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Observou o ar aliviado em seus rostos e pensou que jamais em sua vida tinha sentido tanta vontade de beber quanto agora.
Jack desenvolvera sentimentos opostos com relação a seus personagens.
Mundo cão, meu amigo. Se você não estiver muito bem regulado, vai sacudir, espernear e rolar antes de completar trinta anos.
Mas ultimamente começara a tomar partido e, pior ainda, chegara a detestar seu herói, Gary Benson.
Agora, tinha uma tendência sempre maior de ver Denker como um sr. Chips, e a tragédia não era uma tortura intelectual de Gary Benson, mas a destruição de um professor e diretor velho, incapaz de ver através do cínico embuste desse monstro mascarado de menino.
Começara uma peça que de alguma forma tinha se transformado em outra.
Mas, quanto mais pensava no assunto, mais imaginava se não teria sido um fingimento para se livrar do castigo.
Tem alguém aqui conosco. E não é alguém muito legal.
Você precisa aceitar a verdade. Precisa entender que estamos presos pela neve.
Danny, de repente, ficou agitado na cama. Ainda dormindo, começou a virar de um lado para o outro. Da mesma maneira que sempre ficava quando brigamos, pensou Wendy, sombria. E estamos brigando de novo.
Mas você precisa entender que algumas coisas… são difíceis de superar. Tem que entender isso.
Porque ele é pequeno, e parece tão indefeso, e porque… porque alguma coisa neste hotel parece desejar Danny. E vai passar por cima de nós para conseguir pegar nosso filho, se for preciso.
— Ele realmente tem alguma coisa. Algum talento que não existe no resto de nós. Na maioria de nós, quero dizer. E talvez o Overlook tenha algo também.
Seria mais como resíduos de sensações das pessoas que aqui ficaram. Sensações boas e ruins. Neste sentido, acho que todo grande hotel tenha seus fantasmas.
Quando crescemos, os conceitos acabam se tornando mais fáceis e deixamos as imagens para os poetas…
Acredite, temos muito mais controle sobre nossas funções involuntárias do que imaginamos.
No estado de transe, o Danny consciente está submerso. A imagem do subconsciente está agindo.
Você pode fugir de um estranho, mas não pode fugir de si mesmo.
Porque ele parece capaz de ler pensamentos e também realmente parece capaz, de tempos em tempos, de prever os fatos. Não acho que isso seja uma doença mental,
Jack Torrance explicando a Al que eles simplesmente tinham que partir, tinham que desligar a caldeira, tinham que abandonar o Overlook e deixar tudo exposto aos vândalos ou ladrões em snowmobiles, porque, veja, Al, attendez-vous, Al, há fantasmas por lá, e estão atrás de meu filho.
Agite e balance, meu bem. Sacuda, chocalhe e balance. Faria com que ela tomasse o remédio. Até a última gota. A última e amarga gota.
(que monstros brincavam por trás daquele crânio?)
Era tão injusto as coisas terem ficado assim… a má sorte parecia persegui-los.
Parecia possível que ele encontrasse paz aqui. Finalmente. Se pelo menos deixassem.
Mas a bengala já não era mais uma bengala; parecia um taco com uma espécie de cabo brilhante e listrado.
A extremidade usada estava pegajosa com sangue e cabelo.
Jack baixou o taco para um último golpe e depois de arremessado viu que aquele rosto abaixo dele não era o de George, mas o de Danny.
Havia sido algo sobre George Hatfield e a bengala de seu pai, o suficiente para deixar Jack inquieto e, por mais absurdo que pareça, um pouco culpado por segurar um taco de roque.
Mas a pintura principal era um amarelo brilhante e zombeteiro, e era disso que ele não gostava. Parado ali naquele feixe de sol matinal, todo amarelo e com frisos, esquis negros e estofamento negros, sem capota, o veículo parecia uma monstruosa vespa mecânica.
Por volta da primavera, a família Torrance estaria tão machucada, que o que aquelas vespas tinham feito com a mão de Danny pareceria beijos de mãe.
Esmurrar esta máquina até ela morrer seria de uma enorme insensatez, não importa quão agradável essa insensatez pudesse ser. Seria quase o equivalente a esmurrar o filho até matá-lo.
Isso não o incomodava em nada. Na verdade, ficava contente. Estava aliviado. Fiz o que pude, capitão, mas não consegui.
(Pelo amor de Deus, no que você estava pensando?) A resposta veio sem interrupção. (Em mim. Estava pensando em mim.)
Overlook não estava afetando apenas Danny. Estava afetando a ele também.
Não era Danny o elo fraco, era ele. Ele era o vulnerável, aquele que podia ser dobrado e torcido até se partir.
O hotel queria Danny, talvez todos eles, mas Danny com certeza. Os arbustos realmente tinham se movido. Havia uma mulher morta no 217, uma mulher que talvez fosse apenas um fantasma, e inofensivo em quase todas as circunstâncias, mas uma mulher que agora constituía um perigo.
Pronto. Deveria funcionar. Não havia por que não. Nenhuma razão, a não ser o fato de que fazia parte do Overlook, e o Overlook realmente não queria que eles saíssem dali.
Tinha um menininho para amedrontar, um homem e sua mulher para instigar e, se jogasse as cartas corretamente, os três terminariam voando pelos corredores do Overlook como sombras de um romance de Shirley Jackson.
Queria que fosse como antes. Quando entrou no galpão, ele não tinha dúvidas. Descer seria a decisão errada.
Tudo estava bem, até que viu Danny brincando na neve. A culpa foi de Danny. Era tudo culpa de Danny. Era ele o iluminado ou coisa que o valha. Não era uma luz, era uma praga. Se ele e Wendy estivessem ali sozinhos, passariam o inverno muito bem. Sem dor, sem peso na cabeça.
Seria possível, Danny se questionou, ficar feliz por ter feito algo e ao mesmo tempo ficar tão envergonhado dessa coisa, a ponto de tentar não pensar nela?
A neve tinha caído do arbusto em forma de cachorro.
Havia um círculo escuro, uma sombra que marcava o buraco que cavara para entrar. Agora, apesar do brilho refletido da neve, pensou estar vendo alguma coisa ali dentro.
Um ruído cortou o ar e de repente ele sentiu uma dor na perna. Barulho de roupa sendo rasgada.
Danny se afastou do pai. De repente, teve a certeza.