Pedro Guilherme Moreira's Blog, page 38

August 28, 2013

PG-M no GPS

Este roteiro muito pessoal passou na Rádio Nova, que, por ser do Porto, acarinha os seus escritores:
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Published on August 28, 2013 04:20

August 27, 2013

Regra literária

Quando é meio, e não fim, literatura cresce na proporção inversa dos umbigos ou do número de espelhos.




PG-M 2013
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Published on August 27, 2013 08:50

A natureza do silêncio


"(...) E o barco sulcou o rio tentando o silêncio. Que é relativo, nunca absoluto. Silêncio é a suspensão dos ruídos comuns, mecânicos. Os galos a cantar de madrugada, os pássaros à conversa na copa de um pessegueiro, o vento, o próprio remo a separar as águas do rio, nada é adequado a quebrar o silêncio. No mundo das ideias o rumor suave das bocas durante os pensamentos também não. A dolência do barco, a paisagem definida dos socalcos verdes, o vinco dos montes, a liquidez da luz matinal a molhar as bochechas e a dourar os cabelos fez com que todos se calassem. (....)"
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Published on August 27, 2013 08:32

Ego-free


Antes do facebook e das redes sociais era mais simples escrever coisas bonitas. Mas a beleza de certos aforismos está a perder-se por desgaste. Eis o que escapa aos escritores que não frequentam estas coisas: saber o que já não é preciso escrever. Claro que aqui há um problema de profundidade. Que não é só dos mais novos, como se diz. Aliás, nos mais novos a necessidade de rebeldia traz mais e melhores murais. Mas falta pensar. E que o motivo que nos leve a escrever sejam os outros, e não nós. E que nós só possamos aparecer na medida em que servimos a todos.

PG-M 2013
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Published on August 27, 2013 08:19

Communication


Quando deixo esta mensagem não sinto a solidão nem a madrugada, o gosto ou o desgosto, o corpo ou o pensamento, as mãos ou as ideias, a beleza ou a insignificância, o tempo ou a eternidade, deus ou o diabo, o alter ou o ego, quando escrevi aqui ou nas cavernas quis apenas uma só coisa pelos séculos fora: ser ligeiramente mais alto, mais amplo, mais comprido, menos singular, na consciência plena da minha pequenez.
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Published on August 27, 2013 08:05

August 15, 2013

sol e lama


Está sol, pois está, e desta varanda só vejo mar, pois vejo, e cheira a bronzeador e às peles que passam com sal, estou tão perto que chego a sentir a espuma das ondas nos zigomáticos (que há quem adoce por "maçãs do rosto", argh), pois chego, e os miúdos a passar com sorrisos quase puros, e os caps a dar sombra aos olhos, não ao olhar, está maré vaza e estão corpos vazios e há espelhos na praia,por isso nenhum perdão para mim, que eu seja e veja isto tudo e insista que aqui por trás ainda é verão e não há hordas de vidas dolorosas com raiva que chegam ao fim da tarde como lama a desprender-se do monte para passar uma tangente à perfeição dos outros e conseguir sobreviver ao seu dia seguinte. Não, não cravei uma bandeira negra nesta praia indelével, hasteei a mão direita para que toda a infelicidade seja uma ilha breve e toda a felicidade uma praia comprida nessa ilha onde se misturam os sinais da beleza e os da dureza e todos, uns mais unidos do que outros, uns sistematicamente amparados, outros nunca, estes nunca, saibam que com o mesmo nunca se faz a morte, nunca é cedo nem tarde para a morte, como nunca é cedo nem tarde para a vida, todos nós com estes sorrisos perenes e alguns de nós sob esses óculos negros carecem, e quando vocês, turba das lágrimas e das dores e da raiva, descerem na lama à linha de mar para ganhar fôlego para mais infernos, procurem as mãos direitas hasteadas e apertem-nas, ainda que ninguém responda. Há sempre um infeliz com cara de feliz, há sempre um feliz com cara de infeliz, mas não há nenhum que, apesar de claro e belo e com o olhar limpo, não faça sombra no mar, como os cavalos do outro.
PG-M 2013
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Published on August 15, 2013 03:06

August 14, 2013

Das bestas


Na minha aldeia já todo o vento me rugia aos ouvidos a besta que eu era.A mesma aldeia que protegia o torno dos meus braços com silêncio, que me servia caudalosamente o vinho e o bagaço, que nunca amparou a mulher ou os filhos para não perturbar a normalidade.E como a aldeia o cão, que durante vinte anos calou os cintos e os dedos grossos sobre os pescoços, até alguns murros.Antes da saída dos filhos, eu nunca toquei na mulher, pelo menos não coberta de gesso, os miúdos sempre ajudavam, mas quando a casa ficou vazia e eu a via fazer tudo com lentidão e lamento, passei a usar as próprias muletas para a dexar estendida.Com a mulher no chão, o bicho deixou de usar o focinho sob a manta e passou  a ganir sentado, mas bastava um berro meu para ele voltar o corpo e deixar o marido e a mulher em busca do entendimento, que chegava se o jantar fosse servido, o que passou a acontecer sem falhas depois das primeiras tareias, que eram funcionais.Alguns dinheiros que não pude pagar de volta fizeram a família votar-me ao abandono e a palavra "besta", que devia qualificar apenas o cão, passou a ouvir-se nas ruas dirigida a mim.A mulher não era fácil e caía muitas vezes na histeria, principalmente quando discutíamos ao volante, eu não tinha problemas em parar o carro e arrastá-la pelos cabelos para fora. Uma vez deixei-a na estrada de piche e a estúpida conseguiu voltar a casa à noite com a ajuda do taxista da aldeia e ainda apanhou.Tenho perfeita consciência de que podia ter evitado tudo isto se a mantivesse em casa e não fosse tão liberal nas saídas em família. Se tivesse sido menos tolerante nos almoços de caça, quando a deixava sair sozinha com os filhos.Quando a perdi, quando finalmente a perdi, a aldeia dizia que tinha sido para a tristeza, depois de morrer o nosso mas velho num regresso de Paris. Ela apagou-se com o coração dele e eu fiquei sozinho numa casa de pedra de dois andares e um cão velho de vinte anos.O cão também apanhava, mas pouco.Era o dia da missa de sétimo dia da mulher e eu estava doido de fome quando apontei a arma ao bicho. Ele, como nunca antes, enfrentou-me sem qualquer clemência nos olhos, sempre sentado e com o focinho inclinado para o chão, os olhos não tinham raiva, não tinham ódio, só uma quietude insuportável. Todos disseram que tinha sido por desespero e fome, mas na verdade foi medo.
Antes que o cão me despedaçasse, apontei à têmpora e disparei.Os primeiros a chegar fizeram passar no café a versão de que o bicho estava sentado, mas sem fazer um som ou esboçar uma reacção a quem entrava. Disseram que era, não um assassino, mas um fiel servidor, e de mim que era nada.
Minto. Disseram - diziam - que eu era a besta e ele o homem.E quando o diziam riam-se e limpavam os bigodes de tinto carrascão e depois paravam e diziam coitada da mulher.O cão foi abatido de velho.
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Published on August 14, 2013 17:06

Raiva e acção

Esta é daquelas músicas que define um estado de espírito. Passa sempre, na íntegra, e faz o coração bater mais depressa, nos três minutos finais de cada episódio de "The Killing", uma das melhores séries de sempre, em que vemos o verso da Seattle que, por exempo, nos é mostrada limpa na Anatomia de Grey. Seattle chuvosa, cinzenta, sangrenta, o húmus humano, mas afinal tão mais nossa do que do Grace Hospital (ou Memorial). Quando ouço este música no mp3, a vida muda. Há uma raiva ínsita na vida de todos. Pequena, grande, não importa. Esta música aprisiona-a nos primeiros segundos, e depois dá-nos um crescendo de determinação que faz agir.É magnífica, magnifica, magnífca.Está aqui e é da autoria do compositor dinamarquês Frans Bak:
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Published on August 14, 2013 15:46

August 11, 2013

Escrevo para


"Não escrevo para que me chamem poeta. Escrevo para combater."
August Strindberg


PG-M 2013
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Published on August 11, 2013 18:09

Dosis sola facit venenum

O exercíco de não olhar para si próprio não resolve o anátema dos que estão fora de todas as redes sociais e sobrevivem - estar de fora é uma opção legítima. O que já não é legítimo é estar de fora e saber que todos são diferentes e achar que os que estão dentro são todos iguais, têm os mesmos vícios, os mesmos problemas, as mesmas carências e nada de bom. Se irrita a sucessão de praias e jantares e festas que se perdem, desliga-se. Como a televisão. Se indispõe a maldade, evitam-se os maldosos, como na vida. Se há verdadeiras bestas que, sendo espertos, não têm filtro social e insultam aqueles ou a memória daqueles que são exaltados ou não suportam as loas preguiçosas aos que morrem, aprenda-se as bestas, acolha-se as bestas no lugar que foi feito para elas serem livres. Se incomodam, desligue-se, como a televisão. Claro que o exercício do bloqueio ou a limpeza de caras é legítimo, mas tem o lado B: na vida não se limpam os incómodos. Pelo menos não com um clique. A rede social nasceu precisamente para retirar os egos do seu próprio centro, e quando os egos se centram em si perante milhares, milhões, expõem-se, são sindicados: uns vão aprendendo a fugir de si, outros viciam-se no número de polegares erguidos. Como na vida. A ilusão e a verdade não são líquidas. São sólidas e podem sublimar-se. E uma vez no ar respiram-se. Pode ser veneno. Pode não. Talvez só a dose faça o veneno. PG-M 2013fonte da foto
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Published on August 11, 2013 16:55