Rui Azeredo's Blog, page 6

September 3, 2018

Nomeados para os Galardões BD 2018

[image error]A 8 de setembro vão ser conhecidos os vencedores dos Galardões de BD 2018, numa cerimónia integrada na edição deste ano da Comic Con Portugal, a decorrer no Passeio Marítimo de Algés de 6 a 9 deste mês.

Os vencedores sairão das cinco categorias selecionadas pelos 21 elementos do Grande Júri, onde eu (Rui Azeredo) me incluo enquanto blogger.

A lista de candidatos é a seguinte, dividida pelas cinco categorias.


Galardão Anual BD Comic Con (para o melhor álbum)

Comer/Beber, de Filipe Melo e Juan Cavia (Tinta da China)

Man Plus, de André Lima Araújo (Kingpin Books)

Olimpo Tropical, de André Diniz e Laudo Ferreira (Polvo)

Os Regressos, de Pedro Moura e Marta Teives (Polvo)


Galardão Melhor Argumento

André Lima Araújo, em Man Plus (Kingpin Books)

Fernando Dordio, em O Elixir da Eterna Juventude (Kingpin Books)

Filipe Melo, em Comer/Beber (Tinta da China)

Pedro Moura, em Os Regressos (Polvo)


Galardão Melhor Desenho

André Lima Araújo, em Man Plus (Kingpin Books)

Fábio Veras, em Jardim dos Espectros (Escorpião Azul)

Manuel Morgado, em Dragomante (G-Floy/ComicHeart)

Marta Teives, em Os Regressos (Polvo)


Galardão Melhor Curta

Fränzi ou A Ponte Destroçada de Um Ilustrador, de Nuno Saraiva (da antologia Viagens, da Comic Heart/G-Floy)

Monte Morte, de André Oliveira e Jorge Coelho (da antologia Silêncio, da Comic Heart/G-Floy)

Monstros, de Filipe Pina e Nuno Lourenço Rodrigues (da antologia Silêncio, da Comic Heart/G-Floy)

Nem Todos Os Cactos Têm Picos, de Mosi (Polvo)


Galardão Melhor BD de Autor Estrangeiro

Afirma Pereira, de Pierre-Henry Gomont, baseado na obra de Antonio Tabucchi (G-Floy)

Bouncer: Hell and Back, de Alexandro Jodorowsky e François Boucq (Arte de Autor)

Ecos Invisíveis, de Tony Sandoval e Grazia La Padula (Kingpin Books)

O Legado de Júpiter vol.1, de Mark Millar e Frank Quitely (G-Floy)


Autores de topo presentes na Comic Con 

Aproveitando a deixa, refira-se que vão estar presentes na Comic Con 2018 vários autores de topo de BD, provenientes desde os comics norte-americanos à banda desenhada europeia, entre outros a géneros. A lista de convidados inclui nomes como Batem, Chris Claremont, Yves Sente, Mark Waid, Mauricio de Sousa, Joe Prado, Tony Sandoval e Miguelanxo Prado, entre outros.


[image error]Filipe Faria fala na Comic Con sobre Dragomante no dia 9

No último dia da Comic Con (domingo, 9), o escritor Filipe Faria, responsável pelo argumento da BD Dragomante – Fogo de Dragão (ilustrada por Manuel Morgado), vai estar presente às 16h30 num painel para conversar precisamente sobre esta sua obra. Filipe Faria ganhou notoriedade como escritor  do género fantástico, com obras como a série As Crónicas de Allarya.

O autor, que já antes trabalhara com Manuel Morgado em Talismã, vai marcar também presença em duas sessões de autógrafos, nos dias 8 e 9. Manuel Morgado também estará presente para autógrafos no dia 8.

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Published on September 03, 2018 02:37

August 30, 2018

Amesterdão – Moco Museum, à vontade entre gigantes

[image error]O Moco Museum, em Amesterdão, está cercado por gigantes. Arrojadamente situado na Museumplein (a ampla Praça do Museus), é, por isso, vizinho dos gigantes Rijksmuseum (A Ronda Noturna de Rembrandt, entre muitas, muitas outras obras), do Museu Van Gogh (a maior coleção de Van Gogh do mundo) e do Stedelijk Museu (arte contemporânea).

Mas o Moco Museum, inaugurado em 2016, tem os seus próprios atrativos, e não são poucos, começando pelo edifício, a Villa Alsber, projetada em 1904 por Eduard Cuypers (sobrinho de Pierre Cuypers, que desenhou o Rijksmuseu). Serviu como residência até 1939, altura em que foi entregue aos sacerdotes que lecionavam na escola de São Nicolau. Antes de ser museu serviu ainda como sede de uma firma de advogados. Já agora, uma explicação para o nome, Moco: vem de Modern Contemporary.

[image error]Mas a cereja no topo do bolo é o facto de presentemente, e até 15 Janeiro de 2109, ter patente uma completa exposição de Banksy, depois de já ter recebido mostras dedicadas a Andy Warhol, Salvador Dali e Roy Lichtenstein. O «anónimo» Banksy, artista britânico famoso pela sua streetart, tem aqui expostas algumas das suas obras mais conhecidas, trazidas das ruas. [image error]Mas, essencialmente, as obras expostas no Moco foram concebidas para interiores, entre as quais algumas telas, como beanfield, mas como não reparar em the Girl with the Ballon, ou Laugh now and, entre tantas outras?


Icy e Sot, do Irão para Nova Iorque






 


Mas Banksy não está sozinho no Moco Museu, antes pelo contrário, está muito bem acompanhado, pois também se encontra patente uma interessante mostra dos certeiros e implacáveis irmãos iranianos Icy e Sot, conhecidos por «Banksy do Irão», dado que também se dedicam à streetart. Com obras suas banidas no Irão, por serem consideradas controversas, mudaram-se para Nova Iorque, onde continuaram a apostar em temas como opressão, fama, liberdade, guerra e sonhos. Parte do resultado está patente no Moco Museum e ninguém sai de lá indiferente, seja pela temática, seja pela estética e valor das obras.


Van Gogh segundo Liechtenstein

[image error]E, na cave, há ainda uma belíssima reprodução em 3D de uma obra de Liechtenstein, que por sua vez se inspirou em Van Gogh. Explicando melhor: foi montado um quarto baseado no quadro de Liechtenstein Quarto em Arles, que ele pintou segundo um postal da famosa obra de Van Gogh O Quarto do Pintor em Arles.  O visitante pode circular pela divisão e sentir em simultâneo a «presença» de dois consagrados artistas.


No jardim, à vista de todos






Mas não é tudo. No jardim envolvente à casa, também há arte, esta com a vantagem de poder ser apreciada desde o exterior, sem pagar bilhete. Mas o melhor mesmo é entrar, pois é possível tocar e usar algumas das obras, de artistas como WhIsBe (especializado em «gomas de ursinhos»), Banksy, Fidia Falaschetti e Marcel Wander.


Mais informações em: https://mocomuseum.com/


 


 


 


 

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Published on August 30, 2018 03:01

July 23, 2018

Umas luzes sobre tradução e revisão

[image error]Dado que a minha formação profissional foi outra, jornalismo, até poderia não ser a pessoa mais indicada para estar a dar aqui umas luzes sobre o que é a tradução e também a revisão literária. No entanto, já levo uns anos de experiência, com umas boas dezenas de traduções e revisões na «mala», e, por isso, acho que podem ficar minimamente descansados.

Para quem não sabe, ou nunca pensou, como funciona o processo de tradução de uma obra literária, aqui ficam então algumas luzes; da revisão «falarei» mais à frente neste texto, dado que se trata de uma fase posterior no processo de elaboração de um livro.

Uma editora, por norma, tem uma carteira de tradutores (trabalhadores independentes) com quem trabalha habitualmente e a quem encomenda as suas traduções. Para isso, pode ter em conta, quando possível, o facto de o tradutor já conhecer a obra do escritor em causa (pode ter trabalhado outros livros do autor), por já haver uma útil familiaridade, ou de estar habituado ao género literário do livro em causa. Havendo disponibilidade e interesse da parte do tradutor, é-lhe enviado o original. Hoje em dia, este original, por norma, é em PDF, sendo cada vez mais raro haver traduções feitas a partir de livros em papel – nem queiram saber o estado em que por norma ficam esses livros, às vezes até com blocos de páginas arrancados para serem mais fáceis de manusear. E, então, o tradutor começa a trabalhar no Word (ou outro processador de texto), por norma pressionado por um prazo apertado.

Um tradutor deve ter sempre em conta a «casa» para quem trabalha, pois entre as editoras há sempre pequenas «divergências» em termos de estilo. Por exemplo, que tipos de aspas usar, deve seguir o artigo antes do nome nos diálogos (ou até na própria narrativa, especialmente nas obras para públicos mais jovens), respeitar ou não o novo acordo ortográfico, os nomes das personagens devem ser traduzidos, 8th Avenue ou Oitava Avenida ou 8.ª Avenida, etc.

Depois, há situações e dúvidas com que nos vamos deparando a cada passo e que, às vezes, é preciso resolver na hora. Aí, sigo a regra que me ensinaram no dia em que comecei a trabalhar nesta área: «Rui, usa o bom senso.» É uma boa regra para se fugir ao aperto do formalismo que tende a afetar quem teve formação na própria área da tradução. Eu, enquanto tradutor, perdi muito (nem sei bem quanto) por não ter estudado na área, mas ganhei alguma liberdade para tornar as «coisas» menos formais, o que em certos casos é vantajoso. A falta de formação específica também me permite nunca tomar nada por garantido, o que me leva a fazer inúmeras consultas antes de me decidir. Nem imaginam quantas vezes eu estava errado em relação a algo.

Um dos maiores tropeções que um tradutor pode dar é traduzir à letra algo que tem outro sentido subjacente. Traduzido à letra até pode fazer sentido, mas perde-se o requinte da ideia original do escritor, com prejuízo para o próprio mas, principalmente, para o leitor. Uma frase, ou ideia, vulgar pode afinal ser uma preciosidade, que não deve permanecer oculta.


As «outras» línguas

O mais comum é traduzir do inglês para português, seguido pelo castelhano e pelo francês, mas também se faz, naturalmente, a partir de outras línguas menos comuns em Portugal, como o árabe, o hebraico, o polaco, o sueco, etc. A dificuldade, aqui, reside em encontrar quem tenha conhecimentos para traduzir essa língua para português. Há uma alternativa, na qual os leitores mais atentos já poderão ter reparado por vir referida na ficha técnica de um livro: «Traduzido a partir da edição inglesa/francesa/espanhola por…» Não é a solução ideal (uma tradução de uma tradução perde sempre algo pelo caminho), mas por vezes pode ser o próprio escritor a recomendar uma tradução por ser aquela que no seu entender mais respeita o original.

Outra dúvida que poderá afetar os leitores é saber como é possível uma obra em língua estrangeira ter edição simultânea em Portugal e no seu país de origem. Por exemplo, é o caso, por norma, dos livros de Dan Brown. Na verdade, é simples de explicar e de perceber. A obra é entregue antecipadamente ao editor que, quando o tempo escasseia, a distribui por vários tradutores em simultâneo. Cada um trabalha a sua parcela de livro, que depois serão reunidas, idealmente supervisionados por uma única pessoa, para tratar da uniformização de estilo e linguagem. Por norma, os envolvidos neste tipo de trabalho assinam um acordo de confidencialidade, para evitar que algo transpire antes do tempo para o exterior.


O melhor amigo dos tradutores

O revisor, papel muitas vezes ignorado que com frequência nem sequer é referido na ficha técnica, é o melhor amigo do tradutor. É o revisor que aperfeiçoa o texto, apanha as gralhas, descola o texto do original (está mais distante e tem mais facilidade em fazê-lo), corrige erros e interpretações mal feitas. A verdade é que quando um leitor lê um livro e aprecia a tradução não consegue perceber até que ponto foi a intervenção do revisor. Por exemplo, sei de um caso ocorrido há uns anos de uma tradução premiada que, na verdade, não era mais do que mediana. A revisão sim, fora excelente, mas o mérito foi todo para a tradutora. Para a revisora? Nem um agradecimento.

O ideal (possível e viável) é fazer duas revisões à tradução, podendo uma ser feita ainda em Word e outra já em papel, ou PDF, e paginado. Há quem defenda que deverá ser a mesma pessoa a fazer as duas, para limar o que deixou escapar na primeira (há sempre algo que escapa), mas também há quem opte por revisores diferentes para que, com outros olhos, um veja o que escapou ao primeiro. Ao contrário do que acontece com as traduções, há editoras que fazem as revisões internamente, socorrendo-se apenas ocasionalmente de revisores externos. Depende muito do fluxo de trabalho com que se deparem na altura.

Agora, sempre que ler um livro traduzido, já vai saber parte daquilo por que ele passou antes de lhe chegar às mãos.


(Texto originalmente publicado no blogue O Et(h)er dos Dias)

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Published on July 23, 2018 10:11

June 11, 2018

A arte de contar histórias da Disney em exposição em Barcelona

[image error]Quando se visita, enquanto turista, uma cidade ou país há a tendência para se procurar os pontos de referência clássicos, pois é ponto assente que essa é a melhor forma de conhecer os locais. Só que isso, apesar de todos os prós, pode ser prejudicial, pois passa-nos muita coisa ao lado que nem procuramos saber previamente o que é.

[image error]Por exemplo, visitando Barcelona, pensa-se logo nas Ramblas, na Sagrada Família, no Park Güell. Tudo merecedor de visita, sem dúvida, mas há mais, muito mais. Há dias de visita à cidade, por mero acaso deparei-me com uma exposição da Disney, na sua vertente cinematográfica. Ahh, bonecada, isso é para crianças, dirão alguns. É, sem dúvida, mas não só. A exposição em causa chama-se Disney – A Arte de Contar Histórias, ou em catalão L’Art d’Explicar Històries, e pode ser visitada nas belas instalações da CaixaForum até 24 de junho. A entrada custa 4 euros, mas é gratuita para menores de 16 anos. E vale bem a pena.

[image error]A exposição, muito bem organizada em termos de espaço, está dividida em cinco espaços que, juntos, formam uma bela viagem pela arte de contar histórias, uma arte inegavelmente dominada pela Disney desde o início do século XX. Estes cinco espaços são o Estúdio (o nascimento dos mitos), a Cabana (o mundo das fábulas), o Bosque (o refúgio dos heróis e das lendas), a Fronteira (os desafios dos tall tales, narrativas do folclore norte-americano) e o Castelo (o «felizes para sempre» dos contos de fadas.

[image error]Servido por painéis explicativos claros e documentados, o visitante pode apreciar belos quadros provenientes das várias fases da produção de um filme, alguns deles meros estudos estéticos que dariam belas obras de arte.

De Mickey e Branca de Neve a Frozen, passando por praticamente todos os heróis e vilões da galeria Disney, além de uns quase desconhecidos, será uma exposição ideal para ver em família, pois além do fascínio natural que despertará nas crianças, tem tudo para cativar um adulto que goste simplesmente de apreciar belas e bem trabalhadas imagens.

A exposição, como referi, está patente em Barcelona no CaixaForum, uma antiga fábrica modernista convertida em espaço de exposições e centro social e cultural.[image error]

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Published on June 11, 2018 08:34

May 3, 2018

A Rampa e a Sereia

[image error]No fim da subida não há nada, mas nem isso os impede de avançar. O casal, já idoso, nem por isso trava ou sequer abranda. Há de chegar ao topo, ver as vistas (pouco haverá a ver, por causa da neve e do cinzento que impera), inspirar fundo e voltar para trás. Terão ido espreitar o que lhes reservava o futuro? Não saberiam, por certo, que daí a oito anos (hoje) uma foto deles seria publicada num blogue. E nós, eu que escrevo e vocês que leem, quantas vezes teremos sido fotografados sem sabermos, meros elementos de uma paisagem? Quantas vezes terão outros pensado quem seríamos e o que faríamos? E o casal, que entretanto já desceu a rampa, onde estará hoje em dia? Continua a subir aquela rampa, ou foi uma vez sem exemplo? Imagino que naquele dia desceram a rampa, foram dizer olá à Pequena Sereia, que “mora” ali ao lado, dirigiram-se em passeio até Copenhaga, ignorando o frio e a neve bela mas por vezes incomodativa, e retemperaram-se com um chá.

Ou se calhar enganaram-se, simplesmente, e desceram irritados a rampa, não querendo sequer saber da sereia.

(Texto e foto originalmente publicados no blogue O Et(h)er dos Dias) http://www.etherlive71.com

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Published on May 03, 2018 02:02

April 30, 2018

Nunca pensei, mas hoje digo com convicção «Ich Bin Ein Berliner»

[image error]Nunca imaginaria, há uns anos, que um dia pudesse vir a proferir com convicção a famosa frase de JFK, mas hoje em dia a verdade é que a digo com muito gosto e toda a convicção. Assim sendo, aqui vai: «Ich bin ein berliner.»

Tendo crescido a ler livrinhos de BD do Major Alvega e outros de guerra, especialmente da II Guerra Mundial, habituei-me, injustamente, é certo, a associar a Alemanha a nazis. «Achtung» e «schnell» eram das poucas palavras que conhecia em alemão, aprendidas em balões de BD saídos de bocas de malvados e carrancudos soldados germânicos. Assim sendo, sem querer fui pondo de parte a cultura germânica, ligando-me mais a influências inglesas, francesas e americanas.

Do lado de lá do Muro de Berlim também não vinha nada de bom, pois apesar de todo o secretismo tinha-se a perfeita noção de que ali, na República Democrática Alemã, não se vivia nada bem… exceto alguns privilegiados.

Dessa forma, nunca me ocorreu pensar numas férias na Alemanha. Até um dia, impulsionado pelos voos low-cost. E, meramente por uma questão de preços, Berlim foi o destino eleito. E que bela surpresa se revelou. Por norma, encontro pontos de interesse em praticamente todos os locais que visito, mas Berlim foi daquelas cidades em que, sem falsidade nem exagero, pude dizer: «Moraria aqui com gosto.»


Grande, mas sossegado

[image error]Vale bem a pena desfrutar da cidade ao ar livre, sentir a rua, percorrer as avenidas amplas e ordenadas, entre edifícios majestosos, mas nada intimidantes, aproveitar os jardins e os muitos canais que ajudam a cidade a respirar. Esplanadas não faltam, nem cafés de requinte, ou restaurantes de todos os pontos do globo, sendo obrigatório provar a cerveja local.

O ambiente é calmo e sossegado, exemplificado no trânsito, apesar da grande dimensão da cidade, pois tudo tem o seu espaço e o seu ritmo, sem sufocos, sem pressas.

A cada passo, surge a inevitável presença do que resta do Muro de Berlim, alguns troços ainda intactos, outros em escombros por ação dos caçadores de relíquias, ou então demarcado no chão em todo o seu comprimento, uma mera recordação de uma linha que chegou a dividir não só uma cidade, mas grande parte do mundo. Nos pontos mais importantes, há explicações, enquadramentos e evocações do que se foi passando junto ao mais famoso muro do mundo.

[image error]Berlim foi uma cidade desunida que agora representa unidade e um dos locais onde isso será mais visível e palpável será a famosíssima Alexanderplatz. Esteticamente, não é das praças mais bonitas do mundo, mas a variedade de gente e de culturas que a «habita», sendo um ponto de encontro de locais e visitantes, poderá ser um belo resumo do que representa hoje Berlim.  Toda a gente lá passa e para, conversa-se, olha-se, respira-se.


Aceitar o passado

O modo como os alemães enfrentam o passado, sem o renegarem, é uma lição para todos, nomeadamente para os portugueses que, passados tantos anos, ainda sentem tanta dificuldade em encontrar a melhor forma de lidar com os seus quase cinquenta anos de ditadura. Esta abertura a discutir o passado, em vez de o varrer para debaixo do tapete, foi uma coisas que mais me seduziu nos alemães.

Em Berlim, o passado nazi não é apagado, basta ver, por exemplo, a bela e recheada ala dedicada a esta época no museu de história da Alemanha, o Deutsches Historisches Museum.

[image error]E o que dizer da RDA? O museu da DDR junto ao rio Spree, do outro lado da Berliner Dom, é um excelente espaço, bem equipado e recheado, traçando um retrato bem conseguido sobre como era a vida na Alemanha Oriental nos tempos da influência soviética, sem esquecer o devido enquadramento político e social. Educativo, formativo, mas também descontraído, reproduz o ambiente doméstico, exibe um Trabant, jornais da época e material diverso.

[image error]Saindo um pouco mais do centro da cidade, e para quem tiver mais estômago, é de visitar o Berlin-Hohenschönhausen Memorial, onde funcionava, nomeadamente, a antiga prisão da STASI, polícia secreta da RDA, para onde eram sorrateiramente levados, e depois muito maltratados (no mínimo), todos aqueles de quem o regime desconfiava, com ou sem razão.

[image error]Mais ligeiro, mas igualmente bem montado e cativante, o moderno museu dos espiões, Deutsches Spionage Museu (no centro, na Leipziger Platz), exibe toda a parafernália dos espiões ao longo dos anos, mais parecendo a sala de equipamentos de James Bond. Por falar de 007, este também tem direito a uma pequena ala, na única zona dedicada à espionagem de ficção. Sendo Berlim uma das capitais mundiais da espionagem, não terá sido complicado montar este espaço, e isso, aliado a uma boa dose de imaginação, permitiu engendrar um «pequeno» museu capaz de cativar todos os públicos, com algumas bem conseguidas atividades para os mais jovens.


O que sobra do Leste

[image error]Berlim, desde a reunificação (anexação?) alemã, está constantemente em remodelação, com novos prédios a substituir a cinzenta arquitetura da RDA. Pouco restará do que pertenceu em tempos à Alemanha de Leste, mas ainda há nas ruas uns vestígios, que funcionam mais como curiosidades turísticas do passado. É possível, por exemplo, circular num velho Trabant, que emana do seu escape um fedor que levará os mais velhos a recordar, sem saudades, os seus carros poluentes dos anos 70 e 80. Já não achava possível ver sair tanto fumo de um único escape.

E nas passadeiras é impossível não sorrir diante do simpático Ampelmann. Quem é ele? O bonequinho, vermelho ou verde, que nos semáforos dá instruções aos peões e que é hoje um símbolo da Berlim unida.[image error](Texto e algumas fotos originalmente publicados no blogue O Et(h)er dos Dias) http://www.etherlive71.com

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Published on April 30, 2018 03:00

April 12, 2018

Ver um filme através de um livro

 


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Sempre gostei de ler um livro e depois ver o respetivo filme, quando o há. Agrada-me comparar o que visualizei ao longo da leitura com a visualização formada pelo realizador e pela sua equipa. Quase nunca bate certo e eu fico invariavelmente a perder na comparação, mas é um exercício divertido. E, depois, há os raros momentos de glória que me levam a pensar: «Foi mesmo assim que eu imaginei a cena!»

Houve, no entanto, um caso em que ler o livro foi mesmo a minha única opção. E.T. – O Extraterrestre, de Steven Spielberg, estreou em Portugal em dezembro de 1982 numa altura em que, por motivos de saúde, fiquei uns meses acamado. Fascinado com filmes como Encontros Imediatos do 3.º Grau ou Os Salteadores da Arca Perdida, uma nova obra de Spielberg só por si já seria o suficiente para me deixar desesperado. Mas, com a agravante de abordar um tema que me era querido (ETs amigos) a ansiedade redobrou. Na primária até ganhei um prémio de BD com uma história de aliens que chegam em paz à Terra, mas diga-se que terá sido mais pelo argumento do que pelos desenhos.

Como à época os filmes demoravam o seu tempo a cruzar o Atlântico (E.T. estreou em junho de 1982 nos EUA), muito se foi escrevendo por cá sobre Elliot e o seu amigo de outro mundo. Li, recortei e guardei tudo o que pude e fui formando o filme na minha cabeça, sem saber se daí a uns meses ainda o apanharia nos cinemas. Depois, socorri-me da melhor ferramenta possível para conhecer a história do E.T. A adaptação literária do filme, editada na saudosa coleção de livros bolso da Europa-América dedicada à ficção científica. É o número 44, logo a seguir a Blade Runner e antes de Batalha no Espaço – Os Jovens Guerreiros, para quem não sabe, a Galáctica original. E li o livro, que sendo uma adaptação direta do filme era fiel ao mesmo. Socorrendo-me das fotos já conhecidas, montei o filme na minha mente. E li o livro outra vez, pois sobrava-me o tempo e faltava-me a sala de cinema.

O escritor norte-americano William Kotzwinkle, que hoje se dedica essencialmente à literatura infantil, sem ser publicado em Portugal, foi o meu herói da altura, o meu escritor preferido, pois deu-me a possibilidade de «ver» o filme que eu tanto queria ver e que não sabia se alguma dia o veria – talvez num futuro distante num dos dois canais de televisão que havia à época. Em 1982 não tínhamos a garantia de um dia podermos ver um filme perdido, pois os videoclubes e as cassetes de vídeo eram à data algo ainda distante de um comum português. Até hoje, naturalmente, já vi o filme várias vezes em vídeo, e até na versão dobrada em português. Mas, na altura, isso era algo tão distante como assistir ao vivo a uma corrida de Fórmula 1 ou um dia vir a ser jornalista ou andar de avião.

Semanas a passar, formando meses, eu em casa, o E. T. ainda nas salas de cinema. Na época o tempo de vida de um filme nas salas era bem maior, mas se saísse de exibição a minha única esperança seria uma matinée de domingo na sociedade recreativa local, com uma fita gasta cheia de cortes devido ao uso constante. Foi assim, aliás, que vi pela primeira vez no cinema um filme de 007, no caso Moonraker – Aventura no Espaço, numa sala mal escurecida, em cadeiras duras, num piso sem inclinação e com excelente vista para as cabeças da frente, tudo envolto numa cortina de fumo de tabaco.

Mas não foi preciso chegar a esse ponto. Assim que regressei ao ativo, algo que tratei de fazer quase de imediato foi rumar ao agora encerrado cinema Berna, em Lisboa, sozinho, porque tinha a impressão de que eu seria a única pessoa que conhecia que ainda não tinha visto o filme.

E se valeu a pena! Ainda hoje E.T. é o filme da minha vida e, diga-se, era exatamente como eu o imaginara com o recurso ao livro, enriquecido pelos meus recortes. Por isso, nunca esquecerei E.T. – O Extraterrestre, de Kotzwinkle, um dos livros da minha vida. Não é, visto ao fim de todos estes anos, a pérola literária que me pareceu na inocência da adolescência, mas ajudou-me a imaginar algo que eu temia não poder alcançar, levou-me lá, e é para isso mesmo que serve um livro, ou não é?


(Texto e foto originalmente publicados no blogue O Et(h)er dos Dias) http://www.etherlive71.com

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Published on April 12, 2018 06:22

April 1, 2018

Nova Iorque é maior vista de cima

[image error]Sempre achei que ao pisar Nova Iorque iria ficar assoberbado com a altura dos arranha-céus. São impressionantes, é verdade. O céu azul praticamente só se vê em frinchas, as sombras dominam a paisagem, e o sol fica reservado para os telhados dos mais altos edifícios. Mas, ainda assim, quando me livrei do trânsito infernal e finalmente pus os pés em Nova Iorque fiquei com sensação de que os prédios não eram tão altos como os imaginara com a ajuda de tantos filmes, fotos e livros. Altíssimos, sem dúvida! Mas pensei que iria ficar mais esmagado.

Precisei de ir «lá acima» para sentir o que esperava viver «lá em baixo». A grandiosidade nova-iorquina em termos de betão é mais palpável do alto, não de um avião, mas sim de um dos edifícios mais imponentes, porque com som e sem o isolamento total de uma janela toda a experiência se intensifica. As sirenes constantes da polícia e bombeiros, uma realidade omnipresente e não uma ficção cinematográfica, ironicamente alimentam de vida a cidade, já que os sons individuais das pessoas não sobem tão alto. Ao longe veem-se os aviões a circular de e para os aeroportos que servem Nova Iorque e é inevitável pensar que um dia dois houve que se aproximaram demasiado.

Bem aconselhado por um nova-iorquino residente em Portugal, o escritor Richard Zimler, a escolha recaiu sobre o observatório do Top of the Rock, no Rockfeller Center, onde se evitam as longas filas do Empire State Building e, além disso, se tem vista privilegiada sobre este último.

Foi assim no alto do Top of the Rock que finalmente me senti esmagado por Nova Iorque, onde a noite me comprovou que se há uma cidade-luz, esta será a cidade das luzes. Aqui senti-me no centro do nosso mundo, e soube bem, e isso fica para sempre.

Depois, desci, não vi o Jimmy Fallon e mergulhei naquele zumbido constante de motores, conversas, risos, música, entre luzes e néons e passei a ser uma partícula de uma paisagem deslumbrante observada por alguém que se terá cruzado comigo no outro elevador.


(Texto e fotos originalmente publicados no blogue O Et(h)er dos Dias) http://www.etherlive71.com

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Published on April 01, 2018 07:30

February 27, 2017

Detetive Helen Grace, criada por M. J. Arlidge, enfrenta na prisão «O Anjo da Morte»

[image error]O Anjo da Morte, desde há dias presente nas estantes das livrarias portuguesas, é a sexta obra editada pela Topseller em Portugal do escritor inglês M. J. Arlidge, todas elas tendo por protagonista a detetive Helen Grace. Os seus livros anteriores são Um, Dó, Li, Tá, À Morte Ninguém Escapa, A Casa de Bonecas, A Vingança Serve-se Quente e Na Boca do Lobo.


Sinopse: «O perigo esconde-se nas sombras…

Helen Grace, até aqui considerada a melhor detetive do país, é acusada de homicídio e aguarda julgamento na prisão de Holloway. Odiada pelas restantes prisioneiras e maltratada pelos guardas, Helen tem de enfrentar sozinha este pesadelo. Tudo o que deseja é conseguir provar a sua inocência. Mas, quando um corpo aparece diligentemente mutilado numa cela fechada, essa revela ser, afinal, a menor das suas preocupações.

Os macabros crimes sucedem-se em Holloway e o perigo espreita em cada cela ou corredor sombrio. Helen não pode fugir nem esconder-se por detrás do distintivo. Precisa agora de ser rápida a encontrar o implacável serial killer… se não quiser tornar-se a sua próxima vítima.»


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Published on February 27, 2017 08:47

Gabriel Allon, o espião criado por Daniel Silva, regressa a 8 de março em «A Viúva Negra»

[image error]Faltam poucos dias para sair em Portugal mais um thriller de Daniel Silva com o espião Gabriel Allon como protagonista. Assim, a 8 de março é posto à venda A Viúva Negra – Um jogo letal de vingança, uma edição HarperCollins. Na senda do que é habitual nas aventuras deste agente dos serviços secretos israelitas, o enredo decorre na atualidade passando por várias localizações geográficas, no caso Paris, Washington, Santorini e Califados do Estado Islâmico.


Sinopse: «O lendário espião e restaurador de arte Gabriel Allon está prestes a tornar-se chefe dos serviços secretos israelitas.  Porém, em vésperas da promoção, os acontecimentos parecem confabular para o atrair para uma última operação no terreno.

O ISIS fez explodir uma enorme bomba no distrito do Marais, em Paris, e um governo francês desesperado quer que Gabriel elimine o homem responsável antes que este ataque novamente.

Chamam-lhe Saladino…

É um cérebro terrorista cuja ambição é tão grandiosa quanto o seu nome de guerra, um homem tão esquivo que nem a sua nacionalidade é conhecida. Escudada por um sofisticado software de encriptação, a sua rede comunica em total segredo, mantendo o Ocidente às escuras quanto aos seus planos e não deixando outra opção a Gabriel senão infiltrar uma agente no mais perigoso grupo terrorista que o mundo algum dia conheceu. Trata-se de uma extraordinária jovem médica, tão corajosa quanto bonita.

Às ordens de Gabriel, far-se-á passar por uma recruta do ISIS à espera do momento de agir, uma bomba-relógio, uma viúva negra sedenta de sangue.

Uma arriscada missão levá-la-á dos agitados subúrbios de Paris à ilha de Santorini e ao brutal mundo do novo califado do Estado Islâmico e, eventualmente, até Washington, onde o implacável Saladino planeia uma noite apocalíptica de terror que alterará o curso da história.

A viúva negra é um thriller fascinante de uma chocante presciência. Mas é também uma viagem ponderada até ao novo coração das trevas que perseguirá os leitores muito depois de terem virado a última página. Uma teia de enganos.»


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Published on February 27, 2017 08:31

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Rui Azeredo
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