Rosa Pomar's Blog, page 3

July 1, 2018

Ailanthus altissima

Ailanthus altissima


Nesta altura do ano ainda não estão assim, carregados de sementes (que vistas de perto são lindas). São a invasora mais resistente e de crescimento mais fulgurante com que nos deparamos no quintal. Chamam-se Espanta Lobos (Ailanthus altissima) e vieram da China não se sabe quando. Impedem o crescimento de outras plantas, expandem-se por baixo da terra quando as cortamos, não se percebe onde acaba uma e começa a seguinte. Crescem nos baldios da cidade e percorrem as bermas da estrada do país inteiro. Ainda por cima cheiram mal. Todos os dias arrancamos as que germinaram da noite para o dia e de quando em vez chamamos amigos para ajudar a arrancar árvores adultas até ao último pedaço de raiz. Ramos cortados expostos a meses de sol ressuscitaram quando fizemos o disparate de os usar como estacas. Uma leitora enviou-me este vídeo com uma técnica interessante para quem tenha destas árvores a crescer por perto. Ainda não experimentámos mas estou curiosa:




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Published on July 01, 2018 04:27

June 13, 2018

fiar na roda


No início do ano passei mais de um mês de roda de um artigo que fui convidada a escrever. As viagens pelas ilhas e pelos livros resultaram em mais de vinte páginas que verão a luz do dia lá mais para a frente este ano. Não tenho muita facilidade em pôr ideias no papel. Adio o mais possível, desculpo-me com uma leitura por fazer, uma ideia por confirmar, prometo a mim mesma começar amanhã. Acabei por ter de pôr tudo o resto de lado e dedicar-me só à escrita, os dias que fosse preciso, sem interrupções até estar feito. Esta semana fiz a última revisão à bibliografia e juntei as imagens e agora resta-me esperar. Entretanto várias horas de recolhas guardadas em discos esperam também que as edite e partilhe, porque são muito mais do que um complemento ao texto. Este vídeo que publiquei hoje (já com quase quatro anos de atraso) é uma verdadeira aula de fiação na roda de tipo 1. Deixei-o assim longo de propósito, para que se vejam e revejam os vários momentos do processo: o estirar e torcer das fibras e o enrolamento no fuso, a correcção das irregularidades do fio, o pegar de uma pasta com a seguinte, o pôr do fio na roda quando ele se solta. Toda uma coreografia que se repete imutável há pelo menos oitocentos anos.



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Published on June 13, 2018 06:49

May 22, 2018

bordaleira da serra da estrela

bordaleira da serra da estrela

tosquia

lã


Chega a época das tosquias e antes dela a das grandes decisões. Quanta lã e que lã vão os meus fios usar no ano lanar que agora começa. É um calendário diferente, este, anunciado pelas primeiras romarias a partir da Páscoa.

Volto à Serra da Estrela, onde tudo começou há tanto tempo para trabalhar de perto a lã daqui até ao novelo.


bordaleira da serra da estrela

a2

bordaleira da serra da estrela



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Published on May 22, 2018 10:26

December 14, 2017

choose churra

Untitled


Notas a propósito de duas imagens da Exposição Universal de Chicago de 1933 (obrigada à Paola que mas mostrou):

No stand português apregoa-se a qualidade da nossa lã churra para uso em tapeçarias.

Actualmente a nossa maior fábrica de fios de lã para a indústria dos tapetes trabalha quase exclusivamente com lãs churras importadas e os criadores das nossas raças churras, donos em geral de pequenos rebanhos) têm grandes dificuldades em escoar a sua lã. Aqui ao lado é parecido.


Exposição de Portugal em Chicago. Illinois Estados Unidos da América

Exposição de Portugal em Chicago. Illinois Estados Unidos da América


Mantas e serapes, quase de certeza de Reguengos. As traduções de todos os pormenores do pavilhão português parecem à prova de bala. A palavra serape era nova para mim e não podia ser melhor para descrever o uso da manta alentejana como agasalho.



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Published on December 14, 2017 10:28

November 9, 2017

mungoche






the #mungochesweater pattern is up on ravelry both in portuguese and english and there is a KAL beginning next week (link to the #knitalong on the pattern page) • thank you for your kind feedback, i think my other chicken is feeling a little jealous • temporary link in profile • #retrosariamungo #retrosariarosapomar


A post shared by Rosa Pomar (@rosapomar) on Nov 8, 2017 at 6:36am PST










the #mungochesweater pattern will be available for download on #ravelry tomorrow • @iiinesg is helping me with setting up a #knitalong – something I have never done before – and i am holding my dear josefina as an excuse for not looking at the camera • I hope some of you will join us on the kal and that you will love and wear this sweater as much as I do • #retrosariarosapomar #retrosariamungo


A post shared by Rosa Pomar (@rosapomar) on Nov 7, 2017 at 6:00am PST








Pela primeira vez desenhei e publiquei um modelo de camisola. No que diz respeito a instruções de tricot foi a coisa mais ambiciosa que fiz até à data, mas tenho a certeza que virão outras camisolas por aí. Dei o modelo a testar a três corajosas voluntárias. Uma delas, a Tânia, super experiente e minha amiga virtual desde os tempos do BookCrossing). As outras duas, a Michelle e a Alexandra, caras conhecidas da Retrosaria, vieram ter comigo a meio do trabalho para acertar agulhas.




A primeira parte da camisola é bastante desafiante, com short rows e aumentos simétricos, tudo trabalhado em canelado para baralhar. Não é de todo um projecto aconselhado a iniciantes, mas quem já tenha passado pela Masterclass das camisolas sem costuras ou domine as técnicas necessárias acho que se conseguirá desembaraçar. Para fazer a coisa mais a sério, tenho estado a publicar mais alguns vídeos aqui e pedi à Inês (outra assídua da Retrosaria) que me ajudasse a coordenar um KAL no Ravelry. Quem se quiser juntar é muito bem-vindo!







#testknitting my own pattern • #mungochesweater #retrosariamungo #retrosariarosapomar


A post shared by Rosa Pomar (@rosapomar) on Aug 16, 2017 at 7:09am PDT






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Published on November 09, 2017 03:20

October 22, 2017

romeirinha

romeirinha

Catálogo Geral das Novidades para Inverno de 1914 – Armazéns Grandella


Não era bem um xaile. Antes uma pequena capa em malha que cobria as costas e o peito e terminava mais ou menos à altura do cotovelo. Em 1914 o catálogo do Grandella (quem me dera ter um) anunciava-as, feitas à mão em malha de lã, como coisa adequada a uma senhora elegante.


Elvas - Raparigas do Campo

Elvas - Grupo ou Rancho de raparigas do campo

Grupo ou Rancho de raparigas do campo em Elvas. Arquivo Foto Beleza, 1937. Imagens do Espólio Fotográfico Português.


1937, no Alto Alentejo. Curtas, em tricot e em crochet, aconchegam os ombros e o pescoço mas pouco mais, ou não dariam para usar durante as mondas e outros trabalhos do campo. Ficavam a matar com as flores no chapéu, as rendas do avental e os laçarotes das ligas.







harvesting some greens for his soup • the knitted cape was made over thirty years ago by baby's great grandmother on his father's side • the winters are cold in alentejo and this is an effective way to keep an active toddler warm • it's a lovely pattern with short rows and popcorns that i want to write down and share sometime • #urbanfarming #knitting #eatwhatyougrow • #isaurapattern


A post shared by Rosa Pomar (@rosapomar) on Jun 4, 2017 at 5:14am PDT





Fast forward para o início dos anos 80: agasalho de criança em malha 100% sintética, tricotado no concelho de Ourique para uma criança pequena. Recuperado quase quarenta anos depois e posto a uso para as brincadeiras no quintal, achei graça ao feitio e à construção em carreiras incompletas com borbotos. Resolvi tricotar uma versão em (claro) e perceber se continua a fazer sentido. Parece que sim.


O modelo está disponível no Ravelry.







it's raining at last and the toddler cape pattern is up on ravelry • #retrosariakilcarratweed #isaurapattern #knitting


A post shared by Rosa Pomar (@rosapomar) on Oct 18, 2017 at 11:21am PDT






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Published on October 22, 2017 07:13

October 2, 2017

a barreta de são miguel






winter is eventually coming and i needed a modeled photo of the #miguelhatpattern • this is my take on the traditional barreta from the island of são miguel #azores, a traditional and fairly unknown knitted hat i wrote about on my book #malhasportuguesas • #retrosariarosapomar #retrosariasoftdonegal


A post shared by Rosa Pomar (@rosapomar) on Sep 18, 2017 at 7:07am PDT






Mais de meio ano depois, eis que a versão final das instruções do meu gorro de São Miguel fica pronta. Comecei por desenhá-lo para o meu fio João, mas as beta testers acharam que o gorro resultava demasiado grande (aqui em casa somos todos cabeçudos, parece-me). Quatro gorros depois, sempre com pequenos ajustes, optei pelo Soft Donegal, por um cós em canelado liso e por menos uma fila de motivos. Tal como nas barretas antigas (cf. Malhas Portuguesas), o gorro começa com a cor mais clara (tradicionalmente o branco natural) mas depois a cor predominante é a mais escura, o que é um pormenor interessante e pouco frequente.







still working on the #miguelhatpattern • I wanted the final sample to have a texture that is reminiscent of the traditional hat from the island of são miguel #azores that inspired this design • seems like I've got it this time • #retrosariarosapomar #retrosariasoftdonegal


A post shared by Rosa Pomar (@rosapomar) on Sep 8, 2017 at 3:07am PDT






A barreta antiga tem a forma cónica comum a muitos barretes de malha tradicionais de vários pontos da Europa. Prática para guardar o tabaco e umas moedas, hoje em dia só o Pai Natal, os campinos e os forcados é que continuam a apreciá-la, pelo que a minha versão tem o comprimento habitual dos gorros contemporâneos. Perde-se em superfície para brincar com os motivos mas fica mais visível o padrão do topo da barreta, que é para mim um dos aspectos mais bonitos da peça. O pompom no topo (borla no original) é facultativo.







#miguelhatpattern is up on #ravelry • the final photos will hopefully be made this weekend so I will send an update to anyone who downloads the current version • looking forward to see your wips


A post shared by Rosa Pomar (@rosapomar) on Sep 15, 2017 at 4:19am PDT






Daqui a uns meses estarei a escrever com mais profundidade sobre este e outros motivos das malhas tradicionais dos Açores. Imagino sempre que São Miguel podia ter sido a nossa Fair Isle…


As instruções do Gorro de São Miguel (aka #miguelhatpattern) estão disponíveis em Português e em Inglês através do Ravelry.








thank you to everyone who's been downloading the #miguelhatpattern on ravelry


A post shared by Rosa Pomar (@rosapomar) on Sep 17, 2017 at 10:33am PDT






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Published on October 02, 2017 05:47

September 7, 2017

vergílio correia

Um salto à Torre do Tombo para ver a exposição Vergílio Correia (1888-1944): um olhar fotográfico (patente até 7 de Outubro). O A2 gostou das vacas, bois e cavalos e eu gostei das mesmas coisas de sempre. Ficam alguns acrescentos e correcções às legendas, as mesmas do catálogo da exposição (que infelizmente não está à venda) editado pelo Centro de Estudos Vergílio Correia (queria encontrá-lo online mas aparentemente o Centro não tem site).


vergílio correia


16. Mulher e criança às costas[1]. Argola de ouro maciço[2] e trajo preto, saia e xaile.

Fuso munido de lã e respectiva roca para obra de fiação após cardação[3].

Arquitectura de granito, prestigiante e possivelmente manuelina.

Base de arco sobre capitel de pilastra decorado com meias esferas. Pavimento lajeado.

Beira Alta?[4]


[1] Mulher a fiar com bebé preso às costas no xaile, segundo um dos métodos tradicionais portugueses.

[2] As Argolas Carniceiras (que ainda se fazem) são ocas. Se fossem maciças daquele tamanho rasgavam a orelha.

[3] Provavelmente cardada, mas não necessariamente.

[4] Mesmo sem mais informação, arriscaria Trás-os-Montes e não Beira Alta. Do que conheço do babywearing da Beira, os bebés andavam mais ao lado e menos às costas, além de que por lá sempre tenho visto fiar a lã sem roca. Se se visse o cossoiro do fuso era mais fácil saber onde foi tirada a fotografia. A maneira de atar o lenço é uma pista que não fui explorar.


vergílio correia


17. Grupo de mulheres, menina e criança[1]. Saias compridas, menina descalça.

Artefactuário de fiação[2], com proeminente dobadoura[3].

Arquitectura despojada. Cobertura com telha de meia cana.

Paisagem de luz e sombra.

Trás-os-Montes.


[1] Uma das senhoras está a fazer meia, parece.

[2] O artefactuário (neologismo?) é uma roda de fiar, localmente conhecida como torno.

[3] Proeminente roda, deve ser o que o autor queria dizer.


vergílio correia, mulher e linho


18. Mulher sentada. Vendedeira de lã em meadas [1]. Ao fundo, homens e animais.

Feira em meio rural. Muros de pedra solta e cumeada.

Paisagem inóspita.

Beira Alta? Trás-os-montes?


[1] Parece-me que o que a senhora tem ao lado são estrigas de linho, e não lã. E um belíssimo taleigo também.



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Published on September 07, 2017 05:47

August 18, 2017

a bênção do gado

bênção do gado por são mamede

bênção do gado por são mamede

bênção do gado por são mamede


Mesmo ao lado de Lisboa, junto à capela de São Mamede de Janas, uma igrejinha do século XVI-XVII que merece só por si uma visita, celebra-se todos os anos a Bênção do Gado nas Festas de São Mamede. Aqui não há pastores vestidos a rigor e os animais já não são enfeitados, embora persista a tradição das fitas coloridas abençoadas protectoras (usadas pelos respectivos donos ao pescoço). As voltas à capela, assunto sério entre os pastores da Serra da Estrela, aqui são dadas em passeio, de tartaruga ao colo ou cão pela trela, que a festa não é só das ovelhas e cabras.


bênção do gado por são mamede

bênção do gado por são mamede


Cavalos, vacas, galinhas ou coelhos, todos têm direito ao duche de água benta servido acompanhado de um largo sorriso. No pinhal ao lado, os visitantes acampam e piquenicam durante todo o dia, desarrumando-se entre mantas penduradas que protegem do vento ou do sol. Ao lado há farturas, carrinhos de choque, cestos e ferramentas. No ano que vem voltamos de certeza.


bênção do gado por são mamede

bênção do gado por são mamede



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Published on August 18, 2017 11:27

July 7, 2017

#lãdosaçores

fiar


Uma semana em viagem para continuar um trabalho em curso sobre a lã nos Açores. Foi também o momento para ressuscitar o projecto Lã em Tempo Real, ao qual devo muitos gigabytes de gravações por todo o país ainda por editar.

Em São Jorge as rodas de tipo 2 (cf. Normas de Inventário da Tecnologia Têxtil) entraram (ou vulgarizaram-se) dos inícios do século XX e substituíram as que antes se usavam, de tipo 1 como em São Miguel. Chamam-lhes invariavelmente engenhos e já não há muitos a trabalhar, que a lã na ilha do Dragão, apesar das afamadas colchas, é coisa quase esquecida. Ela está lá, no entanto, no dorso das ovelhas tosquiadas só porque tem mesmo de ser, e é enterrada ou queimada todos os anos que os bichos são só para o petisco. Tantas contradições nesta ilha linda.


ovelhas

engenho

fios

37


Cooperativa de Artesanato Senhora da Encarnação, Ribeira do Nabo, Ilha de São Jorge, Açores.



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Published on July 07, 2017 06:47