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Kindle Notes & Highlights
by
Karina Heid
Não estou deixando de escrever porque deixei de prezar pelo senhor, é apenas porque preciso receber palavras também. Desejo ao senhor um breve retorno às pessoas que o amam. Elas nos enlouquecem, mas também nos trazem a sanidade…”
Hans tinha aquela irresistível combinação de tristeza e humor que a atraía tanto; drama e comédia em um só volume. Ele seria o livro que ela escolheria todas as noites para ler na cama.
Sempre atrás de uma brecha em minha armadura. Minha dor diminuía porque você existia.
Porém, aquela viagem maluca, sem qualquer tipo de exagero, dividiu minha vida entre o antes e o depois. Por anos, achei que essa divisão havia ocorrido durante a guerra, até perceber que o que realmente muda a vida são os momentos felizes.
Já a chegada do amor muda a paisagem. Ilumina o caminho, traz flores para as margens, remove as barreiras do chão. E nos traz companhia. Você trouxe beleza e leveza para mim. Fez com que eu gostasse de acordar e de dormir — e de tudo que acontece entre um momento e outro.
Estou indo para casa, amor. Deixei seu peito por dias demais. Agora, retornarei para onde pertenço, pois só existo porque bato dentro de você.
Sou uma moça, não uma ave. Se algum cavalheiro quiser se casar com um pombo, que se sirva nas praças. Os locais estão cheios dos pássaros.
Fran havia conseguido. Tinha achado o cômodo escondido no quarto da Duquesa.
Quando se via um bom número de vidas perdidas, tornava-se indiferente ou compreendia o quanto deveriam ser evitadas.
A experiência do Duque não lhe permitia aconselhar o amigo — as únicas conquistas que conhecia eram as geográficas —, porém sentia que não queria ajudá-lo.
Para eles, digo que o importante é acertar. Mas milady não é um dos meus homens. A resposta fez Wilhelmine soltar uma risadinha. — Realmente, milorde. Nem homem, nem… A jovem se calou antes de terminar. …nem sua.
— Eles sempre têm justificativa para tudo — ela concordou. — E, quando não têm, usam de malabarismos para torcer a verdade. A jovem olhou para o Duque com um sorriso de lado. — Farei questão de observar sua reação quando o grupo tentar explicar a falta de caça. — Será um deleite compartilhar meu divertimento com milady.
A dama puxou o arreio e cavalgou de volta até onde ele estava. Passando por Alexander, deu de ombros. — É por isso que me mantenho longe — a jovem comentou, sem olhá-lo. — Minha mira é péssima. Nunca consigo acertar nada. O Duque a seguiu, sabendo que aquilo era uma mentira. Ele tinha sido acertado.
Ao contrário da tensão ainda estampada no rosto dos cavalheiros, Wilhelmine se recompôs. Ninguém escondia os sentimentos tão bem como ela.
— Se o comovi com a cena da campina, saiba que aquilo não foi nada. — Ela ergueu os olhos. — Não sou uma mulher bondosa. — Bondade não é um requisito para ser minha esposa.
— Quando se sentir sozinha, me escreva. — Christine encarou Wilhelmine. — Prometo que não escreverei de volta um “eu avisei”. Mas inventarei um código para isso. Um pequeno E.A. no final da página. Ou no verso.
Ela pertencia agora a ele. Seu marido teria mais direitos sobre ela do que ela jamais teria sobre si mesma. Por sua linhagem, cederia seu corpo. Em troca, o Duque lhe daria coisas que nunca sonhou na vida.
Prezo por esses momentos, senhora. Espero que com o tempo anseie por eles como eu.
— Pedi que meu secretário se informasse sobre suas preferências com sua família e orientasse nossos cozinheiros. Aquilo era surpreendentemente doce.
Ela e o esposo estavam em lugares diferentes: Alexander a queria em exagero; ela o queria devagar. Aquilo era íntimo e assustador.
Você é a minha esposa. Minha duquesa.
Ela pareceu estranhar o som daquilo. Talvez não soubesse, mas era dona de diversos castelos, não apenas aquele. Tudo que sua vista alcançava — e um pouco mais de terra além do alcance dos olhos — pertencia a essa mulher. Assim como ele.
Alexander era o maldito dono de tudo ao redor, mas não dela. Na verdade, Wilhelmine agia como se fosse superior a ele. Talvez porque, a cada dia que passasse, se tornasse, mesmo, maior.
Jamais teria trazido Wilhelmine para Württemberg apenas para partir seu coração. Queria-o inteiro para si.
— Você me perguntou certa vez se eu gostaria que ficasse mais em Solitude, lembra-se? — Lembro. Você disse que não queria mudar minha rotina. — Quero mudar minha resposta. Quero sim que você fique mais aqui. Comigo. Alexander concordou, sentindo o peito expandir mais que o colete justo permitia. — Darei um jeito de fazer isso, querida — ele respondeu baixo, tentando conter os sentimentos que pareciam transbordar do peito.
— Se puder desejar uma última coisa, seria um continente sem guerras para ele. Wilhelmine ergueu os olhos, encontrando os do marido. — Se isso acontecesse, perderia seu trabalho. — Abriria mão dele com todo o prazer.
Süsse. Escondem-se atrás da indolência e da promiscuidade porque não lidam bem com responsabilidades.
Chegara ao ponto de não conseguir mais se afastar da esposa, tanto que passara a dormir em seu quarto, só para que ela fosse a primeira coisa que visse ao acordar. Alexander não conseguiria partir como antes. Solitude deixara de ser um imenso espaço sem significado e se tornara sua casa. Queria ficar ali, com ela.
Vá logo —
Mas volte logo para mim, Fritz —
Se era um sentimento presente, era sentido como real.
Quem levaria dez anos para achar o caminho de volta para casa? Wilhelmine riu. — Um homem. As duas caíram na risada.
O que Herr Wallinger não compreendia era a importância que o assunto tinha para Wilhelmine, e que ela era a coisa mais importante para ele.
Durante todo o tempo que caminhou pelos corredores atrás de sua esposa, precisou se esforçar para não deixar os músculos da face afrouxarem e rir.
Alexander se deu conta de algo que nunca tinha pensado antes. Wilhelmine era um belo mistério. Um complexo e ardiloso mecanismo de abertura complicada, que, por algum motivo, resolvera se abrir para ele.
Não deveria deixar uma mulher entediada ter acesso à sua biblioteca. Ela pode ter ideias.
— Gostei da forma como interpretou Helena. — Alexander confidenciou. — De como ela teceu a trama inteira daquela guerra, sozinha. — E, ainda assim, tudo que se fala, mil anos depois, é sobre a guerra. — A história não costuma fazer justiça às mulheres, não é mesmo?
Sua esposa tinha sido mais inteligente (e insensata) que dez generais juntos, e era, sem sombra de dúvida, sua joia mais preciosa. Para o bem da Europa, deveria ser mantida cativa em Solitude. De preferência, em sua cama.
Para o Duque, existia o exército, o povo, a nobreza, a realeza e o céu. Acima de tudo e todos, apenas ela.
Nem todo sexo era bom. Ele não tinha essa ilusão. Certas noites assemelhavam-se a espetáculos ensaiados, que não possuíam brilho ou a dose necessária de realidade. Outras, eram interrompidas por pensamentos demais; os movimentos desconjuntavam-se, os olhares se perdiam e certos movimentos se tornavam constrangedores. Havia ainda o tipo que o incomodava demais: sexos amenos, performáticos ao mínimo, meramente formais e desanimadores. E havia aquilo. E, por trás daquilo, a razão de tudo.
Dê pequenos passos, todos os dias.
Apenas palavras podiam carregar a essência das pessoas. Aquilo que fomos e fizemos.
De alguma forma, escrever foi isso. Jogar palavras no mundo, na esperança de que achassem quem as ouvisse.
Por quase 30 anos sentiu falta dos braços seguros ao seu redor. Da pressão dos dedos, do poder que um homem apaixonado tinha de fazer uma mulher feliz.
Sinto tanto que não pude mudar o mundo por você. Mas vou lhe contar algo que percebi: o mundo pode não permitir grandes passos, mas ele não nota os pequenos. Dê pequenos passos, todos os dias. Conheço seu coração feroz, sei que poderia ser muito mais, mas ninguém precisa de guerras para avançar. Avance passo a passo. Mova-se pelos lados. Talvez seu nome não entre na história (sabemos que ela não costuma fazer justiça às mulheres), mas ela está cheia de heróis e heroínas desconhecidos que evitaram, com persistência, que mais trincheiras e covas fossem cavadas.
Eu a quis porque meu coração a quis. Ele sempre bateu por você.
Aqui, só se perde o que não se faz.
O mundo não girava ao redor do que era necessário; o que moviam as pessoas eram seus desejos.
Que queira me dar prazer respeitando meus temores é simplesmente perfeito.
A sedução era uma arte praticamente inexistente nos casamentos que conhecia.

