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Algumas coisas que aconteceram no velho Overlook nunca chegaram aos jornais, pois o dinheiro falava mais alto.
Eram sete e dez. No Overlook, Wendy e Danny dormiam, e Jack Torrance discutia sobre questões de vida e morte com o antigo zelador.
A cada quilômetro avançado, seu medo aumentava… como se o lugar tivesse uma atmosfera de veneno que se tornava cada vez mais densa, à medida que se aproximava.
O banheiro estava vazio. Danny também não estava lá. Ao se olhar no espelho do armário de remédio, viu o próprio rosto coberto de sangue e ficou contente.
Pensou que talvez fosse possível provocar mais danos ainda àquela coisa… matá-la, talvez.
Não era Jack que estava lá fora. Era a voz irada e lunática do próprio Overlook.
Metade de um rosto louco e determinado a encarou. A boca, as bochechas e a garganta estavam cobertas de sangue, o único olho que ela conseguia ver estava miúdo e brilhante.
Em poucos minutos toda ela estava em chamas, uma fogueira saltando e se contorcendo na neve.
Os animais de arbustos, todos eles, estavam agrupados junto aos degraus do Overlook, guardando a entrada e a saída.
(Danny? Quem é Danny? Alguém aqui conhece um tal de Danny? Danny, Danny, quem está com Danny? Alguém quer jogar com Danny? Brincar com Danny? Saia daqui, negrinho. Ninguém nunca viu esse Danny.)
começo a achar que o jack era só um peão, pra se livrar da wendy já que ela iria proteger o danny pro hotel não levar... já que é o danny que o gerente quer
Danny aceitava a possibilidade de sua própria morte, convivia com isso desde o encontro no apartamento 217. Mas não a dela. Não a de papai. Nunca.
— Eu não trouxe você aqui, Danny. Você mesmo se trouxe. Porque sabia.
Este é um Overlook onde ninguém pode vir, nunca. Aqui, os relógios não funcionam. Nenhuma chave serve para dar corda neles. As portas nunca foram abertas, e ninguém nunca ficou nestes apartamentos.
Aconteceu aqui uma festa longa e horrível de máscaras, que continuava durante anos. Aos poucos, uma força se acumulou, tão secreta e silenciosa quanto juros numa conta bancária.
Usava muitas máscaras, mas eram todas uma coisa só. Agora, em algum lugar, vinha em sua direção. Escondia-se por trás do rosto de papai, imitava a voz de papai, usava as roupas de papai.
— Mas já começou — respondeu Tony. — Vai se lembrar daquilo que seu pai esqueceu.
— Sim, prometeram — retrucou Danny. — Mas eles mentem.
Você é uma coisa, não meu pai. Você é o hotel. E, quando conseguir o que quer, não vai dar nada a meu pai, porque você é egoísta. E meu pai sabe disso. Você teve que fazer ele beber a Coisa Feia. Só assim conseguiu que ele fizesse as coisas que você queria, sua careta mentirosa.
Mas, de repente, seu pai estava ali, olhando para ele em agonia mortal, e com uma tristeza tão grande que o coração de Danny ardeu dentro do peito.
O elevador voltou a funcionar e começou a descer com a coisa raivosa engaiolada no interior.
Sangue espirrou no papel de parede. Pedaços de ossos saltaram no ar como teclas de piano quebradas. Era impossível dizer quanto tempo havia se passado. Mas, quando a coisa voltou sua atenção para Danny, seu pai desaparecera para sempre.
— Jack está morto. Este lugar o matou. Este maldito lugar.
As palavras se transformaram em um grito de triunfo, e o grito foi engolido no estrondo da explosão da caldeira do Overlook.
Depois lutou para subir no monte de neve, não pensando, nesse momento, nos animais de arbustos, nem em Wendy Torrance ou sequer em Danny. Em vez disso, rolou, ficando de costas na neve para ver o hotel morrendo.
A festa acabou.
Danny via o pequeno sofá junto à lareira onde as três freiras sentaram no dia em que chegaram… dia de encerramento. Mas este era o verdadeiro dia de encerramento.
Portanto, foi apenas Hallorann que viu o desfecho, e ele nunca tocou no assunto. Viu algo imenso e escuro saindo da janela da Suíte Presidencial e encobrindo o campo de neve que ficara para trás. Por um momento, a coisa assumiu a forma de uma arraia imensa e obscena, e depois pareceu ter sido apanhada pelo vento, que a rasgou e picou como papel velho.
E, olhando para trás, como fazia agora, naquele dia vira uma nuvem escura de vespas se erguendo no ar quente, rodopiando, se desintegrando, procurando pelo inimigo que fizera isso com sua casa para — numa única inteligência coletiva — picarem-no até a morte.
— Mesmo que isso aqui queime até os alicerces, nunca vão conseguir me trazer a menos de duzentos quilômetros daqui de novo.
E a longa escuridão terminara.
Na época, ela era apenas uma menina. Agora, uma mulher, um ser humano que fora arrastado para o lado escuro da lua e voltara capaz de juntar os pedaços. Mas esses pedaços, pensou Hallorann, nunca mais se encaixam perfeitamente. Nunca, nunca mais.
As lágrimas que curam são também lágrimas que escaldam e castigam.
Pode usar sua iluminação para conversar comigo, quando as coisas ficarem feias. E, se ficarem muito feias, simplesmente me chame e eu irei a seu encontro.
— Vai ser meu amigo? — Enquanto você quiser. O menino o abraçou apertado.
O mundo é um lugar duro, Danny. Não se importa com a gente. Não odeia você nem a mim, mas também não morre de amor por nós.
Mas veja, você deve continuar vivendo. É sua obrigação, neste mundo duro, manter vivo o seu amor, e seguir adiante, não importando como. Segure as pontas e vá em frente.
decidiu, do jeito modesto dos Watson, construir o maior hotel de temporada do país. Ficaria no topo dos Estados Unidos,
Boyd tentou fazer o pônei saltar por sobre uma pilha de madeira, onde agora ficavam os arbustos, mas o pônei prendeu a pata traseira e quebrou a perna. Boyd quebrou o pescoço.
Sua esposa passou a odiar o hotel; em determinado momento em 1908, ela disse a ele que preferiria ter ciúmes de outra mulher, pois ao menos saberia como lidar.
— Está vendo? Não consegue ver? Você não leva jeito para a coisa. Esse hotel tirou a sua razão, Bob T.!
— Eu achei que vi alguma coisa no saguão — disse ela. — Não parecia um homem.
E, talvez, a chance que tinha Bob T. de fazer seu amado hotel virar sucesso tenha morrido naquela primeira noite.
— Você colocou aquele hotel em um altar no seu coração! — ela respondeu com voz aguda. — Construiu sobre os ossos do seu primogênito!
Era preciso um tipo de sentido especial para sobreviver no mercado americano, um tipo especial de visão. E agora, Bob T. Watson estava cego. O hotel havia cegado e envelhecido Bob T.
Ou talvez só saber que o Overlook nunca ficaria vazio e deserto. Ele achava que não conseguiria suportar isso.
Bob T. foi inflexível. Ele não queria sair do hotel.