisas estava inversa em sua cabeça.
Consequências, consequências, consequências. A vida de uma mulher era pensar nas consequências.
— Eu também gosto dela — Dietrich cochichou no ouvido da égua. — Embora, se você me desse coices como essa dama, eu já estaria morto.
Não estamos indo longe demais? — ela perguntou, sentindo o nariz dele arrastar no dela. — Não — ele assegurou. — Foi uma pergunta retórica. — Emma empurrou o peito largo, afastando-o. — Estamos indo longe demais. — Não chegamos nem à esquina de onde podemos ir. — O maldito inclinou a cabeça e depositou um beijo entre o queixo e a escápula de Emma, fazendo-a se contorcer. Ela o empurrou outra vez. — É claro que não chegaremos aonde o senhor quer, sabe-se lá onde isso fica.
Dietrich decidiu que bateria à porta da dama e pediria que se apressasse, porque seu coração ansiava por ela e só parecia bater forte à sua visão.
— O senhor me dá medo, juro. Ele dava medo nela? E o pavor que ele sentia agora, imaginando que ela pudesse desmaiar, ir embora, desistir dele? — Quem deveria ter medo sou eu! Quem está roubando meu coração pouco a pouco é a senhorita!
— As expedições se travestem de ciência, sim. Mas elas visam a ocupação para fins comerciais. Ninguém está realmente interessado em folhas e frutos, a não ser, talvez, a senhorita e o Sr. Stiff.
— Espere — ela pediu, olhando para a camisola. — Preciso me vestir. — É um sequestro, senhorita. Sequestradores não dão direito às vítimas de se trocarem. — Estou de touca e camisola. — Tirarei tudo na hora certa.
Então Dietrich desceu. Beijando os metros e metros de musselina, tentando erguer aquele absurdo de pano. Achou-a sob a confusão de babados, linda, com seu triângulo cacheado retorcendo-se de prazer. Já havia massageado seu pico até fazer Emma ver estrelas. Agora, queria enviá-la até elas. Sugar o grelinho rosado e fazê-la desmaiar chamando seu nome. Soava sujo e cru, do jeito que ele gostava. E a faria gostar também.
Dietrich era uma causa perdida. Porém, uma com talento incrível para movimentos de língua.
— Não fugirei mais, Emma. A voz saiu mais solene do que Dietrich gostaria, mas, diabos, era verdade. Ele não iria a lugar algum. Não depois de ontem. Sentia-se amarrado a Solitude. A ela. — Estarei onde a senhorita estiver pelos próximos… — anos? —… meses.
Um ano sem sentir a mais divina das sensações havia aberto seus olhos. Queria atingir o pico do prazer, contudo, com quem passara a ser importante. Tê-la em seus braços por aquelas poucas horas o fizera perceber algo grande sobre si mesmo.
Ele suportaria a caminhada conjunta se soubesse que haveria uma moça de língua ferina ao seu lado. Se uma afronta não fosse a primeira coisa que ouvisse pela manhã, até o fim dos seus dias, preferiria não acordar. Mas, para conseguir aquilo, precisava primeiro conquistar Emma. Sabia que ela estava atraída por ele, mas atração não bastaria para domar seu espírito irrequieto. Queria que ela se apaixonasse por ele. Que viesse por livre e espontânea vontade, como caminhava agora, ao seu lado, rumo à cama.
— Não me dei ao trabalho de colocar espartilho. Aleguei falta de ar. — Roubarei o restante dele com beijos

