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— Você sabe porque também viu…
Os pais o olhavam, sem poder fazer nada, como crianças que observam um brinquedo que quebrou depois de uma briga furiosa.
Luzes e cores, o estourar das rolhas de champanhe, uma orquestra de quarenta pessoas tocando “In the Mood”, de Glenn Miller.
— Fico ouvindo vozes em minha cabeça! — gritou Wendy. — O que é? O que está acontecendo? Sinto como se estivesse ficando louca!
Os dois o olhavam fixamente, como se ele fosse um estranho, possivelmente um estranho perigoso.
A máscara olhava perdida para o teto, pousada sobre o tapete do corredor coberto de confete.
Porque aqui, no Overlook, as coisas simplesmente pareciam não terminar.
No Overlook, tudo tinha uma espécie de vida. Era como se algo tivesse dado corda no prédio inteiro, com uma chave de prata. O relógio batia. O relógio batia.
(Não faz diferença nenhuma eu ter só cinco anos?)
(Não posso mais vir, Danny… ele não vai me deixar chegar perto de você… nenhum deles vai deixar eu chegar perto de você… chame o Dick… chame o Dick…)
Estava sem os ponteiros e sem números no mostrador, apenas com uma data escrita em vermelho: 2 DE DEZEMBRO.
Danny viu a palavra REDRUM refletida vagamente na redoma de vidro, agora refletida duas vezes. E viu que formava MURDER. Assassinato.
Ah, ele tinha medo do rosto que poderia aparecer, quando finalmente chegasse a hora da retirada das máscaras.
Mas vê-lo era importante. De uns tempos para cá, havia se tornado importante, pois eles já não eram mais jovens.
Pode-se partir a qualquer momento. E isso não saiu de sua mente esta semana, não de uma maneira pesada, mas como um fato. Morrer é uma parte da vida.
Hallorann havia entrado lá e informado a esse McIver que queria fazer um testamento, e será que McIver poderia ajudá-lo?
Também não sabia dizer por que havia escolhido este dia ensolarado, por que se sentia tão bem para fazer algo que vinha adiando durante anos.
Valia a pena arriscar tudo isso — o fim dele mesmo — por causa de três brancos que sequer conhecia?
Conhecia o menino, e o menino o conhecia, pois ambos tinham uma espécie de farol na cabeça, algo que não haviam pedido, algo que simplesmente lhes tinha sido concedido.
E agora o menino estava preso naquele lugar, e ele iria até lá. Por causa do menino.
Faria o que pudesse, pois, se não o fizesse, o menino morreria exatamente dentro de sua cabeça.
Mas ele era humano, e não conseguia conter um desejo ingrato de que nunca tivesse que passar por isso.
Por que ela havia ido até ele? Um iluminado identifica outro, pensou Hallorann, sorrindo.
Aconteciam outras coisas no Overlook: um pesadelo ocorria a intervalos irregulares — participava de uma espécie de baile à fantasia no salão do Overlook e, ao grito de retirada das máscaras, todos exibiam seus rostos, que eram como de insetos podres — e havia também os arbustos em formato de animais.
Nos três anos em que estivera ali, a Suíte Presidencial tinha sido ocupada dezenove vezes. Seis dos hóspedes que passaram por lá saíram mais cedo do hotel, alguns com a aparência de doentes.
E dezenas de crianças, durante a temporada de Hallorann no Overlook, simplesmente se recusavam a ir brincar no parquinho.
Tirou o testamento do bolso da camisa e o prendeu na borda do espelho da penteadeira. Se tivesse sorte, voltaria para pegá-lo.
Às vezes é assim, sem nenhuma razão, você capta um pensamento, totalmente isolado, totalmente cristalino… e geralmente inútil.
— E as… as coisas no hotel. Tem todo tipo de coisa aqui. O hotel está cheio de coisas.
Está enganando papai, está brincando com ele, fazendo ele pensar que o hotel quer ele mais do que todos. O hotel me quer mais, mas vai levar todos nós.
ou talvez o próprio hotel, uma terrível casa de diversões onde todos os espetáculos terminavam em morte,
Mas, para Danny, era apenas o som do hotel, o velho monstro, que estalava e fechava cada vez mais o cerco em volta deles: corredores encolhiam em tempo e distância, sombras famintas, hóspedes inquietos que não descansavam em paz.
(Se for preciso, eu saio daqui com ele. Se vamos morrer, prefiro que seja nas montanhas.)
— Fogo — informou papai, voltando-se para Jacky com um sorriso. — O fogo mata qualquer coisa.
Fracassara como professor, como escritor, como marido e como pai. Fracassara até como bêbado.
Servira o Overlook, e agora o Overlook o serviria.
(SAIA DA CABEÇA DELE, SEU MERDINHA!)
O hotel mandava agora.
Talvez, no início, as coisas que ele tinha visto fossem mesmo como gravuras de terror que não podiam machucá-lo.
O Overlook não queria que ele fosse atrás do pai. Isso poderi...
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Iam morrer, os três e, quando o Overlook abrisse no próximo final de primavera, estariam bem aqui para saudar os hóspedes, junto com o resto dos fantasmas.
Pedia a Deus que eles estivessem tomando conta de Danny.
Era como se outro Overlook estivesse agora a poucos centímetros deste,
Todas as eras do hotel estavam juntas agora, faltando apenas a atual, a Era dos Torrance.