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Kindle Notes & Highlights
by
Karina Heid
— Eu daria cada quilômetro de minhas terras pelo avanço de alguns centímetros. Aquilo foi de uma eloquência sublime. Passariam mil anos e nenhum outro homem diria a ela as mesmas palavras, e Emma sabia.
— Meu coração pertence agora a você, Häschen. Deixe-me avançar e farei de você minha Duquesa.
— Quero-a desesperadamente na minha vida, com ou sem a noite de hoje. O que não quero mais é o acordo que firmamos na sua casa. Meus sentimentos mudaram. Na verdade, meu mundo mudou. E começou na noite em que te conheci, Emma.
Quero você todas as noites, não apenas nesta. Ao meu lado. Na verdade, sob mim. Quero que suas afrontas sejam a primeira coisa que eu ouça ao acordar. Do contrário, não faço questão de despertar.
Para quem sofre de asma, a senhorita tem um fôlego danado para brigar.
— Está apaixonado por mim? Ele fez tranquilamente que sim, beijando a lateral úmida de seus olhos. — Por quê? — ela perguntou, com um miado. — Porque antes achava que preferiria a morte ao casamento. Hoje prefiro a morte a perdê-la.
Um dia tomará consciência de seus atos, meu jovem. Perceberá o quanto é absurdo que uma classe ostente o ócio como troféu. Quanto a falta de responsabilidades faz os nobres agirem como crianças mal-educadas.
Arrancaria à força a solução de dentro dele. As palavras viriam por bem ou por mal. Foi assim que escreveu para ela a primeira de muitas cartas.
— Preciso de você — o Duque falou baixo. — Talvez, neste momento, um pouco menos do que de um médico. Mas preciso. Muito. — Ele pausou e franziu o rosto, cheio de dor. — Desde que me afastou, tenho sentido coisas horríveis em meu peito. Um coice não é pior do que venho sentindo.
Charlotte se sentia assim, às vezes: um cofre cheio de segredos.
Os homens que estão aqui eventualmente já cruzaram com você em bailes, concertos ou soirées. Eles sabem que quem frequenta o clube faz parte de suas vidas sociais. Eles notarão você. Farejarão você. E, mais tarde, tentarão encontrá-la do lado de fora. Não lhes dê essa chance.
De um lado, temos homens incentivados desde a infância a conquistar e a dominar. Do outro, mulheres domesticadas, valorizadas apenas por sua inocência e castidade. Quem entre nós tem a experiência? Quem está em desvantagem?
O cavalheiro misterioso pousou o copo na mesa e fez o mesmo com o dela. Em seguida, pediu sua mão. — Não é um jogo, Mondschein, é uma dança. Se quiser dançá-la comigo, terei o maior prazer em mostrar-lhe como se faz. E ele mostrou. Por doze noites, sempre no mesmo dia do mês, quando a lua cheia atingia seu ápice. Até que, no décimo segundo encontro, seu mascarado lhe estendeu um livro de Lady Malícia e perguntou: — Essa é você? Sem ter como negar, Charlotte tomou a decisão mais difícil de sua vida. Ela desapareceu.
Solteira sempre vem acompanhada de outra palavra negativa. Narrativas como essas são impositivas e diariamente eternizadas…”
Porém, assim que encarou o homem diante dela, o copo que segurava escorregou de sua mão. Se não fosse o gesto felino e rápido do cavalheiro em pegá-lo no ar, Charlotte teria causado um pequeno acidente. Aqueles olhos azuis.
Conhecia aquele olhar. Como conhecia a boca, erguida de lado, e o incrível cabelo com cem tonalidades de loiro.
O homem correu os olhos pelo contorno dela, e Charlotte decidiu que precisava fugir. Por anos, se perguntou o que teria acontecido a ele. Fora enviado aos campos de batalha? Morrido na guerra? Às vezes, Charlotte olhava para o teto e pensava no que fizeram durante aqueles doze meses. E, quando fechava os olhos, se lembrava dos dedos longos que a despiram e a veneraram. Nos olhos quentes e rendidos. Na boca de beijos doces e palavras tanto ternas quanto picantes. Nas conversas que tinha deitada em seus braços, sem medo do mundo. No fim abrupto e necessário. Por meses, sentiu vontade de voltar
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— Realmente acho que nos conhecemos. Todos os sentidos de Charlotte entraram em alerta. Os olhos azuis do Conde investigavam os dela, como se questionassem a própria intuição. — Talvez dois ou três anos atrás? — ele insistiu. — Em um baile de máscaras? — Eu me lembraria, caso tivéssemos sido apresentados — Charlotte respondeu, seca. Ela não seria desmascarada. Não ali. Havia feito da mentira sua forma de vida; estava treinada em mentir. Os livros que escrevia poderiam arruiná-la, e a capacidade de negá-los era um pré-requisito para escrevê-los.
mas se achar que devo investir, ouvirei quem entende de ganhar dinheiro, não de gastá-lo.
Lembre-se de que não sei quem você é. Talvez não nos vejamos outra vez. Então, só por hoje, por esta noite, permita-se ser admirada inteira e completamente. Venerada e beijada. Acha que consegue permitir-se isso?
— A vida da mulher começa com o casamento — a tia explicou à moça. — E acaba logo depois dele. — Wilhelmine ergueu a taça, ácida. Com exceção das Thiessen, ninguém mais riu.
E quando o encontrou no terraço, sozinho, desconfiou que todos esses anos foram três segundos para o coração. O amor continuava vivo, pulsando dentro dela.
Theodor a envolveu, trazendo-a para dentro do amparo seguro de seu abraço. Charlotte cabia inteira nele e, só quando o reencontrou, percebeu como sentira sua falta.
— Por que... — ela socou seu peito —... por que não me quis? Ele a apertou com mais força. Quem disse que não quis? — Por que não me protege? — Ela bateu com o punho sobre o seu peito outra vez. — Você tem os recursos, é influente! Por que precisa ser um miserável esnobe e achar que é melhor do que eu? Não sou boa o suficiente para você?
Os romances estavam lá, mas os mocinhos não eram mais salvadores de donzelas em apuros: elas se salvavam sozinhas.
Depois de anos de tortura mental em que o estraçalhara, machucara, espezinhara e empalara em ferros quentes, entendera que um canto do seu coração sempre o odiaria. O outro, pertenceria a ele para sempre.
Quando se descobriu apaixonada, foi como se tivesse perdido a pele. Charlotte não o amava simplesmente: pertencia a ele.
— Se eu não o odiasse tanto, o invejaria — Theodor revelou baixo.
Theodor não tinha o direito de se intrometer ali, em meio às memórias de Axel, ou em sua cama. Ela se sentou, confusa com a escuridão e o silêncio, perguntando-se a quem queria enganar. Theodor esteve em todas as partes e em todos os lugares com ela. Durante todos os momentos que viveu em Berlim. Esteve também entre as memórias que cultivou com Axel, porque ele morava nela e Charlotte não o havia deixado para trás. Carregava-o dentro dela.
— Tenho certeza de que posso contratar mestres de obras capazes de fazer o reparo. Entenda as entrelinhas, Theodor: não o quero aqui. Ele não estava querendo entender. — Não tenho projetos para a primavera. Estava pensando em viajar, mas acho que uma reforma manterá minha cabeça ocupada.
Depois que Charlotte se casou, Theodor pensou nela nos dias pares e, também, nos ímpares.
Tinha a sensação de que para o resto da vida estaria a serviço da Sra. Ravensberg, por mais que sua presença fosse indesejada
Confesso que participar de uma Sociedade não é o mesmo que criar uma, portanto perdoem-me pelo amadorismo do primeiro dia.
minha proposta é abrir um espaço de debate para a literatura, mas com um diferencial: falar sobre livros escritos unicamente por mulheres.
Se pudesse, ao menos, fazer com que algumas mulheres enxergassem que seu preconceito havia sido ditado pela sociedade — e não verdadeiramente produzido por elas — já seria um ganho.
Porque, de tanto lê-los e ouvir o que têm a dizer — e os homens eruditos sempre têm muito a dizer —, achamos que devemos lê-los em todas as ocasiões, acreditando que o que difere de sua erudição é vulgar.
Romances têm um imenso apelo entre as mulheres, mas alguém, e garanto que não fomos nós, nos fez acreditar que eram vulgares.
Por que são os homens que escrevem os livros sobre cuidados com as crianças, cuidados com a casa e cozinha, se somos nós quem cuidamos das tarefas domésticas, dos filhos e da culinária?
É injusto que depreciem os sentimentos que dominamos e enalteçam os que eles dominam.
O importante é que não sabemos se gostamos disso ou não se não lermos e escrevermos livremente sobre o assunto.
Será que algum dia conseguiremos definir o que somos, o que gostamos, o que queremos ler e escrever sem sermos criticadas?
Porém insisto que comecemos não depreciando as vozes femininas, e sobre o que falam. Meu coração pede por livros escritos por mulheres, sobre mulheres, e, sim, sobre as interações humanas e suas consequências.
— Fico feliz que esteja com um bom espírito, senhora. O problema é que o trinco quebrou comigo dentro. Estou trancado no castelo. O peito de Charlotte ficou silencioso por um segundo. Ele disse dentro? Então, foi como se o seu coração despencasse de uma altura alta, e, com o susto, começasse a bater descompassado. Theodor estava trancado no castelo? Para passar a noite? — O senhor está de gracejo comigo, milorde? Ele prensou os lábios para não rir. — Adoraria, senhora, mas não. Ao tentar abrir o trinco, ele quebrou. Ou abro o portão a machadadas, ou a senhora terá que me acolher até amanhã.
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desde que a senhora pisou aqui, o castelo não para de trazer aquele homem de volta.
As doze noites inesquecíveis retornaram para ambos. Doze lições, doze provas de que sentimentos eram como as criaturas que sobreviviam em cavernas, nos desertos ou nos abismos marinhos, florescendo sob condições inóspitas e improváveis.
— Gosto do que escreve. Ela arregalou os olhos, surpresa. — Já leu algo meu? — Claro. Confesso que desenvolvi um tipo de fascinação por tudo que envolvia Lady Malícia.
Charlotte escorou a cabeça entre as mãos, atacada por uma súbita crise de constrangimento. Achou que, uma vez casada e distante de Württemberg, o livro jamais cairia nas mãos de Theodor. Mas lá estava ele, dizendo que não apenas o tinha lido, como gostado.
Ela sentiu um ardor tomar as vistas. Tinha pedido, implorado, para não entrarem naquele assunto, porém, o maldito achou uma brecha.
Esses são finalmente meus sentimentos, senhora. Estão todos expostos. Sinto que não faz mais sentido habitarem uma caverna. Tudo que desejo, desde que a reencontrei, é uma chance de me explicar.
Se voltar a me procurar, entenderei que está pronta para permitir os meus avanços. E eu avançarei, Mondschein. E a tomarei para mim, para sempre.

