Rosa Pomar's Blog

July 30, 2025

Tecer com tabuinhas

Bastidor desmontado bastidor desmontado novelos Pegulhal tablet weaving tablet weaving

Há quinze anos encomendei um livro em segunda mão sobre tablet weaving, uma técnica de tecelagem de cairéis em que a possibilidade de tecer desenhos é criada através de tabuinhas ou placas com furos junto aos vértices por onde passam os fios da teia.

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Published on July 30, 2025 02:04

July 21, 2025

the botanic age

tecer cairelTear de franjas The botanic age

Trago para aqui estas stories para depois me lembrar.

Ter lido o The Botanic Age no sábado passado deu-me vontade de tecer. Usei o tear de franjas que a Anabela me deixou, uns pedacinhos de Brusca e um dia inteiro, com a descontração de quem está só a brincar. Prendi o início da teia com duas tiras de feltro que acabei por não tirar e estreei uma das poucas coisas que comprei no Japão e que adoro: um pequeno engenho de fazer cordão.

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Published on July 21, 2025 08:38

May 3, 2025

habemus

Em 2010 andava pela Serra da Estrela na companhia da minha amiga Diane a conversar com pastores e a visitar fábricas de lanifícios. Já não me lembro exactamente como, fomos parar à fábrica de cobertores de José Pires Freire, em Maçaínhas, onde duas operárias e um tecelão reformado asseguravam a produção do ex-libris da região, o Cobertor de Papa. O futuro estava longe de estar garantido mas ainda se conseguia dar resposta às encomendas. Anos depois, o patrão já idoso encerrou o negócio e vendeu o equipamento, aparentemente condenando à extinção o genuíno (porque tecido em tear manual) Cobertor de Papa. Os contornos deste quase fim davam um artigo de fundo com variadíssimas ramificações que pintaria um eloquente retrato do país que temos (fica o convite feito aos jornalistas de investigação que ainda vão existindo). Em 2025, a associação O Genuíno Cobertor de Papa mantém, milagrosamente com as máquinas que vi em 2010 e no mesmo local, uma produção muito residual de cobertores graças à tenacidade da ex-operária Céu Reis (nas fotos) mas que assenta no trabalho esporádico de um tecelão que não o era nem tem saúde para o ser. Não faltam curiosos, não falta visibilidade (só) dada pelo programa oficial do Estado para o Saber Fazer, não faltam operadores de turismo mais ou menos chique a capitalizar visitas, não faltam encomendas. Mas na verdade falta tudo para manter vivo este produto secular, porque não há um tecelão a tempo inteiro nem o mínimo de apoio logístico que dignifique o trabalho de quem não quis desistir.

A produção em Portugal do mais quente dos nossos cobertores de lã remonta aos meados do século XVI, apesar de se saber por referências em documentos medievais que já era usado e estimado muito antes. Em 1572, os estalajadeiros da cidade de Lisboa usavam-nos nos quartos mais confortáveis, sendo que na categoria abaixo os hóspedes tinham apenas direito a uma manta alentejana. O Cobertor de Papa deve as suas qualidades às daquela que é hoje em dia a mais desvalorizada das nossas lãs, a lã de tipo churro (ou seja, mais longa e grosseira que as dos tipos fino e entrefino). Inteiramente tecido em lã churra, o cobertor é depois apisoado e cardado, de forma que muitas das fibras longas e volumosas que o compõem ficam levantadas e criam um manto suave de pêlo que, tal como acontece nos animais, retém o ar quente e portanto aquece rapidamente quem com ele se abriga.

Fotografias de Diane Gazeau (2010) e Paulo Lima (2025).

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Published on May 03, 2025 06:26

March 30, 2025

roupa de sentir

Reparo que o leitor à minha frente, um homem mais velho, traz vestida uma camisola feita à mão. Foi feita para ele ou por ele, porque lhe assenta perfeitamente nos ombros. O fio, a gola e a cor improvável de malva manifestam um par de mãos e um trabalho caseiro. Tem motivos das camisolas antigas dos pescadores britânicos. Distraio-me da leitura, comove-me o pequeno erro junto a uma das tranças, registo de um momento. Talvez tenha sido uma conversa ou uma gargalhada, ou uma cena emocionante numa série de televisão ou algo na paisagem. Se calhar quem fez a camisola sabe o que foi. Se calhar até deixou lá esse erro (ou assim já não é um erro?) de propósito para se lembrar sempre do que o causou. Podia meter conversa com o senhor da camisola, dizer que fico sempre contente quando não sou a única, bom, às vezes também há uma miúda com uma camisola da Humana ou da Vinted. Nunca não correu bem começar uma conversa com um desconhecido por causa de uma camisola feita à mão. Até porque vestir uma é cada vez mais um acto de afirmação de alguma coisa, seja de saudade de alguém, de vaidade de uma técnica que se domina ou de ostentação de uma escolha de consumo. Volto ao que estava a ler, é uma notícia que começa assim: os investigadores criaram um equipamento tecnológico que é incorporado no vestuário para monitorizar a atividade física do utilizador, providenciando dados sobre as condições de saúde em tempo real. E depois diz Os nossos corpos emitem gigabytes de dados através da pele a cada segundo sob a forma de calor, som, bioquímicos e luz, todos eles contendo informações sobre as nossas atividades, emoções e saúde. Infelizmente, a maior parte, se não a totalidade, é absorvida e depois perde-se nas roupas que vestimos. Não seria incrível se pudéssemos ensinar o vestuário a captar, analisar, armazenar e comunicar esta informação importante sob a forma de conhecimentos valiosos sobre a saúde e a atividade. É a antítese distópica da camisola do leitor à minha frente.

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Published on March 30, 2025 04:17

August 25, 2023

amadeu ferrari

Amadeu Ferrari, Ceifeiras. Amadeu Ferrari, Ceifeiras [Padrão, Beja, 1960-65?]. ©Arquivo Municipal de Lisboa

Volto a estas imagens que dei a conhecer há doze anos às quais voltei mentalmente uma e outra vez ao longo do tempo. Regresso porque em breve terei de falar delas outra vez mas sobretudo por um feliz acaso me ter dado a conhecer mais informação sobre a sua origem. De tão bonitas e invulgares, a identificação da data e local em que foram feitas (desconhecidos pelo arquivo fotográfico) deram azo a vários comentários curiosos no post original.

Screenshot de post no grupo de Facebook Alentejo – Terra e Gente, 18 de Agosto de 2023.

Um aparte para dizer que não frequento muitos grupos de Facebook mas nos que espreito de vez em quando (grupos de pastores, sobretudo, dois sobre o Alentejo e um sobre plantas) tenho aprendido muito (e rido bastante também).

Este post apareceu-me por obra e graça do algoritmo e quase me fez chorar. Não contactei o autor mas fui a correr à procura do filme O Trigo e o Joio (baseado no romance homónimo de Fernando Namora), de que nunca ouvira falar. Está disponível no YouTube, com muito pouca resolução e sem os minutos finais (não me fizeram falta, foi com bastante sacrifício que vi o filme). Revistas as cenas com as ceifeiras, não consegui ter a certeza de que a identificação esteja correcta. Olhando outra vez para as fotografias, parece-me pelo vestuário que retratam dois grupos diferentes de mulheres, o que bate certo com os momentos do filme (o grupo que passa no início, a ceifa, a folga à sombra das árvores. É uma boa narrativa para estas imagens lindas, espero que esteja certa e que mais informações apareçam.

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Published on August 25, 2023 06:38

April 2, 2023

museus

Veloso Salgado no Museu Nacional de Arte Contemporânea

Certamente por (d)efeito de formação, para mim são um local de prazer. Silenciosos, tranquilos, solenes, convidam ao olhar demorado, às conversas interiores, à descoberta e sobretudo ao prazer de ver e de pensar. Grandes, pequeninos, acabados de abrir ou esquecidos, são imersivos por natureza. Numa cidade nova é normalmente lá que começo e em viagens a só é neles que me sinto acompanhada. Hoje em são notícia quando se questiona se devem ou não devolver peças das suas colecções, se podem ou como podem expor peças que ofendem o status quo ou, quando muito, quando procuram chamar outros públicos com exposições sobre temas da moda. Lamentavelmente não o são quando enfrentam um tal desinvestimento por parte da tutela que, por falta de funcionários, se vêem obrigados a fechar portas parte do dia, todos os dias. Podemos e devemos questionar de múltiplas formas a utilidade dos museus e a qualidade do trabalho que realizam, os públicos que captam e os que deixam de fora, mas uma coisa é certa: museus fechados não servem para nada.

MNAC #poortugal
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Published on April 02, 2023 05:50

March 15, 2023

lixo

Hoje em dia quando tenho vontade de dizer mal de uma coisa é frequente pensar que 1. não vale a pena e/ou 2. se o assunto me preocupa mais valia fazer qualquer coisa para tentar resolvê-lo. Tenho repulsa ao chamado virtue signalling e à conversa do eles. Por isso, quando vi estes caixotes pela primeira vez, imediatamente a seguir ao sentimento de irritação senti-me culpada por não assistir regularmente às reuniões da minha junta de freguesia, por não ser mais activa no condomínio, por ter demorado cinco minutos a mais no duche, enfim, por existir num planeta em colapso e ter plantado nele mais três criaturas. Mas pronto, há momentos em que uma pessoa tem mesmo de destilar um bocadinho porque não pode passar diariamente por estes electrodomésticos urbanos e ficar calada.

Papeleira inteligente (sic)

Desenhar um caixote do lixo é um desafio (aqui em casa o assunto foi tema de conversa recentemente): há que ser resistente às intempéries, protegido para a chuva não entrar, resistente ao fogo por causa dos cigarros e ao vandalismo (não sei se no vosso liceu também acontecia pegarem fogo de propósito a estes que de resto me continuam a parecer bem), fácil de esvaziar e de limpar e com capacidade suficiente para não exigir demasiada manutenção. Mas um caixote do lixo tem de ser antes de mais tão fácil de usar que qualquer pessoa o use sem pensar, sem dúvidas e sem hesitações. E, pelamordedeus, estamos no século vinte e um, pensado para durar e construído com a menor pegada ecológica possível.

Agora é olhar para a NOVA PAPELEIRA INTELIGENTE espalhada por Lisboa e por vários outros municípios (encontram-se num instante no google). A empresa que a vende, um dos principais players ibéricos na prestação de serviços no setor das águas, saneamento e conservação de superfícies (nas suas próprias palavras) chama-lhe papeleira inteligente wastemaster (ah, tão melhor do que caixote do lixo – só que não) e diz que é a mais vendida em Portugal. Pelos vistos foi estrela na Portugal Smart Cities Summit, um evento da ©SMARTCITIES que é uma entidade relacionada com cidades sustentáveis cheia de smart people (não estou a gozar, é o que diz no site). Estou-me a desviar do tema mas fico sempre fascinada (e com vontade de chorar) quando espreito para estes universos. Voltemos à NOVA PAPELEIRA INTELIGENTE:

papeleira

pa.pe.lei.rapɐpəˈlɐjrɐ


nome feminino

móvel onde se guardam papéis; secretáriacesto ou recipiente próprio para receber lixo de papelrecipiente colocado em espaço público, próprio receber papel e lixo pouco volumoso

Fonte: Infopédia

Eu sei que os portugueses em geral continuam a não separar o lixo (não sou eu que digo, são os números), mas que a Câmara de Lisboa chame papeleira a um contentor fechado que aparentemente (não diz lá em lado nenhum) é para lixo indiferenciado é triste, assim a roçar o criminoso. Nem vou explorar a questão de não haver opções para papel e embalagens perto das papeleiras (papel? ao pé do caixote que se chama papeleira? se calhar era confuso?) nem o assunto muito mais complexo de ensinar/convencer/obrigar as pessoas a separar o lixo. Vamos assumir que vai tudo para o mesmo caixote, aliás papeleira, porque é isso que aparentemente a CML nos está a dizer que façamos. Esqueçam a reciclagem, esqueçam as smart people das smart cities do sustentável (afinal o que é que separar o lixo tem a ver com sustentabilidade?) e avancemos:

Estas papeleiras inteligentes são eléctricas! Mas como são smart e sustentáveis claro que funcionam com um painel solar. Que é como quem diz com uma bateria (lamento, sou do clube dos que não acreditam que os carros eléctricos vieram salvar a humanidade). Um painel solar e uma bateria por papeleira, com custos de produção e manutenção (aposto que) astronomicamente superiores (alguém pode fazer as contas?) aos de um caixote do lixo convencional, para não falar na questão do prazo de validade (quanto tempo vai durar cada uma destas baterias? sustentabilidade, hello?). E são eléctricas porquê? Porque têm, segundo o fabricante, localização GPS e software de gestão! Segundo a Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, as papeleiras estão conectadas em rede, permitindo que as equipas de Higiene Urbana saibam quando estas estão cheias e optimizar as rotas de recolha, além disso têm também uma função compactadora, permitindo maior capacidade de armazenamento em relação aos caixotes do lixo convencionais. Ou seja, além de tudo o resto trazem custos associados ao software (ah, e as actualizações, e as questões que têm de ser resolvidas pelo técnico da empresa?) e provavelmente de formação dos funcionários camarários que vão estar no backoffice da rede das papeleiras (já disse um palavrão feio entredentes). Há aqui uma (uma única) coisa que me parece interessante: a capacidade de compactar os resíduos para aumentar a capacidade do contentor (mas também não sei se resíduos orgânicos não têm de ser recolhidos frequentemente de qualquer maneira e, se me dessem o valor deste investimento que eu não sei qual é mas gostava mesmo muito de saber, eu usava-o a montante, em – digam que sou ingénua – aprender a não gerar tanto lixo). Também queria acrescentar que nunca, nunca, vi ninguém a usar uma destas papeleiras para lá pôr seja o que for.

Mas nada do que aqui escrevi exprime o que senti ao ver, no site do fabricante, esta imagem que à primeira nem acreditei que fosse real:

Wastemaster 240

O que é então a papeleira inteligente? Um vestido de luxo, de lixo, super smart, de, adivinhem, um caixote do lixo. I rest my case.

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Published on March 15, 2023 10:48

February 26, 2023

era uma vez a lã

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A post shared by Retrosaria Rosa Pomar (@retrosariarosapomar)


Era uma vez a Lã, documentário de Sofia Leite para a RTP1 rodado entre 2021 e 2022, estreou a seguir ao Natal. Para os que estamos do lado de dentro, por mais longo que fosse saberia sempre a pouco mas a julgar pelos comentários e partilhas trouxe a quem viu informações curiosas e inesperadas. E ensinou a muitas pessoas o nome de uma raça autóctone que me é particularmente querida, a Churra Badana.

Pilha de lã Churra Badana abandonada por falta de comprador (Fotografia ©Ágata Xavier, 2023)

Não consigo ser muito optimista relativamente ao panorama da lã, em Portugal ou no mundo. Há dias em que celebro os nossos pequenos feitos. É verdade que já salvámos (palavra que já soa a greenwashing) bastante lã Badana de se transformar em lixo, que a transformámos num bom fio, que desse fio nasceu um casaco, que esse casaco levou a lã Badana onde ela nunca tinha ido, que o fizemos e fazemos de forma auto-financiada e como projecto de longo prazo. Mas é sempre uma gota de água num oceano imenso a cujo fundo não se chega.

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Published on February 26, 2023 04:10

February 21, 2023

conserto

Em 2020 comecei a correr diariamente. Experimentei na companhia de um amigo, por graça, mas assim que começou a pandemia tornou-se um hábito de saúde, acho que sobretudo mental. Corri nas ruas desertas de Lisboa e por caminhos de terra do Baixo Alentejo, quase todos os dias, 5km diários durante dois anos. Ao fim desse tempo percebi que era corrida a mais para o meu organismo e reduzi a intensidade, mas continuo a correr. Frequentemente escrevo posts imaginários durante a corrida que nunca passam a texto. Isto para dizer que há uns dias consertei esta algibeira que me acompanha na corrida. E que lhe cosi um emblema (uma algibeira numa algibeira) da Amor Luta num momento em que faz particular sentido falar do acesso das mulheres portuguesas aos cuidados de saúde que lhes são devidos por lei.

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Published on February 21, 2023 12:56

mediterranean knitting

Foi à custa deste post no instagram (e de dois dias de molho em casa) que encontrei tempo para começar a consertar este blog, que tinha sido inutilizado desde que uma actualização automática desconfigurou todos os caracteres acentuados:

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A post shared by Evdoxia/Doxy Style in Colour (@duchessevdoxia)


Esta menina chama-se Evdoxia, é grega, e cheguei até ela porque partilhou a sua versão do casaco Badana tricotado em Zagal cor de rosa. Das mensagens que trocámos fiquei a saber que tricotar com o fio ao pescoço é prática corrente na Grécia e na Turquia (eu só sabia que já tinha sido). No seu post percebe-se que tricota as malhas à continental e confirmou-me que prefere tricotar meia a liga, mas não sei se é esta a forma mais comum ou apenas a sua. Tantos anos depois da edição do Malhas Portuguesas e já alguns depois da do magnífico Keepers of the Sheep, continuam a faltar livros sobre as técnicas e os modelos do mundo mediterrânico.

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Published on February 21, 2023 10:48